entrevista da semana Presidente do IPDU, Adriana Bussiki Santos, em entrevista A Gazeta, fala quais as mudanças que serão feitas em Cuiabá e quando passarão a vigorar 8 A A GAZETA CUIABÁ, DOMINGO, 30 DE AGOSTO DE 2009 VALÉRIA CRISTINA CARVALHO DA REDAÇÃO té o fim deste ano Cuiabá terá renovadas as leis que regem o uso e ocupação do solo na cidade. Será como uma espécie de zoneamento, onde a prefeitura vai dizer que tipo de atividade pode ser desenvolvida em cada área e quais as condições para isso. O trabalho está em fase final e é comandado pelo Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU), presidido pela primeira dama do município, a arquiteta Adriana Bussiki Santos. De acordo com ela, a revisão dessas leis é uma exigência do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá, aprovado em 2007. A A Gazeta - A prefeitura está fazendo uma reformulação das leis que gerem a ocupação do solo em Cuiabá, como vai funcionar isso? Adriana Bussiki - Nós passamos por um processo no ano de 2006, que finalizou com aprovação da lei em 2007, que é a Lei Complementar 150, de 29 de janeiro de 2007, conhecida como Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá. Foi um processo participativo, democrático, transparente, onde aproximadamente 2 mil pessoas fizeram parte da elaboração. E o Plano Diretor determina que toda a legislação urbanística de Cuiabá seja revista. Então nós estamos passando agora por esse processo de revisão da lei de urbanismo de Cuiabá, que é a Lei de Uso e Ocupação do Solo, do Código de Postura, Código de Obras, o Código Ambiental e o Sanitário também. Nós estamos neste momento, então, trabalhando com a lei de uso e ocupação do solo urbano, que é na verdade um zoneamento da cidade, sobre quais são as atividades permitidas em determinadas áreas, que tipo de construção pode ser feita dentro do centro da cidade, quais são as áreas destinadas à proteção ambiental da cidade. Cuiabá é uma cidade muito quente naturalmente e a gente precisa viabilizar corredores que vão trazer o vento, eles precisam estar livres. Precisa ter uma cadeia através das Áreas de Preservação Permanente, interligadas com essa criação de Zona de Interesse Ambiental. Nós estamos revendo o que já existia antigamente, que era a Zona de Interesse Ambiental 1 e 2, criando uma nova Zona 3, que serão áreas destinadas preferencialmente a parques ambientais e uma outra Zona nova para a cidade, que é na orla do rio Cuiabá, que a Zona de Interesse Ambiental e Urbanístico da cidade. A Gazeta As duas ZIAs que já existem, estão onde? Adriana - A ZIA 1 faz parte hoje de toda a mata ciliar do córrego do Ribeirão do Lipa, do Ribeirão da Ponte, e nós temos também ali o Campo do Bode, aquela área na avenida Barão de Melgaço, atrás da Feira do Porto, uma mata fechada, planície, parte é área alagada que está abaixo do nível 150, quando não se permite edificação. A Gazeta - Aquela entrada do Várias secretarias da prefeitura estão envolvidas no trabalho, além do Ministério Público Estadual e professores da UFMT. A previsão é que as leis fiquem prontas até o mês que vem e sejam encaminhadas para audiência pública e depois para aprovação na Câmara Municipal. Outra novidade, é que a revisão dessas leis vai permitir o aumento de 15% para 25% da ocupação em Zona de Interesse Ambiental (ZIA), espaços que são como áreas de preservação e servem para garantir os corredores de vento que amenizam o clima naturalmente quente da capital mato-grossense. Essa flexibilidade está sendo aberta porque duas novas ZIAs serão criadas, uma para áreas propícias as criação de parques e uma Zona de Interesse Ambiental Urbanística (ZIAU), na orla do rio Cuiabá. Em entrevista ao jornal A Gazeta, Adriana Bussiki fala do processo de revisão dessas leis. Centro de Eventos do Pantanal também é uma Zona de Interesse Ambiental? Adriana - A parte de baixo do Centro de Eventos do Pantanal é uma ZIA, está em frente o Parque Mãe Bonifácia, tem a sua mata bastante preservada, vegetação densa que preserva várias espécies nativas da região. A Gazeta - E a nova ZIA vai ser onde exatamente? Adriana - As já existentes, a maioria está sendo preservada, mantida, a única que o nosso estudo está retirando é a ZIA do Centro Político Administrativo, porque é uma região que foi ao longo das décadas bastante antropisada, não se respeitou a lei municipal, então nós estamos retirando de ZIA a região do CPA. Ali tinha restrição de construção. Vamos criar uma nova ZIA 3, prevendo criação de parques, ali onde nessa gestão a prefeitura de Cuiabá retirou famílias que se encontravam dentro de APP, espaços que têm conjunto de várias nascentes, por isso recebe o nome de Águas Nascentes. Essas famílias que foram assentadas, que saíram do Águas Nascentes e foram reassentadas no conjunto habitacional Milton Figueiredo, em frente ao Jardim Vitória, ali haverá a implantação de um parque da cidade. A Gazeta - Pode se construir alguma coisa nessas zonas? Adriana - Onde era ZIA 1, que antigamente dava para construir apenas 15% da área, com a revisão, vai possibilitar a construção de aproximadamente 25%. Nas áreas que são ZIA 2, é mais restritiva, não pode adensar muito, nem ocupar área maior do solo. Tem que ter área maior de permeabilidade com cobertura vegetal também. E na ZIA 3, são áreas demarcadas segundo estudos que tem forte apelo da recuperação dos recursos hídricos, da criação dos corredores da biodiversidade. Então, para esses casos, criou-se a ZIA 3, que é para a criação de áreas de parques na cidade. A Gazeta - Existe alguma proibição para a iniciativa privada construir nessas áreas? Ou ainda alguém já procurou a prefeitura com interesse de construir nesses espaços? Adriana - Sim. Assim como no Plano Diretor nós utilizamos o instrumento da democracia, da transparência e da participação popular, a gente está fazendo em relação à revisão dessa legislação também. Primeiro há esse estudo técnico, essa análise, a proposta técnica, ela já foi encaminhada em audiência pública. Dentro da audiência, esses proprietários de áreas, ou empreendedores, puderam dar as suas sugestões e opiniões. Depois encaminhamos para o Conselho Municipal de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá, que é o CMDE, e dentro do Conselho, os conselheiros indicaram a análise também da Câmara Técnica de Urbanismo. Nós já tivemos pareceres, sugestões dos conselheiros e agora estamos voltados para outra área da revisão, que não é só zoneamento de interesse ambiental, mas nós temos também a hierarquização de área, que a cidade é dinâmica, cresce muito. A intenção dessa gestão de Wilson Santos é que o crescimento imobiliário e econômico não fique muito à frente da infraestrutura em si da cidade, ou seja que a infraestrutura da cidade consiga acompanhar esse crescimento. Daí a necessidade da gente já ter estabelecido numa visão mais macro, dentro do perímetro urbano de Cuiabá, a questão dos traçados viários, ou seja, aproveitar também os córregos que cortam a malha urbana da cidade e transformá-los também em avenidas parques, criar um verdadeiro parque linear da cidade, como estamos fazendo agora em relação ao córrego Gumitá, que teria o reassentamento de famílias que hoje habitam áreas frágeis, que são APPs e não podem ser ocupada a 30 metros de cada margem. Elas vão ser assentadas em um conjunto habitacional com toda infraestrutura necessária para esse reassentamento. Aí sim, após recuperada toda a vegetação, será construída a avenida parque que Entre as mudanças anunciadas pela presidente do IPDU estão o aumento de 15% para 25% da ocupação em Zona de Interesse Ambiental já serve como um limite territorial, uma defesa das APPs. A Gazeta - Essas leis que estão sendo revistas são muito antigas? Adriana - A gente tem, na verdade, um grande número de leis municipais com diferentes datas. Nós temos leis de 1992, 97, 2002 e 2003. A Gazeta - É um trabalho muito demorado? Tem previsão para concluir? Adriana - Nosso cronograma seria até setembro. Nesse mês terminaria toda a parte de revisão, de estudo, da compilação da lei em si, dessa primeira etapa, porque ainda continua. Aí encaminharíamos esse conjunto de leis para audiência pública, ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Estratégico e, posteriormente, à Câmara Municipal. É importante frisar que, principalmente nesse estudo em relação à ZIA, nós apresentamos, tivemos apoio e também análises por parte do Ministério Público do Estado, na pessoa do promotor Gerson Barbosa. Ele indicou, inclusive, professores da UFMT para acompanharem o trabalho em relação à ZIA. Eles deram suporte, acompanhamento nas reuniões. A Gazeta - Essa decisão de aumentar em 10% a área que pode ser ocupada na ZIA surgiu por que? Adriana - Bom, ela surgiu por conta de duas novas áreas dentro do zoneamento ambiental que vão ser implantadas, que são a ZIA 3 (para áreas propícias a serem transformadas em parques) e também por conta da Zona de Interesse Ambiental e Urbanístico da cidade, que é ao longo da orla do rio Cuiabá. Então, ao longo do rio a gente tem, além da preservação de APP, que é garantida por lei federal, vai ter estudo de zoneamento sobre qual empreendimento vai ser permitido, como deve ser implantado, quais são os índices de construção, de ocupação, de adensamento, que aquela atividade vai poder se instalar. E todo empreendimento dessa região deverá ter os olhares voltados para a questão turística e ambiental. A Gazeta - Então esse aumento de 10% não vai prejudicar a questão ambiental, do corredor de vento? Adriana - Não. A Gazeta - Quem participa dessa revisão das leis? Adriana - Todos os técnicos do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, IPDU de Cuiabá, os técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, da Secretaria de Trânsito e Transporte Urbano, da Agência Municipal de Habitação Popular, da Secretaria de Infraestrutura e da Sanecap. Nesse primeiro momento são essas secretarias. E nós temos também uma consultoria, que é para o fechamento de toda essa lei, da Via Pública. A Gazeta - Esse processo todo tem algum custo para a prefeitura? Adriana - Tem o custo em relação a essa consultoria. Aproximadamente R$ 70 mil. A Gazeta - O que muda de prático para o cidadão com a aprovação dessas leis? Adriana - Primeiro vai mudar para a própria prefeitura e para o empreendedor. Porque o que antes algum tipo de atividade tinha que deslocar técnico da prefeitura, da Secretaria de Meio Ambiente, para ir in loco fazer análise e definir que tipo de empreendimento é permitido, agora vamos ter uma lista de quais são as atividades, o tipo de empreendimento que pode ser implantado naquela área. Juntamente com essa lista de atividades, terá uma lista de medidas mitigadoras de impactos. Por exemplo, uma atividade onde vai ter fluxo grande de automóveis, uma das medidas que a empresa vai ter que tomar é fazer uma pista de desaceleração paralela à rua já existente. Ou seja, não vai poder usar a rua que existe para ligar ao seu empreendimento, evitando assim engarrafamentos como a gente vê frequentemente, por exemplo, na avenida do CPA, na entrada do shopping Pantanal. A Gazeta - Cuiabá tem muita irregularidade na ocupação do solo? Adriana - Tem bastante. A Gazeta - Não tem estrutura para fiscalizar? Adriana - Falta estrutura de fiscalização, por conta também de um grande número de bairros que ainda não foi contemplado com a regularização fundiária, é um grande gargalo também. Por conta de não entenderem também a questão da acessibilidade, falo especificamente das calçadas. Nós temos na legislação em quase que 100% do Brasil a obrigação, a responsabilidade de construção e manutenção das calçadas é do proprietário do imóvel edificado ou não. E as pessoas aqui parece que fecham os olhos para isso. Nome: Adriana Bussiki Figueiredo Santos Idade: 41 anos Naturalidade: Cuiabá Estado civil: Casada com o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, 2 filhos Formação: Arquiteta urbanista, pós-graduada em Direito Ambiental e Gerente de Cidades Ocupação: Presidente do IPDU