Câmeras são mais requisitadas, mas não inibem
ação de bandido
Vendas teriam crescido 15% desde
janeiro, mas números mostram que
roubos também são mais frequentes
Goiás teria 220 mil câmeras particulares
de segurança espalhadas em imóveis
residenciais e estabelecimentos
comerciais, segundo dados da
Associação Brasileira de Empresas de
Segurança Eletrônica. Só em Goiânia, as
vendas de circuitos de filmagem
cresceram 15% de janeiro a maio deste
ano, conforme o presidente do Sindicato
das Empresas de Segurança Eletrônica
de Goiás (Siese), Renato Gonçalves
Brandão. Também na esfera pública, o
equipamento é cada vez mais utilizado.
Até o fim do mês a Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás
(SSP-GO) vai instalar 50 câmeras pela
Avenida Bernardo Sayão, no Setor
Fama, e pela Região Noroeste da
capital, totalizando 86 em toda a cidade.
Um mercado alimentado pela
insegurança que, no entanto, não consegue intimidar o criminoso e reverter o quadro de roubos. Em Goiânia
foram 63 roubos a residências e 263 a estabelecimentos comerciais em abril contra 54 e 206,
respectivamente, no mesmo mês de 2013. No Estado, o número de roubos a residências passou de 121 em
abril de 2013 para 146 em abril deste ano. Já o de roubo a estabelecimentos comercial caiu apenas 1
ocorrência, de 580 para 579.
Para o presidente do Siese, onde há câmera a tendência é obviamente diminuir a criminalidade. Mas por que
o aumento das instalações de sistemas eletrônicos não impacta diretamente nos índices de violência? “Os
equipamentos são apenas um complemento da segurança pública. A câmera sozinha não resolve o problema
da violência. Para diminuir os índices que estamos observando hoje é preciso haver o envolvimento público
e ações de policiamento ostensivo”, afirma. Empresário do ramo de segurança eletrônica há 26 anos,
Brandão diz que, em termos de venda, nunca viu uma época melhor. “Infelizmente nosso ramo está lucrando
porque a violência aumentou.”
Em relação às câmeras em locais públicos, o porta-voz da Polícia Militar, coronel Divino Alves, garante que
elas contribuíram para reduzir consideravelmente, entre 80% e 85%, o número de furtos e roubos no Setor
Campinas, desde que foram instaladas em 2012. Alves acredita que o investimento dos governos estadual e
federal, dentro do programa Crack, É Possível Vencer, em instalação de câmeras de segurança, é
extremamente pertinente. “O ideal é que todas as grandes avenidas da cidade tivessem o monitoramento.
Facilita a prevenção e a investigação.”
Já o psicólogo criminal Leonardo Faria, do Instituto Médico-Legal de Goiás (IML), afirma que apenas
crimes menores, cujos autores são ocasionais e não veem o roubo como profissão, se sentem inibidos pelo
equipamento. “A maioria dos crimes violentos ocorre com a pessoa sob o efeito de droga. Nessa situação, o
drogado nem pensa se há uma câmera por perto.”
Faria trabalha exatamente na análise psicológica de criminosos e percebe que o fator de constrangimento das
câmeras tem uma relação estreita com o tipo de criminoso. “O equipamento inibe uma parcela da população
mais sadia, com elementos de moral e ética enraizados desde a primeira infância. A sensação de vergonha e
medo na pessoa faz com que ela mude seu comportamento”, explica o psicólogo.
O psicólogo diz que há os chamados criminosos desorganizados e os organizados. Os organizados tentam
evitar, ao máximo, serem pegos pela câmera, buscando formas de dribá-la e podendo até destruir o
equipamento. “Ele trabalha com o crime e se planeja para ele e, por isso, tenta ocultar todas as provas”, diz.
O valor da inibição ao crime pelas câmeras, para o psicólogo, serve mesmo para equipamentos falsos ou
desligados. Mas o coronel Divino Alves não concorda, pois afirma que o bandido consegue reconhecer o
estado do aparelho.
Não há discordância, no entanto, na eficácia das câmeras de segurança para aumentar a sensação de
segurança, ajudar nas investigações e esclarecer crimes, caso do zelador Jezi Lopes, assassinado em São
Paulo (SP). Lopes estava desaparecido no prédio em que trabalhava desde sexta-feira. Graças às câmeras
instaladas no prédio, a polícia chegou a um morador que acabou confessando ter matado e esquartejado o
corpo do zelador.
Equipamento diminuiu até 35% de furtos a
residências no Jaó
(V.A.) 04 de junho de 2014 (quarta-feira)
Há mais de três meses, o Setor Jaó, bairro nobre da Região Norte de Goiânia, recebeu dez câmeras de
segurança compradas e instaladas pela própria comunidade, cujo monitoramento é feito em acordo com a
Polícia Militar (PM). Até então, entre o fim do ano passado e o primeiro mês deste ano, havia o registro de
21 casos apenas de furtos ou roubos nas residências do bairro. Segundo a PM, desde então, os índices de
criminalidade diminuíram entre 30% e 35%.
O comandante do 9º Batalhão da PM, tenente-coronel Henrikson de Souza Lima, que atende a região do
Setor Jaó, afirma que o sistema de filmagem ainda não funciona 100%, já que é um pouco diferente do que
foi adotado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO).
“Mas com certeza a redução dos crimes após a instalação das câmeras é significativa e lá melhorou
bastante.” O militar lembra, no entanto, que na mesma época foram feitas operações importantes no bairro,
que também contribuíram com a estatística.
Além do Setor Jaó, o monitoramento da SSP-GO finaliza parcerias com o Consórcio da Rede Metropolitana
de Transportes Coletivos (RMTC), Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e Associação dos Bancos
(Asban). A ideia é que tudo esteja sob o monitoramento da PM, mas isso só deve ocorrer com o fim da
construção do Centro de Comando e Controle (CCC) da SSP-GO. A estimativa é que o centro, montado ao
lado da secretaria, seja finalizado até o fim deste ano.
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Mesmo com aparelhos, relatos de furtos e roubos
(V.A. e G.L.) 04 de junho de 2014 (quarta-feira)
Proprietário de duas escolas de inglês na capital, o empresário Marcus Chaves conta que a unidade no Setor
Jardim Goiás tem quatro equipamentos de vigilância. Mesmo assim, a loja já foi assaltada seis vezes durante
a madrugada. O sistema filmou os criminosos, alguns sozinhos, outros em dupla e até casal, que levaram
televisores LCD, monitores de computador e dinheiro do caixa. “A gente levou as imagens para a polícia,
mas nunca deu em nada.”
Na outra unidade, no Setor Serrinha, o empresário conta com seis câmeras de vigilância, duas delas
posicionadas de forma bastante visível na entrada. Mesmo assim, um parente de Chaves teve a caminhonete
roubada, à mão armada, durante o dia, bem na porta da escola.
Operador do sistema de vídeo de um condomínio no Setor Bueno, que preferiu não ser identificado por
medo de represálias, também acredita que as câmeras não são empecilho para quem tem a real intenção de
praticar um delito. O prédio onde trabalha é um residencial de alto padrão e conta com quase cem câmeras
de segurança. Segundo o operador, nunca houve crime praticado por alguém de fora do prédio, mas já houve
diversos flagrantes de adolescentes que residem no local. “Tivemos casos de furto de calotas, já arrombaram
o salão de festas para levar garrafas de uísque e até um furto de laptop. Não dá para fechar 100%. As
pessoas mal-intencionadas começam a estudar os pontos cegos do sistema”, explica.
Indispensável
Gerente de marketing do Hiper Moreira, Thiago Damaceno conta que o hipermecado possui 40 câmeras,
monitoradas 19 horas por dia. Para ele, o sistema é indispensável, mas só é eficiente na prevenção de delitos
de menor potencial. “Quando o consumidor percebe que tem uma câmera, se sente incomodado não só em
furtar como em comer algo dentro da loja”, diz. Mas roubos de maior vulto, ele acredita que só são inibidos
por conta da presença de seguranças armados.
O especialista em segurança Ivan Hermano Filho concorda com a eficácia das câmeras. Para ele, o bandido
sempre procura um local ou a vítima mais fácil e, por isso, o aparelho dificulta a ação de um ladrão. “A
filmagem serve como elemento investigativo e preventivo. O primeiro é o ativo, que facilita a ação policial,
e o segundo é o de inibição ao crime”, explica.
Em casos de locais que guardam objetos de maior valor, como os bancos e joalherias, o especialista afirma
que os estabelecimentos devem optar pelo sistema com monitoramento de 24 horas. Responsáveis pela
segurança em grandes empreendimentos concordam, e consideram as câmeras fundamentais para a
manutenção da segurança.
Fonte: O Popular
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Câmeras são mais requisitadas, mas não inibem