A GESTANTE HIV POSITIVO Marta Maria Xavier Veloso Francisco Herlânio Costa Carvalho Estima-se a prevalência de 0,6% de infecção pelo HIV entre as parturientes. A taxa de gravidez em mulheres infectadas pelo HIV é de aproximadamente 6%. A transmissão perinatal, sem medidas profiláticas, ocorre em torno de 25 a 30%. Estudos demonstram que 20 a 30% dessa transmissão é transplacentária ou vertical verdadeira. Aproximadamente 65 a 80% ocorrem intraparto. O aleitamento materno representa risco adicional de 7 a 22%. DIAGNÓSTICO: O teste do HIV deve ser oferecido para todas as gestantes como parte da rotina de cuidados pré-natais, com aconselhamento pré e pós-teste, resguardando o sigilo profissional. O diagnóstico da infecção por HIV baseia-se em rastreamento inicial para anticorpos específicos (ELISA), e quando positivo em dois exames diferentes deve ser confirmado por Western blot ou Imunofluorescência Indireta. HIV x GESTAÇÃO: Apesar do estado de depressão imunológica da gestação, usualmente não ocorre interferência da gravidez sobre o curso clínico da doença. Há maior incidência de aborto espontâneo, prematuridade, restrição do crescimento fetal, rotura prematura de membranas, óbito fetal e infecção puerperal, principalmente quando a gestante se encontra em estado clínico avançado com acentuado comprometimento imunológico. Não existe uma embriopatia aidética específica como aventada por alguns autores no início da epidemia. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL: Objetivos: Redução da taxa de transmissão vertical (Terapia Antiretroviral + cuidados) Manutenção da saúde materna na melhor condição possível Equipe multi-profissional Colpocitologia / Colposcopia Pesquisar outras DST: sífilis, gonorréia, clamídia, micoplasma Avaliação laboratorial: Carga Viral e CD4 (antes da terapia e trimestral) Hemograma e função hepática (antes de iniciar terapia e mensal) Função renal Sorologias: CMV, Toxoplasmose, Rubéola, Herpes, Hepatites Ultra-som morfológico fetal Avaliação da vitalidade fetal: Dopplervelocimetria / CTG / PBF Vacinar para Hepatite B se sorologia negativa Profilaxia para Pneumocystis carinii quando CD4 < 200/ml com TMP 160 mg + SMX 800 mg (Bactrim 2cp/dia ou Bactrim F 1cp/dia) 3x/sem e para Toxoplasma gondii quando CD4 < 100/ml, diariamente Estão contra-indicados todos os procedimentos invasivos durante a gestação, o trabalho de parto e o parto (amniocentese, cordocentese, amniotomia, escalpo cefálico, fórcipe e vácuo-extrator). TERAPIA ANTIRETROVIRAL NA GESTAÇÃO: PACTG 076 - Protocolo 076 do Aids Clinical Trial Group (1994): Esquema: Na gestação: AZT oral: 100mg 5x/dia ou 200 mg 3x/dia ou 300 mg 2x/dia Iniciar após 14 semanas No parto: AZT endovenoso: Ataque: 2mg/Kg na 1a. hora Manutenção: 1 mg/Kg/h até clampeamento do cordão umbilical Iniciar 3h antes do procedimento cirúrgico em caso de cesárea eletiva Diluir em SG 5%. A concentração não deve exceder 4 mg/ml Para o recém-nascido: AZT oral: 2 mg/kg 6/6h por 6 semanas Iniciar o mais breve possível, de preferência até 24 horas Em prematuros (< 34 sem) não há esquema definido. O PACTG 331 sugere: 1,5 mg/kg VO ou EV 12/12h por 2 sem e 2mg/k 8/8h por mais 4 semanas Esquema alternativo, recomendado em situações de não disponibilidade do AZT injetável, é usar AZT oral 300 mg no início do trabalho de parto e a cada 3 horas até clampeamento do cordão umbilical O uso da Zidovudina (AZT) reduziu a transmissão vertical do HIV em 67,5% (25,5% para 8,3%), quando usado durante a gestação, trabalho de parto e parto, e pelos recém-nascidos que foram alimentados exclusivamente com fórmula infantil. As gestantes infectadas pelo HIV deverão receber terapia anti-retroviral (TARV), objetivando a profilaxia da transmissão materno-infantil podendo ou não receber tratamento, inclusive esquemas com inibidores de protease. Ou seja, TARV deverá ser instituída de acordo com a avaliação clínica e laboratorial da paciente. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DO ESQUEMA ARV EM OBSTETRÍCIA: CENÁRIOS CLÍNICA TARV RECOMENDAÇÕES IG < 14 sem Assintomática Não PACTG 076 Na gestação: IG 14 sem Assintomática Não CD4 > 350/mm3 e CV < 10.000/ml: PACTG 076 CD4 > 350/mm3 e CV 10.000/ml: manter AZT oral até 28a sem, ajustando o tratamento para TARV combinada (AZT + 3TC + Nelfinavir ou Nevirapina*) No parto e RN: PACTG 076 Assintomática Não Carga viral e CD4 desconhecidas iniciar IG 28 TARV Independente Sintomática Não Na gestação: iniciar TARV combinada da IG (CD4<350/mm3, No parto e RN: PACTG 076 independente da CV) Independente - SEM da IG Sim Na gestação: manter esquema em uso, exceto se contiver drogas sabidamente contra-indicadas na gestação (hidroxiuréia, efavirenz e zalcitabina ou solução oral do Amprenavir) No parto e RN: PACTG 076 * Suspender Nevirapina imediatamente após o parto e os outros ARV 3-5 dias após Preferencialmente, o AZT deve fazer parte de qualquer esquema terapêutico que venha a ser adotado. A única exceção ao uso completo do regime de AZT durante a gravidez aplica-se às gestantes que estejam fazendo uso, com sucesso, de esquemas terapêuticos que incluam a Estavudina (d4T). Nesse caso, deve-se manter o esquema em uso e fazer AZT intravenoso no trabalho de parto, parto e para o recém-nascido. Quando a oportunidade de profilaxia no início da gestação for perdida, esta pode ser iniciada em qualquer idade gestacional, inclusive no momento do parto ou ao recém-nascido, antes de 48 horas de vida. Antes de iniciar qualquer ARV, realizar contagem de lifócitos CD4 e medida da carga viral para avaliar o esquema terapêutico e a necessidade de quimioprofilaxia para infecções oportunistas. Estabelecer, durante todo o pré-natal, o acompanhamento conjunto da gestante por médico capacitado no manejo de pacientes infectados pelo HIV. As mulheres que já vinham recebendo ARV previamente à gestação devem ser informadas sobre os potenciais riscos/benefícios da manutenção, modificação ou suspensão do tratamento no tocante à evolução da sua própria doença, devendo ser considerados os potenciais efeitos adversos sobre a criança. Monitorar a gestante com hemograma, plaquetas e enzimas hepáticas antes de iniciar os anti-retrovirais e, a seguir, a cada mês. CLASSIFICAÇÃO DOS ARV: INIBIDORES DA INIBIDORES DA TRANSCRIPTASE TRANSCRIPTASE REVERSA REVERSA NÃONUCLEOSIDEO (ITRNs) NUCLEOSÍDEO (ITRNNs) ZIDOVUDINA (AZT) NEVIRAPINA (NVP) Classe C Classe C LAMIVUDINA (3TC) DELAVIRDINA (DLV) Classe C ESTAVUDINA (d4T) EFAVIRENZ (EFV) Classe C DIDANOSINA (ddI) Classe B ABACAVIR (ABC) ZALCITABINA (ddC) INIBIDORES PROTEASE (IP) DE INDINAVIR (IDV) Classe C NELFINAVIR (NFV) RITONAVIR (RTV) Classe B SAQUINAVIR (SQV) Classe B AMPRENAVIR (AMP) LOPINAVIR/RITONAVIR (LPV/r) Classe B CUIDADOS DURANTO O PARTO - VIA DE PARTO: As taxas de transmissão vertical caíram de 8-10,5% para 0,8-2% quando submetidas à cesárea eletiva, além da profilaxia com AZT. Resultados preliminares do PACTG 367 (dados dos outros PACTGs) sugeriram ausência de transmissão vertical do HIV em mães com CV indetectável. Não há evidências de benefício perinatal na cesariana eletiva em gestantes com CV < 1.000 cópias/ml. Portanto, quando a carga viral estiver disponível é quem irá definir via de parto: CV 1.000 cópias/ml ou desconhecida Cesárea Eletiva CV < 1.000 cópias/ml Parto Normal (Indicação Obstétrica) Considerar CV desconhecida aquela que tenha sido aferida antes da 34a. semana de gestação. Nesse grupo de mulheres, mesmo o trabalho de parto iniciado, a cesariana deverá ser a via de escolha desde que esteja a dilatação cervical em até 3-4 cm e as membranas íntegras. A administração prévia do AZT injetável (dose de ataque seguida de manutenção), deve ser iniciada 03 horas antes da cesariana, considerando que a meia vida intra-celular do medicamento é de 03 horas, e mantida até a ligadura do cordão umbilical. Parece não haver maior incidência de complicações puerperais e anestésicas após partos cesarianos em mulheres HIV soropositivas, comparadas com as soronegativas. Considerar a utilização de antibioticoprofilaxia com cefalosporina de 1ª geração, administrada em dose única imediatamente após o clampeamento do cordão. Evitar que as parturientes portadoras do HIV permaneçam com a bolsa rota por mais de 4 horas, ou em trabalho de parto prolongado, visto que a taxa de transmissão aumenta progressivamente após esse período (cerca de 2% a cada hora até 24 horas), devendo portanto ser indicado o uso de ocitócitos na condução do trabalho de parto respeitando as contra-indicações e o correto manuseio. No parto vaginal a episiotomia deve ser evitada sempre que possível. Proceder ao parto empelicado (retirada do neonato mantendo a bolsa das águas íntegras). A ligadura do cordão, sem ordenha, deverá ser feita imediatamente após a expulsão do recém-nascido. Adotar precauções Básicas e Universais: adotar equipamentos de proteção individual (como luvas, gorros, avental, máscara), usar seringas de plástico, nunca utilizar lâmina de bisturi desmontada, evitar agulhas retas na sutura, preferir fios de sutura agulhados, utilizar sempre pinças auxiliares para sutura, evitar sutura por dois cirurgiões no mesmo campo cirúrgico, etc. CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO: Imediatamente após o parto, lavar o recém-nascido com água e sabão Aspirar delicadamente as vias aéreas evitando traumatismo de mucosas Não amamentar, usar fórmula infantil, ou leite pasteurizado de bancos de leite credenciados pelo ministério da saúde A criança deverá ficar em alojamento conjunto Usar AZT oral (PACTG 076) e monitorizar com hemograma completo A partir da 6a. semana de vida até a definição do diagnóstico da infecção pelo HIV, a criança deve receber quimioprofilaxia para P. carinii com SMX + TMP na dose de 70 mg SMX/m2/d, 12/12h, 3x/sem ou em dias consecutivos. RECOMENDAÇÕES NO PUERPÉRIO: Informar sobre os riscos de transmissão do HIV pela amamentação Inibir lactação O seguimento obstétrico é igual ao de qualquer outra mulher, salvo em situações especiais de complicação Encaminhar ao Planejamento Familiar Orientar sobre a prevenção de DST e reinfecção pelo HIV. Uso de preservativo em todas as relações sexuais independente do parceiro ser soropositivo This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.