Viagens na
minha terra
Almeida Garrett
1 - (FUVEST 2013)- Em Viagens na minha terra, assim
como em:
a) Memórias de um sargento de milícias, embora se
situem ambas as obras no Romantismo, criticam-se os
exageros de idealização e de expressão que ocorrem
nessa escola literária.
b) A cidade e as serras, a preferência pelo mundo rural
português tem como contraponto a ojeriza às cidades
estrangeiras — Paris, em particular.
c) Vidas secas, os discursos dos intelectuais são vistos
como “a prosa vil da nação”, ao passo que a sabedoria
popular “procede da síntese transcendente, superior e
inspirada pelas grandes e eternas verdades”.
d) Memórias póstumas de Brás Cubas, a prática da
divagação e da digressão exerce sobre todos os valores
uma ação dissolvente, que culmina, em ambos os casos,
em puro niilismo.
e) O cortiço, manifestam-se, respectivamente, tanto
o antibrasileirismo do escritor português quanto o
antilusitanismo do seu par brasileiro, assim como o
absolutismo do primeiro e o liberalismo do segundo.
2 - (FUVEST 2013) - Os momentos históricos em que
se desenvolvem os enredos de Viagens na minha terra,
Memórias de um sargento de milícias e Memórias
póstumas de Brás Cubas (quanto a este último, em
particular no que se refere à primeira juventude do
narrador) são, todos, determinados de modo decisivo
por um antecedente histórico comum — menos ou mais
imediato, conforme o caso. Trata-se da:
a) invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas.
b) turbulência social causada pelas revoltas regenciais.
c) volta de D. Pedro I a Portugal.
d) proclamação da independência do Brasil.
e) antecipação da maioridade de D. Pedro II.
(Fuvest 1993)
3 - Leia o trecho:
“Neste despropositado e inclassificável livro (...), não é
que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das
observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto,
só com muita paciência se pode deslindar e seguir em
tão embaraçada meada.” Eis como o autor vê sua obra,
dentro da qual faz reflexões como esta: “o povo, o
povo está são; os corruptos somos nós os que cuidamos
saber e ignoramos tudo.”
Trata-se da obra:
1
a) Portugal, de Miguel Torga.
b) Quincas Borba, de Machado de Assis.
c) Os Maias, de Eça de Queirós.
d) Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
e) Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett.
4 - Leia os trechos:
Texto I:
“O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados
pela natureza, sítios amenos e deleitosos em que as
plantas, o ar, a situação, tudo está numa harmonia
suavíssima e perfeita; não há ali nada grandioso nem
sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons,
de disposição em tudo quanto se vê e se sente, que não
parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito
e o repouso do coração devem viver ali, reinar ali um
reinado de amor e benevolência. (...) Imagina-se por
aqui o Éden que o primeiro homem habitou com a sua
inocência e com a virgindade do seu coração.
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha
que ali se corta quase a pique, está um maciço de
verdura do mais belo viço
e variedade. (...)
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre
um claro das árvores a janela meio aberta de uma
habitação antiga, mas não
dilapidada – (...) A janela é larga e baixa; parece mais
ornada e também mais antiga que o resto do edifício,
que todavia mal se vê...”
Almeida Garrett, Viagens na minha terra
Texto II:
“Depois, fatigado do esforço supremo, [o rio] se
estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que
a natureza formou, e onde o recebe como um leito de
noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.
A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo
o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao
longo das margens do rio, que corria no meio das
arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos
leques das palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza,
sublime artista, tinha decorado para os dramas
majestosos dos elementos, em que o homem é apenas
um simples comparsa. (...)
Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa
larga e espaçosa, construída sobre uma eminência e
protegida de todos os lados por uma muralha de rocha
cortada a pique.”
José de Alencar, O Guarani
Viagens na
minha terra
Almeida Garrett
Lendo-se atentamente os textos I (de Almeida
Garrett) e II (de José de Alencar), percebe-se que
ambos os narradores se identificam quanto à atitude
de admiração e louvor à natureza contemplada.
Entretanto, verifica-se também, entre os dois,
uma diferença profunda e marcante no seu ato
contemplativo, quanto aos valores atribuídos a essa
natureza. Essa diferença é marcada:
a) pela existência da vegetação.
b) pela avaliação da magnitude e da beleza do cenário.
c) pela inclusão, na paisagem natural, da habitação
humana.
d) pelo predomínio das referências ao mundo vegetal
sobre as referências ao mundo mineral (terra, rocha,
montanha etc.).
e) pela explicitação da perda do paraíso terrestre.
5 - Assinale a alternativa que apresenta ERRO na
correlação autor-obra-época, relativamente à literatura
portuguesa.
a) Padre Antônio Vieira - Sermão da Quarta-feira de
Cinzas - Século XVII.
b) Gil Vicente - Auto da Barca do Inferno - Século XVI.
c) Manuel Maria Barbosa du Bocage - Nova Arcádia Século XVIII.
d) Camilo Peçanha - Clepsidra - Século XIX/XX.
e) Almeida Garrett - Viagens na Minha Terra - Século XIX.
6 - (UNICAMP 2013) Leia os seguintes trechos de
Viagens na minha terra e de Memórias Póstumas de
Brás Cubas:
Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto
ainda é consciência, um resto de consciência: acabemos
com estas digressões e perenais divagações minhas.
(Almeida Garrett, Viagens na minha terra. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro, 1969, p. 187.)
Neste despropositado e inclassificável livro das minhas
Viagens, não é que se quebre, mas enreda-se o fio
das histórias e das observações por tal modo, que,
bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode
deslindar e seguir em tão embaraçada meada.
(Idem, p. 292.)
Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa
contração cadavérica; vício grave, e aliás íntimo,
por que o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas
a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente,
e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam
à direita e à esquerda, andam e param, resmungam,
2
urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e
caem…
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas,
em Romances, vol I. Rio de Janeiro: Garnier, 1993, p.
140.)
a) No que diz respeito à forma de narrar, que
semelhanças entre os dois livros são evidenciadas pelos
trechos acima?
b) Que tipo de leitor esta forma de narrar procura
frustrar, e de que maneira esse leitor é tratado por
ambos os narradores?
7 - (FUVEST 2013) - Embora seja, com frequência,
irônico a respeito do livro e de si mesmo, o narrador
das Viagens na minha terra não deixa de declarar
ao leitor que essa obra é “primeiro que tudo”, “um
símbolo”, na medida em que, diz ele, “uma profunda
ideia (…) está oculta debaixo desta ligeira aparência de
uma viagenzita que parece feita a brincar, e no fim de
contas é uma coisa séria, grave, pensada (…)”. Tendo
em vista essas declarações do narrador e considerando
a obra em seu contexto histórico e literário, responda
ao que se pede.
a) Do ponto de vista da história social e política de
Portugal, o que está simbolizado nessa viagem?
b) Considerada, agora, do ponto de vista da história
literária, o que essa obra de Garrett representa na
evolução da prosa portuguesa? Explique resumidamente.
Respostas
1. Alternativa a
Em Viagens na minha terra, a crítica à idealização pode
ser observada na carta que Carlos envia à Joaninha, ao
final do romance. Nessa carta, ele orienta a prima quanto
às ilusões do amor e sobre os perigos de deixar
que o sentimento sobrepuje a razão. Em Memórias
de um sargento de milícias, o narrador substitui o
sentimentalismo exacerbado, traço convencional do
movimento romântico, por uma narrativa caracterizada
pela comicidade. A linguagem, influenciada pelo estilo
jornalístico da época, imprime, no retrato social, um
dinamismo que foge aos exageros expressionais.
2. Alternativa a
A invasão de Portugal pelo exército francês ocorreu
em 1807. Esse fato funciona como um marco do
expansionismo napoleônico na Península Ibérica,
que auxiliou a difusão de ideias liberais oriundas da
Revolução Francesa de 1789. Em Portugal, essas ideias
fomentaram uma oposição à monarquia absolutista.
Tal oposição acabaria desencadeando uma guerra
Viagens na
minha terra
Almeida Garrett
civil, que serve de pano de fundo histórico às Viagens
na minha terra. Posteriormente, a queda de Napoleão
seria celebrada pelo pai do menino Brás Cubas, em um
episódio que o narrador faz questão de registrar em
suas Memórias póstumas. Como consequência dessa
invasão, a família real portuguesa se deslocou para terras
brasileiras, inaugurando o período joanino no Brasil,
durante o qual acontece a ação de Memórias de um
sargento de milícias.
3. Alternativa e
4. Alternativa b
Em sua descrição da natureza, Garrett valoriza a
quietude, a serenidade, uma harmonia entre os
elementos, que é tomada como estática. Já Alencar põe
ênfase na potência, na grandiosidade, no vigor dinâmico
da natureza. Assim a diferença atribuída aos cenários
corresponde à diversidade de valores com base nos
quais são julgados.
5. Alternativa c
A alternativa C supõe que Nova Arcádia seja uma obra
de Bocage. Isso é incorreto, pois não se trata de uma
obra, mas de uma espécie de academia, que reuniu
intelectuais e artistas portugueses do século XVIII em
torno de ideais estéticos neoclássicos e árcades. Bocage
participou da Nova Arcádia, mas rompeu com o grupo.
Obs.: A alternativa D registra o nome do poeta
português Camilo Pessanha grafado, erroneamente, com
“ç”.
6. Resolução
a) Os trechos apresentados evidenciam que os
enunciadores de Viagens na minha terra e de Memórias
póstumas de Brás Cubas se valem da metalinguagem,
ou seja, comentam explicitamente o processo de
construção de suas narrativas. Além disso, os trechos
abordam a digressão, expediente narrativo frequente em
ambas as obras, que consiste em interromper o fluxo da
narrativa para tratar de assuntos diversos.
em Memórias póstumas de Brás Cubas, de maneira
agressiva, como mostra o trecho “o maior defeito deste
livro és tu, leitor”.
7. Resolução
a) Ao declarar que a sua viagem é “uma coisa séria,
grave, pensada”, o autor marca a diferença da sua obra
em relação ao gênero “relato de viagens”. Mais que uma
narrativa que retrata o pitoresco das paisagens visitadas,
a viagem a Santarém apresentada no livro de Garrett
simboliza uma incursão pela sociedade portuguesa
em busca das raízes históricas e da identidade cultural
da nação. Essa busca assume uma dimensão profunda
quando se considera que, no momento em que a obra foi
escrita, o Liberalismo se firmava como sistema político
após a Guerra Civil que agitou a nação entre os anos
de 1832 e 1834. Nesse sentido, a viagem serve também
como reflexão sobre as mudanças recentes ocorridas no
país.
b) A obra de Garrett representou uma modernização
da prosa em língua portuguesa na medida em que
apresentou novidades formais assimiladas das
literaturas inglesa e francesa, tais como o relato
intensamente digressivo, a ironia, a descontração
linguística, a coloquialidade, o diálogo com o leitor e a
metalinguagem. A importância dessa inovação pode ser
aquilatada pela influência das Viagens na minha terra na
obra de grandes escritores posteriores, tais como Eça de
Queirós e Machado de Assis.
As resoluções e comentários são do curso Anglo:
http://angloresolve.cursoanglo.com.br/oAngloResolve.asp
b) Os enunciadores procuram frustrar o leitor
acostumado a narrativas lineares em que os
acontecimentos são organizados numa relação de
causa e consequência. Esse leitor não teria paciência
de acompanhar os comentários e reflexões feitos pelo
narrador digressivo. Levando-se em consideração o
contexto em que as obras foram escritas, é possível
inferir que o leitor prefigurado nos trechos é o
acostumado aos romances românticos folhetinescos.
Os narradores ironizam esse tipo de leitor, embora o
façam de maneira distinta: em Viagens na minha terra,
de maneira cordial (“benévolo e paciente leitor”);
3
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