UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
PROTOZOÁRIOS DE VIDA LIVRE EM DOIS TRECHOS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANGI (RN):
RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E
PRESERVAÇÃO
Wellington Sena Lobato Júnior
2013
Natal – RN
Brasil
Wellington Sena Lobato Júnior
PROTOZOÁRIOS DE VIDA LIVRE EM DOIS TRECHOS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANGI (RN): RELAÇÕES
COM A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E PRESERVAÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
2013
Natal – RN
Brasil
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Wellington Lobato e Lúcia de Fátima, sem os quais não teria a
oportunidade de viver e crescer.
Agradeço a Capes-REUNI pelo apoio financeiro.
Agradeço a minha avó, Maria de Fátima Barbosa, e ao meu avô, Luiz Lobato Neto, que
sempre acreditaram em mim e me ensinaram a nunca desistir ou olhar para trás.
À Naná, minha namorada, que sempre conseguiu iluminar meu caminho quando todas as
outras luzes pareciam se apagar.
À Profa. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo pela confiança, paciência e amizade
durante a realização deste trabalho.
Aos amigos do LAMAq, em especial a Fabrício, Leide e José Paulo, que sempre estiveram
dispostos a me ajudar quando mais precisei.
Agradeço a Aline Amorim, Luisa Medeiros e Mariana Leite pelo apoio e conselhos
compartilhados na construção deste trabalho, principalmente no segundo capítulo desta
dissertação.
A todos os meus amigos, especialmente Thiago, Leonardo, Melqui, Jeniffer, Luciana,
Marquinhos, Bruno, Carola, Pablo, Sonia e Eneide, que de uma maneira ou de outra sempre
me ajudaram a seguir em frente.
A todos os colegas do PRODEMA, principalmente Henrique Roque e Gabrielle Perreira, pela
grande amizade construída durante esses dois anos.
Agradeço imensamente a Deus por me ensinar a ter confiança, competência e perseverança
em todos os momentos da minha vida.
RESUMO
PROTOZOÁRIOS DE VIDA LIVRE EM DOIS TRECHOS DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO PIRANGI (RN): RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E
PRESERVAÇÃO
A vasta riqueza hídrica do Brasil deixa suas bacias hidrográficas mais suscetíveis a impactos
que comprometam a qualidade da água, afetando a estabilidade ecossistêmica dos ambientes
aquáticos. A diminuição da qualidade dos recursos hídricos resulta também na diminuição dos
seus usos múltiplos, principalmente em regiões turísticas do litoral, onde o fluxo contínuo de
pessoas a esses locais aumenta ainda mais a probabilidade de comportamentos inadequados
tanto dos turistas quanto dos residentes locais. Os estudos a respeito das comunidades
microbiológicas ainda são escassos, principalmente as de protozoários de vida livre, que
desempenham funções singulares dentro da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos.
Devido ao grande papel desempenhado por este grupo de microrganismos nos ambientes
aquáticos, o presente estudo teve por objetivo identificar os protozoários de vida livre, em
gênero e espécie, presentes em dois trechos do Rio Pium, litoral leste do Rio Grande do
Norte, fazendo uma relação entre a ocorrência e as condições tróficas do ambiente em que se
encontram. Também se objetivou realizar uma sondagem junto aos alunos para identificar as
principais dificuldades quanto ao conhecimento dos protozoários de vida livre e doenças de
veiculação hídrica em duas escolas públicas próximas ao rio estudado, no distrito de Pium,
município de Parnamirim. A sondagem foi analisada por meio de questionários aplicados em
ambas as escolas. Foi registrado um total de 76 táxons de protozoários de vida livre, destes,
sendo 33 ciliados, 19 flagelados e 24 sarcodíneos. Os padrões espaciais e temporais desses
organismos nos dois pontos estudados revelaram a potencialidade bioindicadora eficaz de
algumas espécies identificadas. Os alunos identificaram diversas atividades desenvolvidas no
Rio Pium, destacando sua multifuncionalidade e importância para a região. Porém, o
conhecimento sobre os protozoários de vida livre mostrou-se bastante defasado, apresentando
concepções alternativas que os evidenciam como organismos exclusivamente patogênicos,
desconsiderando totalmente seu papel ecológico primordial. Com o propósito de minimizar os
possíveis equívocos existentes nos alunos em relação ao papel funcional dos protozoários,
foram planejadas oficinas didáticas sobre estes microrganismos, abordando também temas
relacionados a doenças de veiculação hídrica por meio de palestras, atividades lúdicas e
apresentações interativas. Estas atividades práticas de Educação em Ciências tiveram o intuito
de aproximar os alunos do contexto dos recursos hídricos locais, almejando-se promover um
maior esclarecimento sobre o papel funcional dos protozoários de vida livre nos ambientes
aquáticos.
PALAVRAS-CHAVE: Protozoários de vida livre, doenças de veiculação hídrica, educação
em ciências, concepções alternativas.
.
ABSTRACT
FREE-LIVING PROTOZOA IN TWO SECTIONS OF THE PIRANGI RIVER
WATERSHED (RN): RELATIONS TO THE SCIENCE EDUCATION AND
PRESERVATION
The vast hidric wealth of Brazil gets its watersheds more susceptible to impacts that
compromise the water quality, affecting the ecosystem stability of aquatic environments. The
decrease in the quality of water resources also results in a decrease of its multiple uses,
especially in tourist areas of the coast, where the continuous flow of people to these sites
increases even further the probability of inappropriate behavior of both tourists and local
residents. Studies regarding the microbiological communities are still scarce, especially on the
free-living protozoa that play unique roles in the food chain of aquatic ecosystems. Due to the
large role played by this group of microorganisms in aquatic environments, the present study
aimed at identifying the genus and species of free-living protozoa present in two sections of
the Pium River, east coast of Rio Grande do Norte, making an association between the its
occurrence and trophic conditions of the environment in which they are, also checking the
bioindicator capacity of these organisms in water quality. It also aimed to conduct a survey
with students to identify the main difficulties regarding the knowledge of free-living protozoa
and hydric transmission diseases in two public schools near the river studied in the Pium
district, county of Parnamirim. The survey was analyzed by means of questionnaires at both
schools. Students identified several activities developed Pium river, highlighting its
multifunctionality and importance to the region. A total of 76 taxa of free-living protozoa was
recorded, of these, 33 were ciliates, 19 flagellates and 24 sarcodia. The spatial and temporal
patterns of these organisms to both points studied revealed the bioindicator potentiality of
some effective species identified. However, knowledge about the free-living protozoa proved
quite lagged, presenting misconceptions that show them as pathogenic organisms exclusively,
totally disregarding their ecological role. In order to remedy the flaws existing in students in
relation to the functional role of protozoa, workshops were planned on these microorganisms
while also addressing issues related to hydric transmission diseases through lectures,
recreational activities and interactive presentations. These practical activities of Science
Education had the goal of bringing students the context of local water resources, aiming to
promote a greater clarification regarding of the functional role of free-living protozoa in
aquatic environments.
KEYWORDS: Free-living protozoa, hydric transmission diseases, science education,
misconceptions.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................9
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO.............................13
METODOLOGIA GERAL.............................................................................14
REFERÊNCIAS..............................................................................................18
FIGURA 1........................................................................................................13
FIGURA 2........................................................................................................17
TABELA 1.......................................................................................................14
TABELA 2.......................................................................................................16
CAPÍTULO 1 – Protozoários de Vida Livre (Ciliophora, Mastigophora e
Sarcodia) em dois ambientes lóticos do Nordeste do Brasil e seu potencial
uso como bioindicadores................................................................................21
RESUMO.........................................................................................................21
ABSTRACT.....................................................................................................21
INTRODUÇÃO...............................................................................................22
MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................23
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................26
CONCLUSÃO.................................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................36
FIGURA 1........................................................................................................24
FIGURA 2........................................................................................................30
FIGURA 3,.......................................................................................................32
FIGURA 4........................................................................................................35
TABELA 1.......................................................................................................25
TABELA 2.......................................................................................................27
TABELA 3.......................................................................................................27
TABELA 4.......................................................................................................29
TABELA 5.......................................................................................................31
CAPÍTULO 2 – O que sabem alunos do ensino fundamental sobre
protozoários: um estudo realizado em escolas de uma região litorânea do
nordeste brasileiro.........................................................................................40
RESUMO.......................................................................................................40
ABSTRACT...................................................................................................40
INTRODUÇÃO.............................................................................................41
METODOLOGIA..........................................................................................42
RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................44
CONCLUSÕES.............................................................................................56
REFERÊNCIAS ............................................................................................57
FIGURA 1.....................................................................................................43
FIGURA 2.....................................................................................................45
FIGURA 3.....................................................................................................46
FIGURA 4.....................................................................................................47
FIGURA 5.....................................................................................................49
FIGURA 6.....................................................................................................50
FIGURA 7.....................................................................................................50
FIGURA 8.....................................................................................................52
FIGURA 9.....................................................................................................52
FIGURA 10...................................................................................................53
FIGURA 11...................................................................................................53
FIGURA 12...................................................................................................53
FIGURA 13...................................................................................................55
QUADRO 1...................................................................................................44
QUADRO 2...................................................................................................48
QUADRO 3...................................................................................................51
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................60
ANEXO 1.......................................................................................................62
ANEXO 2.......................................................................................................65
9
1. INTRODUÇÃO GERAL
A água é um recurso indispensável não apenas à existência da vida, mas também como
meio de melhorar a sua qualidade. Os recursos hídricos estabelecem uma forte relação com a
qualidade do ambiente, que devem utilizados de maneira a satisfazer as necessidades básicas
da população por meio de um manejo múltiplo e integrado, promovendo a elevação do
potencial produtivo das regiões em que se encontram e garantindo, assim, a sustentabilidade
ecológica (Leff, 2000). Todos esses fatores convergem espontaneamente para o
desenvolvimento, que se afasta da ideia primitiva e errônea de puro crescimento econômico.
Os impactos no ciclo hidrológico e na qualidade das águas decorrem de um grande
conjunto de atividades humanas, resultados dos usos múltiplos, e que possuem efeitos diretos
e indiretos na economia, na saúde humana, no abastecimento público, na qualidade de vida e
na biodiversidade, comprometendo também a qualidade dos “serviços” aquáticos superficiais
e subterrâneos (Tundisi, 2006).
A água é um recurso essencial para o desenvolvimento socioeconômico e vem tendo
rápido aumento de consumo e de usos, o que faz com que venha se tornando escassa em
qualidade para a maioria das regiões em desenvolvimento (Tundisi, 2003) e segundo Leff
(2000), os desequilíbrios gerados pelo processo de acumulação capitalista dependem de duas
qualidades dos ecossistemas: sua resiliência e seu estado de conservação e saúde. Assim, o
conjunto de práticas que utilizam os recursos hídricos de maneira inadequada, ou seja, de
modo a alterar as condições de estabilidade dos ecossistemas aquáticos para realização de
atividades econômicas, sociais e de lazer, acabam por enfraquecer o potencial produtivo
desses ambientes e, consequentemente, diminuem as condições de qualidade de vida dos
habitantes de determinada região.
1.1 O impacto do turismo na qualidade da água
Os problemas relacionados ao equilíbrio dos ecossistemas aquáticos colocam o Brasil
numa posição de destaque devido a sua vasta riqueza hídrica. Isso deixa suas bacias
hidrográficas bastante vulneráveis para realização de diversas atividades impactantes
resultantes da ocupação antrópica – como lançamento inadequado de resíduos líquidos e
sólidos nos rios, retirada da vegetação ripária e construção de estabelecimentos sobre suas
margens – que possam afetar suas condições de estabilidade ecossistêmica. Esta situação
contribui para a existência de condições ou situações de risco que vão influenciar no nível de
10
saúde da população (Cesa et al., 2010), indo muito além da esfera ambiental, e atingindo,
também, o aspecto socioeconômico da sociedade.
As consequências são mais agravantes em regiões turísticas, nas quais a procura pelas
belezas naturais hídricas leva a práticas de balneabilidade, resultando em contato primário dos
indivíduos com a água. A alteração das características físicas, químicas e biológicas da água
compromete diretamente a fauna e flora destes ecossistemas, bem como as suas condições
sanitárias, expondo os banhistas a inúmeras doenças (Medeiros, 2009).
Silva e Rocha (2010) enfatizam que as atividades de turismo devem atentar para que
estas sejam efetuadas de maneira a manter o ambiente preservado e sempre estar íntegro como
forma de manter o fluxo de turistas ao local. Esses autores também chamam atenção ao fato
de um indivíduo residente no local onde há a prática de turismo rural, mesmo que não queira
fazer parte de nenhum empreendimento ou ter qualquer outro tipo de participação, não estará
isento de sofrer os impactos da atividade. E acrescenta que o próprio turista exerce influência
sobre os costumes locais, possibilitando sua modificação de maneira positiva ou negativa
devido às várias experiências compartilhadas com os residentes. Assim, os costumes sociais
dos moradores da região e dos próprios turistas não devem estar isentos da responsabilidade
moral com relação ao meio ambiente, visto que atividades de ordem econômica e social de
um local não são independentes, fazendo dos cuidados dos recursos naturais um assunto
generalizado e não local, motivo pelo qual deve-se desenvolver um manejo múltiplo e
sustentável dos recursos hídricos nessa região.
Nesse contexto, considerando que o litoral do estado do Rio Grande do Norte
apresenta uma grande demanda turística devido às belezas naturais e clima favorável, tem-se
notado uma forte degradação dos ambientes lóticos cujas margens são ocupadas sem
planejamento, o que pode acarretar em prejuízos variados tanto para os turistas quanto para os
moradores do litoral do estado. Estas atividades são marcantes na Bacia Hidrográfica do Rio
Pirangi (BHP), onde também ocorrem várias outras atividades que causam impacto na
qualidade da água, como atividades agropecuárias, urbanização com despejo de águas
residuárias não tratadas e desmatamento que interfere na recarga de aquíferos.
Logo, faz-se necessária a implementação de pesquisas e iniciativas práticas para a
discussão da problemática ambiental referente aos recursos hídricos de maneira integrada para
com os aspectos socioeconômicos da região em que a BHP insere-se. A aplicação de materiais
didáticos, como jogo e cartilhas, contextualizados aos recursos hídricos de maneira a
11
complementar as atividades desenvolvidas em sala de aula pode promover uma mudança
coletiva de atitudes, no que se refere à preservação do ambiente e da própria saúde, tendo
como ponto de partida as escolas (Araújo et al.,2006; Amorim, 2010; Medeiros, 2012;
Nascimento, 2012).
1.2 Bioindicadores e a Educação em Ciências
Os sistemas aquáticos encontram-se sujeitos a inúmeras perturbações, e a biota
aquática reage a esses estímulos, sejam eles naturais ou antropogênicos (Toledo & Nicolella,
2002; Buss et al., 2003; Silva et al., 2006), o que evidencia os microrganismos bioindicadores
e a EA como ferramentas que podem proporcionar resultados significativos no estudo dos
ecossistemas aquáticos, incorporando de maneira multidisciplinar as problemáticas
encontradas numa região e atingindo, dessa maneira, a esfera ambiental, social e econômica
da sociedade. Além disso, a EA pode ser aplicada de maneira a contribuir com a redução da
incidência de doenças de veiculação hídrica e sensibilizar a população a respeito dos
principais problemas que ocorrem em sua região, no que se refere à qualidade da água
(Nascimento, 2012).
O desenvolvimento em si deve ser definido como uma mudança qualitativa
significativa (Veiga, 2005), e atividades continuadas de Educação Ambiental (EA) em escolas
podem promover tal mudança. De acordo com Marin (2008), projetos de EA devem subsidiar
discussões aprofundadas referentes à natureza e às formas de relação do ser humano com as
realidades imediatas, onde se inserem a coletividade e o lugar habitado. Essa relação muitas
vezes levam os indivíduos, principalmente as crianças, a criarem conceitos equivocados a
respeito de vários aspectos que os cercam. Essas construções pessoais originadas das relações
do cotidiano de cada indivíduo para explicar os fenômenos naturais do mundo são definidas
por Pozo (1987) como concepções alternativas, por serem de difícil superação, a identificação
desses conceitos prévios sem embasamento científico é muito importante, principalmente em
alunos da educação básica, no qual a visão científica equivocada de alguns professores e de
erros conceituais em livros didáticos contribui para a reprodução de erros conceituais pelos
alunos e, a escola, ao não estabelecer uma relação entre o conhecimento prévio dos alunos e o
mundo científico acaba fortalecendo algumas das concepções trazidas pelos eles à sala de aula
(Silva & Amaral, 2006). Dessa forma, a identificação das concepções alternativas são de
grande importância para evitar o surgimento de erros conceituais, que contraditórios aos
conhecimentos científicos vigentes.
12
Torna-se evidente a grande relevância do monitoramento e manejo adequado dos
ecossistemas aquáticos, que estabelece uma relação direta entre qualidade de água e qualidade
de vida das populações. Sodré-Neto & Araújo (2008) enfatizam que o monitoramento desses
ecossistemas pode ser extremamente importante para conhecer seu funcionamento.
1.3 A Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi e o estudo de protozoários de vida livre.
As bacias hidrográficas são unidades ideais de manejo e de gestão ambiental em
diversas políticas públicas, inclusive para o desenvolvimento da EA (Santos, 2000;
Rodrigues, 2000; Santos, 2003), pois funcionam como eixo condutor de diversas disciplinas,
propiciando o desenvolvimento de práticas escolares científicas e funcionando como agente
integrador das disciplinas na construção de uma visão abrangente da natureza. Além disso, é
na bacia hidrográfica que os diversos atores sociais se encontram para uma negociação de
seus usos múltiplos (Bacci & Pataca, 2008).
Os cursos d’água que compõem as bacias hidrográficas possibilitam a proliferação e
desenvolvimento aquático de várias comunidades biológicas, inclusive a de microrganismos,
essenciais à manutenção e equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. Dentre eles destacam-se os
protozoários de vida livre, que exercem o controle descendente de algas e bactérias,
possibilitando a transferência do fluxo de energia de para níveis tróficos mais elevados da
cadeia alimentar (Azam, 1983). Estes eucariontes unicelulares podem ser utilizados como
bioindicadores da qualidade de água, pelo fato de seus representantes possuírem um ciclo de
vida curto e suas delicadas membranas possibilitarem respostas rápidas às alterações das
condições ambientais (Gong et al., 2005, Xu et al., 2008, Xu et al., 2010). Além disso,
pesquisas envolvendo protozoários são de reconhecida importância tanto do ponto de vista da
investigação científica básica (conhecimento taxonômico, ecológico) quanto do ponto de vista
econômico (Corliss, 2001; Rocha, 2003).
A poluição dos ambientes aquáticos comprometem de forma crítica os indivíduos que
utilizam a água para consumo, lazer e trabalho. Logo, a análise dos fatores físico-químicos e
microbiológicos constitui-se como ferramenta fundamental na classificação e enquadramento
de rios e córregos em classes de qualidade de água e padrões de potabilidade e balneabilidade
humanas (Goulart & Callisto, 2003).
As pressões ambientais sobre os recursos hídricos devido às múltiplas atividades
antrópicas, concomitante com a falta de iniciativas que proporcionem uma formulação de
estratégias para diminuir tais impactos na BHP, evidenciam a necessidade de pesquisas que
13
provoquem discussões e buscas de soluções pelos próprios cidadãos a respeito dos problemas
relacionados ao ambiente onde residem.
Nesta bacia encontra-se o Rio Pium, que apresenta em suas margens um balneário e, a
alguns metros adiante a estes estabelecimentos, também próximo à margem, uma área
utilizada para plantação de coqueiros e criação de gado. Tais atividades são fontes potenciais
de contaminação do rio, o que pode comprometer fortemente a qualidade da água. Tais cursos
d’água representam para a região um grande valor socioeconômico pela presença de
atividades agropecuárias e turísticas – principalmente as que envolvem recreação de contato
primário –, afetando de maneira incisiva os aspectos sociais e ambientais da mesma, visto que
as atividades antrópicas são, muito provavelmente, as principais razões de muitos pontos
desse sistema encontrarem-se potencialmente eutrofizados.
Com base nisto, o presente estudo teve como objetivo verificar em dois trechos da
BHP a qualidade da água por meio da composição da comunidade de protozoários de vida
livre, utilizando os dados encontrados para o desenvolvimento de atividades de EA numa
escola da rede pública próxima ao local de estudo, tendo como base a concepção de alunos
sobre esses microrganismos.
2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
Localizada no litoral leste do Estado do Rio Grande do Norte, a BHP (Figura 1) ocupa
uma área de aproximadamente 458 km², o que corresponde a 0,9% do território estadual, e
abrange parte dos municípios de Parnamirim, São José do Mipibu, Vera Cruz, Nísia Floresta,
Macaíba e Natal. A BHP é formada pelos rios Pitimbu, Pium e Pirangi e pelos riachos
Taborda e Água Vermelha.
A região é caracterizada climatologicamente pela predominância do clima quente e
úmido - tropical chuvoso com verão seco - caracterizado com duas estações bem definidas:
uma chuvosa (março a agosto) e uma seca (setembro a fevereiro) (SEMARH, 2012)
14
Figura 1. Bacia do Rio Pirangi e pontos de amostragem – Rio Pium. P1: Ponto 1;
P2: Ponto 2.
O embasamento geológico é constituído, predominantemente, por sedimentos
quaternários (dunas, paleodunas, aluviões e coberturas indiferenciadas) e terciárioquaternários do Grupo Barreiras (SEMARH, 2012). Mais de 80% do uso do solo encontra-se
impactado pelo homem (Tabela 1).
A economia é constituída por um conjunto de atividades agropecuárias, destacando-se
o cultivo de coco, cana-de-açúcar, mandioca, mamão e hortaliças em geral. Esta diversidade
caracteriza-se principalmente pela proximidade do grande centro consumidor de Natal. Na
pecuária, a criação de gado para corte e leite e a avicultura de corte e postura são as que mais
se destacam (Medeiros, 2009).
Tabela 1. Usos do solo na BHP
ÁREA
Classes de Uso do Solo
Km2
%
Mata
Vegetação de Tabuleiro
Vegetação Antropizada
Manguezais
Agricultura
Áreas Urbanas
Lagoas/Açudes
Total
1,2
48,5
302,4
18,0
69,9
7,1
11,8
458,9
0,3
10,6
65,9
3,9
15,2
1,5
2,6
100,0
FONTE: SEMARH (2012)
15
O principal rio utilizado para o abastecimento de água para consumo humano na
cidade do Natal é o Pitimbu – principal afluente da lagoa do Jiqui -, responsável pelo
abastecimento de 30% da Região Metropolitana da capital (IGARN, 2012). Este rio une-se ao
Rio Pium, dando origem ao Rio Pirangi.
3. METODOLOGIA GERAL
3.1 Amostragem
Os pontos de amostragem foram determinados tendo como referência o balneário
presente entre o Ponto 1 (P1) e o Ponto 2 (P2) do Rio Pium. As coletas ocorreram em dois
períodos distintos: um chuvoso (setembro, outubro e novembro) e um seco (março, abril,
maio e junho).
3.2 Identificação e ocorrência dos protozoários de vida livre
A amostragem para análise dos protozoários de vida livre foi realizada por meio de
filtrações sequenciais da água utilizando redes de plâncton, malhas de 20 μm e 10 μm, na
superfície dos corpos d’água de maneira aleatória. Em seguida, a água filtrada foi então
acondicionada em frascos transparentes com capacidade para 200 mL com tampas porosas,
evitando um ambiente anóxico. Em laboratório, as amostras foram acondicionadas em
câmaras de sedimentação por 24 horas e observadas em microscópio óptico invertido, onde os
protozoários, ainda vivos, foram identificados por suas características morfológicas. A
identificação teve base em Patterson (1996) e nos sites Protist Information Server, URL:
http://protist.i.hosei.ac.jp/protist_menuE.html
e
Micro*scope,
URL:
http://starcentral.mbl.edu/microscope/portal.php. A Frequência de Ocorrência foi calculada
com propósito de realizar a descrição dos táxons considerados mais frequentes (> 70%)
durante o período de coleta.
3.3 Variáveis ambientais
Medidas das variáveis ambientais nos trechos estudados foram realizadas de maneira a
verificar a influência destas na distribuição dos microrganismos estudados. A temperatura, o
pH e o oxigênio dissolvido (OD) foram registrados utilizando a sonda multiparâmetros de
qualidade de água YSI modelo 6820V2. As concentrações de clorofila a foram estimadas
segundo Jespersen & Christoffersen (1988) e as análises de nitrogênio total (NT) e fósforo
total (FT) seguiram a metodologia de Valderrama (1981).
16
Para indicação do estado trófico em cada ponto de estudo foi calculado o Índice do
Estado Trófico para o fósforo – IET (PT) e o Índice do Estado Trófico para a clorofila a – IET
(Chl a), propostos por Carlson (1977) e modificado por Toledo et al. (1983) para ambientes
tropicais e posteriormente por Lamparelli (2004), que estabeleceu uma adaptação do índice
para ambientes lóticos. Estes índices consideram valores de concentração de fósforo e
clorofila a (Tabela 2).
Tabela 2. Classificação do Estado Trófico para rios segundo Índice de Carlson
modificado por Lamparelli.
Classificação do Estado Trófico – Rios
ESTADO TRÓFICO
PONDERAÇÃO
Ultraoligotrófico
IET ≤ 47
Oligotrófico
47 < IET ≤ 52
Mesotrófico
52 < IET ≤ 59
Eutrófico
59 < IET ≤ 63
Supereutrófico
63 < IET ≤ 67
Hipereutrófico
IET > 67
3.4 Análises estatísticas
Foi utilizado o Software Estatístico R versão 2.15.1 para verificar influência ambiental
(variáveis físicas, químicas e biológicas) na quantidade de táxons de protozoários encontrados
em cada coleta. Técnicas de regressão multivariada foram aplicadas para ajustar o modelo
final, bem como utilizado métodos de seleção de variáveis, comando ‘step’ do software R.
3.5 Desenvolvimento de atividades de educação ambiental nas escolas próximas aos
ambientes de estudo
As atividades de EA ocorreram utilizando as análises dos microrganismos nos trechos
estudados da BHP em escolas da rede pública próximas da região de estudo. Tais atividades
serão realizadas em duas etapas: levantamento de concepções alternativas realizado com os
alunos do 6º ao 9º ano por meio de questionários e análise de desenhos; oficinas didáticas,
constituindo três atividades sobre protozoários de vida livre (Figura 2).
17
Figura 2 Organograma das atividades de Educação Ambiental.
.
18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Federal do Rio Grande do Norte, RN. 2010.
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63, 2008.
ARAÚJO, M. F. F. de; PANOSSO, R. de F.; COSTA, I. A. S. da. Ações em educação
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AZAM, F., FENCHEL, T., FIELD, J.G., GRAY, J.S., MEYER-REIL, L.A., THINGSTAD, F.
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21
Protozoários de Vida Livre (Ciliophora, Mastigophora e Sarcodia) em dois ambientes
lóticos do Nordeste do Brasil e seu potencial uso como bioindicadores
Wellington Sena Lobato Júnior1*, Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo2
ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO AO PERIÓDICO Revista Brasileira de Biociências E,
PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA
REVISTA.
(vide http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb)
RESUMO: O trabalho teve por objetivo identificar os protozoários de vida livre e
caracterizar sua frequência de ocorrência em dois trechos do Rio Pium (P1 e P2), na Bacia
Hidrográfica do Rio Pirangi, litoral leste do estado do Rio Grande do Norte, verificando o
potencial indicador de qualidade de água desses microrganismos. Foi registrada a presença de
76 táxons de protozoários de vida livre. A técnica de regressão multivariada demonstrou que
o nitrogênio total, fósforo total, pH e o Índice de Estado Trófico estiveram significativamente
relacionados (p ≤ 0,05) ao número de espécies encontradas no P1. O ponto menos impactado
não apresentou relação significante entre o número de espécies e as variáveis utilizadas no
estudo. Concluiu-se que a distribuição desses organismos, principalmente os protozoários
ciliados, e a sua associação a padrões temporais e espaciais, podem ser indicadores bastante
eficazes da qualidade de água nos ambientes lóticos estudados.
Palavras-chave: Identificação, frequência de ocorrência, qualidade de água, bioindicador.
ABSTRACT: The study aimed to identifying free-living protozoa and characterize their
frequency of occurrence in two stretches of the River Pium (P1 and P2) in Pirangi River
Basin, east coast of the state of Rio Grande do Norte, verifying the water quality indicator
potential of these microorganisms. It was reported the presence of 76 taxa of free-living
protozoa. A multivariate regression showed that total nitrogen, total phosphorus, pH and
trophic state index were significantly associated (p ≤ 0.05) to the number of species found in
P1. The less impacted point showed no significant relationship between number of species
and the variables used in the study. It was concluded that the distribution of these organisms,
particularly protozoa ciliates, and their association with temporal and spatial patterns, can be
quite effective indicators of water quality in the lotic studied sites.
Key words: Identification, frequency of occurrence, water quality, bioindicator.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Pós Graduação Regional em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rio Grande do Norte, Brasil.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Departamento de Microbiologia e
Parasitologia, Rio Grande do Norte, Brasil.
*Autor para contato: [email protected]
INTRODUÇÃO
Os protozoários de vida livre são organismos unicelulares, eucariontes e
heterotróficos, havendo, também, representantes mixotróficos (Godinho & Regali-Seleghim
1997, Sher & Sher 2002, Ronqui 2008). Estão divididos em três grupos: Ciliophora
22
(ciliados), Mastigophora (flagelados) e Sarcodia (heliozoários; amebas nuas ou com
carapaça). Por apresentarem grande diversidade morfológica e fisiológica, sua distribuição
mundial é mais limitada pelo habitat do que pelos aspectos geográficos (Rocha 2003), mas
ainda existe um forte debate quanto à ubiquidade desses organismos (Finlay & Steban 2001,
Finlay 2002, Fenchel & Finlay 2004, Mitchell & Meisterfeld 2005, Foissner 2006, 2008), que
exercem uma importante função de transferência de energia para níveis tróficos mais
elevados na cadeia alimentar aquática por meio do elo microbiano (Azam et al 1983).
A determinação da qualidade da água é um fator de extrema importância
principalmente no Brasil, que possui uma imensa disponibilidade hídrica quando comparado
a outros países. Nesse contexto, considerando que o litoral do estado do Rio Grande do Norte
(RN) apresenta uma grande demanda turística devido às belezas naturais e clima favorável,
tem-se notado uma forte degradação dos ambientes lóticos cujas margens são ocupadas sem
planejamento (Medeiros 2009). Assim, a qualidade dos corpos aquáticos continentais deve
ser monitorada, pois ela pode mudar devido a fontes naturais ou antropogênicas (Pinto 2012).
A Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi (BHP) possui uma importância fundamental com
relação ao abastecimento de água, irrigação, turismo e lazer. O Rio Pium destaca-se como
uma área que sofre grande stress por poluentes e nutrientes orgânicos devido às atividades
recreacionais de balneários (Medeiros 2009) e impactos provenientes de atividades
agropecuárias e deposição inadequada de resíduos domésticos em suas margens.
Os protozoários de vida livre surgem como ferramentas fundamentais por
apresentarem características singulares no auxílio da determinação da qualidade de água,
podendo ser utilizados como potenciais bioindicadores da qualidade de água em ambientes
aquáticos que recebem poluentes variados. Isso ocorre devido ao pequeno tamanho,
crescimento acelerado e a presença de membranas externas sensíveis, fatores que tornam
esses organismos capazes de responder rapidamente às alterações ambientais (Gong et al
2005, Xu et al 2008, Xu et al 2010, Shi et al 2012). Trabalhos anteriormente realizados
sugerem que as comunidades de protozoários refletem adequadamente a qualidade da água e
podem ser usados como bioindicadores robustos em ecossistemas de água doce em rios
(Jiang et al 2007, Shi et al 2009, Tan et al 2010, Shi et al 2012).
Pesquisas voltadas para a identificação desses organismos tornam-se imprescindíveis,
uma vez que os resultados dos ambientes estudados podem ser utilizados para propósitos
educacionais, científicos e econômicos (Corliss 2001). Além disso, os poucos trabalhos
ecológicos que incluem os protozoários geralmente não os identificam ou o fazem de maneira
superficial (Foissner 1994). De acordo com Regali-Seleghin et al. (2011), os maiores
23
levantamentos faunísticos de protozoários foram feitos na Europa e América do Norte, e o
conhecimento nas outras áreas do planeta é muito pequeno. Existe então uma necessidade de
ampliação dos conhecimentos relacionados à diversidade desses organismos, principalmente
no Brasil, onde tais estudos ainda são escassos.
Uma das maneiras de intensificar o esforço em estudos taxonômicos de protozoários é
por meio do aumento de amostragens em regiões pouco estudadas (Mitchell & Meisterfeld
2005), evidenciando-se características essenciais para diferenciar espécies a serem utilizadas
em pesquisas ecológicas, bastante relevantes para os estudos das relações tróficas que
permitem a sustentabilidade dos ecossistemas (Regali-Seleghin et al 2011), e no
desenvolvimento de práticas relacionadas à educação em ciências (Medeiros 2012).
Diante disso, o presente trabalho teve por objetivo registrar a ocorrência e identificar
os protozoários de vida livre em dois trechos de um ecossistema aquático do litoral oriental
do RN, numa abordagem que propõe a contribuição para caracterização da distribuição
geográfica global de protozoários, com descrição dos indivíduos com alta frequência de
ocorrência nos pontos estudados e com o intuito de verificar se as espécies que estão nesses
ambientes podem auxiliar na indicação da qualidade da água.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo
O Rio Pium faz parte da BHP (Fig. 1), localizada no litoral leste do Estado do RN.
Essa bacia ocupa uma área de aproximadamente 458 km², o que corresponde a 0,9% do
território estadual, e abrange parte dos municípios de Parnamirim, São José do Mipibu, Vera
Cruz, Nísia Floresta, Macaíba e Natal. Além do Rio Pium, a BHP é formada pelos rios
Pitimbu e Pirangi e pelos riachos Taborda e Água Vermelha.
O principal rio utilizado para o abastecimento de água para consumo humano na
cidade do Natal é o Pitimbu – principal afluente da lagoa do Jiqui –, responsável pelo
abastecimento de 30% da Região Metropolitana da capital (IGARN 2009). Este rio une-se ao
Rio Pium, dando origem ao Rio Pirangi.
24
Figura 1. Bacia do Rio Pirangi e pontos de amostragem – Rio Pium. P1: Ponto 1; P2: Ponto 2.
A região é caracterizada pela predominância do clima quente e úmido (tropical
chuvoso com verão seco), com duas estações bem definidas: uma chuvosa (março a agosto) e
uma seca (setembro a fevereiro) (SEMARH 2012).
A economia é constituída por um conjunto de atividades agropecuárias, destacando-se
o cultivo de coco, cana-de-açúcar, mandioca, mamão e hortaliças em geral. Esta diversidade
caracteriza-se principalmente pela proximidade do grande centro consumidor de Natal. Na
pecuária, a criação de gado para corte e leite e a avicultura de corte e postura são as que mais
se destacam (Medeiros 2009).
Nas margens do Rio Pium encontra-se uma área de criação de gado, sendo um trecho
com baixo fluxo de água, baixa profundidade e com vários bancos de macrófitas. Mais
adiante, onde o volume, fluxo de água e profundidade são maiores, encontram-se uma série
de balneários, deposição de lixo inadequada acentuada, e ainda uma área utilizada para
plantação de coqueiros e pastagem para gado. Tais atividades são fontes potenciais de
contaminação deste rio, o que pode comprometer fortemente a qualidade da água.
Amostragem
Os pontos de amostragem foram determinados tendo como referência os balneários
presentes no Rio Pium, sendo Ponto 1 (P1) localizado antes do balneários - trecho com baixo
25
fluxo de água e com vários bancos de macrófitas, e Ponto 2 (P2) logo após os balneários. As
coletas ocorreram em dois períodos distintos: um chuvoso (setembro, outubro e novembro) e
um seco (março, abril, maio e junho), sendo realizadas apenas na superfície do rio devido à
sua baixa profundidade.
Seis variáveis ambientais foram medidas a cada coleta. A
temperatura, o pH e o oxigênio dissolvido (OD) foram registrados utilizando a sonda
multiparâmetros de qualidade de água YSI modelo 6820V2. As concentrações de clorofila a
foram estimadas segundo Jespersen & Christoffersen (1988) e as análises de nitrogênio total
(NT) e fósforo total (FT) seguiram a metodologia de Valderrama (1981).
Para indicação do estado trófico em cada ponto de estudo foi aplicado o Índice de
Estado Trófico (IET) proposto por Lamparelli (2004) para ambientes lóticos, (Tab. 1). O
estado de trofia final foi calculado através da média aritmética simples dos índices relativos
ao FT e Clorofila a para cada ambiente.
Tabela 1. Classificação do Estado Trófico para rios segundo Índice de Carlson modificado por
Lamparelli (2004).
Classificação do Estado Trófico – Rios
ESTADO TRÓFICO
PONDERAÇÃO
Ultraoligotrófico
IET ≤ 47
Oligotrófico
47 < IET ≤ 52
Mesotrófico
52 < IET ≤ 59
Eutrófico
59 < IET ≤ 63
Supereutrófico
63 < IET ≤ 67
Hipereutrófico
IET > 67
Identificação e ocorrência dos protozoários de vida livre
As amostragens ocorreram nas superfícies dos corpos d’água tanto nas margens
quanto em uma região central entre as mesmas, realizando o arrasto de pontos aleatórios.
Foram realizadas filtrações sequenciais da água utilizando redes de plâncton, com porosidade
das malhas de 20μm e 10μm, respectivamente. Em seguida, a água filtrada foi então
acondicionada em frascos transparentes com capacidade para 200ml com tampas porosas,
evitando um ambiente anóxico. Em laboratório, com auxílio de pipetas, 10ml da amostra de
água foram colocadas em câmaras de sedimentação. Após 24 horas, as amostras foram
observadas em microscópio óptico invertido, onde os protozoários, ainda vivos, foram
identificados através de critérios morfológicos. A identificação teve base em Patterson (1996)
e nos sites Protist Information Server, URL: http://protist.i.hosei.ac.jp/protist_menuE.html e
26
Microscope, URL: http://starcentral.mbl.edu/microscope/portal.php, tendo sua apuração
maximizada pela captura de fotos e vídeos do material analisado. A frequência de ocorrência
foi calculada com propósito de realizar a descrição dos táxons considerados mais frequentes
(> 70%) durante o período de coleta.
Análises estatísticas
Foi utilizado um software estatístico para verificar a relação das variáveis físicas,
químicas, biológicas (temperatura, pH, clorofila a, NT, FT, OD) e do IET na diversidade de
táxons de protozoários, observando os padrões temporais e espaciais durante o período de
coleta para verificar o uso potencial desses organismos como bioindicadores de qualidade de
água. O teste-t de Student e técnicas de regressão multivariada foram aplicadas para ajustar o
modelo final, bem como utilizado métodos de seleção de variáveis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Variáveis Ambientais e Índice de Estado Trófico
Os valores de seis variáveis ambientais referente aos dois pontos de coleta são
mostrados na Tabela 2. A temperatura da água variou pouco entre os períodos estudados,
mantendo-se estável em ambos os pontos, oscilando de 28,48 ºC a 30,1 ºC em P1, e de 27,28
ºC a 28,89 ºC em P2.
Em P1 apenas o nitrogênio total apresentou diferença significativa (p = 0,037; t =
2,164) entre o período seco e o período chuvoso. Em P2, diferenças significativas entre os
dois períodos foram encontrados tanto para o nitrogênio total (p = 0,008; t = 2,164) quanto
para clorofila a (p = 0,013; t = - 1,823).
O nitrogênio total atingiu maiores concentrações no período de estiagem - 1373μg/L
em P1, e 2260μg/L em P2. As concentrações de clorofila a obtiveram os maiores valores
durante período seco em ambos os pontos, havendo diferenças significativas entre os dois
pontos (p = 0,015; t = 3,279), cujas concentrações foram maiores em P1 (Tab. 2). Águas com
baixa correnteza e profundidade, como as de P1, tende numa maior sedimentação do material
em suspensão, possibilitando uma maior transparência e consequentemente uma maior
produtividade (Lamparelli, 2004).
27
Tabela 2. Variáveis ambientais no Rio Pium (P1 e P2) durante o período de amostragem.
T
Cl a
pH
(ºC) (μg/L)
set/11 28,6
3
6,5
out/11 28,48 7,67 6,36
nov/11 29,47 23,62 6,45
mar/12 30,1 23,26 6,69
abr/12 29,43 22,74 6,79
mai/12 29,13 8,39 6,75
jun/12 28,52 8,39 6,81
29,1 13,86 6,62
Média
0,6
8,93 0,18
D.P.
T = Temperatura, Cl a = Clorofila a, NT = Nitrogênio Total, FT = Fósforo Total, OD = Oxigênio
Dissolvido, D.P. = Desvio Padrão
Apesar das pressões antrópicas em P1 serem muito menores que as observadas em P2,
este ponto apresentou estados de trofia maiores que os encontrados em P2 (Tab. 3). As
concentrações de FT não apresentaram diferenças significantes entre os dois pontos (p =
0,838; t = 209), sendo a clorofila a um fator crucial na determinação do IET de P1 e P2.
Logo, a presença de uma área de criação de gado, de um banco de macrófitas e o baixo
volume de água de P1 pode ter contribuído para este ponto ser mais eutrofizado que P2, de
acordo com o IET.
Tabela 3. IET em P1 e P2 durante o período de coleta.
P1
SECO
DATA
IET FINAL ESTADO TRÓFICO
set/11
49,52
Oligotrófico
out/11
55,8
Mesotrófico
nov/11
63,31
Supereutrófico
mar/12
66,03
Supereutrófico
abr/12
63,06
Supereutrófico
mai/12
57,97
Mesotrófico
jun/12
53,3
Mesotrófico
MÉDIA (D. P.) 58,42 (5,99) MESOTRÓFICO
CHUVOSO
CHUVOSO
SECO
DATA
P1
P2
NT
FT
OD
T
Cl a
pH
NT
FT
OD
(μg/L) (μg/L) (mg/L) (ºC) (μg/L)
(μg/L) (μg/L) (mg/L)
323
3,66
4,6
27,4
0
6,5
2260
5,8
5,49
1243
8,6
4,52 27,79
0
6,67
780
9,5
5,6
1373
23,8
4,5
28,89 4,08 6,82
713
16,8
5,63
234
69,6
4,61 28,52 3,72 6,93
657
37,1
5,76
599
23
4,74 28,27 3,99 6,89
685
38
5,74
282
17,1
4,73 28,71 3,12
7
533
19,6
5,79
253
2,83
4,82 27,28 3,12
7
560
7
5,94
615,28 21,22
4,65 28,12 2,57 6,83
884
19,11
5,71
490,16 22,99
1,93
0,63
1,79 0,18 612,74 13,55
1,97
P2
IET FINAL
22,46
23,74
54,81
56,46
56,83
54,05
51,37
45,67 (15,52)
ESTADO TRÓFICO
Ultraoligotrófico
Ultraoligotrófico
Mesotrófico
Mesotrófico
Mesotrófico
Mesotrófico
Oligotrófico
ULTRAOLIGOTRÓFICO
IET = Índice de Estado Trófico, D. P. = Desvio Padrão
Trabalhos indicam que quanto maior a diversidade de protozoários, melhor a
qualidade da água (Xu et al 2008, Jiang et al 2011). No entanto, o ponto mais eutrofizado
(P1) revelou uma maior diversidade de protozoários, o que pode significar que essas espécies
coexistem sem dominância a partir dos nutrientes disponíveis neste ponto. De acordo com Shi
et al. (2012), teorias sobre a influência da qualidade da água na diversidade de ciliados
sugerem que, em situações onde o stress ambiental é mínimo, a diversidade de espécies é
28
reduzida devido à exclusão competitiva entre elas, enquanto que com um pequeno aumento
no nível de stress ambiental a competição diminui, resultando em aumento de diversidade.
Assim, a diversidade de espécies é maior quando os níveis de stress ambiental são
intermediários, e crescentes graus de eutrofização podem resultar em aumento ou diminuição
da diversidade. Logo, a menor diversidade de espécies em P2 estabelece uma relação
plausível com o IET, sendo um ponto menos eutrofizado e com menor diversidade de
espécies devido, provavelmente, à competição entre as mesmas.
Porém, P2 apresentou níveis de NT maiores que P1 e níveis de clorofila a bem
inferiores (Tab. 2). Segundo Esteves (1998), em nível de sedimento, as bactérias são muito
importantes para a fixação total de nitrogênio de um sistema aquático, e o fornecimento de
energia por meio dos detritos geralmente excede àquela produzida pela fotossíntese. Em
sedimentos sobrecarregados de matéria orgânica, as bactérias e a matéria orgânica dissolvida
são as principais fontes de alimento, logo, P2 pode ter apresentado uma maior quantidade de
bactérias e, consequentemente, de protozoários que se alimentam delas, ocasionando uma
baixa diversidade pela exclusão competitiva entre espécies com hábitos alimentares
semelhantes – bacterívoros (Patterson 1996). Aspidisca Cicada, Chilodonela sp., Euplotes
woodruffi, Lembadion sp., Mesodinium sp., Stentor sp., Urocentrum turbo, Bodo saltans e
Trinema enchelys são alguns exemplos de protozoários bacterívoros que apresentaram
ocorrência menor ou ausente em P2, provavelmente devido a maior competição entre as
espécies, quando comparado a P1 (Tab. 4).
O maior grau de trofia em P1 pode ter contribuído para a maior diversidade neste
ponto. Da mesma maneira, os menores níveis de eutrofização e a poluição quanto aos níveis
de NT em P2 podem justificar a baixa diversidade de protozoários de vida livre neste ponto
por meio da competição entre as espécies de protozoários, onde visualmente observam-se
práticas poluidoras mais intensas e constantes.
Composição e Distribuição Taxonômica
Um total de 76 protozoários foi encontrado durante todo o período de coleta,
compreendendo 33 ciliados, 19 flagelados e 24 sarcodíneos (Tab. 4). Os ciliados foram as
formas mais comuns, correspondendo a 43,42% das espécies registradas.
29
Tabela 4. Frequência de ocorrência dos táxons de protozoários identificados em P1 e P2
durante o período de coleta.
Táxons
Ocorrência (%)
Táxons
Ciliophora
Aspidisca aculeata
P1
42,85
P2
57,14
Mastigophora (cont.)
Euglena granulata
Aspidisca cicada*
71,42
14,28
Aspidisca steini
14,28
Chilodonella sp.
14,28
Chlamydodon sp.
Ocorrência (%)
P1
0
P2
14,28
Euglena mutabilis
14,28
0
0
Euglena sp.
14,28
14,28
0
Euglena spyrogira
14,28
14,28
Sp. 1
14,28
0
14,28
28,57
Glaucoma frontata
0
14,28
Peranema sp.
0
28,57
Climacostomum sp.
14,28
14,28
Petalomonas sp.
0
14,28
Sp. 3
14,28
0
14,28
0
Cinetochilum margaritaceum*
85,71
85,71
Phacus pleuronectes
0
14,28
Cohnilembus sp.
14,28
0
Phacus torta
0
42,85
Coleps hirtus
42,85
42,85
Phacus triqueter
0
14,28
Colpoda sp.
0
14,28
Trachelomonas armata
42,85
0
Cyclidium sp.
0
14,28
Trachelomonas sp. 1*
85,71
85,71
Dileptus amphileptoides
0
14,28
Trachelomonas sp. 2
14,28
0
Dileptus anser
14,28
0
Euplotes woodruffi
28,57
0
Sarcodia
Actinosphaerium sp.
42,85
57,14
Halteria grandinella
14,28
42,85
Amoeba proteus
57,14
42,85
Lembadion sp.
42,85
28,57
Amoeba radiosa
0
14,28
0
14,28
Arcella hemisphaerica
14,28
0
28,57
14,28
Arcella sp. 1
0
14,28
Litonotus sp. 2
0
14,28
Arcella sp. 2
0
14,28
Litonotus sp. 3
14,28
0
Centropyxis sp.
14,28
0
Mesodinium sp.
28,57
0
Difflugia globulosa
28,57
42,85
Paramecium caudatum
42,85
42,85
Difflugia pristis
57,14
57,14
Paramecium
multimicronucleatum
Paramecium trichium
14,28
0
Difflugia pyriformis
14,28
42,85
14,28
28,57
Difflugia sp.
14,28
0
Pleuronema sp.
14,28
28,57
Euglypha acanthophora
Stentor sp.
42,85
0
Stentor coeruleus
42,85
Strobilidium sp.
14,28
Urocentrum turbo
57,14
0
Uroleptus sp.
28,57
42,85
Vorticella sp.
42,85
42,85
Mayorella sp.
Litonotus cygnus
Litonotus sp. 1
Mastigophora
Anisonema acinus
Phacus longicauda
0
28,57
Euglypha rotunda
14,28
0
42,85
Euglypha tuberculata
57,14
42,85
14,28
Hartmanella sp.
14,28
0
Mayorella bigemma
28,57
14,28
Mayorella Leidyi
14,28
14,28
0
14,28
Sp. 2
14,28
0
0
28,57
Trinema complanatum
14,28
14,28
Anisonema sp.
14,28
57,14
Trinema lineare
28,57
28,57
Bodo saltans
57,14
42,85
Trinema enchelys*
71,42
28,57
Entosiphon sulcatum*
71,42
71,42
Vannella sp. 1
14,28
14,28
Euglena anabaena
14,28
0
Vannella sp. 2
14,28
28,57
*Táxons mais frequentes (≥ 70%).
30
Apesar da proximidade entres os pontos de amostragem, dos 76 táxons identificados,
apenas 35 (40,05%) ocorreram em ambos os pontos. Foram registrados 23 táxons
exclusivamente em P1 e 18 em P2. Observa-se, dessa forma, uma clara diferença espacial na
distribuição das espécies nos dois trechos, causadas provavelmente pelos impactos dos bares
e balneários entre os pontos de coleta, além da forte poluição difusa em P2, que pode ter
causado a diminuição da biodiversidade taxonômica de protozoários neste ponto.
Variação temporal e espacial da composição taxonômica
Os padrões das comunidades de protozoários nas sete amostras exibiu uma clara
sucessão temporal relativa à composição de espécies em ambos os pontos estudados (Fig. 2).
A variação temporal do número de espécies em P1 durante o período de coleta apresentou
uma distribuição com pico em Maio – período chuvoso, atingindo um total de 28 espécies. O
menor número de espécies (12) foi verificado em Setembro, mês que marca o início do
período seco na região. Em P2, foi observada uma distribuição mais constante em relação a
P1, provavelmente devido ao fato da poluição em P2 ser mais intensa durante todo o ano,
principalmente pela presença de balneários em sua margem. Ainda assim, também foi
observado maior número de espécies (20) no período chuvoso, e o menor também em
Setembro (nove espécies).
Figura 2. Variação temporal da distribuição de táxons em P1 e P2.
O aumento da quantidade de táxons em ambos os ambientes durante o período
chuvoso pode ter sido ocasionado pela maior disponibilidade de nutrientes trazidos pela
31
chuva, diminuindo a competição entre as espécies e aumentando a diversidade (Shi et al
2011). Paramecium caudatum foi registrado no período seco (setembro e outubro) e no final
do período chuvoso em P1 (maio), e durante todo o período seco em P2. Trata-se de um
ciliado heterotrófico que alimenta-se principalmente de bactérias, fazendo parte de
comunidades bentônicas com excessivo teor de carga orgânica - polissapróbico e αmesossapróbico (Foissner & Berger 1996, Patterson 1996). Assim, é possível assumir uma
melhora da qualidade da água de ambos ambientes durante o período chuvoso.
Medeiros (2009) também observou situação semelhante, ao constatar que o Índice de
Qualidade de Água nesta mesma Bacia Hidrográfica sofreu uma influência positiva no
período chuvoso quando comparado com o período seco. Logo, o aumento da quantidade de
táxons durante o período chuvoso encontrados fortalece os resultados de outros trabalhos
(Jiang et al 2007, Shi et al 2009, Tan et al 2010, Shi et al 2012) quanto utilização desses
organismos como bioindicadores de poluição aquática.
Com base na análise realizada com os dados do Rio Pium observou-se que o NT, FT,
pH e o IET foram significantes (p ≤ 0,05) para o número de espécies encontradas apenas no
P2 (Tab. 5).
Tabela 5. Significância das variáveis de acordo com o valor p para o P2.
Intercepto
Nitrogênio Total
Fósforo Total
pH
Índice de Estado Trófico
*p ≤ 0,05
Estimado
-170,7
-0,0063
0,145
-292
54,13
Valor p*
0,0498
0,0247
0,0379
0,0285
0,0283
Modelo de Regressão Ajustado para o P2 do Rio Pium:
Onde,
Número de Espécies
Potencial Hidrogênio Iônico
Fósforo Total
Nitrogênio Total
Índice de Estado Trófico
O intercepto representa o coeficiente linear da equação do modelo. O valor estimado
trata-se da variação da variável resposta ( ) em função da flutuação de uma variável
independente quando as demais encontram-se fixas. Por exemplo, a cada aumento de unidade
32
no Nitrogênio Total (considerando os valores de FT, pH e IET inalterados, fixos), o número
de espécies total no Rio (P2) diminui (sinal negativo) em 0,0063.
Não foi encontrada relação significante entre o número de espécies e as variáveis
utilizadas no estudo para o P1. Por isso não foi possível obter um modelo que explicasse o
número de espécies neste trecho, provavelmente devido à ausência de efluentes de atividades
antrópicas mais intensas como as encontradas nas margens do P2 - balneários, deposição
inadequada de lixo e áreas de pastagem de animais. Alterações acentuadas das variáveis
físico-químicas podem influenciar a diversidade de táxons de protozoários de vida livre de
modo a diminuí-la quando comparada a um ambiente menos impactado.
Nos dois pontos observou-se que os ciliados e os sarcodíneos foram os principais
contribuidores da composição taxonômica das comunidades de protozoários (Fig. 3). Os
representantes destes dois grupos podem ser significativos na avaliação da qualidade de água,
principalmente os ciliados, que reagem mais rapidamente às variações ambientais que a
maioria dos outros organismos eucarióticos, sendo mais eficientes como bioindicadores da
qualidade de água (Xu et al 2002, Gong et al 2005, Xu et al 2008) e apresentaram
predominância em diversidade taxonômica em quase 60% das coletas realizadas em ambos os
pontos.
Figura 3. Número de espécies em P1 e P2 durante o período de amostragem
33
Descrição dos táxons mais frequentes
Cinco táxons obtiveram larga frequência de ocorrência, aparecendo em mais de 70%
das amostras e em ambos os pontos de amostragem: Aspidisca cicada, Cinetochilum
margaritaceum, Entosiphon sulcatum, Travhelomonas sp. e Trinema enchelys (Fig. 4).
Organismos com ocorrências elevadas podem ser considerados como importantes
componentes da rede trófica (Araújo & Costa 2007), sendo sua descrição bastante relevante
para futuros trabalhos na BHP. A seguir, apresentamos uma descrição breve dessas espécies
com o propósito de relacionar a alta ocorrência de cada uma com
suas características
ecológicas, verificando sua importância e potencial aplicabilidade como bioindicadores da
qualidade de água, onde:
C = Comprimento; L = Largura; D = Diâmetro.
1. Aspidisca cicada Ehrenberg, 1830 (Fig. 4A).
Ovóide, pequena e convexa no lado direito; contorno do corpo liso; peristômio na
porção posterior expandido, formando uma protuberância; cinco cirrus transversais.
Dimensões observadas: C= 33 – 40,5μm; L= 28 – 30μm.
Trata-se de uma espécie geralmente encontrada em águas paradas. Alimenta-se
principalmente de bactérias e faz parte da comunidade perifítica e bentônica. A. cicada é um
organismo β-mesossapróbio e α-mesossapróbio, presente em ambientes com teor de carga
orgânica moderada e forte respectivamente (Foissner & Berger 1996).
2. Cinetochilum margaritaceum Perty, 1852 (Fig. 4B).
Tamanho celular entre 37,5 – 42,5μm de comprimento; região oral no quadrante
direito inferior da superfície ventral; formato ovóide, arredondado na porção anterior e
posterior.
Dimensões observadas: C= 37,5 – 42,5μm; L= 27,5 - 35μm
Alimenta-se principalmente de bactérias e algas, presente em águas paradas ou
correntes e fazendo parte do plâncton, bentos e perifíton. É um organismo
eurissapróbio/euribionte, ou seja, consegue viver indiferentemente bem em águas puras ou
poluídas (Foissner & Berger 1996).
34
3. Entosiphon sulcatum (Dujardin) Stein, 1878 (Fig. 4C).
Corpo celular ovóide; flagelo anterior quase do mesmo tamanho do comprimento do
corpo celular, e menor que o flagelo de arrasto.
Dimensões observadas: C= 27,5 – 37,5μm; L= 15 – 20μm
Entosiphon é um eulgenídeo heterotrófico que possui uma desenvolvida organela de
ingestão, alimentando-se principalmente de bactérias e detritos. É uma espécie comum e
generalista em habitats de águas continentais.
4. Trachelomonas sp. 1, Pringsheim, 1956 (Fig. 4D).
Formato do corpo celular circular; flagelo do mesmo tamanho ou menor que o
diâmetro do corpo celular; envoltório rígido (lorica) marrom/vermelho escuro, observando-se
a uma coloração verde escura no interior da lorica.
Dimensões observadas: D = 37,5 - 50μm
Presente em quase todas as amostras, esta espécie encontrava-se dentro de uma
cápsula mucilaginosa (estágio palmalóide) rígida que pode ter contribuído para sua ampla
distribuição em P1 e P2, protegendo-a dos impactos e variações ambientais.
5. Trinema enchelys (Ehrenberg), 1838 (Fig. 4E).
Carapaça ovóide e ligeiramente achatada na região da abertura do pseudostoma ligeiramente circular ou oval - localizada na porção subterminal da carapaça; região posterior
arredondada; pseudópodes filamentosos e longos.
Dimensões observadas: C = 50 - 75μm; L = 32,5 – 37,5μm; D (pseudostoma) = 15 20μm.
Apesar do importante papel das amebas testáceas na remineralização de nutrientes e o
potencial de grupos ou espécies para indicação de qualidade da água e do ambiente podendo,
então, ser utilizados como bioindicadores (Pereira et al 2011), T. enchelys é categorizada
como uma espécie euribionte, apresentando boa tolerância a variações nos componentes
físico-químicos ambientais (Mazei & Belyakova 2011).
35
Figura 4. Aspidisca cicada (A); Cinetochilum margaritaceum (B); Entosiphon
(C); Trachelomonas sp. (D); Trinema enchelys (E)
sulcatum
Com exceção de A. cicada e apesar da alta ocorrência, as demais espécies mais
frequentes durante o período estudado pouco se destacaram individualmente como
bioindicadoras eficazes devido à suas características generalistas.
CONCLUSÃO
O levantamento da biodiversidade taxonômica dos protozoários de vida livre em
trechos da bacia Hidrográfica do Rio Pirangi representa uma importante contribuição para o
conhecimento da distribuição desses organismos em ambientes tropicais. Em associação com
os padrões temporais e espaciais identificados, é possível a utilização desses organismos
36
como indicadores eficazes da qualidade de água em ambientes lóticos, especialmente no que
se refere ao grupo dos ciliados. Estudos sobre a comunidade bacteriana do Rio Pium são
necessários para melhor aferição a respeito da diferença de trofia nos dois pontos estudados.
A identificação desses organismos deve ir além de observações e medições morfológicas,
sendo necessário o uso de microscopia eletrônica e análises moleculares na identificação de
um grupo tão amplo e disperso quanto este na indicação de diferentes impactos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Microbiologia Aquática - LAMAq
(Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFRN), ao REUNI, pela bolsa concedida;
e ao CONSULEST (Departamento de Estatística – UFRN) pelas análises estatísticas
realizadas.
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40
O QUE SABEM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE
PROTOZOÁRIOS: UM ESTUDO REALIZADO EM ESCOLAS DE UMA
REGIÃO LITORÂNEA DO NORDESTE BRASILEIRO.
WHAT ELEMENTARY STUDENTS KNOW ABOUT PROTOZOA: A STUDY
IN SCHOOLS OF A COASTAL REGION OF NORTHEASTERN BRAZIL.
Wellington Sena Lobato Júnior
Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO Ensino, Saúde e Ambiente E,
PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA
REVISTA.
(vide www.ensinosaudeambiente.com.br)
Resumo
A água possui uma importância singular no desenvolvimento de comunidades biológicas e nas
interações sociais e econômicas. Estudos relacionados à identificação de concepções
alternativas são muito importantes devido às suas ocorrências, cada vez mais frequentes, em
diversos níveis de ensino, principalmente na educação básica. O uso de questionários e
desenhos são metodologias bastante práticas e eficazes para identificação dessas concepções. O
presente estudo foi realizado com alunos do ensino fundamental de duas escolas públicas do
litoral leste do Rio Grande do Norte, tendo como objetivo identificar concepções sobre os
recursos hídricos da região, abordando temas relacionados à saúde e sobre protozoários de vida
livre. Houve uma tendência equivocada em relacionar protozoários de vida livre como
organismos exclusivamente patogênicos.
Palavras chave: Concepções alternativas, questionário, água, protozoários de vida livre.
Abstract
Water has a unique importance in the development of biological communities and social and
economical interactions. Studies related to the identification of alternative concepts are very
important due to their occurrence, increasingly frequent, in various levels of education,
especially in basic education. The use of questionnaires and drawings are very practical and
effective methodologies for identifying these concepts. This study was conducted with
elementary students from two public schools in the east coast of Rio Grande do Norte, aiming to
identify concepts about water resources of the region, covering topics related to health and freeliving protozoa. There was an erroneous tendency to relate free-living protozoa as exclusively
pathogenic organisms
Keywords: Alternative conceptions, questionnaires, water, free-living protozoa.
Introdução
A água é um recurso indispensável tanto para a manutenção da vida como para o
desenvolvimento de relações e atividades sociais e econômicas. Trata-se de um recurso
capaz de determinar contextos culturais distintos, criando hábitos e modificando-os de
acordo com sua disponibilidade e uso, tornando a relação desse bem natural com o
41
homem um tema primordial e singular. De acordo com Tundisi (2003), o rápido
aumento de consumo e usos da água faz com que venha se tornando escassa em
qualidade para a maioria das regiões em desenvolvimento. A qualidade dos recursos
naturais é diretamente proporcional à qualidade de vida das pessoas que fazem uso
desses recursos (LEFF, 2009). Nesse contexto, o manejo e distribuição inadequada da
água acabam por diminuir sua qualidade, afetando também a qualidade de vida da
população.
Em regiões turísticas litorâneas, onde a procura pelas belezas naturais hídricas
leva a práticas de balneabilidade, a preocupação com a água é mais agravante, pois a
alteração de suas características físicas, químicas e biológicas comprometem as
condições sanitárias, expondo os banhistas a inúmeras doenças (MEDEIROS, 2009). Os
costumes dos moradores dessas regiões turísticas e dos próprios turistas não devem
estar isentos da responsabilidade moral com relação ao meio ambiente, uma vez que
atividades de ordem econômica e social de um local não são independentes.
Assim, atividades impactantes resultantes da ocupação antrópica que afetam a
estabilidade ecossistêmica podem contribuir para a existência de condições ou situações
de risco que podem influenciar no nível de saúde da população (CESA et al., 2010), já
que a contaminação dos ambientes aquáticos podem causar alterações nas comunidades
da flora, fauna e de microrganismos. Dentre estes, os protozoários de vida livre ocupam
uma posição de destaque na dinâmica dos ecossistemas aquáticos por regularem,
juntamente com as bactérias, o fluxo de matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes
através do elo microbiano (AZAM, 1983) e por serem considerados como bons
indicadores de qualidade de água (JIANG et al., 2007; SHI et al., 2009; TAN et al.,
2010; SHI et al., 2012). A maioria desses protozoários de vida livre não causa doença, e
apesar de exercerem essas funções ecológicas fundamentais e estarem presentes em
diversos habitats, aquáticos e terrestres, o estudo dos protozoários ainda é pouco
discutido principalmente na educação básica. Segundo Medeiros (2012), a pouca
discussão sobre os protozoários de vida livre gera concepções alternativas sobre esse
grupo de organismos, generalizando-os, muitas vezes, como exclusivamente
patogênicos.
As concepções alternativas são construções subjetivas individuais criadas para
explicar os fenômenos naturais, sendo originadas de interações cotidianas dos
42
indivíduos com o mundo que os cercam (POZO, 1987). Isso é muito comum na própria
escola, entre os alunos, devido a equívocos nas narrativas de professores e também por
meio de informações contidas nos livros didáticos (YIP, 1998; DIKMENLI &
CARDAK, 2004; 2009).
Alguns métodos podem ser utilizados para aferir as concepções de alunos, como
questionários, entrevistas e desenhos. Trabalhos para aferir concepções sobre a
qualidade da água em escolas têm sido amplamente realizados aplicando-se
questionários e/ou entrevistas, levando em consideração as peculiaridades culturais da
região de estudo (PETROVICH & ARAÚJO, 2009; SODRÉ-NETO & ARAÚJO, 2008;
ARAÚJO et al., 2011). A aplicação de questionários é uma metodologia prática e
objetiva de analisar as concepções que existem sobre um determinado tema. Já os
desenhos podem ser utilizados como complemento aos questionários para aferir as
concepções alternativas. Alguns autores, inclusive, enfatizam a utilização de desenhos,
devido estes serem um método mais agradável para os alunos do que questionários e
entrevistas por serem metodologias mais simples, porém eficazes, de obter dados em
pesquisas, permitindo uma comparação de como as pessoas concebem um conceito
específico (BAHAR, 2008; KÖSE, 2008; REISS et al., 2002).
Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo identificar, analisar, e tentar
minimizar, através de oficinas didáticas, as concepções espontâneas de alunos do ensino
fundamental de duas escolas da rede pública, sobre os protozoários de vida livre e as
relações que estes alunos possuem com os ambientes aquáticos na localidade
denominada Pium, um distrito litorâneo do município de Parnamirim no Rio Grande do
Norte (RN).
Metodologia
O trabalho foi realizado em duas escolas públicas de Pium, distrito de
Parnamirim, localizado no litoral sul do RN e que estão situadas nas proximidades da
Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi (BHP) - Figura 1. Essa bacia ocupa uma área de
aproximadamente 458 km², o que corresponde a 0,9% do território estadual, sendo
responsável pelo abastecimento de 30% da Região Metropolitana da capital Natal
(IGARN, 2012).
43
O Rio Pium destaca-se na bacia devido ao grande valor socioeconômico pela
presença de atividades agropecuárias e turísticas – principalmente as que envolvem
recreação de contato primário.
Figura 1. Local de realização da pesquisa.
Etapas da pesquisa
As concepções dos alunos das duas escolas foram levantadas por meio de
questionários que possuíam 19 questões objetivas dividas em três eixos temáticos:
conhecimentos e relações dos alunos com o rio, doenças de veiculação hídrica e
concepções sobre protozoários (Anexo 1). O questionário foi baseado nos trabalhos
desenvolvidos por Kurtz-Santos (1999) e Medeiros (2012). Também foi disponibilizado
um espaço livre em uma folha branca, destinada ao desenvolvimento de desenhos e
comentários sobre protozoários. Não houve nenhum tipo de explicação prévia sobre
assunto para não influenciar a maneira como os discentes lembravam ou imaginavam
que fossem esses organismos, deixando-os livres para expressar a morfologia, o local
onde viviam e a função desses microrganismos. Os desenhos foram realizados antes das
questões objetivas, sendo cada um analisado e categorizado de acordo com o nível de
compreensão deles em relação aos protozoários, sendo essa classificação adaptada dos
trabalhos de Bahar et al., (2008), Köse (2008), Iachel et al. (2008) e Medeiros (2012).
Foram programadas três atividades práticas (Quadro 1) previamente elaboradas
para serem desenvolvidas com os alunos do ensino fundamental de duas escolas
públicas da região de estudo.
44
Quadro 1. Ordem das atividades desenvolvidas na oficina
1. Oficina de microscopia com verificação da ocorrência de protozoários e
microalgas da água do Rio Pium;
2. Elaboração de modelos representativos de protozoários com massa de modelar a
partir de pranchas didáticas e jogos didáticos;
3. Exposição interativa sobre protozoários e qualidade de água.
Essas atividades foram realizadas buscando-se desenvolver, nos alunos,
competências sobre a ocorrência e importância de microrganismos nos ambientes
aquáticos, principalmente de protozoários de vida livre. Durante as atividades foram
utilizados vários materiais de laboratório como microscópios, lâminas, lamínulas e
pissetas; materiais para elaboração de modelos didáticos (massa de modelar e palitos
modeladores) e amostras de água do ambiente aquático de interesse, o Rio Pium.
Resultados e Discussão
Foram respondidos 88 questionários, abrangendo alunos do 5º, 6º, 7º e 9º anos
do ensino fundamental. A idade do público participante variou entre 10 e 17 anos, sendo
49 do sexo masculino (55,68%) e 39 do feminino (44,32%). Mais da metade dos alunos
(56,81%) residem em Pium e redondezas. A análise dos questionários foi realizada a
partir dos eixos temáticos pré-estabelecidos.
Eixo temático 1: Conhecimentos e relações dos alunos com o rio
A primeira questão deste eixo tinha por objetivo observar o que os alunos
conheciam sobre os possíveis usos da água do Rio Pium. Mais de uma alternativa
poderia ser assinalada nessa questão, e as opções de resposta eram: "consumo
humano", "lazer e/ou turismo", "pesca", "despejo de esgoto" e "outros". Caso
marcassem a alternativa "outros", os discentes poderiam especificar outras atividades
em um espaço aberto. Os participantes mostraram-se cientes da multifuncionalidade
desempenhada pelo rio, sendo assinaladas diversas práticas que se mostram
relativamente equalizadas na distribuição de opiniões (Figura 2). Os participantes
que assinalaram a alternativa "outras" citaram a deposição de lixo às margens do rio
como outra atividade muito praticada.
45
Figura 2. Principais usos da água do Rio Pium indicados pelos alunos.
As questões 3 e 4, respectivamente, perguntavam se os alunos tomam banho no
rio e se já beberam de sua água. A grande maioria (70%) afirmou tomar banho no rio,
revelando, então, uma relação bastante direta e expressiva com esse ambiente. Por outro
lado, 98% deles afirmaram não beber da água do rio. Isso demonstra que apesar de
perceberem que a água do rio não tem qualidade adequada para tal, os alunos a utilizam
para outras finalidades, como pesca e banho. Ressalte-se, no entanto, que há sempre
uma ingestão de água espontânea durante as práticas de contato primário como a
balneabilidade. Além disso, o contato secundário ocorre numa situação acidental ou
esporádica, onde se tem uma pequena possibilidade de ingerir água, como, por exemplo,
na pesca e navegação (MEDEIROS, 2009).
A questão 5 referia-se à produção de lixo ou esgoto pelos próprios alunos, dos
quais 27% responderam que “não produziam esgoto”. 19% deles marcaram a alternativa
“nunca pensei nisso” (Figura 3). Menos da metade deles tinha a consciência de que
produziam esgoto.
46
Figura 3. Porcentagem referente á pergunta: “você acha que produz lixo ou esgoto”?
Quando questionados se contribuíam para contaminação do rio, a maioria (52%)
respondeu “não”. Em estudo desenvolvido por Medeiros (2012), houve resultado
semelhante, no qual 50,83% e 53% dos alunos afirmaram, respectivamente, produzir
lixo ou esgoto e contribuir para a contaminação dos recursos hídricos da região onde
habitam. Sodré-Neto e Araújo (2008), trabalhando com professores da rede pública,
constataram, também, que 59,4% afirmou contribuir para a contaminação da água,
demonstrando que mesmo professores têm dúvidas sobre se contribuem com a
contaminação dos corpos aquáticos. Isso preocupa porque, ao não compreendermos a
ação antrópica sobre os ecossistemas aquáticos de maneira consciente, tornamo-nos
menos sensíveis à necessidade de sua defesa e proteção.
Eixo temático 2: Doenças de veiculação hídrica
Neste eixo foi abordada a possibilidade da ocorrência de doenças ligadas ao Rio
Pium, já que é muito usado para atividades de contato primário como as práticas de
balneabilidade e contato secundário, como a pesca. Na questão 7, mais da metade dos
discentes, 66%, acham que podem adquirir alguma doença se tomarem banho nesse rio
(Figura 4), assim como também 68% deles acreditam, como apresentado na questão 8,
que podem ficar doentes se ingerirem água contaminada por lixo ou esgoto.
47
Figura 4. Percentual de alunos que acham que podem adquirir alguma doença se tomar banho
do rio.
Apesar de reconhecerem que a água do rio pode representar uma ameaça às
condições de saúde, a falta de informação os leva a utilizar a água para banho mesmo
assim. Existe, de forma geral, uma aparente ausência de debates sobre esse tema, que
indica também uma falta de sensibilização e interesse pelas questões ambientais,
reforçando a necessidade de maior ênfase no desenvolvimento de ações voltadas para o
conhecimento dos recursos hídricos da região, no qual o espaço escolar é fundamental
nesse processo.
Quanto aos tipos de doenças que podem ocorrer caso tomassem banho no rio ou
ingerissem água contaminada por lixo ou esgoto, foram citados, além das doenças
propriamente ditas, sintomas como “coceira” e “tosse”, além de possíveis agentes
causadores como “vírus” e “bactérias”, aspectos igualmente observados por Petrovich &
Araújo (2009) e Medeiros (2012) ao estudarem as concepções de alunos da rede pública
sobre os usos e a qualidade da água na região semiárida do Rio Grande do Norte. Os
sintomas são mais fáceis de serem citados, ao invés da doença, pois são manifestações
físicas de alterações metabólicas e das sensações do indivíduo, fazendo com que sejam
confundidos com as doenças. Dentre as doenças, foram citadas: “micose de pele”,
“barriga d’água”, “dengue”, “diarréia”, “febre amarela” e “gripe”. Identificou-se uma
confusão quanto à associação de doenças que não são transmitidas direta ou
indiretamente pela água, como a “gripe” ou “febre amarela”. A micose de pele foi a
doença mais citada (44,82%), provavelmente devido à mais clara exposição de suas
manifestações físicas, características da doença.
48
Apesar de reconhecerem que podem adquirir alguma doença ao tomar banho no
rio, apenas 13% dos alunos afirmaram já ter tido alguma doença relacionada com o
consumo de água contaminada e 25% não souberam responder. Resultado similar
também foi encontrado no trabalho de Petrovich e Araújo (2009). Santos et al. (2008)
ressaltam que, como a maioria das doenças de veiculação hídrica é causada por
microrganismos, e não sendo estes facilmente visualizados e identificados pela
população, a percepção de que certas doenças possam estar associadas ao consumo de
água torna-se muito prejudicada nesse aspecto.
Diante disso, é indispensável que temas relacionados às doenças de veiculação
hídrica sejam melhor trabalhados nas escolas, principalmente na Região Nordeste, onde
estas doenças ainda alcançam índices bastante altos quando comparada a outras regiões
do Brasil (SELI & ABICALIL, 1999). Faz-se necessária uma maior ênfase no estudo
dos
microrganismos
causadores
e
nas
formas
de
contágio,
remetendo-se,
consequentemente, aos meios de prevenção dessas doenças.
Eixo temático 3: Concepções sobre protozoários
Este eixo teve como objetivo identificar as concepções dos alunos com relação
aos protozoários de vida livre, que ainda são pouco aprofundados quanto às suas
características morfológicas e ecológicas. Foram selecionadas seis questões que melhor
representam as ideias principais deste eixo (Quadro 2).
Quadro 2. Principais questões referentes ao tema protozoários de vida livre.






Já ouviu falar na palavra “protozoário”?
Saberia dizer onde vivem os protozoários?
Todos os protozoários causam doença?
Podemos ver os protozoários a olho nu?
Acha que há protozoários na água do(s) rio(s) da sua cidade?
Em caso de achar que existem protozoários no rio de sua cidade, isso quer dizer
que a água é de má qualidade?
Quando questionados se já ouviram a respeito da palavra “protozoário”, quase
60% responderam afirmativamente. Quanto ao habitat, 43,18% afirmou que os
protozoários vivem apenas em ambientes aquáticos e 19,31% respondeu que estes
organismos são encontrados tanto na água como no solo e dentro de outros animais. No
mesmo contexto, foi questionado se achavam que haviam protozoários no rio, no qual
67% dos alunos respoderam “sim” (Figura 5). A grande associação desses organismos à
49
água provavelmente foi decorrente do tema principal do trabalho explicitamente
relacionado ao rio. Logo, o conhecimento prévio quanto ao termo existe, mas a
discussão quanto à classificação, morfologia e função desses microrganismos no
ambiente aquático é deficiente. Caron (2009) enfatiza que os protozoários são
negligenciados quanto às suas características mais gerais quando comparados a outros
grupos microscópicos, tornando-os, dessa maneira, menos conhecidos, o que gera
dificuldades em compreender vários aspectos referentes à sua ecologia, como, por
exemplo, seus possíveis habitats.
Figura 5. Percentual de alunos que acha que há protozoários no rio.
A patogenicidade dos protozoários foi um ponto crucial referente às concepções
dos alunos sobre esses organismos. Quando questionados se todos os protozoários
causavam doenças, quase metade dos alunos responderam positivamente e somados aos
que responderam “não sei”, têm-se 86% (Figura 6) que não compreendem que os
protozoários têm importantes funções
ecológicas
nos
diversos
ecossistemas
contribuindo de maneira fubdamental para o seu equilíbrio. No entanto, o número
global de espécies conhecidas de protozoários capazes de causar doenças é mínimo.
Essa implicação equivocada sobre os protozoários é expandida à maioria dos
microrganismos, que são frequentemente conotados de forma negativa e relacionados,
na esmagadora maioria das vezes, com o aparecimento de doenças (MAFRA & LIMA,
2007). Isso ocorre possivelmente devido ao enfoque dado pelos livros didáticos aos
representantes patogênicos das comunidades microbiológicas em geral. Sendo também
50
reforçado pelos professores, que não problematizam o tema e acabam estabelecendo
uma concepção empirista e incompleta a respeito dos desses organismos.
Figura 6. Respostas dos alunos à pergunta: “todos os protozoários causam doença?”
Os alunos foram solicitados a relacionar os protozoários e a qualidade de água.
Destes, 25% disseram que os protozoários influenciam de maneira negativa a qualidade
e outros 25% não sabem se tal relação existe (Figura 7).
Figura 7. Em caso de achar que existem protozoários no rio, isso quer dizer que a água é de má
qualidade?
Ocorre aqui uma incoerência, se compararmos esta com a questão 14, para a
qual a maioria afirmou que todos os protozoários causam doença, revelando,
51
novamente, uma deficiência dos alunos quanto ao conhecimento dos benefícios
ecológicos desempenhados por este grupo nos ambientes aquáticos.
Cerca de 60% dos alunos afirmaram que os protozoários não poderiam ser vistos
a olho nu, revelando um conhecimento relativo, a respeito da dimensão microbiana
desses organismos, pelos alunos. No entanto, o tópico referente ao tamanho dos
protozoários é bastante tênue, pois existe, ainda, uma tendência equivocada, mesmo
entre os pesquisadores, de associar as palavras “micróbio" e "microrganismo"
exclusivamente a bactérias (CARON, 2009).
Dessa maneira, são necessárias iniciativas mais efetivas sobre o ensino dos
protozoários aquáticos e que complementem ou funcionem como alternativas às práticas
tradicionais de ensino, e que podem tornar-se regulares e serem desenvolvidas de
variadas maneiras, como por meio de oficinas.
Os desenhos
As ilustrações dos alunos foram classificadas em quatro categorias: desenhos
ausentes ou não representativos, desenhos com erros conceituais, desenhos com
representações parciais e desenhos com concepções alternativas. Os critérios de
classificação das categorias são descritas no quadro 3.
Quadro 3. Descrição das categorias dos desenhos sobre protozoários
Desenhos em branco ou com elementos não possíveis de
Desenhos ausentes ou identificação. Também estão presentes nesta categoria
desenhos que não possuem relação com os protozoários ou
não representativos
que fogem do contexto do que se pede. Predominam
(a)
elementos de paisagem (Figura 9a, b).
Nesta categoria os alunos atribuem o conceito de
Desenhos com
protozoários a outros organismos como anelídeos e insetos
erros conceituais
(Figuras 10a, b).
(b)
Os desenhos aqui representados demonstram um
entendimento parcial sobre os protozoários. Incluem
Desenhos com
representações parciais desenhos com elementos estruturais dos protozoários como
flagelo, cílios e pseudópodes (Figuras 11a, b, c).
(c)
Desenhos que assemelham à morfologia dos protozoários,
mas também com estruturas inexistentes nestes organismos
Desenhos com
concepções alternativas (olhos e boca) e/ou associados exclusivamente à poluição e
doenças (Figuras 11a, b).
(d)
52
A maioria dos alunos (44%) fez desenhos que foram incluídos na categoria “b”
(erros conceituais), os quais representaram os protozoários como insetos, minhocas e
peixes. 27% apresentaram figuras confusas ou que fugiam do contexto do que era
requisitado. Apenas 13% fizeram desenhos que tinham uma aproximação muito grande
acerca da morfologia dos protozoários, com estruturas facilmente identificáveis como
flagelos, cílios e pseudópodes, inclusive alguns apresentavam estruturas internas
simples. Cerca de 16% dos alunos desenharam organismos com algumas características
de protozoários, mas que possuíam semblante humano, também associando-os a agentes
poluidores e causadores de doenças (Figura 8).
Figura 8. Categorias dos desenhos dos alunos.
O somatório das categorias “a”, “b” e “d” demonstra que 87% dos alunos
possuem alguma restrição sobre o conhecimento dos protozoários. Medeiros (2012)
também encontrou resultado semelhante, em que mais de 60% dos professores e alunos
da rede pública que participaram do estudo também tiveram dificuldades em representar
protozoários. Apesar das variadas vantagens na aplicação de desenhos para averiguar se
existem concepções alternativas, a limitação pessoal na habilidade de desenhar de cada
aluno pode influenciar bastante nos resultados, pois eles podem deixar de desenhar ou
por não saberem expressar esse conhecimento ou por sentirem-se desestimulados a
tentar (PROKOP & FANČOVIČOVÁ, 2006; BAHAR et al., 2008).
53
B
A
Figura 9. Exemplos da categoria “Desenhos ausentes ou não representativos”
B
A
Figura 10. Exemplos da categoria “Desenhos com erros conceituais”
A
B
C
Figura 11. Exemplos da categoria “Desenhos com representações parciais”
A
B
Figura 12. Exemplos da categoria “Desenhos com concepções alternativas”
54
Grande parte dos desenhos inseridos na categoria “b” eram minhocas (83,33%).
Os outros 16,67% desenharam organismos semelhantes a insetos, peixes e girinos. Em
estudo realizado por Karadon e Sahin (2010), quando perguntado aos alunos a respeito
do que entendiam sobre o conceito de microrganismos, mais da metade associou a
sujeira, poluente e nocivo. Neste trabalho, os participantes também fizeram essa
associação ao desenharem “protozoários” como minhocas, por serem animais
subterrâneos e facilmente associados à sujeira, também sendo associados à doença. Ao
estudarem as concepções de alunos e professores sobre insetos, Passos et al. (2011)
observaram que houve o predomínio de uma visão negativa por parte dos alunos em
relação aos insetos, em que a maioria os considerou prejudiciais. Ainda segundo esses
autores, os insetos são frequentemente associados a sentimentos negativos e reações de
nojo e/ou medo, enquanto outros geram preocupações como aqueles considerados
pragas e vetores de doença.
Os desenhos da categoria “d” podem ter sido feitos usando concepções baseadas
em experiências anteriores para explicar o desconhecido, criando conceitos novos, mas
imprecisos, semelhante ao trabalho de Jones e Rua (2006) sobre a concepção de alunos
acerca de microrganismos. Além da subjetividade, uma das razões que os alunos
apresentam concepções alternativas é exatamente por meio das concepções que os
próprios professores possuem (YIP, 1998).
As informações sobre os microrganismos, neste caso, os protozoários, devem ser
trabalhadas de forma mais concreta, por meio de técnicas educacionais variadas, como
modelos e jogos didáticos e apresentações multimídia. É muito mais difícil, para eles,
aprender sem ver, fazer e experimentar. Deve ser considerada a rica disponibilidade
ambiental para o estudo de protozoários aquáticos da região, possibilitando aos
professores tirar vantagem desse cenário, ao desenvolverem aulas de campo
motivadoras e que os aproximem do mundo microbiológico real.
As oficinas
Após a análise dos questionários, organizaram-se oficinas com o intuito de
minimizar as concepções alternativas identificadas através da divulgação de
conhecimentos mais amplos sobre os protozoários e doenças de veiculação hídrica.
Foram realizadas duas oficinas, uma para cada escola onde foi realizada esta pesquisa.
55
Na primeira escola, participaram 16 alunos, enquanto que na segunda foram 17,
totalizando 33 alunos do 5ª ao 9 ª ano.
A primeira parte das oficinas consistiu numa breve apresentação sobre
microscopia, suas funcionalidades, origem e evolução. Os discentes tiveram acesso a
dois microscópios para que pudessem compreender na prática o funcionamento desse
equipamento. Nesta ocasião, fios de cabelo dos alunos foram colocados no
equipamento, para que eles tivessem uma noção real do poder de aumento das lentes.
Posteriormente, amostras de água do Rio Pium (previamente coletadas e filtradas com
redes de plâncton) foram observadas, possibilitando a visualização de protozoários e de
microalgas.
A segunda parte foi destinada para o exercício de atividades lúdicas, consistindo
na construção de modelos didáticos de massa de modelar a partir de pranchas com
imagens de protozoários de vida livre presentes no Rio Pium (Anexo 2), e a aplicação
de jogos didáticos referentes a doenças de veiculação hídrica. Os alunos foram divididos
em grupos, e cada um deles recebeu um conjunto que continha as fotos dos
protozoários, uma caixa de massa de modelar e palitos de madeira, para ajudar na
confecção dos modelos. Ao final da atividade, como forma de motivação e animação, os
próprios alunos elegeram os modelos (Figura 13) considerados mais fiéis aos
organismos originais, levando em consideração apenas seus aspectos morfológicos.
Atividades dessa natureza são bastante importantes para o conhecimento e
assimilação das formas observadas (SODRÉ-NETO & ARAÚJO, 2008). Para
ALMEIDA et al. (2004) esse tipo de atividade realça o grande valor da observação
através da análise e síntese de informações, promovendo uma maior organização e
registro de informações.
A
B
Figura 13. Modelos de protozoários do Rio Pium elaboradas pelos alunos durante as oficinas
56
Em seguida, ainda com os mesmos grupos, houve a aplicação de jogos didáticos
previamente elaborados e relacionados, principalmente, com doenças de veiculação
hídrica. Os jogos objetivam familiarizar os participantes com as principais doenças de
veiculação hídrica, estimulando-os a buscar modos de prevenir a ocorrência da doença e
sensibilizar a população para seus riscos e tratamentos. Os alunos brincaram com dois
tipos de “Jogo da Memória” desenvolvidos por Silveira (2010), em que o participante
deveria identificar e conhecer os principais vetores e agentes causadores de cada
doença, para, então, relacionar com as outras características das doenças. No primeiro
tipo, as cartas apresentam apenas as figuras dos agentes infecciosos e transmissores de
cada uma das doenças, enquanto que no segundo, as cartas apresentam apenas a forma
de transmissão e o nome da doença. Vencia o jogo quem, ao final da partida, conseguia
o maior número de pares de cartas das doenças. Macagnan e Nascimento (2006)
destacam o exercício de atividades lúdicas dessa natureza como essenciais no processo
de ensino-aprendizagem.
Como forma de consolidar os conhecimentos trabalhados durante as etapas
anteriores, a última etapa da oficina consistiu na contextualização geral da importância
social e econômica dos ambientes aquáticos para a região, principalmente do Rio Pium,
enfatizando a necessidade de práticas produtivas tanto para conservação quanto para a
divulgação das mesmas. Na ocasião, foram apresentados tanto os equipamentos quanto
o processo de coleta de água para visualização dos protozoários de vida livre em
microscópio, havendo também exibição de vídeos e imagens desses microrganismos,
mostrando diferentes formas e comportamentos e explicando um pouco de sua ecologia
naquele ambiente.
Conclusões
O conhecimento a respeito dos protozoários de vida livre ainda é muito
superficial, existindo concepções alternativas diversas e conceitos equivocados nos
aspectos mais simples que fazem parte do tema. Por meio dos desenhos foi possível
identificar concepções que associam protozoários a outros organismos que, ainda assim,
remetem a doenças, sendo que os protozoários de vida livre são numericamente
superiores aos protozoários patogênicos. No entanto, não houve nenhuma ilustração que
remetesse aos aspectos positivos desses microrganismos, principalmente, no ambiente
aquático.
57
As oficinas serviram como tentativa de minimizar as deficiências e dificuldades
dos alunos sobre os protozoários, além de esclarecer que são poucos os representantes
desse grupo ameaçam à saúde humana, sendo eles, ao contrário, bastante importantes
ecologicamente. Os resultados alcançados neste estudo sugerem a necessidade de mais
trabalhos desse tipo, que intervenham por meio de oficinas com atividades práticas
contextualizadas à região onde forem aplicadas, promovendo uma maior interação com
os participantes, a fim de despertar um senso crítico para preservação e manejo
adequado dos recursos hídricos e de um conhecimento mais profundo a cerca dos
protozoários de vida livre.
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60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as múltiplas finalidades desempenhadas pelas águas do Rio Pium,
principalmente atividades voltadas para o turismo, medidas preventivas e de
monitoramento são essenciais para evitar possíveis prejuízos ambientais, econômicos e
sociais na região. O presente trabalho estudou a taxonomia e ecologia de protozoários e
mostrou ser apenas um meio entre vários de se abordar temas relacionados à
sustentabilidade ecossistêmica, principalmente em regiões onde os impactos antrópicos
relacionados aos recursos hídricos são bastante intensos.
Assim, observou-se que o desenvolvimento de oficinas didáticas, relacionando a
qualidade e importância da água com os protozoários de vida livre, foi essencial ao
levar em consideração o contexto socioeconômico e cultural da região, principalmente
nas redondezas do Rio Pium.
O ambiente escolar é fundamental no desenvolvimento de projetos
contextualizados à realidade ambiental devem ser mais recorrentes, pois podem
proporcionar atividades mais interativas e envolventes com os alunos sobre a
preservação dos recursos hídricos e do conhecimento e importância da biodiversidade
de microrganismos nos ecossistemas aquáticos.
61
ANEXOS
ANEXO 1
62
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
Caros professores e alunos,
Viemos, respeitosamente, solicitar a sua participação na pesquisa que estamos
realizando com tema: “Protozoários de vida livre em dois trechos da Bacia
Hidrográfica do Rio Pirangi (RN): relações com a educação em ciências e
preservação”, por meio da orientação da Professora Magnólia Fernandes Florêncio
de Araújo. O estudo tem como objetivo principal a investigação do conhecimento
sobre protozoários de vida livre de ambientes aquáticos e percepção da qualidade
da água em regiões na rede pública do Vale do Pium, distrito de do Município de
Parnamirim (RN). Gostaríamos de pedir a sua colaboração ao preencher o presente
questionário, que será utilizado somente para fins acadêmicos. Sua identificação é
necessária apenas para o termo de consentimento abaixo; seu nome não será usado
em momento algum durante o desenvolvimento do projeto.
Gratos pela sua participação,
Profª Drª Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
Responsável pela pesquisa
Wellington Sena Lobato Júnior ([email protected])
Aluno da Pós-Graduação Regional de Desenvolvimento e Meio Ambiente - UFRN
Eu, ___________________________________________ dou consentimento à
utilização dos dados aqui informados estritamente para fins de pesquisa acadêmica.
DADOS PESSOAIS:
IDADE: __________________
SEXO: ( ) FEMININO ( ) MASCULINO
CIDADE EM QUE NASCEU: _______________________
CIDADE EM QUE MORA ATUALMENTE: _____________________
HÁ QUANTO TEMPO MORA NA CIDADE: ______________________
Para os professores:
FORMAÇÃO ACADÊMICA:__________________________
DISCIPLINA(S) QUE LECIONA: ____________________________
SÉRIES PARA AS QUAIS LECIONA: __________________________
HÁ QUANTO TEMPO EXERCE A PROFISSÃO:__________________
Para os alunos:
SÉRIE OU CURSO: _____________________________
PERÍODO QUE ESTÁ CURSANDO:_____________________________
63
QUESTIONÁRIO
1. Desenhe, de acordo com a sua compreensão, neste momento, um protozoário.
2. A água do (s) rio (s) da sua cidade é utilizada para (Pode marcar mais de uma
opção):
( ) consumo humano
( ) lazer e/ou turismo ( ) pesca
(
) despejo de esgotos
(
) Outras:_________________________________
3. Toma ou já tomou banho no(s) rio(s) da sua cidade?
( ) sim
( ) não
( ) não lembro
4. Utiliza a água do(s) rio(s) de sua cidade para beber?
( ) sim
( ) não
5. Você acha que produz lixo ou esgoto?
( ) sim
( ) não
(
) não sei
(
) nunca pensei nisso
6. Você acha que contribui com a contaminação da água do rio(s) de sua cidade?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
( ) nunca pensei nisso
7. Se você tomar banho no(s) rio(s) de sua cidade, acha que pode adquirir uma
doença?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
Poderia citar exemplos, em caso positivo? ________________________________
8. Acha que pode adquirir doenças ingerindo águas contaminadas por lixo/esgoto?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
Se sim, quais as doenças? Exemplifique: __________________________________
64
9. Já teve ou conhece alguém que adquiriu alguma doença relacionada com o
consumo de água contaminada?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
( ) quais: ____________________________
10. O que são amebas?
( ) protozoários ( ) bactérias (
) outra coisa (
) vírus (
) não sei
11. Quais dos organismos a seguir você acha que existem no(s) rio(s) de sua
cidade?
( ) protozoários ( ) bactérias ( ) algas ( ) todos esses
( ) nenhum desses
( ) não sei
12. Já ouviu falar a palavra “protozoário”?
( ) sim
( ) não
( ) não lembro
13. Saberia dizer onde vivem os protozoários?
Não ( ) Sim ( )
( ) água ( ) solo ( ) dentro de outros animais ( ) em todos esses lugares
14. Todos os protozoários causam doença?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
15. Acha que há protozoários na água do(s) rio(s) da sua cidade?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
16. Em caso de achar que existem Protozoários no(s) rio(s) de sua cidade, isso quer
dizer que a água é de má qualidade?
(
) sim (
) não (
) depende do protozoário (
) não sei
17. Podemos ver os protozoários a olho nu?
( ) sim
( ) não
( ) não sei
18. Você já percebeu, em livros de biologia ou de ciências, se havia algum exemplo
de protozoário que não causa doença?
( ) sim
( ) não
( ) não lembro
19. Amebas causam doença?
( ) sim ( ) não ( ) algumas (
) não sei
20. Já ouviu falar em protozoários ciliados e/ou flagelados?
( ) sim ( ) não ( ) não lembro
ANEXO 2
65
Alguns protozoários encontrados no Rio Pium (Parnamirim/RN)
PROTOZOÁRIOS CILIADOS
Stentor coeruleus
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Cohnilembus sp.
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Vorticella sp.
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Uroleptus sp.
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB2/PCD1764/htmls/82.html
Aspidisca cicada
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB2/PCD1763/htmls/27.html
Cinetochilum margaritaceum
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB2/PCD1606/htmls/13.html
Euplotes woodruffi
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Paramecium
multimicronucleatum
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
PROTOZOÁRIOS FLAGELADOS
Entosiphon sulcatum
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB2/PCD1606/htmls/45.html
Peranema trichophorum
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB/PCD0845/htmls/11.html
Phacus torta
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
66
Anisonema acinus
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB7/PCD0005/htmls/82.html
Euglena spirogyra
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB4/PCD3209/htmls/27.html
PROTOZOÁRIOS AMEBÓIDES
Amoeba proteus
FONTE: http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB/PCD0605/htmls/12.html
Arcella sp.
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Actinosphaerium sp.
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Amoeba radiosa
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Trinema enchelys
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
Difflugia pristis
AUTOR: Wellington S. Lobato Jr.
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protozoários de vida livre em dois trechos da bacia