Departamento de Letras e Artes LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA JOÃO BOSCO DA SILVA SCRIPT DO JOGRAL - “TENDA DOS MILAGRES” – Jorge Amado – FEIRA DE SANTANA – BAHIA 2010 1 (Fausto pena recebe um pequeno vale, uma lição e uma proposta) Fausto Pena: Dr. Zezinho: Relator: Fausto Pena: Narrador: Ferreirinha: Narrador: Ferreirinha: Narrador: Gastão Simas: Narrador: Sapateiro: Narrador: Fui escolhido para pesquisar a vida de Pedro Archanjo, por isso dizem de mim e de Ana Mercedes, as piores imundices. Contei sobre tudo, até das intrigas políticas, até da atividade no Jornal da Cidade. Ana Mercedes tinha o seu Diário da Manhã e tentou me ajudar. Não tive escolha e fui vender por 10 mil reis de mel coado o meu material. Fui procurar o Doutor Zezinho. Chegando lá ele me falou Não compro esse material para que não seja usado para macular a imagem de Pedro Archanjo. Principalmente as crianças nas escolas. Você ainda o chama de polígamo. Que infame! Ele não era sequer casado.Os grandes homens são patrimônios da Pátria e exemplo para as novas gerações. Sabe de uma coisa? Posso comprar e jogar essa merda fora! Com o vale da venda no bolso e a lição de moral, Fausto Pena foi procurar Ana Mercedes e tomar uísque, para se consolar. Ele falava, de cabeça abaixada e triste: Para comemorar o centenário de vida de Pedro Archanjo, foi que outros colunistas me procuraram e pediram para que eu fizesse um projeto teatral. Foi então montada uma comissão executiva da festa. Para secretário geral o escolhido foi o Professor Calazans. Foi feita então a primeira reunião, com muita bebida. Ferreirinha logo chiou: Imaginem só! Uísque nacional? Numa reunião executiva sobre a vida de Pedro Archanjo? Isso é uma brincadeira! Magalhães Neto achou que deveria ter, pelo menos, uma cachaça de melhor qualidade. Era isso naquela momento que estava preocupando os membros da comissão. Foi então definida a pauta da reunião, com três itens 1) Lançamento de quatro cadernos especiais no Jornal da Cidade, por quatro domingos seguidos. 2) um seminário de estudo na faculdade de Filosofia, com o tema: “A democracia social brasileira e o apartheid – afirmação e negação do humanismo”. 3) sessão solene de encerramento no Salão do Instituto Histórico e Geográfico. Ao final da reunião não teve Ata, mas Doutor Zezinho pediu uma cópia dos três itens definidos, com todos os detalhes, para divulgação. Ferreirinha Disse: Quer ver? O Goldman, gerente do Jornal, vai pedir dinheiro para fazer a divulgação. Aquilo é uma unha de fome!! Ao terminar a reunião, todos se apertaram as mãos e foram embora. Gastão Simas era o gerente da empresa Doping promoções e publicidade S/A. Ele disse: Com a nossa arte e propaganda quero ter um faturamento e lucro , na exploração dos 100 anos de Pedro Archanjo! Vamos usar de toda criatividade e destinar a quantidade máxima de páginas no suplemento reservado aos anúncios. Foi levado a Gastão umas sugestões, inclusive de Arno, publicitário carioca. Ele sugeriu um título para uma propaganda com esse “produto” em evidência, para uma loja de sapatos: “Archanjo anjo estrela. Estrela Stela, casa Stela há quatro gerações calça anjos e arcanjos em cinco suaves prestações”. Ah! Quando o dono do comércio viu a propaganda disparou: O seu trabalho é uma bosta! As casas Stella são três e não apenas uma. Não tem endereço e nem fala em sapatos. O verbo calçar está na terceira pessoa “calça” e ninguém saberá se é roupa ou sapato. No ouro dia, Arno foi a Gastão e confidenciou: 2 Gastão, você é quem tem razão. Na Bahia não há clima para modernidade em Arno: propaganda. Esse sapateiro é um indiota. Sabe também eu estou aqui há um ano e não tinha reparado na fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo. Você já havia visto? Merda menino! Claro que já vi. Eu nasci aqui na Bahia. Ta endoidando ou comendo Gastão Simas: sopa de esterco? Estou é abestalhado com tanta lindeza. Mesmo sendo um profissional de propagando, Arno: eu não tinha reparado mesmo. É mesmo, viu? Narrador: Passados esses dias, aconteceu uma segunda reunião daquela comissão executiva da festa. Nesse dia só apareceram poucas pessoas. Uns ausentes telefonaram e outros nem se deram conta de avisar. O professor Azevedo (da Faculdade de Filosofia) abriu os trabalhos. Senhoras e senhores, felicito o Doutor Zezinho Pinto pelo evento de comemoração, Azevedo: especialmente pelo tema da miscigenação e apartheid. Agradeço as palavras. Fui eu quem procurou o professor Ramos, mas as suas idéias não Dr. Zezinho: servem para a conjuntura atual. Entendo que o momento é mais do que adequado, quando as lutas raciais atingem Azevedo: quase uma guerra civil nos Estados Unidos e nos novos países da África. . Exatamente por isso é que o seminário pode se transformar num grande perigo. Dr. Zezinho: Perigo? Não vejo em que sentido. Calazans: O perigo é grande. Em temática de mestiçagem e apartheid é perigosíssimo foco de Azevedo: agitação, tanto nas universidades quanto nos ginásios, com possíveis agitadores infiltrados. Está tudo perdido! O que é isso? Os estudantes estão apoiando o simpósio. Trata-se apenas de uma Ramos: assembléia puramente científica. Dr. Zezinho Ó pai, ó! É exatamente no apoio estudantil da esquerda que o assunto é dinamite pura, podendo ter passeatas e manifestações de rua, de apoio aos negros norte-americanos e Pinto: até incêndio do consulado americano no Brasil. Eu não disse isso! A ciência não é de esquerda ou direita. É ciência. Ramos: É a mesma coisa professor!!!! O senhor disse que os estudantes de esquerda apóiam a Zezinho Pinto: idéia. Nesse caso já não se pode...... Calazans: Dr. Zezinho Perdão senhor Calazans, se o interrompo. Fui...... bem ...... procurado .... por quem de direito..... tive discussão sobre o assunto em todos os seus aspectos. Não me façam mau Pinto: juízo. Aquilo que aparentemente é uma boa idéia, se torna algo indesejável... A diplomacia brasileira está trabalhando um acordo coma áfrica do sul. Uma linha aérea vai ser inaugurada entre o Rio de Janeiro e Johanesburgo. Como é então que vamos baixar o pau no apharteid da África do Sul? Do racismo.... acreditem, a um Vietnam, é um passo pequeno. Na realidade ninguém proibiu o seminário, pois estamos numa democracia no Brasil. A comissão executiva é que está analisando o assunto. O seminário sobre os 100 anos de Pedro Archanjo deixará de ser realizado.Eu peço aos senhores que pensem num concurso, que teria um prêmio Pedro Archanjo, que seria uma viagem de ida e volta e estadia grátis em Portugal. Pensem nisso!! Narrador: Por conta de toda a celeuma, a sociedade dos médicos escritores lançou um manifesto de apoio a esses festejos. Dizia a nota que Pedro Archanjo não colou grau, mas prestou relevantes serviços à Faculdade de Medicina. No bar bizarra, que antes era na praça da Sé, as pessoas iam buscar informações sobre as memórias de Pedro Archanjo, inclusive ao Major Damião de Souza. Depois esse Dr. Benito: Narrador: Dr. Benito: Narrador: Exu: Xangô: Narrador: Lídio: Tadeu: Narrador: 3 bar foi transferido para um beco horrível do pelourinho. Dr. Benito, o radiologista, também estava lá, pare essas conversas. Por falar nessa história de Pedro Archanjo, é verdade que uma Iaba, ou seja, uma diaba com o rabo escondido, sabendo que ele era mulherengo, resolveu-lhe dar uma lição? Ele ficou brocha? O Major respondeu: sim. Depois o silêncio foi total. Esse era um assunto que ninguém queria tocar, mas as coisas não são bem assim, em se tratando de histórias de Pedro Archanjo. Mais tarde eles subiram ao primeiro andar do bar, onde funcionava um brega de “Rute pote de mel”. Dr. Benito perdeu a hora e só foi para casa ás duas horas da madrugada. Lá chegando encontrou a mulher enfurecida e disse: Perdão querida, vi-me envolvido num mundo absurdo de Pedro Archanjo. Fiquei sabendo que durante uns tempos ele viveu amigado com uma Iaba. Vamos dormir, amanhã a gente conversa melhor. Pelo conhecimento adquirido em poucas horas com o Major, no outro dia ele já começou a ser explorado, recebendo em seu consultório três clientes que o Major mandou par serem atendidos de graça com os seus serviços de radiologia. Bem a Iaba, lembram-se, jogou foi uma maldição em Pedro, deixando-o impotente mesmo, além de fazê-lo apaixonado por ela. Cego de amores, ele andava se rastejando , mordendo sinos e tampas de pinicos. Como se sabe, as Iabas não tem coração. Pedro Archanjo foi parar na porta da Tenda dos Milagres. Ele era filho predileto de Exu e os olhos de Xangô. Ele ouviu Exu e Xangô dizerem: Eu lhe falei sobre os maus procedimentos da Iaba. Siga agora esses conselhos: tome um banho de folhas especiais e depois prepare uma água de cheiro de pitanga, misturando com sal e pimenta e lave a sua estrovenga. Vai doer, mas que o resultado é garantido. Entregou-lhe um Colar de pescoço (kelê) e um xaôro, para prender no tornozelo. Ojuobá! Ordeno um ebó com 12 galos brancos e 12 pretos com 12 conquéns pintados e uma pomba branca.Quando a Iaba já estiver sujeita pela cabeça e pelos pés, dormida e entregue, enfia o coração de uma ave(conta encantada) em seu subilutório e aguarda sem medo o resultado. Espera! Não fuja! Na porta da tenda, quem apareceu? Sim a Iaba! Ele a pegou e a penetrou e rolaram ladeira abaixo até a praia e a maré os engoliu para dentro do mar. O preparo na chibata deixava a Iaba doidona e essa comilança durou três dias e três noites. Ela não agüentando, sofreu um tangolomango e se abriu, adormecendo. Pedro então enfiou o coração da ave naquele lugar. No mesmo instante se ouviu um grito e um pum! Depois tudo se acalmou. Noutra ocasião estavam na oficina de Lídio o Tadeu, o jovem aprendiz, escrevendo as aventuras, e Pedro Archanjo. Disse Lídio. Vá dormir Tadeu! Você está caindo de sono Ainda não mestre Lídio. Não estou com sono. Meu padrinho Pedro, peça pra mestre Lídio me deixar eu ficar até escrever umas coisas aqui até o fim. Só temos esta noite para terminar esse trabalho. Mestre Lídio concordou! A idéia era escrever o livro sobre a Bahia, que nasceu de Valdeloir (dançador de afoxé, passista de gafieira, capoeirista e ávido leitor de trova narrativa). Outro dia, numa parte dos fundos da oficina de mestre Lídio, encontravam vários amigos, entre eles o Pedro Archanjo, recitando poesias de Castro Alves, Cassimiro de Abreu, Gonçalves Dias , os sonetos de amor e os poemas contra a escravidão, além de rodas de samba. Era uma diversão. 4 Pedro Archanjo: Manuel: Narrador: Pedro Archanjo: Narrador: Dorotéia: Ojuobá(Pedro): Narrador: Tadeu: Narrador: Nilo Argolo: Osvaldo Fontes: Outro dia Pedro conversava com Manuel Praxedes. Eu não entendo uma zorra dessa! Pra que contratar uma professora como a minha comadre Terência, mãe de Damião, para escrever umas páginas de um livro sobre a Bahia? Eu mesmo escrevo, ou você pensa Manuel, que pobre não é capaz de fazer nada que preste? Não é isso, Pedro! Vá avante, você mesmo faça as escritas. A gente pede ajuda de uma professora, porque ela sabe mais das letras, do cabo e da cabeça. Pedro pegou a caneta e mandou brasa na escrita do Livro. A primeira frase que ele escreveu foi: “É mestiça a face do povo brasileiro e é mestiça a sua cultura”. Depois que terminou, desabou no riso, pois lembrou da cara do professor Argolo e do Dantas Fontes, que na vida nada sabem. Foi repentindo a frase com mudanças e rindo: “São mestiça a nossa face e a vossa face”; é mestiça a nossa cultura, mas a vossa é importada, é merda em pó”. Meses atrás, durante uma festa no terreiro de Jesus, Dorotéia apareceu trazendo Tadeu, que só tinha 14 anos e pediu a bênção para ela e para ele a Ojuobá. Ordenou a Tadeu que tomasse a bênção, dizendo que Ojuobá (Pedro Archanjo) era o seu padrinho. O rapaz tomou a benção. Então Dorotéia explicou: Ele diz que quer estudar e ser alguém na vida, mas até agora não deu pra merda de nada. Sou a mãe e o pai dele. Vim trazer para lhe entregar Ojuobá! Dê seu destino. Eparréi! O seu destino está escrito. Pode ir agora! Dias depois, num domingo, Pedro estava na casa de Dorotéia e chamou Tadeu para passear, mas ele lhe falou: Padrinho Pedro, estou me preparando para tirar os preparativos ainda este ano e para isso preciso estudar. Sei que o senhor vai passear, mas agora eu não posso. Se o senhor quiser me ajudar, eu aceito. O passeio que Pedro planejou, claro que foi cancelado.Ele ia passear com uma rapariga de nome Durvalina, mas ele teve de perdoar a falta, quando soube do motivo. Noutra ocasião, quando a polícia invadiu o candomblé de Procópio, Pedro foi herói por três vezes, tornando os fatos histórias para contar pelos trovadores. Por exemplo, Cardozinho Bemtivi escreveu “O encontro do delegado Pedrito com Pedro Archanjo no terreiro de Procópio”. Locando formiga escreveu “A derrota de Perito Gordo para mestre Archanjo, que sem armas o fez recuar” O Terceiro foi o de Dorival Pimenta: “Pedro Archanjo enfrenta a fera da polícia”. Os debates ocorridos naquele dia foram escritos por João Caldas e Caetano Gil. Em 1928 Pedro escreveu “apontamentos sobre a mestiçagem nas famílias baianas” em somente 142 exemplares impressos e uns 50 desses foram enviados por Lídio Corro para bibliotecas, universidades, escolas nacionais e estrangeiras. Os três primeiros livros de Pedro versavam sobre esse debate. O delegado Perito Gordo lutava contra as casas de candomblé. Numa certa ocasião ele chegou até a prender Ojuobá. Sobre as obras de Pedro Archanjo, num certo dia, ocorreu uma discussão entre o Professor Nilo Argolo e Osvaldo Fontes, despido de interesse: Disse Nilo: Eu não diria despido de interesse.Esperar obra de maior substância vindo de um burro, seria querer de mais. Era uma insensatez de minha parte. Pedro Archanjo faz defesa de miscigenação como um mestiço, sem nenhuma base científica. Sendo assim, eu acho que vou fazer essa obra, mas não estou com muita vontade. Além disso, estou até sem tempo. Narrador: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Nilo Argolo: Pedro Archanjo: Narrador: 5 Naquele instante, Pedro vinha andando pelo corredor, quando o professor Nilo o chamou, dizendo que queria bater um pouco de prosa. Só que o professor botou logo as duas mãos para trás, exatamente para não ter de apertar a mão de Pedro num possível cumprimento. Foi você o irresponsável que escreveu a vida..... ... Popular da Bahia? Foi sim. Inclusive mandei um exemplar para o senhor. Gostou? O senhor é um debochado professor... Ó pai, ó! Eu não sou professor, mas pode me chamar somente de senhor, já que eu conquistei esse título de senhor num concurso, por isso tenho direito e exijo ser chamado assim, Entendeu? Sim senhor professor. Diga-me se as diversas anotações sobre costumes, festas tradicionais, cerimônias fetichistas que você classificou de obrigações, são realimente exatas? Sim Senhor Professor. São exatamente exatas. ... sim, e sobre curumins. São verídicas as informações? Não foram inventados? Sim senhor professor, não são inventadas. Li o que você escreveu e quero fazer algumas observações. Escuta ai senhor, não sei de que.. As suas afirmações não têm qualquer embasamento científico. As conclusões sobre a mestiçagem são perigosas. Eu não acredito em suas conclusões. Faz-me rir. Seus escritos não contém nenhuma citação de tese, memória ou livro. Não se apóia na opinião de nenhuma autoridade nacional ou estrangeira. Como ousa dar-lhe categoria científica? Em que se baseia para defender a mestiçagem a e apresentá-la como solução do problema das raças no Brasil? Baseio-me nos fatos professor. Burrice! De que valem os fatos se não podem ser analisados à luz da filosofia ou da ciência? Recomendo que o senhor leia Gobineau, um diplomata e sábio francês, que viveu no Brasil. Gobi o que? Lá ele! Eu li apenas trabalhos do senhor e do professor Fontes. Para mim foi o suficiente. E não o convenceu? Você confunde até batuqe com samba e calungas esculpidos como arte. Será uma desgraça para este país, se assimilarmos semelhantes barbarismos, se não reagirmos. Toda essa borra que vem da África, que nos enlameia, nós a varreremos da nossa vida, nem que para isso seja necessário o uso da violência!!! Essa violência já foi usada professor... Talvez não foi usada na forma e medida certa. Trata-se de um cancro que deve ser extirpado. Quem sabe matando a todos, um a um, sr professor? Eliminar a todos, um mundo somente de burros? Não creio que seja necessário. Basta que existam leis que proíbam miscigenação e casamento de branco com negro ou negra. Quem descumprir, cadeia nela! Difícil será separar quem é quem nessa mistura, professor. Difícil o que! Não vejo qualquer problema nisso. Não quer mais papo! Thau! Sabe de uma coisa, coisa ruim? Já vai tarde!!!!! Noutro dia, Pedro Archanjo cruzou o beco de moleques. Na tenda, as coisas pioraram, por falta de dinheiro. Com a publicação do livro, que não vendia, as dívidas se acumularam. Lídio Corró nunca havia se visto em tamanho aperto. O seu principal credor, o Sr. Estevão chegou à porta para fazer a cobrança. 6 Estevão: Lídio: Estevão: Narrador: Pedro Archanjo: Zabela: Pedro Archanjo: Zabela: Pedro Archanjo: Zabela: Pedro Archanjo: Zabela: Pedro Archanjo: Lídio Corró: Zabela: Pedro Archanjo: Zabela: Pedro Archanjo: Narrador: Tudo bem Senhor Lídio. E as gramas, como vão? As gramas do jardim vão bem, mas as granas vão mal. Estou com muito dinheiro para receber na rua, mas como o senhor sabe, esses enrolados não pagam. Prometo que ao primeiro pagamento, o senhor é quem vai receber logo o dinheiro. Viu? Não vim para falar disso homem. Mas o senhor se fia demais nessa gente. Tome cuidado para não ficar pior do que já está. Realmente Lídio era quem financiava essas publicações e as literaturas de cordel. Coitado, não vendiam e o dinheiro dele ficava perdido. Uns dias depois, Pedro Archanjo encontra Sabina, que o convida a entrar em sua casa. Ele entra e se dá bem. Noutra semana uma senhora de nome Zabela veio até a Tenda para pedir um trabalho a seu Lídio Corró. Ela queria curar a queda de pelo do seu gato, por nome de Argolo de Araújo. (vê se pode!) Ela já foi rica e era chamada de Princesa do recôncavo. Ela pediu para que o serviço fosse barato, pois ela estava quebrada.Enquanto isso ela ia contando as suas aventuras amorosas. Nesse momento entra Pedro Arcanjo na Tenda e ouve a mulher contando as desventuras e pergunta pra ela: A madame que tanto viajou, conhece Helsinque. Já foi lá na Finlândia? Não! O senhor conhece a Finlândia? O senhor parece um professor ou bacharel. Nem escritor nem bacharel. Sabe quem eu sou madame? Um simples contínuo da Faculdade e um abelhudo com as letras.. Um curioso. Como é o seu nome? Meu nome de cristão é Pedro Archanjo, mas em nagô sou Ojuobá. Que interessante. Gostei. Tenho vontade de conhecer uma macumba. Nunca vi. Você pode me levar para ver uma? Quando quiser madame, terei gosto em acompanhá-la. Tem gosto o que, rapaz? Quem vai querer acompanhar uma velha caduca. Eu não sirvo pra mais nada. Peça a seu Lídio Corró para cobrar barato o milagre que eu estou precisando. A senhora ainda dá para quebrar um Galho. Quanto ao preço, o seu Lídio vai fazer barato o milagre. Não se preocupe madame. Vou riscar o milagre e quando estiver pronto, a senhora mesma é quem vai dar o preço. Viu? Obrigada seu Lídio. Vamos aguardar. Vou pagar o que eu puder. Thau! Quando puder, passe lá em casa para conhecer meu gato Argolo de Araújo. Argolo é o nome do gato. E engraçado porque parece com o sobrenome de um amigo da onça que eu tenho que ó professor Nilo Argolo de Araújo. Será coincidência? Botei o nome em homenagem aos Araújos, porque sou prima de Nilo e fui noiva do seu tio Ernesto.Conheço os podres de toda a família. Qualquer dia contarei mais do que eu sei sobre essas coisas. Que mais hei de querer madama! Hoje é um dia abençoado: quarta feira, dia de Xangô e eu sou Ojuobá, mantendo os olhos bem abertos para saber tudo dos pobres, mas dos ricos só o que for necessário. Ela desceu a ladeira do taboão e foi embora. Noutro dia, Dorotéia foi vista faceira e bonita na rua. Chamada para se aproximar da Tenda, ela veio e beijou a mão de Archanjo. Ela se ajoelhou e curvou a cabeça sobre a terra, ao se levantar Yansan a possuía num grito intenso de acordar até os mortos. Zabela estava ali assistindo a tudo. Depois comeu das comidas típicas. Logo começaram a estourar os fogos anunciando o regresso dos 7 orixás e Zabela saiu da cozinha correndo para ver, não queria perder um mínimo detalhe da macumba. Os orixás foram entrando um a um no barracão com emblemas, armas e ferramentas. Mãe Majé Bassan puxou o canto, Oxossi deu começo à dança. Só Yansan não apareceu, só Dorotéia agora aparecia pela última vez. Ela estava vestida como uma condessa,mas todos viam atrás de Dorotéia um homem de chifres, parecendo a horrível criatura das trevas. Ela então se desfez no ar. Estava ali e ao mesmo tempo não estava, apenas sentia-se um cheiro forte de enxofre e via-se um clarão e um estrondo, mas ninguém sabia se era de uma bomba ou não. Ela nunca mais foi vista. Nunca mais os fregueses comeram os quitutes, acarajé´, abará, cocada e pé-de-moleque da negra Dorotéia. Na tenda dos milagres chorava um jovem a mãe morta (ou para outros só encantada). Ninguém sabia o certo. Se Pedro Archanjo sabia da chave do segredo para onde Dorotéia havia ido, ele nunca contou. PERSONAGENS: (Deverá ter um Narrador) 1. Fausto Pena: 2. Dr.Zezinho (Zezinho Pinto): 3. Ferreirinha: 4. Gastão Simas: 5. Sapateiro: 6. Arno: 7. Azevedo: 8. Ramos: 9. Calazans: 10. Dr. Benito; 11. Exu; 12. Xangô: 13. Lídio (Lídio corró): 14. Tadeu: 15. Pedro Arcanjo: 16. Manuel Prazeres 17. Dorotéia: 18. Ojuobá (Pedro Arcanjo) 19. Nilo Argolo: 20. Estevão: 21. Zabela (madame)