UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA FORTALEZA-CEARÁ 2012 BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Veterinárias. Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Linha de Pesquisa: Reprodução e sanidade de carnívoros, onívoros, herbívoros e aves. Orientadora: Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro. FORTALEZA-CEARÁ 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho L864a Lopes Neto, Belarmino Eugênio Avaliação do estresse oxidativo na leishmaniose visceral canina / Belarmino Eugênio Lopes Neto. — 2012. 00 f. : enc. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Fortaleza, 2012. Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Orientação: Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro. 1. Leishmaniose visceral canina. 2. Estresse oxidativo. 3. Catalase. 4. Glutationa peroxidade. 5. Biomarcador. I. Título. CDD: 616.9364 BELARMINO EUGÊNIO LOPES NETO AVALIAÇÃO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA LEISHMANIOSE CANINA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Veterinárias. Aprovado em: _____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro Universidade Estadual do Ceará Orientadora _________________________________ __________________________________ Profa. Dra. Erika Freitas Mota Profa. Dra. Virgínia Claudia Carneiro Girão Universidade Federal do Ceará Universidade Federal do Ceará Examinadora Examinadora ________________________________ Dr. José Claudio Carneiro de Freitas Prefeitura Municipal de Fortaleza Examinador Aos meus pais, Francisco Barroso Pinto e Maria Celina, Dedico. AGRADECIMENTOS À Deus, pai supremo e fidedigno, por ter me concedido o dom da vida e da sabedoria, me guiando e dando forças em mais esta etapa da minha vida. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro concedido durante os dois anos de Mestrado. À Profa. Dra. Diana Célia Sousa Nunes Pinheiro, por sempre ter acreditado no meu potencial, por sua inestimável orientação, colaboração, compreensão, incentivo e acima de tudo amizade, meus sinceros agradecimentos. À Profa. Dra. Romélia Gonçalves Pinheiro pela colaboração junto ao Laboratório de Pesquisa em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças da UFC, permitindo a realização de etapas fundamentais na execução deste trabalho. Aos colegas do Laboratório de Imunologia e Bioquímica de Animais (LIBA), em especial Glauco Jonas Lemos Santos, Adam Leal Lima e Tiago Cunha, cujas ajudas foram de fundamental importância para a realização desse trabalho. A todos os funcionários da Faculdade de Veterinária (FAVET), em especial aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) da UECE, pelos conhecimentos e experiências compartilhados. Aos meus pais, Francisco Barroso Pinto e Maria Celina Lopes Barroso, que são base da minha vida, por todo amor, carinho e dedicação, e por estarem sempre ao meu lado, me apoiando em qualquer situação. A minha noiva, Larissa Silva Barros, que teve paciência e me incentivou a sempre seguir este caminho de dedicação e por todo o amor que existe nós. RESUMO A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença que pode comprometer diversos órgãos e tecidos. Estudos recentes têm sugerido a participação de espécies reativas do oxigênio (ERO) na patogenia de diversas doenças infecciosas e parasitárias em cães, incluindo a LVC. Neste trabalho objetivou-se avaliar o papel do estresse oxidativo na LVC. Para tanto, foram utilizados 27 cães de ambos os sexos, com peso, idade e raças variadas, oriundos do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza e de um canil particular. Os animais foram considerados com leishmaniose quando apresentaram título ≥ 1:40 para Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e Ensaio Imunoenzimático (ELISA), associado a três ou mais sinais característicos da doença. Os animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), animais sadios e o Grupo B (n=15), animais positivos para LVC. Amostras de sangue foram coletadas por venopunção jugular, distribuídas em tubos contendo anticoagulante (EDTA) e tubos com gel de separação, para determinação dos parâmetros leucocitários, hematológicos, bioquímicos séricos e as atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx; mU/mg Hb) e catalase (CAT; mU/mg Hb) eritrocitárias. Os resultados foram expressos em média e desvio padrão e a análise dos dados foi realizada através do teste t de Student sendo as diferenças entre os grupos, consideradas significativas quando p < 0,05. Também foi aplicado o teste de correlação de Pearson entre a variável GPx com He e Hb e entre variável CAT com He e Hb. O protocolo experimental foi aprovado pelo CEUA/UECE, n° 11516675-0/65. Dentre os parâmetros bioquímicos séricos, somente as proteínas totais e a fosfatase alcalina encontravam-se elevadas no Grupo B. Para os achados hematológicos, a contagem total de hemácia (He; p<0,001), hematócrito (Ht; p < 0,05) e hemoglobina (Hb; p < 0,01) foi menor no Grupo B. As atividades de CAT e GPx apresentaram-se inferiores (p < 0,001) no grupo B (189,358 ± 90,385; 3609,659 ± 1569,078) em relação ao grupo A (326,671±104,528; 5055,622±1569,078), respectivamente. Houve correlação positiva entre hemácias e CAT, contudo, não foi significativa. O estresse oxidativo está estabelecido na LC, além disso, a atividade da enzima GPx e CAT pode ser utilizado como marcador da patogenia da doença associada a outros resultados. Palavras-chave: Estresse oxidativo, Catalase, Glutationa peroxidade, hemácias, leishmaniose visceral canina. ABSTRACT Canine visceral leishmaniasis (CVL) is a disease which affects many tissues and organs. Recent studies suggested the involvement of reactive oxygen species (ROS) in the pathogenesis of various infectious and parasitic diseases in dogs, including CVL. The aim of this work was to evaluate the role of oxidative stress in the LVC. Therefore, we used 27 dogs, both sexes, weight, age and varied breeds, from the Fortaleza Center of Zoonosis Control and also from a private kennel. The animals were considered when presented with leishmaniasis titer ≥ 1:40 for Immunofluorescence Assay (IFA) and enzyme linked immunosorbent assay (ELISA), associated with three or more characteristic signs of the disease. The animals were divided into two groups, Group A (n = 12), healthy animals, and Group B (n = 15), animals positive for CVL. Blood samples were collected by jugular venipuncture, distributed into tubes containing anticoagulant (EDTA) or separating gel for determination of leukocyte parameters, hematological, serum biochemical and glutathione peroxidase (GPx, mU / mg Hb) and catalase (CAT; mU/mg Hb) erythrocyte enzymes activities. Results were expressed as mean and standard deviation. Data analysis was performed using the Student t test and the differences between groups considered significant at p <0.05. It was also used Pearson correlation test between the variable GPx with He and Hb and between variable CAT with He and Hb. The experimental protocol was approved by CEUA / UECE, No. 11516675-0/65. Among the serum biochemical parameters, only the total protein and alkaline phosphatase were higher in Group B. Concerning the hematological findings, the total count of red blood cells (RBC, p <0.001), hematocrit (Ht, p <0.05) and hemoglobin (Hb, p <0.01) were lower in Group B. The activities of CAT and GPx showed up lower (p <0.001) in group B (189.358 ± 90.385; 3609.659 ± 1569.078) than in group A (326.671 ± 104.528, 5055.622 ± 1569.078) respectively. A positive correlation between RBC and CAT, however, was not significant. These data suggest that oxidative stress is laid on the CVL, and also that GPx and CAT enzyme can be used as a marker of pathogenesis of disease associated with other results. Keywords: Oxidative stress, catalase, glutathione peroxidase, erythrocytes, canine visceral leishmaniasis. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Formas amastigotas (a) e promastigotas (b) de Leishmania........................... 17 Figura 2. Fêmea de flebotomíneo ingurgitada............................................................. 17 Figura 3. Cão soropositivo para Leishmania chagasi sintomático apresentando severa emaciação.......................................................................................................... 22 Figura 4. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentando Ceratoconjuntivite Seca............................................................................................................................ 22 Figura 5. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentando lesão no focinho............. 22 Figura 6. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentado onicogrifose...................... 23 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado ao estado fisiológico canino. 34 Tabela 2. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado às infecções caninas. 35 CAPÍTULO I Tabela 1. Parâmetros hematológicos e bioquímicos de cães saudáveis e com LVC. 47 Tabela 2. Parâmetros hematológicos e marcadores antioxidantes de cães saudáveis e de cães com LVC. 47 10 LISTA DE ABREVIATURAS CAT Catalase CAnT Capacidade antioxidante total CDV Vírus da cinomose canina CCZ Centro de Controle de Zoonoses CD4+ Células T auxiliares CD8+ Células T citotóxicas CIC Complexos Imunes Circulantes CPV Vírus da parvovirose canina CREA Creatinina CVL Canine Visceral Leishmaniasis Cu+ Cobre EAT Estado antioxidante total EDTA Anticoagulante ELISA Ácido etilenodiaminotetracético ERO Espécie reativa ao oxigênio ERN Espécie reativa ao nitrogênio FA Fosfatase alcalina Fe2+ Ferro GPx Glutationa peroxidase GSH Glutationa reduzida GSH-Rd Glutationa-redutase GSSH Glutationa oxidada Hb Hemoglobina HNO2 Ácido nitroso Ht Hematócrito HO•2- Radical hidroperoxil H2O2 Peróxido de hidrogênio IFN-γ Interferon gama IgG Imunoglobulina G IgM Imunoglobulina M 11 IL-2 Interleucina-2 IL-4 Interleucina-4 IL-10 Interleucina-10 IL-12 Interleucina-12 LC Leishmaniose canina LC Leishmaniose canina LO• Radical alcoxila LOO• Radical peroxila LOOH Hidroperóxido LPO Lipoperoxidação LT Leucócitos totais LV Leishmaniose visceral LVC Leishmaniose visceral canina Ml Mililitros MPO Mieloperoxidase nm Nanômetros NADPH Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato NO• Óxido nítrico NOS Óxido nítrico sintetase NOX NADPH oxidase NO2− Nitritos NO3−, Nitratos N2O3 Óxido nitroso O2 Oxigênio O•2- Ânion superóxido OCl- Hipoclorito OH• Radical hidroxila ONOO- Peroxinitro ONOOH Forma protonada do peroxinitro Prx Perorredoxinas PT Proteínas totais RBC Red blood cel RIFI Reação de Imunofluorescência Indireta RPM Rotações por minuto 12 SOD Superóxido dismutase SRD Sem padrão de raça definida TBARS Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico TGO Transaminase glutâmico-oxaloacética TGP Transaminase glutâmico-pirúvica TNF-α Fator de necrose tumoral alfa Trx Tioredoxina U/L Unidades por litro µL Microlitros U Uréia 13 SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................ 6 ABSTRACT 7 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ 8 LISTA DE TABELAS ........................................................................................... 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................... 10 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 16 2.1. Leishmaniose................................................................................... 2.1.1 Agente etiológico, vetor e reservatório........................................ 2.1.2 Resposta imunológica e patogênese à infecção por Leishmania....... 2.1.3 Apresentações Clínicas..................................................................... 16 16 18 21 2.2 O estresse oxidativo................................................................................. 25 2.2.1 Oxidantes........... .............................................................................. 25 2.2.2 Antioxidantes .................................................................................. 29 2.3 Estresse oxidativo em condições fisiológicas e patológicas................... 32 3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 35 4 HIPÓTESE CIENTÍFICA ................................................................................. 36 5 OBJETIVOS ........................................................................................................ 37 6 CAPÍTULO I ....................................................................................................... 38 8 CONCLUSÕES ................................................................................................... 55 9 PERSPECTIVAS ................................................................................................ 56 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 57 ANEXO 1................................................................................................................. 65 ANEXO 2................................................................................................................. 66 14 1. INTRODUÇÃO As leishmanioses são zoonoses causadas pela infecção de um dos diferentes protozoários das espécies do gênero Leishmania spp. A transmissão do parasito ocorre através da picada de insetos dípteros, da família Psychodidae, gênero Phlebotomus e Lutzomyia (GONTIJO; MELO, 2004). O complexo das leishmanioses representa grave problema de saúde pública, e o Brasil está entre os países da América Latina que apresenta maior número de casos humanos, cerca de 90% dos casos anuais (MONTEIRO et al., 2005). Leishmania spp. possui ciclo biológico heteroxeno, desenvolvendo-se no aparelho digestivo do inseto flebotomíneo fêmea, atravessando estágios morfológicos de diferenciação até se transformar na forma promastigota metacíclica infectante (CAMARGO-NEVES et al., 2006). Após a picada do inseto infectado, o protozoário continua seu desenvolvimento no hospedeiro mamífero no qual a forma promastigota dentro do fagossomo transforma-se em amastigota, que persiste e prolifera dentro de várias células do sistema imune (MORDASKI et al., 2009; REILING et al., 2010; KAYE; SCOTT, 2011). As diferentes espécies de Leishmania spp. são responsáveis por um amplo espectro de doenças que acometem os mamíferos. Vale salientar que, embora o homem possa atuar tanto como hospedeiro quanto reservatório do agente, outros mamíferos podem atuar da mesma forma, incluindo os canídeos, roedores e marsupiais, sendo estes apontados como responsáveis pela manutenção por longo prazo da Leishmania na natureza. Diferente dos demais hospedeiros que estão localizados nas regiões rurais ou silvestres, o cão se encontra adaptado às zonas urbanas, o que lhe é atribuído como um dos principais responsáveis pela manutenção da cadeia epidemiológica urbana da leishmaniose (RIBEIRO, 2007). A leishmaniose visceral canina (LVC) é caracterizada por diferentes apresentações, desde uma doença não aparente até casos severos, podendo levar o cão à morte (BRASIL, 2006). Estes diferentes quadros clínicos vem sendo atribuídos à resposta imune do cão e à cepa do parasito inoculado pela picada do vetor (SILVA, 2007). Portanto, a participação do sistema imune é determinante para a progressão ou resolução da infecção (FREITAS; PINHEIRO, 2010). Leishmania spp. são parasitos intracelulares obrigatórios e infectam células fagocíticas as quais utilizam mecanismos químicos e celulares de resposta rápida para controlar o crescimento ou eliminação do agente invasor (ABBAS, 2008). A eliminação 15 do material fagocitado pode ocorrer por mecanismos oxidativos e não oxidativos. O mecanismo oxidativo é gerado através de processos que utilizam um elevado consumo de oxigênio plasmático (explosão respiratória), sendo produzido quando um complexo enzimático, NADPH oxidase (NOX), na membrana dos fagócitos é formado, resultando na geração de produtos microbicidas, como intermediários reativos do oxigênio, do nitrogênio e hipoaletos produzidos pela mieloperoxidase (SEGAL, 2005). Contudo, o acúmulo dos produtos microbicidas tem como contrapartida a lesão de biomoléculas e, se não controlados pelo sistema antioxidante tornam-se excessivos desenvolvendo-se o estresse oxidativo. Nesse contexto, a leishmaniose canina vem sendo estudada quanto à participação do status antioxidativo enzimático e não enzimático (BILDIK et al., 2004; BRITTI et al., 2008). 16 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Leishmaniose As leishmanioses são zoonoses que acometem o homem quando ele entra em contato com o ciclo de transmissão do parasito (BRASIL, 2006). Existem várias formas da apresentação, quais sejam as formas tegumentar, cutânea e mucocutânea, e visceral. A doença visceral é caracterizada por uma evolução crônica com comprometimento sistêmico e, se não tratada, pode resultar na morte em até 90% dos casos (MAIAELKHOURY et al., 2008). Além do homem, alguns mamíferos podem ser acometidos de leishmaniose, como as raposas (Dusicyonvetuluse cerdocyonthous), os marsupiais (Didelphis albiventris), os saguis (Callithrix penicillata), o cão (Canis lupus familiares), o gato (Felis catus), os quais podem servir como reservatório (BRASIL, 2006; COELHO et al., 2010). 2.1.1 Agente etiológico, vetor e reservatórios Os agentes causadores da leishmaniose canina (LC) são protozoários pertencentes ao Reino Protista, da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania, e no Brasil são encontradas diversas espécies, como Leishmania amazonensis, L. braziliensis e L. guyanensis, responsáveis pela leishmaniose tegumentar; e L. chagasi, responsável pela forma visceral. Embora se discuta sobre a presença de outra espécie como agente etiológico da leishmaniose visceral canina (LVC), Leishmania (Leishmania) infantum, estudos com base nos perfis isoenzimáticos demonstram que os dois protozoários, na realidade, sejam um só (BRASIL, 2006). Em seu ciclo biológico, Leishmania spp. apresenta três formas morfológicas, a forma amastigota (Figura 1a), medindo 2 a 5 µm, de corpo oval contendo um núcleo excêntrico e flagelo não visível, em que a forma é intracelular obrigatória, sendo encontrada nas células do sistema fagocítico mononuclear (SFM) do hospedeiro vertebrado, a outra é a forma promastigota (Figura 1b), medindo de 10 a 15 µm, com um flagelo longo de até 20 µm, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e no hospedeiro vertebrado, quando este acaba de ser picado pelo inseto flebotomíneo e a outra forma é a paramastigota, encontrada no hospedeiro invertebrado, que possui um flagelo mais curto e mais robusto. Estes parasitos apresentam uma estrutura característica contendo DNA mitocondrial (cinetoplasto), estando ligada a um corpo 17 basal, que dá origem a um único flagelo (CIARAMELLA; CORONA, 2003; CAMARGO-NEVES et al., 2006). Figura 1. Formas amastigotas (a) e promastigotas (b) de Leishmania spp. (Fonte: http://www.fcfrp.usp.br/dactb/Parasitologia/Arquivos/Genero_Leishmania.htm) O vetor biológico responsável pela transmissão das formas promastigotas da Leishmania spp. são insetos dípteros da família Psychodidae, que pertencem ao gênero Lutzomya encontrado nas Américas. No Ceará, o único flebotomíneo até hoje apontado como transmissor da LVC é o Lutzomya longipalpis (BRASIL, 2006). Figura 2. Fêmea de flebotomíneo ingurgitada (Fonte: BRASIL, 2006). 18 A infecção do vetor ocorre quando a fêmea do flebotomíneo (Figura 2) ao sugar o sangue de mamíferos infectados, ingere células do sistema imune fagocítico parasitadas com a forma amastigota da Leishmania. No trato digestivo do flebotomíneo ocorre o rompimento dos macrófagos infectados liberando essa forma, que se reproduz por divisão binária e se diferencia rapidamente em promastigota, que também se reproduz rapidamente por divisão binária para a forma paramastigota que colonizam o esôfago e a faringe do vetor, onde ficam aderidas ao epitélio pelo flagelo e, posteriormente, se diferencia na forma infectante promastigota metacíclica (MORDASKI et al., 2009). Os animais que podem se contaminar com a Leishmania spp. através da picada do flebótomo são mamíferos selvagens, como as raposas (Dusicyonvetuluse Cerdocyonthous) e os marsupiais (Didelphisalbiventris), além do próprio homem que também pode ser um reservatório (BRASIL, 2006). Com o incremento do processo de domiciliação do ciclo zoonótico de transmissão das leishmanioses, animais sinantrópicos e domésticos tem assumido importância relevante na infecção (DANTASTORRES, 2007). O papel do cão (Canis lupus familiaris) como reservatório da Leishmania foi relatado pela primeira vez por Nicolle, em 1908, na Tunísia, quando experimentalmente foi comprovada a infecção deste animal. Posteriormente, em inquérito realizado naquele país, foi comprovada a transmissão natural em cães e assim registrado o primeiro foco de LVC no mundo. No Brasil, a primeira evidência de transmissão da LVC foi em Abaeté (PA), como resultado dos trabalhos desenvolvidos por comissão instituída pelo Instituto Oswaldo Cruz para a avaliação dessa problemática. Porém, apenas em 1955 é que foi estabelecido por Deane e Deane o papel do cão como reservatório da LVC, quando constatada a transmissão em cães residentes em zona urbana do município de Sobral (CE), verificando-se elevada carga parasitária nesses animais. Brener, em 1957, concluiu frente aos achados de outros autores, que o cão tinha papel fundamental na epidemiologia da leishmaniose visceral no Brasil (CAMARGO-NEVES et al., 2006). 2.1.2Resposta imunológica e a patogênese da infecção por Leishmania spp. A infecção por diferentes espécies de Leishmania, em grande parte, depende do tipo de resposta imunológica que o organismo do hospedeiro irá desenvolver (KAYE; SCOTT, 2011). Nas infecções parasitárias, o sistema imune pode controlar tanto o 19 número de parasitos presentes no organismo quanto à resistência a infecção (ABBAS, 2008). O estabelecimento da infecção implica que o parasito tem de entrar nas células fagocitárias, monócitos, macrófagos residentes, células dendríticas e polimorfonucleares neutrófilos através de um processo denominado fagocitose e, uma vez no interior da célula, resistir à ação microbicida. Imediatamente após a infecção, um processo inflamatório local é iniciado, e nas primeiras horas pós-infecção, as primeiras células a serem recrutadas ao local são os polimorfonucleares neutrófilos, seguidos pelos monócitos/macrófagos dois ou três dias depois (AGA et al., 2002). Após a fagocitose do protozoário, mecanismos intrínsecos podem ser ativados fazendo com que o parasito se torne resistente à ação das enzimas hidrolíticas e das espécies reativas ao oxigênio (ASSCHE et al., 2011). A disseminação e a localização estável do parasito no organismo é um requisito prévio para a progressão do processo patogênico e, consequente manifestação clínica da doença. Desta forma, o elemento patogênico primário na LVC é a infecção, sobrevivência e multiplicação do parasito no interior das células do sistema mononuclear fagocitário (MARQUES, 2008). Depois de se multiplicarem dentro dos macrófagos no local da infecção após a picada do inseto, os parasitos podem deixar a pele e se disseminar para os fagócitos mononucleares do sistema reticuloendotelial, incluindo órgãos como baço, fígado e medula óssea, levando a uma doença crônica, e às vezes fatal (GOTO; PRIANTI, 2009). O sistema imunológico, além de agir inicialmente através dos mecanismos inatos de defesa, também aciona os mecanismos específicos de defesa. Os linfócitos T desempenham função no controle da infecção, tanto diretamente, por mediarem respostas celulares e moleculares, quanto indiretamente, na regulação e produção de anticorpos produzidos e secretados por linfócitos B ativados especificamente (ABBAS et al., 2008). A sintomatologia clínica da LVC tem sido associada às alterações imunológicas com a participação das subpopulações de Linfócitos T efetores. Estas alterações incluem a ausência de hipersensibilidade do Tipo IV aos antígenos da Leishmania, decréscimo de Linfócitos T no sangue periférico, ausência de produção de interferon gama (IFN-γ) e de Interleucina-2 (IL-2) pelas células mononucleares do sangue periférico in vitro. Além disso, altos títulos de anticorpos anti-Leishmania foram detectados em animais sintomáticos, principalmente da classe de Imunoglobulina G (IgG) (BARBIÉRI, 2006). 20 As principais subpopulações de linfócitos T incluem os Linfócitos T CD4+ (LT CD4+, auxiliares, Th) e os Linfócitos T CD8+ (LT CD8+, citotóxicos). Em resposta aos antígenos protéicos dos microorganismos, LT CD4+ podem se diferenciar em células efetoras, denominadas Th1, Th2, que produzem e secretam distintos grupos de citocinas, além dos Linfócitos T regulatórios, Treg (MCMAHON-PRATT; ALEXANDER, 2004; GLAICHENHAUS et al., 2011). Várias pesquisas demonstraram a participação de células efetoras LTCD4+ com a resistência ou susceptibilidade à infecção por Leishmania (ALEXANDER; BRYSON, 2005). Um perfil de aparente resistência a LVC tem sido observado quando a resposta imune celular é mediada predominantemente por Th1, através da participação das citocinas Interferon gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e Interleucina 2 (IL-2). Esta resistência é atribuída à ativação dos macrófagos pelas citocinas, IFN-γ e TNF-α, capazes de ativar mecanismos que envolvem a participação do óxido nítrico para eliminar formas amastigotas intracelulares (BARBIÉRI, 2006). Por outro lado, tem sido relatada a participação de Treg que medeiam respostas supressoras através das citocinas Interleucina 10 (IL-10) e fator de crescimento de transformação beta (TGF-β), interferindo no controle da infecção por L. infantum em humanos e camundongos (GLAICHENHAUS et al., 2011). A participação de Th2, através das citocinas Interleucina 4 (IL-4) e IL-10, neste processo vem sendo relacionada a doença progressiva, pois estão implicados mecanismos que elevam a produção de anticorpos específicos anti-Leishmania. LTCD8+ podem também estar envolvidos no processo de resistência ao parasito (KAYE; SCOTT, 2011). Alguns estudos demonstraram que a formação das diferentes subclasses de Imunoglobulinas da classe G (IgG) pode servir de indicador da evolução da LVC. Assim, em cães assintomáticos foi observado um aumento de anticorpos antiLeishmania do tipo IgG1, e em animais clinicamente doentes um predomínio de anticorpos anti-Leishmania do tipo IgG2 (INIESTA et al., 2005; FREITAS et al., 2012b). Entretanto, Silva (2005) não conseguiu estabelecer uma correlação entre os níveis de imunoglobulinas IgG, IgG1 e IgG2 com a classificação clínica dos cães infectados por L. chagasi. Outro fator importante no componente imunológico da resposta humoral é a formação de complexos imunes circulantes (CIC), que se formam pela união de antígenos de Leishmania, com anticorpos específicos das classes IgG ou IgM e que possuem sítios de ligação para frações do complemento (principalmente a fração C3), os 21 quais podem ser depositados em órgãos e tecidos estratégicos, promovendo diversas alterações patológicas, como vasculite, glomerulonefrite, artrite, entre outras (MARQUES, 2008). Além dos fatores imunológicos, as parasitoses, infecções secundárias, doenças crônicas e alguns medicamentos podem levar ao aparecimento da LVC secundariamente no indivíduo. Isto pode estar relacionado ao fato de alterarem o tipo de resposta imune que o animal desenvolve, levando a ruptura do equilíbrio existente entre hospedeiro e parasito, traduzindo-se na manifestação clínica da LVC (SILVA, 2007). 2.1.3Apresentações Clínicas Como foi anteriormente relatado, cães com leishmaniose podem apresentar diferentes apresentações sintomatológicas. Os animais infectados podem desenvolver sintomas acentuados da infecção, podendo resultar em morte, enquanto outros permanecem assintomáticos, ou ainda desenvolvem um ou mais sintomas brandos, sendo classificados como oligossintomáticos (BRASIL, 2006). A LVC, sendo uma doença de caráter crônica, pode apresentar sinais clínicos com manifestacão de três meses a sete anos após a infecção. A apresentação clínica inicial corresponde a uma alteração do estado orgânico do animal, com perda de peso progressiva acompanhada de astenia, apatia e em casos extremos anorexia e febre, que caracterizam uma síndrome geral inespecífica, de instalação lenta e evolução progressiva (MARQUES, 2008). Na leishmaniose, o estado geral do animal pode estar comprometido por diversas manifestações clinicas, como emagrecimento, caquexia, apatia, prostração, desidratação, febre, mucosas hipocoradas, epistaxe, esplenomegalia e linfoadenopatia (SANTOS, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2007; ABREU-SILVA et al., 2008; MARQUES, 2008; PINHÃO, 2009; FREITAS et al., 2012a). A linfoadenomegalia é um sinal característico da LVC, e esse aumento no tamanho dos linfonodos ocorre devido à proliferação linfoplasmohistiocitário, podendo conter lesões hipertróficas nas regiões corticais e medulares com formas amastigotas dentro de macrófagos medulares (SILVA, 2007). 22 Figura 3. Cão soropositivo para Leishmania chagasi sintomático apresentando severa emaciação. O emagrecimento do animal (Figura 3) pode ser causado pela competição parasitária por nutrientes, por mediadores químicos que induzem ao estado de caquexia. A sintomatologia renal pode levar a anorexia, a anemia, tornando-o progressivamente mais fraco e apático, podendo até ficar letárgico (PINHÃO, 2009). Figura 4. Leishmania Cão soropositivo chagasi Ceratoconjuntivite Seca. para apresentando Figura 5. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentando lesão no focinho. 23 24 Figura 6. Cão soropositivo para Leishmania chagasi apresentado onicogrifose. As principais alterações cutâneas observadas são as dermatites crônicas, alopécia, principalmente na zona periocular, pregas de pele e articulações, anomalias de cornificação, seborréia seca, hiperqueratose, paroníquia, onicogrifose (Fig. 6), úlceras e crostas; lesões no focinho (Fig. 5) e ponta da orelha (SANTOS, 2006; ABREU-SILVA et al., 2008; MARQUES, 2008; PINHÃO, 2009; FREITAS et al., 2012a) . As alterações dermatológicas são bastante relatadas em estudo clínico em cães com leishmaniose, podendo chegar a 90% dos cães infectados (ALBUQUERQUE et al., 2007). Este fato pode ser explicado por um processo inflamatório no local da picada do vetor, migração de novas células para o sítio da infecção, gerando um infiltrado inflamatório composto de neutrófilos, macrófagos e linfócitos que levam à formação de granuloma. Neste ocorre a multiplicação do parasito em novas células, liberando mediadores do processo inflamatório, ativação de células que culminam com a ulceração superficial da pele (RIBEIRO, 2004). Os animais podem ainda apresentar alopécia, que geralmente tem início na cabeça e orelhas, atingindo depois o tronco e os membros. Esta pode também localizar-se ao redor dos olhos, dando origem a uma imagem característica de “óculos” (PINHÃO, 2009). As alterações oculares são bastante relatadas nos cães com leishmaniose, e dentre elas a ceratoconjuntivite (Fig. 4), blefarite, inflamação mononuclearplasmocitário do trato uveal, conjuntivite, exoftalmia, corrimento e panoftalmia (BRITO et al., 2004; COUTINHO, 2005; FREITAS et al., 2012a). As lesões renais são a principal causa de óbito por LVC (RIBEIRO, 2004). Nos rins, a deposição de imunocomplexos nos glomérulos pode acarretar em glomerulonefrite membranoproliferativa e nefrite intersticial com comprometimento da função renal (ALBUQUERQUE et al., 2005), muitas vezes sendo a principal causa da morte dos cães. A nefropatia pode ser causada pelo infiltrado de LTCD4+ detectados na região glomerular e intersticial dos rins de cães naturalmente infectados com L. chagasi (COSTA et al., 2000). A insuficiência renal pode estar presente em cães sem os sinais clássicos sistêmicos de LVC. A presença persistente de proteína na urina pode levar ao aparecimento de sinais clínicos compatíveis com síndrome nefrótica, tais como hipoalbuminemia, ascite, edema periférico e hipercolesterolemia (MARQUES, 2008). No fígado, ocorre um infiltrado de células mononucleares devido à presença de antígenos de Leishmania. Sant’ana et al. (2007) observaram que ocorre uma intensa 25 formação de granulomas hepáticos na LVC, e cães assintomáticos apresentam maior número de granulomas do que os animais oligossintomáticos e sintomáticos. Outro achado frequente na LVC é a esplenomegalia. As alterações patológicas apresentam graus variados de intensidade, e o aspecto macroscópico das lesões está relacionado com a evolução da doença (LUVIZOTTO, 2006). No baço ocorre uma reação inflamatória crônica e difusa, com macrófagos organizados em granulomas e repletos de amastigotas resultando em hipertrofia do órgão (XAVIER et al., 2006). O exame citológico e histológico da medula óssea mostra padrão variável de acordo com a fase da doença, podendo ser observado hipocelularidade das células da linhagem eritrocitária e leucocitária, macrófagos repletos de hemossiderina, indicativo de acúmulo de ferro não utilizado na produção de hemácias, sendo esse achado relacionado à anemia profunda que, frequentemente, ocorre no desenvolvimento da leishmaniose visceral, e que pode ser detectado ao exame necroscópico (LUVIZOTTO, 2006). Outros sinais como complicação cardiorrespiratória e digestiva têm sido associados aos animais com LVC. As alterações articulares também podem ser notadas, como claudicação, dor, restrição de movimento e aumento de temperatura intra-articular (EUGÊNIO et al., 2008). 26 2.2. Estresse oxidativo 2.2.1 Oxidantes O oxigênio (O2) é uma molécula altamente requerida na formação de energia pelos organismos aeróbicos, cerca de 85% a 90% do O2 é consumido na mitocôndria, por meio da cadeia transportadora de elétrons. O restante é utilizado por diversas enzimas oxidases e oxigenases e, ainda, por reações químicas de oxidação direta (BARBOSAet al., 2010). Esta molécula participa na formação de vários agentes oxidante por sua característica de ser um aceptor de elétrons, ou seja, possui elétrons desemparelhados na sua última camada eletrônica pronta para receber outros elétrons (IMLAY, 2003). Os agentes oxidantes podem ser divididos em vários grupos, dependendo da sua natureza ou sua reatividade. Uma classificação amplamente utilizada é se as moléculas oxidantes são ou não radicais livre, ou seja, contém elétron não pareado na sua estrutura química, levando a instabilidade da molécula (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007). A ação dos agentes oxidantes nas moléculas biológicas pode ocorrer através da abstração de uma molécula de hidrogênio, abstração de um elétron, ou pela adição de oxigênio. Por originarem-se bastante do metabolismo do oxigênio, as moléculas oxidantes geralmente são classificadas como espécie reativa do oxigênio (ERO) como, por exemplo, o ânion superóxido (O•2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2). Os radicais derivados do oxigênio representam a classe mais importante das espécies de radicais gerados em sistemas vivos, principalmente por ter considerado grau de reatividade (VALKO et al., 2007). EROs são produzidas e liberadas no organismo por diferentes vias, como na mitocôndria, pelas quais o oxigênio que escapa da cadeia de transporte de elétrons e pode extravasar para o sarcoplasma. Também pode ter origem no endotélio capilar, em que o processo de isquemia e reperfusão acontecem durante o exercício, além da formação dos agentes oxidantes através de células inflamatórias mobilizadas para reparar o dano tecidual e a auto-oxidação das catecolaminas, mioglobinas e hemoglobina (KOHEN; NYSKA, 2002; CAMPOS; YOSHIDA, 2004). A formação da grande maioria das EROs origina-se da redução de um único elétron de O2 que gera o ânion superóxido, uma espécie de radical pouco reativo que tem dificuldade de atravessar membranas biológicas. No entanto, o O•2- na sua forma protonada, isto é, quando recebe um átomo de hidrogênio, forma o radical hidroperoxil (HO•2-). O radical HO•2- tem maior facilidade em penetrar estruturas biológicas, embora o superóxido se 27 encontre mais na sua forma carregada sob pH fisiológico. Quando o radical O•2- sofre dismutação, produz peróxido de hidrogênio, uma molécula altamente difusível no organismo (UNDERHILL; OZINSKY, 2002). Ao contrário dos radicais livres, o H2O2 tem meia vida longa no organismo e é capaz de atravessar membranas celulares desencadeando mecanismos potencialmente tóxicos para as células. Esta toxicidade pode ser aumentada em dez mil vezes pela presença de ferro (DEATON; MARLIN, 2003). Além de ter ação deletéria em moléculas orgânicas, o H2O2é utilizado como fonte para outros agentes oxidantes, principalmente o radical hidroxila (OH•), formado via oxidação de metais de transição, como os íons de ferro (Fe2+) e cobre (Cu+). O ferro é o metal pesado mais abundante no organismo e está biologicamente mais capacitado para catalisar as reações de oxidação de biomoléculas. Desta forma, através das reações de oxirredução dos íons de ferro pela reação de Fenton (equação 1) ou Haber-Weiss (equação 2 e 3) é formado o radical peróxido de hidrogênio (KOHEN; NYSKA, 2002).Radical OH• é um dos mais reativos oxidantes das biomoléculas capaz de retirar átomos de hidrogênio do grupo metileno de ácidos graxos poliinsaturados, dando início à peroxidação lipídica que acaba provocando a lise de membranas(CAMPOS; YOSHIDA, 2004). A sua formação está associada com danos celulares em diferentes níveis, incluindo danos a proteínas, ao DNA e a própria membrana celular (POULSEN, 2005). Fe2++ H2O2 → OH• + OH- + Fe3+ (1) Fe3++ O•2- → Fe2++ O2 (2) O2 + OH• +OH- → O•2- + H2O2 (3) Todas as membranas celulares são especialmente vulneráveis à oxidação devido à sua alta concentração de ácidos graxos poliinsaturados. O processo de peroxidação lipídica resulta na formação de três importantes EROs a partir dos lipídios insaturados: o radical alcoxila (LO•), radical peroxila (LOO•) e o hidroperóxido (LOOH). Como no caso do H2O2, o LOOH não é um radical livre, mas ele é uma molécula bastante instáveis na presença de metais de transição. Já o LOO•e o LO• são radicais livres muito reativas que participam diretamente do processo de propagação da lipoperoxidação (HALLIWELL; GUITTERIDGE, 2007). As ações deletérias dos peróxidos lipídicos mais frequentes são a ruptura da membrana celular, mutação do DNA, oxidação dos lipídios insaturados, formação de resíduos químicos como o malondialdeído (MDA) e o 28 comprometimento dos componentes da matriz extracelular, proteoglicanos, colágeno e elastina (LIMA; ABDALLA, 2001). A formação dessas espécies ocorre através de uma reação em cadeia iniciada por radicais livres (equação 4, 5 e 6) (LIMA; ABDALLA, 2001). Além disso, íons de metais de transição, como Fe2+e Fe3+podem participar do processo catalisando a formação de radicais lipídicos alcoxila, peroxila e hidroxila a partir dos hidroperóxidos (equação 7 e 8). LH+ OH• (ou LO•)→ L•+ H2O (ou LOH) (4) L•+ O2 → LOO• (5) • • LOO + LH → LOOH + L 2+ • (6) • 3+ LOOH + Fe → LO + OH + Fe (7) Fe3+ + LOOH → LOO• H+ + Fe2+ (8) O mais importante complexo enzimático desencadeador da geração das EROs nos processos inflamatórios e infecciosos é a NADPH oxidase (NOX). O NOX é um conjunto de enzimas espalhadas na membrana e citoplasma das células de defesa, como neutrófilos e macrófagos. Quando o fagócito é ativado, este complexo enzimático se rearranja devido a diversas interações iônicas com suas proteínas, dando início a um fenômeno chamado explosão respiratória. A molécula de nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADPH) que é gerado no ciclo das pentoses é oxidada pelo NOX e uma molécula de oxigênio aceita um elétron doado, levando a geração do ânion superóxido (equação 9). A interação de duas moléculas de O•2-são catalisadas pela enzima superóxido dismutase (SOD), gerando uma molécula de peróxido de hidrogênio (equação 10) (BABIOR, 2004). NADPH + 2O2 2O•2- + 2H+ NOX SOD-Zn →NADP+ + H+ + 2O•2- →H2O2 + O2 (9) (10) O peróxido de hidrogênio serve como substrato para formação de compostos bactericidas, através da ação da mieloperoxidase (MPO). A MPO é uma das mais importantes enzimas da explosão respiratória, pois catalisa a reação entre o H2O2e os íons haletos (equação 11), produzindo hipoaletos (OCl-, OBr-, OI-, OSCN-). O hipoclorito é o principal hipoaleto utilizado pelos neutrófilos devido a sua propriedade 29 de não se acumular nos sistemas biológicos, dissipando-se em múltiplas reações. A formação do OCl- contribui para destruição das bactérias por meio da oxidação de suas proteínas e lipídios, além de aumentar a atividade bactericida das enzimas lisossômicas (SEGAL, 2005; van der VEEN et al., 2009). MPO H2O2 + Cl- → H2O + OCl- (11) Outra forma de eliminar os organismos invasores é através da produção de óxido nítrico (NO•). O NO• é gerado quando ocorre a oxidação do aminoácido ʟ-arginina para ʟ-citrulina na presença da molécula de oxigênio (equação 12), sendo esta reação catalisada pela enzima óxido nítrico sintetase (NOS) (FRITZSCHE et al, 2010). A NOS é uma enzima encontrada no organismo em diferentes isoformas, sendo duas constitutiva geradas no endotélio e no tecido neuronal (eNOS e nNOS) e uma com expressão induzida por uma ampla variedade de células e tecidos (iNOS) (BABIOR, 2004). ʟ-arginina + NADPH + O2 → ʟ-citrulina + NO• + NADP+ (12) O aumento da produção do óxido nítrico não necessariamente pode estar relacionado com o estresse oxidativo. NO• pode ser observado desenvolvendo o papel de mensageiro indutor da vasodilatação sanguínea, além de sua função como mensageiro neuronal (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007). Assim, o aumento da produção de NO• por si só não é um indicador do estresse oxidativo, embora elevadas concentrações desta molécula possam levar ao aumento da formação de oxidantes deletérios denominados espécies reativas do nitrogênio (ERN). Podemos observar a formação de ERN a partir do óxido nítrico formando o peroxinitro (ONOO-, equação 12), a forma protonada do peroxinitro (ONOOH) que é altamente reativo ao radical hidroxila (equação 15), além do óxido nitroso (N2O3), ácido nitroso (HNO2), nitritos (NO2−) e nitratos (NO3−, equação 16) (VALKO et al., 2006). NO• + O•2- → ONOO- (13) ONOO- + H+ → ONOOH (14) 30 ONOOH → OH• + NO2 (15) OH• + NO2 → NO3-+ H (16) ERN são muito tóxicas, podendo causar danos diversos, como a peroxidação lipídica através do processo de nitração, além de nitrar aminoácidos aromáticos, por exemplo, a tirosina gerando nitrotirosina e as bases de DNA como a guanina se transformando em 8-nitroguanina (BARREIROS et al., 2006). 2.2.2 Antioxidantes EROs são encontradas em baixas concentrações nas células e tecidos biológicos. Sua concentração é determinada pelo equilíbrio entre a taxa de produção e sua taxa de remoção efetivada por várias enzimas e composta antioxidantes (DRÖGE, 2002). O efeito prejudicial dos agentes oxidante ocorre quando eles estão em quantidade excessiva no organismo, ultrapassando a capacidade do organismo de neutralizá-los com os seus sistemas naturais. Para proteger-se, as células possuem sistema de defesa que pode atuar em duas linhas. Uma delas atua como detoxificadora dos agentes antes que eles causem lesões. Esta linha é constituída pelas enzimas glutationa reduzida (GSH), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e vitamina E. A outra linha de defesa tem a função de reparar a lesão ocorrida, sendo constituída pelo ácido ascórbico, pela glutationa-redutase (GSH-Rd) e pela GPx, entre outros. Com exceção da vitamina E (α-tocoferol), que é um antioxidante estrutural da membrana, a maior parte dos agentes antioxidantes está no meio intracelular e no organismo (CAMPOS; YOSHIDA, 2004; NAITO et al., 2010). Todos os componentes que auxiliam na defesa do organismo contra o desequilíbrio da homeostase provocado por agentes oxidantes formam uma rede de moléculas antioxidantes. Esta rede pode atuar evitando as fontes de espécies reativas ou fazendo a varredura dos mesmos, além de favorecer o reparo e a reconstituição de estruturas biológicas (NAITO et al., 2010). Os principais componentes enzimáticos da rede antioxidante são a SOD, CAT e GPx, visto que sua atividade catalítica em transformar o ânion superóxido em peróxido de hidrogênio e água, podendo inativar relevantes quantidades de oxidantes. Oligoelementos como selênio (Se), zinco (Zn), cobre (Cu) e manganês (Mn) desempenham importante papel catalisador da atividade enzimática de GPx com Se e SOD com Zn/Cu/Mn KIRSCHVINK et al., 2008). (KLOTZ et al., 2003; 31 A primeira linha de frente do organismo contra agentes oxidantes são os antioxidantes enzimáticos. A SOD participa do início da prevenção dos oxidantes e tem como ação converter através do processo de dismutação o ânion superóxido em peróxido de hidrogênio e oxigênio na presença do próton H+ (equação 10) (BATINICHABERLE et al., 2010). Existem duas formas de SOD no organismo, a primeira contém Cu2+ e Zn2+ como cofatores e ocorre no citosol, sendo que sua atividade não é afetada pelo estresse oxidativo. A segunda contém Mn2+ como cofator, ocorrendo na mitocôndria e sua atividade aumenta com o estresse oxidativo. O produto final da dismutação do peróxido de hidrogênio pode ser removido pela atividade da CAT e por membros da família das peroxidases e a GPx (BARREIROS et al., 2006). 2H2O2 CAT (17) 2H2O + O2 2GSH + H2O2 GPx-Se GSSH + 2H2O GSSH + NADPH + H+ 2H2O2+ NADPH + H+ GSH-Rd GSH 2GSH + NADP+ 2H2O + NADP+ (18) (19) (20) O peróxido de hidrogênio é uma das espécies reativas ao oxigênio mais comum na biosfera, assim tanto o H2O2 como o produto de sua decomposição, o radical OH• devem ser controladas, pois podem ser prejudiciais a quase todos os componentes celulares (ZAMOCKY et al., 2008). A catalase é uma hemeproteína citoplasmática que catalisa a redução de H2O2 em oxigênio e água utilizando o NADPH (equação 17), encontrada em organelas intracelulares, como nos peroxissomas e em baixa concentração na mitocôndria e reticulo endoplasmático. Dessa forma, o H2O2 intracelular não pode ser eliminado, a menos que se difunda para os peroxissomas (LIMÓN-PACHECO; GONSEBATT, 2009). A atividade catalítica da CAT está presente em todos os tecidos, porém com atividade enzimática elevada nos eritrócitos, fígado, rim e tecido adiposo e uma baixa atividade no tecido nervoso (LIMA, 2004). H2O2 também é alvo de compostos tióis que são potentes agentes redutores graças ao grupamento sulfidrila (-SH), sendo o principal componente a glutationa na sua forma reduzida (GSH). Para exercer sua atividade antioxidante o GSH liga-se a GPx ligada ao cofator selênio, transformando o H2O2 em H2O mais glutationa oxidada (GSSG) (equação 18). Para manter o nível de GSH basal é necessário que a enzima 32 GSH-Rd dependente de NADPH adicione elétrons na GSSG (equação 19). Além disso, a GPx reduz tanto o peróxido de hidrogênio como hidroperóxidos orgânicos. Existem várias isoformas de GPx as quais são específicas para fase lipofílica ou hidrofílica (LIMA, 2004; LUBOS et al., 2011). Outro antioxidante enzimático é a tioredoxina (Trx) e as perorredoxinas (Prx). Trx são enzimas que reparam grupamentos -SH, removem H2O2 e removem radicais livres e podem estar presentes em diversos compartimentos celulares como mitocôndria, núcleo e citossol. Estas enzimas também estão envolvidas na regeneração do ácido ascórbico oxidado (NAKAMURA, 2005). As enzimas antioxidantes Prx, também chamadas de tioredoxina peroxidase pertencem à família de proteínas multifuncionais cujas principais ações são a proteção celular contra o estresse oxidativo e a modulação da cascata de sinalização que regulam a proliferação e diferenciação celular e a expressão gênica e apoptose (IMMENSCHUH; VOGT, 2005). Os antioxidantes que também têm suas atividades reconhecidas são os nãoenzimáticos. O ácido ascórbico (vitamina C) é encontrado no organismo na forma de ascorbato, uma molécula bastante solúvel em água e de baixo peso molecular, localizada nos compartimentos aquosos e nos tecidos orgânicos. O ascorbato atua como agente redutor, reduzindo metais de transição, principalmente Fe3+ e Cu2+ presente nos sítios ativos das enzimas ou em suas formas livres no organismo. Outros antioxidantes não-enzimáticos que agem intensamente nas membranas prevenindo sua lipoperoxidação são os tocoferóis (vitamina E). O α-tocoferol é um dos principais antioxidantes na fase lipofílica do organismo e podem agir como doadora de prótons H+ para o radical peroxila, interrompendo o processo radicalar em cadeia da peroxidação lipídica. Os carotenóides, principalmente o β-caroteno age como desativadores do oxigênio singleto ou como sequestradores dos radicais peroxila, reduzindo a oxidação do DNA e lipídios (SONG, 2004; BARREIROS et al., 2006). O estresse oxidativo é conhecido como uma ruptura no equilíbrio dinâmico entre moléculas oxidantes e antioxidantes, favorecendo assim a viabilidade dos agentes oxidantes no organismo. No entanto, a detecção direta da produção destes oxidantes livres no organismo é muito difícil, uma vez que estas moléculas têm uma meia vida curta e por serem altamente reativos. Desta forma, os danos oxidativos são geralmente analisados através de seus produtos secundários, incluindo os derivados de aminoácidos, ácido nucléico e a peroxidação lipídica (KOHEN; NYSKA, 2002). 33 Pode-se medir o estresse oxidativo através de diversos marcadores. Glutationa reduzida e glutationa oxidada (GSH/GSSH) são ótimos indicadores do processo oxidativo no organismo, pois a GSH é um antioxidante primário das células, e geralmente sua concentração apresenta-se baixa nas doenças crônicas. Outros compostos químicos inflamatórios que são medidos no sangue ou urina para confirmar o estresse oxidativo excessivo são o óxido nítrico (NO) e os produtos da peroxidação lipídica, como o malondialdeído (MDA) (MANDELKER; VAJDOVICH, 2011). A avaliação da peroxidação lipídica é amplamente utilizada como um indicador do estresse oxidativo, já que a maioria dos EROs e ERNs reage com os ácidos graxos poliinsaturados presentes na membrana celular, podendo levar a destruição estrutural da célula, à falência dos mecanismos de troca metabólica e à morte celular. Desta forma, a avaliação dos níveis de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) é útil na investigação da peroxidação lipídica e é expresso como resultado da lipoperoxidação (LPO) (LIMA; ABDALLA, 2001). O perfil antioxidante também é utilizado para avaliação do equilíbrio de oxirredução no organismo. Para tanto, são avaliados os componentes enzimáticos (SOD,CAT, GSH, GSH-Rd, GPx) e não enzimáticos (α-tocoferol, β-caroteno, ácido ascórbico), entre outros (MANDELKER; VAJDOVICH, 2011). Também outros marcadores do perfil antioxidante podem ser citados, como a coenzima Q (CoQ), que é uma ubiquinona lipossolúvel, sendo este o único lipídio sintetizado endogenamente no organismo que apresenta função redox auxiliando na inibição da lipoperoxidação das membranas (BARREIRAS et al., 2006). As proteínas de transporte de metais de transição como a transferrina e a ceruloplasmina são indicadas para demonstrar a concentração de íons metálicos que são agentes prooxidantes, como o Fe2+ e o Cu+ (VANSCONCELOS et al., 2007). Alguns testes conseguem estimar a quantidade e a capacidade antioxidante total do organismo, como os testes da capacidade antioxidante total (CAnT), do índice de estresse oxidativo (IEO) e estado antioxidante total (EAT). CAnT tem como principal vantagem, medir a capacidade antioxidante de virtualmente todos os componentes de uma amostra biológica (sangue, urina, fezes) e não somente de um ou outro composto (FERRARI, 2008). Esses tipos de análises são bastante úteis na visão geral do organismo, mas o decréscimo destes marcadores não significa necessariamente que o dano oxidativo ocorreu, pois pode ser resultado simplesmente de que os mecanismos de defesa cumpriram sua função habitual (VASCONCELOS, 2007). 34 2.3. Estresse oxidativo em condições fisiológicas e patológicas A formação de EROs ocorre naturalmente no organismo dos mamíferos, pois muitos mecanismos fisiológicos estão associados a formação desses compostos (Tabela 1). Alguns estudos têm tentado padronizar valores de referência para a espécie canina dos biomarcadores do estresse oxidativo, dentre eles os produtos do metabolismo oxidativo e as moléculas antioxidantes (TODOVA et al., 2005; PASQUINE et al., 2008). Estados fisiológicos comumentes relacionados ao estresse oxidativo na espécie canina já foram relatados por alguns estudos, como em cadelas prenhes (VANNUCCHI et al., 2007) e em cães submetidos a diversos tipos de exercícios (Tabela 1) . Tabela 1. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado ao estado fisiológico canino. Estado fisiológico Referências Alteração apresentadas Gestação Diminuição do Retinol, Tocoferol e Magnésio (VANNUCCHI et al., 2007) Exercício de caça Aumento do d-ROM e diminuição do NPBA (PASQUINI et al., 2010) Exercício de corrida Diminuição de Tocoferol e aumento de Isoprostanos (HINCHCLIFF, 2000) Exercício com trenós Aumento CAnT (DUNLAP et al., 2006) d-ROM: metabólitos reativos derivados do oxigênio; NPBA: nível do potencial biológico antioxidante; Retinol: vitamina A; Tocoferol: vitamina E; Isoprostanos: indicador da peroxidação lipídica; CAnT: capacidade antioxidante total As alterações observadas no estresse oxidativo podem ser encontradas em indivíduos saudáveis, contudo podem ser controladas pelos mecanismos antioxidantes. Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua grande maioria, apresentam um desequilíbrio nos mecanismos de oxirredução, favorecendo um intenso estresse oxidativo no organismo (DRÖGE, 2002). Estudos têm relacionado à participação das desordens oxidativas nas diferentes doenças infecciosas nos animais domésticos, incluindo equinos, bovinos, caprinos, ovinos, caninos e felinos 35 (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007; WEBB et al., 2008; CELI, 2010; PALTRINIERI et al., 2010). Na espécie canina, a formação de EROs em condições patológicas pode estar presente na atopia (KAPUN et al., 2011), no diabetes (CHANSAISAKORN et al., 2009) e em diferentes tipos de câncer (PLAVEC et al., 2008). Além disso, o estresse oxidativo vem sendo atribuído à patogênese de várias doenças infecciosas e parasitárias (Tabela 2), incluindo infecções por Babesia canis, B. gibsoni, Ehrlichia canis, Hepatozoon canis e Leishmania spp. (KIRAL et al., 2005; BRITTI et al., 2008; CHAUDHURI et al. 2008; CRNOGAJ et al., 2010). Tabela 2. Estudos que investigaram o estresse oxidativo associado às infecções caninas. Parasito Alterações apresentadas Referências Leishmania chagasi Aumento do MDA e SOD. (BILDIK et al., 2004; Diminuição do ácido BRITTI et al., 2008) ascórbico, β-caroteno e ceruloplasmina Babesia canis & B.gibsoni Aumento do MDA, LPO, SOD, CAT e GSH-Rd Ehrlichia canis Aumento da LPO quando associada à B. gibsoni Hepatozoon canis Aumento do MDA, GSH e NO (KIRAL et al., 2005) Vírus da cinomose canina (CDV) Aumento do MDA, ceruloplasmina, nitrito e nitrato Diminução do GSH, ácido ascórbico, retinol e βcaroteno Aumento da LPO, SOD e CAT (KARADENIZ et al., 2008) Demodex canis Aumento da LPO e SOD Diminuição da CAT e GSHRd (DIMRI et al., 2008) Sarcoptesscabieivar. canis Aumento da LPO, EAT, IEO (CAMKERTEN et al., e LOOH 2009; SINGH et al., Diminuição na SOD, CAT, 2011) GPx e GSH Parvovírus canino (CPV) (CHAUDHURI et al., 2008; CRNOGAJ et al., 2010) (KUMAR et al., 2006) (PANDA et al., 2009) MDA: malondialdeído; LPO: lipoperoxidação; SOD: superóxido dismutase; CAT: catalase; GSH: glutationa; GPx: glutationa peroxidase; GSH-Rd: glutationa redutase; NO: óxido nítrico; EAT: estado antioxidante total; IEO: índice de estresse oxidativo; LOOH: lipídio hidroperóxido. 36 3 JUSTIFICATIVA O estresse oxidativo é conhecido como uma ruptura no equilíbrio dinâmico entre moléculas oxidantes e antioxidantes. As alterações observadas no estresse oxidativo podem ser encontradas em indivíduos saudáveis, contudo podem ser controladas pelos mecanismos antioxidantes. Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua grande maioria, apresentam um desequilíbrio nos mecanismos de oxirredução, favorecendo um intenso estresse oxidativo no organismo. O estresse oxidativo vem sendo atribuído à patogênese de várias doenças infecciosas e parasitárias. O papel da imunidade inata na defesa contra as diferentes espécies de Leishmania spp vem sendo estudado, embora a função dos radicais livres na patogênese e na progressão de várias doenças tenha sido discutida. A formação de espécies reativas ao oxigênio (ERO) de maneira exagerada nas doenças infecciosas pode levar o organismo a um desequilíbrio entre os agentes oxidantes e antioxidantes, proporcionando o estabelecimento do estresse oxidativo. Este processo pode conduzir à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas ou a um desequilíbrio homeostático que é manifestado no organismo pela modificação de macromoléculas celulares, morte celular por apoptose ou necrose, além de danos estruturais nos tecidos. Este assunto não tem sido amplamente investigado na leishmaniose, o que torna a determinação de oxidantes e antioxidantes no soro de grande valor e que podem funcionar como marcadores da evolução na doença canina. 37 4. HIPÓTESE CIENTÍFICA As enzimas antioxidantes podem ser utilizadas como marcadores do estresse oxidativo na leishmaniose visceral canina. 38 5. OBJETIVOS 5.1. Objetivo geral Avaliar o estresse oxidativo em cães naturalmente infectados com Leishmania chagasi. 5.2 Objetivos específicos 5.2.1 Avaliar os parâmetros leucocitários de cães naturalmente infectados com L. chagasi. 5.2.2 Avaliar os parâmetros hemáticos de cães naturalmente infectados com L. chagasi. 5.2.3 Avaliar os parâmetros bioquímicos séricos de cães naturalmente infectados com L. chagasi. 5.2.4 Determinar as atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT) eritrocitária em cães naturalmente infectados com L. chagasi. 5.2.5 Correlacionar os parâmetros hemáticos com a atividade das enzimas antioxidantes. 39 6. Capítulo 1 Atividade das enzimas Catalase e Glutationa peroxidase em cães naturalmente infectados por Leishmania chagasi Catalase and glutathione peroxidase in dogs naturally infected with Leishmania chagasi Junho, 2012 40 Catalase and glutathione peroxidase in dogs naturally infected with Leishmania chagasi Belarmino Eugênio Lopes-Netoa; Glauco Jonas Lemos Santosa; Adam Leal Limaa; Maritza Cavalcante Barbosab; Talyta Ellen Jesus dos Santosb; Daniel Couto Uchoac; Evanisa Alves Venturad; Romélia Gonçalves Pinheirob; Diana Célia Sousa NunesPinheiroa* a Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária/UECE; b Laboratório de Pesquisa em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças Hematológicas/UFC; c d Canil Grande Canafistula; Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza-CE Corresponding author: Universidade Estadual do Ceará/Laboratório de Imunologia e Bioquímica de Animais/PPGCV/UECE, Av. Paranjana, 1700, CEP 60740-903 Fortaleza, Ceará, Brasil. Fone. 55. 85.31019853; fax 55.85.31019860 e-mail: [email protected] ou [email protected] 41 Resumo: A leishmaniose visceral canina (LVC) é provocada por protozoário intracelular obrigatório do gênero Leishmania e compromete diversos órgãos e tecidos. Estas alterações podem resultar na geração de espécies reativas ao oxigênio (ERO). Estudos recentes têm sugerido a participação de ERO na patogenia de diversas doenças. Neste trabalho objetivou-se avaliar as atividades das enzimas antioxidantes na LC. Para tanto, foram utilizados cães de ambos os sexos, peso, idade e raças variadas, oriundos do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza e de um canil particular de Fortaleza. Foi considerada LVC animais com título ≥ 1:40 para Reação de Imunofluorescência Indireta e para o Ensaio Imunoenzimático, associado ao sinais e sintomas característicos da doença. Os animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), animais sadios e o Grupo B (n=15), animais com LVC. Foram determinados os parâmetros leucocitários, hematológicos e bioquímicos séricos e as atividades das enzimas glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT) eritrocitárias. O estudo foi aprovado pelo CEUA/UECE, n° 11516675-0/65. Dentre os parâmetros bioquímicos somente as proteínas totais e a fosfatase alcalina encontravam-se elevados no grupo B. Os parâmetros hemáticos do grupo B encontravam-se inferiores (p<0,05) aos do grupo A. CAT e GPx apresentaram-se inferiores (p<0,001) no grupo B (189,358±90,385; 3609,659±1569,078) em relação ao grupo A (326,671±104,528; 5055,622±1569,078), respectivamente. Houve correlação positiva entre hemácias e CAT, contudo, não foi significativa. Conclui-se que CAT e GPx estão envolvidas no estresse oxidativo da LVC. Palavras-chaves: Estresse oxidativo, Catalase, Glutationa peroxidade, hemácias, Leihsmaniose canina. 42 Abstract Canine visceral leishmaniasis (CVL) is caused by an obligatory intracellular parasite of the Leishmania gender and undertakes several organs and tissues. These changes can result in generation of reactive oxygen species (ROS). Recent studies address the role of in the pathogenesis of many diseases. In this study, we aimed to access the activity of the antioxidant enzymes in CVL. Therefore, were used dogs of both sexes, and varied weight, ages and breeds, obtained in accordance with the Zoonosis Control Center in Fortaleza city, Ceará, Brasil. Dogs were considered infected with ≥ 1:40 sera titration for indirect immunofluorescent assay and ELISA, associated with classical symptoms of the disease. The animals were divided in two groups, Group A (n=12), healthy animals and group B (n=15), animals infected with CVL. The leukocytes, hematological and biochemical parameters were assessed, along with the enzyme activity glutathione peroxidase (GPx) and catalase (CAT) at erythrocyte. The present study was approved by animal experimentation committee CEUA/UECE, nº 11516675-0/65. Among the biochemical parameters only the total protein and alkaline phosphatase were increased in group B. The hematological parameters in group B were decreased (p < 0.05) when compared with group A. CAT and GPx also exhibited lower values (p < 0.001) in group B (189.358±90.385; (326.671±104.528; 3,609.659±1,569.078) 5,055.622±1,569.078), when compared respectively. There with was group a A positive correlation between erythrocytes and CAT; however, it was not significant. We conclude that CAT and GPx are involved in oxidative stress in CVL. Keywords: Oxidative stress, erythrocyte, antioxidants enzymes, canine visceral leishmaniasis. 43 1. Introdução A leishmaniose é uma antropozoonose causada pela infecção de um dos diferentes protozoários das espécies do gênero Leishmania. Sua transmissão ocorre através da picada de insetos dípteros, da família Psychodidae, gênero Phlebotomus e Lutzomyia (GONTIJO; MELO, 2004). Os diferentes tipos de Leishmania spp. são responsáveis por um amplo espectro de doenças que acometem os mamíferos, e embora o homem também possa ser hospedeiro e reservatório do agente, outros mamíferos podem atuar da mesma forma, incluindo os canídeos, roedores e marsupiais, sendo estes apontados como responsáveis pela manutenção a longo prazo da Leishmania na natureza. Diferente dos demais hospedeiros que estão localizados nas regiões rurais ou silvestres, o cão se encontra adaptado às zonas urbanas, o que lhe é atribuído como um dos principais responsáveis pela manutenção da cadeia epidemiológica urbana da leishmaniose (RIBEIRO, 2007). A leishmaniose visceral canina (LVC) é caracterizada pelas diferentes apresentações, podendo ser uma doença não aparente até casos severos, podendo levar à morte. Estes diferentes quadros clínicos dependem da resposta imune do cão e da cepa do parasito inoculado pela picada do vetor (SILVA, 2007). A participação do sistema imunológico na disseminação da Leishmania no hospedeiro vertebrado é determinante para a progressão ou resolução da infecção. LVC é uma doença sistêmica capaz de comprometer diversos órgãos e tecidos, proporcionando alterações clinicopatológicas nos animais como onicogrifose, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alopecia, anemia (FREITAS et al., 2012b). Estudos recentes têm sugerido a participação de espécies reativas ao oxigênio (ERO) na patogenia de diversas doenças infecciosas e parasitárias em cães, incluindo a cinomose (KARADENIZ et al., 2008), parvovirose (PANDA et al., 2009), babesiose (CHAUDHURI et al., 2008), infecção por Hepatozoon canis (KIRAL et al., 2005), sarna (SINGH et al 2011) e a própria LVC (BILDIK, 2004; BRITTI et al., 2008). A formação de espécies reativas ao oxigênio (ERO) de maneira exagerada nas doenças infecciosas pode levar o organismo a um desequilíbrio entre os agentes oxidantes e antioxidantes, proporcionando o estabelecimento do estresse oxidativo. Este processo pode conduzir à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas ou a um desequilíbrio homeostático que é manifestado no organismo pela modificação de macromoléculas celulares, morte celular por apoptose ou necrose, além 44 de danos estruturais nos tecidos (LYKKESFELDT E SVENDSEN, 2007; BARBOSA et al., 2010). Apesar do envolvimento do estresse oxidativo nos mecanismos fisiológicos e nos mecanismos patológicos, poucos estudos foram realizados na leishmaniose canina. Baseado no exposto, este estudo teve como objetivo avaliar atividade das enzimas antioxidantes na leishmaniose canina. 2. Material e Métodos 2.1. Animais Foram utilizados 27 cães adultos, ambos os sexos, com peso e idade variados, sem raça definida. Os animais provenientes do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza (CCZ), recolhidos em domicílio através do programa SOS Cão, após identificação de cães sorologicamente positivos para Leishmania chagasi, compuseram o grupo teste, soropositivos. Os animais provenientes de Canil particular, sorologicamente negativos para L. chagasi, compuseram o grupo controle, soronegativos. O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética para o Uso de Animais da Universidade Estadual do Ceará (CEUA/UECE), n° 11516675-0/65. 2.2. Sorologia para Leishmaniose A sorologia foi realizada no CCZ, através da reação de Imunofluorescência Indireta utilizando-se o kit IFI-leishmaniose-canina-Bio-Manguinhos (IFI-LC) e do teste ELISA com o kit EIE-leishmaniose-canina-Bio-Manguinhos (EIE-LC), cujos antígenos foram obtidos das formas promastigotas de L. chagasi. Os kits utilizados são produzidos por Bio-Manguinhos/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brasil, e todos os procedimentos foram realizados de acordo com as instruções do manual técnico (Lira et al., 2006). Foi considerado positivo os animais com títulos de IFI e ELISA ≥ 1:40. 2.3. Grupos experimentais Os animais foram divididos em dois grupos, Grupo A (n=12), controle, soronegativo e o Grupo B (n=15), teste, com LVC. O Grupo B, além de conter animais soropositivos, apresentava dois ou mais sinais fortemente associados à doença incluindo caquexia, onicogrifose, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alopecia, lesões cutâneas, lesões perioculares, epistaxe, além de outros sinais relacionados à doença. 45 Foram considerados controles os cães sorologicamente negativos e sem sinais clínicos característicos ou específicos de leishmaniose. 2.4. Amostras de sangue Foram coletados 8 mL de sangue por venopunção jugular dos cães soropositivos e soronegativos. Para tanto, utilizou-se uma seringa estéril, distribuindo-se 4 mL de sangue em tubo contendo anticoagulante EDTA e 4 mL de sangue em tubo contendo gel de separação, sem anticoagulante. As amostras foram devidamente transportadas em caixas térmicas rapidamente para os laboratórios no intuito de prevenir a oxidação in vitro do material. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Bioquímica e Imunologia Animal - LIBA/FAVET/UECE e no Laboratório de Pesquisa em Hemoglobinopatias Genéticas das Doenças Hematológicas - UFC. 2.5. Avaliação hematológica e bioquímica sérica As amostras de sangue em EDTA foram homogeneizadas e submetidas ao aparelho de automação (HemaScreen® 18) para realização do hemograma completo. Os resultados do hemograma foram realizados tendo-se como valores de referência FELDMAN et al. (2000). Os parâmetros hematológicos avaliados da série branca incluem a contagem de leucócitos totais (LT, x103/dL) e diferenciais: neutrófilos, eosinófilos, monócitos, basófilos e linfócitos, e da série vermelha, a contagem de hemácias (He, mm3), a dosagem de hemoglobina (Hb, g/dL) e a determinação do hematócrito (Ht, %) além da contagem total de plaquetas. Nas amostras de soros foram dosados os teores de uréia (U, mg/dL), creatinina (CREA, mg/dL), proteínas totais (PT, g/dL) e a atividade das enzimas transaminase glutâmico oxalacética (TGO, U/L), transaminase glutâmico pirúvica (TGP, U/L) e fosfatase alcalina (FA, U/L) e proteínas totais em aparelho de automação (Metrolab® 2300 Plus) com Kits específicos utilizando-se as metodologias dos fabricantes. 2.6. Avaliação da atividade das enzimas antioxidantes A atividade da enzima catalase (CAT) foi detectada seguindo o método descrito por Aebi (1984), no qual a atividade da enzima é feita pela mensuração do decaimento de um preparado de peróxido de hidrogênio em espectrofotometria. O método consiste na preparação de um solução contendo o tampão da catalase (TRIS-HCl 1M e EDTA mM) pH 8,0 acrescido de peróxido de hidrogênio a 30%. Previamente, as amostras de sangue 46 em EDTA foram centrifugadas a 4000 rpm por 15 minutos para separação das hemácias do plasma e leucócitos. Em seguida foram realizadas três lavagens das hemácias com solução fisiológica 0,9% sempre descartando o sobrenadante. Após a última lavagem as hemácias foram hemolisadas com água destilada. Para avaliar CAT, 20µL da amostra de sangue hemolisado foi adicionada a 2 mL da solução tampão e lida a uma absorbância de 240 nm. O resultado foi expresso em U/mg Hb. A medida da glutationa peroxidas (GPx) nas hemácias foi determinada utilizando-se o kit Ransel® RS505 (Randox), para a determinação indireta da enzima. A análise é baseada na oxidação da glutationa reduzida (GSH) para glutationa oxidada (GSSG), catalizada pela GPx utilizando a glutationa redutase (GSH-Rd) e fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADPH). A diminuição na absorbância do NADPH medida a 340 nm, durante a oxidação de NADPH para NADP+ é indicativo da atividade de GPx.Os resultados foram expressos em mU/mg Hb. 2.7. Análise estatística Os resultados foram expressos em média e desvio padrão. O teste t de Student não pareado foi utilizado para determinar as diferenças entre os grupos (p< 0,05). O teste de correlação de Pearson foi realizado entre as variáveis GPx, hemácias e hemoglobina e entre CAT, hemácias e hemoglobina. Todos os resultados foram calculados através do programa GraphPadPrism® 5.04. 3. Resultados Para a avaliação laboratorial dos animais dos Grupos A e B foram feitas determinações hematológicas e análises bioquímicas cujos resultados encontram-se na tabela 1. Os valores médios obtidos para os diferentes parâmetros nos Grupos A e B não diferiram significativamente entre os grupos e todos se encontram dentro dos valores de referência para a espécie canina. Contudo, os teores de proteínas totais e de fosfatase alcalina encontram-se elevados no grupo B em relação ao grupo A. Estes dados implicam em um aumento na produção de imunoglobulinas associadas à resposta imune a L. chagasi. A fosfatase alcalina elevada juntamente com a gama glutamil transferase (não determinada) pode estar associada a danos hepáticos. 47 Tabela 1. Parâmetros hematológicos e bioquímicos de cães saudáveis e com LVC. Grupo A Grupo B Valores de Parâmetros (Controle, n=12) (Teste, n=15) Referência* Leucócitos (x10³) 12,934 ± 1,777 12,47 ±2,429 6.000-17.000 Neutrófilos (%) 60,5 ± 17,753 68 ± 5,527 66-77 Linfócitos (%) 35,8 ± 19,949 30,25 ± 5,154 12-30 Monócitos (%) 3,3 ± 2,908 1,667 ± 1,435 3-10 Plaquetas (x10³) 297,667 ± 82,226 254,334 ± 213,213 200-500 Ureia (mg/dL) 33,334± 10,039 16,857 ± 6,212 21,4-59,92 Creatinina (mg/dL) 1,322 ± 0,188 0,996 ± 0,807 0,5-1,5 a b Proteínas totais (g/dL) 6,47 ± 1,11 8,23 ± 1,22 6-8 TGO (U/L) 30,084 ±13,419 24,143 ± 11,753 23-66 TGP (U/L) 42,834 ± 12,890 27,143 ± 13,518 21-102 a b FA (U/L) 109,083 ± 38,313 165,4 ± 46,402 20-156 * FELDMAN et al., 2000. Letras diferentes na mesma linha representam diferenças significativas ao nível de 1%. Como a atividade das enzimas antioxidantes foi realizada nas hemácias, os parâmetros da série vermelha foram colocados juntamente com os resultados da avaliação do estresse oxidativo demonstrados na tabela 2. As médias da contagem de hemácias (p < 0,001), a concentração de hematócrito (p < 0,05) e o teor de hemoglobina (p < 0,01) do grupo B encontravam-se inferiores aos do grupo A. Estes dados diferiram significativamente (p < 0,001) entre os grupos. Tabela 2. Parâmetros hematológicos e marcadores antioxidantes de cães saudáveis e de cães com LVC. Grupo A Grupo B Marcadores (Controle, n=12) (Teste, n=15) Valor de p 6 Hemácias (x10 /dL) 7,012 ± 0,656 5,559 ± 0,451 p<0,001 Hematócrito (%) 52,125 ± 2,439 48,155 ± 5,692 p<0,05 Hemoglobina (g/dL) 16,492 ± 1,308 14,744 ± 1,797 p< 0,01 CAT (U/g Hb) 326,6712 ± 104,528 189,358 ± 90,385 p <0,001 GPx (mU/mg Hb) 5055,622 ±1569,078 3609,659 ± 1569,078 p <0,001 Os valores médios da atividade das enzimas CAT e GPx apresentaram-se inferiores nos animais do grupo B (189,358 ± 90,385; 3609,659 ± 1569,078) em relação aos animais do grupo A (326,6712 ± 104,528; 5055,622 ±1569,078), respectivamente. Estes dados diferiram significativamente (p < 0,001) entre os grupos. Na tentativa de se verificar uma possível correlação entre os parâmetros hematológicos e os marcadores do estresse oxidativo, verificou-se uma correlação 48 positiva entre a contagem de hemácias e CAT, contudo esta correlação não foi significativa. 4. Discussão As alterações relacionadas ao estresse oxidativo podem ser encontradas fisiologicamente em indivíduos saudáveis, porém controlada por mecanismos que levam a homeostase. Por outro lado, indivíduos que se encontram doentes, em sua grande maioria, apresentam um desequilíbrio nos mecanismos redox, favorecendo um intenso estresse oxidativo (DRÖGE, 2002). O indivíduo necessita de um bom sistema de defesa para conseguir reverter a multiplicação dos radicais livres e consequente injúria provocada por eles. Isto é possível através dos agentes antioxidantes que atuam na prevenção oxidativa e na regeneração tecidual e celular, tendo como linha de frente as enzimas glutationa reduzida (GSH), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx) (CAMPOS; YOSHIDA, 2004; NAITO et al., 2010). A leishmaniose canina é uma doença causada por um parasito intracelular obrigatório caracterizada por apresentar evolução crônica com envolvimento sistêmico em diversos órgãos e tecidos do hospedeiro (MAIA-ELKHOURY et al., 2008). A sintomatologia clínica da LVC tem sido associada às alterações imunológicas envolvendo células do sistema fagocítico mononuclear e diferentes populações de linfócitos T efetores dos tipos Th1, Th2 e Treg, caracterizados pela secreção das citocinas específicas das subpopulações celulares, bem como a produção de anticorpos específicos através da produção de diferentes subclasses de imunoglobulinas (BARBIÉRI, 2006; GLAICHENHAUS et al., 2011; KAYE; SCOTT, 2011; FREITAS et al., 2012). O desequilíbrio dos agentes oxidantes e antioxidantes está presente nas diferentes espécies de animais domésticos em diversas situações patológicas, incluindo as doenças infecciosas e parasitárias (LYKKESFELDT; SVENDSEN, 2007; WEBB et al., 2008; CELI, 2010; PALTRINIERI et al, 2010). Neste trabalho é dado ênfase aos marcadores do estresse oxidativo através da avaliação das atividades das enzimas CAT e GPx (Tabela 2), as quais foram detectadas em hemácias. CAT é uma hemeproteína citoplasmática que transforma o peróxido de hidrogênio (H2O2) em oxigênio e água (PACHECO; GONSEBATT, 2009). A atividade enzimática da CAT está presente em todos os tecidos, porém com sua função elevada nos eritrócitos, fígado, rim e tecido 49 adiposo e uma baixa atividade no tecido nervoso (ZAMOCKY et al., 2008). A alta produção do H2O2 deve ser controlada pelo organismo através das enzimas antioxidantes GPx e CAT, o que poderia levar a um grande exigência catalítica destas enzimas. GPx é uma enzima que cataliza a redução do peróxido de hidrogênio (H2O2) utilizando a glutationa como substrato, além de outros hidroperóxidos orgânicos (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1999). Quanto aos parâmetros hemáticos, neste estudo, a contagem de hemácias, a concentração do hematócrito e o nível de hemoglobina de cães naturalmente infectados com L. chagasi estavam reduzidos (p<0,05) em relação ao controle. Resultados semelhantes foram encontrados por Britti et al. (2008). Tem sido relatado que a anemia é um dos achados mais comuns na leishmaniose canina, afetando cerca de 60% dos animais infectados (CIARAMELLA; CORONA, 2003), e em algumas situações é caracterizada como severa somente em cães sintomáticos (REIS et al., 2006). As alterações hematimétricas observadas nos cães com leishmaniose sugerem uma possível correlação da anemia com o aparecimento dos sinais clínicos, que nem sempre é observada (COSTA-VAL et al., 2007). Os eritrócitos contém abundantemente as enzimas SOD, CAT e GPx, portanto, alterações nestas células refletirão nas atividades destas enzimas. Sendo assim, neste trabalho as mudanças no metabolismo de EROs na LVC foram determinadas através de CAT e GPx nos eritrócitos. Em nosso estudo, somente CAT apresentou correlação positiva com a contagem total de hemácias, contudo não foi significativa. Britti et al. (2008) estudando LVC encontraram correlação positiva (p< 0,01) entre a atividade da enzima GPx tanto com hemácias quanto com hemoglobina. No presente estudo foi observado que GPx estava com atividade reduzida. Estes resultados corroboram com o estudo realizado por Britti et al. (2008), que demonstraram uma diminuição da GPx na LVC, embora não tenha sido significativa. Contudo, estes mesmos autores encontraram uma correlação positiva entre a contagem de hemácias e a atividade da GPx e entre os níveis de hemoglobina e a atividade da GPx em animais com LVC. Estes resultados sugerem que a diminuição da atividade detoxificante pode estar relacionada com a diminuição da concentração de eritrócitos e que a atividade da GPx depende das alterações dos mecanismos de controle do sistema antioxidante na LVC. Além disso, este resultado poderia estar associado com a diminuição do número de células sanguíneas nos animais com LVC, pois a GPx é uma 50 enzima eritrocitária que desenvolve importante papel na proteção da hemoglobina contra os danos oxidativos (LUBOS et al., 2011). Bildik et al. (2004) estudando o estresse oxidativo e a atividade antioxidante não enzimática em cães com leishmaniose visceral relataram que os níveis de ácido ascórbico, β-caroteno e ceruloplasmina estavam reduzidos nos animais doentes, porém os mesmos autores encontraram alto nível de malondialdeído (MDA). Estes dados indicam a ocorrência da peroxidação lipídica na LVC. Em nosso trabalho a FA encontrava-se aumentada no Grupo B, corroborando com o que foi encontrado em cães com leishmaniose apresentando hepatite crônica (RALLIS et al., 2005). Estudos avaliando o estresse oxidativo em cães infestados com Sarcoptes scabiei var. canis relataram uma menor atividade da GPx nos animais com escabiose (SINGH et al., 2011) o que levou os autores a conclusão de que a diminuição da enzima pode estar relacionada coma produção excessiva dos agentes oxidante gerados nas células inflamatórias recrutadas para combater o parasito, o que acarretaria na exaustão do sistema antioxidante. Outra enzima antioxidante importante identificada no presente estudo foi a catalase. Animais com LVC apresentaram menor (p <0,001) atividade da enzima CAT em relação aos animais controles. Resultados semelhantes foram encontrados na leishmaniose cutânea em humanos (EREL et al., 1999). Cães com sarna demodécica (Demodex canis) apresentaram uma atividade reduzida da enzima CAT (DIMRI et al., 2008). Outros autores verificaram um aumento na atividade da CAT em cães com parvovirose (PANDA et al., 2009) e babesiose (CHAUDHURI et al., 2008). Este estudo torna-se relevante, pois existem poucos dados na literatura que avaliam o perfil oxidativo na leishmaniose visceral canina. 6. Conclusão Conclui-se que CAT e GPx estão envolvidas no estresse oxidativo da leishmaniose canina, as quais podem funcionar como biomarcadores. Outros estudos são necessários para avaliar o envolvimento completo do estresse oxidativo na participação da patogenia da LVC nas diferentes formas clínicas, além de ser útil no acompanhamento do tratamento desta doença. 8. Referências Aebi, H., 1984. Catalase in vitro. Methods in Enzymology. 105, 121-128. 51 Barbiéri,C.L., 2006. Immunology of Canine leishmaniosis. Par. Immu. 28, 329-337. 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Estes dados nos levam a concluir que CAT e GPx estão envolvidas no estresse oxidativo da LVC e que podem ser utilizadas como biomarcadores. Contudo, outros estudos são necessários para avaliar outros marcadores do estresse oxidativo na patogenia da LVC em suas diferentes formas clínicas. 57 8. PERSPECTIVAS A leishmaniose visceral canina no Brasil é uma doença presente em quase todas as regiões do país e por ser uma zoonose, representa grave problema de saúde pública levando vários desafios para os profissionais da saúde. Desta forma, há uma necessidade cada vez maior de ações voltadas para o controle da leishmaniose visceral canina, já que as infecções nestes animais precedem a infecção humana. Pela grande relevância desta zoonose, todos os estudos que forneçam dados para melhor compreensão da leishmaniose tornam-se importantes, pois muitos fatores ainda não são bem esclarecidos na patogenia da doença. Assim, os resultados encontrados neste trabalho são os primeiros descritos na literatura na leishmaniose visceral canina no Brasil. Novos estudos devem ser realizados com o objetivo de avaliar o estresse oxidativo de maneira sistêmica e nos diferentes órgãos e tecidos dos animais infectados por L. chagasi. 58 9. REFERÊNCIAS ABREU-SILVA, A.L.; LIMA, T.B; MACEDO, A.A.; DIAS, E.; BATISTA, Z.S.; CALABRESE, K.S.; MORAES, J.L.; RABÊLO, J.M.; GUERRA, R.M. Soroprevalência, aspectos clínicos e bioquímicos da infecção por Leishmania em cães naturalmente infectados e fauna de flebotomíneos em uma área endêmica na ilha de São Luís, Maranhão, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 17, supl. 1, p. 197-203, 2008. ABBAS, A. B. ; LITCHMAN A. H. ; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 564p. AGA, E.; KATSCHINSKI, D.M.; van ZANDBERGEN, G.; LAUFS, H.; HANSEN, B.; MULLER, K.; SOLBACH, W.; LASKAY, T. . 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