Guiomar Nascimento de Oliveira R4 Neurologia Introdução Critérios diagnósticos de DA: DSM IV e National Institute of Neurological Disorders and Stroke – Alzheimer Disease and Related Disorders (NINCDS-ADRDA) working group 1º passo: identificação de síndrome demencial 2º passo: características clínicas compatíveis DSM IV: 9 alteração de memória + 9 comprometimento de outro domínio cognitivo função social ¾ atividades da vida diária (AVD) ¾ AVD: comprometimento cognitivo → demência Critérios clínicos NINCDS-ADRDA de DA provável: 9 9 não requerem evidência de interferência com funcionamento ocupacional ou social início insidioso, ausência de doenças sistêmicas ou cerebrais que podem contribuir para déficits progressivos cognitivos Diagnóstico definitivo (NINCDS-ADRDA) → confirmação histopatológica Grandes avanços na elucidação das bases biológicas da DA Marcadores da doença: 9 Alterações estruturais na RNM (LTM) 9 Alterações moleculares (PET/SPECT) 9 Marcadores liquóricos Caracterização de estágios precoces que precedem a instalação de demência (comprometimento funcional) 9 DA prodrômica: funcionamento cognitivo que se diferencia do envelhecimento normal Sinonímia: comprometimento da memória associado à idade, declínio cognitivo associado à idade, desordem cognitiva leve, desordem neurocognitiva leve, comprometimento cognitivo sem demência, comprometimento cognitivo leve (CCL) CCL: maiores taxas de progressão para demência 9 10-15% ao ano (amnésico > não amnésico) 9 1-2% ao ano entre idosos normais CCL Critérios diagnósticos (International Working Group on MCI – Estocolmo - 2004) 9o indivíduo não está normal, mas não preenche critérios de demência DSM-IV ou CID 10 9evidência de declínio cognitivo (indivíduo e acompanhante) e déficits demonstrados objetivamente em testes cognitivos; e/ou evidência de declínio em testes neuropsicológicos objetivos ao longo do tempo 9atividades básicas da vida diária preservadas, funções instrumentais complexas intactas ou minimamente comprometidas Necessidade de revisão dos critérios ¾ • Pouca especificidade DSM IV, NINCDS-ADRDA: acurácia diagnóstica 65-96% Especificidade em relação a outras demências: 23-88% ¾ Melhora do reconhecimento de demências não Alzheimer Degeneração lobar fronto-temporal (DFT variante frontal, demência semântica, afasia progressiva nãofluente), degeneração cortico-basal, atrofia cortical posterior, DCL, DV: possuem critérios diagnósticos ªCritérios desenvolvidos visando alta especificidade Critérios específicos aplicáveis antes da demência claramente manifesta (APP, DCB, ACP) Avanços no diagnóstico histopatológico ¾ Melhora na identificação fenotípica DA: Amnésia progressiva (memória episódica): 86-94% Descrição das alterações patológicas (estruturas temporais mediais – córtex entorrinal, formação hipocampal, giro parahipocampal –envolvidas precocemente) Correlação das alterações da memória episódica com distribuição de emaranhados neurofibrilares no LTM e com perda volumétrica hipocampal na RNM ¾ Necessidade de testar intervenção precoce: Intervenções terapêuticas experimentais Intervenção precoce com terapia modificadora da doença pode ser mais efetiva se carga menor de proteína β amilóide e TAU hiperfosforilada pode encurtar os efeitos de eventos secundários como inflamação, oxidação, excitotoxicidade e apoptose pior resultado das intervenções qdo comprometimento funcional Revisão dos critérios pode permitir diagnóstico precoce antes de demência clinicamente manifesta 9 9 9 • ¾ Comprometimento cognitivo leve: problemas com definição Útil em ensaios clínicos direcionados para postergar a instalação da DA Taxas anuais de progressão para demência variam de acordo com critérios de inclusão tratamento de pacientes sem DA ou que não iriam progredir redução da eficácia potencial desfecho negativo (nenhuma das drogas tiveram sucesso em postergar o tempo até o diagnóstico) aumento do custo 9 9 9 9 9 9 Inclusão de pacientes com CCL mais severo melhora da sensibilidade, especificidade, valor preditivo diminuir o ganho clínico, dificuldades na modificação da doença Achados neuropatológicos: • Heterogeneidade das desordens sob tal denominação clínica • Classificar CCL em subtipos • CCL amnésico: sintomas subjetivos de memória, comprometimento objetivo da memória, demais domínios cognitivos e atividades da vida diária normais 9 70% desses indivíduos que progridem para demência preenchem critérios neuropatológicos para DA 9 Critérios clínicos isolados perdem em especificidade para predizer futuro desenvolvimento de DA ¾ Distinção incerta entre CCL e DA Transição de CCL para DA: desfecho primário em estudos randomizados Desfecho binário x processo contínuo Influências na detecção da transição: experiência clínica individual, qualidade das informações sobre status cognitivo e funcional ¾ Novos biomarcadores: RNM, PET com fluorodeoxiglicose (FDG), biomarcadores liquóricos Preditividade diagnóstica estendida para CCL Proteínas específicas in vivo (PiB, FDDNP): identificação acurada de DA prodrômica ou pré-clínica Objetivos 2005: convocado grupo de trabalho para discutir ferramentas diagnósticas para DA (estágios prodrômicos e integração de biomarcadores), definição de futuras metas e passos para validação de tais ferramentas dispõe as ferramentas para critérios revisados para DA aplicáveis em estágios precoces e durante toda a doença Critérios diagnósticos propostos para DA provável Exclui apresentações atípicas, síndromes focais corticais → diagnóstico antemortem de DA, no máximo, possível Ausência de biomarcadores completamente específicos: diagnóstico clínico é, apenas, probabilístico DA provável: critérios A (critérios clínicos centrais), pelo menos 1 dos critérios B,C,D ou E (critérios de suporte) Critério diagnóstico central: comprometimento de memória episódica (A) 1. Alteração gradual e progressiva da memória no início da doença relatada por pacientes ou informantes por período maior que 6 meses Valorizar queixa subjetiva de memória Percepção dos sintomas por informante 2. Evidência objetiva de comprometimento significante de memória episódica nos testes Déficit de reconhecimento com intrusões Recordação tardia discrimina DA leve de controles normais com alta acurácia (>90%) Prediz DA prodrômica melhor que outras medidas (acurácia > 80%) Recordação tardia é preditor confiável de DA em pacientes com CCL Déficits de codificação e armazenamento característicos de DA: distinguir de déficits atencionais da depressão, estratégias de recuperação ineficientes associadas ao envelhecimento normal, DFT, demências frontais subcorticais 3. Comprometimento de memória episódica pode ser isolado ou associado a outras alterações cognitivas no início ou durante a progressão da doença Envolvimento de funções executivas (conceitualização com comprometimento do pensamento abstrato, memória de trabalho com diminuição da amplitude de dígitos, ordenação mental, ativação de cenários mentais com diminuição da fluência verbal), linguagem (dificuldades de nomeação e compreensão), praxia (comprometimento da imitação, produção e reconhecimento de gestos), gnosia e processamento visual complexo (comprometimento do reconhecimento de objetos ou faces) Sintomas neuropsiquiátricos: apatia, delírios (menos específicos, mais prevalentes em fases avançadas) Características de suporte Atrofia de estruturas temporais mediais na RNM: 71-96% na DA. Relação com gravidade da doença 59-79% no CCL 29% no envelhecimento normal Taxas qualitativas de atrofia hipocampal, técnicas quantitativas com segmentação tecidual e computação volumétrica digital (sensibilidade e especificidade > 85% na separação de DA e controles normais pareados por idade) • Medidas qualitativas: 9 podem distinguir DA de demências não DA (DV, DFT, demência de causa inespecificada) qdo combinada com MMSE e taxa de atrofia hipocampal (sensibilidade e especificidade > 85%) medidas qualitativas de LTM podem identificar DA prodrômica: sensibilidade 51-70% e especificidade 6969% → limitação do uso CCL: atrofia de LTM tem baixa acurácia na identificação de DA prodrômica (ind. sem critérios para DA ao fim do estudo poderiam tê-los mais tarde) 9 9 • Medidas quantitativas: 9 volume hipocampal na identificação de DA prodrômica: utilidade preditiva inconsistente medidas de sub-regiões hipocampais podem ser mais úteis Análise combinada de estruturas vizinhas ao LTM podem ser mais sensíveis para patologia DA precoce (volume do córtex entorrinal identifica DA prodrômica com mais acurácia do que volume hipocampal (sensibilidade 83%, especificidade de 73%) 9 9 9 9 Volume do LTM e LTL ou giro do cíngulo anterior: detecção de DA prodrômica com sucesso variável (sensibilidade 68-93%, especificidade 48-96%) Forte correlação entre volume do LTM e memória episódica → valor na identificação de DA prodrômica 9 Adição de idade e escores de memória às medidas de LTM: melhora da acurácia de 74-81% para 88-96% na identificação de DA prodrômica Atrofia de LTM como critério diagnóstico de DA independente da idade de apresentação: é mandatória a exclusão de anormalidades estruturais (isquemia e esclerose hipocampais bilaterais, encefalite pos HSV, ELT) Discriminação: RNM T2, história, EF, LCR, EEG • Biomarcadores liquóricos anormais: NINCDS – ADRDA: LCR para exclusão de demência não DA (inflamação, vasculite, desmelinização) Amilóide β 42, TAU total, TAU fosforilada DA: baixas concentrações de Aβ 42 ( normal na depressão, baixa em DCL, degeneração lobar fronto-temporal e DV) altas concentrações de TAU total (normal na depressão, pouco aumentada na DCL e DLFT, muito alta em DCJ) P-TAU 231: aumenta especificidade para DA 9 9 9 9 Blennow K e cols. Lancet Neurol 2003: diferenciação entre DA x controles Aβ 42: sensibilidade 86% e especificidade 90% (13 estudos com 600 pacientes e 450 controles). T-TAU: sensibilidade 81% e especificidade 90% (36 estudos com 2500 pacientes e 1400 controles) Combinações da concentração de Aβ 42 e t-TAU para DA x controles: sensibilidade 84% e especificidade 83100% Lancet Neurol 2006: combinação de marcadores anormais (Aβ 42 baixa, t-TAU alta, p-TAU 181 alta): predizer DA em seguimento de 4-6 anos. Sensibilidade > 90% e especificidade > 85% Inclusão justificada nos critérios • Neuroimagem molecular PET, SPECT: aferição in vivo, por radioisótopos, de fluxo sanguíneo (99mTc-HMPAO, 133Xe), metabolismo da glicose (18F-FDG PET), agregados de proteína amilóide e proteína TAU Aumenta a especificidade dos critérios diagnósticos Critérios diagnósticos mais comuns: redução do metabolismo de glicose em reg. temporo-parietais e giro do cíngulo posterior hipometabolismo temporo-parietal é usado para discriminar entre DA e controles normais (sensibilidade e especificidade de 86%) PET: 9 detecção de DA prodrômica: hipometabolismo em giro do cíngulo anterior, posterior, córtices temporal, parietal, temporal medial (acurácia estimada em 75-84%) distinção entre DA e CCL: sensibilidade 86-92% e especificidade 80-81% • baixos escores de recordação tardia: sensibilidade e especificidade > 90% 9 9 9 9 • • PiB e FDDNP: aumento da retenção do radioisótopo em pacientes com DA comparados com indivíduos controles (consistente com patologia tipo DA) Retenção cortical do PiB: baixas concentrações liquóricas de Aβ 42 em pacientes com DA Retenção de PiB DA-like: controles normais(DA préclínica?), CCL (DA prodrômica?), falso-positivos? discriminação de DFT: sensibilidade de 78% e especificidade de 71% DA x DV: acurácia limitada (sensibilidade de 75-88%, especificidade 18-53%) SPECT 9 Mais barato, maior disponibilidade Não incluído nos critérios propostos (acurácia diagnóstica < 80%) 99M Tc-HMPAO: hipoperfusão temporal bilateral aumenta certeza diagnóstica CCL: hipoperfusão temporal, parietal e pré-cúneus: DA inicial (acurácia > 80%) amostras pequenas, metodologia não prospectiva 9 9 9 9 9 9 DA x não - DA (controles normais): sensibilidade 65-71%, especificidade de 79%) DA x DFT: sensibilidade 71%, especificidade 78% DA x DV: sensibilidade 71%, especificidade 75% IMPY (tioflavina derivado): •marca agregados de proteína β amilóide •excelente captação com rápida depuração •promessa futura • Mutações genéticas familiares 9 mutações autossômicas dominantes: cromossoma 21 (proteína precursora amilóide), • cromossoma 14 (presenilina 1), • cromossoma 1 (presenilina 2) Critérios de exclusão Início abrupto Sinais focais (hemiparesia, perda sensitiva, déficits de campo visual) crises, alt de marcha, sinais extrapiramidais precoces Desordens neurológicas ou psiquiátricas que contribuam para deterioração de memória Sinais de alerta: distúrbios precoces de comportamento (desinibição, euforia, psicose), sintomas extra-piramidais precoces, alucinações visuais precoces, comprometimento visuo-espacial precoce, flutuações cognitivas marcadas, distúrbio comportamental do sono REM Não caracterizam DA provável: 9 DCV severa o suficiente para causar déficits funcionais e cognitivos sintomas sugestivos de DCL (flutuações pronunciadas da atenção e da cognição, alucinações visuais complexas recorrentes, parkinsonismo) ou outra demência não DA delirium, quadro tóxico-metabólico, alteração do nível de consciência 9 9 Discussão Critérios oportunos, práticos e exeqüíveis Fenótipos clínicos apoiados por anormalidades cerebrais estruturais, moleculares, bioquímicas e mutações genéticas Desenvolvimento de drogas direcionadas à modificação da patogênese da doença (imunoterapia amilóide, inibidores e moduladores gama e beta secretase, ativadores alfa secretase, inibidores da TAU-kinase, fatores de crescimento neural) Permitir diagnóstico mais precoce e preciso do que critérios anteriores Definir DA em termos clínicos, estruturais, bioquímicos e metabólicos Desafio: identificar DA antes da injúria patológica irreversível Critério A: déficit de memória episódica (86-94%) + Critérios B, C, D, ou E: Fenótipo clínico em combinação com critérios de suporte: abordagem mais equilibrada Perspectivas futuras: 9 pesos diferentes aos critérios de suporte 9 recomendar combinações de diferentes critérios de suporte 9 recomendar presença de todos os critérios de suporte 9 introdução de novos critérios Importantes diagnósticos diferenciais 9 Desordens amnésicas não DA associadas com LTM: isquemia bilateral, esclerose hipocampal, encefalite límbica, ELT Desordens neurodegenerativas não DA: emaranhados, grânulos argirofílicos Depressão: alt de memória episódica e alterações no volume hipocampal 9 9 Podem satisfazer critérios A e B ¾ Testes de memória específicos, alteração de sinal em T2 no LTM, outras: auxílio diagnóstico ¾ 9 Demências não DA (degeneração lobar fronto-temporal, DV, DCL): apresentação amnésica semelhante Doença mista: ¾ ¾ Comorbidade presente, mas não como causa principal da síndrome demencial Alteração específica de memória + evidências adicionais das alterações patológicas subjacentes reduzem as chances de atender a mais de 1 conjunto de critérios • Critérios descrevem DA típica ¾ Sínd. corticais focais (degeneração cortical posterior), formas frontais → genótipo apolipoproteína Formas atípicas: 6-14% ¾ Limitações • 9 • 9 9 9 9 Critério central magnitude dos déficits, normas comparativas ? Imagem estrutural: melhor método ou teste específico para avaliar atrofia do LTM? qualitativo ou quantitativo? região do LTM a ser medida? volume ótimo de atrofia para diagnóstico? 9 Neuroimagem molecular: regiões ótimas para diagnóstico? abordagem quantitativa x qualitativa grau de hipometabolismo diagnóstico? • LCR: qual (is) marcador (es) apóia (m) diagnóstico? • 9 9 • 9 9 9 9 9 Estudos de validação: Avaliar sensibilidade e especificidade para predizer declínio cognitivo Comparar com critérios NINCDS-ADRDA: maior especificidade ? Avaliar sensibilidade e especificidade do diagnóstico patológico de DA e outras demências Utilização dos 4 critérios em diferentes estágios (prodrômico), seguimento longo, exame post-mortem Requerem habilidades técnicas e recursos financeiros significantes, abordagem multidisciplinar