A recolha de pólen e o impacto na produção de mel na região
de Trás-os-Montes e Alto Douro
Emília Carolina Fernandes Caminha
Dissertação apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para obtenção do Grau de
Mestre em Gestão de Recursos Florestais
Orientado por
Professor Doutor Miguel José Rodrigues Vilas-Boas
Bragança
2014
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Agradecimentos
Ao Professor Doutor Miguel Vilas Boas, meu orientador, pelo apoio
incondicional, disponibilidade, atenção dispensada, incentivo e conhecimentos
transmitidos.
Ao Professor Doutor Paulo Russo-Almeida, pelas análises efetuadas,
disponibilidade, atenção dispensada, incentivo e conhecimentos transmitidos.
À Andreia, pela ajuda nos procedimentos laboratoriais, incentivo, amizade,
disponibilidade, conhecimentos transmitidos e sugestões efetuadas.
Ao Senhor Ilídio Pina pelo apoio, disponibilidade, ajuda sempre presente,
amizade e cedência dos apiários para realização do trabalho experimental.
Aos meus primos, João Paulo, Pedro e Luís pela disponibilidade, apoio, amizade
e toda a ajuda prestada.
Aos meus amigos Dulcínia e Hélder por todo o apoio, amizade, incentivo,
sempre disponíveis em ajudar e pelos conselhos transmitidos.
À minha irmã, sempre presente, pela compreensão, carinho, amizade,
disponibilidade e conhecimentos transmitidos e ao Juan, pela amizade, disponibilidade e
apoio informático.
Aos meus pais porque sem eles esta etapa não seria possível, pelo apoio, amor,
paciência e carinho.
A toda a minha família e a todos aqueles que direta ou indiretamente me
apoiaram neste percurso e que não se encontram aqui mencionados, pelo apoio,
disponibilidade e amizade.
ii
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Resumo
O pólen apícola resulta da aglutinação do pólen das flores efetuada pelas abelhas,
mediante o acréscimo de substâncias salivares e pequenas quantidades de néctar ou mel.
Enquanto o mel é armazenado na colmeia dependendo da disponibilidade de néctar na
vizinhança da colmeia, o pólen apenas é recolhido pelas abelhas consoante as
necessidades da colónia, representando a sua principal fonte de proteínas.
A recolha de pólen para consumo humano pode ser realizada através da
colocação de um dispositivo capta-pólen à entrada da colmeia o que provoca a queda das
cargas polínicas transportadas pelas abelhas nas patas posteriores. Este produto apícola é
uma fonte complementar do rendimento do apicultor, mas o sucesso da sua produção é
dependente das caraterísticas da flora em redor do apiário e do impacto que a captura de
pólen representa na produção de mel. Este trabalho tem por objetivo avaliar e caraterizar,
em duas regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro, a produção de pólen e o seu o impacto
na produção de mel, com a aplicação de diferentes metodologias de recolha.
A recolha de pólen realizou-se em quatro apiários, dois no concelho de Vila
Nova de Foz Côa e dois no concelho em Bragança. Em três apiários, Castelo Melhor
(CM), em Vila Nova de Foz Côa, Vale das Vinhas (VV) e Reboleira (REB), em Bragança,
selecionaram-se 10 colónias, divididas em dois grupos de 5 colónias cada, um para
controlo e outro para a produção de pólen. Num dos grupos colocaram-se capta-pólenes
com a grelha fechada durante dois dias para a recolha, abrindo-se nos dois dias seguintes
para permitir a entrada de pólen para a colónia. No quarto apiário, Senhora do Campo
(SC), em Vila Nova de Foz Côa, utilizaram-se quinze colónias, estabelecendo-se três
grupos de trabalho com cinco colónias cada. Colocaram-se os capta-pólenes em dez
colmeias (dois grupos) e servindo as restantes cinco como grupo de controlo. Num dos
grupos a grelha do capta-pólen permaneceu ininterruptamente fechada durante todo o
período experimental, enquanto no restante grupo com capta-pólen o processo de recolha
de pólen foi idêntico ao descrito para os restantes apiários.
A colheita de pólen realizou-se de abril a junho nos apiários de Vila Nova de
Foz Côa, e entre maio e julho nos apiários de Bragança. No final da época de produção,
efetuou-se a cresta das meias-alças e a quantificação do mel produzido por colónia.
Nos apiários de Vila Nova de Foz Côa constatou-se que a maior produção de
pólen ocorreu num período de três semanas, entre os finais de abril até meados de maio,
iii
_____________________________________________________________________________
com um máximo de produção observado no início de maio. Após este período a produção
reduz-se, o que refletirá a menor disponibilidade de plantas produtoras de pólen.
Comparando a produtividade global dos dois métodos de recolha aplicados, é evidente o
ganho na produção de pólen com a colocação contínua das grelhas correspondendo a um
aumento de 50% na quantidade de pólen obtido, atingindo uma média de 2 kg de pólen
por colmeia.
Para os apiários localizados no concelho de Bragança os picos de produção de
pólen foram muito diferentes dos restantes, ocorrendo a maior produção de pólen de
meados de junho até meados de julho, uma vez que a floração nestas regiões ocorre
desfasada. Ao nível da produção, verificou-se também uma maior persistência na
quantidade de pólen recolhida em Bragança, prolongando-se as maiores produções nos
apiários de Bragança durante seis semanas. Este prolongamento do período refletiu-se
num ganho de produção superior a 47%, evidenciando as vantagens desta localização.
A origem floral do pólen recolhido é muito dependente da localização geográfica
e varia significativamente com a época. No entanto, e considerando os períodos de maior
recolha de pólen nos diferentes apiários, é de realçar a importância do contributo das
Cistaceas (Cytisus sp) e Fabaceas (Cistus sp,) para os primeiros picos de produção,
atribuindo-se à família Fagacea (Castanea sativa) em finais de junho e inícios de julho o
aumento da produção de pólen na região de Bragança.
Relativamente às caraterísticas das cargas polínicas, o pólen recolhido em Vila
Nova de Foz Côa apresentou valores de humidade inferiores (16%) comparativamente
com o pólen dos apiários de Bragança (21%), registando-se globalmente valores abaixo
dos 30% descritos na literatura para o pólen fresco. O peso das cargas polínicas também
oscilou ao longo do tempo, registando-se em três dos apiários uma redução, o que parece
apontar para uma adaptação das abelhas em pastoreio ao capta-pólen com o objetivo de
aumentar a eficiência da entrada de pólen na colmeia.
Quanto à produção de mel, as quantidades produzidas nos apiários de Bragança
foram superiores comparativamente com os de Vila Nova de Foz Côa, verificando-se nas
colmeias com capta-pólen uma redução média de 18%, o que vem comprovar o impacto
negativo da colocação do capta-pólen na produção de mel. Este decréscimo de
produtividade é, no entanto, compensado pelo aporte de pólen com um valor comercial
superior ao do mel.
Palavras-chave: apicultura, pólen apícola, análise polínica, produção de mel
iv
_____________________________________________________________________________
Abstract
Bee pollen is the result of the agglutination of pollens from the flowers, made by
worker honey bees with the addition of nectar or honey and salivary substances. While
honey is stored in hive depending on the availability of nectar in the vicinity of the hive,
pollen is only collected by bees depending on the needs of the colony, representing the
main source of protein.
The collection of pollen for consumption can be achieved through the placement
of pollen traps at the entrance of the hive, what causes the falling of the pollen loads
carried by bees in the back legs. This hive product is a complementary source of income
for the beekeeper, but the success of its production depends on the flora characteristics
around the apiary and the impact that pollen capture can represent on honey production.
The aim of this study is to evaluate and characterize, in two regions of Trás-os-Montes e
Alto Douro, the production of pollen collection and its impact on the production of honey,
using different collection methodologies.
The pollen collection was held in four apiaries, two in Vila Nova de Foz Côa
county and two in Bragança county. In three apiaries, Castelo Melhor (CM), in Vila Nova
de Foz Côa, Vale das Vinhas (VV) and Reboleira (REB), in Bragança, 10 colonies were
selected and divided into two groups, one for control and one for the production of pollen.
In 5 hives the pollen traps were placed and the grid was kept closed for two days for
collection, and opened in the following two days to allow the entry of some pollen to the
colony. On the fourth apiary, Senhora do Campo (SC), in Vila Nova de Foz Côa, 15
colonies were used for the establishing of three working groups, each with five colonies.
Ten of those hives were fitted with pollen traps (two groups) while the other five hives
were used as control group. In one of the groups with pollen traps, the grid was kept
continuously closed during the entire experimental period, while in the remaining group
with pollen traps the process for pollen collecting was identical to that described above
for the other apiaries.
The harvesting season of pollen was held from April to June in the apiaries of
Vila Nova de Foz Côa, and between May and July in the apiaries located at Bragança. At
the end of the season, the honey on the suppers was harvested and quantified individually
by colony.
v
_____________________________________________________________________________
In the apiaries of Vila Nova de Foz Côa the greater pollen production occurs
within a period of three weeks between the end of april until mid-May, with a maximum
observed at the beginning of May. After this period, the production is reduced, which
may reflect the lower availability of pollen producer plants. Comparing the overall
productivity of the two collection methods evaluated, there is a clear gain in pollen
production with the placement of continuous grids corresponding to an increase of 50%
in the amount of pollen obtained, reaching an average of 2 kg of pollen per hive.
In the apiaries located in Bragança county, the peaks of pollen production were
very different from those others, occurring a greater collection of pollen from mid-June
to mid-July, due to the flowering offset between these regions. A greater persistence in
the amount of pollen collected in Bragança was also observed, with the productions levels
remaining high for six weeks. This longer period reflects a gain of more than 47 %,
highlighting the advantages of this location.
The floral origin of pollen collected is very dependent on the geographical
location and varies significantly with the season, however, and considering the periods of
greatest collection of pollen in the different apiaries, is clear the importance of the
contribution of Cistaceas (Cytisus sp) and Fabaceas (Cistus sp) to the first production
peaks, while the family Fagacea (Castanea sativa) in late June and early July was
responsible for the increase on pollen production in the region of Bragança.
Regarding the characteristics of the pollen loads, the pollen collected in apiaries
of Vila Nova de Foz Côa presents lower values of humidity (16 %) compared with the
pollen from the apiaries of Bragança (21 %), with overall values below 30 % as described
in the literature for fresh pollen. The weight of the pollen loads also revealed a fluctuation
over time, highlighting the weight reduction in three of the apiaries, which seems to point
for an adaptation of honey bees to the pollen trap, as an intent of increasing the efficiency
of pollen uptake in the hive.
The honey production in Bragança apiaries were higher compared with those
from Vila Nova de Foz Côa, with the hives where the pollen traps were installed revealing
an average decrease of 18 %. This confirms the negative impact of pollen collection in
the honey production. This decrease of productivity is, however, counterbalance by the
contribution of bee pollen as new product from the hive, with a greater commercial value
than honey.
Keywords: beekeeping, bee pollen, pollen analysis, honey production
vi
_____________________________________________________________________________
Índice Geral
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................ II
RESUMO ........................................................................................................................................... III
ABSTRACT......................................................................................................................................... V
ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................................................... IX
ÍNDICE DE TABELAS ....................................................................................................................... X
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1
1.1.
CARACTERIZAÇÃO DA APICULTURA EM PORTUGAL .............................................................. 2
1.2.
MEL ...................................................................................................................................... 6
1.3.
PRÓPOLIS .............................................................................................................................. 9
1.4.
GELEIA REAL ...................................................................................................................... 10
1.5.
CERA ................................................................................................................................... 10
1.6.
VENENO .............................................................................................................................. 11
1.7.
PÓLEN ................................................................................................................................. 12
1.7.1.
Estrutura do grão de pólen ......................................................................................... 13
1.7.2.
Composição do pólen .................................................................................................. 14
1.7.2.1.
Proteínas e aminoácidos........................................................................................................ 14
1.7.2.2.
Lípidos................................................................................................................................. 15
1.7.2.3.
Hidratos de carbono.............................................................................................................. 15
1.7.2.4.
Fibra bruta ........................................................................................................................... 16
1.7.2.5.
Minerais ............................................................................................................................... 16
1.7.2.6.
Vitaminas............................................................................................................................. 16
1.7.2.7.
Compostos bioactivos ........................................................................................................... 16
1.7.3.
Pólen apícola .............................................................................................................. 17
1.7.4.
Características físicas e sensoriais .............................................................................. 18
1.7.5.
Colheita de pólen apícola ............................................................................................ 19
1.7.6.
Processamento de pólen apícola ................................................................................. 21
1.7.7.
Parâmetros de qualidade do pólen apícola .................................................................. 22
1.8.
FLORA APÍCOLA .................................................................................................................. 23
1.9.
OBJETIVOS DO ESTUDO ....................................................................................................... 24
CAPÍTULO 2
MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................................ 26
2.1.
LOCAL DE AMOSTRAGEM .................................................................................................... 27
2.2.
VITALIDADE ........................................................................................................................ 28
vii
_____________________________________________________________________________
2.3.
ORGANIZAÇÃO DOS APIÁRIOS ............................................................................................. 28
2.4.
COLHEITA DAS AMOSTRAS .................................................................................................. 30
2.5.
SECAGEM ............................................................................................................................ 30
2.6.
AVALIAÇÃO DAS CARGAS POLÍNICAS................................................................................... 31
2.7.
AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MEL .................................................................................... 32
CAPÍTULO 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................................... 33
3.1.
VITALIDADE DAS COLÓNIAS ................................................................................................ 34
3.2.
PRODUÇÃO DE PÓLEN .......................................................................................................... 35
3.3.
CARACTERIZAÇÃO DAS CARGAS POLÍNICAS ........................................................................ 40
3.3.1.
Determinação da origem floral ................................................................................... 40
3.3.2.
Humidade do pólen..................................................................................................... 44
3.3.3.
Peso das cargas polínicas ........................................................................................... 46
3.4.
PRODUÇÃO DE MEL ............................................................................................................. 48
CAPÍTULO 4
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 57
viii
_____________________________________________________________________________
Índice de figuras
Figura 1 - Zonas Controladas em Portugal ................................................................................. 6
Figura 2 - Própolis a isolar a colmeia......................................................................................... 9
Figura 3 - Geleia real .............................................................................................................. 10
Figura 4 - Cera de abelha ........................................................................................................ 11
Figura 5 - Esquema de uma flor adulta .................................................................................... 13
Figura 6 - Estrutura da parede do grão de pólen ....................................................................... 14
Figura 7 - Abelha a colher pólen com as cargas polínicas nas patas ......................................... 18
Figura 8 - Capta-pólen de plástico ........................................................................................... 20
Figura 9 - Localização geográfica dos apiários(a) concelho de Bragança; (b) concelho de Vila
Nova de Foz Côa. ................................................................................................................... 27
Figura 10 - Capta-pólen com a grelha fechada (posição de captura) ......................................... 29
Figura 11 - Capta-pólen com a grelha aberta ........................................................................... 29
Figura 12 - Capta-pólen com pólen ......................................................................................... 30
Figura 13 - (a) Amostragem das 100 cargas polínicas (b) Separação por cores ......................... 31
Figura 14 - Cresta no apiário Reboleira (REB) ........................................................................ 32
Figura 15 - Produção de pólen no concelho de Vila Nova de Foz Côa: (a) apiário de Castelo
Melhor; (b) apiário de Senhora do Campo ............................................................................... 36
Figura 16 - Produção de pólen no concelho de Bragança: (a) apiário de Vale das Vinhas (VV);
(b) apiário da Reboleira (REB) ................................................................................................ 38
Figura 17 - Composição do pólen no apiário Castelo Melhor (CM) ......................................... 41
Figura 18 - Composição do pólen no apiário da Senhora do Campo: (a) metodologia A; (b)
metodologia B ........................................................................................................................ 42
Figura 19 - Composição do pólen nos apiários: (a) Reboleira (REB) e (b) Vale das Vinhas (VV)
............................................................................................................................................... 43
Figura 20 - Humidade do pólen ............................................................................................... 45
Figura 21 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário Castelo Melhor (CM) ...... 46
Figura 22 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário Senhora do Campo (SC): (a)
Grupo A e (b) Grupo B ........................................................................................................... 47
Figura 23 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário: (a) Vale das Vinhas -VV e
(b) Reboleira – REB................................................................................................................ 48
Figura 24 - Produção de mel nos apiários de Castelo Melhor (CM), Senhora do Campo (SC),
Vale das Vinhas (VV) e Reboleira (REB) ................................................................................ 49
ix
_____________________________________________________________________________
Índice de tabelas
Tabela 1 - Caracterização da atividade apícola .......................................................................... 3
Tabela 2 - Distribuição da atividade apícola .............................................................................. 4
Tabela 3 - Composição do mel .................................................................................................. 7
Tabela 4 - Principais componentes do pólen ............................................................................ 14
Tabela 5 - Orientações básicas a ter em conta no circuito do pólen .......................................... 22
Tabela 6 - Parâmetros de qualidade do pólen ........................................................................... 23
Tabela 7 - Vitalidade das colónias nos vários apiários ............................................................. 34
Tabela 8 - Produção de mel por colmeia (kg) e desvio-padrão nos vários apiários .................... 50
x
_____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1
_____________________________________________________________________________
O sector apícola tem extrema importância na produtividade agrícola, na
manutenção dos ecossistemas e espaços naturais, no equilíbrio ecológico da flora e na
preservação da biodiversidade, ou seja, num aproveitamento integrado e economicamente
sustentável do espaço rural. Representa assim um serviço vital para a agricultura através
da polinização e contribui ao mesmo tempo para a preservação da biodiversidade, ao
manter a diversidade genética das plantas e o equilíbrio ecológico (Ministério da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, 2013).
É indiscutível a importância de cada espécie no equilíbrio natural do planeta. No
caso das abelhas é possível determinar uma relação causa/efeito imediata, quer em termos
económicos diretos nas explorações apícolas, quer indiretamente na polinização de
espécies cultivadas e na vegetação espontânea.
É durante o processo de alimentação das abelhas através da recolha do néctar
produzido nas flores das plantas angiospérmicas e de pólen produzido nas anteras das
flores, que as abelhas efetuam a polinização das plantas, transportando os grãos de pólen
para a parte feminina das flores onde ocorre a fecundação (Branco e Godinho, 2012).
A apicultura em Portugal é direcionada quase exclusivamente para a produção
de mel, garantindo aos consumidores, cada vez mais interessados em produtos naturais,
um produto de alta qualidade. Este mercado é, no entanto, muito competitivo, sofrendo
os apicultores Portugueses uma forte concorrência de mel oriundo de outras partes do
globo como a Ásia e América do Sul, vendido abaixo do custo de produção. Assim, é
muito importante diversificar a produtividade desta atividade encontrando alternativas
que representem vantagens económicas, como seja a colheita de pólen. Na verdade, a
produção de pólen a nível nacional é escassa talvez devido ao desconhecimento por parte
dos apicultores de informação sobre a produtividade e métodos adequados para a sua
conservação, e por parte dos consumidores, dos atributos que este produto possui. Como
resultado, a maioria do pólen consumida em Portugal é importado de Espanha.
(Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas, 2010)
1.1. Caracterização da apicultura em Portugal
A apicultura é uma atividade praticada há pelo menos 6 000 anos, conforme se
pode verificar pelas pinturas rupestres descobertas em Valência, Espanha, que retratam a
colheita de mel (Bogdanov, 2014f).
2
_____________________________________________________________________________
Portugal usufrui de um clima temperado, com influência mediterrânica, propício
à prática agrícola, nomeadamente, a apicultura. Atualmente existem em Portugal cerca de
17 mil apicultores registados, traduzindo-se, aproximadamente, em 40 mil apiários e 567
mil colmeias. Na Tabela 1 apresentam-se os dados relativos à evolução desta atividade
entre 2010 e 2013. Da sua análise verifica-se uma diminuição do número de apicultores,
um ligeiro aumento do número de colmeias (menos de 1%) e um aumento de 5% no
número de apiários, resultando, embora ténue, num aumento da dimensão média dos
apicultores.
Tabela 1 - Caracterização da atividade apícola
2010
2013
Variação
N.º de apicultores
17291
16774
-517
-3%
N.º de apiários
38203
40176
1973
5%
N.º de colmeias
562557
566793
4236
1%
Fonte: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, 2013
Por outro lado, analisando a distribuição regional dos apicultores registados,
Tabela 2, verifica-se que existe uma forte dispersão da atividade apícola, com o centro a
representar a região onde se situa um maior número de apicultores (36% do total). O
Algarve e o Alentejo são as regiões do território continental com um menor número de
apicultores, contudo, é onde se localizam os apicultores de maior dimensão média,
respetivamente, 125 e 58 colmeias por apicultor. No território insular, os Açores surgem
como a região do país com apicultores de menor dimensão média (13 colmeias por
apicultor), verificando-se que a Madeira é a região de Portugal com menor expressão na
atividade apícola. Analisando a dimensão das explorações conclui-se que os apicultores
portugueses detêm, em média mais de 2 apiários. As regiões do Alentejo e do Algarve
estão acima da média nacional, com, respetivamente, 3 e 10 apiários por apicultor.
Os apicultores portugueses são maioritariamente de pequena a muito pequena
dimensão, com uma taxa de profissionalização do setor extremamente reduzida. A
dimensão média do apicultor português é de 34 colmeias, classificando-se assim 93% do
total de apicultores como apicultores não profissionais (efetivo inferior a 150 colmeias).
3
_____________________________________________________________________________
Tabela 2 - Distribuição da atividade apícola
Apicultores
Total de apiários
Valor
% Total
Valor
absoluto região absoluto
Total de Total de
apiários colmeias
por
por
% Total
apicultor
apicultor
região
Total de colmeias
% Total
Valor
região absoluto
NORTE
5240
31
9837
25
159236
28
2
30
CENTRO
5951
36
11526
29
129834
25
2
22
LTV
2330
14
5360
13
74957
13
2,3
32
ALT
1701
23
5107
12
99569
18
3
58
ALG
733
4
6948
17
91802
17
10
125
RAM
313
2
587
2
4791
1
2
15
RAA
506
3
811
2
6604
1
1,6
13
2,4
34
MÉDIA
Fonte: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, 2013 – LTV Lisboa e Vale do Tejo; ALT – Alentejo; ALG – Algarve; RAM – Região Autónoma da Madeira; RAA –
Região Autónoma dos Açores
As explorações com uma dimensão até 50 colmeias são detidas por 86 % dos
apicultores (14 362 apicultores) e representam 34% das colmeias (dimensão média de 13
colmeias por apicultor). Por outro lado, 10% dos apicultores (1 739 apicultores) detêm as
explorações com uma dimensão entre 50 e 150 colmeias e representam 24% das colmeias
(dimensão média de 80 colmeias por apicultor). Os apicultores profissionais representam
apenas 4% do número de apicultores (673 apicultores) mas detêm 42% do efetivo total
com uma dimensão média de 351 colmeias por apicultor (Ministério da Agricultura, do
Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, 2013).
De acordo com os dados referidos, a apicultura portuguesa é caracterizada como
uma atividade complementar, com efetivos médios inferiores a 50 colmeias, sendo que o
escalão inferior a 25 colmeias, a atividade corresponde fundamentalmente a uma
produção baseada no autoconsumo.
A atividade associativa está fortemente implementada na apicultura portuguesa
e engloba 56 entidades colectivas (40 associações de produtores e 16 cooperativas). Existe
ainda a Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), representando 39
entidades e 31% do total dos apicultores ativos com praticamente metade do efetivo de
colmeias, 49%. (Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
Território, 2013). O exercício da atividade apícola carece de registo prévio na Direção
Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), sendo obrigatória a realização de uma
4
_____________________________________________________________________________
declaração anual de existências (Decreto-Lei nº 203/2005). O registo da atividade é um
procedimento fundamental para a avaliação e controlo do estado sanitário das abelhas,
considerando o extenso leque de ameaças a que estão sujeitas as abelhas. O rastreio
epidemiológico, realizado em 2006, confirmou que em Portugal estão presentes várias
doenças das abelhas, de forma endémica, nomeadamente varroose, loque americana,
acarapisose, ascosferiose e nosemose (DGAV, 2014). O decreto-lei nº 203/2005 define
estas e outras doenças num conjunto de declaração obrigatória como são: a loque
americana (provocada pela bactéria Paenibacillus larvae, afecta a criação e é muito
contagiosa), a loque europeia (doença de criação provocada pela bactéria Mellisococcus
pluton), a acarapisose (doença parasitária das abelhas adultas causada pelo ácaro Acarapis
woodi), a varroose (doença das abelhas adultas e criação causada pelo ácaro Varroa
destructor), a aethinose (doença provocada por um pequeno escaravelho da colmeia, o
coleóptero Aethina tumida, cujas larvas se alimentam do pólen, mel e larvas de abelhas
conduzindo à destruição total) e a tropilaelaps (causada por ácaros Tropilaelaps spp.,
parasitam abelhas e criação). No caso de zonas controladas, acresce a declaração
obrigatória para a ascosferiose (doença de criação causada pelo fungo Ascophaera apis)
e a nosemose (doença das abelhas adultas provocada pelo fungo Nosema) (Decreto-Lei
nº 203/2005; DGAV, 2014).
Em Portugal existem 14 zonas controladas, como mostra a Figura 2 (DGAV,
2014). A criação de zonas controladas tem como objetivo o controlo e erradicação das
doenças de declaração obrigatória das abelhas. São zonas geográficas onde se faz o
controlo de forma sistemática das doenças e em que a ausência da doença não foi
demonstrada. O controlo é feito por uma entidade gestora reconhecida pela Direção Geral
de Alimentação e Veterinária, DGAV, a pedido de organizações de apicultores da área
geográfica. As obrigações dos apicultores das zonas controladas passam por manter um
registo atualizado dos factos que ocorrem na zona, possuir boletim do apiário onde são
registadas as operações realizadas no apiário, proceder ao diagnóstico das doenças de
declaração obrigatória de acordo com as indicações da DGAV, adotar as medidas de
controlo de acordo com o estabelecido pela DGAV (movimentação na zona sobre
introdução de abelhas, enxames, colónias, colmeias, materiais ou utensílios destinados à
apicultura carece de autorização da DGAV (Decreto-Lei nº 203/2005; DGAV, 2014).
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_____________________________________________________________________________
Figura 1 - Zonas Controladas em Portugal
Fonte: DGV 2014, Mapa Janeiro 2014
1.2.Mel
O mel é por excelência o objetivo principal da atividade apícola. De acordo com
o Decreto-Lei 214/2003 de 18 de Setembro, o mel é definido como um “substância
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açucarada natural, produzida pelas abelhas da espécie Apis mellifera a partir do néctar de
plantas ou das secreções provenientes de partes vivas das plantas ou ainda de excreções
de insetos sugadores de plantas (Hemiptera) que ficam sobre partes vivas das plantas e
que as abelhas recolhem, transformam por combinação com substâncias específicas
próprias, depositam, desidratam, armazenam e deixam amadurecer nos favos da colmeia”
(Decreto-Lei nº 214/2003; Codex Alimentarius, 2001). De acordo com a origem o mel
pode ser classificado como mel de néctar quando é obtido a partir do néctar das plantas,
ou mel de melada quando é obtido principalmente a partir de excreções de insectos
sugadores de plantas ou de secreções provenientes de partes vivas das plantas.
A composição química do mel, Tabela 3, depende maioritariamente da origem
floral do néctar (EC, 2002), mas é também afetada pelo clima, pelas condições ambientais
e pelas práticas apícolas, as quais podem condicionar a qualidade do produto final. A
diversidade da sua origem botânica (mel de néctar monofloral ou multifloral ou mel de
melada) permite encontrar uma multiplicidade de cores, aromas e sabores (Viuda-Marto
et al., 2008).
Tabela 3 - Composição do mel
Mel de néctar (g/100 g)
Teor de água
Frutose
Glucose
Sacarose
Outros dissacarídeos
Melezitose
Erlose
Outros oligossacarídeos
Minerais
Aminoácidos, proteínas
Ácidos
pH
Média
17,2
38,2
31,3
0,7
5
<0,1
0,8
3,6
0,2
0,3
0,5
3,9
Mín-máx
15-20
30-45
24-40
0,1-4,8
28
0,56
0,1-0,5
0,2-0,4
0,2-0,8
3,5-4,5
Mel de melada (g/100 g)
Mín-máx
16,3
31,8
26,1
0.5
4
4
1
13,1
0,9
0,6
1,1
5,2
Mín-máx
15-20
28-40
19-32
0,1-4,7
16
0,3-22,0
0,16
0,1-6
0,6-2
0,4-0,7
0,8-1,5
4,5-6,5
Fonte: Bogdanov, 2014f.
O mel é constituído por mais de 180 componentes, mas é essencialmente uma
solução sobressaturada de açúcares, principalmente a frutose e glucose que representam
mais de 60% do mel e com um teor de humidade aproximado de 17%. Adicionalmente
apresenta também uma grande variedade de outros compostos secundários, incluindo os
flavonóides e ácidos fenólicos, ácidos orgânicos, aminoácidos, proteínas, vitaminas e sais
minerais (Viuda-Martos et al., 2008; Bogdanov, 2014f).
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_____________________________________________________________________________
A colheita do mel é realizada no verão quando a maior parte dos favos estão
selados ou operculados, indicativo da maturação do néctar. Nesta época, as alças contendo
os quadros com favos de mel são transportadas para a melaria, onde se procede à remoção
do opérculo (película de cera que cobre o favo de mel), centrifugação e filtração para um
tanque. Neste tanque fica em repouso à temperatura de ± 30ºC de modo a reduzir a
viscosidade do mel e permitir a decantação, sendo possível retirar as partículas de cera. É
então acondicionado em contentores ou embalagens para o consumidor final (Bogdanov,
2014f).
O consumo de mel, integrado na alimentação humana é o principal uso deste
produto, ainda que seja usado também como ingrediente em várias preparações culinárias,
em produtos de pastelaria, na preparação de bebidas não alcoólicas e também na
cosmética (Olaitan et al., 2007). É um alimento muito energético devido à elevada
concentração de frutose e glucose, obtendo-se 309 kcal num consumo de 100 g (INSA,
2006). O consumo em crianças de idade inferior a 12 meses é no entanto desaconselhado,
devido à possibilidade de ingestão de esporos botulínicos juntamente com o mel, podendo
estes germinar, colonizar o intestino e libertar a toxina, que é então absorvida; esta
situação é devida à imaturidade do sistema imunitário (EC, 2002).
O mel apresenta propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, anti-ulcerosas,
antibacterianas, antifúngicas, antivirais e anticarcinogénicas (Viuda-Martos et al., 2008;
Bogdanov et al., 2008). A atividade antibacteriana relaciona-se com a elevada pressão
osmótica e baixa atividade da água, deixando poucas moléculas de água livres para
suportar o crescimento bacteriano mas também com a produção de peróxido de
hidrogénio (pela ação da glucose oxidase sobre a glucose), com a elevada acidez (inibindo
o crescimento da maior parte dos microrganismos), com a viscosidade, que decresce
rapidamente com o aumento de temperatura e com a presença de fitoquímicos (Kujawski
e Namiésnik, 2008). Já a atividade antioxidante, está relacionada com a ação de
compostos fenólicos existentes no mel nomeadamente os flavonóides e ácidos fenólicos,
os quais podem inibir a presença de radicais livres responsáveis pelo envelhecimento
celular (Socha et al., 2009), o ácido ascórbico e a presença de enzimas como a glucose
oxidase, a catalase e a peroxidase (Kujawski e Namiésnik, 2008).
8
_____________________________________________________________________________
1.3.Própolis
A própolis é uma substância resinosa produzida pelas abelhas a partir da recolha
de secreções e exsudados dos rebentos de plantas, Figura 2. À resina recolhida e
mastigada pelas abelhas são adicionadas enzimas da saliva, pólen e cera de abelha. Esta
resina é usada na colmeia para selar as paredes, fortalecer as extremidades dos favos e
embalsamar invasores mortos que as abelhas não têm capacidade de remover para o
exterior da colmeia. Além de ser utilizado como material de construção é uma importante
ferramenta das abelhas contra os microrganismos patogénicos (Lustosa et al., 2008).
Durante séculos, a própolis foi um dos muitos produtos naturais mais utilizados
no tratamento de variadas patologias (Bankova, 2005). Os egípcios conheciam as
propriedades anti-putrefativas da própolis e empregavam-na para embalsamar cadáveres.
Além disso, foi reconhecida por médicos gregos e romanos como Aristóteles,
Dioscorides, Plínio e Galeno pelas suas propriedades medicinais (Capasso e Castaldo,
2002).
Os estudos atuais da atividade biológica da própolis comprovam a sua ação
antimicrobiana, antioxidante, citotóxica, hépato-protetora, antifúngica, antiviral,
antiparasitária, imuno-modeladora, anti-inflamatória, etc. (Banskota et al., 2001;
Bankova et al., 2000). Estas propriedades estão intimamente relacionadas com a sua
composição química, particularmente com a riqueza em compostos fenólicos. A própolis
é constituída por resinas ricas em ácidos fenólicos e flavonóides (55%), por cera (30%),
compostos voláteis (10%) e pólen (5%) (Bogdanov e Bankova, 2014). A especificidade
e diversidade da sua composição química é fortemente influenciada pela flora existente
em redor da colmeia, bem como pelas características geográficas e climáticas do local
onde se encontra o apiário (FNAP, 2010)
Figura 2 - Própolis a isolar a colmeia
Fonte: http://www.amentsoc.org/insects/glossary/terms/propolis
9
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1.4.Geleia Real
A geleia real é um produto de origem animal segregado pelas glândulas
mandibulares e hipofaríngeas das abelhas jovens, Figura 3. É um dos produtos mais
importantes para a colmeia, pois serve de alimento para as larvas na sua fase inicial de
desenvolvimento, e para a rainha durante toda a sua vida permitindo a sua diferenciação
dentro da colónia (Garcia-Amoedo e Almeida-Muradian 2002). Da composição da geleia
real fazem parte vários componentes, nomeadamente, água (60-70%), proteínas (9-18%),
hidratos de carbono (7-18%), ácidos gordos e lípidos (3-8%), pequenas quantidades de
vitaminas (complexo B, C, E) e minerais (Sabatini et al., 2009; Wytrychowski et al.,
2013).
Atualmente, a geleia real tem aplicações na dietética, cosméticos, produtos
farmacêuticos e na saúde alimentar. Os produtos derivados de geleia real são consumidos
como suplementos alimentares eleitos devido aos vários benefícios relacionados com a
saúde. Atribuem-se-lhe propriedades farmacológicas como: antibacteriana, antifúngica,
antiviral, antioxidante, atividade bio-estimulante, imuno-moduladora, radio-protetivo,
anticarcinogénico, entre muitas outras (Bogdanov, 2014g; Wytrychowski et al., 2013).
Figura 3 - Geleia real
Fonte: http://clinicadotempo.com/geleia-real
1.5. Cera
A cera das abelhas é, outro dos produtos de origem animal resultante da
produção apícola, Figura 4. Esta é importante tanto para a qualidade do mel como também
para a sanidade e produtividade das colónias de abelhas. A Norma Portuguesa NP-136 de
1967 define cera de abelha como “uma substância plástica, tenaz, não untuosa, nem
10
_____________________________________________________________________________
aderente à pele. Fundida, produz mancha translúcida no papel. Apresenta-se amarela,
avermelhada ou castanha, quando não tiver sido branqueada” (Barros et al., 2009).
A cera de abelha é essencial para o desenvolvimento da criação, para o
armazenamento do mel e pólen, para a regulação da temperatura da colónia e na
descriminação de odores da colónia. É produzida nas glândulas cerígenas das abelhas
obreiras com idades compreendidas entre os 12 e os 18 dias. Os fatores intrínsecos à
colónia para que as obreiras iniciem o processo de construção de favos são: a escuridão,
a presença da rainha e uma boa alimentação proteica (pólen) para o desenvolvimento das
glândulas cerígenas. Os fatores variáveis para o início da produção de cera são o fluxo de
néctar e a quantidade de favos preenchidos com reservas. A temperatura necessária para
a moldagem do favo é obtida através do metabolismo da própria abelha. A temperatura
ideal para a moldagem é de 35º C, sendo necessário o dobro da energia requerida pela
obreira a 25 ºC para realizar o mesmo trabalho (Barros et al., 2009).
A cera é composta maioritariamente por uma mistura de ácidos gordos,
ceroleína, vitamina A e outras substâncias com diferentes propriedades bactericidas,
emolientes, cicatrizantes e anti-inflamatórias (Condón, 2005; Bogdanov, 2014d). Desde
a antiguidade que a cera de abelha é utilizada no tratamento das doenças da pele.
Ultimamente tem adquirido valor terapêutico na associação com outros produtos apícolas
ou farmacêuticos, na preparação de unguentos e cremes de beleza. (Bogdanov, 2014e)
Figura 4 - Cera de abelha
Fonte: http://www.mielarlanza.com/es/contenido/?iddoc=98
1.6. Veneno
O veneno da abelha também conhecido como apitoxina é produzido por uma
glândula de secreção ácida e outra de secreção alcalina que existem no abdómen da abelha
obreira. A composição do veneno é uma mistura complexa de enzimas, peptídeos
11
_____________________________________________________________________________
(incluindo melitina e apamina), aminoácidos, hidratos de carbono e lipídios (Bogdanov,
2014c; Son et al., 2007).
A sua função protetora requer a injeção no corpo do inimigo através de um
ferrão. Na fuga a abelha, quase sempre, deixa o ferrão na vítima e consequentemente parte
do abdómen que se encontra ligado, pelo que, a abelha acaba por morrer pouco tempo
depois. Isto fica-se a dever à elasticidade da pele humana, que após a introdução do ferrão
impede que o mesmo consiga sair pelos mesmos orifícios (Bogdanov, 2014c). Este
veneno, em doses controladas, pode ter uma ação benéfica como anti-inflamatório,
prevenção e cura de reumatismo, ação anticoagulante, vasodilatador e hipotensor. A
melitina, a maior fração da apitoxina, demonstrou ter uma ação bloqueadora da produção
de superóxido em neutrófilos, o principal mecanismo envolvido na destruição celular
decorrente de um processo inflamatório. A aplicação mais interessante no ser humano é
no tratamento da artrite reumatóide. Estudos clínicos recentes mostraram que a taxa de
sucesso para este produto varia de 70 a 90%. (Münstedt e Bogdanov, 2009) Outros
estudos demonstraram que o veneno de abelha pode ser importante no tratamento de
várias enfermidades como a artrite, reumatismo, dor e cancro. (Son et al., 2007; Münstedt
e Bogdanov, 2009)
1.7. Pólen
O pólen é o gâmeta masculino das flores das plantas, produzido pelas anteras e
transferido para o ovário, onde ocorre a fecundação, garantindo assim a reprodução da
planta e consequentemente a sobrevivência da espécie, Figura 5. As abelhas, bem como
outros insetos, o vento e água polinizam as plantas através da transferência do pólen das
anteras das flores masculinas para o estigma das flores femininas da mesma planta ou de
outras plantas da mesma espécie. As flores das plantas polinizadas pelo vento
(anemófilas) produzem grãos de pólen leves e secos, que facilmente são transportados
pelo vento. Por sua vez, as flores das plantas entomófilas (polinizadas pelos insetos)
produzem, por norma, pólen e néctar, tendo os grãos de pólen determinadas características
que contribuem para que fiquem presos ao corpo dos insetos. Quer o pólen das plantas
anemófilas, quer o das plantas entomófilas é recolhido pelas abelhas e levado para o
interior da colmeia, sendo utilizado na preparação do alimento das larvas jovens, devido
ao seu alto valor nutritivo rico em proteínas (Bogdanov, 2014a; FNAP, 2010).
12
_____________________________________________________________________________
Figura 5 - Esquema de uma flor adulta
Fonte: http://www.mundoeducacao.com/biologia/angiospermas.htm
Atualmente o pólen é estudado em muitos laboratórios do mundo por ser um
produto de origem natural com um valor dietético excecional. São-lhe reconhecidos
efeitos positivos nas funções digestivas e intestinais, no aumento do apetite, como
alimento energético, no combate à neurose e à depressão mental, contra infeções da
próstata e para o controlo dos diabetes. (Condón, 2005; Münstedt e Bogdanov, 2009;
Bogdanov, 2014b)
1.7.1. Estrutura do grão de pólen
Os grãos de pólen possuem um diâmetro entre 6 e 200 µm com formas e cores
diversas. Normalmente são esféricos e possuem esporos na superfície, conforme as
espécies de plantas da qual foram originados (Almeida-Muradian et al., 2005). O grão de
pólen é uma estrutura bi ou tricelular. Apresenta-se envolvido por duas camadas
protetoras, a exina e a intina, uma mais externa e outra mais interna, respetivamente,
Figura 6. A intina cobre toda a superfície do grão e é responsável pela formação do tubo
polínico. É composta basicamente por polissacáridos, pectinas e proteínas, não sendo
resistente a ácidos. A exina, que tem função protetora, cobre a intina, exceto ao nível das
aberturas germinativas. É uma camada rígida e com uma ornamentação variável,
dependendo da espécie, daí que se utilize as suas caraterísticas na identificação botânica
do pólen. É resistente a ácidos e é composta por esporolenina, um biopolímero muito
13
_____________________________________________________________________________
resistente, cuja origem acredita-se ser pela polimerização oxidativa de carotenóides. A
exina divide-se ainda em duas camadas: a mais interna denominada nexina e a mais
externa sexina (Condón, 2005).
Figura 6 - Estrutura da parede do grão de pólen
Fonte: http://www-class.unl.edu/geol846/wall.html
1.7.2. Composição do pólen
O pólen é composto por proteínas, mas também outras substâncias como lípidos,
açúcares, fibras, minerais sais, aminoácidos, vitaminas e compostos fenólicos, Tabela 4.
Uma alta concentração de açúcares redutores, aminoácidos essenciais e ácidos gordos
/insaturados, a presença de Zn, Cu, Fe, e alta relação K/Na, tornam o pólen muito
importante para a dieta humana (Campos et al., 2008). A composição do pólen é muito
variável, dependendo da origem floral.
Tabela 4 - Principais componentes do pólen
Proteínas
Lípidos
Hidratos de carbono
Fibra, Pectina
Cinzas
Indeterminados
Fonte: Campos et al., 2008
Mín-máx (% peso seco)
10-40
1-13
13-55
0,3-20
2-6
2-5
1.7.2.1.Proteínas e aminoácidos
O pólen é rico em proteínas e aminoácidos livres contendo todos os aminoácidos
essenciais necessários para o organismo humano. No entanto, a sua quantidade depende
14
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fortemente da origem botânica e geográfica, juntamente com outros fatores, como
condições climáticas, tipo de solo e atividade do apicultor (Féas et al., 2012). O conteúdo
médio de proteínas é cerca de 16%, mas o que condiciona o valor nutritivo do pólen é o
seu conteúdo em aminoácidos, já que possui os 8 aminoácidos essenciais para o ser
humano: leucina, isoleucina, valina, metionina, teonina, lisina, triptofano e fenilalanina
(Condón, 2005; Lengler, 2002). Este aporte de aminoácidos essenciais faz com que o
pólen seja um produto com interesse nutritivo como suplemento na dieta humana. O perfil
de aminoácidos também é importante para a abelha, já que esta sempre que possível
seleciona pólenes não em função da quantidade de proteína mas em função da natureza e
proporção de aminoácidos presentes (Condón, 2005). Da fração de aminoácidos livres
presentes, os componentes mais representativos são a prolina e o ácido glutâmico
(Campos et al., 2008).
1.7.2.2. Lípidos
A quantidade total de lípidos do pólen apícola é muito variável, e como no caso
anterior, depende da espécie botânica. Na literatura citam-se valores entre 1 e 15%
correspondendo maioritariamente a triglicéridos nos quais predominam os ácidos gordos
insaturados (Condón, 2005). Féas et al. (2012) identificaram sete ácidos gordos,
aparecendo o ácido linolénico como predominante, seguido do linoleico, palmítico e
oleico. Contudo, e segundo os mesmos autores, na literatura aparecem estudos que
indicam diferenças na composição de ácidos gordos do pólen apícola, dependendo das
várias regiões ou dos países de proveniência. Para além destes encontram-se ainda outros
compostos de carácter lipídico como esteróis e carotenóides (Condón, 2005).
1.7.2.3.Hidratos de carbono
O pólen das anteras das flores contém naturalmente uma certa quantidade de
açúcares, mas a sua proporção aumenta quando é recolhido pelas abelhas, devido ao
néctar utilizado para aglutinar os grânulos. Constituindo a porção maioritária do pólen
apícola os hidratos de carbono incluem para além dos açúcares, algum amido e fibra.
Os açúcares livres encontrados em maior proporção são os monossacáridos
glucose e frutose (predominando a frutose). Os dissacáridos sacarose e maltose aparecem
15
_____________________________________________________________________________
numa proporção menor. Para além destes surgem ainda outros dissacáridos e
trissacáridos, bem como algum amido, mas numa quantidade baixa (Condón, 2005,
Campos et al., 2008).
1.7.2.4.Fibra bruta
Esta fracção do pólen não está bem conhecida. Fazem parte da fibra a celulose,
hemicelulose, pectinas, calose e esporopolenina. A exina é a que contém a maior parte da
fibra bruta, constituída fundamentalmente por celulose e esporopolenina. Há uma grande
variação entre os valor mínimo e o máximo devido provavelmente, aos vários métodos
utilizados e às plantas analisadas. (Coronel et al., 2004), Bogdanov, 2014b).
1.7.2.5.Minerais
O teor em minerais varia consoante o tipo de pólen e é particularmente sensível
às condições do solo. O mineral maioritário é o potássio (60% do total de minerais) mas
também possui magnésio (cerca 20%), sódio, cálcio, ferro, zinco. (Campos et al., 2008;
Condón, 2005) A fração de minerais no pólen determina-se mediante a obtenção do teor
em cinzas.
1.7.2.6.Vitaminas
Na composição do pólen encontram-se também algumas vitaminas,
principalmente vitaminas C, E e vitaminas do complexo B, sobressaindo o elevado teor
em vitamina C (Bogdanov, 2014b). A quantidade e diversidade vitamínica estão
relacionadas com a espécie botânica (Condón, 2005).
1.7.2.7.Compostos bioactivos
Os principais componentes do pólen com atividade biológica são os compostos
fenólicos, nomeadamente ácidos fenólicos e flavonóides. Estes compostos apresentam
diversas atividades fisiológicas e farmacológicas tais como antioxidantes, antienvelhecimento, anti-carcinogénica, anti-inflamatória, efeito cardioprotetor e antiviral
(Bogdanov, 2014b; Pascoal et al., 2014).
16
_____________________________________________________________________________
Pascoal et al. (2014) demonstraram que o pólen e a sua rica composição em
compostos fenólicos contribuem para uma elevada atividade antioxidante, com impacto
na prevenção de doenças em que os radicais livres estejam implicados.
Outro grupo de compostos bioativos presentes no pólen são os fitoesteróis, os
quais podem influir na descida do colesterol sanguíneo através da inibição parcial da
absorção do colesterol.
1.7.3. Pólen apícola
O pólen, necessário para o desenvolvimento das abelhas melíferas, é usado como
fonte de lípidos, vitaminas, minerais e principalmente de proteína. Uma colónia de
abelhas adultas poderia manter-se bastante tempo sem pólen, tendo como único alimento
o mel ou xarope de açúcar, no entanto, não teria as condições necessárias para a gestação
das suas larvas, porque para estas é indispensável o pólen. Consequentemente, um
fornecimento adequado de pólen é essencial para assegurar a sobrevivência a longo prazo
de uma colónia e para manter a sua produtividade (Bogdanov, 2014a).
O pólen apícola difere do pólen das plantas porque a abelha ao recolher aglutina-o
com o néctar e com a sua própria saliva, formando pequenos grãos que são fixados nas
corbículas (cestas das patas traseiras) para que possa ser transportado até a colmeia. Como
a saliva da abelha é rica em enzimas, aminoácidos e vitaminas, quando misturada ao
pólen, faz com que este passe a possuir uma qualidade e quantidade de substâncias
diferentes das do pólen contido nas flores (Menezes, 2009; Coronel et al., 2004; Campos,
2008).
A recolha de pólen pelas abelhas é feita através das peças bucais e dos pêlos
distribuídos pelo corpo. Depois de pousar na flor a abelha começa a recolher os grãos de
pólen que ficaram agarrados ao corpo, transferindo-os com a ajuda das patas anteriores e
intermédias e mistura-os com néctar e algumas substâncias salivares, originando um
grânulo ou carga, que será transportado para a colmeia nas suas patas posteriores, Figura
7 (Bogdanov, 2014a; Condón, 2005).
As cargas polínicas, ou pelotas, têm um diâmetro entre 1 e 4 mm, forma redonda
irregular e cor variada, dependendo das espécies florais. Por norma, as abelhas que
recolhem pólen, fazem-no apenas de uma espécie de planta daí que a carga polínica
apresente uma coloração uniforme, já que possui grãos da mesma origem. Apenas em 1%
17
_____________________________________________________________________________
dos casos se encontram cargas mistas (Condón, 2005). Para recolher, em média, cerca de
8 mg de pólen, uma abelha tem que visitar aproximadamente 200 flores diferentes,
efetuando cerca de 10 viagens por dia para recolher pólen. Com boas condições
climatéricas, podem ser transportadas para a colmeia cerca de 50 mil cargas de pólen por
dia (Bogdanov, 2014a). Os tipos polínicos das pelotas de pólen podem variar de acordo
com a região, um fator que depende da vegetação disponível em torno do apiário bem
como das condições climáticas para o florescimento (Luz et al., 2010; Morais et al., 2011).
Figura 7 - Abelha a colher pólen com as cargas polínicas nas patas
Fonte: http://minilua.com/superpoderes-animais-abelhas-2/
Na colmeia, o pólen é depositado nos alvéolos, misturado com o néctar e
comprimido com a cabeça das operárias para obter uma massa compacta que sofrerá no
interior do favo diversas transformações sob a ação da temperatura, humidade e enzimas
salivares. Este pólen, denominado de pão de abelha, será utilizado posteriormente para o
alimento das larvas (Carpes, 2008).
1.7.4. Características físicas e sensoriais
As características do pólen que mais afetam a sua aceitação por parte do
consumidor são o aroma, a cor e a aparência física (Condón, 2005).
O aroma deve ser característico, sem cheiros nem sabores estranhos. Um pólen
seco insuficientemente ou tardiamente pode apresentar um cheiro e um sabor a
fermentação, por outro lado, uma secagem excessiva pode levar ao desenvolvimento de
cheiro caraterístico da oxidação lipídica.
A cor das diferentes cargas polínicas é muito variável. Há pólenes laranjas,
amarelos, vermelhos, verdes, violetas e negros. Mesmo dentro da mesma espécie, podem18
_____________________________________________________________________________
se observar tonalidades distintas, mais claras ou mais escuras devido à variabilidade de
diversos fatores como tipo de solo, tipo e quantidade de mel ou néctar utilizado pela
abelha para aglutinar o pólen, conteúdo em água, processo de secagem, etc. (Condón,
2005).
Se a procedência do pólen são as Cistáceas, a cor será amarela, apresentando
variações do amarelo ao laranja. Quando a percentagem de cargas do género Echium sp.
é alta, o pólen é mais escuro e apresenta um número elevado de grãos de cor violeta.
A cor também é importante para determinar o espectro polínico, ou seja, para a
identificação da origem botânica das cargas polínicas. A identificação é feita através da
separação prévia por cores e posteriormente com a ajuda de um microscópio ótico, após
submeter os grãos a um processo de acetólise (Condón, 2005; Féas et al., 2012).
1.7.5. Colheita de pólen apícola
A produção de pólen apícola apenas se justifica em zonas onde exista muita
disponibilidade de plantas polínicas e requer por parte dos apicultores conhecimentos
específicos sob o modo de produção e conservação (FNAP, 2010). Para se recolher o
pólen é necessário colocar na entrada da colmeia um dispositivo denominado de captapólen, Figura 8. Este é constituído essencialmente por uma barreira denominada rede ou
grelha de retenção, com orifícios bastante largos (4,5 mm de diâmetro) para permitir que
as abelhas a atravessem, mas suficientemente estreitos para reter as cargas polínicas
presas nas corbículas, que cairão para um recipiente localizado por baixo da entrada
(gaveta). Este recipiente encontra-se separado do resto por uma rede de malha fina que
impede as abelhas de voltarem a recolher o pólen que aí caiu. O fundo deste equipamento
deve ser de um material que não retenha a humidade e facilite a circulação de ar, pois só
dessa forma se evitará a deterioração do pólen, muito suscetível ao desenvolvimento de
bolores e fungos. Mesmo assim, o pólen deve ser recolhido do tabuleiro regularmente
(FNAP, 2010; Coronel et al., 2004).
19
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Figura 8 - Capta-pólen de plástico
Fonte: http://www.o-cortico.com/componentes-diversos/344-capta-polen-em-plastico.html
O material de construção do capta-pólen deve permitir uma fácil limpeza, de
modo a garantir as condições higiénicas, já que isto se repercute na qualidade
microbiológica do pólen. O mais comum é a utilização de plástico ou madeira. A
colocação destes dispositivos na colónia deve ter em consideração o afastamento ao solo
de modo a evitar uma humidade excessiva (Condón, 2005).
A colocação na colmeia do capta-pólen apresentado na Figura 8 é relativamente
simples, não implicando qualquer alteração da estrutura da colmeia. No entanto, a sua
localização requer a retirada do pólen com uma frequência elevada. Segundo Alves
(2013) existem em alternativa dois outros tipos de capta-pólen que permitem reduzir a
frequência de recolha, devido à sua disposição, um colocado no fundo da colmeia e outro
na parte superior. O capta-pólen de fundo ou de piso substitui o fundo e o alvado da
colmeia, ficando o pólen protegido no seu interior, podendo fazer-se a retirada do pólen
a cada dois ou três dias. O capta-pólen de topo ou superior é instalado sobre o ninho, por
onde as abelhas entram na colmeia, ficando o alvado antigo fechado, mantendo o pólen
protegido no seu interior; a retirada do pólen pode fazer-se a cada dois ou três dias. Não
existe um consenso quanto ao melhor tipo de capta-pólen, uma vez que a produtividade
é semelhante em todos, desde que sejam mantidas as características corretas de maneio
adequado da colónia e haja disponibilidade de pólen na região (Alves, 2013). No entanto,
pode-se escolher o capta-pólen que mais se adapte a cada situação atendendo às
características de instalação, remoção da grade de retenção e da gaveta, comodidade no
maneio apícola, presença de aberturas laterais denominadas escape para zangão
(permitem a saída dos zangãos, que pelo seu tamanho não passam pela grade de retenção).
É importante ainda verificar que a colocação do dispositivo não provoque
congestionamento de abelhas no alvado, que permita a ventilação da colmeia e que tenha
proteção contra as intempéries (Alves, 2013).
20
_____________________________________________________________________________
Mesmo estando as colmeias equipadas com capta-pólen, uma parte do pólen
recolhido pelas obreiras entra na colónia. Esta proporção varia de acordo com os tipos de
equipamento utilizado e as dimensões das grelhas, podendo ir dos 10 aos 60%. A
composição de espécies do pólen recolhido é também referida como relevante na
eficiência do dispositivo, verificando-se um aumento de 33% para 60% da eficiência
média dos capta-pólenes quando se transferiu as colónias para um local onde havia flores
diferentes, uma vez que as abelhas recolhiam pelotas de pólen significativamente maiores
(Bogdanov, 2014a). As obreiras responsáveis pela colheita de pólen podem rapidamente
adaptar-se à dimensão dos orifícios, formando cargas polínicas mais pequenas. Mesmo
assim, é recomendado que o capta-pólen seja retirado 10 a 15 dias após a sua colocação,
permitindo equilibrar o aporte de pólen para o interior da colónia, suprindo as
necessidades da criação presente no seu interior. Alguns autores propõem uma recolha
consecutiva durante três semanas, retirando o capta-pólen durante a quarta semana.
1.7.6. Processamento de pólen apícola
O pólen recolhido pelas abelhas tem uma quantidade de humidade considerável
(20%-30%) o que favorece a contaminação e a sua deterioração pelo desenvolvimento de
bactérias e leveduras. Por esta razão é necessário que a recolha na colmeia seja realizada
numa base regular, idealmente todos os dias mas depende sobretudo do clima (Condón,
2005; Campos et al., 2008). A fragilidade das cargas polínicas requer também alguns
cuidados aquando do transporte e processamento do pólen para a unidade de
processamento. Para evitar a fermentação do pólen devido ao aumenta da humidade
interior, o transporte desde o apiário deve realizar-se o mais rápido possível, usando
recipientes com pouca altura, de fácil desinfeção e equipados com uma base que permita
a ventilação do pólen (Condón, 2005; FNAP, 2010).
Para evitar a fermentação do pólen fresco que pode ocorrer mesmo à temperatura
ambiente é necessário proceder à secagem, de modo a reduzir os teores de humidade
abaixo de 7-8%. Com estes valores impede-se o desenvolvimento microbiano e conseguese um produto muito mais estável (Condón, 2005). A secagem do pólen é realizada em
secadores industriais com temperatura controlada, nos quais o pólen é colocado em
bandejas e onde há circulação de ar seco e quente a uma temperatura que não deve
ultrapassar os 40ºC. Com temperaturas superiores ocorrem desintegrações, perdas do
21
_____________________________________________________________________________
valor nutritivo por destruição de componentes sensíveis ao calor e inclusivamente
fenómenos de escurecimento não enzimático. O tempo de secagem dependerá do
equipamento e da espessura da camada de pólen, normalmente várias horas até que os
grânulos não adiram uns aos outros e se consiga a humidade adequada para uma correta
conservação (Condón, 2005). Na Tabela 5 descrevem-se as orientações básicas a ter em
conta no circuito do pólen:
Tabela 5 - Orientações básicas a ter em conta no circuito do pólen
COLHEITA OU RECOLHA
Após a seleção do modelo de capta-pólen, este deverá ser colocado nas colmeias sem a rede durante24 a 48
horas para que as abelhas se adaptem à nova entrada. Os diâmetros dos orifícios da malha (grelha) devem
ser adequados ao tamanho das abelhas podendo variar dos 4,45 mm até aos 5,00 mm.
Esses orifícios não podem apresentar defeitos ou esquinas cortantes, de forma a evitar ferir as abelhas.
As gavetas, obrigatoriamente, devem ser higienizadas a cada recolha.
Durante o transporte até a sala de secagem deve proteger-se o pólen recolhido de forma a evitar possíveis
contaminações.
CONGELAMENTO
Após a colheita, e na impossibilidade de uma secagem imediata, deve ser feito o congelamento do pólen, o
que permite que este se conserve “in natura”.
SECAGEM
Por ser um produto higroscópico e, portanto suscetível ao crescimento de fungos e leveduras, deverá ser
desidratado em imediato, para o que se necessita preferencialmente de um equipamento desumidificador, de
forma a manter uma humidade relativa do ar entre 40% a 50%;
O secador deve possuir preferencialmente bandejas sobrepostas perfuradas, estar equipado com controlo de
temperatura e sistema de circulação e renovação do ar.
O teor de humidade final deve situar-se entre os 2,5 e os 6%, sendo que inicialmente apesar de variar de
região para região, com a época e forma de colheita pode apresentar um valor entre os 18 e os 25%.
SISTEMA DE LIMPEZA
Antes, durante e após a secagem é essencial a limpeza do pólen. Esta pode ser feita manualmente utilizando
pinças ou através de sistema mecânico, como um ventilador, com o objetivo de retirar eventuais partes de
abelhas e restos de resíduos vegetais.
CONSERVAÇÃO E EMBALAGEM
Fonte: FNAP, 2010
A conservação está directamente relacionada com o sistema de embalagem. Os recipientes mais utilizados
são: frascos de vidro âmbar, plástico alimentar (todos devem estar hermeticamente fechados).
1.7.7. Parâmetros de qualidade do pólen apícola
O pólen, dado ter determinadas características nutricionais, pode ser considerado
como alimento para consumo humano. Em alguns países como o Brasil, Polónia, Suíça,
Bulgária e Argentina estão regulamentados os padrões de qualidade do pólen, no sentido
de evitar problemas com a qualidade e comercialização deste produto (Campos, 2008;
Coronel et al., 2004). Na Tabela 6 apresentam-se alguns parâmetros existentes na
22
_____________________________________________________________________________
Legislação Brasileira comparando com os valores existentes na Legislação da Argentina,
relativos à qualidade do pólen para comercialização.
Tabela 6 - Parâmetros de qualidade do pólen
Parâmetros
Humidade
Cinzas
Proteínas
Hidratos de carbono
pH
Legislação
Brasileira
máx 4%
máx 4%
mín 8%
14,5-55%
4-6
Legislação
Argentina
máx 8%
máx 4%
15-28%
45-55%
4-6
Fonte: Almeida- Muradian e Penteado, 2007 e Coronel et al.., 2004
Como se pode verificar, os parâmetros de qualidade do pólen baseiam-se no teor
em proteínas, hidratos de carbono e minerais (cinzas), bem como no pH e humidade. Este
último parâmetro é variável entre os diferentes regulamentos, o que poderá estar
relacionado com as temperaturas e humidade da região. A legislação no Brasil refere um
máximo de 4%, na Suíça e Polónia 6%, atingindo na Bulgária o maior valor com 10%
(Campos et al., 2008; Almeida-Muradian e Penteado, 2007; Coronel et al., 2004). Em
Portugal, bem como ao nível da União Europeia, não existe qualquer regulamentação para
a qualidade do pólen pelo que será importante definir no futuro a sua composição e
estabelecer parâmetros de qualidade no sentido de valorizar e regular o comércio deste
produto apícola.
1.8. Flora apícola
Portugal continental possui ecossistemas valiosos para a produção apícola pelas
inúmeras plantas do seu coberto arbustivo e herbáceo, ricas na produção de néctar e pólen.
Entre as espécies da nossa flora com interesse apícola são de salientar as urzes, o
rosmaninho, o alecrim, o tomilho, a soagem, a borragem, a luzerna, os trevos e os cardos,
que produzem grandes quantidades de néctar. As giestas, as estevas, as centáureas são
também importantes mas na medida em que produzem grandes quantidades de pólen. Nos
estratos arbóreos muitas espécies são excelentes produtoras de meladas, como as
azinheiras, os sobreiros, e os carvalhos. Já os castanheiros e os eucaliptos produzem
também néctar e pólen com abundância (Branco e Godinho, 2013).
23
_____________________________________________________________________________
A região do Vale do Côa apresenta condições propícias à prática apícola. É
caracterizada por altitudes de 400-500 metros e declives na ordem dos 15%, com uma
precipitação escassa na época estival. As culturas predominantes são a vinha, o olival e o
amendoal. A vegetação natural é dominada pelos arbustos (devido à pressão dos fogos e
do pastoreio), sendo as espécies com maior interesse apícola o rosmaninho (Lavandula
pedunculata), a giesta branca (Cytisus multiflorus), o piorno amarelo (Retama
sphaerocarpus), o trovisco (Daphne gnidium) e as silvas (Rubus spp.). Para além destas
espécies com interesse apícola há outras mas com menor representação regional como a
roselha (Cistus albidus) e a soagem (Echium plantagineum) (Maia et al., 2002).
Na região de Bragança, os soutos de castanheiros (Castanea sativa) representam
a maioria dos terrenos agrícolas, mas também se encontram culturas arvenses e
forrageiras: Avena sativa (aveia), Brassica napus (nabo e a nabiça, também como
hortícola para consumo humano), Secale cereale L. (centeio), Zea mays (milho) assim
como hortícolas nomeadamente Solanum tuberosum L. (batateira) (Aguiar, 2000).
Relativamente à vegetação arbustiva, predominam os urzais, estevais e giestais,
vulgarmente apelidados de matos. Aparecem os bosques de carvalho-negral (Quercus
pyrenaica), vegetação autóctone com maior destaque no ecossistema da Serra da
Nogueira, classificado como sendo a maior área de carvalho negral presente em Portugal.
(Neto e Simões, sd). Salienta-se o domínio das giestas (Cytisus, spp.), do piorno (Retama
sphaerocarpus), urzes (Erica spp.), carqueja (Pterospartum tridentatum) sem esquecer
as silvas (Rubus spp.). Quanto à vegetação herbácea pratense, destacam-se os trevos,
muitas espécies da família das Poaceas, (rabo-de-cão, festuca, etc), Plantaginaceae,
hortelã-comum e poejo, dedaleira, milefólio, erva-coelheira (Rosário, 2004).
1.9. Objetivos do estudo
O mel é, sem dúvida, o produto apícola mais conhecido e no qual se concentra o
maior esforço dos apicultores. No entanto, o interesse na diversificação dos produtos da
colmeia, nomeadamente o pólen, é cada vez mais elevado, no sentido de aumentar a
complementaridade das produções e a rentabilidade das explorações. A capacidade de
extrair da colónia outros produtos permite também colmatar a flutuação observada na
produção anual de mel, muitas vezes relacionada com as variações climatéricas. Deste
modo o apicultor consegue atingir uma maior regularidade no rendimento.
24
_____________________________________________________________________________
A importância do pólen para a colónia é inquestionável, pois dele dependem as
abelhas para o suprimento das suas necessidades de proteínas e sais minerais. Por essa
razão, a colocação de capta-pólen nas colmeias condiciona o comportamento da colónia
que terá de maximizar a recolha de pólen de modo a garantir a necessária quantidade para
a alimentação das abelhas. Este condicionamento poderá refletir-se na produção dos
restantes produtos apícolas como o mel, a cera ou a própolis.
Este trabalho tem como objetivo principal avaliar a produção de pólen em duas
regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro com cobertos vegetativos distintos, bem como
identificar o impacto da colheita de pólen na produção de mel. A avaliação do impacto
será realizada através da aplicação de duas metodologias de recolha: produção alternada
e produção contínua. Para além da produção serão também avaliadas as caraterísticas do
pólen recolhido, quer ao nível da identificação polínica quer das caraterísticas físicas do
pólen: cor e peso médio das cargas polínicas.
25
_____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 2
MATERIAL E MÉTODOS
26
_____________________________________________________________________________
Neste capítulo faz-se a descrição dos materiais e procedimentos utilizados ao
longo do trabalho. Esta descrição está organizada conforme as operações se reportam a
trabalhos de campo ou de execução laboratorial.
2.1. Local de amostragem
A execução do estudo no campo inclui a recolha de pólen proveniente de apiários
com colónias pré-selecionadas e identificadas. Foram utilizados quatro apiários, dois no
concelho de Vila Nova de Foz Côa (Castelo Melhor e Senhora do Campo) e dois no
concelho em Bragança (Vale das Vinhas e Reboleira), Figura 10. Em três apiários,
Castelo Melhor (CM), Vale das Vinhas (VV) e Reboleira (REB) selecionaram-se 10
colónias, divididas em dois grupos, um para o estudo da produção de pólen e outro para
controlo. No quarto apiário, Senhora do Campo (SC), o número de colónias utilizadas foi
superior, estabelecendo-se três grupos de trabalho com cinco colónias cada. Dois destes
grupos serviram para a avaliação da produção de pólen em condições distintas, utilizandose o terceiro grupo como controlo. O modelo de colónias utilizado nos ensaios foi limitado
ao tipo Lusitana e Langstroth, dependendo das caraterísticas disponíveis no apiário. Estes
dois modelos, caraterísticos da apicultura na região de Trás-os-Montes apresentam um
ninho de volume aproximado com dez quadros.
(a)
(b)
Figura 9 - Localização geográfica dos apiários(a) concelho de Bragança; (b) concelho de Vila
Nova de Foz Côa.
27
_____________________________________________________________________________
2.2. Vitalidade
Durante o processo de seleção das colónias foi necessário avaliar a sua vitalidade
para permitir a organização dos grupos de um modo equilibrado. A vitalidade das colónias
foi calculada através da avaliação da quantidade de abelhas adultas, de criação e de
reservas de mel e pólen, considerando-se para o efeito a inspeção dos quadros 2, 4, 6 e 8.
Em cada um destes quadros, foi identificado o grau de cobertura por abelhas/criação para
uma das faces, assim como de reservas de mel e pólen, atribuindo-se um valor de 0 (0%)
a 4 (100%) e aplicando-se a equação seguinte:
Vitalidade   A   C  0,5 R
sendo que A corresponde ao valor atribuído para a cobertura de cada face por abelhas
adultas, C corresponde ao valor atribuído para a cobertura de cada face por criação e o R
corresponde ao valor atribuído para a cobertura de cada face por reservas de pólen e mel.
A vitalidade das colónias num apiário determinará a disposição nos grupos a
instalar. Embora as colmeias sejam heterogéneas, com esta distribuição pretende-se que
os grupos sejam o mais homogéneos possível, minimizando o impacto das diferenças nos
resultados do estudo.
2.3. Organização dos apiários
Nos apiários VV, REB e CM foram selecionadas dez colónias, dispostas em dois
grupos de cinco de acordo com a avaliação da vitalidade. Num dos grupos foram
colocados na entrada das colmeias os capta-pólen, reservando-se outro grupo de cinco
colónias para o controle. Para a recolha de pólen nestes apiários, manteve-se fechada a
grelha do capta-pólen (posição de captura) durante sensivelmente 2 dias (de acordo com
as condições climatéricas), Figura 10, após os quais se recolheu o pólen presente nas
gavetas. De seguida, as grelhas foram removidas permitindo a entrada livre das abelhas
nos dois dias seguintes, Figura 11, iniciando-se posteriormente um novo ciclo de recolha.
28
_____________________________________________________________________________
No apiário SC selecionaram-se quinze colónias colocando-se o capta-pólen em
dez colmeias (dois grupos) e servindo as restantes cinco como grupo de controlo. Num
dos grupos a grelha do capta pólen permaneceu ininterruptamente fechada durante todo
o período experimental, recolhendo-se o pólen das gavetas a cada dois dias de intervalo
(de acordo com as condições climatéricas). Nas restantes cinco colmeias com capta-pólen
o processo de recolha de pólen foi idêntico ao descrito para os restantes apiários. Para a
adaptação das abelhas ao capta-pólen, e consequentemente à nova entrada, após a sua
instalação, o capta-pólen foi mantido sem a grelha durante 48 horas.
Figura 10 - Capta-pólen com a grelha fechada (posição de captura)
Figura 11 - Capta-pólen com a grelha aberta
29
_____________________________________________________________________________
2.4. Colheita das amostras
A colheita de pólen realizou-se de abril a junho nos apiários localizados no
concelho de Vila Nova de Foz Côa, enquanto para os apiários localizados no concelho de
Bragança a recolha ocorreu entre maio e julho, Figura 12. O pólen foi recolhido das
gavetas sensivelmente em intervalos de dois dias, sendo pesado individualmente por
colónia após a remoção de detritos visíveis e imediatamente congelado e conservado a
uma temperatura de -18ºC.
Figura 12 - Capta-pólen com pólen
2.5. Secagem
A secagem do pólen apícola é um processo de extrema importância para a sua
conservação e portanto para a segurança alimentar deste produto, evitando o
desenvolvimento de fungos e bolores. O processo de secagem reduz o seu teor de
humidade de 25-30% para valores entre 4% e 8%, considerados adequados para a sua
preservação (Campos et al., 2008). Nestas condições evita-se não só o crescimento de
bactérias mas também promove-se a manutenção das características organoléticas do
pólen apícola.
O método de secagem utilizado neste trabalho foi a secagem em estufa: o pólen
congelado, após atingir a temperatura ambiente foi disperso em tabuleiros de papel e
30
_____________________________________________________________________________
colocado numa estufa a uma temperatura controlada de 45ºC, durante aproximadamente
12 horas. O tempo global de secagem foi ajustado em função da quantidade de pólen no
tabuleiro e da avaliação do estado das cargas polínicas, prolongando-se o tempo quando
as mesmas apresentassem humidade. Após a secagem, o pólen foi pesado para avaliar a
redução do teor de humidade, armazenando-se de seguida em vácuo, para evitar possíveis
contaminações.
2.6. Avaliação das cargas polínicas
As caraterísticas do pólen apícola são dependentes de fatores ambientais como a
disponibilidade floral em redor do apiário associado com a época de floração das
diferentes espécies, mas poderão também ser influenciadas por outros fatores associados
com o processo de colheita do pólen. Para avaliar estas diferenças ao nível da produção
foi efetuada a avaliação das cargas polínicas, nomeadamente através da identificação da
origem botânica maioritária bem como o peso médio das cargas polínicas.
(a)
(b)
Figura 13 - (a) Amostragem das 100 cargas polínicas (b) Separação por cores
Para avaliar o peso médio, efetuou-se, para cada amostra, e depois de realizada
a secagem, a separação de 100 cargas polínicas determinando-se o peso médio por carga.
De seguida, as cargas foram separadas por cor avaliando-se a percentagem de cada cor na
amostra, Figura 14. Para a identificação da origem botânica maioritária foram
31
_____________________________________________________________________________
selecionadas, em cada amostra, as cores com representação superior a 60% do peso total.
Após a seleção, preparou-se uma suspensão de pólen utilizando dez cargas polínicas
trituradas e misturadas com 1 mL de água desionizada. Estas suspensões foram depois
analisadas por microscopia numa colaboração como o Laboratório Apícola da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (LabApisUtad).
2.7. Avaliação da produção de mel
O processo de produção de mel decorreu em todos os apiários de acordo com os
procedimentos de maneio apícola comuns, disponibilizando-se a cada colónia um número
de meias-alças mediante as suas necessidades de desenvolvimento. No final da época de
produção, que ocorreu no início de julho para os apiários do concelho de Vila Nova de
Foz Côa e em inícios de agosto para os apiários do concelho de Bragança, Figura 14,
efetuou-se a cresta das meias-alças, recorrendo-se a uma unidade de produção primária.
A quantificação do mel produzido por colónia foi obtida por diferença de pesagem entre
a meia-alça antes e após a extração.
Figura 14 - Cresta no apiário Reboleira (REB)
32
_____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
33
_____________________________________________________________________________
Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos nos apiários
experimentais, nomeadamente a vitalidade das colónias para regularização dos grupos de
estudo, a produção de pólen e de mel assim como a identificação e caracterização do
pólen.
3.1.Vitalidade das colónias
Para efetuar uma distribuição homogénea das colónias pelos grupos avaliou-se
o vigor de cada colónia, de acordo com a metodologia descrita anteriormente e
considerando a população de abelhas adultas, criação e reservas da colónia. A Tabela 7
resume os resultados encontrados para a vitalidade das colónias selecionadas para o
estudo nas regiões de Vila Nova de Foz Côa e de Bragança, segundo a equação do capítulo
2.2. Os valores obtidos variam, na região de Bragança, entre um mínimo de 16,5 e um
máximo de 29,8, enquanto na região de Vila Nova de Foz Côa as colmeias apresentaram
uma vitalidade entre 20 e 28,6.
Tabela 7 - Vitalidade das colónias nos vários apiários
Apiários
Colónias
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
CM
SC
VV
REB
Vitalidade Grupo Vitalidade Grupo Vitalidade Grupo Vitalidade
Grupo
23,9
C
23,5
A
20,3
B
22,4
B
23,8
B
27,0
B
19,3
C
23,8
B
22,3
C
27,5
C
19,0
C
26,0
B
20,5
B
24,0
C
21,0
C
27,8
C
20,0
B
25,5
B
21,8
C
16,5
C
23,3
C
25,0
C
28,8
B
28,5
C
28,6
C
21,0
B
19,0
B
23,5
C
23,3
B
23,9
A
21,0
B
29,8
B
28,0
B
23,1
A
19,0
B
28,8
C
22,8
C
23,8
C
17,5
C
22,0
B
24,9
A
21,3
A
19,3
B
23,0
C
19,3
B
CM – Castelo Melhor; SC – Senhora do Campo; VV – Vale das Vinhas; REB – Reboleira; A – com
capta-pólen em contínuo; B- capta-pólen em alternância; C – controlo
34
_____________________________________________________________________________
O objetivo desta avaliação foi organizar os grupos de um modo equilibrado (Acapta-pólen com grelha em contínuo, B – capta-pólen com grelha em alternância e C –
grupo de controlo), pois, embora as colmeias sejam heterogéneas, com esta distribuição
pretende-se minimizar o impacto das diferenças nos resultados do estudo. A distribuição
final das colónias por grupo está apresentada na Tabela 7.
3.2. Produção de pólen
A recolha de pólen apícola é uma atividade que pode complementar o
rendimento do apicultor, no entanto, é uma produção que compete diretamente com a
produção de mel, uma vez que ambas ocorrem sensivelmente na mesma época do ano.
Para além dos conhecimentos específicos por parte dos apicultores, a produção de pólen
apenas terá sucesso em zonas onde exista uma elevada disponibilidade de flora produtora
de pólen. Para avaliar essa produtividade apresentam-se de seguida os resultados obtidos
nos quatro apiários experimentais considerados neste trabalho, dois no concelho de Vila
Nova de Foz Côa e dois no concelho de Bragança.
Os apiários de Castelo Melhor (CM), Figura 15 (a), e de Senhora do Campo
(SC), Figura 15 (b), situam-se na mesma zona geográfica (concelho de Vila Nova de Foz
Côa) e a colheita de pólen decorreu desde abril até final de junho. No apiário CM a
produção total de pólen foi de aproximadamente 2700 gramas correspondendo a 5
colónias em produção, com as grelhas fechadas aproximadamente cada dois dias. No
apiário SC a recolha foi de 14490 gramas, sendo que esta quantidade de pólen foi
produzida utilizando-se dois grupos de 5 colmeias onde se aplicou duas metodologias
distintas: A- grelhas em contínuo (fechadas ininterruptamente); B- grelhas fechadas
aproximadamente cada dois dias. Em ambos os apiários constata-se que a maior produção
de pólen ocorre desde finais de abril até meados de maio. No apiário CM há um pico de
produção de aproximadamente 550 gramas observado no início de maio, diminuindo
consideravelmente a produção após os meados desse mês. Este comportamento é
sensivelmente o mesmo no apiário SC, totalizam cerca de 1130 gramas no método A e
aproximadamente 650 gramas no método B.
Como seria expectável e de uma forma global, há maior produção de pólen no
método A, grelhas em contínuo, com uma produção total de 9515 gramas,
35
_____________________________________________________________________________
correspondendo a um acréscimo de quase 50% comparativamente ao método B, com 4975
gramas. Por outro lado, e comparando o mesmo método de produção verificou-se que a
produtividade das colónias no apiário SC foi bastante mais elevada, o que poderá ficar-se
a dever à maior disponibilidade de flora polínica em redor deste apiário.
600
(a)
Peso (g)
500
400
300
200
100
0
(b)
1200
Peso (g)
1000
800
600
Método A
Método B
400
200
19-04-2014
21-04-2014
23-04-2014
28-04-2014
30-04-2014
02-05-2014
05-05-2014
07-05-2014
09-05-2014
12-05-2014
16-05-2014
19-05-2014
26-05-2014
28-05-2014
31-05-2014
02-06-2014
04-06-2014
06-06-2014
13-06-2014
17-06-2014
20-06-2014
23-06-2014
27-06-2014
0
Figura 15 - Produção de pólen no concelho de Vila Nova de Foz Côa: (a) apiário de Castelo Melhor; (b)
apiário de Senhora do Campo
Comparando a produção diária dos dois métodos utilizados no apiário SC,
verifica-se que no método A a quantidade de pólen produzida é superior, contudo, a partir
de meados de maio, acompanhando o decréscimo generalizado da produção de pólen
verifica-se uma inversão na produção com os melhores resultados a serem obtidos no
36
_____________________________________________________________________________
método B. Este comportamento poderá justificar-se pela distribuição de tarefas da colónia
ao longo do período experimental. Como no método A as grelhas permanecem fechadas
ininterruptamente, no início do período experimental, a colónia viu-se privada do aporte
de pólen por parte das obreiras. Nesse sentido, e para compensar o deficit de pólen que
poderia existir na colmeia, um maior número de abelhas foi orientada para a recolha de
pólen, pelo que comparativamente, num mesmo intervalo de tempo, o método A terá mais
obreiras a recolher pólen que o método B, aumentando assim a produção. Este
comportamento deixa de existir a partir de meados de maio, como já foi referido,
possivelmente devido ao impacto que houve na criação de abelhas. Apesar de tudo,
Lengler (2002) defende que as abelhas podem colher até 40 kg de pólen por colmeia
durante o ano, podendo o apicultor aproveitar 3 a 5 kg sem afetar o desenvolvimento da
colónia. Na situação mais extrema, as colónias do método A produziram
aproximadamente 2 kg por colmeia.
Nos apiários localizados no concelho de Bragança, Vale das Vinhas (VV),
Figura 16 (a) e Reboleira (REB), Figura 16 (b), a colheita realizou-se de maio a julho e
obtiveram-se produções de aproximadamente 7600 gramas e 6880 gramas,
respetivamente. Os picos de produção de pólen são muito diferentes dos apiários
localizados no concelho de Vila Nova de Foz Côa. Enquanto nestes o pico de produção
ocorre desde final de abril até meados de maio, nos apiários de Bragança a maior
produção de pólen acontece de meados de junho até meados de julho. Esta diferença
verifica-se uma vez que a floração ocorre desfasada, sendo que na terra quente (Vila Nova
de Foz Côa) a floração ocorre mais cedo do que na terra fria (Bragança).
Por outro lado, conseguiu-se uma maior persistência na produção em Bragança
comparativamente com Vila Nova de Foz Côa. As maiores produções verificadas nos
apiários de Vila Nova de Foz Côa ocorrem durante sensivelmente quatro semanas, com
produções médias, neste período temporal, de aproximadamente 370 gramas para o
apiário CM e 490 gramas para o apiário SC (metodologia B). Nos apiários de Bragança
o comportamento é diferente, já que as maiores produções prolongam-se durante mais
tempo, sensivelmente seis semanas, atingindo valores médios de aproximadamente 550
gramas para o apiário VV e 560 gramas para o apiário REB (não se tiveram em
consideração os picos máximos de julho para cálculo das médias).
Nesta localização, observa-se em ambos os apiários um pico de produção no
início de junho, com valores na ordem dos 600 g. Este comportamento coincide com o
período de maior floração de Cistaceas (Cistus sp.) e Fabaceas (Cytisus sp.), muito
37
_____________________________________________________________________________
caraterísticas da região. Segundo Ventura et al. (2011) no período de floração das estevas
(família Cistaceae), de fins de maio até meados de junho, a produção média diária de
pólen foi de 130±63 g. Nos apiários em estudo, VV e REB, e durante esse período, a
produção média diária de pólen por colmeia foi inferior, respetivamente de 68 g e 60 g.
2100
(a)
1800
Peso (g)
1500
1200
900
600
300
0
2100
(b)
1800
Peso (g)
1500
1200
900
600
300
0
Figura 16 - Produção de pólen no concelho de Bragança: (a) apiário de Vale das Vinhas (VV); (b) apiário
da Reboleira (REB)
38
_____________________________________________________________________________
O maior realce nos apiários de Bragança, é, no entanto, a existência de um pico
de grande produção no início de julho com aproximadamente 1600 gramas no apiário
REB e 2100 no apiário VV. Tal produção poderá associar-se com a floração do
castanheiro que ocorre nesta altura do ano. Neste período as produções médias diárias por
colmeia foram de 178 gramas no apiário REB e de 228 gramas no apiário VV. Estes
valores são mais elevados comparativamente aos obtidos por Ventura et al., (2011), onde
a produção média diária de pólen foi de 66,45±10,46 g, considerando a mesma floração.
As diferenças observadas entre estes dois estudos poderão estar associadas à abundância
destas duas plantas na vizinhança do apiário.
Como se pode constatar, mesmo os resultados obtidos em regiões relativamente
próximas apresentam performances produtivas com variações significativas. Por esta
razão, a comparação com outros resultados disponíveis na literatura deve ser considerada
com precaução, uma vez que os estudos apresentados por outros autores, incluem
diferenças na localização, área de floração disponível, eficiência do capta-pólen, vigor da
colónia, bem como nas condições ambientais das áreas testadas.
Ismail et al., (2013) num estudo realizado durante dois anos consecutivos no
Egipto, descreve produções médias de pólen por colónia e por estação de 589 g, em 2009,
e 409 g no ano de 2010. Comparativamente, no presente trabalho os valores registados
são maiores, sendo o apiário Castelo Melhor (CM) aquele que apresenta menores
produções, com aproximadamente 630 gramas por colónia durante a Primavera, e o
apiário Vale das Vinhas (VV) aquele com maiores produções, aproximadamente 1940
gramas por colónia (não se considerou para a comparação o apiário Senhora do Campo SC com a metodologia A - capta-pólen ininterruptamente).
Bogdanov (2014a) faz referência a diferentes estudos realizados em diversos
locais da Europa e EUA, sobre a quantidade de pólen produzido pelas colmeias. Os
valores obtidos na Europa variaram entre 1,4 e 9,2 kg de pólen por colmeia durante o ano
enquanto os valores encontrados na Califórnia foram consideravelmente maiores,
variando entre 1,1 e 40,4 Kg. Segundo o mesmo autor, esta diferença é provavelmente o
resultado de um período de recolha mais longo.
Do mesmo modo, Funari et al. (1998), em estudos realizados em Botucato,
Brasil, com abelhas africanizadas obtiveram uma produção média de pólen por colmeia,
no período de agosto a novembro, de 1,5±0,9 kg, com colheitas semanais e intervalo de
uma semana, valores que se enquadram dentro dos resultados obtidos neste trabalho.
39
_____________________________________________________________________________
3.3. Caracterização das cargas polínicas
As caraterísticas do pólen apícola dependem essencialmente da disponibilidade
floral existente em redor do apiário e da época de floração das diferentes espécies,
contudo, o processo de colheita do pólen também pode influenciar determinadas
características do pólen. Para avaliar estas diferenças ao nível da produção foi efetuada a
avaliação das cargas polínicas, nomeadamente através da identificação da origem
botânica maioritária bem como o peso médio das cargas polínicas.
3.3.1. Determinação da origem floral
A determinação dos taxa presentes no pólen colhido neste trabalho foi efetuada
através da separação prévia das cargas polínicas por cores/tonalidades, seguida da
identificação microscópica dos grãos de pólen. Para a identificação efetuou-se a
comparação com base em dados de imagens/fotografias de pólenes apícolas e florais
reconhecidos por outros autores, bem como através do reconhecimento da flora apícola
dos apiários em questão nas datas de colheita (trabalho realizado em colaboração com o
Laboratório Apícola da UTAD - LabApisUtad). Os resultados obtidos para os diversos
apiários em estudo estão representados na Figura 17 e Figura 18. Em cada apiário foram
analisadas as amostras em intervalos de 7-10 dias aproximadamente. Os resultados
apresentados referem-se apenas às cargas polínicas que, através da separação por cores,
representam mais de 60% do total da amostra.
De acordo com a Figura 17, apiário CM em Vila Nova de Foz Côa, podemos
observar que durante o mês de abril, o pólen é predominantemente de Cistaceae e
Fabaceae, aparecendo também a Fagaceae no final do mês de abril. De acordo com as
caraterísticas florais da zona envolvente do apiário, adquire importância as cargas
polínicas de cor laranja referentes ao pólen de Cistus sp. e também as cargas polínicas
amarelas produzidas pelo Quercus sp. No início de maio o pólen é bastante multifloral,
observando-se uma mistura de Cistaceae, Fabaceae, Oleaceae, Viateceae e Asteraceae.
De realçar a importância que a Olea europea (família Oleaceae) assume na produção de
pólen nesta região durante um determinado período temporal (meados de maio). Após o
final do mês de maio as Rosaceae, cujas cargas polínicas aparecem com uma cor verde,
são claramente a floração mais relevante representando valores acima de 80% da floração
de todo o pólen.
40
_____________________________________________________________________________
100
Cistaceae
90
Cistaceae e Fabaceae
80
Fabaceae
Percentagem
70
60
Fagaceae
50
Oleaceae
40
30
Vitaceae, Fagaceae e
Rosaceae
Asteraceae
20
10
0
Rosaceae
Figura 17 - Composição do pólen no apiário Castelo Melhor (CM)
No apiário SC, embora a localização seja a mesma do anterior, as caraterísticas
polínicas das amostras de pólen recolhida pelos dois grupos de colmeias (metodologias
A e B) evidenciam algumas especificidades nomeadamente com famílias diferentes,
Campanulaceae, Apiaceae e Crassulaceae, sugerindo que as abelhas procuram flores
diferentes na mesma localização geográfica, embora o perfil de pólenes seja
aproximadamente o mesmo.
Como seria de prever, considerando a localização destes dois apiários na região
de Vila Nova de Foz Côa, o perfil polínico é muito semelhante, constituindo as famílias
Cistaceae e Fagaceae a maior parte do pólen da colheita de abril. Dentro das cistáceas
destaca-se o Cistus sp., que representa aproximadamente 70% da floração do pólen na
metodologia B, e nas fagáceas a maior contribuição deve-se ao Quercus sp..
No mês de maio constata-se também para este apiário a presença de uma elevada
diversidade das fontes de pólen originário de várias famílias. No início, o pólen tem
origem nas famílias Asteraceae e Campanulaceae (grupo A), aparecendo também as
famílias Fagaceae, Vitaceae e Fabaceae no grupo B. Em meados de maio o perfil polínico
multifloral é representado por uma mistura de Oleaceae, Vitaceae, Cistaceae e
Ranunculaceae a que se junta a família Apiaceae no grupo B. É de realçar novamente a
41
_____________________________________________________________________________
importância que poderá ter a oliveira (Olea europea) como produtora de pólen, uma vez
que no grupo A chega a representar 55% de uma amostra. Em junho é notória a
representatividade das rosáceas (Rubus sp.) com valores superiores a 64%.
Percentagem
(a)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Cistaceae
Fagaceae
Fagaceae e Vitaceae
Campanulaceae
Asteraceae
Oleaceae, Vitaceae, Cistaceae e
Ranunculaceae
Oleaceae
Rosaceae
(b)
100
Cistaceae
90
Fagaceae
Percentagem
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Asteraceae
Asteraceae, Fagaceae,
Vitaceae e Fabaceae
Rosaceae
Oleaceae e Ranunculaceae
Apiaceae, Vitaceae, Oleaceae,
Asteraceae e Fagaceae
Oleaceae, Crassulaceae e
Asteraceae
Figura 18 - Composição do pólen no apiário da Senhora do Campo: (a) metodologia A; (b) metodologia
B
Nos apiários de Bragança, a origem botânica do pólen é diferente, como seria de
esperar com a alteração das caraterísticas edafoclimáticas. Na família das fabáceas, a
espécie observada em Bragança é a giesta, Cytisus sp., enquanto em Vila Nova de Foz
42
_____________________________________________________________________________
Côa surge a representar esta família o Trifolium sp.. O mesmo acontece na família
fagáceas, onde em Bragança é representada pela espécie Castanea sativa (cargas
polínicas de cor amarela) e em Vila Nova de Foz Côa aparece o género Quercus sp..
Adicionalmente, a variação entre as duas regiões em estudo faz-se também notar pela não
observação de pólenes de Oleaceae, Vitaceae, Ranunculaceae, ou Asteraceae, surgindo
alternativamente outras famílias.
Percentagem
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Percentagem
(a)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Cistaceae
Cistaceae e Fabaceae
Fabaceae
Fagaceae
Rosaceae
Poaceae
(b)
Cistaceae
Cistaceae e Fabaceae
Fabaceae
Fagaceae
Rosaceae
Plantaginaceae e Poaceae
Figura 19 - Composição do pólen nos apiários: (a) Reboleira (REB) e (b) Vale das Vinhas (VV)
Em ambos os apiários o pólen recolhido em maio é proveniente de cistáceas com
uma representação de 66% da amostra. Esta família mantem a sua representação até
43
_____________________________________________________________________________
meados de junho surgindo conjuntamente com outras cargas polínicas de cor amarela com
origem nas giestas, família Fabaceae. No final de junho, o pólen resultante do apiário
REB apresenta uma composição mista entre Fagaceae (53%) e Rosaceae (43%), enquanto
no apiário VV a proveniência do pólen é maioritariamente de Fagaceae, Na colheita de
18 de julho o pólen é de Cistaceae e de Rosaceae (Rubus sp.). Já no final de julho, o pólen
proveniente do apiário de REB é na sua grande parte de Poaceae (68%) e o pólen do
apiário VV surge, além da família Poaceae a família Plantaginaceae, representando esta
mistura 85% da floração.
De realçar que os picos de produção verificados nestes apiários ocorrem no
início de junho com uma contribuição significativa de Cytisus sp. e Cistus sp, e
posteriormente no início de julho, atribuindo-se o aumento de produção à floração do
castanheiro (Castanea sativa). Estas famílias são as responsáveis pelas maiores
produções nestes apiários para esta época do ano.
Resultados semelhantes foram reportados por Pires et al. (2005) que incidiram
na vegetação mais característica das regiões do Norte e Centro de Portugal
(Leguminoseae, Fagaceae, Boraginaceae, Labiateae, Ericaceae e Cistaceae).
Também Feás et al. (2012) descrevem para o pólen do Parque Natural do Douro
Internacional a presença de nove famílias, concretamente Cistaceae, Boraginaceae,
Rosaceae, Fagaceae, Asteraceae, Fabaceae, Ericaceae, Mimosaceae e Myrtaceae,
semelhante aos resultados reportados por Morais et al. (2011), resultantes da
determinação da origem palinológica de pólen de cinco Parques Naturais de Portugal
(Parque Nacional Peneda Geres, Parque Natural do Montesinho, Parque Natural do
Alvão, Parque Natural da Serra da Estrela e Parque Natural do Douro Internacional).
3.3.2. Humidade do pólen
A secagem do pólen apícola é um processo de extrema importância para a sua
conservação e consequentemente para a segurança alimentar deste produto. É um dos
aspetos que deverá receber do apicultor uma maior atenção. De acordo com a literatura
os valores de humidade relativa do pólen fresco são de 30% (Almeida- Muradian e
Penteado, 2007) que após secagem reduzem-se para valores de 4-8% (Campos et al.,
2008). Nestas condições de humidade, o pólen poderá ser conservado sem ocorrer o
desenvolvimento de fungos e bolores.
44
_____________________________________________________________________________
A Figura 20 ilustra a variação da humidade do pólen fresco ao longo do tempo,
consoante os apiários de origem, com os valores a apresentarem uma variação
aproximadamente entre os 10% e os 33%.
40
35
Percentagem
30
25
CM
20
SCA
SCB
15
Reb
10
VV
5
26-jul
19-jul
12-jul
05-jul
28-jun
21-jun
14-jun
07-jun
31-mai
24-mai
17-mai
10-mai
03-mai
26-abr
19-abr
0
Figura 20 - Humidade do pólen
De uma forma geral, para um mesmo período, o pólen recolhido nos apiários de
Vila Nova de Foz Côa apresenta teores de humidade inferiores comparativamente com o
pólen recolhido nos apiários de Bragança, com os valores a oscilar, em termos médios,
em redor de 16% e 21%, respetivamente.
Nos apiários de Vila Nova de Foz Côa em abril a humidade do pólen apresentou
valores superiores decrescendo durante o mês de maio, onde os valores variam entre 10%
e 20%. O máximo de humidade foi verificado em junho no apiário CM, onde o pólen
apresentou um valor próximo de 33%, enquanto no apiário SC registou um pico de 32%.
Estes valores superiores aos 30% corresponderam a intervalos de amostragem onde
ocorreu alguma precipitação, elevando a humidade relativa do ar e consequentemente
afetando o teor de humidade do pólen.
Na região de Bragança, o comportamento entre os apiários é também
semelhante. O pólen do apiário VV apresentou valores médios de humidade de 22% e o
pólen do apiário REB apresentou teores médios de 21%. Nestes apiários, o teor de
humidade durante o mês de junho manteve-se sempre em valores de humidade elevados,
particularmente no apiário VV. Também nestes apiários, a variabilidade dos teores de
humidade registados no pólen, refletem as condições climatéricas que ocorreram durante
45
_____________________________________________________________________________
o período de amostragem. Durante todo o estudo apenas se registou uma amostra com
indícios de fermentação, tornando-se desadequada ao consumo humano.
3.3.3. Peso das cargas polínicas
A colocação de capta-pólen na entrada de uma colmeia reduz evidentemente a
quantidade de pólen disponível para a alimentação da criação na colónia. Como resultado
dessa diminuição, a distribuição de funções na colmeia é ajustada de modo a garantir uma
quantidade de pólen suficiente para as necessidades da colónia. Adicionalmente há alguns
autores que referem a adaptação das abelhas às grelhas do capta-pólen, nomeadamente
através da redução do tamanho e peso da carga polínica. Para identificar esta última
possibilidade determinou-se para cada amostra, depois de efetuada a separação de 100
cargas polínicas, o peso médio por carga.
0,009
Peso médio (gramas)
0,008
0,007
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
0
Figura 21 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário Castelo Melhor (CM)
Na Figura 21 pode observar-se a variação do peso seco das cargas polínicas no
apiário CM. Ao longo do período experimental o peso médio das cargas polínicas varia
entre um máximo de 8,8 mg no início da recolha para um mínimo de 5,5 mg no final,
correspondendo a um decréscimo de 37% em massa. O comportamento observado neste
apiário foi distinto do observado no apiário SC, situado na mesma região geográfica,
Figura 22. No apiário SC, houve um ligeiro aumento do peso médio da carga polínica em
maio, para decrescer a seguir, mas mantendo-se os valores sempre superiores aos iniciais.
46
_____________________________________________________________________________
Os pesos neste apiário oscilam entre 5,5 mg e 7,5 mg, um pouco abaixo do verificado no
apiário CM.
0,008
0,007
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
0
(b)
0,008
Peso médio (gramas)
Peso médio (gramas)
(a)
0,007
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
0
Figura 22 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário Senhora do Campo (SC): (a) Grupo
A e (b) Grupo B
É de destacar neste apiário que os pesos médios das cargas polínicas obtidos com
as duas metodologias de recolha de pólen não apresentaram diferenças. Efetivamente, e
considerando a possibilidade de uma adaptação das abelhas em pastoreio à presença
contínua de grelhas no grupo A, seria expectável uma maior diminuição do peso das
cargas polínicas ao longo do tempo de forma a aumentar a eficiência na introdução de
pólen para o interior da colónia. Contudo, os resultados permitem excluir essa
possibilidade.
47
_____________________________________________________________________________
0,009
0,008
0,007
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
0
(b)
Peso médio (gramas)
Peso médio (gramas)
(a)
0,009
0,008
0,007
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
0
Figura 23 - Variação do peso médio das cargas polínicas no apiário: (a) Vale das Vinhas -VV e (b)
Reboleira – REB
O peso das cargas polínicas na região de Bragança adotou o mesmo
comportamento descrito anteriormente para o apiário CM, diminuindo ao longo do
tempo, Figura 23. Nestes apiários observou-se uma oscilação entre um máximo de 8,5
mg no início da produção e um mínimo de 4,1 mg no final da produção, correspondendo
a um decréscimo de mais de 50% do valor inicial.
Considerando os resultados verificados em três dos apiários experimentais, a
redução observada do peso médio das cargas polínicas parece apontar para uma adaptação
das abelhas em pastoreio ao capta-pólen. No entanto, não será de descartar a possibilidade
de a redução do peso médio estar relacionada com a variação da vegetação disponível em
torno do apiário, bem como com as condições climáticas para o florescimento (Condón,
2005).
3.4. Produção de mel
Após a época de recolha de pólen, procedeu-se à remoção das meias-alças de
cada uma das colónias para a extração do mel, recorrendo-se a uma unidade de produção
primária. Para os apiários do concelho de Vila Nova de Foz Côa este procedimento
ocorreu no início de julho enquanto para os apiários do concelho de Bragança ocorreu em
inícios de agosto. A quantificação do mel produzido por colónia foi obtida por diferença
48
_____________________________________________________________________________
de pesagem entre a meia-alça antes e após a extração. As quantidades obtidas em cada
apiário encontram-se na Figura 24.
120
Quantidade de mel (kg)
100
Controlo
80
Com capta-pólen
60
Com capta-pólen
ininterruptamente
40
20
0
CM
SC
VV
REB
Figura 24 - Produção de mel nos apiários de Castelo Melhor (CM), Senhora do Campo (SC), Vale das
Vinhas (VV) e Reboleira (REB)
De uma forma geral, as quantidades de mel produzidas nos apiários de Bragança
(VV e REB) foram superiores comparativamente aos de Vila Nova de Foz Côa (CM e
SC), obtendo-se 360 e 270 kg, respetivamente.
Como se pode verificar na Figura 24, em três dos quatro apiários experimentais
a produção de mel foi inferior nas colmeias onde se realizou a recolhas de pólen o que
vem comprovar o impacto da colocação do capta-pólen. Contrariamente, no apiário SC o
valor de mel produzido pelas colónias de controlo correspondeu ao valor mais reduzido
de todos os grupos com uma média por colónia de apenas 11 kg. Este valor anormalmente
baixo é justificado pela presença de várias colmeias no grupo sem produção ou com uma
produção de mel muito reduzida, o que sugere a ocorrência de algum problema no
desenvolvimento das colónias deste grupo alheio à experiência.
Comparando a produção de mel nas colónias que serviram de controlo com a
produção das colónias onde foram colocados capta-pólen, constata-se que há uma redução
média da produção de 18%, especificamente de 25% em CM, 22% em VV e apenas 6%
49
_____________________________________________________________________________
em REB. Estes dados são ligeiramente inferiores aos obtidos por Funari et al. (1998) os
quais observaram reduções na produção de mel devido à colocação de capta-pólen, na
ordem de 28%.
O impacto da recolha de pólen é ainda mais significativo quando se compara os
resultados obtidos no apiário de SC para as colmeias onde as grelhas foram mantidas
fechadas ao longo de todo o ensaio. Neste caso, verificou-se uma quebra adicional da
produção de mel na ordem dos 26%, demonstrando sem qualquer dúvida o impacto da
falta de pólen na recolha de néctar. Neste grupo a quantidade de pólen recolhida por
colmeia aproximou-se dos 2 kg, o que já ultrapassa o valor recomendado por diversos
autores, que aponta para produções até 1,5 kg/colmeia/ano, para que as produções médias
de mel não diminuam (FNAP, 2010).
Na Tabela 8 estão apresentadas as médias de mel produzidas por colónia em
cada um dos apiários. Embora, em termos médios, o capta-pólen causa uma quebra na
produção de mel de cerca de 18%, a variabilidade das produções entre colónia do mesmo
grupo é bastante elevada, particularmente nos apiários de Bragança, inviabilizando a
análise estatística dos resultados. Efetivamente a análise de variância (ANOVA) dos
resultados, para um nível de significância de 5%, demonstra que os grupos não diferem
significativamente entre si. Por esta razão, os resultados descritos em termos de produção
de mel deverão ser interpretados como uma tendência, sendo recomendável aumentar o
número de colmeias por grupo.
Tabela 8 - Produção de mel por colmeia (kg) e desvio-padrão nos vários apiários
Apiário
Grupo
Controlo
Capta-pólen
CM
15±4
11±3
SC
11±3
17±5
VV
20±15
15±16
REB
19±15
18±13
Média
16
15
Capta-pólen
ininterruptamente
12±3
12
De acordo com os dados mencionados na Tabela 8, as colónias do grupo de
controlo apresentaram uma produção de mel por colónia de 16, o que está de cordo com
os valores mencionados no PAN, o qual atribuí uma produtividade entre 16 e 22 kg por
50
_____________________________________________________________________________
colónia (Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas, 2010).
Analisando as colónias onde foram colocados capta-pólenes, a média da produção de mel
por colónia decresce para os 15 kg nas colónias com recolha de pólen alternada e para 12
kg por colmeia para as colónias com recolha de pólen contínuo, valores abaixo da
produtividade expectável por colónia, particularmente com produção contínua de pólen.
Considerando os resultados obtidos, é evidente o impacto na redução de mel
produzido nas colónias onde se efetuou a recolha de pólen. Este decréscimo de produção
é, no entanto, compensado pelo aporte de pólen com um valor comercial quatro a cinco
vezes superior a do mel. A opção pela sua produção deverá por isso ser ponderada,
considerando por um lado a localização do apiário numa região com abundância de
plantas produtoras de pólen, a época do ano mais adequada à produção de pólen, e a
metodologia de recolha, sendo que o impacto na produção de mel será tanto maior quanto
mais extensa e intensiva for a recolha de pólen.
51
_____________________________________________________________________________
CAPÍTULO 4
CONCLUSÃO
52
_____________________________________________________________________________
A importância do pólen para a colónia é inquestionável, pois dele dependem as
abelhas para o suprimento das suas necessidades de proteínas e sais minerais. Por essa
razão, a colocação de capta-pólen nas colmeias condiciona o comportamento da colmeia
que terá de maximizar a recolha de pólen de modo a garantir a necessária quantidade para
a alimentação das abelhas. Este condicionamento poderá refletir-se na produção dos
restantes produtos apícolas como o mel. Os resultados deste trabalho permitem extrair
diversas conclusões no que se refere à produtividade de pólen na região de Trás-osMontes e Alto Douro, particularmente nos concelhos de Bragança e Vila Nova de Foz
Côa, e desta forma poderá ser considerado pelos apicultores para ponderar a recolha de
pólen apícola como uma atividade que pode complementar o rendimento da sua
exploração.
Nos apiários de Vila Nova de Foz Côa constata-se que a maior produção de pólen
ocorre num curto período de três semanas, entre os finais de abril até meados de maio,
com um máximo de produção observado no início de maio. Após este período a produção
reduz-se consideravelmente, o que refletirá a menor disponibilidade de plantas produtoras
de pólen em redor dos apiários. Comparando a produtividade global dos dois métodos de
recolha aplicados no apiário Senhora do Campo (SC), é evidente o ganho na produção de
pólen com a colocação contínua das grelhas, justificado quer pelo aumento do tempo de
recolha quer pelo ganho de produtividade diária observado para as colmeias deste grupo.
A colocação contínua de grelhas corresponde a um ganho de 50% na quantidade de pólen
recolhido, atingindo no período em análise uma média aproximada de 2 kg de pólen por
colmeia. Ao nível da produção média diária, a recolha contínua de pólen apresentou
valores mais elevados no período de maior floração, contudo, a partir de meados de maio,
verifica-se uma inversão na produção com os melhores resultados diários a serem obtidos
no método B, com recolha em períodos alternados. Este comportamento poderá justificarse pela distribuição de tarefas da colónia ao longo do período experimental. Como no
método A as grelhas permanecem fechadas ininterruptamente, no início do período
experimental, a colónia viu-se privada do aporte de pólen por parte das obreiras. Nesse
sentido, e para compensar o deficit de pólen que poderia existir na colmeia, um maior
número de abelhas foi orientada para a recolha de pólen, pelo que comparativamente,
num mesmo intervalo de tempo, o método A terá mais obreiras a recolher pólen que no
método B, aumentando assim a produção. Este comportamento deixa de existir a partir
de meados de maio, possivelmente devido ao impacto que houve na criação de abelhas.
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Para os apiários localizados no concelho de Bragança, Vale das Vinhas (VV), e
Reboleira (REB) os picos de produção de pólen são muito diferentes dos localizados no
concelho de Vila Nova de Foz Côa, ocorrendo a maior produção de pólen de meados de
junho até meados de julho. Esta diferença verifica-se uma vez que a floração ocorre
desfasada, sendo que na terra quente (Vila Nova de Foz Côa) a floração ocorre mais cedo
do que na terra fria (Bragança).
Ao nível da produção, verificou-se também uma maior persistência na
quantidade de pólen recolhida em Bragança comparativamente com Vila Nova de Foz
Côa, decorrendo as maiores produções dos apiários de Vila Nova de Foz Côa durante
sensivelmente quatro semanas, enquanto nos apiários de Bragança as maiores produções
prolongam-se durante seis semanas. Este prolongamento do período reflete-se na
produtividade das colónias, pelo que para o mesmo método de recolha de pólen, os
apiários de Bragança apresentaram um ganho de produção superior a 47%, evidenciando
as vantagens desta localização.
Em Bragança, observa-se em ambos os apiários um pico de produção no início
de junho, com valores na ordem das 120 g por colónia, muito semelhante ao encontrado
nos restantes apiários experimentais. Este comportamento coincide com o período de
maior floração de cistáceas (Cistus sp.) e fabáceas (Cytisus sp.), muito caraterísticas da
região. Contudo, o máximo de produção em Bragança ocorre no início de julho chegando
a atingir 320 g, em média, por colónia no apiário REB e 420 g no apiário VV. Tal
produção poderá associar-se com a floração do castanheiro, reconhecido como uma planta
com elevada produção de pólen, que ocorre nesta altura do ano. Neste período de floração
do castanheiro as produções médias diárias por colmeia foram de 178 g no apiário REB
e de 228 g no apiário VV. Estes valores são consideravelmente mais elevados
comparativamente com os obtidos por Ventura et al. (2011), onde a produção média diária
de pólen foi de 66±10 g, considerando a mesma floração. As diferenças observadas entre
estes dois estudos poderão estar associadas à abundância destas duas plantas na
vizinhança do apiário. Os resultados obtidos em regiões relativamente próximas
apresentam performances produtivas com variações. Daí que, a comparação com outros
resultados disponíveis na literatura deve ser considerada com precaução, uma vez que os
estudos apresentados por outros autores, incluem diferenças na localização, área de
floração disponível, eficiência do capta-pólen, vigor da colónia, bem como nas condições
ambientais das áreas testadas.
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Nos dois apiários na região de Vila Nova de Foz Côa, o perfil polínico é muito
semelhante, constituindo as famílias Cistaceae e Fagaceae a maior parte do pólen da
colheita de abril. No mês maio constata-se um aumento da diversidade das fontes de
pólen, observando-se no apiário de Castelo Melhor, uma mistura de Cistaceae, Fabaceae,
Oleaceae, Viateceae e Asteraceae. De realçar a importância que a Olea europea (família
Oleaceae) assume na produção de pólen nesta região durante um determinado período
temporal (meados de maio). Após o final do mês de maio as Rosaceae são claramente a
floração mais relevante devido à presença do pólen de Rubus sp..
Nos apiários de Bragança, a origem botânica do pólen é diferente, como seria de
esperar com a alteração das caraterísticas edafoclimáticas. Na família das fabáceas, a
espécie observada em Bragança é a giesta, Cytisus sp., enquanto em Vila Nova de Foz
Côa surge a representar esta família o Trifolium sp.. O mesmo acontece na família das
fagáceas, onde em Bragança é representada pela espécie Castanea sativa e em Vila Nova
de Foz Côa aparece a espécie Quercus sp.. Adicionalmente, a variação entra as duas
regiões em estudo faz-se também notar pela não observação de pólenes de Oleaceae,
Vitaceae, Ranunculaceae, ou Asteraceae, surgindo alternativamente outras famílias. No
final de junho e inícios de julho, o pólen de Rubus sp. surge também nestes apiários como
um dos pólenes mais representativos, aparecendo no final do estudo as famílias Poaceae
e Plantaginaceae.
Considerando os períodos de maior recolha de pólen nos diferentes apiários, é
de realçar a importância do contributo das cistáceas (Cytisus sp.) e fabáceas (Cistus sp,)
para os primeiros picos de produção, atribuindo-se à família Fagacea (Castanea sativa)
em finais de junho e inícios de julho o aumento da produção de pólen na região de
Bragança.
De uma forma geral, para um mesmo período, o pólen recolhido nos apiários de
Vila Nova de Foz Côa apresenta teores de humidade inferiores comparativamente com o
pólen recolhido nos apiários de Bragança, com os valores médios a oscilar em redor de
16% e 21%, respetivamente. Estes valores estão de acordo com os parâmetros descritos
na literatura, no entanto, em todos os apiários observou-se pontualmente valores
superiores a 30 %, refletindo nestes casos as condições climatéricas de um período
específico da amostragem.
A avaliação dos pesos das cargas polínicas ao longo da amostragem permitiu
verificar, em três dos apiários experimentais, uma redução do seu peso médio o que
parece apontar para uma adaptação das abelhas em pastoreio ao capta-pólen com o
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objetivo de aumentar a eficiência da entrada de pólen na colmeia. No entanto, não será de
descartar a possibilidade de a redução do peso médio estar relacionada também com a
variação da vegetação disponível em torno do apiário, bem como com as condições
climáticas para o florescimento.
No que diz respeito à produção de mel, as quantidades de mel recolhidas nos
apiários de Bragança (VV e REB) foram superiores comparativamente com os de Vila
Nova de Foz Côa (CM e SC), obtendo-se 360 e 270 kg, respetivamente. Em três dos
quatro apiários experimentais a produção de mel foi inferior nas colmeias onde se realizou
a recolha de pólen com uma redução média aproximada de 18%, o que vem comprovar o
impacto negativo da colocação do capta-pólen na produção de mel. Este decréscimo de
produtividade é, no entanto, compensado pelo aporte de pólen com um valor comercial
quatro a cinco vezes superior ao do mel. A opção pela sua produção deverá por isso ser
ponderada, considerando por um lado a localização do apiário numa região com
abundância de plantas produtoras de pólen, a época do ano mais adequada à produção de
pólen, e a metodologia de recolha, sendo que o impacto na produção de mel será tanto
maior quanto mais extensa e intensiva for a recolha de pólen. No caso particular dos
ensaios efetuados, o concelho de Bragança é sem dúvida o mais adequado para a recolha
de pólen podendo-se explorar as colónias por um período mais prolongado e com
produções diárias mais elevadas.
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