UNIVERSIDADE TUIUITI DO PARANÁ Maria Teresa Garcia Barbosa VESTIMENTAS EM TELA DE PINTURA: UMA INSPIRAÇÃO SURREALISTA CURITIBA 2008 Maria Teresa Garcia Barbosa VESTIMENTAS EM TELA DE PINTURA: UMA INSPIRAÇÃO SURREALISTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Design da Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Design de Moda. Orientadora: Guiomar Roda. Curitiba 2008 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1 1.1 Foto do Produto................................................................................................ 3 2. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 4 2.1 Surrealismo....................................................................................................... 4 2.1.1 As Relações entre surrealismo e psicanálise................................................... 4 2.1.2 Surrealismo nas artes....................................................................................... 6 2.1.3 O surrealismo no Brasil...................................................................................23 2.1.4 O surrealismo no design e na moda...............................................................26 2.2 Telas de pintura...............................................................................................33 2.3 Tintas utilizadas nas pinturas em tela.............................................................35 2.4 “Art to wear” ou “Wearable art”…………………………………………………...41 2.5 A história e a química das cores....................................................................45 2.6 Corantes Naturais utilizados nos experimentos do projeto “Vestimentas em tela para pintura: uma inspiração surrealista”......................................................................48 2.7 Poluição Têxtil..................................................................................................53 2.8 Customização...................................................................................................55 3 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................59 3.1 Introdução.........................................................................................................59 3.2 Metodologia.......................................................................................................59 3.2.1 Experimentos para desenvolvimento das tintas................................................59 3.2.2 Criação e confecção dos vestidos.....................................................................64 3.2.3 Estruturação da idéia e do conceito..................................................................71 3.3 Funções prática, estética e simbólica...............................................................72 3.4 Público Alvo......................................................................................................75 3.5 Produtos Similares............................................................................................76 3.5.1 Análise Diacrônica.............................................................................................76 3.5.2 Análise Sincrônica.............................................................................................83 3.6 Conceito.............................................................................................................85 3.7 Ambiência..........................................................................................................85 3.8 Cartela de Materiais...........................................................................................86 3.9 Cartela de Cores................................................................................................87 3.10 Geração de Alternativas....................................................................................88 3.11 Relato da escolha das alternativas selecionadas.............................................100 4 RESULTADOS................................................................................................. 101 4.1 Apresentação dos resultados........................................................................... 101 4.2 Alternativas Selecionadas.................................................................................103 4.3 Fichas Técnicas.................................................................................................108 4.4 Fotos..................................................................................................................110 5 DISCUSSÃO......................................................................................................119 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................................121 7 REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS..................................................................122 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – FREUD........................................................................................................5 FIGURA 02 – REVISTA FRANCESA CRIADA POR ANDRÉ BRETON............................7 FIGURA 03 – A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA ..............................................................9 FIGURA 04 – A TENTAÇÃO DE S. ANTÔNIO.................................................................10 FIGURA 05 – SONHO CAUSADO PELO VÔO DE UMA ABELHA AO REDOR DE UMA ROMÃ UM SEGUNDO ANTES DE ACORDAR................................................................10 FIGURA 06 – ESCULTURA “O NASCIMENTO DO NOVO HOMEM”..............................11 FIGURA 07 – PINTURA “O NASCIMENTO DO NOVO HOMEM” ...................................11 FIGURA 08 – GIRAFE EM FEU - DALÍ.............................................................................12 FIGURA 09 – ROSTO DE MAE WEST PODENDO SER USADO COMO APARTAMENTO SURREALISTA...................................................................................................................12 FIGURA 10 – AUTO-RETRATO ........................................................................................14 FIGURA 11 – A FAZENDA ................................................................................ ...............15 FIGURA 12 – A VILA E A IGREJA DE MONTROIG - MIRÓ..............................................15 FIGURA 13 – O CARNAVAL DE ARLEQUIM - MIRÓ........................................................16 FIGURA 14 – MATERNIDAD – MIRÓ ...............................................................................17 FIGURA 15 – CIFRAS E CONSTELAÇÕES AMOROSAS DE UMA MULHER.................17 FIGURA 16 – LE JOCKEY PERDU - MAGRITTE..............................................................19 FIGURA 17 – A VIOLAÇÃO – RENÉ MAGRITTE .............................................................19 FIGURA 18 – THE DANGEROUS LIASON - MAGRITTE..................................................20 FIGURA 19 – LE BLANC-SEING - MAGRITTE................................................................. 21 FIGURA 20 – L´EMPIRE DE LES LUMIERES...................................................................21 FIGURA 21 – LES FILLS DE L´HOMME .........................................................................22 FIGURA 22 – ESCULTURA EM BRONZE “O IMPOSSÍVEL”..................................................24 FIGURA 23 – MANEQUIM DE ANDRÉ MASSON...........................................................27 FIGURA 24 – MESA COM PÉS DE AVES, DE MERET OPPENHEIN............................28 FIGURA 25 – VESTIDO “SKELETON” DE ELSA SCHIAPARELLI..................................28 FIGURA 26 – BROCHE “RUBY LIPS”, DE SALVADOR DALÍ..........................................29 FIGURA 27 – FAMOSO “CHAPÉU-SAPATO”, DE ELSA SCHIAPARELLI E DALÍ..........30 FIGURA 28 – DETALHE DO VESTIDO DECORADO COM LAGOSTA...........................30 FIGURA 29 – PERFUME “SHOCKING DE SCHIAPARELLI”……………………………...31 FIGURA 30 – IMAGEM DE “SAUERKIDS”.......................................................................32 FIGURA 31 – IMAGEM DE “SAUERKIDS”.......................................................................32 FIGURA 32 – AMOSTRA DE JUTA CRUA.......................................................................34 FIGURA 33 – ROLOS DE TECIDO PARA TELAS DE PINTURA (LONA)........................34 FIGURA 34 – ROLO DE TECIDO PARA TELAS DE PINTURA (ALGODÃO)...................35 FIGURA 35 – OBRA: “SPOTTY DOTTY COLUMBINE”, DE JONATHAN WOOD………..43 FIGURA 36 – OBRA “SHE LOOKS GOOD IN A SACK”, DE CATHY TREE HARRIS..….44 FIGURA 37 – OBRA “BLOW ME’, DE WENDY BURTON E PATRICK DUFFY.................44 FIGURA 38 – O VENCEDOR DO CONCURSO: RODNEY LEONG, COM SUA PEÇA “THE LOVE OF ICARUS”...................................................................................................45 FIGURA 39 – SÍNTESE QUÍMICA DO INDANTRONA......................................................46 FIGURA 40 – FORÇAS IÔNICAS PRESENTES NAS FIBRAS DOS TECIDOS................47 FIGURA 41 – CIDADE DE SIKNAHOUVILLE, NO CAMBOJA..........................................54 FIGURA 42 – FRUTAS.......................................................................................................55 FIGURA 43 – CUSTUMIZAÇÃO ATRAVÉS DA PINTURA EM CAMISETA......................57 FIGURA 44 – PEÇAS DA MARCA “IMITATION OF CHRIST”...........................................57 FIGURA 45 – SOLVENTES UTILIZADOS NOS EXPERIMENTOS...................................60 FIGURA 46 – BASE INCOLOR PARA TINTA DE TECIDO................................................60 FIGURA 47 – TESTE REALIZADO COM A MANGA.........................................................61 FIGURA 48 – TESTE REALIZADO COM A CÚRCUMA MOÍDA.......................................62 FIGURA 49 – URUCUM IN NATURA.................................................................................63 FIGURA 50 – TINTAS PRODUZIDAS................................................................................64 FIGURA 51 – ESTRUTURA DO LOOK 1...........................................................................65 FIGURA 52 – TECIDO PLISSADO.....................................................................................65 FIGURA 53 – MANGA SENDO FEITA MANUALMENTE...................................................66 FIGURA 54 – SAIA ABERTA DE PATCHWORK...............................................................66 FIGURA 55 – LOOK NÚMERO 2.......................................................................................67 FIGURA 56 – AÇO REVESTIDO COM PLÁSTICO...........................................................68 FIGURA 57 – ARAME LISO NÚMERO 20.........................................................................68 FIGURA 58 – CONE CORTADO........................................................................................68 FIGURA 59 – CONE COM ARAME....................................................................................68 FIGURA 60 – CONE MONTADO........................................................................................69 FIGURA 61 – MONTAGEM DOS CONES E OUTROS DETALHES..................................69 FIGURA 62 – ACABAMENTO INTERNO DAS CAVAS.....................................................70 FIGURA 63 – DETALHE DO ZÍPER POSTERIOR............................................................70 FIGURA 64 – CONVITE DA EXPOSIÇÃO “AIR OF THE EAST – FASHION ART FROM KOREA”..............................................................................................................................77 FIGURA 65 – TRABALHO EXPOSTO NO EVENTO.........................................................78 FIGURA 66 – PEÇA “UNDER THE SEA”, DE JUNG SUN HUH………………………..…..78 FIGURA 67 – PEÇA: “SEE THROUGH ART WORKS”, DE KYUNGOK JIN………………79 FIGURA 68 – PEÇA: “NATURE”, DE KI HYANG LEE.......................................................79 FIGURA 69 – KIT ADICOLOR, PRODUZIDO PELA ADIDAS............................................80 FIGURA 70 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA ADIDAS...................................................81 FIGURA 71 – VESTIDO DE ISSEY MIYAKE.....................................................................82 FIGURA 72 – VESTIDO DE JUN NAKAO..........................................................................82 FIGURA 73 – JOGO AMERICANO TINGIDO ARTESANALMENTE.................................83 FIGURA74 – VESTIDO PRODUZIDO POR TAO KURIHARA PARA COMME DES GARÇONS..........................................................................................................................84 FIGURA 75 – KIT PARA CUSTOMIZAÇÃO DA MARCA J.GOODS..................................84 FIGURA 76 – AMBIÊNCIA – PINTURA DE DALÍ...............................................................85 FIGURA 77 – CROQUI Nº 1...............................................................................................88 FIGURA 78 – CROQUI Nº 2...............................................................................................88 FIGURA 79 – CROQUI Nº 3...............................................................................................89 FIGURA 80 – CROQUI Nº 4...............................................................................................89 FIGURA 81 – CROQUI Nº 5...............................................................................................90 FIGURA 82 – CROQUI Nº 6...............................................................................................90 FIGURA 83 – CROQUI Nº 7...............................................................................................91 FIGURA 84 – CROQUI Nº 8...............................................................................................91 FIGURA 85 – CROQUI Nº 9...............................................................................................91 FIGURA 86 – CROQUI Nº 10.............................................................................................92 FIGURA 87 – CROQUI Nº 11.............................................................................................92 FIGURA 88 – CROQUI Nº 12.............................................................................................93 FIGURA 89 – CROQUI Nº 13.............................................................................................93 FIGURA 90 – CROQUI Nº 14.............................................................................................94 FIGURA 91 – CROQUI Nº 15.............................................................................................94 FIGURA 92 – CROQUI Nº 16.............................................................................................95 FIGURA 93 – CROQUI Nº 17.............................................................................................95 FIGURA 94 – CROQUI Nº 18.............................................................................................96 FIGURA 95 – CROQUI Nº 19.............................................................................................96 FIGURA 96 – CROQUI Nº 20.............................................................................................97 FIGURA 97 – CROQUI Nº 21.............................................................................................97 FIGURA 98 – CROQUI Nº 22.............................................................................................98 FIGURA 99 – CROQUI Nº 23.............................................................................................98 FIGURA 100 – CROQUI Nº 24...........................................................................................99 FIGURA 101 – CROQUI Nº 25...........................................................................................99 FIGURA 102 – ALTERNATIVA SELECIONADA (1).........................................................103 FIGURA 103 – ALTERNATIVA SELECIONADA (2).........................................................104 FIGURA 104 – ALTERNATIVA SELECIONADA (3).........................................................105 FIGURA 105 – ALTERNATIVA SELECIONADA (4).........................................................106 FIGURA 106 – ALTERNATIVA SELECIONADA (5).........................................................107 Resumo No surrealismo, a loucura é aceita como um valor positivo. O projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista” tem o objetivo de explorar o aspecto criativo que uma coleção de moda pode alcançar, integrando as artes plásticas, o design e a moda. A customização possibilita o laço de união criativa entre os usuários e a peça. Elementos e detalhes das obras dos artistas surrealistas são representados na coleção, que tem base também na “Wearable art”, visando os aspectos conceituais da moda. Dois vestidos são confeccionados em material de tela para pintura, estes podem ser coloridos com tintas desenvolvidas através de corantes naturais (pois esse trabalho apresenta um estudo e confecção de tintas naturais) ou através de tintas a critério dos usuários. Diversos testes são necessários para os experimentos de extração, fixação e migração de cor, e estes são detalhados nesse trabalho, utilizando frutas, sementes, raízes e folhas. Palavras-chave: surrealismo, customização, tintas naturais. Abstract In surrealism, the madness is accepted as a positive value. The project "Outfits worn by screen painting: an inspiration surreal" aims to explore the creative aspect that a collection of fashion can achieve by integrating the visual arts, design and fashion. The customization allows the bond of creativity union between users and the object. Elements and details of the surreal works of artists are represented in the collection, which is also based on "Wearable art" aimed at the conceptual aspects of fashion. Two dresses are made out of material from screen to paint; they may be colored with paint developed through natural dyes (because this work presents a study and preparation of natural dyes) or through paints the choice of users. Various tests are needed for the experiments of extracting, fixing and migration of color, and these are detailed in this work, using fruits, seeds, roots and leaves. Key-words: surrealism, customization, natural inks. 1 INTRODUÇÃO O embasamento em idéias surrealistas estrutura o projeto “Vestimentas em telas de pintura: uma inspiração surrealista”, que segue a estética das obras de arte do inicio do movimento surrealista na França. As belas telas dos pintores espanhóis Salvador Dalí (1904-1989) e Joan Miró (1898-1983), e do belga René Magritte (1898-1967) servem de fonte de inspiração ao presente Trabalho de Conclusão de Curso. São analisadas as formas e volumes usados nas obras de arte, e ocorre a releitura das mesmas nos vestidos da coleção, que é constituída de peças de vestuário feitas em material para telas de pintura. Sendo assim, os usuários têm o livre-arbítrio de adequá-las ao seu estilo próprio. A linha de pensamento surrealista permite liberdade de expressão, e como isso ocorre nas artes plásticas através de telas, há o intuito de exemplificá-la no Design de Moda, através de uma coleção conceitual. Outro movimento que serve como base para esse projeto é a “Wearable Art” ou “Art to Wear”, que traduzido para o português significa “arte para vestir”, e despontou em meados dos anos setenta, apesar de alguns relatos anteriores a essa data provarem que seu início foi mais antigo. A principal característica dessa estética é a criação de roupas que não somente servem para serem consumidas e comercializadas, mas sim para serem vistas e apreciadas. “Vestimentas em tela para pintura” é um projeto de design, com bases artísticas e de pesquisa em relação à história da arte, fundamentos do design e da moda, e este projeto busca unir todas essas áreas de forma harmoniosa. Há, ainda, um estudo em relação à criação de tintas a partir de pigmentos extraídos diretamente da natureza. 1 O estudo de pigmentos naturais é composto de textos e experimentos práticos, com base em livros específicos e orientações de profissionais. São mostradas imagens dos processos e materiais utilizados. As tintas sintéticas também são explicadas, incluindo tabelas com passo-a-passo de sua fabricação. 2 Fotos dos Produtos Peça 1: Peça 2: 3 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Surrealismo 2.1.1 As Relações entre surrealismo e psicanálise O surrealismo foi um movimento ocorrido nas artes plásticas, na Europa (mais precisamente na França e Espanha), por volta do ano de 1922, e tratava-se de uma das vanguardas que viriam a definir o modernismo. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Freud considerava que o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade, e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente. O pai da psicanálise, não exaltava os valores sociais da elite, como por exemplo, o status, a família e a pátria. Sigmund Freud não foi apenas o criador de uma nova teoria da mente, ou uma nova forma de terapia, a psicanálise. Ele deixou seu legado na cultura ocidental como um todo, criando um verdadeiro clima cultural e fazendo com que as pessoas descobrissem o lado oculto de suas personalidades. As obras influenciadas por ele vêm carregadas de emoção, referindo-se a significados secretos que condensam desejos e necessidades nossas. Em sua obra mais conhecida, “A Interpretação dos Sonhos”, Freud explica o argumento para postular o novo modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o acesso ao mesmo, tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas da hipnose. 4 FIGURA 1 FREUD. 1939. Fonte: http://www.wikipedia.com.br Segundo o filósofo Renato Janine Ribeiro, O pensamento de Freud influenciou vários artistas modernos, de Picasso a Pollock. E dificilmente saberemos ao certo o peso que essa influência teve em suas obras. Sem dúvida, a relação mais diretamente artística foi com o surrealismo: ajudou a liberar a mão nos admiráveis grafismos de Henri Michaux, mas também deu lugar aos “sonhos” pintados academicamente por Salvador Dalí. (RIBEIRO, 2006). A psicóloga e mestre em Psicologia-UFRJ, Maria Angelina Kalil Aidé escreveu um artigo intitulado “Surrealismo e Psicanálise” , e nele trata de questões como as influências de Freud no movimento artístico, a receptividade dos países euroupeus em relação à nova estética, entre outras informações. Segundo ela, havia um contato muito estreito entre Freud e André Breton, ambos médicos. Breton(18961966), criador e principal teórico do surrealismo, estudou medicina e psicologia, chegando a exercer a psiquiatria durante a Primeira Guerra, no exército. Admirável escritor, relatava os acontecimentos do surrealismo em relação às artes, e ao mesmo tempo, em relação à psicanálise. Apesar desse proximidade e da famosa associação entre artistas e teorias freudianas, Sigmund Freud não era 5 tolerante com os artistas da época, e em certas declarou que achava horríveis os desenhos de Dalí, lamenta a tolerância com a arte moderna e diz que alguns desenhos o fazem reiterar a teoria da qual são exatamente as pessoas portadoras de defeito congênito de visão que se tornam pintores e desenhistas. A despeito dessa intolerância com os modernos, Freud aceitou receber a visita do pintor surrealista Salvador Dalí em Londres, pouco antes de morrer, em 1939. Concluiu estar diante de um charlatão, e disse: “Não é o inconsciente o que eu vejo em sua pintura, e sim o consciente”. Em outras palavras: “quadros surrealistas não poderiam servir para psicanalizar seus autores”, escreveu o jornalista Antonio Gonçalves Filho no jornal O Estado de S. Paulo em 07/05/06. Desavenças à parte, Freud deixou um legado cultural louvável, tanto nas áreas da psicanálise, como nas artes. 2.1.2 O surrealismo nas artes Os representantes do surrealismo mais conhecidos são o escultor italiano Alberto Giacometti, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os pintores espanhóis Salvador Dalí e Joan Miró, o belga René Magritte, o alemão Max Ernst, e o cineasta espanhol Luis Buñuel e os escritores franceses André Breton, Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques Prévert. O Manifesto Surrealista cita 19 nomes. As artes plásticas utilizam técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens, revelando concepção estética e poética em um momento histórico. Com essas fundamentações, o projeto tem sua estética definida. A pintura e a escultura têm papel fundamental na estruturação das peças, em termos de modelagem, volume a estampas. 6 O Manifesto Surrealista foi principal documento escrito sobre essa escola artística, por André Breton em 1924, e juntamente com o escritor Soupault, deram o nome de Surrealismo ao novo modo de expressão que tinham a seu alcance, em homenagem a Guillaume Apollinaire. Esse manifesto contém os princípios surrealistas,seus pensamentos, ideais, ideologias. Adotavam uma realidade superior, considerada maravilhosa. Digamo-lo claramente de uma vez por todas: o maravilhoso é sempre belo; qualquer tipo de maravilhoso é belo, só o maravilhoso é belo. (...) Desde cedo as crianças são apartadas do maravilhoso, de modo que, quando crescem, já não possuem uma virgindade de espírito que lhes permita sentir extremo prazer na leitura de um conto infantil (...) Em homenagem a Gullaume Apollinaire, Soulpault e eu demos o nome de SURREALISMO ao novo modo de expressão que tínhamos à nossa disposição e que estávamos ansiosos por pôr ao alcance de nossos amigos. (BRETON, 1924). FIGURA 2 REVISTA FRANCESA CRIADA POR ANDRÉ BRETON, 1924. Fonte: http://www.wikipedia.com.br O manuscrito do Manifesto Surrelista será leiloado em 20 de Maio de 2008, em Paris. Citando frases do manifesto : “A atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio, e da presunção rasteira. É dela que nascem os livros que insultam a inteligência.” (BRETON,1924). A citação anterior baseou a frase que define o conceito desse projeto, sobre a libertação das idéias. "Só o que me exalta ainda é a 7 única palavra: liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano". (BRETON,1924). Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências lógicas e da razão e ir além da consciência quotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos. Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech é, sem dúvida, o mais conhecido dos artistas surrealistas. Estudou em Barcelona e depois em Madri, na Academia de San Fernando. Nessa época teve oportunidade de conhecer Lorca e Buñuel. Suas primeiras obras foram influenciadas pelo cubismo e pela pintura metafísica de Giorgio De Chirico. Finalmente aderiu ao surrealismo, junto com seu amigo Luis Buñuel, o principal expoente do cinema surrealista. Em 1924, Dali foi expulso da Academia e começou a se interessar pela psicanálise de Freud, de grande importância ao longo de toda a sua obra. Sua primeira viagem a Paris em 1927 foi fundamental para sua carreira. Fez amizade com Picasso e Breton e se entusiasmou com a obra de Tanguy e o maneirista Arcimboldo. No final dos anos 30 foi várias vezes para a Itália a fim de estudar os grandes mestres. Instalou seu ateliê em Roma, embora continuasse viajando. Depois de conhecer em Londres Sigmund Freud, fez uma viagem para a América, onde publicou sua biografia A Vida Secreta de Salvador Dali (1942). Ao voltar, se estabeleceu definitivamente em Port Lligat com Gala, sua mulher, ex-mulher do poeta e amigo Paul Éluard. Desde 1970 até sua morte dedicou-se ao desenho e à construção de seu museu. Além da pintura, Salvador Dalí desenvolveu esculturas e desenho de jóias e móveis. Tinha personalidade extremamente forte e era arrogante. Tinha auto-estima elevadíssima, e uma prova disso é que desistiu da Faculdade de Artes porque dizia que lá não haviam professores a sua altura. Algumas de suas famosas citações, que 8 exprimem seu ego: “Aos seis anos eu queria ser cozinheiro. Aos sete, Napoleão. E minha ambição veio crescendo desde aquela época”. (DALÍ 1948). “Inteligência sem ambição é como um pássaro sem asas” (DALÍ, 1948). FIGURA 3 A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA – Dalí. 1939. Fonte: DESCHARNES, Robert. Dali “A Persistência da memória” é, com certeza, as obras mais famosas de Salvador Dalí, que criou nessa tela uma “fotografia dos sonhos pintada à mão”. Pode ser interpretada como a incessante preocupação do homem com o tempo e às memórias, pois desintegra relógios como objetos moles, como corpos humanos. 9 FIGURA 4 A TENTAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO. Pintado por Dalí em 1946. Fonte: DESCHARNES, Robert. Dali O quadro representado na figura 4 foi pintado por Dalí em 1946, utilizando tinta a óleo e mede 90 x 119,5 cm. Esta tela foi pintada para um concurso em Nova York, no qual onze artistas tinham que expressar a tentação de Santo Antônio.Além de Dalí, participaram artistas como: Paul Delvaux, Leonora Carrington, Dorothea Tanning,e o vencedor do concurso Max Ernst. FIGURA 5 SONHO CAUSADO PELO VÔO DE UMA ABELHA AO REDOR DE UMA ROMÃ UM SEGUNDO ANTES DE ACORDAR,1944. FONTE: http://www.150diasembarcelona.wordpress.com 10 FIGURA 6 ESCULTURA: NASCIMENTO DE UM NOVO HOMEM, 1943. FONTE: http://www.meaus.com/dali-egg-birth.htm A escultura mostrada na imagem acima tem altura de 12,5 centímetros e representa o novo homem, que tem que se libertar se seu passado e por isso o ovo o engloba. É um símbolo de uma nova ordem, um novo começo de um mundo perfeito. FIGURA 7 PINTURA: NASCIMENTO DE UM NOVO HOMEM, 1943. FONTE: http://www.wikipedia.com.br 11 FIGURA 8 GIRAFE EM FEU,1937 FONTE: http://www. casoual.wordpress.com A figura acima é do quadro “Girafe en Feu”, que retrata uma atmosfera crepuscular com o céu azul profundo. Há duas figuras fêmeas, sendo que uma delas com gavetas que se abrem. FIGURA 9 ROSTO DE MAE WEST PODENDO SER USADO COMO APARTAMENTO SURREALISTA, 1934 FONTE: http://www.agrup-eb23-amarante.rcts.pt/dali2.jpg 12 Depois da Segunda Guerra Mundial, Dalí e sua esposa Gala mudaram-se para os Estados Unidos da América, onde residiram por oito anos (período de 1940 à 1948). Depois, retornou à Catalunha, sua terra-mãe, onde ficou até os últimos dias de sua vida. Em 1960, iniciou os trabalhos no “Teatro-Museu Gala Salvador Dalí”, em Figueres, onde dedicou muitos anos. Gala faleceu em 1982, e isso deprimiu e desorientou Dalí, que recusava-se a comer e beber, tendo que ser alimentado por sonda nasal. Salvador Dalí morreu de pneumonia e falha cardíaca em 23 de Janeiro de 1989 e foi sepultado em seu querido Teatro-Museu. Outro espanhol marcante na surrealismo foi Joan Miró, nascido em 20 de abril de 1893, em Barcelona. No livro “Miró – Coleção artistas famosos”, o escritor Nicholas Ross conta um pouco de sua vida e obra: Joan Miro é considerado um dos mais versáteis artistas do século XX. É comum o vermos descrito como um surrealista espanhol, mas basta uma rápida olhada nesse livro para percebermos que Miró era vários artistas em um só.Miró usou pinturas, esculturas, tapeçarias, cerâmica, teatros e muitos monumentos públicos para expressar suas idéias, que tiveram uma influência duradoura e o tornaram um artista internacional. Tinha enorme orgulho de sua terra, a Catalunha, no nordeste da Espanha, e de sua cidade natal, Barcelona, à qual pertenciam também outros artistas, como Pablo Picasso, Salvador Dalí e Antoni Gaudí. Miró era um artista agitado numa época agitada(...)(Ross,2001, pág 5. ) Ainda no mesmo livro, existem informações sobre a vida do artista desde a infância. Seu pai e avô eram artesãos, e Joan Miró sempre se interessou pelas artes, tendo sido matriculado na “Escuela de Bellas Artes”, em Barcelona. Nessa academia, os desenhos realistas e precisos eram muito apreciados, enquanto o estilo abstrato era considerado inferior. Assim sendo, Miró chocou os membros da escola, com sua personalidade e uso expressivo das cores fortes, e segundo suas próprias palavras, um “fenômeno no desajeitamento”. 13 Comparados ao trabalho de seu pai, os desenhos de Miró provavelmente pareciam grosseiros, o que levou seus pais a lhe arrumarem um emprego de ajudante de contabilidade, quando tinha 17 anos. Não se adaptou ao trabalho, e saiu um ano depois, muito doente. Para se recuperar, foi para o interior da Catalunha, próximo à cidade de Montroig. Lá, se apaixonou pelas amplas paisagens e cores vivas. Voltando de Montroig, estudou com o professor de pintura Francisco Galí, que tinha estilo mais criativo e observador. Saiu da escola de Galí em 1915, e juntamente com alguns outros artistas juntou-se para desenvolver um estilo moderno de pintura, reconhecidamente catalão, pois era apaixonado por sua terra-natal. FIGURA 10 AUTO-RETRATO, MIRÓ. 1915. Pintura feita no final de seus estudos com Galí. FONTE: http://www.lib.fit.edu/.../arts/20p12023-Miro-SJSU.jpg Miró e seus amigos buscavam “a dimensão mística do temperamento catalão”. Segundo Nicholas Ross: (...) eles queriam pintar de forma a capturar a ‘experiência vivida’ de um lugar: a história e a memória dos artistas de uma cena. Características comuns da paisagem catalã apareciam regularmente nessas pinturas. (ROSS, 2001, pág. 9) 14 FIGURA 11 A FAZENDA, 1922. Paisagem catalã, exemplo 1. FONTE: http://www.poesiacontraaguerra.blogspot.com FIGURA 12 A VILA E A IGREJA DE MONTROIG, 1919. Paisagem catalã, exemplo 2. FONTE: http://cgfa.dotsrc.org/miro/miro7.jpg Nas imagens acima, dois exemplos de como Miró retratava a região da Catalunha. A primeira imagem contém inclusive uma árvore comum na Catalunha, o eucalipto. E na imagem dois ele retrata a vila de Montroig, incluindo os esgotos. Seu estilo era misto de tendências, usando cores chapadas e fortes, e o aspecto realista estava nas linhas finas e detalhadas. 15 Em 1818 o marchand Dalmau organiza uma exposição exclusiva para Miró, em Barcelona. Isso marcou o fim de um ciclo e início de outro em sua carreira, e fez com que ele se mudasse para paris, onde estava o centro de todas as vanguardas. Por volta de 1923 Joan Miró envolveu-se com artistas do surrealismo e dadaísmo. André Breton declarou: “Miró é o mais surreal de todos nós” (BRETON, 1925). Em 1925, houve uma exposição chamada “La Rèvolution Surrealiste”, instalada na “Galerie Pierre”, em Paris. O famoso quadro de Miró intitulado “O Carnaval de Arlequim” foi exposto, juntamente com outros dois do grande mestre. Então, aos 32 anos de idade ele foi aclamado e mundialmente reconhecido. FIGURA 13 O CARNAVAL DE ARLEQUIM, 1925. Esta peça esteve na exposição “La Rèvolution Surrealiste”. FONTE: http://www.brasilcultura.com.br/imagens/carnavaldearlequim_miro.jpg 16 FIGURA 14 MATERNIDAD, 1927.Pintura repleta de símbolos (semiótica). FONTE: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/artes/imagens/im_joanmiro/S_T_Maternid.jpg FIGURA 15 CIFRAS E CONSTELAÇÕES AMOROSAS DE UMA MULHER, 1941. FONTE: http://cgfa.sunsite.dk/miro/miro13.jpg 17 Por volta de 1944 empenhou-se em cerâmica e escultura, trabalhando com sucata. Em seus últimos trabalhos, Joan Miro reduziu elementos em suas pinturas a pontos e linhas e alguns símbolos, e diminuiu as cores também, aproximando-se do estilo naif. Em 1954, ganhou o prêmio de gravura da Bienal de Veneza e, quatro anos mais tarde, o mural que realizou para o edifício da UNESCO em Paris ganhou o Prêmio Internacional da Fundação Guggenheim. Joan Miró morreu em Palma de Maiorca, Espanha, em 25 de dezembro de 1983. O terceiro artista representado nesse trabalho é o belga René François Ghislain Magritte. Nascido em vinte e um de novembro de 1898 na cidade de Lessines, Bélgica, foi um dos principais pintores surrealistas de seu país. Com seu característico estilo “surrealista realista”, reagiu ao receber esse rótulo, pois afirmava que fazia o uso da pintura para tornar visíveis seus pensamentos. Magritte foi um pensador, segundo o estudioso português Benjamin Mendes Júnior: Magritte foi de facto um surrealista, mas foi também um pensador. O seu trabalho é sempre complexo e obriga ao raciocínio, à interpretação e ao estudo. Os quadros de Magritte não podem ser simplesmente vistos. Precisam ser pensados. Todo o surrealismo tem um trago de loucura que revela toda a genialidade. E Magritte é genial. (MENDES JÚNIOR, 2006). Em 1912, sua mãe cometeu suicídio por afogamento no rio Sambre. Magritte presenciou a retirada do corpo das águas do rio. Aos dezoito anos, ingressou na “Académie Royale des Beaux-Arts”, em Bruxelas, estudando por dois anos. Em 1926 fez sua primeira pintura surrealista, “Le jockey perdu”. No ano seguinte mudou-se para Paris, onde se aprofundou nas atividades do grupo surrealista, e iniciou amizade com André Breton, Michel Duchamp e Paul Éluard. 18 FIGURA 16 LE JOCKEY PERDU. Autoria de René Magritte,1926. Fonte: http://www.portaldasartes.com.br. Com o fechamento da “Galerie Centaure” (onde tinha contrato em Paris), retornou a Bruxelas, e por lá permaneceu mesmo durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, em quinze de agosto de 1967, faleceu de câncer e teve seu corpo enterrado em Bruxelas. FIGURA 17 A VIOLAÇÃO. René Magritte,1948. Fonte: http://www.portaldaarte.com.br/surrealismo 19 A pintura em guache sobre papel, intitulada “A violação”, de René Magritte (ver figura 17) é uma das imagens mais poderosas da época. Os seios constituem os olhos; o umbigo, o nariz; a púbis, a boca. Assim composto, o rosto reflete os desejos secretos do pintor e do observador de que algumas mulheres possam transmitir a sua sexualidade na forma como olham. A escolha do título da obra indica o conflito corrente do observador voyeur. Destruiu-se algo óbvio, o rosto, por algo mais óbvio ainda, e impressiona pelo caráter contestador. FIGURA 18 THE DANGEROUS LIAISON, 1926. FONTE: http://blog.uncovering.org/archives/2006/03/rene_magritte_1.html Outra tela com desconstrução das formas femininas é a “The Dangerous Liaison”, pintada em 1926. Benjamin Mendes Júnior explica-a: Baseadas na imagem do espelho, as certezas perceptíveis são novamente chamadas. A relação entre o espelho e aquilo que reflecte, uma relação vulgarmente considerada indissolúvel, surge quebrada. Uma jovem nua pode ver-se numa perspectiva alterada no espelho por trás do qual está de pé, contudo o observador que está colocado à frente do espelho esperaria ver-se reflectido nele. (MENDES JÚNIOR, 2006). 20 FIGURA 19 “LE BLANC-SEING”. MAGRITTE, 1965. FONTE: http://blog.uncovering.org/archives/2006/03/rene_magritte_1.html A figura 18 é da pintura “Le Blanc-Seing”, e trata da questão do invisívelvisível. FIGURA 20 L´EMPIRE DES LUMIERES. MAGRITTE, 1954 FONTE: http://blog.uncovering.org/archives/2006/03/rene_magritte_1.html 21 A cena retratada na figura 19 é noturna com o céu diurno. Magritte interpretou-a da seguinte forma: "(...) a paisagem leva-nos a pensar na noite, o céu no dia. Na minha opinião, esta simultaneidade de dia e noite tem o poder de surpreender e de encantar. Chamo a este poder poesia."(MAGRITTE,1954). FIGURA 21 “LE FILS DE L´HOMME”,1926. FONTE: http://blog.uncovering.org/archives/2006/03/rene_magritte_1.html A obra “Le fils de l´homme” é uma das mais famosas de René Magritte, e ele próprio a define: "Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondido pelo que vemos. Minha pintura são imagens visíveis que significam nada, elas evocam o mistério e, quando alguém vê uma dessas figuras, ele pergunta-se ‘ o que isso significa? ’ E não significa nada, porque o mistério significa nada também, é incompreensível”. (MAGRITTE, 1926). 22 2.1.3 O surrealismo no Brasil As idéias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no nosso país. Podemos identificar características surrealistas nas pinturas “Nu” de Ismael Nery, e “Aboporu” da artista Tarsila do Amaral. Outro exemplo é a obra “Eu Vi o Mundo, Ele Começava no Recife”, do artista pernambucano Cícero Dias, pois apresenta muitas características do surrealismo. As esculturas de Maria Martins também caminham nesta direção. Artigos afirmam que as idéias surrealistas desembarcaram no Brasil na segunda metade dos anos 1920, nas revistas “Estética” e “Antropofagia”. Em decorrência da tipografia, transportes e viagens, o movimento não tardou a chegar à América Latina. Os estudantes da Universidade de Buenos Aires, por exemplo, organizaram uma discussão sobre o novo movimento, havendo a formação do primeiro grupo surrealista da América Latina e no lançamento da revista Qué (dois números: 1928 e 1930). O segundo número da revista saiu datado de dezembro de 1930, e pouco depois o grupo se dissolveu, segundo Aldo Pellegrini, devido às "intrigas e canalhices de alguns dos componentes". Na capital peruana o processo também foi rápido, pois em 1925 a imprensa já debatia o assunto. Portanto, no Brasil isso não foi diferente. Na mesma época em que Lima recebeu as primeiras informações do surrealismo, a revista brasileira Estética apresentava matérias sobre o mesmo. Escritores como Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes (neto), estavam interessados nas novas propostas, e escreveram alguns textos baseados em André Breton, que a revista Estética publicou nas edições número 2 (de janeiro a março de 1925) e número 3 (meses de abril a junho de 1925). 23 Em 1928, o pernambucano Cícero Dias expôs no salão da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, e Graça Aranha (crítico de arte) o considerou como um verdadeiro pintor surrealista sem o sabê-lo, ou seja, ele captava ingenuamente o verdadeiro espírito do movimento. E nesse mesmo ano, ocorreu o nascimento da revista Antropofagia. Quando se pensa em surrealismo no Brasil nos anos 1930, devem-se fazer referências a, entre outros, Ismael Nery, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Flávio de Carvalho. Também, a partir do início da década de 1940, a Walter Lewy. E, obviamente, à escultora Maria Martins, cuja obra foi descoberta e reconhecida como surrealista apenas Nova Iorque, em 1943, por Breton e seus amigos. FIGURA 22 ESCULTURA EM BRONZE ”O IMPOSSÍVEL”. Maria Martins,1940. Fonte:http://www.aestufa.com.br Em maio de 1956 houve a bela exposição de Maria Martins no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O catálogo continha três textos, sendo um deles de André Breton, outro de Murilo Mendes, e o terceiro do poeta surrealista francês Benjamin Péret (1899-1959). 24 Na segunda metade da década de 50, Sergio Lima iniciou sua atividade plástica segundo uma perspectiva surrealista. Viajou a França, encontrando Breton em 1961 e participando das reuniões do grupo parisiense. De volta ao Brasil, impulsionou a formação do grupo surrealista de São Paulo/Rio, o qual, com o apoio do grupo francês, bem como de Maria Martins e de Flávio de Carvalho, organizou a Exposição Internacional do Surrealismo intitulada “A mão mágica e o andrógino primordial”, realizada em São Paulo, em 1967. Nas artes, o surrealismo foi importante para a libertação dos medos, angústias e sonhos dos artistas, pois as telas apresentavam as mais diversas formas, cores inusitadas e cenas insanas, como girafas em chamas com pescoço de gavetas e peixes voando pelo céu. Isto pode ser visto como a mais importante influência na explosão do crescimento do movimento artístico americano, e até mesmo da Pop Art. Com a II Guerra, o grupo inicial de artistas se dispersa, chegando ao fim. Mesmo assim, após a guerra, organizam-se duas grandes exposições surrealistas em Paris: na galeria Maeght, em 1947, e na galeria Daniel Cordier, em 1959/60. Hoje em dia a arte Surrealista continua imensamente popular entre curadores de museus. Em 2001, Tate Modern apresentou uma exibição de arte Surrealista que atraiu mais de 170.000 visitantes em sua temporada. O conceito do projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista” baseia-se em um trecho do Manifesto Surrealista, principal documento escrito sobre essa escola artística, por André Breton em 1924. No mesmo manifesto, Breton define Surrealismo: "Automatismo 25 psíquico pelo qual alguém se propõe a exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento". (BRETON, 1924). 2.1.4 O surrealismo no Design e na Moda A jornalista de moda Ana Helena Miranda escreveu o artigo “Surreal Things – Surrealism and Design” em três de setembro de 2007, sobre uma exposição envolvendo influências surrealistas no design, no museu “Victoria & Albert”, em Londres. Alguns trechos: Quando pensamos em Surrealismo pensamos em Salvador Dali. Quando se trata de moda, em Elsa Schiaparelli, estilista italiana influenciada pelo Cubismo e Surrealismo. A exposição do Victoria & Albert Museum, em Londres, Surreal Things – Surrealism and Design aborda este movimento artístico sob outros pontos de vista, explorando-o através da arquitetura, da publicidade, do teatro, do cinema, da moda e do design. O balé russo foi uma das primeiras esferas a ser influenciada pelo Surrealismo. Prova disso é que o diretor Serge Diaghilev convidou, em 1926, os artistas Max Ernst e Joan Miró para criar a cenografia e o figurino de Romeu e Julieta. Começava aí o engajamento do movimento surrealista com o mundo comercial. Na década de 30 o movimento tem no design de objetos sua válvula de escape para a necessidade de se materializar o Surrealismo, refletindo as complexidades e contradições do mundo moderno. Na moda, o vestido de gala de Elsa Schiaparelli, denominado Skeleton, além de seus chapéus esculturais, ressaltam a conexão do Surrealismo com o corpo. Unindo esferas como o físico e psicológico, além da exploração da sexualidade, a moda permitiu que o Surrealismo fosse comercializado de forma abrangente. Como diria Dali, “o mundo precisa de mais fantasia. Nós podemos fazer o fantástico real, e assim, torná-lo mais real do que a própria realidade”. (MIRANDA, 2007). Com quase 300 itens em exibição - entre móveis, pinturas, esculturas, jóias, roupas, fotografias e filmes-, o evento procurou mostrar como artistas se engajaram no mundo do design, e como os designers foram inspirados pelo movimento do surrealismo. As peças pertenciam a coleções públicas e particulares, muitas delas 26 nunca tinham sido exibidas anteriormente. A mostra foi dividida em sessões temáticas e apresentou obras de nomes famosos, como Salvador Dalí, René Magritte, Elsa Schiaparelli, Marcel Duchamp, Meret Oppenheim, Man Ray, Alberto Giacometti, Jean Arp, Joan Miró, Giorgio De Chirico, Isamu Noguchi, Eileen Agar, Jean Michel Frank, Frederick Kiesler e Max Ernst. Citando palavras da curadora da exposição “Surreal Things”, Ghislaine Wood: O surrealismo foi responsável por alguns dos objetos mais visualmente intrigantes do século 20(...). Nós esperamos nessa mostra explorar como o surrealismo penetrou o mundo do design, criando uma nova linguagem visual de modernidade. Ele capturou a imaginação popular e ainda é tremendamente poderoso hoje. (WOOD, 2007) Entre os destaques da exposição estavam peças famosas como o broche “Ruby Lips” e o “Telefone de lagosta”, de Salvador Dali (ver fotos 25 e 26) e vestidos de Elsa Schiaparelli (ver foto 24). A mostra dividia-se em seis partes: Protesto: o Balé; O Interior Ilusório; Natureza feita Estranha; Surrealismo e o Objeto, e Mostrando o Corpo e o Sonho, e esteve no museu “Victoria & Albert”, entre os dias 29 de março e 22 de junho de 2007.s todos FIGURA 23 MANEQUIM DE ANDRÉ MASSON, 1959. FONTE: http://fashionistasgracasadeus.blogspot.com 27 FIGURA 24 MESA COM PÉS DE AVES, DE MERET OPPENHEIN. FONTE: http://fashionistasgracasadeus.blogspot.com FIGURA 25 VESTIDO “SKELETON” DE ELSA SCHIAPARELLI FONTE: http://fashionistasgracasadeus.blogspot.com 28 FIGURA 26 BROCHE “RUBY LIPS”, DE SALVADOR DALÍ.1949. FONTE: http://www.joiabr.com.br/noticias/n290307a.html Na moda, o nome mais marcante aliado ao surrealismo é, sem dúvida, Elsa Schiaparelli. Para ela, a moda e arte sem caminharam juntas, e criava peças exuberantes e excêntricas, para valorizar as mulheres que as usavam. Suas criações, como roupas, chapéus e acessórios eram verdadeiras obras de luxo. Quando o vento arranca o chapéu da sua cabeça e o faz voar cada vez mais longe, é preciso correr mais rápido que o vento para alcançá-lo. Eu sempre soube que para construir mais solidamente, às vezes somos obrigados a destruir, a fim de estabelecer uma nova elegância para as maneiras brutais da vida moderna. (SCHIAPARELLI, 1954). A estilista era uma italiana de alma francesa, e conhecida como “Schiap” em Paris. Nascida em Roma, na Itália, teve o auge de sua carreira na década de 30. Se identificava muito com o surrealismo, chegando a trabalhar com Salvador Dalí em criações como o chapéu-sapato (figura 26), a bolsa em forma de telefone, o tailleur com vários bolsos em forma de gaveta e o vestido decorado com uma grande lagosta (figura27). 29 FIGURA 27 FAMOSO “CHAPÉU-SAPATO”, DE ELSA SCHIAPARELLI E DALÍ. FONTE: http://almanaque.folha.uol.com.br/schiaparelli.htm# FIGURA 28 DETALHE DO VESTIDO DECORADO COM LAGOSTA. Trabalho da união da estilista Elsa Schiaparelli e do artista Salvador Dali, em 1937. FONTE: http://almanaque.folha.uol.com.br/schiaparelli.htm# 30 O estilo excêntrico de Schiap era traduzido em uma cor, que ela tanto adorava: o “schoking”, ou rosa-choque. Em 1938, lançou um perfume com essa cor, e o frasco foi desenhado por sua amiga e artista plástica surrealista, Leonor Fini (1907-10996), e representava uma silhueta feminina. Yves Saint Laurent descrevia o tom rosa-choque como “uma provocação”. FIGURA 29 PERFUME “SHOCKING DE SCHIAPARELLI”.1938. FONTE: http://almanaque.folha.uol.com.br/schiaparelli.htm# No design gráfico, há uma dupla de artistas holandeses composta por Mark Moget e Taco Sipma, que utilizam o nome artístico de “Sauerkids”. Utilizando o surrealismo como inspiração, mas com estilo bem contemporâneo, eles azem trabalhos incríveis, contestadores e de resultado gráfico muito bom. A dupla se define como “uma combinação da inocência do imaginário infantil com a confusão mental diária da qual sofremos todos um pouco”. Imagens a seguir mostram um pouco desse trabalho: 31 FIGURA 30 IMAGEM DE “SAUERKIDS”, 2008. FONTE: http://www.sauerkids.com FIGURA 31 IMAGEM DE “SAUERKIDS”, 2008. FONTE: http://www.sauerkids.com 32 2.2 Telas de pintura As receitas para fazer telas de pintura são bastante variadas, e os ingredientes usados são: algodão,linho, juta ou lonita (para a base), e gesso, formol, líquido antimofo, verniz acrílico incolor, tinta acrílica, tinta para pintar paredes (para a cobertura do tecido) e cola para madeira e grampeador (para a fixação na base para madeira). São encontradas no mercado telas de algodão com tramas variadas: finas, lisas, delicadas, e outras de tramas acentuadas e ásperas. Há também as de linho ou juta. Alguns artistas fazem suas próprias telas e inovam lançando tecidos inéditos de fios sintéticos. Além das telas convencionais, os artistas têm utilizado outros materiais para realizar suas obras. Durante a Idade Média eram usadas pranchas de madeira chamadas de retábulos, e nos dias de hoje são comuns as pranchas de chapa dura feitas com fibras prensadas e pranchas de papelão forradas com tecido e impressas. A imprimação da tela é o processo de preparação de uma superfície para receber a pintura. Na confecção de telas, esta preparação pode ser feita com gesso acrílico ou das formas tradicionais onde se utiliza branco de titânio (pigmento) misturado à cola animal ou vegetal e óleo de linhaça. Estas telas apresentam coloração levemente amarelada e deverão aguardar o tempo mínimo de secagem de três semanas, antes de receber a pintura para evitar rachaduras. Somente após um ano de concluída, uma obra poderá ser envernizada. Para isso, a pintura deverá ser previamente limpa com um pano macio umedecido em 33 essência de terebintina e depois que esta estiver seca, aplica-se uma camada fina de Verniz Cristal diluído em cerca de vinte por cento de essência de terebintina1. Os tecidos para telas de pintura também podem ser encontrados para vender em rolos, e alguns deles são totalmente brancos, enquanto outros apresentam coloração amarelada. FIGURA 32 AMOSTRA DE JUTA CRUA. FONTE: http://lx1.letti.com.br/b2c/frutodearte/index.php?cPath=118 FIGURA 33 ROLOS DE TECIDO PARA TELAS DE PINTURA (LONA). FONTE: http://lx1.letti.com.br/b2c/frutodearte/index.php?cPath=118 1 Terebintina: líquido incolor, com odor de pinho,constituído por terpenos e obtido por destilação de uma resina. O termo provém do nome grego do terebinto (Pistacia terebinthus), uma anacardiácea do Mediterrâneo donde primeiro se extraiu aquele líquido. 34 FIGURA 34 ROLO DE TECIDO PARA TELAS DE PINTURA (ALGODÃO). FONTE: http://lx1.letti.com.br/b2c/frutodearte/index.php?cPath=118 2.3 Tintas utilizadas nas pinturas em tela Esse capítulo é uma breve pesquisa em relação às tintas utilizadas nas pinturas em tela. Há diversas maneiras de se definir o que é "tinta". No dicionário Aurélio, por exemplo, um dos significados encontrados para "tinta" é "substância química corante, que adere à superfície a qual se aplica e é usada para a pintura" (FERREIRA,1993).Uma definição bastante simples e didática, porém, restrita para quem pretende se aprofundar mais no assunto. Em livros especializados, existem outras definições, como que tinta é uma composição líquida, geralmente viscosa, constituída de um ou mais pigmentos dispersos em um aglomerante líquido que, ao sofrer um processo de cura quando estendida em película fina, forma um filme opaco e aderente ao substrato. A tinta é composta, basicamente, das seguintes substâncias: pigmento, veículo ou aglutinador, solvente ou redutor e aditivo. O pó colorido presente na mistura que constitui a tinta é denominado pigmento. O líquido que contém o pigmento e forma a base é chamado de veículo ou aglutinador. O solvente serve para tornar a tinta mais fluida. Muitas vezes as tintas são classificadas por tipo de solvente. As tintas de látex, por exemplo, são diluídas com água e são chamadas 35 tintas à base de água. Tintas insolúveis em água requerem solventes orgânicos, como subprodutos de petróleo. Essas tintas são denominadas tintas à base de solvente. Por fim, o aditivo é a substância que, adicionada às tintas, proporciona características especiais às mesmas ou melhorias nas suas propriedades. Existe uma variedade enorme de aditivos usados na indústria de tintas e vernizes: secantes, anti-sedimentares, niveladores, antipele, antiespumante, etc. O quadro a seguir mostra o processo de fabricação da tinta: 1 3 5 7 2 4 6 8 QUADRO 1 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DA TINTAS SINTÉTICAS FONTE: Cartilha da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas) 36 1.Pesagem: A primeira etapa na fabricação de tinta é a pesagem dos materiais líquidos para o veículo da tinta. Tubulações transportam os materiais do tanque de estocagem. 2. Mistura: Adiciona-se uma pequena quantidade de veículo em um grande misturador mecânico. Depois adiciona gradualmente o pigmento pulverizado. As pás do misturador giram lentamente e transformam os dois ingredientes em pasta de pigmento e de veículo. 3. Diluição e Secagem: Após a trituração, um operário derrama a pasta moída em um tanque, onde é misturada mecanicamente com mais veículo, solventes e secantes. Solventes como nafta ou água afinam a pasta. Sais de chumbo, cobalto e manganês levam a tinta a secar rapidamente. Nessa fase, a tinta é misturada até que esteja quase pronta para ser usada. 4. Trituração: Um operário deposita a pasta em um moinho ou triturador para dispersar as partículas de pigmento e distribuí-las de forma uniforme pelo veículo. Existem dois tipos de moinhos: de rolos e de bolas ou seixos. Moinhos de bola ou de seixo são grandes cilindros revestidos de aço que contêm bolas de seixo ou de aço. Quando os cilindros giram, as bolas se movimentam e se chocam umas contra as outras, triturando a tinta. Um moinho de rolos tem cilindros de aço que rodam uns sobre os outros para triturar e misturar os pigmentos. A ilustração mostra um moinho de rolos. 5. Teste de cor e qualidade: Em seguida, o tingidor envia uma amostra da nova tinta para o laboratório de controle de qualidade da fábrica, que irá testar a cor e qualidade. No Brasil, os padrões de cor e qualidade são estabelecidos pelas fábricas de tintas e pelo Instituto Nacional de Pesos e Medidas. 37 6. Tintagem: Agora, um operário, chamado de tingidor, adiciona uma pequena quantidade de pigmento à tinta para conferir-lhe a cor exata e o brilho desejado. 7. Filtragem: Depois de ter sido aprovada, a tinta é finalmente filtrada através de um saco de feltro, ou de outro tipo de filtro, para remover partículas sólidas de poeira ou sujeira. 8. Embalagem: Esta é a última etapa do processo. A tinta é despejada em um tanque (máquina de alimentação) que irá encher as latas com a quantidade exata. Esteiras rolantes transportam as latas, que serão embarcadas em caminhões e trens para o transporte final. São muitas as utilidades das tintas. Elas dão aspecto agradável e atraente às casas, e ao mesmo tempo, as protegem das intempéries. Dão vida e cor às salas de aulas, aos escritórios e fábricas. Quebram a seriedade dos prédios cinzentos, mudando a paisagem da cidade. Automóveis de cores alegres trafegam ao longo das ruas marcadas por faixas de segurança pintadas de branco e, áreas de estacionamento proibido, de amarelo. Obras de arte conferem beleza e graça a residências, escritórios e prédios públicos. A tinta também está presente nos jornais, revistas e nos demais veículos impressos. O mercado atual oferece várias marcas nacionais e importadas de tintas a óleo e acrílicas. Entretanto, antigamente as tintas eram produzidas de forma totalmente artesanal, e na maioria das vezes, pelo próprio artista. A história das tintas acompanha a história da arte. As primeiras pinturas eram feitas com tintas a partir de extratos naturais, como folhas, frutos, sementes, raízes, entre outros. É muito difícil estabelecer uma data para o surgimento da tinta. Os povos pré-históricos fabricavam tintas moendo materiais coloridos como plantas e argila em pó, e adicionando água. A técnica empregada era simples, pois as cores 38 eram preparadas com os próprios dedos e algumas vezes prensadas entre pedras. Usavam-na para a decoração de suas cavernas e tumbas, e sobre seus corpos. O primeiro povo a pintar com grande variedade de cores foram os egípcios. Inicialmente, fabricavam as tintas a partir de materiais encontrados na terra de seu próprio país e das regiões próximas. Somente entre 8.000 a 5.800 a. C. é que surgiram os primeiros pigmentos sintéticos. Para obterem cores adicionais, os egípcios importavam anileira e garança da Índia. Com a anileira, podia-se obter um azul profundo e, com a garança, nuances de vermelho, violeta e marrom. Os egípcios também aprenderam a fabricar brochas brutas, com as quais aplicavam a tinta. As primeiras tintas de escrever foram provavelmente inventadas pelos antigos egípcios e chineses. As datas exatas dessa invenção são desconhecidas. Manuscritos de cerca de 2.000 a. C. comprovam que os chineses já conheciam e utilizavam nanquim. Os romanos aprenderam a técnica de fabricar tinta com os egípcios. Exemplares de tintas e pinturas romanas podem ser vistos nas ruínas de Pompéia. Por volta do século V a. C., os romanos utilizaram pela primeira vez na história o alvaiade como pigmento. Após a queda do Império Romano, a arte de fabricar tintas perdeu-se, sendo retomada pelos ingleses somente no final da Idade Média. Na Idade Média, o aspecto "proteção" começa a ganhar importância. Os ingleses usavam as tintas, principalmente, em igrejas e, depois, em prédios públicos e residências de pessoas importantes. Durante os século XV e XVI, artistas italianos fabricavam pigmentos e veículos para tintas. Nessa época, a produção de tinta era particularizada e altamente sigilosa. Cada artista ou artesão desenvolvia seu próprio 39 processo de fabricação de tinta. Tratadas como se fossem um "segredo de Estado", as fórmulas de tintas eram enterradas com seu inventor. No ápice da Revolução Industrial, final do século XVIII e início do XIX, os fabricantes de tintas começaram a usar equipamentos mecânicos. Os primeiros fabricantes, entretanto, apenas preparavam os materiais para tinta, fornecendo-os para os pintores, que compunham suas próprias misturas. Em 1867, os fabricantes introduziram as primeiras tintas preparadas no mercado. O desenvolvimento de novos equipamentos de moer e misturas tintas no final do século XIX também facilitou a produção em larga escala. Durante Primeira e Segunda Guerras Mundiais, período considerado pelos historiadores bastante fértil para ciência, químicos desenvolveram novos pigmentos e resinas sintéticas. Esses pigmentos e veículos substituíram ingredientes das tintas, como óleo de linhaça, necessário para fins militares. Pesquisas desenvolvidas por químicos e engenheiros tornaram-se atividade importante na fabricação de tinta. No final da década de 50, químicos criaram tintas especiais para pintura de exteriores, novos tipos de esmaltes para acabamento de automóveis e tintas à prova de gotejamento para superfícies externas e internas. Nos anos 60, a pesquisa continuada com resinas sintéticas conferiu às tintas maior resistência contra substâncias químicas e gases. Foi nessa época, que as tintas fluorescentes se popularizaram. Devido à descoberta de envenenamento, por chumbo, de muitas crianças após terem comido lascas de tinta seca, na década de 1970 os governos de alguns países impuseram restrições ao conteúdo de chumbo nas tintas de uso doméstico, limitando-o a cerca de 0,5%. Nas obras de arte, a criatividade dos artistas possibilita o uso de diversos tipos de materiais para aplicar nas telas, e não somente tintas. Utilizam técnicas de 40 colagem, xilogravura, de queima da tela, lápis de cor, tinta guache, caneta, carvão, aplicação de tecidos, terra, sangue, etc. Enfim, um vasto universo de possibilidades. 2.4 “Art to wear” ou “Wearable art” A “Art to wear” ou “Wearable art” são sinônimos, e traduzidas para o português significam: “arte para vestir” ou “arte vestível”. Esse movimento teve grande repercussão nos meados dos anos setenta, nos Estados Unidos, apesar de alguns relatos provarem que ele existe há mais tempo. Com as indústrias produzindo em massa desde aquela época, os artistas tiveram uma reação, se voltando para a produção artesanal de roupas com o intuito de valorizar a individualidade. A escritora americana Julie Schafer Dale batizou este movimento de Wearable art e abriu uma galeria especializada, a Julie Artisan’s Gallery, e escreveu o consagrado livro “Art to Wear”, em 1986. Nessa obra, ela divide em quatro partes: crochê (tricô e tecelagem) trabalho em couro, (com estudo relacionado a meios de comunicação social), decoração e design de superfície e bordados. No Brasil, o movimento chegou por volta de 1988 e foi batizado de “rouparte”. O movimento explora a criatividade e individualidade, sem se render às imposições e manipulações consumistas da “fast-fashion”. É a arte onde o corpo está dentro. Os artistas usam técnicas diversificadas como pintura, colagem, tricô, patchwork, bordado, crochê, silk, estamparia, tecidos tecnológicos, entre outros. A jornalista de moda Juliana Girão esreveu para o “Jornal O Povo”, em março de 2008: (...) O desfile de Jum Nakao tornou-se emblemático entre pesquisadores e estilistas para discutir a relação entre moda e arte, mas o cruzamento dessas duas linguagens não é coisa recente. Na década de 1930, a estilista italiana Elza Schiaparelli desenvolveu com o ícone do surrealismo, 41 Salvador Dalí, o chapéu-sapato, a bolsa em forma de telefone, o tailleur com vários bolsos em forma de gaveta e o vestido decorado com uma grande lagosta. Nos anos 1960, o estilista francês Yves Saint-Laurent apresentou coleção inspirada em Mondrian. Na mesma época, no Brasil, os artistas plásticos Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980) criaram obras para vestir. Arthur Bispo do Rosário bordou obras-primas com tecido, madeira e plástico. O Grupo Rhodia convidou artistas visuais para a criação de estampas exclusivas para tecidos de fio sintéticos. Nos anos 1980, os artistas plásticos Leda Catunda (1961) e Leonilson (19571993) também valeram-se da indumentária para compor seus objetos. Mais recentemente, o estilista francês Christian Lacroix trouxe referências do renascimento italiano para a coleção outono-inverno 2006/2007. O desfile ocorreu na Galeria Rafael do Victoria and Albert Museu, em Londres, onde era possível ver, ao mesmo tempo, as pinturas originais do mestre renascentista e a re-leitura de Lacroix. "Eu diria que a moda e a arte se merecem. São dois sistemas muito ricos e muito organizados. Um inspira o outro, mas têm regimes e estatutos bem diferentes. Não dá para extrair da moda toda a cadeia comercial que ela envolve", acredita o artista visual, curador e pesquisador de regimes visuais, Fernando Penteado, que começou a carreira no início dos anos 1980 como criador de estampas e acabou enveredando para a “Wearable art”. Também conhecida como arte vestível, a “wearable art” surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos, no qual artistas desenvolviam criações que utilizavam o corpo como suporte. Ou seja, as roupas eram peças de arte. "A arte é uma linha de trabalho que tem uma vocação de desestabilizar, de servir de espelho para a sociedade. Enquanto a moda é muito mais utilitária, mas oferece um sistema de imagens avassaladoramente belas", distingue (...). (GIRÃO, 2008. Pg) As opiniões sobre a relação entre a arte2 e a moda3 variam entre os pesquisadores, por exemplo, a estilista e professora do curso de Design de Moda da Faculdade Católica do Ceará, Maria de Jesus Medeiros, diz: que não se pode afirmar que a moda é arte. Nem que a arte é moda. “A gente só faz uma associação de referenciais. A arte, por exemplo, envolve o complexo da moda por ter a relação da forma, da cor, da textura, dos materiais". Na opinião da professora do Mestrado de Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi e editora de moda da revista Dobras, Kathia Castilho, "moda é arte também". A artista visual e doutora em Comunicação e Semiótica em São 2 Arte: Segundo o dicionário Houaiss, arte é a "produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana". 3 Moda: Nesse texto, nos referimos à moda como "um conjunto de fatores que ocorrem por meio de produtos desenvolvidos e elaborados por designers junto da indústria (da micro a multinacional) ou nos sistemas artesanais de manufatura". "A moda é uma importante área de produção e expressão de cultura contemporânea. Tanto apresenta reflexos e referências da sociedade quanto dos usos e costumes do cotidiano (Moura, Mônica. A Moda entre a Arte e o Design. In: Pires, Dorotéia. Design de Moda. São Paulo. Estações das Letras e Cores, 2008 (no prelo)) 42 Paulo, Mônica Moura, também defende que a moda pode ser arte. "A moda estabelece uma série de relações com a arte, até porque a moda é uma expressão da cultura", destaca. A Nova Zelândia é hoje considerada a pátria sede da “Wearable art”, em especial a cidade chamada Nelson, por ser ter sido a sede mundial do “World of Fashion Art Awards”, um grandioso concurso anual, que ocorre desde 1987. A partir de 2005 o concurso foi transferido para a capital do país, Wellington. Na Austrália, existe uma escola de ensino médio direcionada na “Wearable art”, com o objetivo de se tornar um pólo nesse ramo, e liderar outros eventos da área. As imagens a seguir são dos artistas finalistas do Concurso “Montana Supreme WOW Award”, ocorrido em setembro de 2006, na cidade de Montana, Nova Zelândia, e o finalista foi premiado com a oportunidade de criar o figurino da campanha da “American Express Open”. FIGURA 35 OBRA: “SPOTTY DOTTY COLUMBINE”, DE JONATHAN WOOD. FONTE: http://www.scoop.co.nz/stories/CU0609/S00240.htm 43 FIGURA 36 OBRA “SHE LOOKS GOOD IN A SACK”, DE CATHY TREE HARRIS. FONTE: http://www.scoop.co.nz/stories/CU0609/S00240.htm FIGURA 37 OBRA “BLOW ME’, DE WENDY BURTON E PATRICK DUFFY. FONTE: http://www.scoop.co.nz/stories/CU0609/S00240.htm 44 FIGURA 38 O VENCEDOR DO CONCURSO: RODNEY LEONG, COM SUA PEÇA “THE LOVE OF ICARUS”. FONTE: http://www.scoop.co.nz/stories/CU0609/S00240.htm Os Estados Unidos também são reconhecidos nesse meio, e em Nova Iorque é possível visitar a “Gallery of Wearable art”, que dispõe de grande acervo de esculturas. 2.5 A história e a química das cores No início da história, os corantes eram extraídos somente da natureza. Existem registros de tecidos usados em múmias egípcias de mais de 4.000 anos. Portanto, a história do uso de cores no vestuário pelo homem é muito antiga. Até mesmo o Brasil recebeu esse nome devido a uma árvore, o pau-brasil, que foi tristemente extinta pelos europeus no período colonial. Do tronco dessa árvore extraía-se um pigmento que resultava em cores próximas aos rosas, vermelhos e marrons. Hoje em dia mais de 90% dos corantes utilizados são sintéticos. Isso se deve ao fato de o custo de fabricação ser mais favorável do que corantes naturais (se produzidos em grande escala) e também por possibilitar uma gama maior de 45 tonalidades. O azul, por exemplo, é raríssimo de ser extraído na natureza. O índigo foi extraído na Europa por uma planta chamada Indigofera Tinctoria, a alizarina, mas em 1880 essa planta foi substituída por um corante azul. FIGURA 39 SÍNTESE QUÍMICA DO INDANTRONA. Corante azul criado por Renè Bohn,1901. Fonte: www.qmc.ufsc.br A coloração dos corantes e pigmentos é devida à absorção de radiação eletromagnética na faixa da luz visível pelos compostos, e as cores estão relacionadas com comprimentos de ondas. O azul, por exemplo, corresponde à faixa de 600 à 700 nm, e o vermelho de 480 – 530 nm. Todas as cores existentes provêem de três pigmentos matrizes, são eles: o vermelho, o azul e o amarelo. Os corantes pretos absorvem todas as radiações na faixa visível, e o branco reflete toda a luz visível. Quanto mais estreita for a faixa de absorção, mais intensa e brilhante será a cor apresentada. É por isso que as cores derivadas de pigmentos sintéticos são mais brilhantes e vívidas, enquanto as derivadas da natureza geralmente resultam em cores opacas. Em termos de estrutura química, um componente comum a maioria dos corantes é um ou mais anéis de benzênicos, e por isso são chamados de 46 benzenóides. Os primeiros corantes sintéticos eram derivados do trifenilmetano, e mais tarde vários químicos começaram a trabalhar com a antraquinona. Após 1900, o químico alemão Adolph von Baeyer desenvolveu a flouresceína, que surgiu do aquecimento do anidrido ftálico com resorcinol (1,3-di-hidroxibenzeno) em solução aquosa, e produzia um efeito muito fluorescente. Em 1956, foram desenvolvidos e patenteados os corantes reativos. Para esse processo, um grupo reativo é introduzido no corante;e este, então, liga-se covalentemente às moléculas das fibras do tecido, principalmente o algodão. Os primeiros corantes reativos tinham um grupo diclorotriazina (triazina é um heterociclo com 3 átomos de carbono e 3 de nitrogênio). A criação dessa técnica é muito importante para o tingimento de algodão em cores vivas. Para não haver desbotamento a cada lavagem,as fibras do tecido devem reter as partículas do corante. Quimicamente, isso envolve forças iônicas (figura 11), forças de Van der Walls e ligação de hidrogênio. FIGURA 40 FORÇAS IÔNICAS PRESENTES NAS FIBRAS DOS TECIDOS. Fonte: www.qmc.ufsc.br 47 2.6 Corantes Naturais utilizados nos experimentos do projeto “Vestimentas em tela para pintura: uma inspiração surrealista” A natureza oferece uma enorme variedade de plantas tintórias, e o surgimento de cor através do processo de extração do corante é uma experiência de criatividade, e noções de química, física, matemática e botânica. O autor do livro “Corantes naturais de flora brasileira”, Eber Lopes Ferreira, explica a importância do conhecimento sobre os corantes naturais: A arte têxtil e o tingimento com plantas, duas expressões artísticas complementares, possuem elementos cuja beleza única não pode ser comparada aos produtos químicos e industriais. Comparar os corantes naturais com os químicos seria algo semelhante a tentar igualar o autêntico à imitação, o original à cópia. Os corantes naturais estão para os corantes químicos assim como a orquestra sinfônica está para o gramofone (Steiner 1985). Infelizmente, a descoberta dos corantes químico e seu uso indiscriminado contribuiu para acentuar a substituição dos corantes naturais e desta forma provocar o esquecimento deste saber sobre a origem das cores. (FERREIRA, 1998). No projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista”, os vegetais utilizados para experimentação foram: cúrcuma, cebola roxa, pimentão, beterraba, espinafre e urucum. Separadamente, informações sobre cada um desses vegetais: a) Cúrcuma ou açafrão-da-terra. (Cúrcuma longa). Família das Zingibáceas. O rizoma dessa planta é conhecido como raiz de cúrcuma, raiz de açafrão, ou gengibre amarelo. No amido encontrado no rizoma existe um óleo essencial, cineol, e uma matéria corante amarela resinosa que é a curcumina, muito usada na tinturaria e na culinária. Fornece o principal ingrediente do curry, típico ingrediente oriental. Também dele se extrai a fécula, que substitui a araruta e a mandioca no preparo de algumas massas. A curcumina serve para colorir ungüentos e óleos medicinais. Ocorrência: Em todo o Brasil, exceto na região sul, podendo ser cultivado. (FERREIRA, 1998) b) Cebola. (Allium Cepa). Família das Liliáceas. Planta originária da Pérsia e parte da Índia, onde é cultivada como espécie ornamental. A cebola é cultivada desde épocas remotas, já que existem referências à sua cultura até mesmo na Bíblia. Os povos antigos (caldeus, 48 gregos e romanos) a consumiam em grande escala. Entre os egípcios, é freqüentemente encontrada nos sarcófagos e está associada, na mitologia, às predições. Consta que, na construção da Pirâmide de Gizeh, foi usada como alimento para os escravos que ali trabalhavam. Desde então, a sua cultura jamais foi interrompida. O número de suas variedades multiplicouse, e hoje encontramos bulbos de várias dimensões, formas e cores. Emprego: Contém óleo branco, volátil, com enxofre no estado de dissolução, o que causa um cheiro forte e propriedade irritante. Contém também grande quantidade de açúcar, ácido acético, ácido fosfórico, cal e celulose. Quando submetida à fermentação, o açúcar desaparece e se converte em ácido acético. É usada principalmente como condimento. De suas cascas se extrai uma tintura de ótima qualidade para colorir fibras animais, assim como o cabelo. Ocorrência: Planta cultivada principalmente nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. (FERREIRA, 1998) c) Pimentão.(Capsicum annum) .Família Solanaceae. O pimentão é uma boa fonte de vitamina C, contendo ainda vitamina A e pequenas quantidades de Cálcio, Fósforo, Ferro e Sódio. A vitamina C dá resistência aos vasos sanguíneos, evita fragilidade dos ossos e má formação dos dentes e age contra infecções. A vitamina A é importante para a vista, auxilia o crescimento e conserva a saúde da pele e das mucosas, evitando infecções. Os sais minerais contribuem para a formação de ossos e dentes, mantém o equilíbrio interno do organismo e o vigor do sistema nervoso. Esse legume é excitante da digestão e constitui-se num bom remédio contra hemorróidas.Dos pimentões secos extrai-se o “colorau”,condimento para colorir alimentos. Por todas as suas características é bom para a pele, unhas e cabelos. (CIÊNCIA RURAL, VOL.34). d) Beterraba. (Beta vulgaris L.) Família das Quenopodiáceas. Hortaliça anual herbácea, pertencente à família Chenopodiaceae e cuja principal parte comestível é uma raiz tuberosa constituída, internamente, por faixas circulares de tecidos condutores de alimentos alternadas com faixas de tecidos contendo alimento armazenado. Estas são relativamente largas e escuras ou mais coloridas; as de tecidos condutores são mais estreitas e mais claras. A raiz pode ser consumida crua ou cozida, porém são nas folhas que estão concentradas as maiores quantidades de nutrientes e vitaminas por 100 gramas do produto, destacando-se cálcio, ferro, sódio, potássio e vitaminas A, B e C. Época de plantio: o melhor desenvolvimento ocorre na faixa de 10 a 20°C. Em al titude inferior a 400 metros, semear de abril a junho; de 400 a 800 metros, de fevereiro a junho; acima de 800 metros, o ano todo. Na cultura de verão as cotações são superiores, mas o risco é maior, inclusive pela alta incidência de doenças. Sob temperatura elevada há formação de anéis claros na raiz, depreciando o produto. Os europeus usavam legumes, como a beterraba, para tingir as roupas e, assim, deixá-las mais alegres,através da técnica de tingimento. (TIVELLI,2008). 49 e) Espinafre (Spinacea oleracea). Família das Quenopodiáceas Planta herbácea nativa de terrenos úmidos e ricos em ferro. È encontrada na orla marítima, onde é protegida por pedras. Desde a sua origem, sempre foi utilizada como planta comestível. Emprego: Tem folhas verdes ricas em clorofila e ferro. Suas flores são pequenas e verdes. Por isso é cultivada em hortas e comercializada nas feiras livres. A clorofila encontrada no espinafre é solúvel em água mas, para se tornar um corante verde estável é necessário realizarmos uma alteração na sua composição química. Para isto, utilizamos recipientes de cobre e o mordente acetato de cobre. (FERREIRA, 1998) f) Urucum. (Bixa orellana). Família das Bixáceas. Com a polpa das sementes, os índios pintam o corpo para se prepararem para seus rituais. E é ainda desta polpa que se obtém valioso corante amarelo (orelina) e vermelho (bixina). Este corante é fixo e não se altera em contato com ácido ou alúmen, por isso, é muito usado na indústria, para colorir seda e cera. É também amplamente empregado na culinária como condimento, servindo como corante para a manteiga e o queijo do reino. Serve como antídoto do ácido cianídrico. Além de todas estas utilizações, aproveita-se o urucueiro como planta ornamental, por se tratar de um belo arbusto com bonitas flores. Ocorrência: E todo o Brasil. (FERREIRA, 1998). O quadro a seguir foi montado a partir de informações do livro de Eber Lopes Ferreira, e oferece informações das plantas tintórias divididas em cores, incluindo nome científico, época da colheita, onde encontrar e a parte da planta de onde o corante é extraído. Planta Nome científico Azedinha-daRumex acetosa horta Cedro rosa Cedrela fissilis Cipó de imbé Philodendrum sp Cochinila Coccus cacti Côco Gardênia Ipê Nogueira Peroba-rosa Pau-brasil Ruivinha Cocos nucifera Gradenia grandeflora Tabebuia sp Juglans regia Aspidosperma polyneuron Caesalpinia echinata Relbunium hypocarpium VERMELHO ou ROSA Onde encontrar Época colheita Parte para extração ano todo Cultivada raiz ano todo ano todo -- Espontâneo Espontâneo pode ser criada serragem do cerne caule todo o inseto ano todo Cultivado mesocarpo (fibra do fruto) ano todo Cultivada fruto ano todo janeiro/fevereiro Cultivado Cultivada serragem do cerne casca ano todo Espontêna serragem do cerne ano todo Cultivado serragem do cerne ano todo Espontânea Raiz 50 Sangra d'água Cróton urucurana ano todo Planta Nome científico Época colheita Côco Cocos nucifera ano todo Cultivado mesocarpo (fibra do fruto) Girassol Helianthus annuus janeiro/fevereiro Cultivado Flor Lawsonia inermis ano todo Cultivada Folhas Resedá (Henna) Urucum Espontânea LARANJA Onde encontrar Bixa orellana Primavera Cultivado CASTANHO Onde Planta Nome científico Época colheita encontrar Castanheiro Castanea sativa outubro/novembro Cultivado Cafeeiro Coffea arabica primavera/verão Cultivado Cerejeira Prunus avium Inverno Cultivada CastanheiroAesculus janeiro/fevereiro Cultivado da-índia huppocastaneum Imbuia Ocotea porosa Planta Nome científico Acácia negra Angico Barbatimão Acacia mearsii Anadenanthera sp Stryphnodendrun barbadetiman ano todo Espontânea MARROM AVERMELHADO Onde Época colheita encontrar seiva da casca de árvore adulta Parte para extração Sementes Parte para extração folhas pó de semente seca casca folhas serragem do cerne Parte para extração Março cultivada casca ano todo cultivado casca ano todo espontâneo casca Barbatimão Stryphnodendrun barbadetiman ano todo Espontâneo casca Cajueiro Anacardium occidentale ano todo Espontâneo casca e folha castanheiro da Índia Aesculus hippocastaneum janeiro/fevereiro cultivado casca Cerejeira Resedá (Henna) Nogueira Prunus avium inverno cultivada casca Lawsonia inermis ano todo Cultivada Planta Nome científico Abacateiro Juglans regia Persea amareicana Açafrão-daterra Curcuma longa Arnica Arnica montana Amoreira Morus sp Calendula Calêndula oficinalis Camomila Anthemis catula Carqueja Baccharis sp castanheiro Aesculus da Índia hippocastaneum Cebola Allium cepa Chá da Índia Camelia thea Eucalipto Eucalyptus spp Figueira Fucis carica Artocarpus Jaqueira heterophyla janeiro/fevereiro cultivada AMARELO OU DOURADO Onde Época colheita encontrar cultivado em ano todo todo país ano todo folha casca Parte para extração folhas planta subespontânea rizoma ano todo Cultivada Raiz, folha e flores primavera/verão cultivada folhas primavera/verão cultivada flores Verão primavera/verão Cultivada mato folhas folhas Abril/maio cultivado casca outono/inverno ano todo ano todo ano todo Cultivada cultivado cultivado Cultivado casca folhas serragem do cerne folhas ano todo Cultivada serragem do cerne Cercas todo o líquen Cultivada Cultivada Cultivado Cultivada folhas casca casca casca Barba de Usnea sp ano todo candeia Nogueira Juglans regia primavera/verão Macieira Pyrus malus ano todo Pessegueiro Prunus sp primavera/outono Pereira Pyrus communis ano todo 51 Quaresminha do campo Trembleya phlogiformes ano todo Espontânea galhos e folhas Taiúva Maclura tinctoria Primavera cultivada (solo úmido) serragem do cerne VERDE Planta Nome científico Época colheita Castanheiro Castanea sativa setembro/outubro CastanheirAesculus janeiro/fevereiro da-ìndia Hippocastanum Espinafre Malva Sabugueiro Spinacea oleracea Malva silvestres Sambucus nigra ano todo Onde encontrar Cultivado Eucalipto Ilex paraguarienses Eucalyptus spp ano todo folhas Cultivado folhas Cultivada Cultivado CAQUI Onde Planta Nome científico Época colheita encontrar Caquizeiro Diospyros kaki Outono Cultivado Romãzeira Punica granatum Verão Cultivada Picão Bidens pilosa Primavera Cultivado Jabuticabeira Plinia trunciflora Verão Cultivada Cafeeiro Coffea arabica ano todo Cultivado Mangueira Mangifera indica primavera/verão Cultivada AZUL Onde Planta Nome científico Época colheita encontrar Indigofera campo/beira de Anileira Primavera estrada tinctoria Arruda brava Eupatorium laevis Indigofera Timbó mirim lespedezioides folhas Cultivado janeiro/fevereiro Cultivada ano todo Cultivado VERDE OLIVA Onde Planta Nome científico Época colheita encontrar Loureiro Laurus nobilis ano todo Cultivado Castanheiro Castanea sativa setembro/outubro Cultivado Nogueira Juglans regia janeiro/fevereiro Cultivada Língua-deRumex campo/solo Primavera vaca obtusifolius úmido Erva-mate Parte para extração ano todo toda a planta fruto e folha Parte para extração folhas folhas folhas folhas folhas folhas Parte para extração fruto casca e fruto planta e semente casca e fruto semente moída casca do fruto Parte para extração pó e folhas ano todo Espontânea folhas ano todo Espontâneo folhas VIOLETA Onde Época colheita encontrar Planta Nome científico Parte para extração Jenipapeiro Genipa americana Verão Cultivado fruto Manchavermelha Paucampeche Herpothalon sp ano todo lugares úmidos todo o líquen Haematoxylon campechianum Verão Cultivado serragem do cerne Pinheiro-doParaná Aracaria angustifolia ano todo Espontâneo casca e fruto Planta Nome científico Época colheita Onde encontrar Parte para extração Palmeira de jardim Areca catechu ano todo Cultivada casca e folha inteira Inverno Cultivada casca janeiro/fevereiro Cultivado folhas ano todo vegeta em árvores toda a planta ano todo Cultivada folhas CINZA Cerejeira Prunus sp CastanheiroAesculus da-Índia hippocastaneum Erva-dePassarinho várias espécies Picão Ilex paraguariensis Bidens pilosa Planta Nome científico Erva-doce ano todo Cultivado PRETO Onde Época colheita encontrar toda a planta Parte para extração 52 Caraposo Murici-damata Tinteira Ludwigia caparosa ano todo Subespontânea casca Byrsonima crispa ano todo Espontâneo casca Coccoloba excelsa ano todo Espontânea galhos QUADRO 2 PIGMENTOS NATURAIS FONTE: Livro “Corantes Naturais Brasileiros”, Eber Lopes Ferreira. 2.7 Poluição Têxtil A presente pesquisa trata dos poluentes enviados aos rios e mares, sem os menores cuidados com a vida marinha e algumas soluções para o despejo de materiais tóxicos na natureza. O processo têxtil gera emissões de poluentes sólidos, gasosos e líquidos nos rios e mares de todo o planeta. As emissões de poluentes líquidos causam a principal contaminação e modificação do ambiente, e dependem do tipo de fibras processadas e dos produtos químicos empregados. As operações realizadas e a tecnologia aplicada em sua execução são fatores que determinam o quanto a indústria têxtil prejudica o meio ambiente. Os efluentes líquidos geralmente são coloridos, tóxicos e muitas vezes não biodegradáveis e também resistentes à destruição por métodos de tratamento físico-químico. A não biodegradabilidade dos efluentes têxteis se deve ao alto conteúdo de corantes (10 a 15% dos corantes não fixados são enviados ao rio), surfactantes e aditivos que na maioria dos casos são compostos orgânicos de estruturas complexas. 53 FIGURA 41 CIDADE DE SIKNAHOUVILLE, NO CAMBOJA. 10 de junho de 2007. A fábrica Lin’s Textile Co. Ltd despejou corantes ilegalmente nos rios da pequena cidade, colorindo-os de vermelho. Fonte: http://ki-media.blogspot.com/ O processo de tingimento do jeans, por exemplo, produz resíduos de metais pesados e corantes altamente poluentes. Preocupada com a manutenção ambiental, a pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, Meuris Gurgel Carlos da Silva, criou uma técnica através da argila, utilizando-a como detergente para remover cerca de 90% dos corantes. ”O país não deve parar a indústria para que o meio ambiente seja conservado, mas buscar o equilíbrio entre o atendimento da necessidade humana e a preservação ambiental” (SILVA, 2005). Infelizmente, nosso país não tem muito controle em relação ao número de toneladas de poluentes emitidos diariamente. Na maioria das vezes, esses corantes são despejados sem tratamento algum, e em rios que abastecem centenas de municípios. 54 FIGURA 42 FRUTAS. Grande parte dos vegetais fornece pigmentos para confecção de tintas naturais, principalmente as frutas. Fonte: http://www.cacique.am.br A Agenda 21 está sendo executada na Universidade Tuiuti do Paraná, e esse projeto pretende seguir as orientações necessárias para que diminua o impacto ambiental. Criada no evento Rio 92, a Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. 2.8 Customização A moda é uma linguagem global que ultrapassa barreiras étnicas e geográficas. Atualmente já se entende que as roupas servem para expressar opiniões e possibilitar que as pessoas se insiram em certos meios. Segundo o comentário de Colin McDowell (1995) apud JONES, 2005, “nós precisamos mais da moda do que das roupas não para cobrir nossa nudez, mas para vestir nossa autoestima”. As roupas têm o poder de elevar a auto-estima das pessoas, e o fato de comprar roupas novas é uma forma de saciar ou preencher alguma lacuna vazia na vida das pessoas. O uso de marcas famosas como Dior, Chanel ou Louis Vuitton 55 traz uma falsa segurança para pessoas que necessitam demonstrar poder ou até mesmo inserir-se em grupos. Paralelamente, a grande parte das pessoas tem o desejo de estar inserida no mundo da moda e apresentar características pessoais. Há a procura por peças de vestuário ou acessórios que tenham o estilo próprio da pessoa, sinalizando uma individualidade. O momento atual na moda caminha para a fuga da massificação, pois o mercado valoriza cada vez mais a idéia do handmade, do artesanal, do exclusivo. A proposta é de o indivíduo destacar-se do meio, e um caminho interessante para alcançá-la é a customização. A palavra customização, que até pouco tempo não existia na língua portuguesa, foi criada para traduzir uma expressão em inglês – custom made - significa então sob medida. Tudo indica que essa proposta nasceu com o movimento hippie na década de 60, com o advento dos processos artesanais e o desenvolvimento de técnicas de tingimentos de tecidos, trabalhos com retalhos (patchwork) contribuindo para personalização das peças. (PALOMINO, 2002) Seguindo essa tendência de mercado, há a possibilidade de utilizar diversos recursos para tornar peças com características mais pessoais, por exemplo, aplicações, bordados, pinturas, tingimentos, pedrarias, fitas, lantejoulas, etc. O intuito é liberar a criatividade de acordo com o gosto pessoal da pessoa, transformando uma peça comercial numa peça única. 56 FIGURA 43 CUSTUMIZAÇÃO ATRAVÉS DA PINTURA EM CAMISETA. FONTE: http://www.e-jovem.com/namoda01.html Existem hoje marcas que trabalham exclusivamente com o conceito de customização, como é o caso da “Imitation of Christ®”, que esteve no Brasil este ano para participar do evento Carlton Arts. A dupla de estilistas formada Tara Subkoff e Matt Damhave usa roupas antigas de brechós, e cria novas propostas misturando-as e realizando interferências. Até mesmo marcas gigantes como a Levi´s® se renderam à customização. Isso representa um grande avanço na relação do consumidor com a marca. O resultado é uma coleção diferenciada, sob medida para quem busca a exclusividade. FIGURA 44 PEÇAS DA MARCA “IMITATION OF CHRIST®”. Fonte: http://www.modapoint.com.br/materiaprima/repor/custom/ 57 A customização em si não é novidade, mas sim a transformação disso em uma tendência de consumo generalizada. A onda da customização chegou ao Brasil bem no fim dos anos 90, logo após o conceito de moda individualista se espalhar pelo mundo, mas na edição da São Paulo Fashion Week de junho de 2001, essa técnica ganhou destaque e tomou as páginas das revistas de moda brasileiras. A personalização da moda, como a customização vem sendo definida, representa o amadurecimento de um conceito que começa a ser gerado ainda na década de 90, "o de estilista de si próprio", cuja importância está na reorganização das relações entre consumidor e mercado, até então tradicionais no sistema da moda. Os anos 90 marcaram o início da mistura de estilos e tribos que se vê hoje, havendo milhares de ramificações dentro de cada um deles e havendo uma flexibilidade maior em termos de adaptações. Isso evoluiu para que cada indivíduo pudesse expressar-se de acordo com as referências pessoais, utilizando-se de mistura de estilos para construir a própria imagem, e nesse ponto a customização está altamente inserida. O mundo atual globalizado é um grande responsável pela customização, pois o fácil acesso a informações de outros países (através da internet, por exemplo), direciona os consumidores a pesquisar mais sobre tendências, informações de moda, e de imagens sobre diferentes tribos, culturas e raças. Sendo assim, o consumidor pode misturar diferentes referências étnicas, criando novos estilos, utilizando-se do vintage4 e criando as adaptações necessárias para desenvolver peças de roupa ou acessórios customizados. 4 Vintage: Palavra de origem inglesa, relacionada à moda retrógrada, ou “retro” em termos de moda. 58 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1Introdução Nesse capítulo explicam-se os procedimentos utilizados para a elaboração do projeto “Vestimentas em tela para pintura: uma inspiração surrealista”, incluindo a metodologia e materiais usados, suas funções prática, estética e simbólica, ergonomia, conceito da coleção, público alvo (envolvendo o contexto sócioeconômico e cultural),e a análise de produtos similares ao que esse projeto se refere. 3.2 Metodologia A coleção inicial é composta de dois vestidos conceituais femininos. O material para a base das peças é o utilizado em telas de pintura, com gramaturas diversas. O mais encorpado para dar a sustentabilidade desejada, e mais fino em alguns detalhes, proporcionando movimento e volume. As formas dos vestidos são excêntricas, seguindo a livre expressão do conceito surrealista. Surgem drapeados, patchwork5, volumes, espirais, entre outros. A técnica manual de confecção ressalta o intuito artístico do projeto. Paralelamente, há o estudo e confecção de tintas a partir de pigmentos naturais. 3.2.1 Experimentos para desenvolvimento das tintas Para a extração dos pigmentos obtidos de plantas, frutas, raízes e outros produtos naturais foram utilizadas soluções com variados tipos de solventes: álcool de cereais (93,3 INPM, 96 GL), solução de acetona 58% 5 Patchwork: Traduzido literalmente do inglês, significa “trabalho com retalhos”. Técnica que une tecidos com uma infinidade de formatos variados. 59 (Propilenoglicol,Etanol,Corante CI e acetona) e álcool etílico (46 INPM), conforme mostra a foto a seguir (FIGURA 41). FIGURA 45 SOLVENTES UTILIZADOS NOS EXPERIMENTOS.2008 FONTE: Arquivo Pessoal. Após essa etapa, mistura-se o pigmento com base incolor para tinta de tecido, criando uma tinta exclusiva e de origem natural. Após a realização do tingimento foram realizados testes de solidez à lavagem, os quais resultaram em favoráveis para absorção da cor pelas fibras, e ruins para fixação e alteração de cor. FIGURA 46 BASE INCOLOR PARA TINTA DE TECIDO.2008. FONTE: Arquivo Pessoal. 60 Relatório dos experimentos para extração de cor: Experimento número 1: Pimentão. Cortou-se o pimentão vermelho e reservou-o em um recipiente não-metálico. Adicionou-se álcool de cereais de graduação 96%, iniciando a extração de coloração. Houve uma hora em repouso. Adicionou-se o suco pigmentado à base para tinta de tecido incolor, e foi aplicado na amostra de tecido de algodão 100% natural. Como resultado, surgiu uma tinta homogênea de cor salmão, que coloriu o tecido de forma integral e bem positiva. Experimento número 2: Manga. Cortou-se a manga crua em pequenos pedaços e adicionou álcool de cereais para a extração. O pigmento demorou muito tempo para deslocar-se, e resultou num tom claríssimo de bege. Portanto,nessa técnica, para resultar em tinta amarela a manga não é recomendada. A foto a seguir (FIGURA 43) ilustra que esse experimento não obteve o sucesso desejado, pois resultou num tom muito claro. FIGURA 47 TESTE REALIZADO COM A MANGA.2008. FONTE: Arquivo Pessoal. Experimento número 3: Cebola Roxa. Retirou-se a casca de cebola roxa e a inseriu em um recipiente. Adicionou-se álcool de cereais. Não houve extração alguma de cor, comprovando que sua melhor utilização é na técnica de cozimento. 61 Experimento número 4: Beterraba crua. Nesse experimento, houve o uso da beterraba crua, associada à acetona como solvente. A extração foi significativamente boa, resultando num suco pigmentado de tom magenta vívido. Assim sendo, pôde ser adicionado na base para tinta e tingiu uma amostra de algodão 100% natural. O resultado foi um belo tom magenta. Experimento número 5: Beterraba cozida sem uso de solventes químicos. Como o resultado com a beterraba crua foi muito positivo, nesse caso foi utilizada a beterraba cozida. Cozinhou-se uma unidade de beterraba em aproximadamente 300 mL de água. Esperou-se a evaporação da maioria da solução aquosa, que resultou numa tinta pura de pigmentos da beterraba. Reservou-se essa tintura. Após o esfriamento, uniu-se o suco provindo da beterraba cozida com a base para tinta , que resultou numa tinta de tom marrom, muito bonita e bem diferente do tom magento conseguido no experimento anterior. Experimento número 6: Beterraba cozida + álcool de cereais. Nesse caso foi repetida a técnica realizada com a beterraba crua, mas substituindo-se o solvente: trocou-se a acetona pelo álcool de cerais. Como resultado,um tom magenta vivo e forte, parecido com o experimento número 4. Experimento número 7: Cúrcuma moída. Com o intiuto de desenvolver uma tinta amarela, foi usada a cúrcuma moída. O pó da cúrcuma foi diretamente adicionado à base incolor de tinta para tecidos. Como resultou numa liga muito espessa, algumas gotas de acetona foram adicionadas (uma mistura de aproximadamente 4 gotas para 5 mL de solução pronta). Após o tingimento, a cor foi um mostarda muito vivo e bonito, garantindo um resultado vantajoso para a busca do tom amarelo. 62 FIGURA 48 TESTE REALIZADO COM A CÚRCUMA MOÍDA.2008. FONTE: Arquivo Pessoal. Experimento número 8: Urucum. FIGURA 49 URUCUM IN NATURA. FONTE: http://www.sitecurupira.com.br/corantes.htm O urucum foi, sem dúvida o melhor fornecedor de pigmento vermelho de todos os vegetais testados. Comercializado em forma de sementes inteiras, o urucum contém um pó altamente colorido, que, adicionado a veículos como gelatina incolor, cola ou base incolor para tinta, forma instantâneamente uma tinta. No caso desse trabalho, aproximadamente 20g de sementes de urucum foram colocados em um recipiente de plástico, juntamente com 50mL de acetona. Houve uma pausa de vinte minutos para a liberação do suco pigmentado. Após essa etapa, o suco foi adicionado à base incolor para tinta de tecidos. Estava pronta a tinta, com cor bastante vívida. 63 Experimento número 9: Tinta de urucum + tinta de cúrcuma. Para a obtenção de uma tinta em tom alaranjado, foi unida a tinta feita no experimento número sete com a feita no experimento número oito. Para um resultado vísivel, foram misturadas duas partes de tinta amarela para um de tinta vermelha, pois obviamente o tom avermelhado encobre o amarelo 9por ser mais claro). O resultado obtido foi bastante satisfatório. Experimento número 10: Espinafre. Foi colhido o espinafre em sua forma natural, e sua folhas picadas e colocadas em um recipiente de cobre. Apenas nesse experimento o vasilhame não era de plástico, porque para a clorofila tornar-se um corante estável, é necessária a alteração na sua composião química. Para essa reação, os recipientes de cobre são fundamentais. A técnica foi a mesma dos outros experimentos: extração do pigmento com álcool de cereais e adição da base incolor. Portanto, o resultado final foi de um verde muito claro. Pesquisas no livro “Corantes naturais da flora brasileira”, de Eber Lopes Ferreira, mostram que para a clorofila do espinafre reagir melhor e proporcionar um verde forte é necessária a adição do mordente acetato de cobre. 3.2.2 Criação e confecção dos vestidos A modelagem é feita através da moulage: técnica de modelagem tridimensional. Do francês moulage, que significa modelagem, molde. O molde da roupa é feito diretamente sobre o manequim, permitindo que se possa observar o caimento, forma e volume apropriados para o modelo desejado, atingindo um bom resultado. 64 O vestido número um (ver figura 51) é uma composição que pode ser dividida em três partes principais : busto drapeado, cintura com grandes volumes e saia em patchwork. FIGURA 51 ESTRUTURA DO LOOK 1. FONTE: Arquivo Pessoal. A idéia surgiu da inspiração surrealista de uma escada infinita ao redor do tronco e cabeça, com saia feita de retalhos simbolizando as experiências e sensações que a pessoa adquire durante a vida. A região da cintura é uma brincadeira com as formas femininas, como fez o artista surrealista René Magritte. A parte superior foi plissada em um ateliê especializado em plissês, com goma específica. FIGURA 52 TECIDO PLISSADO. FONTE: Arquivo pessoal 65 Após plissado, o tecido (de um metro de altura por um metro e setenta de largura) foi encaminhado a costureira, que o cortou formando uma cúpula. O espaço para passar os braços foi aberto à mão, com base no manequim de moulage, e as pregas tiveram que ser coladas com cola adesiva da marca Super Bonder®. FIGURA 53 MANGA SENDO FEITA MANUALMENTE. FONTE: Arquivo Pessoal. A saia de patchwork foi feita em máquina de costura reta, mas houve grandes dificuldades, pois o material é muito duro, fazendo com que muitas agulhas da máquina quebrassem, tendo que ser substituídas, além do difícil manuseio para a costureira, pois o tecido é pesado.. Por fim, uniu-se a saia, a parte da cintura e a parte frontal drapeada. FIGURA 54 SAIA ABERTA DE PATCHWORK. FONTE: Arquivo pessoal 66 O segundo vestido da coleção (ver figura 55) utiliza formas cônicas espiraladas. Sua parte frontal é feita com a técnica em tomas, formando um grande decote. Na altura do umbigo há uma pala, e debaixo dela iniciam alguns espirais. Estes são de tamanhos variados, e alguns são cortados a partir de noventa e outro em cento e oitenta graus, formando cones. FIGURA 55 LOOK NÚMERO 2. FONTE: Arquivo Pessoal. Para ficarem enrijecidos e maleáveis, foram feitos testes com dois tipos de material: fio de aço recoberto com plástico e arame liso número 20, como mostram as imagens a seguir. 67 FIGURA 56 AÇO REVESTIDO COM PLÁSTICO. FONTE: Arquivo Pessoal. FIGURA 57 ARAME LISO NÚMERO 20. FONTE: Arquivo Pessoal. Dentre os materiais testados, o que melhor se adaptou foi o arame, pois ele permitiu um bom resultado na confecção dos cones, pois o aço revestido é um material muito mole para essa função. FIGURA 58 CONE CORTADO. FONTE: Arquivo Pessoal Após terem sido cortados manualmente, um a um, os cones recebiam uma costura em toda a borda, formando um espaço por onde o arame era inserido. FIGURA 59 CONE COM ARAME. FONTE: Arquivo Pessoal 68 Cada um dos cones era formado da seguinte forma: corte, inserção do arame nas bordas, enrolamento e colagem com cola Super Bonder®. FIGURA 60 CONE MONTADO. FONTE: Arquivo Pessoal A base do vestido (saia) é levemente evasê6 . Nela os cones e detalhes plissados foram fixados com alfinetes, para depois serem costurados e/ou colados. FIGURA 61 MONTAGEM DOS CONES E OUTROS DETALHES. FONTE: Arquivo Pessoal 6 Evasê: adj f (fr évasé) Diz-se de manga ou saia de boca larga; boca-de-sino. Derivada da língua francesa. 69 Uma grande dificuldade encontrada foi para o acabamento da cava do braço. Era impossível costurar na máquina de costura simples, pois o tecido duplo ficava muito grosso. A solução encontrada foi picotar a cava em diversas partes (para manter o formato arredondado) e ir colando cada pedaço. Esse método resolveu bem o problema, e o processo pode ser visto na imagem abaixo: FIGURA 62 ACABAMENTO INTERNO DAS CAVAS. FONTE: Arquivo Pessoal Há um zíper branco na parte posterior, para facilitar no momento de vestir a peça no corpo ou manequim. Os acabamentos foram feitos na máquina de costura reta e cola Super Bonder®. FIGURA 63 DETALHE DO ZÍPER POSTERIOR FONTE: Arquivo Pessoal 70 3.2.3 Estruturação da idéia e do conceito Da semiótica vem a ambiência do projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista”, e é sobre a libertação do homem (já que o surrealismo é a libertação dos sonhos). O conceito baseia-se em um trecho do Manifesto Surrealista, principal documento escrito sobre essa escola artística, por André Breton em 1924, que juntamente com o escritor Soupault, deram o nome de Surrealismo ao novo modo de expressão que tinham a seu alcance, em homenagem a Guillaume Apollinaire. Esse manifesto contém os princípios surrealistas,seus pensamentos, ideais, ideologias. A frase escolhida foi: “a atitude surrealista liberta a alma”. O projeto em geral surgiu do interesse de criar uma coleção unindo a moda e a arte, baseando esse desejo na “Wearable Art”, que é um movimento surgido no início dos anos setenta, e que traduzido para o português significa “arte para vestir”. Naquela época, a verdadeira “wearable art” foi iniciada por artistas e estilistas que desejavam despertar os aspectos imaginativos e estéticos das vestimentas, e não apenas os funcionais e comerciais. Hoje em dia, as vestimentas-arte têm se tornado mais esculturais , e não servem apenas para serem usadas. São feitas para serem vistas e admiradas como obras de arte. O surrealismo foi a estética artística que inspirou a coleção. Diversas pesquisam em livros orientaram as linhas de pensamento desse projeto, com base no maior pensamento surrealista: o de libertação da mente e dos sonhos. O movimento surrealista surgiu apoiado nos estudos de psicanálise de Sigmund Freud(1856-1939), por isso a questão dos sonhos e da mente do homem. Por se tratar de um projeto envolvendo pintura, surgiu o interesse em confeccionar as tintas que possivelmente serão usadas. As mesmas são à base 71 de pigmentos naturais, e houve o estudo de tintas naturais e o desenvolvimento, com diversas experimentações. A idéia surgiu da preocupação com o alto índice de escassez nas águas mundiais, devido à poluição muitas vezes derivada de resíduos químicos da indústria têxtil. 3.3 Funções prática, estética e simbólica A função prática de um produto pode ser chamada também de funcionalidade do mesmo, ou ainda, o que tem uma função de uso prático e de compreensão imediata. Portanto, esse termo define as funções práticas de um produto, não somente estéticas. O presente projeto “Vestimentas em telas para pintura: uma inspiração surrealista” apresenta uma coleção de vestidos que têm a função de proporcionar o exercício de pintura. Não se tratam apenas de peças simplesmente comercializadas e usadas como tantas outras, mas sim peças em que há o contato do(a) usuário(a) com o produto, e essa é uma grande função prática em um produto de moda. Há um kit formado por vestido não-tingido e tintas naturais, mas há a possibilidade de uso de outros materiais no momento de pintura, tornando o exercício de tingimento uma atividade fácil e prazerosa. As funções práticas podem ser definidas também como todas as relações entre um produto e seu usuário, ou seja, todos os aspectos fisiológicos do uso. Assim sendo, a customização representa uma grande relação entre usuário-produto. A estética é uma palavra de origem grega derivada de aisthésis,que significa percepção, sensação. O que pode ser considerado belo ou não está ligado nas sensações que nos causa, na área emotiva do ser humano. Na sociedade grega era 72 uma das três pontas da pirâmide que formava a trilogia o verdadeiro,o bom, o belo. É um ramo da filosofia que estuda a natureza do belo e dos fundamentos da arte. Em termos de estética, esse trabalho é um forte causador de emoções, por sua composição dramática e ousada em formas e texturas. Causa emoção também pelo fato de servir como “tela” para que a pessoa a pinte, transferindo todas suas emoções para o vestido. Se analisarmos psicologicamante, o resultado da pintura no vestido será extremamente diferente dependendo do estado de espírito da pessoa. Por exemplo, se ela estiver nervosa provavelmente usará rajadas mais agressivas, cores mais expressivas. O contrário acontece se ela estiver mais calma, ou apaixonada, ou até mesmo cansada. Isso tudo é estética, o resultado final aos olhos, de acordo com a emoção. O filósofo grego Platão (428/27–347 a.C.) entendia esse ramo da filosofia baseado em elementos de proporção, harmonia e união. Ainda hoje em dia esses conceitos são utilizados: é considerado belo um rosto harmonioso, por exemplo. Mas, felizmente, a sociedade de hoje não é tão rigorosa quanto antigamente, e é possível encontrar beleza nas formas mais ousadas. A função estética nos produtos relaciona-se com as sensações, e identifica o usuário com o produto. Em muitos casos, a deficiência do aspecto estético num produto acarreta em baixo desempenho nas vendas, pois a maioria das pessoas procura produtos belos, principalmente na moda. A semiótica é a ciência que trata dos signos, deriva da palavra grega semeiotiké, e tem origem na mesma época da filosofia. Simplificadamente, ela estuda os modos como o homem significa o que o rodeia, ou seja, sistemas de significação. Está presente nos mais variados campos, principalmente nas artes 73 visuais, música, cinema, moda,entre outros, e refer-se ao aspecto de função simbólica no produto. Ferdinand de Saussure (1857-1913) é considerado o pai da semiologia, e são dele essas palavras: Signos: a singular entidade psíquica de duas faces que cria uma relação entre um conceito (o significado) e uma imagem acústica (o significante) conduz à necessidade de conceber uma ciência que estude a vida dos sinais no seio da vida social, envolvendo parte da psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral. Chamar-lhe-emos semiologia. Estudaria aquilo em que consistem os signos, que leis os regem. (SAUSSURE, 1895) Na visão de Saussure, os signos são compostos de duas partes, sendo elas o significante (a parte física) e o significado, que é a parte conceitual. No Brasil, Umberto Eco (1932) e Décio Pignatari (1927) são grandes representantes no estudo da semiótica.Na moda, o francês Roland Barthes (1915-1980), autor do livro O Sistema da Moda(1967). Em São Paulo, há o Grupo de Estudos Semióticos da Universidade de São Paulo, e os estudiosos debatem temas, reunem-se e fazem análises semióticas de filmes, de poetas como Manuel Bandeira (1886-1968), de desenhos de Henfil (19441988),etc. Existem diversos signos implícitos nas peças da coleção do projeto “Vestimentas em tela para pintura: uma inspiração surrealista”. Eles devem transmitir toda a idéia de liberdade de expressão que o trabalho propõe, portanto os vestidos são exageradamente fluidos, com grande possibilidade de formas, muitos drapeados e coulissés. Apresenta a mistura de formas amplas em algumas partes, e 74 contrastantemente ajustadas em outras. O significante, nesse caso, é a própia peça de roupa, e o significante são as mensagens simbólicas impregnadas nela. Por tratar-se de uma coleção conceitual, os signos devem ser cuidadosamnte analisados, pois nesse caso a idéia é transmitir uma sensação, e não vender a peça propriamente dita. 3.4 Público Alvo Quebrar padrões e estabelecer novos conceitos. Homens e mulheres interessados em artes e cultura são os focos desse projeto, pois estes buscam aspectos artísticos na hora de se vestir. Cobrir-se de arte, envolver-se nas cores dos grandes gênios da pintura. Freqüentadores de galerias e vernissages. Alegres, coloridos, modernos e cosmopolitas. Pessoas que tenham o interesse de customizar suas peças, criando um estilo próprio que foge dos padrões pré-estabelecidos e massificados. Em relação a aspectos sócio-econômicos, o projeto se voltará para as classes A e B, pois a exclusividade encarece as peças, além do trabalho minucioso de patchwork, drapeados feitos em moulage, plissados, e muitos detalhes cortados e costurados manualmente. O fato de ser uma coleção conceitual é oposto a idéia de massificação. Houve a pesquisa de campo visando à percepção de estilo dos consumidores que se encaixam no público alvo, através de fichas de pesquisa respondida pelos mesmos. Como resultado, descobriu-se que eles entendem a moda conceitual como um modo de expressar opinião, e que gostariam de peças inspiradas no surrealismo e no cubismo. A maioria é da fase adulta, e em relação à moda consideram-se 75 portadores de estilo próprio (mas estão antenados com a moda). Outro fator importante é que 88% dos entrevistados exercem alguma atividade relacionada às artes, o que favorece o andamento desse projeto. 3.5 Produtos Similares Esse capítulo trata da análise diacrônica e sincrônica dos produtos similares ao projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista”. São analisadas características relevantes em termos comparativos, como forma, materiais utilizados para a confecção, metodologia, tecnologia aplicada e identidade de marca e do design e conceito. 3.5.1 Análise Diacrônica: Coleção número 1: Entre vinte e um de fevereiro de 2001 e dois de setembro de 2002, houve a exposição intitulada “Air of the East – Fashion Art from Korea”, que pôde ser vista nos Estados Unidos nas seguintes universidades e escolas de moda: “Parsons School of Design” em New York, “The Fashion Institute of Design and Merchandising” em Los Angeles e no “Kent State University Museum”. O evento apresentava o trabalho de 55 designers inovadores coreanos, que desejavam mostrar a moda com uma nova visão, não somente com seus aspectos funcionais e práticos, mas também de forma imaginativa, estética e contemporânea. O projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista” assemelha-se muito com a exposição acima, pois prioriza o aspecto estético sobre os elementos de praticidade e função. Ambos os projetos o desejo de despertar novos olhares sobre a moda. A “Wearable Art” , ou arte para vestir, teve início nos anos setenta, época em que verdadeiros vestidos-arte foram criados por artistas que 76 desejavam criar peças de vestuário sem referências às correntes comerciais da moda. Segundo informações retiradas no website da Universidade de Kent State – EUA, atualmente a “Wearable art” foi transformada em algo mais escultural, em outras palavras, trabalho artístico que está na forma de roupas, mas não é normalmente concebido para ser usado. A maior parte das peças no show não são destinadas a serem usadas, mas sim para serem vistas e apreciadas como um trabalho de arte. Fotos de alguns trabalhos da exposição: FIGURA 64 CONVITE DA EXPOSIÇÃO “AIR OF THE EAST – FASHION ART FROM KOREA”. FONTE: http://dept.kent.edu/museum/exhibit/Korea/korea.html 77 FIGURA 65 TRABALHO EXPOSTO NO EVENTO. FONTE: http://dept.kent.edu/museum/exhibit/Korea/korea.html FIGURA 66 PEÇA “UNDER THE SEA”, DE JUNG SUN HUH. FONTE: http://dept.kent.edu/museum/exhibit/Korea/korea.html 78 FIGURA 67 PEÇA: “SEE THROUGH ART WORKS”, DE KYUNGOK JIN. FONTE: http://dept.kent.edu/museum/exhibit/Korea/korea.html FIGURA 68 PEÇA: “NATURE”, DE KI HYANG LEE. FONTE: http://dept.kent.edu/museum/exhibit/Korea/korea.html A figura acima, da peça intitulada “Nature”, é pintada manualmente, apresentando mais uma semelhança ao projeto de vestimentas em telas de tecido. 79 Produto número 2: Linha de tênis Adicolor, produzida pela Adidas. Esse produto é similar ao projeto Customização com produtos naturais no quesito de custumizar. A Adidas criou uma linha de calçados brancos que acompanham tintas para que o consumidor possa colori-los. Alguns modelos vêm em uma embalagem muito interessante, (como mostra a figura 69). É uma maleta de madeira, tradicional para artistas, com paleta, tubos de tinta (imitando os tubos de tintas à óleo), dois pincéis e solvente para limpeza de pincéis. Adicolor foi lançado para o mercado sportswear na ISPO Trade Fair em Munique, em 1983. A coleção incluía uma variedade de modelos de tênis brancos vendidos com canetas de secagem rápida. A Adicolor tem infinitas possibilidades oferecidas para o consumidor para a customização das peças e alcançou status cult entre os colecionadores e fãs de todo o mundo. FIGURA 69 KIT ADICOLOR, PRODUZIDO PELA ADIDAS. Fonte:http://www.adidas.com 80 No Brasil, o slogan da campanha da Adicolor é: “Crie. Mude. Customize”. Abaixo, imagem publicitária da campanha: FIGURA 70 CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA ADIDAS. Fonte: http://www.casadogalo.com Produto número 3: O vestido produzido por Issey Miyake na coleção primavera/verão1995 representa uma peça altamente conceitual, como a coleção desenvolvida no presente projeto. Miyake utilizou seda e papel, uma combinação arrojada, e é de uma plasticidade incrível, com formas amplas e geométricas. O vestido apresentado na figura a seguir está no Museu de Arte do Condado de Los Angeles – EUA. O projeto “Vestimentas em tela de pintura: uma inspiração surrealista” utiliza formas também ousadas, e há também a mistura de materiais, como uma coleção conceitual permite. 81 FIGURA 71 VESTIDO DE ISSEY MIYAKE. Coleção primavera/verão 1995. FONTE: Revista Vogue número 337, setembro de 2006. Produto número 4: Na edição de 2004 da São Paulo Fashion Week, Jun Nakao apresentou sua coleção “A Costura do Invisível”, que muitos estudiosos da moda consideram “a coleção da década”. O estilista chocou o público com peças extraordinárias, feitas minuciosamente em papel. Essa coleção assemelha-se ao projeto “Vestimentas em tela para tecido” no quesito formas, e uso de material único em toda coleção (papel nas peças de Jun Nakao e tela para tecido no presente projeto). Além disso, ambos os trabalhos utilizam materiais alternativos, incomuns nas coleções de moda. FIGURA 72 VESTIDO DE JUN NAKAO. 2004. FONTE: 82 3.5.2 Análise Sincrônica Produto número 1: Produtos decorativos tingidos artesanalmente da empresa Canoa Tear. A fábrica situa-se no município litorâneo de Guarujá, em São Paulo, e vende produtos como tapetes, toalhas, jogos americanos, etc. Disponíveis na loja no Guarujá, ou pela loja virtual (http://www.canoatear.blogspot.com). Relaciona-se com o projeto “Vestimentas em tela para tecido” em termos de metodologia aplicada, pois possui similaridade em termos de tingimento a base de produtos naturais. A foto a seguir apresenta peças produzidas em 31 de outubro de 2007. FIGURA 73 JOGO AMERICANO TINGIDO ARTESANALMENTE. 2008. FONTE: http://www.canoatear.blogspot.com Produto número 2: O vestido produzido por Tao Kurihara para a Comme des Garçons na coleção primavera/verão 2007 representa uma peça altamente conceitual, como a coleção desenvolvida no presente projeto. Tao utilizou seda e papel, uma combinação arrojada, e é de uma plasticidade incrível, com o busto todo drapeado, cintura marcada e saia estruturada e texturizada. O projeto “Vestimentas em tela para tecido” utiliza formas parecidas e há também a mistura ousada de materiais, como uma coleção conceitual permite. 83 FIGURA 74 VESTIDO PRODUZIDO POR TAO KURIHARA PARA COMME DES GARÇONS. 2007. FONTE: htttp://www.asianart.org Produto número 3: Na internet é possível encontrar kits de customização para tênis. A marca norte-americana J.Goods® (figura a seguir) produz uma caixa que contém: tintas especiais, pincel, e um guia explicativo pelo valor de US$ 35. FIGURA 75 KIT PARA CUSTOMIZAÇÃO DA MARCA J.GOODS®. 2008. Fonte: http://www.soleredemption.com 84 3.6 Conceito A atitude surrealista liberta a alma. 3.7 Ambiência FIGURA 76 AMBIÊNCIA – PINTURA DE DALÍ. FONTE: 85 3.8 Cartela de Materiais 86 3.9 Cartela de Cores 87 3.10 Geração de alternativas FIGURA 77 CROQUI 1 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 78 CROQUI 2 FONTE: Arquivo Pessoal 88 FIGURA 79 CROQUI 3 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 80 CROQUI 4 FONTE: Arquivo Pessoal 89 FIGURA 81 CROQUI 5 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 82 CROQUI 6 FONTE: Arquivo Pessoal 90 FIGURA 83 CROQUI 7 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 84 CROQUI 8 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 85 CROQUI 9 FONTE: Arquivo Pessoal 91 FIGURA 86 CROQUI 10 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 87 CROQUI 11 FONTE:Arquivo Pessoal 92 FIGURA 88 CROQUI 12 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 89 CROQUI 13 FONTE: Arquivo Pessoal 93 FIGURA 90 CROQUI 14 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 91 CROQUI 15 FONTE: Arquivo Pessoal 94 FIGURA 92 CROQUI 16 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 93 CROQUI 17 FONTE: Arquivo Pessoal 95 FIGURA 94 CROQUI 18 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 95 CROQUI 19 FONTE: Arquivo Pessoal 96 FIGURA 96 CROQUI 20 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 97 CROQUI 21 FONTE: Arquivo Pessoal 97 FIGURA 98 CROQUI 22 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 99 CROQUI 23 FONTE: Arquivo Pessoal 98 FIGURA 100 CROQUI 24 FONTE: Arquivo Pessoal FIGURA 101 CROQUI 25 FONTE: Arquivo Pessoal 99 3.11 Relato de escolha das alternativas selecionadas Após a geração de trinta croquis, selecionam-se os cinco que melhor retratam o conceito de surrealismo, através de forma, volumes e simbologia. Além disso, são selecionados os modelos que apresentem um bom resultado para serem tingidas, e para isso buscam-se peças com formas criativas, drapeados, patchwork, cones, entre outros. O intuito é possibilitar resultados de pintura favoráveis. Em seguida, dentre os cinco selecionados, é eleito um croqui que reúna todos os quesitos necessários para expressar em uma única peça todo o conceito do projeto. Esse croqui será materializado em uma peça piloto. Os critérios primordiais são: representar imageticamente o conceito, apresentando formas surreais, e conter formas e volumes interessantes para um bom resultado na etapa de pintura. Portanto, os vestidos nas páginas a seguir representam as alternativas selecionadas, e em seguida, a peça final escolhida para ser confeccionada. 100 4 RESULTADOS 4.1 Apresentação dos resultados do projeto O texto a seguir é a apresentação detalhada dos resultados teóricos do projeto em questão. Após a geração de alternativas possíveis para a coleção, cinco croquis foram selecionados, e estes devem retratar o conceito do projeto. Dentre os cinco, dois foram confeccionados. O resultado foi positivo, pois as duas peças apresentam formas surrealistas, foram bem confeccionadas e têm bom acabamento. As fichas técnicas mostradas a seguir contém as medidas usadas para garantir a exatidão das medidas nos dois looks. As mesmas foram desenvolvidas da seguinte forma: os croquis foram desenhados à mão, e depois digitalizados através de Scaner. Posteriormente, foram vetorizados no Corel Draw®, onde foram colocadas as cotas e informações referentes ao material a ser utilizado. Essa etapa foi bastante longa para ser concluída, pois as cotas devem estar nos padrões de formatação da Academia, e os vestidos são bastante detalhador para serem vetorizados. Com o material escrito e vestidos prontos, a última etapa foi a da produção das fotos que formaram o editorial e o banner. A equipe escolhida para a idealização das fotos é formada pelos profissionais: fotógrafo: Daniel Ernst (ClickCenter), produtor: Hércules Terres, modelos: Maria Voinarovicz (Ford Models) e Rafaela Stumm. A locação foi a galeria de arte da artista plástica Mazé Mendes. Houve duas reuniões prévias com a equipe, com o intuito de organizar material de referências e discussão de idéias. O foco principal do editorial era criar uma atmosfera de ateliê, visando resultar num estilo vanguardista e com aspectos europeus. 101 A maquiagem escolhida foi: olhos marcados com delineador e sombra opaca, e boca vermelha, já que os looks são claros. O cabelo foi preso em coque com gel, criando um “look clean” para não causar poluição visual, já que o intuito é valorizar os vestidos. O editorial levou cinco horas para ser concluído, e o resultado foi muito compensador. 102 4.2 Alternativas Selecionadas (5) 103 104 105 106 107 4.3 Fichas técnicas dos dois vestidos confeccionados 108 109 4.4 Fotos 110 111 112 113 114 115 116 117 118 5 DISCUSSÃO O presente capítulo apresenta a discussão sobre os resultados do projeto, detalhando seus pontos positivos e negativos. Durante o desenvolvimento do projeto, diversas experimentações foram realizadas, e os resultados foram variados. A etapa de manufatura das tintas foi a mais complexa, por envolver conhecimentos nas áreas de química, física e botânica. Os pigmentos foram extraídos diretamente de vegetais “in natura” , e muitos experimentos não funcionaram. Algumas granularam após a aplicação nos tecidos e/ou desbotaram após lavagem. As tintas que obtiveram resultados mais favoráveis são as seguintes cores: vermelho (extraído do urucum), amarelo( extraído da cúrcuma) e laranja( feita com a mistura das anteriores). A etapa de pesquisa em relação às artes plásticas, focada no surrealismo, foi a mais enriquecedora, e é uma área do conhecimento em que as referências bibliográficas são vastas. Paralelamente, houve uma pesquisa de “Wearable Art”, e por ser um assunto mais contemporâneo as fontes de pesquisa são mais restritas, mas não menos interessantes. A união dos dois resultou num material bastante completo. O documento contém também informações a respeito da química das cores, extrações dos pigmentos em plantas tintórias e um texto sobre customização. O projeto, em geral, sofreu diversas modificações ao decorrer do processo de criação. Inicialmente, teria um caráter mais comercial, sendo uma coleção composta de peças feitas com tecido de algodão, e próprias para serem tingidas pelo(a) consumidor(a), e acompanhadas pelas tintas naturais, sendo um “kit de customização”. Mais tarde, foi direcionado ao conceitual, sendo peças de vestuário feitas em material para tela de pintura, com formas ousadas. A idéia de 119 customização foi mantida, e o produto oferece a possibilidade de ser tingido com quaisquer outros materiais, permitindo uma liberdade ainda maior ao usuário. Os dois looks criados são a materialização de um estudo contínuo, que é a aplicação de pigmentos naturais em fibras têxteis. Estes foram confeccionados por uma profissional experiente e capacitada, e obtiveram um resultado bastante favorável em relação a acabamento e estrutura geral. A maior dificuldade nesse processo foi costurar em um material tão espesso, e para isso foi necessário um ajuste especial na máquina de costura. Outro ponto positivo foi a geração de alternativas, que é resultado de um processo criativo bastante livre, provando que a moda pode ir muito além do trivial. As análises de produtos similares mostram que existem produtos semelhantes em relação ao tema, à cstomização, ao movimento “Wearable art”, e tingidos com pigmentos naturais, mas não foi encontrado nenhum produto confeccionado em tela para pintura, o que confere a esse projeto um quesito positivo: o de ser inovador. A alta complexidade do projeto também é considerada um ponto positivo, pois exigiu intensas atividades de pesquisa e experimentação. Possivelmente o uso final das peças é um ponto negativo, pois elas não podem ser utilizadas como vestuário, mas sim como obras de arte. Há a possibilidade de continuidade nesse quesito, com a idéia de tranformar essas peças em objetos decorativos, como cabideiros, abajures, entre outros. Seguindo o conceito da “art to wear”: roupas não somentes para serem consumidas, mas sim para serem vistas e apreciadas. 120 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A criação de uma coleção sobre surrealismo e “wearable art”, desenvolvida a partir de obras de artistas já consagrados, fez com que esse projeto abrangesse novas idéias e testes experimentais, tornando o material rico em pesquisas e os produtos com diferentes formas e volumes. O projeto é viável em relação a custos, apesar do trabalho minucioso de montagem das peças levar muitos dias. A linha de pesquisa é extensa e inesgotável, pois na arte, assim como no design e na moda, surgem novas tendências e descobertas a cada momento, e principalmente é necessária a bsca de subsídios de criadores renomados do passado, nos berços da criação. Objetiva-se continuar esse projeto, com experimentações de outros materiais além da tela, e continuar o estudo de tintas derivadas de pigmentos naturais encontrados na natureza, assim como a aplicação dos mesmos em diferentes materiais. Como experiências futuras, há ainda, a idéia de criar peças que, além de servirem como esculturas, possam ser usadas como objetos decorativos transformáveis, como abajures, cabideiros, chapeleiras, etc. Há a possibilidade da inclusão das tintas naturais, quando essas estiverem em perfeitas condições para uso, formando assim um kit. Para o crescimento e continuidade do projeto “Vestimentas em tela para tecido: uma inspiração surrealista”, as pesquisas e experimentações contínuas são fundamentais. 121 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação das publicações, 1995. BARROS, F. 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