Os incêndios não se combatem com passeatas ministeriais nem com charme mediático, combatem-se com políticas agro-florestais de prevenção, ordenamento e planeamento florestal Os Incêndios Florestais são notícia sempre que chega o tempo quente e se criam condições atmosféricas mais adversas. A análise histórica dos dados permite hoje considerar que 80% da á rea ardida se concentra em 12 dias por ano, os tais dias em que se concentram as condições extremas de temperatura, humidade e vento proporcionando condições ideais para incêndios de grandes dimensões. É também neste escasso período que por força desta concentração de condições extremas aliadas ao desordenamento total da nossa floresta e falta de intervenções preventivas, que pequenos incêndios tomam grandes proporções, levando a prejuízos avultadíssimos. Estes grandes incêndios fazem com que cerca de 90% da área ardida corresponda apenas a 1% das ignições. É inequívoco o esforço financeiro colossal que tem vindo a ser feito nas últimas décadas nos meios de combate para proteger as populações e as infraestruturas. Todavia, os resultados têm ficado muito aquém das expectativas não obstante o esforçado trabalho feito pelos Bombeiros e meios aéreos. Mas... e a floresta?! Quem investe na floresta? Quem a protege? A BALADIconsidera que sem que seja resolvido o problema estrutural do país que leva à desertificação das zonas rurais e ao abandono da pequena agricultura considerada não produtiva mas que pincela, estratifica e actua de forma extremamente eficaz na propagação de grandes incêndios, não será resolvido o problema dos incêndios. Este tipo de agricultura de subsistência presta um serviço ambiental que está a ser menosprezado pelos nossos Governantes, mas que é absolutamente essencial para obter o mosaico de vegetação que ira proteger as povoações dos efeitos devastadores dos incêndios, evitando pela queima a libertação do carbono para a atmosfera e consequente aumento do efeito estufa, evitando a degradação dos solos bem como de todos os valores faunísticos e florístico da nossa floresta. A BALADI considera que a progressão dos incêndios não se pára apenas com a aplicação de coimas a quem não limpa a vegetação em torno das habitações rurais, mas sim com o incentivo à pequena agricultura que envolve as povoações e não deixa o fogo progredir. Neste aspecto é fácil verificar que o investimento tem sido escasso, mesmo existindo financiamento da União Europeia. Em todos os quadros comunitários a legislação e as regras a aplicar para o investimento florestal são sempre as ú l t i m a s a ser publicadas deixando sempre um hiato de tempo demasiado curto para a aplicação das medidas. Veja-se o corte de mais de 100 milhões de euros que o actual Governo decidiu só na parte florestal aquando da reprogramação do PRODER. No caso da floresta esta questão tem sido fatal, o investimento implica uma dimensão de obra considerável que obedece à sazonalidade das operações e que torna impossível a execução dos projectos em tempo útil inviabilizando o sucesso de alguns deles. Os espaços naturais são incompatíveis com longas esperas para a execução de projectos. Por exemplo, uma intervenção em regeneração natural de pinheiro bravo com cinco anos será substancialmente diferente se só for executada quando a regeneração já tiver 10 anos, implicando meios e despesas distintas. O anterior quadro comunitário (PRODER) foi um desastre completo para a zona norte e centro do País no que diz respeito a investimento produtivo na floresta, nomeadamente arborização e aproveitamento da regeneração natural. Sendo estas zonas as mais fustigadas pelos incêndios nas últimas décadas significa que nada foi feito por elas e que estão criadas as condições que agravam ainda mais a desertificação. No actual quadro comunitário PDR2020 o atraso na saída de legislação já comprometeu mais um período de investimento florestal, e um ano já foi completamente perdido. Portanto, mesmo que exista legislação e que as medidas propostas sejam acertadas, se não houver continuidade dos investimentos nunca existirá uma floresta produtiva resiliente e que cumpra todos os seus pressupostos de protecção do solo e da diversidade de fauna e flora ou de sequestro de carbono e que ajude a diminuir os prejuízos com os incêndios. A BALADI considera que no meio destas políticas f l o r e s t a i s erráticas a única que vai resistindo ao tempo e às alterações em termos de prevenção estrutural é a existência de equipas de sapadores florestais. Mas mesmo esta medida está constantemente a sofrer alterações que só por si criam suficiente instabilidade ao seu funcionando. Não obstante estarmos longe das equipas necessárias no País consideramos de extrema importância não só a sua manutenção e ampliação mas, sobretudo, o papel que desempenham na prevenção, na aproximação da gestão florestal às populações rurais, criando mais emprego, sensibilizando e fortalecendo a sua ligação com o espaço florestal. Proteger a floresta contra incêndios é planificar e investir hoje na floresta futura. Vila Real, 14 de Setembro de 2015 A Direcção da BALADI