A ESCOLA PÚLICA, A PRÁTICA DE ENSINO E SEUS DESAFIOS
SOB O OLHAR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
PEDRO JOSÉ DE SOUZA1
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Graduando do curso de Geografia – UFSJ-MG
Palavras-chave: Estágio; Prática; Escola.
Introdução
Quando se iniciou o período do estágio, a vontade de viver a prática docente
motivava, porém o momento ainda passava pela teoria. Vários aspectos do ambiente
escolar foram observados, nos possibilitando chegar a algumas constatações. As
inúmeras experiências enriquecedoras incentivaram-nos a debatê-las e escrevê-las. A
experiência se deu na Escola Estadual Amélia Passos, no município de Santa Cruz de
Minas. O estágio foi realizado nas turmas do primeiro, segundo e terceiro ano do
segundo grau. Destacamos algumas situações que identificamos: o contexto sócioeconômico da escola, a disciplina do educando, a didática do educador (qualificação e
valorização), bem como a pedagogia da escola, a relação do professor e da escola
com o estagiário, e o nível de criticidade do ensino aplicado nas turmas observadas.
O município de Santa Cruz de Minas possui uma Escola Municipal e a Escola
Amélia Passos como a única escola estadual. Conforme conversas com alunos eles
confirmam que há um grande número de meninas novas grávidas. O tráfico e o
consumo
de
drogas
são
um
problema
sério
enfrentado
no
município
e
conseqüentemente a escola se vê envolta. Em alguns momentos sente-se o cheiro de
maconha no interior da escola.
O problema citado interfere também na disciplina dos alunos. Existe um
número excessivo dos mesmos na sala, média de trinta. O comportamento dos alunos
parece se identificar com a realidade social da maioria deles. Notaram-se na turma do
terceiro ano, duas meninas negras que sentam no fundo da sala, muito resistentes à
professora e às aulas. O que constatamos é que a disciplina depende do dia, da
disposição dos alunos e da postura do professor.
Constataram-se diversas qualidades na professora no estágio. Procurou um
diálogo com os alunos, interagindo e entrando no universo deles. Procurou usar de
diferentes didáticas, ajudando na disciplina. Destaque na sua prática foi o domínio do
conteúdo e aulas bem preparadas. Cobra conteúdo de seus alunos, no entanto,
quando se sentiu impossibilitada dessa prática, se sentiu frustrada. Por ser exigente,
não aplicar prova de consulta como a maioria dos professores, os alunos começaram
a reclamar na direção. A professora queixou-se que como a maioria pega “leve”, dá
prova de consulta, vem sendo taxada de chata. O professor, além de enfrentar as
dificuldades de lecionar, enfrenta problemas também fora da sala. Em um momento a
professora disse que cansou de dar “murro em ponta de faca”, desestimulada, deixa
num dia a sala “meio” fora de controle, com os alunos conversando. Mesmo com
essas dificuldades, não deixa de serem positivos os enfrentamentos. A causa volta a
motivar o professor.
A presença do estagiário traz algumas resistências também, que precisam ser
superadas. Alguns professores disseram que não os aceita ou não aceita qualquer
um, uns só querem saber de observar e observar, pra poder chegar na hora do
relatório e criticar, mas na hora da regência fogem.
Em uma das conversas que tínhamos com os professores, falávamos sobre o
retorno das turmas multisseriadas no Estado, um retrocesso. Sobre a exigência do
Estado, de aprovação de todos os alunos, falseando completamente a realidade.
Percebemos também alguns avanços. Os professores não aplicavam provas, a escola
não disponibilizava material. A partir de agora a escola agenda provas bimestrais. Não
era também costume o agendamento para uso do data-show. Passou a ser autorizado
o uso pelos alunos. Até então, não era comum, o aparelho era usado apenas em
reuniões do Conselho de Classe.
Percebeu-se também que diante de alguns obstáculos enfrentados, não
aconteceu uma absorção crítica dos conceitos geográficos, embora essa percepção
seja limitada aos espaços de diálogos e observações durante este estágio, assim, não
representa um diagnóstico completo e menos ainda generalizante.
Objetivos
Um dos objetivos deste trabalho é, ao sistematizar os relatos das observações,
identificarem, com a contribuição de um referencial teórico que nos dê embasamento,
os problemas e as possibilidades enfrentados pela Escola Pública, pelo professor, por
meio da observação de sua prática e por meio do diálogo também, bem como buscar
a assimilação da práxis educativa emancipadora, através do trabalho de análise dos
dados coletados no estágio, afim de que se encontrem melhores alternativas de
práticas ou que se mire nos exemplos positivos identificados quando do futuro
exercício do magistério. E, assim, contribuir com o debate sobre a educação no
município e região, na tentativa de melhoria da mesma.
Fundamentação Teórica
Os referenciais teóricos que utilizamos para embasar as idéias deste trabalho
foram, basicamente, Elza Yasuko Passini (“Prática de ensino de geografia e estágio
supervisionado”) e Selma Garrido Pimenta (“O Estágio na Formação de Professores –
Unidade Teoria e Prática?”).
Quando falamos do contexto em que está inserida a escola, devemos entender
que a mesma vai reproduzir as contradições da sociedade e que o nosso desafio é
não fechar os olhos. Conforme PASSINI (2011, p.11): “O espaço escolar é social, e
torná-lo mais produtivo depende não só dos sujeitos, mas, fundamentalmente, dos
sujeitos investigadores, que observam e analisam suas possibilidades de mudança”.
A postura de determinado profissional e de determinados estabelecimentos
influenciam na disciplina. De acordo com KIMURA (2008, p.33): “Tanto a conduta
autoritária da escola como a recusa em intervir na organização escolar desempenham,
sem dúvida, um papel relevante na existência da indisciplina escolar”. Já as relações
conflituosas entre estagiários e professores precisam ser trabalhadas Conforme
PASSINI (2011, p.34): “O diálogo com a escola hospedeira tem caráter de uma
negociação, porque precisamos considerar as necessidades dos estagiários em sua
formação inicial, as necessidades dos professores e alunos da escola básica e as
circunstâncias limitadoras de tempo e do sistema”.
A crítica que se percebe também nessa relação estagiário-professor é o quanto
ainda se teoriza muito. Espera-se uma crítica, a partir de uma análise melhor de
contexto, pela prática. De acordo com PIMENTA (2006, p.52),
“Na prática a teoria é outra”. No cerne dessa afirmação popular
aplicada à formação de professores está a constatação de que o
curso nem fundamenta teoricamente a atuação da futura professora,
nem toma a prática como referência para a fundamentação teórica.
Ou seja, carece de teoria e de prática.
Constatamos o quanto é importante um professor organizado, que planeja e
prepara suas aulas. Conforme SCANDELAI (2011, p.64): “[...] o planejamento é parte
fundamental de toda aula, pois é nele que estão contidos as ações, metas, tarefas e
trabalhos a serem seguidos. Ele não deve ser elaborado como cumprimento de um
dever burocrático, pois é um instrumento auxiliar que facilita o trabalho do professor”.
Não é possível perceber a escola e todo o seu contexto somente dentro de sala
de aula. Estivemos em contato e conversas além da sala. De acordo com SAIKI e
GODOI (2011, p.30): “É preciso observar não apenas a aprendizagem do conteúdo,
mas também as atitudes de seus futuros colegas de trabalho, dos alunos com o
professor, dos alunos entre si, no pátio, na aula ou nos intervalos, enfim, das relações
sociais visíveis e invisíveis”.
Identificamos, enfim, que não houve uma assimilação crítica do mundo pelos
alunos, ou, enfrentou dificuldades. Conforme PIMENTA (2006, p.58), “[...] o acesso ao
conhecimento explícito da dominação não é automático; requer a mediação dos
professores que, na prática educativa, têm como objetivo de seu trabalho tornar viva e
explícita a finalidade sócio-política da educação escolar”.
Metodologia
Os procedimentos metodológicos que utilizamos para avaliar a qualidade da
prática pedagógica na escola pública e buscar novas experiências foram sustentados
teoricamente pelos trabalhos das professoras Elza Passini e Selma Garrido Pimenta,
dentre outros, por meio da leitura de seus livros: “Prática de ensino de geografia e
estágio supervisionado” e “O Estágio na Formação de Professores Unidade Teoria e
Prática?”, respectivamente, além dos textos indicados pelo orientador do Estágio.
Iniciamos o mesmo na Escola Estadual Amélia Passos no município de Santa Cruz de
Minas no dia vinte e um de março (21/03) de dois mil e doze e cumprimos cinquenta
horas até o dia vinte e nove de Junho (29/06). Neste primeiro contato observamos e
anotamos as práticas do professor, mas também conhecemos o interior da escola,
através de conversas com professores, funcionários da direção, da cantina e alunos.
Resultados
Os resultados iniciais que obtivemos, até porque, é o primeiro contato que
tivemos com uma escola, através do estágio, foi o conhecimento de parte da realidade
do ensino público, que se encontra precário e a assimilação de práticas pedagógicas
quem em um futuro profissional nos auxiliará em nossa prática. Estes resultados são
limitados. Carecem, ainda, de novas e melhores intervenções e pesquisas no espaço
escolar, porém, contribuiu com nossa formação.
Bibliografia
KIMURA, S. Geografia no Ensino Básico: questões e propostas. São Paulo:
Contexto, 2008.
PASSINI, E.Y. “Convite para inventar um novo professor”. PASSINI, E.Y; PASSINI, R;
MALYSZ, S.T. (orgs.). Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. 2.ed;
1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011.
PASSINI, E.Y. “Introdução”. PASSINI, E.Y; PASSINI, R; MALYSZ, S.T. (orgs.). Prática
de ensino de geografia e estágio supervisionado. 2.ed; 1ª reimpressão. São Paulo:
Contexto, 2011.
PIMENTA, S.G. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática?.
7.ed. São Paulo: Cortez, 2006.
SAIKI, K ; GODOI, F.B. “A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado”. PASSINI, R;
MALYSZ, S.T. (orgs.). Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. 2.ed;
1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011.
SCANDELAI, N.C. “Planejamento”. PASSINI, E.Y; PASSINI, R; MALYSZ, S.T. (orgs.).
Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. 2.ed; 1ª reimpressão. São
Paulo: Contexto, 2011.
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