Educação, ciência e tecnologia: Número de alunos e sua problemática Carlos Mesquita Morais O decréscimo de alunos e a forma como o assunto tem sido tratado têm envolvido medidas governamentais e implicações na vida de muitas pessoas, principalmente, em alunos, professores e encarregados de educação. Algumas das medidas em curso consistem na junção ou encerramento de escolas fundamentadas no reduzido número de alunos que as frequentam. Ao mesmo tempo, que muitos investigadores defendem que a aprendizagem significativa acontece quando o ensino é centrado no aluno, tendo em conta as suas vivências e experiências, implicando grande acompanhamento e orientação do professor, assistimos a uma forte penalização das escolas com reduzido número de alunos, as quais poderiam experimentar essas estratégias, uma vez que com poucos alunos é mais fácil, para cada um deles, construir conhecimento, esclarecendo as suas dúvidas com o professor e colaborando com os colegas. Insisto, que não concordo com o conceito de rentabilidade de uma escola, associado, apenas, ao número de alunos. Há decisões que mudam o mundo e na sua origem, muitas vezes, não está mais do que uma pessoa. Por isso, trabalhar com muitos alunos em simultâneo, não garante que se obtenham melhores resultados de aprendizagem do que trabalhar com poucos. Conheço algumas escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico com menos de 20 alunos, e tenho testemunhado o empenho e a dedicação dos professores que nelas trabalham. Ainda não consegui identificar, nas suas aulas, ausência de trabalho do professor pelo facto do número de alunos ser reduzido. Vamos pensar numa escola ideal com 20 alunos e no seu funcionamento. O professor dessa turma, se tentar dar resposta às necessidades dos seus alunos, em cada hora lectiva, não pode utilizar mais de três minutos de dedicação exclusiva a cada um. Aceitando essa possibilidade, terá de ignorar que os alunos de 1º ano exigem um acompanhamento constante e que os restantes, de 2º, de 3º e de 4º anos, precisam de uma supervisão e orientação permanentes. Assim, em cada hora, três minutos de interacção com o professor para apresentar as suas dúvidas e explicar os seus pontos de vista e interpretações será tempo suficiente para um ensino de qualidade? Mas, para que cada aluno possa utilizar, integralmente, esses 3 minutos do tempo do professor, dos 20 alunos da turma, 19 estão sempre, em cada hora, sem qualquer apoio do professor. Será que é desta forma que queremos um ensino individualizado, que tenha em conta as necessidades e aspirações de cada aluno? Um número mínimo de alunos para que uma escola possa funcionar, talvez não deva ser recusado, mas esse número deverá ser muito inferior a 20, porque falar de ensino de qualidade, tendo em conta as características de cada aluno, não se compadece com a dedicação do professor, apenas, três minutos em cada hora lectiva, nos quais, o aluno tem de ser acompanhado e orientado na aprendizagem da Matemática, da Língua Portuguesa, do Estudo do Meio e de outras áreas. Se em cada área esperarmos que o aluno desenvolva competências que permitam aprofundar conceitos, explorá-los e aplicá-los a situações reais, de quantos minutos precisaria mais? Espero que o conceito de “reduzido”, com ligeiras adaptações numéricas, não venha justificar o encerramento de escolas de outros níveis de ensino e de outras instituições, porque o interior do país será sempre o primeiro a perder, ou porque tem recursos e não tem pessoas ou, porque tem pessoas e não tem recursos, que não poderá criar ou adquirir, porque já existem em excesso noutras localidades! Morais, C. (2006). Educação, ciência e tecnologia: Número Mensageiro de Bragança, de 25 de Maio de 2006, p.8. de alunos e sua problemática. As medidas de encerrar ou juntar instituições não passam de calmantes, que poderão anestesiar a dor por mais algum tempo, mas não curam a desertificação que o poder central teima em não querer ver ou em não ser capaz de inverter. Morais, C. (2006). Educação, ciência e tecnologia: Número Mensageiro de Bragança, de 25 de Maio de 2006, p.8. de alunos e sua problemática.