Abril 2006
Estratégias para ampliar a captação e retenção de alunos
Elisa Wolynec
[email protected]
Enquanto a maioria das IES enfrenta uma crise
decorrente da diminuição do número de ingressantes,
aumento da evasão e da inadimplência, há instituições
que estão em franca expansão do número de
ingressantes, mesmo em locais onde a concorrência é
cada vez mais acirrada. É interessante analisar
algumas dessas estratégias de sucesso, pois medidas
similares poderiam resolver a situação de outras IES.
Em um conjunto de reportagens publicadas no dia 18
de
abril
último,
o
jornal
Folha de São Paulo retrata a situação das IES
particulares:
1.
2.
•
Reorganizar
institucional.
•
Implantar, em breve espaço de tempo, um novo
sistema de gerenciamento acadêmico, em
substituição ao que vinha sendo utilizado,
desenvolvido internamente.
•
Flexibilizar as possibilidades de acesso e
permanência
de
alunos
na
instituição,
implantado o sistema de créditos, ou seja,
permitindo a matrícula por disciplinas.
rapidamente
a
estrutura
Os principais resultados obtidos, segundo o Prof.
Nilson, foram bastante animadores:
O número de ingressantes nas IES particulares
cresceu apenas 2% entre 2003 e 2004,
enquanto o número de vagas ofertadas cresceu
16,8%.
Em crise, faculdades de São Paulo cortam
cursos. Problemas financeiros provocam
fechamento de turmas, atraso nos salários e
demissão de professores.
Contrastando com esse cenário, a UNISO –
Universidade de Sorocaba - relata que o número de
ingressantes cresceu 8% em 2005 e 22% em 2006.
Estes números foram apresentados pelo Prof. Nilson
Leis, Pró-Reitor Administrativo da UNISO, em palestra
apresentada no dia 22 de março deste ano1. Segundo
o Prof. Nilson, a UNISO traçou uma diretriz estratégica
visando o aprimoramento dos processos e a
otimização do uso de recursos, com o objetivo de obter
maior eficiência e redução de custos. A meta a atingir
em 2005 era uma redução real de 15% nos custos
operacionais,
propiciando
uma
redução
de
mensalidades, aumento da demanda e melhoria do
relacionamento instituição-aluno. As principais ações
implementadas foram:
1
“Gestão em Instiruições de Ensino – Alguns Resultados” palestra
o
apresentada no 1 ENADU, São Paulo – SP, 22/3/2006 http://enadu.lyceum.com.br/
www.techne.com.br
o
Aumento de 8% em 2005 e 22% em 2006 no
número de alunos ingressantes.
o
Mensalidades reajustadas em percentual
menor que a inflação ou em alguns cursos,
redução média de 25%.
o
Melhora
substancial
no
tempo
de
atendimento ao aluno: de 60 minutos
para 15 minutos em períodos de
negociação.
o
Confiabilidade, transparência e acesso em
tempo real dos dados acadêmicos e
financeiros.
o
Redução da inadimplência com sistema de
créditos.
o
Relação do número de alunos/funcionário =
53 (bem menor que a média nacional).
o
Melhora da qualidade de ensino através da
divulgação dos Planos de Componentes
Curriculares.
o
Relação do número de alunos/professor =
33 (menor em duas vezes a média nacional).
o
Redução real de custos até o final de
2005Æ 15% do custo total da instituição.
o
Rapidez no acesso, na utilização e na
comunicação interna, inter-câmpus e
externa.
A UNISO deverá obter melhores resultados ainda com
a recente implantação do CRM da Microsoft, integrado
ao sistema de gestão acadêmica, que deverá
contribuir com maior eficiência em processos como os
de captação de alunos, divulgação de cursos para exalunos e negociação com inadimplentes.
Serão,
também,
iniciados
estudos
para
a
implementação de 20% das atividades à distância, o
que deverá contribuir para uma maior redução de
custos.
Outro caso interessante é o da USF - Universidade
São Francisco – que estava enfrentando uma
diminuição no número total de alunos. Entre 2002 e
2004 houve uma diminuição de 8% no total de alunos
matriculados gerando uma necessidade urgente de
corte custos.
Foi efetuado, inicialmente, um processo completo de
reorganização das estruturas curriculares, integrando
disciplinas similares de cursos distintos, de forma a
otimizar o preenchimento de turmas. Com essa
estratégia conseguiu-se uma diminuição de 12% no
custo-aluno2. Além de diminuir custos, esta mudança
melhorou a satisfação do alunado e o número total de
alunos, que vinha decrescendo, apresenta agora uma
expansão de 4%. Segundo o Prof. Antonio Gonçalves
de Oliveira, Secretário Geral da USF, na segunda
etapa foram reestruturados todos os currículos e, em
2006, todos cursos da USF iniciaram o ano com
currículos novos, o que deve aumentar ainda mais a
satisfação dos alunos e ampliar o número de
ingressantes.
Assim como no caso da UNISO, a USF planeja
introduzir 20% de atividades à distância em seus
cursos.
Não devemos deixar de mencionar o caso da
Faculdade Sumaré, que saltou de 2000 para 6000
alunos com a introdução de 20% de atividades à
distância em todas as suas disciplinas, através da
implementação de um ambiente de e-learning3. Com
isso conseguiu implantar dois turnos noturnos e dois
turnos matutinos, repassando a redução de custos às
mensalidades. O conjunto de diferenciais oferecidos,
que incluem um custo menor das mensalidades e a
oferta de um ambiente de ensino-aprendizagem que
fascina e entusiasma os alunos, criou uma explosão
da demanda que só não ampliou mais ainda a
matrícula, porque o atual edifício sede não comporta
mais alunos.
O que observamos de comum nestes três casos é que
em primeiro lugar, a redução de mensalidades tem
uma enorme influência na captação de alunos. Há uma
grande massa de alunos querendo estudar que não
consegue pagar as mensalidades vigentes e, muitas
vezes, uma pequena redução faz uma grande
diferença.
Verificamos também que em praticamente todas as
IES há espaço para redução de custos e melhoria dos
resultados da aprendizagem, reestruturando os
currículos e adotando tecnologia no processo de
ensino-aprendizagem.
Ao contrário do que muitos mantenedores acreditam, a
mudança de sistema de ensino seriado para crédito,
permitindo a matrícula por disciplinas, aumenta a
receita em vez de diminuir. É que em vez de um aluno
inadimplente e/ou evadido, temos um aluno cursando
parcialmente e pagando em dia.
Várias IES estão reformulando completamente a
estrutura curricular, para modernizar e adequar o
conteúdo às necessidades do mercado, flexibilizar a
formação profissional e ao mesmo tempo conseguir
turmas com maior ocupação, diminuindo custos. Essa
reformulação envolve geralmente a criação de um
núcleo básico de disciplinas da área de conhecimento,
seguido de um núcleo de disciplinas da área
profissional e finalmente as disciplinas específicas da
formação profissional. Assim, por exemplo, define-se
um núcleo de disciplinas para a área de ciências
exatas e tecnológicas, depois um núcleo de disciplinas
que todos os alunos do curso de engenharia devem
cursar e finalmente as disciplinas específicas da
engenharia civil, da engenharia mecânica, ou seja, de
cada formação profissional.
As simulações de redução de custos com uma
mudança desse tipo são extremamente atraentes. Os
resultados
dessa
mudança
logo
estarão
implementados trazendo um diferencial importante
para essas instituições. Em conjunto com essas
mudanças é importante rever o modelo pedagógico
adotado, introduzindo mais atividades práticas para os
alunos.
2
“Universidade São Francisco – Integração Curricular promove
formação interdisciplinar e redução de custos” – Revista Ensino
Superior, Ano 7, no. 84. Setembro de 2005.
3
“Inovação e tecnologia reduzem custos na Faculdade Sumaré” –
Revista Ensino Superior, Ano 7, no. 79, Abril de 2005.
www.techne.com.br
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