Inês Margarida Nogueira de Sousa
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da
Mulher no Climatério
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Porto, 2013
Inês Margarida Nogueira de Sousa
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da
Mulher no Climatério
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Porto, 2013
Inês Margarida Nogueira de Sousa
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da
Mulher no Climatério
_________________________________
Inês Margarida Nogueira de Sousa
Dissertação
de
Mestrado
apresentada
à
Universidade Fernando Pessoa como parte dos
requisitos para obtenção do grau de Mestre em
Psicologia,
na
área
de
especialização
de
Psicologia Clínica e da Saúde, sob orientação da
Professora Doutora Rute Meneses.
Resumo
O aumento da esperança de vida possibilitou que um número cada vez maior de
mulheres, possa vivenciar a meia-idade e, por consequência, surja um maior número de
queixas relacionadas com o climatério.
O principal objetivo da presente investigação foi verificar se existe relação entre a
QDV e a satisfação sexual em mulheres no climatério. Os objetivos específicos foram:
caracterizar a QDV e a satisfação sexual das participantes; analisar a relação entre a
satisfação sexual e as variáveis sociodemográficas (e.g., idade, estado civil,
escolaridade) e variáveis clinicas (fase do climatério e medicação). Foram também
analisadas as diferenças entre as mulheres nas diferentes fases do climatério quanto à
QDV.
A amostra deste estudo é constituída por 100 senhoras entre os 40 e os 64 anos (M=
49,6), (DP= 6,1), que compareceram às Consultas de Psicologia e Consultas Externas
de Ginecologia, do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, E.P.E. e que responderam a
um Questionário sociodemográfico e clínico; World’s Health Organization Quality of
Life – versão abreviada (WHOQOL-Bref) e ao Inventário de Satisfação Sexual de
Golombok Rust.
Globalmente, a amostra refere uma QDV que pode considerar-se moderada e
satisfação sexual. Em geral, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos constituídos em função da (e.g., idade, estado civil, escolaridade, fases
do Climatério e medicação) relativamente à satisfação sexual. Também foram
encontradas diferenças entre as mulheres em diferentes fases do climatério quanto à
QDV. Verificou-se que quanto melhor for a QDV maior a satisfação sexual das
mulheres no climatério. As mulheres mais velhas, sem parceiro, com menor
escolaridade, na pós-menopausa a tomar medicação poderiam beneficiar mais de
intervenção ao nível da satisfação sexual e eventualmente de QDV.
Palavras-chave: Climatério; Satisfação Sexual; Qualidade de vida.
v
Abstract
The increase in life expectancy has enabled that a larger number of women can
experience the middle-aged period, and in consequence a higher number of complaints
related to menopause arises.
The main objective of this research was to establish the relation between QOL and
sexual satisfaction in menopausal women. The specific objectives were to characterize
the participants QOL and sexual satisfaction; analyze the relationship between sexual
satisfaction and sociodemographic variables (eg, age, marital status, education/school
degree) and clinical variables (the climacteric stages and medication). We also analyzed
the differences between women at various menopausal stages in relation to QOL.
The sample consists in 100 women between 40 and 64 years (M = 49.6), (SD = 6.1)
who attended the Consultation of Psychology and External appointments of
Gynecology, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, E-P.E. The following instruments
were used to collect data: sociodemographic and clinical questionnaire; World Health
Organization's Quality of Life - abbreviated version (WHOQOL-BREF) and The
Golombok-Rust Inventory of sexual satisfaction.
Overall, we could refer to a sample that can be considered with a moderate quality
of life and moderate sexual satisfaction. In general, we found that there are differences
between groups (eg, Age, Marital Status, Education/School Degree, Menopausal Stages
and medication) in relation to sexual satisfaction. We also found differences between
women in different menopausal stages in relation to their quality of life. Differences
were also found among women in different stages of menopause in relation to QOL, the
better the quality of life, the greater the sexual satisfaction of menopausal women.
Keywords: climacteric, Sexual Satisfaction, Quality of Life
vi
Résumé
L’augmentation de l’espérance de vie a possibilité qu’un nombre toujours plus grand
de femmes puissent vivre la mie-vie et, par conséquence, surgisse aussi un plus grand
nombre de plaintes qui ont à voir avec la ménopause.
Le principal objectif de cette investigation a été de vérifier s’il existe une relation
entre la QDV et la satisfaction sexuelle des femmes étant dans la ménopause. Les
objectifs spécifiques ont été : caractériser la QDV et la satisfaction sexuelle des
participantes ; Analyzer la relation entre la satisfaction sexuelle et les variables
sociodémographiques (ex : l’âge, état civil, la scolarité) et les variables cliniques
(phases de la ménopause et médication). Ont été aussi analysées les différences entre les
femmes des diverses phases de la ménopause quand à la QDV.
La population de cette étude est constituée par 100 femmes entre les 40 et les 64 ans
(M=49,6), (DP=6,1), qui ont comparu aux Consultes de Psychologie et aux Consultes
Externes de Gynécologie du Centre Hospitalier du Tâmega et Sousa, E.P.E. et qui ont
répondu à un questionnaire sociodémographique et clinique ; World’s Health
Organization Quality of Life – version abréviée (WHOQOL-Bref) et à l’Inventaire de
Satisfaction Sexuelle de Golombok Rust.
Globalement, la population fait référence à une QDV qui peut être considérée
modérée et la satisfaction sexuelle. Généralement, on vérifie des différences
statistiquement significatives entres les groupes constitués en fonction de la (ex : âge,
état civil, scolarité, phases de la ménopause et médication) relativement à la satisfaction
sexuelle. Ont aussi été trouvées des différences entre les femmes étant en différentes
phases de la ménopause relativement à la QDV. On a vérifié que meilleure est la QDV,
meilleure sera la satisfaction sexuelle des femmes étant à la ménopause. Les femmes
plus âgées, sans compagnon, avec une scolarité plus précoce en post-ménopause et qui
prennent des médicaments pourraient bénéficier de plus d’intervention au niveau de la
satisfaction sexuelle et éventuellement de la QDV.
Mots-clés: Ménpause; Satisfaction sexuelle; Qualité de vie
vii
Aos meus Pais
viii
Agradecimentos
A conquista de mais uma etapa deste percurso de cinco anos de Licenciatura e
Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde não teria sido possível sem a existência de
pessoas que sempre me apoiaram ao longo desta caminhada.
Gostaria de agradecer, em especial,
À Universidade Fernando Pessoa, pelos cinco anos de formação exemplar e
rigorosa, que me permitiram realizar este trabalho de investigação.
A todas as mulheres no climatério que, de livre vontade, decidiram participar nesta
investigação, permitindo assim a sua realização. Obrigada, sem elas, nada seria possível.
À Professora Doutora Rute Meneses, pela cuidadosa e dedicada orientação, pela
disponibilidade, compreensão, pelo incentivo e pela partilha de conhecimento ao longo
desta caminhada.
À professora Sónia Alves, pela compreensão e pela paixão que transmitiu
relativamente à prática clínica. Também pela disponibilidade que demonstrou durante o
meu período de estágio.
Agradeço toda a atenção e envolvimento dos profissionais do Serviço de Psiquiatria
e Saúde Mental, e da consulta Externa de Ginecologia do Centro Hospitalar do Tâmega
e Sousa, E.P.E.
O meu especial agradecimento aos meus “Pilares”, pela educação que me
transmitiram, pelo amor incondicional, pelo amparo quando fraquejava, pelas palavras
amigas e confortantes, pela paciência, pois não foi fácil aturar-me nestes últimos meses.
Mãe, agradeço-te pelo ombro amigo, naquele exato momento que mais necessitei e
pelas palavras tranquilizantes que me motivavam. A ti, Pai, agradeço-te pela tua
compreensão e serenidade transmitida. Obrigada Mãe e Pai, por serem a base de
sustentação da minha caminhada, e por estarmos juntos neste momento especial com
que tanto sonhamos.
ix
Ao meu querido irmão, pelas suas parvoíces que me faziam desanuviar desta
“metamorfose”, também pelas suas opiniões geniais dadas ao longo desta caminhada.
Ao José Carlos, pelo seu companheirismo, compreensão e pela paciência que
demonstrou ao longo desta etapa, Agradeço-te por nunca teres largado a minha mão.
Pelos momentos de palhaçada de risos contagiantes. A tua presença foi fundamental.
One and only.
Ao meu avô Luís e à avó Georgina, pelas palavras especiais de motivação que me
acompanharam em toda a minha vida. Em especial à minha avó Ana, pela força que me
transmitiu, pela célere frase que dizia “Força és capaz, um futuro risonho espera-te”,
pela tranquilidade e paz de espirito, pelas infindáveis conversas…saudades…
Aos meus tios e primos, em especial à minha tia Fernanda, pela disponibilidade que
demonstrou sempre em ajudar, também pelas suas palavras de motivação.
Aos meus queridos amigos e companheiros nesta caminhada, Andreia, Tatiana
(Madrinha), Rúben, Laetitia, Joaninha, pelas vossas palavras que me motivavam a
continuar, sobretudo pela vossa amizade! Em especial à Andreia, a minha companheira
de todo este processo, pelas horas infinitas que passávamos ao telefone a tentar
confortar uma à outra, pelas ideias partilhadas e pelos momentos felizes que partilhamos
juntas.
Aos meus amigos de sempre, Emanuel, Flores, Ivone, Costa, Joana e Marina, por
tudo que passamos juntos, pelos debates infindáveis e complexos de ideias que
tínhamos relativamente a esta temática. Para sempre amigos.
Finalmente, o meu agradecimento a todos os que, de forma direta ou indireta, me
apoiaram em todos os momentos deste percurso.
O Meu Muito Obrigada a Todos Vós…
x
Índice Geral
Resumo ...................................................................................................................... v
Abstract ..................................................................................................................... vi
Resumé......................................................................................................................vii
Agradecimentos ........................................................................................................ ix
Índice Geral ............................................................................................................... xi
Índice de Quadros ................................................................................................... xiii
Lista de Abreviaturas…………………………………………………………..….xiv
Introdução ................................................................................................................. 1
PARTE I - Enquadramento Teórico
Capitulo I- A Mulher de Meia-Idade e o Climatério/Menopausa
1.1.A Mulher de Meia-Idade, o Climatério e a Menopausa…………………………5
1.2. Definição e Caracterização do Climatério/Menopausa……………………….....9
1.3. Fatores e Modelos Associados ao Climatério/Menopausa……...………..…....14
1.3.1. Modelo biomédico……………………………………………………..…..17
1.3.2. Modelo Sociocultural…………………………………………………….....17
1.3.3. Modelo psicossocial……………………………………………………......18
1.3.4. Modelo Biopsicossocial…………………………………………………….19
Capítulo II- A sexualidade e satisfação sexual na Mulher no
Climatério/Menopausa
2.1. Sexualidade da Mulher no Climatério/Menopausa……………….....................21
2.2. Definição e Caracterização de Satisfação Sexual…………………………..….23
2.3. Fatores Associados à Satisfação Sexual………………………………….........26
Capitulo III- A Qualidade de Vida da Mulher no Climatério/
Menopausa
3.1. Definição e Caracterização de Qualidade de Vida………………………….….33
3.3. Modelos de Qualidade de Vida………………………………………………...37
xi
3.4. Qualidade de Vida no Climatério/Menopausa ………………………………...39
3.5. Qualidade de Vida e Satisfação Sexual………………………………………..43
PARTE II - Estudo Empírico
Capítulo IV-Método
4.1. Pertinência do estudo e da investigação………………………………………..47
4.2. Desenho da investigação……………………….…………................................47
4.3. Objetivos da investigação…………………………………………………...…48
4.4. Método…………………………………………………………………………49
4.4.1. Participantes………………………………………………………………..49
4.4.2. Material…………………………………………………………………….52
4.4.3. Procedimento………………………………………………………………...59
Capítulo V- Resultados…………………………..……………………….…..61
Capítulo VI- Discussão dos Resultado……………………………………72
Conclusão………………………………………………………………………...83
Referencias bibliográficas……………………………………………............87
Anexos
Anexo A – Sintomas Menopáusicos
Anexo B – Quadro de Doenças
Anexo C - Quadro de Medicação
xii
Índice de Quadros
Quadro 1 - Caracterização Sociodemográfica da Amostra (N=100)……………….50
Quadro 2 - Caraterização Clinica da Amostra (N=100)……………………………52
Quadro 3 – Consistência Interna do WHOQOL-Bref………………………….….55
Quadro 4 – Consistência Interna do Inventário de Satisfação Sexual de Golombok e
Reust (GRISS)………………………………………………………………………….58
Quadro 5 - Caracterização da Qualidade de Vida de Mulher no Climatério
(N=100)………………………………………………………………………………...61
Quadro 6 - Caracterização da Satisfação Sexual de Mulher no Climatério
(N=100)………………………………………………………………………………...62
Quadro 7- Diferença entre Mulheres de Diferentes Idades quanto à Satisfação Sexual
(N=100)………………………………………………………………………………...64
Quadro 8 - Diferença entre Mulheres com Diferentes Estados Civis quanto à
Satisfação Sexual (N=100)……………………………………………………………..65
Quadro 9 - Diferença entre Mulheres de Diferentes Níveis de Escolaridade
(N=100)………………………………………………………………………………...66
Quadro 10 - Diferença entre Mulheres que tomam e não tomam Medicamentos
quanto à Satisfação Sexual (N=100)…………………………………………………...67
Quadro 11- Diferença entre Mulheres de Diferentes Fases Do Climatério quanto à
Satisfação Sexual (N=100)……………………………………………………………..68
Quadro 12 - Diferença entre Mulheres de Diferentes fases do Climatério quanto à
Qualidade de Vida (N=100)……………………………………………………………69
Quadro 13 - Relação entre a Qualidade de Vida e a Satisfação Sexual em Mulheres
no Climatério (N=100)…………………………………………………………………71
xiii
Lista de Abreviaturas
APA- American Psychological Association
HWO- World Health Organization
OMS – Organização Mundial de Saúde
QDV – Qualidade de Vida
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
WHOQOL – World’s Health Organization Quality of Life
xiv
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Introdução
A esperança média de vida tem aumentado à medida que os anos vão passando,
assim sendo, a mulher vivencia a fase do climatério por um período de tempo mais
longo. O climatério é o período de envelhecimento feminino, marcado pela transição de
uma fase reprodutiva para um estado não reprodutivo, acarretando alterações físicas e
psicológicas no organismo feminino (Santos & Campoy, 2008) Considera-se,
efetivamente, um período difícil, de grandes mudanças, transições e até mesmo de crise
(Souza,2005).
Embora o climatério seja uma condição fisiológica normal, o qual será vivenciado
por todas as mulheres, este envolve mais que o fim da fertilidade, acelera também o
processo de envelhecimento e consequentemente afeta também os sentimentos e a QDV
da mulher (Freitas, Silva, & Silva, 2004; Filho & Papaléo, 1994; Bullinger, Anderson,
& Cella, 1993).
Esta fase na vida da mulher é influenciada por múltiplos fatores: a cultura, os
costumes, o ambiente onde está inserida, e também pela sua história de vida pessoal e
familiar e por particularidades pessoais e pelo psiquismo (Freitas et al., 2004).
As mudanças físicas, emocionais, psicológicas e sociais que a mulher enfrenta nesta
etapa influenciam a função sexual normal da mulher (Scott, 2002; Gott & Hinchliff,
2003).
Nas últimas décadas têm-se verificado mudanças significativas na vida sexual das
mulheres. Assiste-se, hoje em dia, a uma crescente liberalização nesta área, uma vez que
os valores, atitudes e comportamentos face à sexualidade da mulher demonstram-se
cada vez mais permissivos (Vilarinho, 2010).
Relativamente às experiencias sexuais satisfatórias ou não, a mulher difere do
homem, enaltecendo os aspetos não sexuais como primordiais (Christopher & Sprecher,
2000; Davidson & Darling,1988; Schenk, Pfrang, & Rausch, 1983). Dá importância
nomeadamente à presença de conflitos não resolvidos, à distância emocional
experienciada pelos parceiros ou o facto da pessoa não se sentir amada, o que pode
afetar a satisfação sexual (Christopher & Sprecher, 2000; Davidson & Darling,1988;
Schenk, Pfrang, & Rausch, 1983).
1
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Sendo a satisfação sexual um conceito tão multifacetado e multidimensional, deverá
ser entendida, pelo funcionamento sexual, do ponto de vista fisiológico, mas também
pela qualidade do relacionamento afetivo, tendo em consideração todos os fatores não
sexuais, não esquecendo fatores de ordem socioeconómica, demográfica e cultural
(Carvalheira & Leal, 2008).
Outro aspeto que está intrinsecamente ligado a esta etapa de vida é a QDV da
mulher, na medida em que sinais e sintomas apresentados e vivenciados pela mulher
vão afetar a sua perceção de QDV. Desta forma, cada mulher vivencia esta fase de
forma diferente, sendo que o climatério se vai repercutir nos seus sentimentos e na sua
QDV de maneira diferente (Freitas et al., 2004).
O climatério pode influenciar direta ou indiretamente o bem-estar biopsicossocial e
naturalmente a QDV, mas esta fase não deve ser encarada somente como um conjunto
de sintomas decorrentes das alterações hormonais, devemos ter em conta também
variáveis socioculturais inerentes a esta etapa (Filho & Costa, 2008; Brito et al, 2010;
De Lorenzi et al, 2009; Gonçalves et al, 2011; Neto, 2002).
Cada vez mais, é necessário que as equipas de saúde invistam na promoção de
hábitos que contribuam para a satisfação sexual e a QDV. Daí a necessidade de
averiguar se as mulheres, ainda antes de se defrontarem com esta etapa, possuem
conhecimentos que lhes permitam encarar o climatério sem receios e incertezas.
De facto, a transição para esta etapa do ciclo vital da mulher coincide com alterações
físicas e psíquicas próprias da idade, mas também transformações de índole familiar e
social e poderá ser experienciada pela mulher negativamente ou positivamente,
repercutindo-se na sua satisfação sexual e, comitantemente, na QDV. Aliadas a estas
condições vividas de modo individual por cada mulher, podem ainda associar-se outras
condições específicas relacionadas com as circunstâncias de vida, tais como, a idade, o
nível educativo, o estado civil, as fases do climatério, medicação, entre outras.
A presente investigação encontra-se estruturada em duas partes: a Parte I –
Enquadramento Teórico; e a Parte II – Estudo Empírico.
2
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
O Enquadramento Teórico é composto por três capítulos que integram a síntese da
revisão bibliográfica: no Capítulo I - A mulher de meia-idade e o climatério/menopausa
- clarificasse o que designamos por meia-idade, definimos e caracterizamos o climatério
e a menopausa, abordamos os fatores e modelos associados ao climatério/menopausa.
No
Capítulo
II
-
A
sexualidade
e
satisfação
sexual
da
mulher
no
climatério/menopausa – faz-se a integração da sexualidade da mulher no
climatério/menopausa; define-se e caracteriza-se satisfação sexual e por fim apresentase fatores associados à satisfação sexual.
O Capítulo III - A QDV na mulher no climatério/ menopausa - começa por
apresentar a definição e caracterização de QDV; faz alusão aos modelos de QDV e
termina explorando a relação entre a QDV e o climatério/Menopausa e QDV e
satisfação sexual.
O Estudo Empírico é constituído por três capítulos: o Capítulo IV – Método –
aborda a pertinência do estudo, descreve pormenorizadamente o estudo empírico
realizado, onde é definido o tipo de estudo, os objetivos, as variáveis, a caracterização
da amostra, os instrumentos e o procedimento de recolha de dados efetuado.
O Capítulo V – Apresentação dos resultados - aborda a análise dos resultados.
O Capitulo VI- Discussão dos resultados – apresenta a reflexão dos resultados
obtidos no presente estudo, e integrando os resultados encontrados com diversos
estudos realizados sobre a temática.
Posteriormente, apresenta-se uma reflexão final sobre os resultados obtidos,
mencionando limitações da presente investigação e sugestões para futuras investigações.
Seguem-se as referências bibliográficas e os anexos.
3
Primeira Parte – Enquadramento Teórico
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capítulo I - A Mulher de Meia-Idade e o Climatério/Menopausa
1.1. A Mulher de Meia-Idade, o Climatério e a Menopausa
Craig e Baucum (2002) mencionam que a idade adulta é a etapa mais longa do ciclo
vital e divide-se em três sub-etapas: a idade adulta jovem (18-21 até 40 anos), a idade
intermédia (40 até aos 60-65 anos) e, por último, a idade adulta tardia (60-65 até à
morte). Para este trabalho iremos debruçar-nos na faixa etária dos 40 aos 65 anos, por
ser a faixa etária na qual ocorre o climactério (Aldrighi, Aldrighi & Aldrighi, 2002).
A meia-idade acarreta inúmeras mudanças a nível físico, cognitivo e psicossocial.
Ao nível do desenvolvimento físico, a mulher evidencia um declínio da acuidade visual
e auditiva, das sensações olfativas e gustativas e da sensibilidade à dor, a sua pele
começa a perder elasticidade, o seu tónus muscular começa a diminuir, a capacidade
pulmonar e cardiovasculares também começam a ficar afetadas. (Craig & Baucum,
2002; Papalia, Olds & Feldman, 2000; Antunes-Bacelar,2005).
Ao nível do desenvolvimento cognitivo, a mulher depara-se com diversas mudanças:
a capacidade de resolver problemas novos, não familiares, diminui, pelo contrário, a
capacidade de resolver problemas práticos é boa, chegando ao auge nesta etapa (Papalia
et al., 2000). Relativamente à inteligência, esta diminui quando se trata da capacidade
de processar ativamente novas informações, por outro lado, a inteligência cristalizada
aumenta quando se trata de informações adquiridas (Papalia et al., 2000).
Relativamente ao desenvolvimento psicossocial, a mulher passa pela saída dos filhos
de casa, desta forma a mulher pode vivenciar, a síndrome do ninho vazio ou período
pós-paternidade (Lippert, 1997). À luz da perspetiva sistémica e considerando o ciclo
vital da família, a meia-idade é designada a “geração o meio”, metaforicamente
denomina-se geração sanduíche, pois é uma geração que se depara com as exigências e
necessidades dos filhos, como também dos pais, que estão a envelhecer (Relvas, 1996).
Desta forma, considera-se a meia-idade como um período difícil, de grandes
mudanças, transições e até mesmo de crise (Sarason, 1977, citado por Catão, 2007).
5
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Estas mudanças ou até mesmo a crise nesta fase do ciclo vital pode ser encarada pelo
indivíduo de duas formas: positivamente ou negativamente. Tudo vai depender da
perspetiva do individuo da capacidade ou até mesmo da habilidade para lutar e adaptarse à mudança (Hayslip & Panek, 1993, citado por Catão, 2007). Quando os indivíduos
vivenciam este período de forma negativa, isto é, interpretam o stress desta fase
negativamente, tal pode conduzir o indivíduo à violência familiar, empobrecimento
laboral e familiar, abuso de álcool e drogas, ou até mesmo a depressão (Hayslip &
Panek, 1993, citado por Catão, 2007). Por outro lado, os indivíduos que lidam de forma
positiva, são pessoas mais atenciosas com os outros, nomeadamente com os pais que
estão a envelhecer e, por sua vez, conseguem lidar melhor com as suas mudanças físicas
(Hayslip & Panek, 1993, citado por Catão, 2007).
As queixas constantes dos indivíduos que permanecem nesta fase são relativamente
a uma insatisfação generalizada, demonstram sentimentos de apreensão e de vazio,
acompanhados de humor depressivo, associando-se uma diminuição da auto-estima
(Duarte, Santos & Gonçalves, 2002).
O climatério é uma das mudanças que ocorre nesta fase, sendo que a mulher tem que
aprender a conviver com os sintomas decorrentes da perda das funções dos ovários,
nomeadamente da condição reprodutiva que virá com a menopausa (Duarte, Santos &
Gonçalves, 2002).
As características do período de meia-idade demonstram que essa fase da vida é
marcada por introspeção e reavaliação de vários fatores presentes no cotidiano,
relativamente a um conjunto de mudanças, a aproximação da reforma, modificações
físicas e a independência dos filhos (Bee, 1997).
O processo existencial humano é então marcado por diversas fases, denominadas
ciclos vitais, em que ocorrem intensas transformações e no que diz respeito mais
propriamente ao momento em que a mulher entra na meia-idade, este apresenta vários
desafios biopsicossociais, fazendo com que por vezes seja difícil para a mesma
responder adequadamente a esta fase da vida (Mori & Coelho, 2004; Oliveira, Jesus &
Merighi, 2008).
6
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Ora, os conceitos de climatério e menopausa são muitas vezes utilizados como
sinónimos, contudo, são conceitos que diferem entre si, desta forma estes termos têm vindo
a ser usados indistintamente para mencionar todo o processo que envolve vários
estádios (Gil-Antuñano, 2000; Gannon & Ekstrom, 1993).
Etimologicamente, o conceito climactério provém do grego “Klimater”, que
significa degrau e é utilizado para designar qualquer etapa vital considerada crítica
(Biffi, 1991, citado por Favarato & Aldrighi 2001; Costa et al., 2006).
A idade em que se inicia essa fase é variável, mas acredita-se que é em torno dos 40
anos e que se pode estender até os 65 anos de idade (Gil-Antuñano, 2000; Freitas,
2010).
Segundo Silva, Araújo e Silva (2003); Serão (2008), o climatério é definido como
um período de transição entre a fase reprodutiva e não reprodutiva da mulher, isto é, do
período fértil para o infértil, vivenciada na meia-idade. Para Valença e Germano (2010),
o climatério é uma etapa indispensável da vida da mulher, a qual se caracteriza pela
diminuição gradual da produção de hormonas sexuais femininas a partir dos ovários.
O climatério pode ser interpretado como um processo de transformações físicas e
emocionais. Esta fase na vida da mulher é influenciada por múltiplos fatores: a cultura,
os costumes, o ambiente onde está inserida, e também pela sua história de vida pessoal e
familiar e por particularidades pessoais e pelo psiquismo (Freitas et al., 2004). Assim, é
um conjunto de construções/ representações sociais sobre a capacidade reprodutiva, a
menstruação, a fertilidade, a sexualidade e o envelhecimento que influenciam a vivência
do climatério e não somente as características do próprio acontecimento (PelcastreVillafuerte, Garrido-Latorre, & Léon-Reyes, 2001).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (1996) o termo climatério deve ser
abandonado e deve ser utilizado o termo de menopausa para referir o fenómeno como
um todo e não só ao cessar do fluxo menstrual.
7
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Almeida, Silva & Araújo (1998) mencionam que independentemente do nome que
se atribui, da idade em que ocorre ou até mesmo da forma como se revela, o climatério é
uma fase de transição da vida adulta para a velhice, instituindo um período crítico,
assinalado por instabilidades emocionais e hormonais.
Etimologicamente, o termo menopausa deriva do termo grego meno (mês, menstruo)
e pausis (pausa), este termo é encarado pela mulher como uma mudança de vida
(Northrup, 2009).
A menopausa, portanto, é um fenômeno determinante do climatério, refere-se a um
dia da vida em que ocorre a última menstruação e que desde esse dia, há um cessar
definitivo da menstruação, resultante da perda da função folicular ovárica, a qual origina o
fenómeno designado por menopausa (Sociedade Internacional da Menopausa, citado por
Pérez, La Rosa, & Durán, 1996; Bacelar-Antunes,2005). O diagnóstico clínico ocorre
após um ano de amenorreia, designado por ausência de menstruação (Gil- Antuñano,
2000; Piñero, Vea, & Despaigne, 2007; Silva et al., 2004). É uma fase que determina
diversas implicações ao nível biopsicossocial, uma delas é a paragem definitiva da
menstruação, outra é o limite da fertilidade (Botell, Domínguez, & Piñero, 2001).
A menopausa, sendo uma condição fisiológica natural que afeta todas as mulheres,
envolve mais que o fim da fertilidade, acelera o processo de envelhecimento e
consequentemente afeta também os sentimentos e a qualidade de vida da mulher
(Freitas, Silva, & Silva, 2004; Filho & Papaléo, 1994; Bullinger, Anderson, & Cella,
1993).
Silva, Araújo e Silva (2007) mencionam que é evidente o número crescente de
mulheres climatéricas que procuram os serviços de saúde à procura de atendimento para
confidenciar as suas queixas relativamente ao desconforto vivenciado nesse período. As
suas queixas incidem nas alterações físicas, culturais e psicossociais, nomeadamente, a
perda da juventude, da atração física, do declínio sexual, da fertilidade, acarretando
angústia, ansiedade e medo (Silva et al., 2007). Muitas demonstram a sua falta de
contentamento relativamente a um atendimento adequado, compreensivo e contínuo, em
que possam exteriorizar as duas dificuldades/problemas (Freitas, Silva, & Silva, 2004).
8
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
No ponto que se segue será explorado com mais pormenor a temática do
climatério/menopausa e o que esta fase acarreta para a mulher.
1.2.Definição e Caracterização do Climatério/Menopausa
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) e a Sociedade
Portuguesa de Menopausa (SPM) (2004, p. 20), a menopausa corresponde “à data da
última menstruação em consequência de falência ovárica definitiva”. Habitualmente
ocorre entre os 45 e 55 anos. Se ocorrer antes dos 40 anos é considerada menopausa
precoce, uma vez que o cessar completo da menstruação é antes dos 40 anos (BacelarAntunes, 2005).
Para a OMS (1996) existem os seguintes quatro estádios do ciclo menstrual. A prémenopausa inicia-se em geral, após os 40 anos, em mulheres com ciclos menstruais
regulares, há uma diminuição da fertilidade, normalmente é uma fase assintomática,
contudo, podem existir alterações hormonais e consequentemente mudanças no padrão
menstrual (Gil-Antuñano,2000).
A perimenopausa é o período de tempo que vai de dois a oito anos e que antecede a
menopausa, quando não se verifica ainda um período de amenorreia que atinja doze
meses consecutivos, os ciclos menstruais podem ser irregulares e mais pequenos,
caracteriza-se pelo início dos acontecimentos biológicos, endócrinos e psicológicos,
assinalando o fim da etapa reprodutiva (OMS, 1996). É uma etapa de transição entre o
período de procriação e a menopausa definitiva (OMS, 1996). Quanto à ocorrência da
perimenopausa, em função da idade, alguns autores centram-na na faixa etária dos 4555 anos (Silva et al., 2004; OMS, 1996) e outros definem o período dos 40-55 anos
(Chaby, 1995)
A menopausa indica o final da vida reprodutiva da mulher (Pérez, La Rosa, &
Durán, 1996) e surge quando os folículos se tornam insuficientes para produzir
estrogénios nas concentrações necessárias para induzir a menstruação (Silva et al.,
1999). A sua existência é declarada após ter decorrido um ano sem menstruações (OMS,
1996).
9
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Por fim, a pós-menopausa, que se inicia um ano após a amenorreia, decorre desde o
final da menstruação até à morte (Chaby, 1995; Vigeta, & Brêtas, 2004; BacelarAntunes, 2005).
A perda progressiva da função ovárica e a mudança hormonal inerente conduzem a
uma panóplia de alterações e sintomas de carácter multiorgânico que a curto, médio ou
a longo prazo interferem na QDV feminina, afetando a sua saúde física, mental, bem
como a sua atividade quotidiana, ao nível laboral, relacional e afetiva (Schindler, 2006).
Contudo, devemos ter em conta que várias manifestações clínicas e a sua gravidade
variam de mulher para mulher, sendo influenciadas por fatores biopsicossociais que
determinam o impacto deste período de mudança na mulher que o vivencia (Nappi &
Lachowsky, 2009).
De acordo com Silva e Silva (1999), existe sintomatologia que ocorre num curto
espaço de tempo, sintomatologia precoce (afeta a mulher a nível físico e psicológico) e
a sintomatologia que ocorre a longo prazo, sintomatologia tardia (doenças
cardiovasculares e osteoporose), devido à carência estrogénica.
No que se refere à sintomatologia física, a mulher depara-se com dois tipos de
perturbações: as perturbações neurovegetativas e as perturbações genitourinárias
Bacelar-Antunes (2005). Nas Perturbações Neurovegetativas encontram-se incluídos os
calores (afrontamentos); a sua origem deriva da diminuição de estrogénios
(hipoestrogenismo), existem mulheres que podem ter deficiência estrogénica e não
sofrerem deste sintoma (Chaby, 2005). Os sintomas podem ser associados à
transpiração excessiva, tonturas, pele visivelmente ruborizada, cefaleias e taquicardia
(Chaby, 2005). Estes sintomas podem ocorrer durante o dia (diurnos) e durante a noite
(noturnos), estes afrontamentos, segundo Chaby (2005) têm início na pré-menopausa e
estão presentes em cerca de 50% das mulheres. Já nas mulheres na pós-menopausa a
percentagem sobe para os 75%, caracterizando-se pela súbita sensação de calor
(Stearns, et al., 2002). Alguns fatores que podem despoletar os afrontamentos são o
aumento da temperatura do ambiente, o consumo do álcool, exercício físico, alimentos
quentes e o stress (Nelson, 2008; Blake, 2006).
10
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
À medida que vamos envelhecendo, vamos consequentemente ter mudanças no
padrão habitual do sono (Brown et al., 2009) Todavia, as dificuldades no sono tornamse mais evidentes durante o climatério, com uma prevalência na perimenopausa entre os
33% a 51% (Brown, Gallicchio, Flaws & Tracy, 2009). As queixas mais frequentes
mencionadas pelas mulheres são: a insónia. o despertar frequentemente durante a noite,
sono agitado, dificuldade em adormecer, entre outros (Bacelar-Antunes, 2005; GilAntuñano,2000).
As Perturbações Genitourinárias surgem, também, devido ao hipoestrogenismo. A
vagina fica predisposta à vaginite atrófica, é uma atrofia do tecido vaginal que está
associada à redução dos níveis de estrogénios e que é acompanhada por corrimento
aquoso, prurido vulvar, ardência urinária, secura vaginal, diminuição da lubrificação na
relação sexual e dispareunia (Bacelar-Antunes, 2005). O tecido vaginal compõe-se de
muitas camadas de células, após a menopausa, algumas mulheres perdem as camadas
córneas exteriores do tecido vaginal, o que origina queixas de secura e irritação vaginal.
(Northrup, 2009). Aproximadamente 50% das mulheres na pós-menopausa apresentam
sintomatologia decorrente de atrofia genitourinária (Blake, 2006).
Consequentemente, estas perturbações perpetuam dificuldades ao nível sexual.
Estima-se que metade das mulheres no período do climatério demostrem algum tipo de
problemas no domínio da sexualidade, nomeadamente do tipo de disfunção sexual que
está intimamente relacionada com as alterações hormonais, anatomofuncionais e
psicossociais inerentes a esta fase (Larab, Usechea, Silva, Ferriani, Reis, Sá, Carvalho,
Carvalho & Silva, 2009).
Num estudo observacional que envolvia 438 mulheres australianas com idades
compreendidas entre os 45 e os 55 anos, as quais foram observadas durante 8 anos,
concluíram que existia uma variação da prevalência de disfunção sexual de 42% na fase
inicial da transição menopáusica para 88% na fase tardia (Dennerstein, Randolph, Taffe,
Dudley & Burger, 2002).
A diminuição do desejo é a queixa sexual mais frequente na mulher no climatério,
seguida da dispareunia e anorgasmia (Silva et al., 2009).
11
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
A diminuição de fantasias ou pensamentos sexuais e a menor atração pelo sexo
oposto apresenta uma prevalência entre as mulheres no climatério de aproximadamente
40 a 50% (Silva et al., 2009; Nappi, 2007).
A dispareunia, ou seja, a dor persistente e recorrente durante a relação sexual, afeta
cerca de 30-40% de mulheres no climatério (Silva et al., 2009), resultante da atrofia e
lubrificação genital decorrentes do hipoestrogenismo desta fase (Silva et al., 2009).
Consequentemente a estes episódios de dor nas relações sexuais, há uma diminuição do
desejo, da excitação e capacidade orgásmica, por parte da mulher, conduzindo a uma
reduzida satisfação sexual, influenciando negativamente a motivação, a frequência
sexual e a relação conjugal (Nappi & Lachowsky, 2009).
Outra perturbação de dor na mulher diz respeito ao vaginismo, definido como um
“espasmo involuntário da musculatura do terço externo da vagina que interfere com o
ato sexual” (APA, 2002, p. 558). Por outras palavras, é a dificuldade ou a incapacidade
da mulher tolerar qualquer tipo de penetração.
Num estudo levado a cabo por Catão (2008) com uma amostra de 200 mulheres de
idades compreendidas entre os 40 e os 64 anos, verificou-se que a ausência de
vaginismo é mais evidente nas mulheres na pré-menopausa e perimenopausa do que
naquelas que se encontram na pós-menopausa. No mesmo estudo verificou-se também
que são as mulheres que não fazem medicação que têm maior ausência de vaginismo,
quando comparadas com aquelas que fazem medicação (Catão,2008).
A par das mudanças do padrão hormonal existem outros fatores que estão
fortemente relacionados com a deterioração da função sexual feminina no climatério,
como: fatores psicológicos, como humor depressivo, diminuição da autoestima,
irritabilidade, sentimento de feminidade, associação a mudança da imagem corporal;
fatores socioculturais, como por exemplo os conflitos familiares, laborais; fatores
relacionais, como a má relação conjugal, a disfunção sexual e comorbilidade do
parceiro; a gravidade da sintomatologia climatérica, nomeadamente vasomotora,
12
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
genitourinária e má qualidade do sono, entre outros (Silva et al., 2009; Nappi, 2007;
Porter & Rees, 2002).
Relativamente à sintomatologia psicológica, a fase da perimenopausa é considerada
um período de risco para o desenvolvimento de alterações afetivas, bem como a
recorrência de perturbações do humor prévias; esta fase é mais propícia a desenvolver
sintomas depressivos, em relação à pré-menopausa (Cohen, Soares, Vitonis, Otto &
Harlow, 2006).
Num estudo para avaliar a associação entre sofrimento psicológico e menopausa
natural, numa amostra de 16065 mulheres com idades compreendidas entre 40 e 55
anos, observou-se uma maior prevalência de sintomas psíquicos (irritabilidade,
nervosismo, tensão emocional e tristeza) na perimenopausa (28,9%) do que na pré
(20%) e pós-menopausa (22%), com predomínio da sintomatologia nas mulheres de
raça caucasiana, mulheres com alterações do sono (39,7%) e com sintomatologia
vasomotora (36,6%) (Bromberger, Meyer, Kravitz, Sommer, Cordal, Powell, Ganz, &
Sutton-Tyrrell, 2001).
Segundo Matthews (1992, citado por Papalia et al., 2000) “somente cerca de 10%
das mulheres saudáveis desenvolve sintomas de depressão quando se encontram na
menopausa, tendendo estes sintomas a ser leves; a vasta maioria não fica deprimida” (p.
434). As mulheres que ficam realmente deprimidas a priori são ansiosas e pessimistas
ou até mesmo as que se encontram sob stress crónico. (Bromberger & Matthews, 1996,
citado por Papalia et al., 2000, p. 434).
Quanto à depressão, constatou-se que, embora não haja diferenças significativas,
existe uma tendência para que as mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa
apresentem mais depressão do que as mulheres na pré-menopausa (Sierra, Higalgo, &
Chedraui, 2005).
A ansiedade é frequente no climatério e é descrita através do medo, apreensão,
insegurança e preocupação generalizada com a saúde futura (Bacelar-Antunes, 2005).
13
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quanto à sintomatologia tardia, as doenças cardiovasculares são a principal causa de
morte nas mulheres na pós-menopausa, ultrapassando as doenças oncológicas (BacelarAntunes, 2005; Silva & Silva, 1999). Na mulher, a incidência de enfarte do miocárdio
aumenta a partir dos 50 anos, isto é, as mulheres antes da menopausa estão mais
protegidas deste tipo de patologia devido aos estrogéneos (Silva & Silva, 1999).
A osteoporose, que surge devido ao hipoestrogenismo, caracteriza-se pela
diminuição da densidade óssea e pela deteorização da resistência óssea que,
consequentemente, vai conduzir a fraturas (Ferrari, 1996).
Para compreender melhor esta etapa de vida, é necessário identificar um conjunto de
fatores que poderão estar subjacentes ao aparecimento do climatério. No ponto seguinte
será abordado então os fatores e modelos associados ao climatério/menopausa.
1.3.Fatores e Modelos Associados ao Climatério/ Menopausa
Conforme a revisão bibliográfica efetuada, existe um conjunto de fatores preditivos
do aparecimento do climatério. Desta forma, destacamos neste estudo os fatores que
serão mais pertinentes para a sua compreensão, embora exista uma incerteza sobre os
fatores que possam influenciar a idade de início do aparecimento da menopausa (Serrão,
2008).
Perante a nossa análise destacamos os fatores intrínsecos (a idade, os fatores
genéticos, a idade da menarca, a duração média do ciclo menstrual e número de filhos) e
os fatores extrínsecos (o tabaco, o clima, a altitude, fatores socioeconómicos, a nutrição
e os contracetivos) (Serrão, 2008). É necessário olhar para uma combinação
multifatorial, explicativa da idade de início do climatério, uma vez que ainda existe
incerteza sobre os fatores que podem afetar a idade de início (Serrão,2008).
Existe uma grande variação de idades no que diz respeito ao aparecimento do
climatério, pois pode ocorrer entre os 39 anos e os 59 anos (Serrão, 2008), no entanto, a
média ronda os 51 anos (OMS, 1996). A média de idades na população portuguesa
ronda os 48 anos (Antunes, Marcelino, & Aguiar, 2003). A menopausa prematura surge
14
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
aos 40 anos ou menos de idade (Ginsburg, 1991) e a menopausa tardia prolonga-se a
uma idade acima dos 55 anos (Pérez, Rosa, & Durán, 1996).
Segundo Gil-Antuñano (2000), a herança genética adquire um papel importante na
idade da menopausa, uma vez que se observa que o aparecimento da menopausa numa
mulher é similar entre as mulheres da mesma família. Mulheres cujas mães tiveram
menopausa precoce têm um risco 5-6 vezes mais elevado de também experienciar
menopausa precoce (Keck, 2005).
Relativamente à idade da menarca, quanto mais cedo for, mais tarde será a idade da
menopausa e vice-versa (Gil-Antuñano, 2000). Alguns estudos apresentam a idade da
menarca como um fator predisponente para a determinação da idade do aparecimento da
menopausa (Gil-Antuñano, 2000). Enquanto estudos anteriores foram capazes de
estabelecer uma associação entre a idade da menarca precoce e menopausa mais tarde
(Frisch, 1978; 1987, citado por, keck, 2005), estudos mais modernos não têm sido
capazes de confirmar este efeito (Van Noord, Dubas, Dorland, Boersma, Velde, 1997,
citado por Keck, 2005).
No que concerne à duração média do ciclo menstrual, este é o preditor natural mais
importante do aparecimento da menopausa (Shering, 2002, citado por Catão, 2008). Foi
observado que as mulheres em idade reprodutiva que apresentavam ciclos inferiores a
26 dias tendiam a ter uma menopausa por volta dos 49,2 anos de idade e, que as
mulheres com um ciclo menstrual regular superior a 33 dias tendiam a ter a menopausa
mais tarde, aos 51,4 anos (Shering, 2002, citado por Catão, 2008).
Referente ao número de filhos, tem-se observado que as mulheres nulíparas
tenderiam a ter a menopausa mais cedo do que as multíparas, existindo ainda a
possibilidade de existir uma correlação entre o número de crianças nascidas e um início
mais tardio da menopausa (Van Noord et al., 1997, citado por Keck, 2005). Também se
pensa que a idade da primeira gravidez pode influenciar a idade da menopausa, assim
sendo, uma mulher que é mãe antes dos 28 anos tem probabilidade que a menopausa
chegue mais cedo (Gil-Antuñano, 2000).
15
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
De acordo com a OMS (1996), a idade da menopausa pode ser antecipada por
fatores como o tabagismo (fator primordial). Supõem-se que os fumadoras iniciam a
menopausa um a dois anos mais cedo que os não fumadoras o que se deve ao efeito da
nicotina sobre o sistema nervoso central, bem como ao efeito toxico sobre os ovários
(Gil-Antuñano, 2000; Cramer & Xu, 1996; Bromberger, Matthews, Kuller, Wing,
Meilahn & Plantinga, 1997).
Outro fator é o clima e as altas altitudes: as mulheres que vivem num clima quente e
as que vivem em altas altitudes têm a menopausa antes das mulheres que vivem em
climas mais frios e as que vivem em locais com menor altitude (Gil-Antuñano, 2000).
No que diz respeito aos fatores socioeconómicos, observou-se que a menopausa
aparece mais cedo nas mulheres que trabalham fora de casa (Gil-Antuñano, 2000).
Relativamente ao estado civil, a menopausa surge mais tarde nas mulheres casadas (GilAntuñano, 2000). Por outro lado, não se observou nenhuma relação entre a idade da
menopausa e fatores como o nível da educação, ou, a profissão do conjugue (GilAntuñano, 2000).
A nutrição é outro fator que está associado à idade da menopausa, assim sendo, as
mulheres com uma nutrição deficiente tendem a entrar na menopausa mais cedo, é o
caso das mulheres que vivem nos países menos desenvolvidos (Gil-Antuñano, 2000).
Por último, mas não menos importante em relação uso de contracetivos orais,
existem estudos que referem que estes levam a um início mais tardio de menopausa (van
Noord et al., 1997, citado por Keck, 2005), enquanto outros estudos não mostram esta
associação (Bromberger et al., 1997).
Vários modelos têm emergido com a finalidade de compreender um fenómeno tão
especial como é o climatério e a sua relação com a saúde, a doença e outros fatores
subjacentes (Serrão, 2008). Portanto, de seguida será abordado o modelo biomédico; o
modelo Sociocultural; o modelo psicossocial e o modelo biopsicossocial.
16
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
1.3.1. Modelo biomédico
O modelo biomédico advoga a ideia de que para cada doença existe uma causa
biológica primária objetivamente identificável (Serão, 2008). Desta forma, no caso
específico do climatério, a diminuição radical de estrogénio (cientificamente descrito
por hipoestrogenismo) é a génese da doença, reconhecida como uma doença deficitária
(Serão, 2008), e, por consequência, uma fase problemática ao nível físico e emocional
(Rostosky & Travis, 1996, citado por Serão, 2008).
Este modelo propõe intervenções centradas no médico, sendo o recurso à Terapia de
Substituição Hormonal (TSH) uma oferta preventiva e curativa para a maior parte das
mulheres climatéricas (Pimenta, Leal & Branco, 2007), devido à sua finalidade de
diminuir os sintomas imediatos do climatério e prevenir as doenças cardiovasculares e
ósseas (De Lorenzi, 2008). Por conseguinte, coloca de parte outro tipo de intervenções,
tais como psicológicas ou de aconselhamento (Reynolds, 1997, citado por Serão, 2008).
Existem críticas a este modelo, devido ao seu carácter reducionista, uma vez que
perspetiva a menopausa de uma forma negativa, rejeitando e ignorando a influência dos
fatores culturais e psicossociais, criando, assim, limites para a sua compreensão
(Huffman & Myers, 1999).
1.3.2. Modelo Sociocultural
Em contraste com o modelo supracitado, este modelo sociocultural define o
climatério como um processo natural com poucos ou nenhuns efeitos para a mulher
(Hunter, & O’Dea, 2001, citado por Serrão, 2008), colocando a ênfase do problema na
construção cultural, estando, por exemplo, associados a estereótipos e a atitudes
relativamente ao envelhecimento e à perda de papéis sociais (Hunter, & O’Dea, 2001
citado por Serrão, 2008).
Embora o climatério ocorra na meia-idade e não na terceira idade, as imagens
associadas a esta fase vital são confundidas com as da velhice, constituindo, portanto o
símbolo do início do envelhecimento feminino (Serrão, 2008). No entanto para Delanoe
(1997), esta associação relaciona-se mais como uma categoria de classificação social,
do que com a perda das capacidades físicas e cognitivas.
17
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Com base neste modelo, a literatura mostra que em culturas onde o envelhecimento
é valorizado, isto é, onde as mulheres mais velhas constituem modelos de sabedoria e
experiência (Dan & Bernhard, 1989, Lock, 1994, citados por Papalia et al., 2000), como
é o caso da India, o climatério é encarada como uma importante passagem, em que a
mulher adquire novos estatuto/papel e privilégio (Starck, 1993, citado por Serrão,
2008). Em antagonismo, na cultura Ocidental, a existência de uma supervalorização da
juventude leva a sociedade a encarar esta fase com receio, como um passo prévio para o
envelhecimento, traduzindo o início de um período de vida depressivo aliado à perda de
fertilidade (Benedek, 1950, citado por Chornesky, 1998).
Para Weber (1997, citado por Serrão, 2008), o que preocupa a mulher nesta fase não
é tanto os fatores sintomáticos, mas o facto das perdas contextualizadas numa cultura de
género, como a perda de fertilidade, pondo em causa a sua posição social feminina,
assumida durante os seus anos reprodutivos e que esta venha a ser afetada. Assim sendo,
o aumento de sofrimento psicológico durante o climatério está relacionado com o baixo
estatuto social que as mulheres idosas desempenham na sociedade (Serrão 2008).
Em suma, podemos referir que, nesta perspetiva, o climatério é encarado como um
período vital de mudança que, devido a condicionalismos sociais, estereótipos e mitos, é
visto pelo imaginário social como o episódio perpetuador para o envelhecimento.
1.3.3. Modelo psicossocial
Este modelo menciona uma abordagem do climatério centrada na vulnerabilidade,
na medida em que, o climatério é influenciado por fatores hormonais e por fatores
causadores de stress, nomeadamente: o ninho vazio, o divórcio, os lutos, conflitos ou
problemas de saúde, entre outros (Olazábal, 2003, citado por Catão, 2007).
Relativamente ao fator “síndrome do ninho vazio”, definido como a fase em que os
filhos deixam a casa, Hunter (1990), não se verificou dados que suportem que este fator
é gerador de stress para as mulheres que se encontram na meia-idade. Contrariamente,
os fatores como o divórcio, a separação e a viuvez produzem um impacto no climatério,
uma vez que estão associados à sintomatologia psicológica e somática (Hunter, 1993).
18
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Hunter (1990) concluiu que as mulheres separadas, divorciadas, ou viúvas parecem
estar em maior risco de sofrimento psicológico, o que pode predizer uma maior
probabilidade de estarem deprimidas nesta fase, comparativamente com as solteiras e as
casadas.
Este modelo tem em conta, também, as mudanças hormonais (o hipoestrogenismo),
todavia, alguns autores concluem que os fatores de stress aliados à vulnerabilidade
existente nesta fase são mais importantes para a eclosão de sintomas depressivos do que
o próprio hipoestrogenismo (Serrão,2008).
Por fim, este modelo também menciona o estatuto sociocultural como um fator que
parece predizer a sintomatologia menopausica. Assim, as mulheres de nível
sociocultural mais baixo têm mais sintomas climatéricos (Serrão, 2008).
1.3.4. Modelo Biopsicossocial
Este modelo surge como alternativa ao modelo biomédico, ao sócio-cultural e ao
psicossocial. Possui uma visão mais abrangente e holística relativamente aos fatores que
estão subjacentes ao climatério, tais como: fatores biológicos, psicológicos, familiares,
culturais e sociais (Huffman & Myers, 1999; Murray, 1998). Sugere que o impacto do
climatério na mulher é determinado à luz de múltiplos contextos: biológico, cultural e
psicossocial (Serrão, 2008). Focaliza o estudo do climatério nas representações
cognitivas da menopausa (Hunter, 1990), assim, as atitudes negativas prévias ao
climatério são preditores de sintomatologia vasomotora durante essa etapa (Avis &
McKinlay, 1991) e, por outro, as mulheres que consideram que no climatério se
experienciam problemas emocionais e físicos evidenciam, quando se encontram nesta
fase, humor depressivo.
Em suma, e tendo como base os modelos supracitados, as mulheres vivenciam esta
fase de forma diferente em função das atribuições em relação às alterações
manifestadas, das suas atitudes, espectativas e crenças relativamente aos sintomas que
advogam e consequentemente a influencia que esses mesmos sintomas têm na sua saúde
(Adekunle, Fawole & Okunlola, 2000). Ressalva-se, desta forma, que as atitudes das
19
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
mulheres são, em grande parte, influenciadas por dimensões socioculturais e
económicas, implicando que em diferentes culturas existam diferentes atitudes e
diversos sintomas relacionados com esta etapa desenvolvimental (Adekunle, Fawole &
Okunlola, 2000; Chornesky, 1998).
20
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capítulo
II
-
Sexualidade
e
Satisfação
Sexual
da
Mulher
no
Climatério/Menopausa
2.1. Sexualidade da Mulher no Climatério/Menopausa
Neste capítulo começamos por abordar a sexualidade na mulher de uma forma geral
para progressivamente encaminharmo-nos para o nosso tema central, que é a satisfação
sexual da mulher no climatério.
“A sexualidade é um aspeto central do ser humano, que acompanha toda a vida e
que envolve o sexo, a identidade, os papéis de género, a orientação sexual, o erotismo, o
prazer, a intimidade e a reprodução. A sexualidade é vivida e expressa em pensamentos,
fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e
relações. Se sexualidade pode incluir todas estas dimensões, nem sempre todas elas são
experienciadas ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação dos fatores
biológicos, psicológicos, sociais, económicos, políticos, culturais, éticos, legais,
históricos, religiosos e espirituais” (WHO, 2004, p. 3).
Tal como a definição salienta, a sexualidade vai para além do ato sexual
propriamente dito, engloba fatores biológicos, psicológicos e socioculturais (Neto,
2002; Valença, Filho & Germano, 2010). A sexualidade oferece às pessoas intimidade,
afeição, amor, admiração e cumplicidade. As mudanças nas funções sociais,
emocionais, psicológicas e físicas que a mulher enfrenta influenciam a função sexual
normal (Scott,2002; Gott & Hinchliff, 2003).
A literatura demonstra que o climatério evidencia um impacto significativo na vida
sexual da mulher e consequentemente do casal (Neto, 2002), consequência das
modificações que a mulher demonstra a nível fisiológico e psicológico (BacelarAntunes, 2005; Palacios, Tobar, & Menendez, 2002). As alterações anatómicas
focalizam-se na diminuição da lubrificação vaginal, a parede da vagina torna-se mais
fina, o que pode provocar irritação e dor na penetração sexual, redução do tamanho do
clítoris e maior flacidez dos grandes e pequenos lábios (Chaby, 1995).
21
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Relativamente aos fatores psicológicos que podem influenciar a sexualidade
feminina na menopausa são as modificações corporais (idealização de perder o corpo
jovem e medo do envelhecimento), a perda da fertilidade tal como as mudanças nas
dinâmicas e relacionamentos familiares, principalmente com o parceiro (Chaby, 1995).
Num estudo realizado por Mishra e Kuh (2006) com uma população de 1525
participantes britânicas, estes concluíram que em comparação com mulheres prémenopáusicas, as participantes em peri e pós-menopausa manifestavam um declínio na
vida sexual, consequência de sintomatologia psicológica (consumo de tabaco e vida
percecionada como stressante), bem como sintomas somáticos, suores frios e secura
vaginal.
Barentsen, Weijer, Gend, e Foekema (2001, citado por Vilarinho, 2010) num estudo
com 235 mulheres com idades 45 aos 65 anos, mencionam que existe uma tendência
para as mulheres da pré-menopausa apresentarem maior satisfação sexual que as
perimenopausa, e que as mulheres da pós-menopausa apresentam uma maior tendência
para ter menor satisfação sexual que as pré-menopausa e perimenopausa.
Podem existir, portanto, dificuldades das mulheres nesta fase quanto à vivência da
sexualidade, sendo estas demonstradas na forma de se expressarem quanto à
corporeidade, nos relacionamentos afetivos e também em alterações fisiológicas
(Oliveira, Jesus & Merighi, 2008).
A sexualidade é uma interação complexa de necessidades individuais (intimidade,
afeto, conexão, prazer e auto-imagem) com o contexto do meio ambiente e, segundo
Fernandes (2007), a mulher de meia-idade, e mais propriamente a que está a passar pela
fase do climatério, não deverá encarar esta etapa de vida como o fim da sua sexualidade,
ou a perda da necessidade de intimidade, toque e afeto.
De acordo com Ferreira (2008), a sexualidade não se caracteriza somente por fatores
psicossociais e culturais, mas também de relacionamentos interpessoais e experiências
de vida, sendo um fator determinante para a QDV do individuo.
22
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Para compreender a sexualidade no casal, é crucial ter em conta três aspetos
fundamentais, que são: o grau de satisfação individual que cada indivíduo retira da
relação, o grau de satisfação que o casal usufrui/retira das relações sexuais e, por último,
a avaliação do funcionamento sexual (López & Fuertes, 1999).
Portanto, no ponto que se segue será esmiuçado o conceito de satisfação sexual na
mulher no climatério, uma vez que, se considera parte integrante da sexualidade e na
qualidade de vida do ser humano, neste caso, na mulher.
2.2. Definição e Caracterização de Satisfação Sexual
No âmbito da sexualidade deparámo-nos que o fator psicológico mais estudado é a
satisfação sexual no âmbito das disfunções sexuais (Cardoso, 2003; Davis & PetreticJackson, 2000; Pechorro, 2006). Todavia, para Carvalheira e Leal (2008), O estudo da
satisfação sexual tem sido dificultado pela pobre conceptualização do constructo.
Também Pechorro, Dinis e Vieira (2009) afirmam que existe uma falta de consenso
relativamente à definição e à operacionalização do conceito, revelando-se nas diferentes
conceptualizações teóricas de satisfação sexual e nas diferentes metodologias de
avaliação.
Para Young, Luquis, Denny e Young (1998), existem vários componentes para a
satisfação sexual. Desta forma, a dificuldade em definir este conceito leva alguns
pesquisadores a definirem-no como ausência de insatisfação sexual (Renaud, Byers &
Pan, 1997).
A satisfação sexual é considerada por alguns estudiosos como o barómetro da
qualidade do casamento, sendo que o modo como os cônjuges se sentem na esfera
sexual do seu relacionamento está intimamente ligado à forma como sentem todo o
relacionamento (Henderson-King & Veroff, 1994).
Byrers e Demmons (1999) acrescentam que, quanto maior a satisfação com o
relacionamento, maior será a satisfação sexual. Segundo Young et al., (2000), a
investigação também divulga que a satisfação sexual se relaciona com a existência de
relações íntimas e com a qualidade dessas relações, sendo que, para a população
23
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
feminina, quanto maior o nível de proximidade emocional numa relação, maior a
satisfação com o relacionamento sexual.
Delamater (1991, citado por Pechorro et al., 2009) define satisfação sexual como o
grau em que a atividade sexual de uma pessoa corresponde aos seus ideais. Davidson,
Darling, e Norton (1995) acrescentam que o sentimento de satisfação com a vida sexual
encontra-se intrinsecamente relacionado com as experiências sexuais passadas do
indivíduo, expectativas atuais, e aspirações futuras.
A satisfação sexual podem ainda ser definida como uma resposta afetiva decorrente
da avaliação de cada um relativamente ao seu relacionamento sexual, incluindo a
perceção que cada um tem de que as suas necessidades sexuais estão a ser atendidas,
bem como as expectativas do parceiro, englobando uma avaliação positiva da relação
sexual na sua totalidade (Ashdown, Hackathorn, & Clark, 2011).
Pechorro et al. (2009), por outro lado identificaram com base na literatura por eles
revista duas dimensões: satisfação sexual geral (relativa à satisfação da mulher com os
tipos e frequência dos seus comportamentos sexuais) e satisfação com o seu
companheiro. Para estes autores, a satisfação engloba uma componente pessoal e uma
componente interpessoal, sendo que, em ambos os casos, dependeria dos desejos da
pessoa por determinados tipos e frequências de atividades sexuais, e tipos e
comportamentos de companheiros (Pechorro et al., 2009). No geral, a satisfação sexual
está estritamente relacionada com a satisfação conjugal (Pechorro et al., 2009).
Portanto, os homens e as mulheres que referem estar satisfeitos com os seus
relacionamentos conjugais também mencionam estar satisfeitos com os seus
relacionamentos sexuais (Delamater, 1991, citado por Pechorro et al., 2009). No
entanto, foram encontradas diferenças entre homens e mulheres referentes à insatisfação
sexual (Delamater, 1991, citado por Pechorro et al., 2009): as mulheres com insatisfação
sexual atribuem este facto à qualidade emocional das interações sexuais, como: terem
menos carinho, afeição e menos amor já os homens atribuem-na à quantidade da
atividade sexual, dado que os homens que se declaram insatisfeitos querem mais
frequência e variedade de atividades sexuais. Desta forma, a mulher evidencia maior
24
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
satisfação sexual através da intimidade com o companheiro (e.g. os aspetos emocionais
e interpessoais da atividade sexual), mesmo que tal não inclua o prazer orgásmico.
No mesmo seguimento, Waterman e Chiauzzi (1982) mencionam que o orgasmo
desempenha um papel mínimo na satisfação sexual da mulher. Já para Young, Denny,
Young e Luquis (2000) o orgasmo é um fator importante na satisfação sexual. Um
estudo de Nobre (2006) realizado em Portugal revelou que cerca de 14,7 % das
mulheres da população em geral refere ter dificuldade no orgasmo. No entanto, em
outro estudo verifica-se que os valores são significativamente superiores, por volta dos
31,6% (Vendeira et al., 2005 citado por Nobre, 2006). Laumann, Paik e Rosen (1999)
referem que existe uma tendência para a diminuição orgásmica com o aumento da
idade.
Catão (2008) concluiu na sua amostra (N=200) que são as mulheres que não fazem
medicação apresentam maiores indicadores de orgasmo, quando comparadas com
aquelas que utilizam medicação.
Numa investigação, efetuada por Hisasue, Kumamoto, Sato, Masumori, Horita,
Kato, Kobayashi, Hashimoto, Yamashita e Itoh (2005), com uma amostra de 5042
mulheres japonesas, com idades compreendidas entre 17 e os 88 anos, não encontraram
qualquer relação entre a satisfação sexual e a idade.
Hawton, Gath e Day (1994), numa amostra aleatória retirada da população geral
constituída por 436 mulheres dos 35 aos 59 anos, analisaram diversas variáveis de
funcionamento sexual, entre as quais a satisfação sexual. Os dados obtidos
demonstraram que 61% das mulheres estavam inteiramente satisfeitas, 19% estavam
moderadamente satisfeitas, 14% expressaram alguma insatisfação e 6% disseram estar
acentuadamente insatisfeitas. Foi encontrada uma forte correlação entre o bem-estar
marital e a satisfação sexual.
No estudo realizado por Deeks e McCabe (2001), utilizando uma amostra de 304
mulheres entre os 35 e os 65, investigaram os efeitos da idade, da menopausa e do
funcionamento sexual do companheiro no funcionamento sexual dessas mulheres. Os
25
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
resultados demonstraram que a satisfação sexual era melhor prevista pela idade e pela
menopausa Assim sendo, as mulheres mais novas tinham maior probabilidade de
estarem satisfeitas com o seu relacionamento sexual e tinham também uma maior
frequência de coito. As mulheres menopáusicas tinham mais probabilidade de sofrerem
de um problema sexual.
Num estudo realizado por Pechorro (2006), com uma amostra de 152 mulheres
portuguesas, concluiu-se que existe uma relação significativa entre a satisfação sexual e
o comportamento sexual, carícias e preliminares. Este estudo demonstra também que
quanto mais idade, mais insatisfeitas sexualmente as mulheres se sentem.
É importante referir que a avaliação do construto de satisfação sexual pode ser
operacionalizada por diferentes instrumentos, sendo encarado como um aspecto
importante da vida do indivíduo que deve ser considerado quando se avalia a QDV
(Bertan & Castro, 2010). Cabra, Canário, Spyrides, Uchôa, Júnior, Amaral e Gonçalves
(2012) mencionam que os sintomas climatérios influenciam a QDV das mulheres, sendo
a satisfação sexual um marcador indispensável do bem-estar feminino, ao afetar a
sexualidade, está comitantemente a comprometer a QDV das mulheres.
De acordo com a revisão da literatura, podem ser inúmeros os fatores subjacentes ao
conceito de satisfação sexual. Assim, é importante identificar quais os fatores que se
relacionam com a satisfação sexual, a fim de entender melhor como ajudar os
indivíduos a construir e manter relações íntimas de sucesso (Ashdown, Hackathorn, &
Clark, 2011).
2.3. Fatores Associados à Satisfação Sexual
Ao longo do ciclo de vida, as mulheres apresentam mudanças nas respostas sexuais,
havendo alguns estudos que mostram que a satisfação sexual e a frequências da
atividade podem diminuir com a transição menopausica (Avis, Stellato, Crawford,
Johannes, & Longcope, 2000; Dennerstein, Dudley, & Burger, 2001).
De seguida apresentaremos aspetos ou fatores que determinam a satisfação sexual
das mulheres.
26
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Os aspetos não sexuais dos relacionamentos influenciam as experiências sexuais,
nomeadamente em termos de experiências sexuais satisfatórias ou não. Assim, a
presença de conflitos não resolvidos, a distância emocional experienciada pelos
parceiros ou o facto da pessoa não se sentir amada pode afetar a satisfação sexual
(Christopher & Sprecher, 2000; Davidson & Darling,1988; Schenk, Pfrang, & Rausch,
1983). A maioria dos estudos tem revelado que a satisfação sexual está estreitamente
interligada com a satisfação marital (Donnelly, 1993; Morokoff & Gillilland, 1993).
Num estudo realizado com 1148 mulheres portuguesas, com o objetivo de
compreender os fatores determinantes da satisfação sexual feminina, chegaram a
conclusão que os principais fatores determinantes da satisfação sexual nesta amostra de
mulheres eram fatores interpessoais, sendo que nesse estudo intitularam de fatores
interpessoais, “sentirem-se desejadas”, “receber atenção do parceiro”, “ser capaz de
satisfazer o parceiro” e “sentir que o parceiro gosta do seu corpo” (Carvalheira & Leal,
2008, p. 6). Ou seja, são os fatores que dizem diretamente respeito ao parceiro. Tal facto
mostra como a sexualidade feminina é muito contextualizada na relação interpessoal.
Com menor grau de importância, as mulheres atribuem os fatores de funcionamento
físico-sexual: “sentir prazer físico”, “sentir excitação física”, “ter vontade de ter sexo”,
“sentir a lubrificação” (Carvalheira & Leal, 2008, p. 6). Estes aspetos são mais
individuais e relacionados com o próprio prazer e a função sexual das mulheres,
contudo, não são os mais valorizados por elas. (Carvalheira & Leal, 2008). Assim
sendo, as mulheres valorizam mais o contexto relacional e os fatores interpessoais do
que os fatores de funcionamento físico-sexual (Carvalheira & Leal, 2008).
De modo geral, as mulheres que referem estar satisfeitas com os seus
relacionamentos mencionam também estarem satisfeitos com os seus relacionamentos
sexuais (Carvalheira & Leal, 2008). Alguns estudos demonstram que o que é
considerado importante para uma vida sexual satisfatória difere consoante o género,
sendo que, para as mulheres, os aspetos emocionais dos relacionamentos sexuais
parecem ser um dos aspetos centrais, ao passo que, para os homens, a primazia vai para
a frequência sexual (Carvalheira & Leal, 2008). Por outro lado, num estudo conduzido
por Haavio-Manilla e Kontula (1997), com o objetivo de encontrarem preditores da
27
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
satisfação sexual numa amostra de 1992 mulheres e homens finlandeses dos 18 aos 74
anos, obtiveram-se resultados que demonstraram que, nas mulheres, a satisfação sexual
se correlacionava direta e positivamente com a idade jovem e com o início precoce da
vida sexual, e indiretamente com a educação liberal e não religiosa, escolaridade de
nível superior, assertividade sexual, sentimentos recíprocos de amor, atribuição de
importância à sexualidade, utilização de materiais sexuais, coito frequente, técnicas
sexuais versáteis e obtenção frequente do orgasmo. Os autores provaram ainda que a
satisfaçam sexual global estava relacionada, em níveis idênticos, quer com a satisfação
sexual física, quer com a emocional.
Todavia, existem diversos fatores que podem afetar a satisfação sexual feminina,
como: o estado de saúde, o bem-estar em geral, a frequência da atividade sexual, a
experiência sexual subjetiva, ou fatores ligados ao parceiro e ao relacionamento
(Pechorro et al., 2009; Vilarinho, 2010). Outros fatores que podem ser determinantes de
satisfação sexual são, a idade, as habilitações literárias, variáveis sociodemográficas e a
religião. (Bancroft, Loftus, & Long, 2003; Farmer, Trapnell, & Meston 2009; Rosen,
Taylor, Leiblum, & Bachmann 1993; Laumann, Paik, & Rosen, 1999; Hawton, Gath, &
Day, 1994).
Relativamente à idade, Haavio-Mannila e Kontula (1997) mencionam que as
mulheres inquiridas no seu estudo demonstraram que era por volta dos 30 anos que a
mulher considerava a sua atividade sexual como “muito agradável”, havendo um
declínio progressivo até aos 60 anos. Na mesma linha, noutra investigação, levada a
cabo por Fugl-Meyer e Sjögren Fugl-Meyer (2002) com mulheres dos 18 aos 74 anos,
concluíram que a satisfação sexual tendia a diminuir com a idade.
Para Laumann Paik e Rosen (1999), o nível educacional é uma variável que está
intimamente ligada a problemas sexuais e à satisfação sexual, sendo que as mulheres
menos instruídas, em comparação com mulheres com mais estudos, apresentam maior
frequência de problemas de desejo sexual, satisfação sexual e orgasmo (Barrientos, &
Páez, 2006). No mesmo seguimento, Vilarinho (2010), numa amostra de 497 mulheres
observou que quanto maior o nível de escolaridade, mais elevados os valores de
satisfação sexual. As mulheres mais instruídas, poderão usufruir de mais informação
28
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
relativamente à sua resposta sexual, poderão possuir mais recursos, quer em termos de
Internet, quer de bibliografia, na medida em que apresentam dificuldades ou
simplesmente procuram incrementar a qualidade e riqueza das suas experiências sexuais
(Laumann et al., 1999; Rosen et al., 1993).
Num estudo que envolveu uma amostra de 5.407 indivíduos com idades
compreendidas entre os 18 e 69 anos, no Chile, concluíram que existe uma associação
entre a satisfação sexual e o estado marital nas mulheres mas não nos homens: as
mulheres separadas foram as que referiram níveis mais elevados de insatisfação sexual,
enquanto as mulheres casadas ou em coabitação descreveram as suas experiências
sexuais como sendo mais satisfatórias (Barrientos & Páez, 2006).
A satisfação sexual tem mostrado estar positivamente associadas com outros
indicadores da qualidade da relação, incluindo o amor (Aron & Henkemeyer, 1995) e o
compromisso ou até mesmo a probabilidade da relação ser durável (Pinney, Gerrard, &
Denney, 1987).
Segundo Ashdown et al. (2011), níveis mais elevados de satisfação sexual estão
relacionados com maior qualidade e estabilidade do relacionamento.
Contrariamente ao que foi mencionado anteriormente, num estudo levado a cabo por
Vilarinho (2010), numa amostra de 497 mulheres, verificou-se as mulheres solteiras
apresentam níveis significativamente superiores de satisfação sexual comparadas com
as mulheres casadas ou em união de facto.
Young et al. (1998) acrescenta que a sociedade continua a ser dominada pela visão
religiosa que a satisfação sexual e os desejos sexuais devem ser reprimidos, uma vez
que, historicamente, muitas religiões ensinavam que o sexo é para fins de procriação
apenas e fortemente desaprovado de quaisquer comportamentos que fossem realizados
com a finalidade única de prazer (Ashdown et al., 2011). Esta rigidez religiosa
influencia a satisfação sexual do casal, uma vez que o casal vai atribuir a certos
comportamentos sexuais sentimentos de culpa, vergonha, ou mesmo pecado (Ashdown
et al., 2011). Diversos estudos apontam para uma relação existente entre a religião e a
29
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
satisfação sexual, ao nível físico, mas não psicológico, sendo que as mulheres que
diziam não frequentar cultos religiosos há um ano manifestavam maior grau de
satisfação sexual a nível físico do que as mulheres que frequentavam a Igreja; o mesmo
não foi possível constatar face a satisfação sexual, do ponto de vista psicológico, pois
não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as mulheres que
iriam a igreja frequentemente e aquelas que não frequentavam com tanta frequência
(Young et al., 1998).
Um estudo, levado a cabo por Ahmadi, Azad-Marzabadi e Ashrafi (2008), com 660
casais heterossexuais, evidenciou mesmo uma correlação positiva significativa entre o
grau de fundamentalismo religioso e os problemas de satisfação sexual, sendo que
quanto maior o grau de fundamentalismo religioso, maior o nível de insatisfação sexual.
Também a medicação, a perceção acerca do estado de saúde e o estatuto
menopáusico, têm mostrado poder influenciar a satisfação sexual das mulheres
(Allahdadi, Tostes, & Webb 2009; Michelson, Bancroft, Targum, Kim, & Tepner, 2000;
Redelman, 2010).
Vários estudos têm demonstrado uma relação entre a medicação e problemas
sexuais, nomeadamente a medicação anti-hipertensora (Duncan, Lewis, Smith, Jenkins,
Nichols & Pearson 2001; Grimm, Gandits, & Prineas, 1997), os antiepilépticos (Boro &
Haut, 2003) e os diuréticos (Chang, Fine, Siegel, Chesney, Black, & Hulley, 1991).
Também os antidepressivos são apontados por vários estudos como tendo um efeito
bastante negativo na resposta sexual e satisfação sexual (Michelson, & Bancroft, 2000;
Montgomery, Baldwin, & Riley, 2002).
Contrariamente, no estudo de Richters Grulich, Visser, Smith, & Rissel (2003,
citado por Vilarinho, 2010), não foi encontrada qualquer relação relativamente a
dificuldades sexuais nas mulheres e a toma de medicação para a hipertensão ou para a
doença cardiovascular ou ainda o diagnóstico de diabetes ou hiperglicemia.
Alguns estudos têm demonstrado que a apreciação que as mulheres fazem acerca de
si próprias, do seu corpo e da sua vida em geral (Andersen & Cyranowski, 1998), como
30
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
também da autoestima sexual, ou seja, a imagem que a mulher tem de si enquanto ser
sexual, parecem estar intimamente ligadas à satisfação sexual (Hurlbert, Fertel, Singh,
Fernandez, Menendez, & Salgado 2005; Oattes & Offman, 2007).
Outros estudos têm demonstrado que, com o climatério, é frequente surgirem
queixas de experiências sexuais menos satisfatórias, acompanhadas de relatos de
diminuição do desejo sexual, secura vaginal e dispareunia (Nappi & Lachowsky, 2009).
Dundon e Rellini (2010) verificaram que os sintomas climatéricos, simultaneamente
com o bem-estar psicológico, constituíam importantes preditores da satisfação sexual
nas mulheres dos 40 aos 70 anos. Em contraposição existem estudos que mostram que a
satisfação sexual pode manter-se elevada durante esta fase (Vilarinho, 2010). Assim,
Woloski-Wruble et al. (2010) verificaram numa amostra por conveniência (N=127),
recrutadas numa clínica de apoio e acompanhamento de mulheres na menopausa,
tinham níveis de satisfação sexual superiores à média, comitantemente, uma boa
comunicação sexual/íntima com o parceiro, sendo que a principal queixa de menor
satisfação reportava para a falta de variedade na sua vida sexual. Verificaram ainda que
as mulheres tinham um alto nível de satisfação com a vida (Woloski-Wruble et al.,
2010).
Em síntese, há importantes e diferentes fatores relativos à satisfação sexual que são
referenciados em diversos estudos, no entanto apenas uma ínfima parte desses estudos
procura integrar e considerar simultaneamente as diferentes dimensões biopsicossociais
na compreensão da satisfação sexual (Bancroft et al., 2003; Basson, Althof, Davis,
Fugl-Meyer, Goldstein, Leiblum, et al., 2004; Wiederman, 1998; Vilarinho, 2010).
Assim, é importante termos em atenção que, para que as mulheres se sintam satisfeitas
sexualmente, contribuem inúmeros fatores, para além dos fatores sexuais, uma vez que,
segundo alguns estudos, estes são classificados pelas mulheres como menos relevantes
para a sua satisfação sexual.
Sendo este um conceito tão multifacetado e multidimensional, a satisfação sexual
deverá ser entendida, quer pelo seu funcionamento sexual, do ponto de vista fisiológico,
quer pela qualidade do relacionamento afetivo, tendo em consideração todos os fatores
não sexuais referidos anteriormente (e.g, confiança, intimidade, comunicação), não
31
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
esquecendo fatores de ordem socioeconómica, demográfica e cultural (Carvalheira &
Leal, 2008).
32
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capítulo III - A Qualidade de Vida da Mulher no Climatério/ Menopausa
3.1. Definição e Caracterização de Qualidade de Vida
Segundo Fiedler (2008) é difícil determinar com exatidão o surgimento do construto
de QDV, referindo que é um “constructo moderno e uma preocupação antiga, pois a
ideia de se viver com qualidade já estava presente na antiguidade: Aristóteles em 384
a.C. e 322 a.C. referia-se à associação entre felicidade e bem-estar, Hipócrates, em 460
a.C. e 370 a.C. e Galeno, em 132 d.C. e 200 d.C. afirmavam que o equilíbrio sustenta
um corpo saudável (p.2) ”.
É na década de 60 do séc. XX que o conceito de QDV começa a inspirar interesse na
comunidade científica (Meneses, 2005). O grande impulsionador do conceito foi o
presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, que, no seu discurso, referiu “os
objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser
medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas” (Abrams, 1974, p.
4). Assim, uma crescente procura para definir este conceito começou a surgir e com ela
emergiram inúmeras definições, tendo por base as interpretações de cada indivíduo,
influenciadas pelos seus contextos, pelos aspetos que percebe, ou até mesmo pelos quais
está a ser influenciado (Ribeiro, 1994).
Foi na década de 80 do séc. XX que se considerou que o conceito de QDV envolvia
diferentes perspetivas, entre elas a cultura, a economia e a biologia, isto é, era um
conceito multidimensional (Costa, 2010). Na década de 90 para além de referir a sua
multidimensionalidade, também concluíram que era subjetiva, uma vez que, cada
individuo avalia a sua QDV de forma pessoal, nas diferentes dimensões física,
psicológica, social, sexual, da sua independência e crenças pessoais (Pais Ribeiro, 2002,
2004).
Assim, ao longo dos tempos e até mesmo na atualidade, o conceito de QDV abrange
inúmeras definições conceptualmente diferentes, o que contribui para um dos principais
obstáculos à sua discussão científica (Pais-Ribeiro, 2009; Parreira, 2006). Como afirma
McGuire (1991, citado por Pais-Ribeiro, 2009, p. 13), "todos têm a sua própria ideia do
33
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
que é a QDV, e é nisso que reside o problema". Ou seja, “todos e cada um sabem o que
é a QDV” (Ribeiro, 2005, p. 94), daí a dificuldade em discutir cientificamente este
obstáculo. Surgem, desta forma, dificuldades em definir a QDV que originam formas
diversas de operacionalizá-la (Ogden, 2004).
Algumas das definições baseiam-se na satisfação com as diversas áreas da vida do
indivíduo, outras na sensação de bem-estar, e outras vão mais além e referem a
dicotomia entre o que o individuo deseja ou espera e o que na realidade tem, outras
ainda na funcionalidade (Pais-Ribeiro, 2009). Para uma melhor compreensão do
conceito, passaremos a descrever algumas das definições propostas por diversos autores.
Cramer (1994, citado por Meneses, 2005) define que a QDV é sinónimo de bemestar físico, social e mental, excluindo a ideia de apenas ausência de doença,
sobrepondo-se à clássica definição de saúde da OMS, a qual defende que a QDV definese como “a perceção de um individuo da sua posição na vida no contexto da cultura e
sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações. É um conceito amplo, afetado de um modo complexo pela saúde física da
pessoa, estado psicológico, nível de independência, relações sociais e relação com
aspetos salientes do seu meio” (Orley, 1994, citado por Meneses, 2005, p.99 e por Seidl
& Zannon, 2004, p. 582).
Existem três aspetos fundamentais para este conceito: a subjetividade (relacionada
com a perspetiva do individuo, considerada idiossincrática ao indivíduo) “a realidade
objetiva só conta na medida em que é percebida pelo individuo” (Fleck, 2008, p. 25); a
multidimensionalidade (refere-se às varias dimensões da QDV: física, psicológica,
social, etc.); e a bipolaridade (que aponta para a presença de aspetos positivos e
negativos) (Kluthcovsky & Takayanagui, 2007) e, é necessário que alguns “elementos
estejam presentes (ex., mobilidade) e outras ausentes (ex. dor) ” (Fleck, Leal, Louzada,
Xavier, Chachamovich, Vieira, Santos & Pinzon, 1999 p. 26).
Frisch (1994, citado por Fagulha, Duarte & Miranda, 2000) define QDV como a
satisfação que é atingida pelo individuo nas áreas que enaltece, corresponde a um juízo
que o indivíduo faz do seu contentamento perante a vida.
34
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Calman (1984) descreve a QDV como sendo a diferença entre as expectativas
pessoais e o que está a acontecer realmente na vida pessoal.
The World Health Organization Quality of Life Assessment1 (WHOQOL, citado por
Meneses, 2005) desenvolveu a natureza hierárquica da abordagem da QDV, consistindo
num nível superior, onde existe a avaliação global da QDV, de seguida, apresenta
quatro domínios: a saúde física, o domínio psicológico, as relações sociais e o meio;
cada domínio divide-se em “facetas” “(e.g. físico – dor, energia, sono; psicológico –
pensamento, estima, imagem corporal, sentimentos negativos e espiritualidade; relações
sociais – relações pessoais, apoio social e atividade sexual; meio – segurança, lar,
finanças, serviços, informação, lazer, meio e transporte)”(p. 41-42); o último nível
corresponde aos itens de cada faceta.
Analogamente, Fallowfield (1994, citado por Meneses, 2005) inclui na sua definição
também quatro domínios: psicológico, social, ocupacional e físico, que devem ser
avaliados por qualquer medida de QDV. Cada domínio está dividido por itens, o
domínio psicológico- ansiedade, depressão e ajustamento à doença; social- interesse
sexual, relações pessoais, atividades sociais e lazer; ocupacional- capacidade de lidar
com as tarefas domésticas e capacidade de desempenhar um trabalho renumerado;
físico- sono, apetite, mobilidade funcionamento sexual e dor (Fallowfield, 1994, citado
por Meneses, 2005).
No mesmo seguimento, Leidy, Revicki e Genesté (1999) definem a QDV como a
perceção subjetiva de satisfação ou felicidade com a vida em domínios que são
importantes para o indivíduo.
Para Minayo, Hartz e Buss (2000), a QDV aproxima-se ao grau de satisfação
encontrada na vida familiar, amorosa, ambiental e social e até mesmo à própria estética.
1
O Grupo da Qualidade de Vida (Grupo WHOQOL) faz parte da OMS e foi criado na década de 90
do sec. XX com o objetivo de fazer crescer o conhecimento na área da QDV e criar instrumentos para a
sua avaliação.
35
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
“Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que
determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar” (p.8)
Fontaine e Barofsky (2001) salientam que a QDV é aceite como um construto
multidimensional, englobando sentimentos, emocionais, sociais, físicos e subjetivos de
bem-estar, que demonstram uma reação e avaliação subjetiva do indivíduo à saúde ou
doença.
Segundo Couvreur (1999), para alguns autores a QDV é retratada como um bemestar subjetivo, relativamente à forma como cada um se sente fisicamente e
psicologicamente na interação com o meio.
No entanto, este é um conceito de difícil definição, pois inclui uma variedade
potencial de condições que o afetam: a perceção do indivíduo, os seus sentimentos e
comportamentos relacionados com o seu funcionamento diário, incluindo a sua
condição de saúde e intervenções médicas, assim sendo, a investigação foca-se cada vez
mais em aspetos específicos da QDV, outrora negligenciados, como a sexualidade
(Huguet, Morais, Osis, Pinto-Neto & Gurgel, 2009).
Para concluir, após a apresentação de várias definições do construto de QDV,
denota-se que é sob os mais diferentes olhares, seja da ciência, de várias disciplinas,
seja do senso comum, ou até mesmo de abordagens individuais ou coletivas que o tema
é debatido (Minayo, Hartz & Buss 2000). No entanto, apesar da dificuldade para definir
o construto de QDV e dos diferentes instrumentos com que pode ser operacionalizada,
podemos referir que é um construto multidisciplinar, sendo necessário a contribuição de
diferentes áreas do conhecimento para o aperfeiçoamento metodológico e conceitual
(Seidl & Zannon, 2004). Para outros autores (Meneses, Ribeiro & Silva, 2002; PaisRibeiro, 2009), QDV é um conceito multifactorial e subjetivo, o que parece estar de
acordo com a maior parte das definições; sabemos também, que este construto varia
com o tempo e consiste na perceção individual. Pedro (2010) menciona também que o
construto é difícil de ser definido, no entanto, os conceitos de bem-estar, satisfação e
expectativas no futuro parecem ser transversais às várias definições. Nos últimos anos
36
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
verificou-se uma evolução no conceito duma perspetiva centrada na ausência de
sintomas de doença para uma perspetiva mais individualista de bem-estar (Pedro, 2010).
3.3. Modelos de Qualidade de Vida
De modo geral, não existem muitos modelos integradores da investigação no âmbito
da QDV, contudo é possível identificar determinados modelos teóricos subjacentes ao
conceito de QDV (Meneses, 2005). Os modelos que serão representados neste ponto
devem ser vistos a título de exemplos.
Hunt (1997, citado por Fleck, 2008) refere os seguintes modelos: “resposta
emocional às circunstâncias; impacto da doença nos domínios emocional, ocupacional e
familiar; bem-estar pessoal; habilidade para satisfazer as necessidades que a pessoa tem;
modelo cognitivo individual” (Fleck, 2008, p. 23). Hunt (1997, citado por Fleck, 2008)
considera que apenas os modelos de satisfação das necessidades e o cognitivo
individual apresentam uma base racional e empírica para que se possam assumir como
instrumentos consistentes.
Fleck (2008) defende que a QDV pode ser agrupada em dois modelos diferentes,
assim pode falar-se do modelo da satisfação e do modelo funcionalista. O primeiro
modelo prende-se com a relação direta entre a QDV e a satisfação com os vários
domínios da vida definidos como importantes pelo próprio indivíduo (Fleck, 2008).
Segundo este autor, uma vez que o sentido de satisfação é uma experiência subjetiva e
tendo em consideração que este modelo foi desenvolvido a partir de conceitos como
“bem-estar” e “felicidade”, é possível fazer uma associação entre estes aspetos e o nível
de expectativa do indivíduo, ou seja, diferentes indivíduos apresentam diferentes níveis
de satisfação, consoante as suas expectativas (Fleck, 2008).
Na literatura observamos duas contribuições importantes para o modelo teórico de
satisfação, referem-se aos aspetos pelos quais o individuo deveria estar satisfeito para
ter uma boa QDV (Fleck, 2008). Thomas More (1994, citado por Fleck, 2008) e
Maslow (1954, citado por Fleck, 2008) são os primeiros autores que contribuem para
este modelo. Estes autores referem que o ser humano para se sentir bem é necessário
preencher em primeiro lugar as suas necessidades básicas. Essas necessidades incluem
37
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
por exemplo: saúde, nutrição, mobilidade, abrigo, funcionamento sexual, entre outros
(Fleck, 2008). Assim sendo, a QDV provem da habilidade e da capacidade dos
indivíduos de satisfazerem as suas necessidades, tanto as que são inerentes quanto às
que são aprendidas, e verifica-se uma QDV alta quando o individuo satisfaz as suas
necessidades (Fleck, 2008).
A segunda contribuição, designada por abordagem cognitiva individual, considera
que a QDV é uma perceção idiossincrática e que, portanto, só pode ser medida
individualmente (Fleck, 2008).
O modelo funcionalista defende que para o indivíduo apresentar uma boa QDV é
necessário que este desempenhe satisfatoriamente o seu papel social e funções (Fleck,
2008). Assim, para este modelo a doença é um problema que interfere na execução de
todos os papéis que o indivíduo desempenha na sociedade (Mckenna, Whalley, 1998,
citado por Fleck, 2008). Este modelo tem sofrido críticas: Albercht e Devlieger (1999,
citado por Fleck, 2008) chamam a atenção para o “paradoxo da deficiência”- um
indivíduo com deficiências graves e persistentes pode mencionar boa ou até mesmo uma
excelente QDV, mesmo quando a maioria dos observadores qualificaria a sua existência
como indesejável. Nesta situação, a perceção de uma boa QDV adviria do facto de esse
indivíduo estar a conviver de forma satisfatória com as limitações da sua deficiência
(Fleck, 2008). Aqui entende-se, portanto, que o modo como se encara a doença e se lida
com essas condições interfere bastante com as perceções de QDV (Fleck, 2008).
Depois da revisão da literatura relativamente ao construto de QDV e aos seus
modelos subjacentes, é possível afirmar que este se insere na perspetiva do ser humano
como “um sistema vivo e ativo que se auto-organiza por diferenciação e integração de
múltiplas facetas e se auto-regula nas variadas respostas com que se relaciona nos
ambientes onde se afirma” (Parreira, 2006, p. 43). Como mencionam Pereira e Silva
(2001), a QDV é um paradigma que nos tempos de hoje é uma condição que se alcança
através da mobilização de diferentes dimensões, que se compensam e harmonizam entre
si através da própria interpretação da vida.
38
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
3.4. Qualidade de Vida no Climatério/Menopausa
Falar do climatério é mencionar um processo de mudanças emocionais e físicas para
a mulher, que é influenciado por múltiplos fatores, a sua história de vida pessoal e
familiar, a sua cultura e o ambiente em que está inserida, os costumes, o seu psiquismo
entre outros (Freitas, Silva, & Silva, 2004). Desta forma, cada mulher vivencia esta fase
de forma diferente, sendo que o climatério vai repercutir-se nos sentimentos e na sua
QDV de maneira diferente (Freitas, Silva, & Silva, 2004).
De acordo com Filho e Costa (2008), falar dos sintomas climatéricos relacionados
com a QDV ainda é um assunto complexo e controverso, assim sendo, essa relação tem
sido alvo de frequentes pesquisas, uma vez que os seus resultados podem colaborar para
definir condutas terapêuticas, bem com avaliar a relação custo/beneficio do cuidado
prestado.
Na sequência das frequentes pesquisas supre referidas, De Lorenzi, Danelon,
Saciloto, e Padilha (2005) e De Lorenzi et al., (2005) explicam que os fatores mais
relevantes associados à QDV da mulher no climatérico passam pelas condições físicas e
emocionais, a inserção social, a influência das atitudes, experiências frente a eventos
vitais e a perceção que a mulher tem relativamente ao climatério na QDV. Os mesmos
autores referem ainda que as mulheres com uma perceção mais negativa relativamente à
menopausa tendem a manifestar uma pior QDV, por conseguinte, sintomas climatéricos
mais severos.
Nesta etapa, a mulher manifesta vários sinais e sintomas característicos que
comprometem a sua QDV, tais como: distúrbio do humor, distúrbios de sono, alterações
vasomotoras, atrofia geniturinária, osteoporose, entre outros (Moraes, Vandenberghe &
Silveira, 2007; Bacelar-Antunes, 2005).
Algumas mulheres após a menopausa chegam mesmo a ser “atingidas” por
coronariopatia, que interfere na sua QDV, limitando o desempenho das atividades da
vida diária, capacidades físicas e intensifica as dificuldades emocionais comuns nesta
fase (Favarato & Aldrighi, 2001).
39
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Desta forma, é necessário que a mulher conquiste a sua QDV nesta nova fase, uma
vez que, é indispensável estar bem com o seu “self” e com a vida, isto é, saber gerir as
realizações e frustrações, enfrentar as dificuldades e manter-se emocionalmente
equilibrada (Freitas, Silva, & Silva, 2004). É essencial dar importância a um estilo de
vida saudável, à sua condição de saúde e bem-estar, para promover um equilíbrio
emocional e garantir a QDV (Freitas, Silva, & Silva, 2004).
Cerca 60% a 80% das mulheres referem sintomas somáticos e dificuldades
emocionais nos anos que seguem a menopausa, com destaque para ondas de calor,
devido às suas implicações negativas para a sua QDV (De Lorenzi et al., 2005).
A literatura existente menciona que existem alterações na perceção de QDV e de
bem-estar durante o período de peri e pós-menopausa na mulher (Deeks, 2004).
Contudo Short (2003, citado por, Pimenta, Leal & Branco, 2007) refere que não
devemos atribuir erradamente ao estado do climatério a responsabilidade exclusiva da
diminuição da QDV, na medida que no período da peri e pós-menopausa a mulher
encara vários desafios e dificuldade que de certa forma, poderão ter um impacto
negativo nesta perceção.
Nos estudos consultados podemos verificar uma certa discrepância mas ao mesmo
tempo algumas similaridades relativamente aos resultados obtidos.
Numa amostra de 3.062 mulheres com idades compreendidas entre os 40 e 70 anos,
verificou-se que eram as mulheres na pós-menopausa que apresentaram valores
inferiores de QDV, nos domínios Físico, Psicológico, Relações Sociais e Ambiental
relativamente às mulheres na pré e perimenopausa (Nisar & Sohoo, 2010). Segundo
Nisar e Sohoo (2010), estes resultados podem não só estar relacionados com os
sintomas menopáusicos desta fase, mas também com o envelhecimento, com a
frequência cada vez maior de doenças crónicas, como também o isolamento social,
todos estes fatores poderão ter um impacto negativo na QDV na mulher no climatério.
40
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Relativamente a um estudo de 506 mulheres com idades compreendidas entre 40 e
60 anos, os autores verificaram que as mulheres na peri e pós-menopausa mostraram
pior QDV em relação às pré-menopausicas (De lorenzi et al. 2009).
Num estudo com 26000 mulheres que se encontravam na menopausa, divididas em
dois grupos, um grupo de pacientes histectomatizadas e um grupo com pacientes não
histerectomizadas, relativamente à QDV (incluindo itens como vitalidade, saúde mental,
satisfação sexual, sintomas depressivos entre outros), verificou-se que não havia
melhoras significativas relativamente à QDV a quando comparados os dois grupo,
contudo houve poucas melhoras ao nível dos distúrbios do sono e de dores do corpo
(Hays et al., 2003; Moraes, Vandenberghe & Silveira, 2007).
Num estudo de De Lorenzi et al. (2005), com 254 mulheres pós-menopáusicas com
idade entre 45 e 60 anos, no qual pretendiam identificar fatores indicadores da
sintomatologia climatérica, verificaram que mulheres com uma perceção negativa do
período da menopausa tendiam a demonstrar uma pior QDV, bem como sintomas mais
severos, relativamente às mulheres que possuíam uma perceção mais positiva.
Brito e Makiama (2008) realizaram um estudo em que avaliaram a QDV sexual de
mulheres dos 40 aos 60 anos, concluindo que a reposição hormonal pode não estar
diretamente relacionada com a QDV sexual da mulher neste período, uma vez que a
qualidade sexual não depende somente da produção de hormonas sexuais, mas também
é influenciada por aspetos psicossociais, afetividade e satisfação conjugal.
De Lorenzi, Catan, Moreira e Ártico (2009) vão mais longe e referem que o que
pode influenciar a mulher neste período é a falta de conhecimento relativamente às
mudanças biopsicossociais que esta fase acarreta; assim, é necessário abordar a mulher
como um todo e proporcionar orientações para uma melhor QDV.
No estudo de Filho e Costa (2008), com o objetivo de avaliar a QDV de mulheres no
climatério numa amostra de 233 mulheres, concluiu-se que as mulheres deste estudo
consideravam a sua QDV má.
41
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Brito, Tavares, Macedo, e Gonçalves (2010), num estudo que envolvem 100
mulheres, com o objetivo de avaliar a QDV das mulheres climatéricas, concluíram que
das 100 mulheres inquiridas 11% considerava ter uma boa QDV, 61% razoável e 28 %
péssima.
Contrariamente ao que foi referido anteriormente, Moilanen, Aalto, Raitanen,
Hemminki, Aro e Luoto (2012), numa amostra de 1.165 de mulheres com idades entre
45 e 64 anos, concluíram que a melhoria da QDV esta relacionada com a atividade
física, peso estável e níveis de escolaridade mais elevados, mas não com as mudanças
das diferentes fases do climatério.
No mesmo seguimento, Lorenzi, Catan, Cusin, Felini, Bassani e Arpini (2009), com
uma amostra de 236 mulheres com idades entre os 40 e 65 anos, pretenderam
caracterizar a QDV de mulheres climatéricas e chegaram à conclusão que a QDV não é
influenciada pelo estado menopausal, colocaram a ênfase de a QDV e a sintomatologia
clínica serem influenciados pela perceção e sentimentos que a mulher enfrenta
relativamente à menopausa e ao processo de envelhecimento.
Outros estudos realizados com uma amostra de 233 e 370 mulheres com idades
compreendidas entre os 40 a 65 anos revelam que a prática de exercício físico contribui
para uma melhoria significativa na QDV nas mulheres climatéricas, atuando também na
melhoria da auto-estima, reduz a ansiedade e depressão, uma vez que a prática de
exercício físico induz a libertação de endorfinas que aumentam a sensação de bem-estar
(Filho & Costa, 2008; Gonçalves et al. 2011).
Num estudo que envolveu 481 mulheres com o objetivo de avaliar o impacto da
menopausa e algumas variáveis sociodemográficas na QDV concluiu-se que a
menopausa provoca uma diminuição da QDV, que é independente da idade e outras
variáveis sociodemográficas (Blumel, Castelo-Branco, Binfa, Gramegna, Tacla,
Aracena, Cumsille & Sanjuan, 2000).
Perante o que foi mencionado, verificou-se que as mulheres vivenciam o climatério
como um processo que direta ou indiretamente afeta o seu bem-estar biopsicossocial e
42
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
espontaneamente a sua QDV, assim sendo, esta fase, não deve ser encarada apenas
como um conjunto de sintomas (Filho & Costa, 2008; Brito et al, 2010; De Lorenzi et
al, 2009; Gonçalves et al. 2011).
A QDV das mulheres que passam pelo período do climatério pode ficar
comprometida, quer relativamente aos sintomas decorrentes das alterações hormonais,
com também pelas variáveis socioculturais relativas a esta fase (Neto, 2002).
Desta forma, é importante refletir sobre esta temática de QDV no climatérico, para
que a mulher nesta fase tenha conhecimento e informação para que o impacto na QDV
seja menor (Neto, 2002).
3.5. Qualidade de vida e Satisfação Sexual2
A satisfação sexual é um aspeto importante da vida do indivíduo que deve ser
considerada quando se avalia a QDV (Bertan & Castro, 2010).
Cabra, Canário, Spyrides, Uchôa, Júnior, Amaral e Gonçalves (2012) mencionam,
por exemplo, que os sintomas climatérios influenciam a QDV das mulheres, sendo a
satisfação sexual um marcador indispensável do bem-estar feminino, ao afetar a
sexualidade, está comitantemente a comprometer a QDV das mulheres.
Já um estudo canadense mostrou que uma parte/quantidade considerável de
mulheres que estava na fase de transição ou na pós-menopausa considerava o sexo um
2
A pesquisa bibliográfica sobre este tópico foi efetuada, no dia 24 de Janeiro de 2013, recorrendo à
base de dados RCAAP e PUBMED, com as seguintes palavras quality of life and sexual satisfaction;
“Quality of life and sexuality” e “quality of life and sexual functioning”. Na base de dados RCAAP,
foram encontradas 86 publicações, dessas 86 foram excluídas as que envolviam amostras só de homens e
outras que não mencionavam as duas variáveis em estudo, assim foram selecionadas 6 publicações que
preenchiam os nossos critérios estabelecidos. Na base de dados PUBMED, foram encontradas 998
publicações, dessas 998 publicações só duas foram utilizadas neste estudo, uma vez que as outras não
cumpriam os requisitos em causa.. Não tendo sido identificados estudos que remetam para a QDV e
satisfação sexual na mulher no climatério, optou-se por ter em consideração os estudos que se passarão a
mencionar.
43
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
fator importante para manter a QDV, assim como a qualidade do relacionamento
(intimidade e respeito) para a satisfação sexual (Basson, 2006, citado por Brito &
Makiama, 2008).
Por sua vez, Ventegodt (1998) estudou uma amostra representativa de cidadãos
dinamarqueses, entre os 18 e os 88 anos, e entre outros resultados, verificou que a QDV
das pessoas com problemas sexuais era 20% inferior à média das restantes pessoas.
De referir ainda que, numa amostra de 250 mulheres climatéricas com incontinência
urinária, Silva (2008) verificou que a incontinência urinária está associada à baixa QDV
e tem impacto negativo na satisfação sexual. Pais-Ribeiro e Raimundo (2005) obtiveram
os mesmos resultados num estudo com 93 mulheres com incontinência urinária com
idades que variavam dos 35 aos 81 anos. Na mesma linha, numa amostra de 80
mulheres com idades compreendidas entre os 27 e 80 anos, verificou-se que maior QDV
em mulheres com Incontinência urinaria encontrava-se associada a maior satisfação
sexual (Senra, 2012).
Uma outra amostra de 84 sujeitos, portadores de uma doença arterial coronária,
apresentaram redução da QDV em vários aspetos, principalmente no aspeto sexual
(Souza, 2010).
Já no que diz respeito a um estudo de Bertan e Castro (2010), estes concluíram, com
uma amostra de 82 pacientes com cancro, com idades compreendidas entre 20 e 50 anos,
que os pacientes que apresentaram maior QDV eram pacientes que apresentaram maior
índice de satisfação sexual.
Por fim, outro estudo com uma amostra de 668 mulheres com idades compreendidas
entre os 18 e 75 anos demonstrou que as mulheres sexualmente mais funcionais foram
as que revelaram níveis mais elevados de satisfação com a vida, o que está de acordo
com estudos prévios, sugerindo a importância, para a QDV e bem-estar subjetivo, da
pessoa se sentir bem e competente nas suas experiências sexuais (Vilarinho, 2010).
44
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Perante a apresentação da síntese da literatura revista, segue-se a parte empírica do
presente estudo.
45
Segunda Parte – Estudo Empírico
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capítulo IV- Método
4.1. Pertinência do estudo e da investigação
O envelhecimento populacional é uma realidade com que os indivíduos se deparam
todos os dias; a cada dia que passa, assistem a um aumento progressivo dessa realidade.
Segundo De Lorenzi et al. (2009), no decorrer dos anos, uma afluência significativa de
mulheres com queixas relacionadas com o climatério têm procurado ajuda nos serviços
de saúde. Paralelamente, a assistência ao climatério tem que sofrer alterações de
paradigmas, impondo aos profissionais de saúde uma mudança de atitude (De Lorenzi et
al., 2009). É necessário incutir aos profissionais de saúde que o climatério é
influenciado por fatores biológicos, psicossociais e culturais, cujo conhecimento é
fundamental para uma assistência mais qualificada e humanizada, destacando a
multidisciplinaridade e interdisciplinaridade no sentido de proporcionar um cuidado
integral e individualizado, melhorando a satisfação sexual e a QDV destes indivíduos
(De Lorenzi et al, 2009; Genazzani, Gambacciani & Simoncini, 2007; Araújo, 2009).
O interesse pelo estudo desta temática surgiu no decorrer do estágio curricular
realizado no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, E.P.E, ao contactar com mulheres
que estavam a passar por uma das fases do climatério, apresentando, desta forma,
dificuldades a nível sexual e, consequentemente, implicações na QDV das senhoras em
questão. Assim, foi crescendo o gosto por esta temática. Outra razão da opção por esta
temática diz respeito à escassez de estudos em Portugal sobre o climatério/sexualidade e
a QDV no âmbito da Psicologia (de acordo com a pesquisa efetuada).
Neste sentido, pareceu pertinente conduzir um estudo de forma a adquirir e
aprofundar os conhecimentos sobre esta temática. Com este estudo, pretende-se recolher
e fornecer informação detalhada da realidade atual acerca desta temática.
4.2. Desenho da investigação
Assim a presente investigação é de natureza observacional, descritiva, analítica e
transversal. É um estudo observacional, no qual o investigador não intervém, apenas
observa os fenómenos, isto é, desenvolvem-se procedimentos para descrever os
47
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
possíveis acontecimentos que acontecem, espontaneamente, sem a sua intervenção
(Pais-Ribeiro, 1999). Os estudos observacionais-descritivos fornecem informação
acerca da população em estudo (Pais-Ribeiro, 1999). Os estudos observacionais
descritivos transversais evidenciam normalmente um único grupo da população em
estudo (mulheres no climatério), na qual os dados são recolhidos num único momento
(Pais-Ribeiro, 1999).
No que se refere aos estudos observacionais analíticos, estes possibilitam dar
resposta “à questão de porque é que os sujeitos têm aquelas características” (PaisRibeiro, 1999, p. 42). O presente estudo é, assim, um estudo analítico transversal na
medida em que se procura explicar os resultados através do exame das relações
estatísticas (correlações) entre variáveis num único momento (Pais-Ribeiro, 1999).
4.3. Objetivos da investigação
O presente estudo tem como objetivo geral analisar a relação entre a satisfação
sexual e a QDV em mulheres no climatério.
Em termos de objetivos específicos pretendeu-se ainda:
a) Caracterizar a QDV de mulheres no climatério;
b) Caracterizar a satisfação sexual de mulheres no climatério;
c) Analisar se existem diferenças entre as mulheres com diferentes idades quanto à
satisfação sexual;
d) Analisar se existem diferenças entre as mulheres com diferentes estados civis
quanto à satisfação sexual;
e) Analisar se existem diferenças entre as mulheres com diferentes níveis de
escolaridade quanto à satisfação sexual;
f) Analisar se existem diferenças entre as mulheres que tomam e as que não tomam
medicamentos quanto à satisfação sexual.
g) Analisar se existem diferenças entre as mulheres em diferentes fases do
climatério quanto à satisfação sexual;
h) Analisar se existem diferenças entre as mulheres em diferentes fases do
climatério quanto à QDV.
48
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
i) Verificar se existe relação entre a QDV e a satisfação sexual em mulheres no
climatério.
Neste estudo observacional designamos as variáveis secundárias (idade; estado civil;
escolaridade) e variáveis principais (satisfação sexual e qualidade de vida). Segundo
Pinto (1990), a variável principal é a “variável cujos valores são em princípio o
resultado de variações nos valores de uma variável ou mais variáveis e respetivas
condições” (p. 173).
Assim, a satisfação sexual e a QDV constituem-se como variáveis principais na
medida em que será nestas que se analisaram as variações da influência das variáveis
secundárias.
Paralelamente, existe um outro conjunto de variáveis que consideramos como
variáveis clínicas, muito embora estas assumam, igualmente, no presente estudo, o
estatuto de variável secundária: fase do climatério (pré-menopausa; perimenopausa e
pós-menopausa); medicação.
4.4. Método
4.4.1. Participantes
Os participantes da presente investigação foram selecionados através de uma
amostragem não probabilística do tipo acidental, isto é, de conveniência (Pais-Ribeiro,
1999), sendo que compareceram às de Consultas Psicologia e/ou Consultas Externas de
Ginecologia no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, E.P.E.
Os critérios de inclusão na amostra foram: idade igual ou superior a 40 anos e estar a
passar por uma das fases do climatério.
A amostra é, assim, constituída por 100 senhoras, cuja idade variava entre os 40 (2
senhoras) e os 64 (1 senhora) anos, com média de 49,6 anos (DP= 6,1). Mais de metade
da amostra referia o meio urbano como lugar de residência e relativamente à
escolaridade, a frequência do ensino primário/1º ciclo ou ensino secundário (10º/11º/12º
49
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
anos) (cf. Quadro 1). A maioria da amostra trabalhava por conta de outrem (cf. Quadro
1). No que diz respeito ao estado civil a amostra era maioritariamente casada ou vivia
em união de facto, e tendo a maioria 2 filhos (cf. Quadro 1). Todos se identificaram
como heterossexuais.
Quadro 1 – Caracterização Sociodemográfica da amostra (N=100)
n
%
37
37,0
Nenhum
2
2,0
Ensino Primário/ 1º Ciclo
24
24,0
Ciclo Preparatório/2º Ciclo
9
9,0
Terceiro Ciclo/ 7º/8º/9º
17
17,0
Ensino Secundário/10º/11º/12
29
29,0
Bacharelato
2
2,0
Licenciatura
15
15,0
Mestrado
2
2,0
Desempregada
31
31,0
Trabalhadora por conta própria
10
10,0
Trabalhadora por conta de outrem
55
55,0
Reformada
4
4,0
Solteiro
4
4,0
União de Facto / Casada
78
78,0
Separada / Divorciada
15
15,0
Viúva
3
3,0
Variáveis
Meio de Residência
Rural
Escolaridade
Atividade Profissional
Estado Civil
50
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quadro 1 – Caracterização Sociodemográfica da amostra (N=100) (Continuação)
Variáveis
n
%
Não
9
9,0
Sim
91
91,0
0 Filhos
9
9,0
1 Filho
30
30,0
2 Filhos
48
48,0
3 Filhos
8
8,0
4 Filhos
3
3,0
6 Filhos
1
1,0
8 Filhos
1
1,0
100
100,0
Filhos
Quantos Filhos
Orientação Sexual
Heterosexual
O questionário Sócio-demográfico administrado fazia referência também a variáveis
clinicas da amostra (cf. Quadro 2). A maioria referiu ter tido relações sexuais no último
mês, maioritariamente com o seu parceiro.
No que se refere às questões relacionadas com a caracterização clínica da amostra
(cf. Quadro 2), a maioria estava na fase perimenopausa. No que diz respeito aos
sintomas menopáusicos, mais de metade da amostra considerava ter tais sintomas, sendo
os principais a alteração de humor; aumento de peso; dores de cabeça; insónias;
irritabilidade; afrontamentos e depressão (cf. Anexo A). Verificou-se que menos de
metade da amostra inquirida revelou possuir pelo menos uma doença, nomeadamente,
Depressão, Diabetes, Hipertensão e Ansiedade (cf. Anexo B). Apesar de menos de
metade da amostra considerar que tem pelo menos uma doença, mais de metade dessa
mesma amostra não toma medicação, sendo os antidepressivos, ansiolíticos e os
antihipertensores os mais utilizados (cf. Anexo C).
51
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quadro 2 - Caraterização Clinica da Amostra (N=100)
n
%
Sim
80
80,0
Não
20
20,0
Apenas um parceiro sexual
96
96,0
Mais de um parceiro sexual
3
3,0
Sem parceiro
1
1,0
Pré-Menopausa
12
12,0
Perimenopausa
57
57,0
Pós-Menopausa
31
31,0
Sim
92
92,0
Não
8
8,0
Não
66
66,0
Sim
34
34,0
Não
65
65,0
Sim
32
32,0
Não se lembra
3
3,0
Variáveis
No último mês teve relações sexuais
Atualmente mantém relações sexuais
Fase da menopausa
Sintomas menopáusicos
Doenças
Medicação
4.4.2. Material1
Para se proceder à recolha de dados da amostra, foram administrados os seguintes
instrumentos: Questionário Sócio-demográfico e clínico (cf. Anexo D); Instrumento de
1
Por questões éticas, e por indicação da orientadora da presente dissertação, uma cópia das
autorizações obtidas e do protocolo de avaliação será facultado em dossier à parte apenas aos membros
do júri.
52
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
avaliação da qualidade de vida da organização mundial de saúde Whoqol-bref (cf.
Anexo E) e Inventário de Satisfação Sexual Golombok Reust (GRISS) (cf. Anexo F).
Questionário sócio-demográfico e clinico. Este questionário foi estruturado
especificamente para o presente estudo e serviu para caracterizar as participantes. Foi
preenchido pelas mulheres que se encontravam numa das fases do climatério e inclui os
itens como: idade, meio de residência, escolaridade, atividade profissional, estado civil,
existência ou não de filhos e o seu número, orientação sexual.
As variáveis clínicas foram selecionadas para permitir fazer uma breve
caracterização das condições de saúde da mulher no climatério. Inclui os itens: no
último mês teve relações sexuais; atualmente mantem relações sexuais com um parceiro
ou mais; fase da menopausa; sintomas menopáusicos; doença de que são portadoras;
medicação que utilizam.
O Questionário Sociodemográfico e Clínico (que demora cerca de 5 minutos a
preencher) foi construído com base em instrumentos utilizados noutros estudos e de
forma a atender aos objetivos específicos do presente estudo.
World Health Organization Quality of life - versão abreviada. WHOQOL-Bref, na
sua versão original, foi desenvolvida pelo WHOQOL Group (World Health
Organization Quality of Life Group),em 1994, tendo sido traduzido para Português por
Canavarro, Vaz Serra, Simões, Pereira, Gameiro, Quartilho, Rijo, Carona e Paredes, em
2006 (Almeida, Gonçalves, Machado & Simões, 2003). O WHOQOL-Bref consiste
numa versão abreviada WHOQOL-100 e surgiu da necessidade de ter um instrumento
de administração rápida (Almeida et al., 2003).
Destina-se a avaliar a QDV de indivíduos adultos, sendo composto por 26 itens e
organizado em 4 domínios: Físico (7 itens), Psicológico (6 itens), Relações Sociais (3
itens) e Ambiente (8 itens), são constituídos por 24 facetas; inclui ainda uma faceta
sobre QDV em geral (única com 2 itens); cada uma das restantes facetas é avaliada por
apenas uma questão (Fleck, 2000).
53
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
As questões da WHOQOL-Bref possuem quatro tipos de escalas de respostas do tipo
de Likert de 5 pontos (Fleck, 2000; Canavarro et al., 2007): intensidade, capacidade,
frequência e avaliação.
Segundo Canavarro et al. (2007), o tempo do seu preenchimento é de
aproximadamente 5 minutos. A cotação pode ser feita manualmente ou através do
programa Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS); cada pergunta é cotada de 1
a 5, para as questões números 3, 4 e 26, as pontuações são invertidas (WHOQOL
Group, 1997). Assim, os resultados de cada domínio são calculados através da média
dos resultados das questões que o constituem, sendo esta média multiplicada por 100
(variando os resultados entre 0 e 100), de modo a que os resultados dos domínios sejam
comparáveis com os do WHOQOL-100 (Fleck, 2000; Canavarro et al., 2007). Os
valores são interpretados de forma linear, isto é, resultados mais elevados correspondem
a uma melhor QDV (Canavarro et al., 2007).
Segundo Ribeiro (1999), uma boa consistência interna deve exceder o valor de 0,80
no alfa de Cronbach; contudo, aceitam-se valores acima de 0,60, quando as escalas têm
um número reduzido de itens. De uma forma mais específica, Almeida e Freire (2008)
definem que um coeficiente entre 0,65 e 0,70 é minimamente aceitável, entre 0,70 e
0,80 respeitável e entre 0,80 e 0,90 muito bom.
Relativamente às qualidades psicométricas no estudo original, pode-se referir
primeiramente que foram inquiridos 604 indivíduos: 315 da população normal e 289
doentes dos Hospitais da Universidade de Coimbra, do Instituto Português de Oncologia
e de vários Centros de Saúde de Coimbra (Canavarro et al., 2007).
Os resultados demonstraram que este instrumento apresenta boas características
psicométricas (fidelidade e validade) (Canavarro et al., 2007). Em relação à fidelidade,
traduz as notas obtidas pelos avaliadores, quando avaliam as mesmas pessoas em
diferentes ocasiões, com os mesmos testes e os resultados são semelhantes (PaisRibeiro, 1999). A consistência interna do WHOQOL-Bref para os domínios, para as 26
questões e cada domínio individualmente foi avaliada pelo coeficiente de fidelidade de
Cronbach (cf. Quadro 3). O coeficiente de Cronbach mostra valores indicadores de uma
54
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
boa consistência (Canavarro et al., 2007). O valor mais baixo e que devemos tomar em
conta é do domínio de Relações sociais, no entanto, este valor poderá estar relacionado
com o facto deste domínio se basear somente em três itens, que é um número
relativamente menor ao número de itens que fazem parte dos outros domínios
(Canavarro et al., 2007; Pais-Ribeiro, 1999).
Quadro 3 – Consistência Interna do WHOQOL-Bref
Dimensões do WHOQOL-Bref
Valor de alfa original
Valor de alfa no presente
(Canavarro et al.,
estudo
2007)
Domínio Físico
0,87
0,84
Domínio Psicológico
0,84
0,85
Domínio Relações sociais
0,64
0,70
Domínio Ambiente
0,78
0,80
26 Questões
0,92
0,94
Para o presente estudo, foram calculados os valores de alfa de Cronbach, e dessa
forma percebe-se que, tal como no estudo de validação, apenas o domínio de relações
sociais apresenta um valor minimamente aceitável (0,70). Contudo, e analisando os
alfas dos outros domínios, bem como, a totalidade das questões do instrumento,
verificamos que o instrumento tem uma boa consistência interna, uma vez que os alfas
variam entre 0,80 e 0,94.
Relativamente ao teste-reteste, os resultados sugerem “uma boa estabilidade
temporal, o intervalo foi de 3 a 5 semanas. Verificou-se que não existem diferenças
estatisticamente significativas, os coeficientes de correlação variam entre 0,65 e 0,85,
não se observando diferenças nas duas aplicações do instrumento” (Canavarro et al.,
2007, p. 90). Em relação à validade discriminante, o WHOQOL-Bref “discrimina bem
55
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
os indivíduos da população normal dos indivíduos com patologia médica associada”
(Canavarro et al., 2007, p. 90).
Relativamente à validade, esta “refere-se ao que o teste mede e o quão bem o faz. É
a garantia que o teste dá que mede o que se propõe a medir” (Pais-Ribeiro, 1999, p.113).
No que diz respeito à validade de construto, “os quatro domínios correlacionam-se de
forma estatisticamente significativa entre si e com a faceta geral da qualidade de vida,
avaliada pelas duas primeiras questões” (Canavarro et al., 2007, p. 92).
Relativamente à correlação com outros instrumentos, nomeadamente com o Beck
Depression inventory (BDI, versão portuguesa de Vaz Serra & Pio Abreu, 1973) e pelo
Brief Symptom Inventory (BSI, versão portuguesa de Canavarro, 1999), verifica-se que
todos os domínios do WHOQOL-Bref apresentam coeficientes de correlação
significativos com o BDI e o BSI, isto é, uma melhor pontuação na medida de QDV
encontra-se associada a menores resultados na depressão e nos indicadores
psicopatológicos. É de ressalvar que o BSI e o BDI apresentam coeficientes de
correlação significativamente mais elevados com o domínio Psicológico (-0,71 e, -0,69)
“ o que é consistente com as variáveis avaliadas” (Canavarro et al., 2007, p. 94).
Inventário de Satisfação Sexual Golombok Reust (GRISS). O GRISS foi
inicialmente desenvolvido por Golombok e Rust (1986) e em Portugal foi traduzido
para investigação em curso por Vilarinho e Nobre (2006). Permite avaliar a satisfação
sexual e é constituído por duas versões, uma para o género feminino e outra para o
género masculino (Golombok & Rust, 1986); a versão utilizada neste caso é a versão
feminina.
Este inventário é composto por 28 questões de auto-resposta, respondidas segundo
uma escala de tipo Likert na qual o 1 corresponde a “Nunca”, o 2 corresponde a “Quase
nunca”, o 3 corresponde a “Ocasionalmente”, o 4 corresponde a “Habitualmente” e o 5
corresponde a “Sempre” (Golombok & Rust, 1986).
O GRISS divide-se em 7 subescalas relativas à: não atividade (2 itens); não
comunicação (2 itens); insatisfação (4 itens); evitamento (4 itens); não sensualidade (4
56
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
itens); anorgasmia (4 itens) e vaginismo (4 itens) (Golombok & Rust, 1986). Desta
forma, é possível calcular índices específicos para cada dimensão avaliada, bem como
um índice total de insatisfação sexual (resultante do somatório das dimensões
específicas), com os resultados mais elevados indicando piores índices de satisfação
sexual (Vilarinho & Nobre, s/d). Cada questão é cotada de 0 a 4 para os itens 1, 3, 6, 7,
12, 13, 14, 16, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 28, para os itens 2, 4, 5, 8, 9, 10, 11, 15, 17, 19,
21, 26, 27 a pontuação é invertida (Vilarinho & Nobre, s/d).
O tempo de administração é cerca de 5 a 10 minutos (Golombok & Rust, 1986). No
que diz respeitos às qualidades psicométricas do instrumento, os resultados encontrados
no estudo de Vilarinho e Nobre (s/d), revela um nível de consistência interna para o
total do inventário, com um índice de Cronbach de 0,89, que segundo Pais-Ribeiro
(1999) e Moreira (2004) possui uma boa consistência interna, o que demonstra que
existe intercorrelações entre todos os itens do teste e, através do método de split half
(replicando o procedimento original dos autores), um coeficiente de Spearman-Brown
de 0,88. Os valores de consistência para as subescalas do GRISS, segundo Vilarinho e
Nobre (s/d) são também aceitáveis (desde 0,53, na subescala Anorgasmia, até 0,75, na
subescala Evitamento, e um valor médio de alfa de 0,59).
Para o presente estudo foram calculados os valores de alfa de Cronbach (cf. Quadro
4), verificou-se que, relativamente ao total do inventário, este apresenta uma boa
consistência interna (0,92). Quanto às subescalas, na escala Anorgasmia o valor é muito
baixo (0,35), ou seja, não apresenta uma boa consistência interna; este valor poderá ter a
ver com o facto de a subescala ter um número de itens muito baixo (4 itens) (PaisRibeiro, 1999). No que concerne aos outros alfas, verificou-se que variam entre o
aceitável (0,57) e uma boa consistência interna (0,84).
57
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quadro 4 – Consistência Interna do Inventário de Satisfação Sexual de Golombok e
Rust (GRISS)
Subescalas
Valor de alfa no estudo de
tradução e validação
portuguesa
Valor de alfa no presente
estudo
(Vilarinho & Nobre 2006)
Não atividade
0,71
0,57
Não comunicação
0,21
0,61
Insatisfação
0,70
0,76
Evitamento
0,75
0,84
Não sensualidade
0,61
0,80
Anorgasmia
0,53
0,35
Vaginismo
0,62
0,62
Total do inventário
0,89
0,92
Os valores do coeficiente de Pearson no teste-reteste (n = 40) com um intervalo de 3
semanas entre as duas administrações), mostram-se significativos (p/ < 0,001), quer
para o total do inventário (r=0,91), quer para as subescalas (r entre 0,72 e 0,91), sendo
indicadores de uma muito boa estabilidade temporal do GRISS (Vilarinho & Nobre,
(s/d).
A validade convergente do questionário foi sustentada com base em estudos
correlacionais com a Medida Global da Satisfação Sexual (Lawrance & Byers, 1998,
citado por Vilarinho, 2010) e com a dimensão Satisfação do FSFI (Rosen et al., 2000).
Encontram-se valores estatisticamente significativos (p <0,001), para os coeficientes de
correlação momento-produto de Pearson entre o índice total do GRISS e o GMSEX
(r=0,42), e entre o índice total do GRISS e a dimensão Satisfação do FSFI (r=0,63). A
validade discriminante do índice total do GRISS foi estabelecida em relação à dimensão
Hostilidade do BSI (Derogatis, 1982, citado por Canavarro, 1999), sendo que as
58
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
medidas se revelaram independentes (índice total do GRISS e dimensão Hostilidade: r =
-0,07, p = 0,41; subescala Insatisfação feminina e dimensão Hostilidade: r = -0,06, p =
0,48).
4.4.3. Procedimento
Numa primeira instância foi solicitado, através de um email, autorização para
utilizar os instrumentos em causa para a recolha de dados. Desta forma, contactamos a
Prof. Doutora Sandra Vilarinho para obter autorização para usar o GRISS e à Prof.
Doutora Maria Cristina Canavarro para obter autorização para usar o WHOQOL-Bref ,
sendo ambos os pedidos autorizados.
Após a autorização de utilização dos instrumentos procedemos à submissão do
projeto de investigação à direcção da FCHS-UFP, que o remeteu para a respetiva
Comissão de Ética da Universidade Fernando Pessoa. Desta forma,foi explicado todo o
processo de investigação e anexados, os instrumentos e o consentimento informado a
ser utilizado.
Depois da aprovação da Comissão de Ética da Universidade Fernando Pessoa, foi
solicitada a autorização à instituição em que se realizou o estudo, que neste caso é o
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, E.P.E.
Neste projeto de investigação tivemos o cuidado de referir os princípios definidos no
Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a seguir.
Desta forma, na realização de uma investigação devemos ter o cuidado de proteger
os direitos e liberdade dos entrevistados. Segundo Fortin (1999, p. 113), “qualquer
investigação efetuada junto de seres humanos levanta questões éticas e morais” que
devemos ter em consideração. No decorrer da investigação foi tido sempre em conta a
proteção dos indivíduos com base no Código Ético e Deontológico.
Na tentativa de respeitar todos os princípios, foi explicado as senhoras que eram
livres de participar e que podiam desistir a qualquer momento, sem qualquer
59
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
consequência. Após esta explicação e as explicações relativas ao estudo propriamente
dito, foi entregue e preenchido o consentimento informado.
Garantimos a confidencialidade e o anonimato, que salvaguarda a identidade do
indivíduo na medida em que os consentimentos informados e os questionários foram
colocados em envelopes separados pelas próprias participantes, fazendo com que não
seja possível associar o consentimento informado ao respetivo questionário (anónimo)
preenchido, salvaguardando assim qualquer tipo de associações.
Neste contexto, a amostra foi recrutada nas Consultas de Psicologia e nas Consultas
Externas de Ginecologia, após terem obtido toda a informação sobre o estudo, os
técnicos que asseguraram estas consultas convidaram as senhoras entre os 40 e os 65
anos a participar no estudo em causa, indicando-lhes onde se deviam dirigir para obter
informação adicional e, após o fornecimento do consentimento informado, participar no
estudo.
Os
inquéritos
foram
administrados
através
da
modalidade
de
autopreenchimento, no entanto em determinadas situações, nomeadamente no que se
refere a dificuldades físicas ou associadas ao nível de instrução do respondente, foram
lidas as questões e assinaladas as respostas (administração pelo investigador).
Posteriormente, os dados foram tratados informaticamente recorrendo ao programa
de tratamento estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Science), na versão
21.0.
60
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capitulo V- Resultados
Os resultados que serão apresentados de seguida, de acordo com os objetivos que
foram anteriormente mencionados, referem-se às análises estatísticas levadas a cabo
baseadas nos dados recolhidos.
Quanto ao primeiro objetivo formulado, caracterizar a qualidade de vida em
mulheres no climatério, foi utilizada, análise estatística descritiva.
Assim, pode-se verificar que o domínio das Relações Sociais foi aquele que em
média, obteve maior pontuação sendo que a Faceta Geral apresentou a média mais baixa
(cf. Quadro 5). Em nenhum dos scores o valor médio foi inferior ao ponto médio.
Em termos médios, podemos observar que os domínios Físico, Psicológico e
Ambiental apresentam valores próximos, no entanto, a dispersão verificada no domínio
Ambiental é menor. O domínio Psicológico foi o único que apresentou o valor mínimo e
os restantes domínios apresentaram o valor máximo excepcto o domínio Ambiental.
Em resumo, os dados apresentados no Quadro 5 mostram que a QDV das mulheres é
melhor ao nível das Relações Sociais e menos boa ao nível da Faceta Geral, podendo
globalmente ser considerada moderada.
Quadro 5. Caracterização da Qualidade de Vida de mulheres no Climatério
(N=100)
Faceta geral e domínios
Faceta Geral*
Físico*
Psicológico*
Relações Sociais*
Ambiental*
Mínimo
13
4
0
8
25
Máximo
100
100
100
100
94
M
60,63
63,64
64,50
69,75
62,75
DP
19,654
18,445
18,779
16,652
14,445
*Escala de scores transformados dos domínios do WHOQOL-BREF de 0-100 onde 0 é “pouca QdV” e
100 é “boa QdV” (Canavarro et al., 2007)
61
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Em relação ao segundo objetivo, caracterizar a satisfação sexual de mulheres no
climatério, foi utilizada análise estatística descritiva.
Os dados do Quadro 6 informam acerca do índice de satisfação sexual nas mulheres
no climatério. Verifica-se que a Anorgasmia apresenta o pior índice de satisfação,
seguido do Vaginismo. Além disso, podemos ver que as mulheres atribuem melhor
pontuação ao item Não comunicação e Não atividade, o que leva a concluir que nestes
dois fatores elas estão relativamente satisfeitas, quando comparamos com os restantes
indicadores do estudo. O valor mínimo foi atingido em todas as subescalas excepcto no
total. O valor máximo foi atingido nas subescalas Não atividade, Não Comunicação,
Não Sexualidade e Vaginismo. Relativamente ao Total pode-se referir que as mulheres
encontram-se globalmente satisfeitas sexualmente.
Quadro 6: Caracterização da satisfação sexual na mulher no climatério
Mínimo
Máximo
M
DP
0
8
3,79
2,032
0
8
3,40
2,190
Insatisfação
0
16
5,35
3,592
Evitamento
0
15
4,57
3,796
0
16
4,15
3,789
Anorgasmia
0
12
6,03
2,605
Vaginismo
0
16
5,37
3,439
GRISS_Total
6
97
38,53
19,045
Não atividade
Não comunicação
Não sensualidade
Escala de scores das subescalas: Não atividade e Não Comunicação variam entre (0-8); Insatisfação,
Evitamento, Não sensualidade, Anorgasmia e Vaginismo variam entre (0-16) e o Total varia entre (0-112)
valores mínimos correspondem a “melhores índices de satisfação sexual” e valores máximos “piores
índices de satisfação sexual”.
62
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Relativamente ao terceiro objetivo, analisar se existem diferenças entre as mulheres
de diferentes idades quanto à satisfação sexual, foi utilizado t de student para diferenças
entre grupos.
Foram considerados dois grupos distintos relativamente às idades das mulheres, de
modo a construir grupos de indicadores com efetivos equilibrados, em que: Grupo 1 –
40 a 48 anos; Mulheres mais novas; Grupo 2 – 49 a 64 anos, Mulheres mais velhas2.
Nas
subescalas
Não
atividade, Não
comunicação,
Insatisfação, Evitamento,
Anorgasmia, Vaginismo e Total as variâncias eram homogéneas, para a subescala não
sensualidade as variâncias não eram homogéneas.
Pode-se verificar, no Quadro 7, que as mulheres do Grupo 2 (mais velhas) estão
mais insatisfeitas relativamente a todos os indicadores de satisfação sexual (cf. as
médias dos grupos).
Pela análise do valor de p verifica-se ainda que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos de mulheres constituídos em função
da idade, relativamente a subescala Não atividade, Insatisfação, Evitamento e Total).
Relativamente às restantes subescalas, Não comunicação, Não sensualidade,
Anorgasmia e Vagisnismo podemos concluir que existem diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos de mulheres (cf. Quadro 7).
2
Face à dispersão dos efetivos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo a construir
grupos de indivíduos com efetivos equilibrados.
63
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quadro 7: Diferença entre Mulheres de Diferentes Idades quanto à Satisfação Sexual3
(N=100)
Não actividade
Mulheres mais
novas (N=46)
M DP
3,76 2,155
Mulheres mais
velhas (N=54)
M DP
3,81 1,943
t
gl
p
0,144
97
0,886
Não comunicação
2,91
2,304
3,81 2,019
2,079
97
0,04
Insatisfação
5,09
3,377
5,57 3,780
0,667
97
0,506
Evitamento
3,80
3,402
5,20 4,016
1,855
97
0,067
Não sensualidade
3,20
3,050
4,94 4,173
2,332
97
0,022
Anorgasmia
5,36
2,756
6,59 2,351
2,41
97
0,018
Vaginismo
4,24
3,142
6,31 3,419
3,112
97
0,002
2,452
97
0,16
GRISS_Total
33,51
17,613
42,70
19,339
O Quadro 8 apresenta os resultados relativos ao quarto objetivo: analisar se
existem diferenças entre as mulheres com diferentes estados civis quanto à satisfação
sexual tendo-se recorrido a teste não paramétrio U de Mann-Whithney4, estando os
indivíduos divididos em dois grupos, sendo: Grupo 1 – Sem parceiro5 e o Grupo 2 –
Com parceiro. Pode ver-se, de acordo com o Quadro 8, que as mulheres sem parceiro
estão mais insatisfeitas no que diz respeito a todos os indicadores de satisfação sexual.
No Quadro 8 pode-se ainda ver que existem diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos no que concerne à Insatisfação, à Anorgasmia, ao
Vaginismo e do Total.
3
Face à dispersão dos efetivos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo a construir
grupos de individuos com efetivos equilibrados.
4
Os testes não paramétricos são utilizados quando não se encontram reunidas as condições básicas
dos procedimentos estatísticos, o pressuposto da normalidade ou da homogeneidade de variâncias, a
natureza escalar das variáveis e quando a amostra apresenta uma dimensão reduzida
(Perreira,2008).Quando tais condições se encontram reunidas, o mais indicado é a utilização dos testes
paramétricos; quando tais condições não se encontram reunidas, o indicado são os testes equivalentes, ou
seja, os testes não paramétricos (Perreira,2008).
5
Ainda que a informação sobre o estado civil não dê a certeza absoluta sobre a existência ou não de
parceiro.
64
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Pelos resultados fornecidos no Quadro 8, nas subescalas Não atividade, Não
comunicação, Evitamento e Não sensualidade, pode-se concluir que, relativamente às
subescalas, não existem diferenças estatisticamente significativas entre as mulheres com
parceiro e sem parceiro.
Quadro 8: Diferenças entre Mulheres com diferentes Estados Civis quanto à
Satisfação Sexual.6
Sem Parceiro
Com Parceiro
(N=22)
(N=78)
N
M
N
M
U
Z
Não atividade
21
53,50
78
49,06
745,500 -0,640 0,522
Não comunicação
21
58,81
78
47,63
634,000 -1,608 0,108
Insatisfação
21
63,00
78
46,50
546,000 -2,347 0,019
Evitamento
21
60,55
78
47,16
597,500 -1,907 0,056
Não sensualidade
21
59,36
78
47,48
622,500 -1,693 0,090
Anorgasmia
21
65,45
78
45,84
494,500 -2,798 0,005
Vaginismo
21
67,24
78
45,36
457,000 -3,113 0,002
GRISS_Total
21
63,88
78
46,26
527,000 -2,496 0,013
No que diz respeito ao quinto objetivo, analisar se existem diferenças entre as
mulheres com diferentes níveis de escolaridade quanto à satisfação sexual foi utilizado t
de student para diferenças entre grupos.
Na análise das diferenças entre mulheres com diferentes níveis de escolaridade,
foram criados dois grupos com base nas habilitações literárias: Grupo 1 – 1º Ciclo, 2º
Ciclo e 3º Ciclo; Grupo 2 – Ensino secundário, Bacharelato, Licenciatura e Mestrado.
6
Face à dispersão dos efetivos, pelos grupos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo
a construir grupos de indivíduos com efetivos equilibrados.
65
p
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Podemos concluir, através dos resultados do Quadro 9, que são as mulheres com
menores níveis de escolaridade aquelas que se encontram mais insatisfeitas
sexualmente.
Através do teste de Levene, pode concluir-se que apenas na subescala Não
comunicação as variâncias não eram iguais. Pela análise do valor de p conclui-se que,
não existe evidência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos de
mulheres com diferentes níveis de escolaridade, na subescala Evitamento (cf. Quadro
9).
Para as restantes subescalas, pode ver-se ainda no Quadro 9 que existem diferenças
entre os dois grupos de mulheres.
Quadro 9: Diferença Mulheres de Diferentes níveis de Escolaridade7(N=100)
Grupo 1 (N=52)
Grupo 2 (N=49)
M
DP
M
Não Atividade
4,18
1,913
3,36
2,131
1,992
95 0,049
Não comunicação
3,84
1,931
2,96
2,413
1,995
95 0,049
Insatisfação
6,12
3,378
4,40
3,651
2,404
95 0,018
Evitamento
5,14
3,665
3,83
3,886
1,709
95 0,091
Não sensualidade
5,06
3,728
3,09
3,670
2,627
95 0,010
Anorgasmia
6,52
2,443
5,40
2,676
2,147
95 0,034
Vaginismo
6,40
3,162
4,26
3,473
3,183
95 0,002
GRISS_Total
43,92
16,922
32,19
19,661
3,155
95 0,002
t
gl
p
DP
No que respeita ao sexto objetivo, analisar se existem diferenças entre as mulheres
que tomam e não tomam medicamentos quanto à satisfação sexual, utilizamos o t de
student para diferenças entre grupos.
7
Face à dispersão dos efetivos, pelos grupos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo
a construir grupos de indivíduos com efetivos equilibrados
66
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
No que concerne à satisfação sexual das mulheres que tomam e não tomam
medicamentos, o teste de Levene permite afirmar a homogeneidade das variâncias.
São as mulheres que tomam medicamentos que estão mais insatisfeitas ao nível
sexual (cf. Quadro 10).
Para as subescalas Não comunicação, Insatisfação, Anorgasmia e Total (cf. Quadro
10) verifica-se que existem evidência para afirmar as diferenças estatisticamente
significativas entre as mulheres que tomam e as que não tomam medicamentos, quanto
à insatisfação sexual.
Quadro 10: Diferença entre Mulheres que tomam e não tomam Medicamentos
quanto à Satisfação Sexual (N=100)
Não tomam
Tomam
medicamentos
medicamentos
t
gl
p
M
DP
M
DP
Não atividade
3,63
2,035
4,16
2,096
1,194
94 0,236
Não comunicação
2,92
1,913
4,34
2,509
3,086
94 0,003
Insatisfação
4,72
3,155
6,38
4,233
2,157
94 0,034
Evitamento
4,16
3,721
5,06
3,951
1,102
94 0,273
Não sensualidade
3,50
3,177
4,91
4,475
1,776
94 0,079
Anorgasmia
5,56
2,624
6,75
2,436
2,140
94 0,035
Vaginismo
5,03
3,413
5,69
3,440
0,886
94 0,378
GRISS_Total
34,80
17,749
44,09
20,150
2,312
94 0,023
No que concerne ao sétimo objetivo, analisar se existem diferenças entre as
mulheres em diferentes fases do climatério quanto à satisfação sexual, utilizamos t de
student para diferenças entre grupos.
As participantes foram agrupadas em dois grupos8, são eles: Grupo 1 –
Perimenopausa; Grupo 2 – Pós-menopausa. O teste de Levene permite concluir que,
8
Face à dispersão dos efetivos, pelos grupos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo
a construir grupos de indivíduos com efetivos equilibrados.
67
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
para as subescalas Insatisfação, Evitamento, Não sensualidade e Total, as variâncias não
são homogéneas.
Através do quadro 11, podemos observar que são as mulheres na fase da pósmenopausa as que se encontram menos satisfeitas, relativamente a todos os indicadores
de satisfação sexual.
O valor de p do teste t-student leva-nos a concluir que apenas nas subescalas Não
atividade e Não comunicação não existem diferenças estatisticamente significativas
entre os dois grupos de mulheres (cf. Quadro 11).
Conclui-se assim que nas subescalas Insatisfação, Evitamento, Não sensualidade,
Anorgasmia, Vaginismo e Total existem diferenças estatisticamente significativas entre
os dois grupos de mulheres, constituídos com base na fase do climatério na qual se
encontravam.
Quadro 11: Diferença entre Mulheres de Diferentes Fases do Climatério quanto à
satisfação sexual 9(N=100)
Perimenopausa
Pós-menopausa
(N=57)
(N=31)
t
gl
p
M
DP
M
Não atividade
3,80
1,930
3,87
2,094
0,151
85
0,880
Não comunicação
3,09
1,947
3,90
2,343
1,735
85
0,086
Insatisfação
4,68
2,936
6,42
4,272
2,243
85
0,028
Evitamento
4,05
3,083
5,87
4,303
2,279
85
0,025
Não sensualidade
3,39
2,977
6,13
4,660
3,339
85
0,001
Anorgasmia
5,52
2,449
7,23
2,247
3,206
85
0,002
Vaginismo
4,77
3,406
6,68
2,993
2,612
85
0,011
GRISS_Total
34,66
15,776
47,16
21,007 3,137
85
0,002
9
DP
Face à dispersão dos efetivos, pelos grupos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo
a construir grupos de indivíduos com efetivos equilibrados.
68
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Em relação ao oitavo objetivo, analisar se existem diferenças entre as mulheres em
diferentes fases do climatério quanto à QDV. Recorreu-se ao teste o t de student para
diferenças entre grupos.
As mulheres foram repartidas em dois grupos, sendo Grupo 1 – Perimenopausa e
Grupo 2 – Pós-menopausa.
O teste de Levene, para a homogeneidade das variâncias permitiu concluir que
apenas no domínio Psicológico o pressuposto não foi verificado.
No Quadro 12, podemos verificar ainda que são as mulheres na fase da
perimenopausa aquelas que têm melhor QDV.
Para os domínios Físico e Relações Sociais verifica-se que existem diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos de mulheres nas diferentes fases da
menopausa (cf. Quadro 12).
Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em
relação aos restantes indicadores de QDV.
Quadro 12: Diferentes Fases do Climatério quanto à Qualidade de Vida10 (N=100)
Faceta geral e
Perimenopausa
Domínios
Pós-menopausa
(N=57)
M
(N=31)
DP
M
t
gl
p
DP
Faceta Geral
64,69
17,055
57,26
19,572
1,854
86
0,067
Físico
67,23
15,422
60,02
16,989
2,02
86
0,046
Psicológico
68,42
14,898
61,16
19,376
1,961
86
0,053
Relações Sociais
73,10
12,699
65,86
17,395
2,236
86
0,028
Ambiental
65,13
13,295
60,89
13,902
1,408
86
0,163
10
Face à dispersão dos efetivos, pelos grupos, foi feito um reagrupamento dos participantes, de modo
a construir grupos de individuos com efetivos equilibrados.
69
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Por último, o Quadro 13 reflete os resultados relativos ao nono objetivo, verificar se
existe relação entre a QDV e a satisfação sexual em mulheres no climatério, para tal
recorremos ao coeficiente de correlação de Pearson11.
Ao observar o Quadro 13, verifica-se que algumas correlações são estatisticamente
significativas. Para a subescala da Não atividade verifica-se uma correlação linear
estatisticamente significativa com todos os indicadores de QDV, exceto o domínio
Psicológico. Para a subescala Não comunicação as correlações lineares estatisticamente
significativas, verificou-se com todos os indicadores de QDV exceto com a Faceta
Geral.
Verifica-se que a Insatisfação, o Evitamento, a Não sensualidade, a Anorgasmia, o
Vaginismo e o Total estão correlacionados de modo linear e estatisticamente
significativos com todos os indicadores de QDV das mulheres.
A correlação verificada entre as subescalas de Satisfação Sexual e os indicadores de
QDV é negativa. No entanto, a pontuação atribuída às subescalas da satisfação sexual
variam em sentido invertido, ou seja, quanto maior a pontuação dada pela mulher
inquirida, menor é o nível de satisfação sexual. Logo, de uma forma geral, conclui-se,
com base nos valores da correlação de Pearson, que quanto melhor for a QDV maior
será a satisfação sexual das mulheres no climatério avaliadas.
11
Os resultados correlacionais focalizam-se nas relações existentes entre as variáveis. As relações são
medidas em termos de intensidade, pelo que o coeficiente de correlação entre duas variáveis pode variar
entre –1.00 e +1.00, sendo que o valor zero significa ausência de correlação. Uma correlação perfeita é
aquela que se aproxima da unidade. As correlações, neste sentido, podem ser positivas (+1.00) quando
ambas se orientam no mesmo sentido, ou negativas (-1.00), quando se orientam em sentidos contrários
(Almeida & Freire, 2007).
70
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Quadro 13: Relação entre Qualidade de Vida e a Satisfação Sexual em Mulheres no
Climatério (N=100)
Faceta
Geral
Não actividade
Não comunicação
Insatisfação
Evitamento
Não sensualidade
Anorgasmia
Vaginismo
GRISS_total
Domínio Domínio
Físico
Domínio
Psicológico Relações Sociais
r -0,255 -0,329
Domínio
Ambiental
-0,183
-0,279
-0,271
0,07
0,005
0,007
r -0,153 -0,274
-0,320
-0,341
-0,250
p 0,13
0,001
0,001
0,013
r -0,323 -0,403
-0,309
-0,436
-0,282
p 0,001
0,002
0,000
0,005
r -0,430 -0,370
-0,438
-0,520
-0,387
p 0,000
0,000
0,000
0,000
r -0,373 -0,325
-0,361
-0,394
-0,274
p 0,000
0,000
0,000
0,006
r -0,381 -0,421
-0,390
-0,350
-0,324
p 0,000 0,000
0,000
0,000
0,001
r -0,309 -0,366
-0,364
-0,409
-0,277
p 0,002
0,000
0,000
0,006
r -0,447 -0,480
-0,493
-0,538
-0,407
p 0,000
0,000
0,000
0,000
p 0,011
0,001
0,006
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
71
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Capitulo VI- discussão
Este capítulo é reservado à discussão dos resultados apresentados anteriormente.
Assim, para cada um dos objetivos de estudo definidos e analisados anteriormente,
realizou-se a respetiva apreciação crítica e interpretação dos resultados obtidos, em
função da revisão bibliográfica realizada.
Neste sentido, o primeiro objetivo passava por caracterizar a QDV de mulheres no
climatério. Perante a análise realizada anteriormente verificamos que as mulheres
obtiveram valores mais elevados, indicadores de melhor QDV no domínio das Relações
Socias seguido do domínio Psicológico, Físico e Ambiental. Observando as médias dos
domínios, deparamo-nos com médias razoáveis, o que nos leva a concluir que, no geral,
as mulheres no climatério consideram possuir uma QDV moderada. Os resultados
obtidos neste estudo divergem, parcialmente dos dados encontrados por De Lorenzi et
al, (2005), Filho e Costa (2008), Brito, et al (2010), Blumel, et al (2000) uma vez que
consideravam que o climatério provocava uma diminuição da QDV, Contudo, os
resultados deste estudo, vão ao encontro do estudo realizado por Moilanen et al. (2012),
que evidenciam que a QDV não está relacionada com o climatério, mas com a prática de
exercício físico, peso estável e com níveis de escolaridade elevado.
Os resultados divergentes em diferentes estudos podem ser explicados pela mudança
hormonal e pela perda progressiva da função ovárica, que conduzem a uma panóplia de
alterações e sintomas de carácter multiorgânico que a curto, médio ou a longo prazo,
interferem na QDV feminina, afetando a saúde física, mental, bem como a atividade
quotidiana, ao nível laboral, relacional e afetivo (Schindler, 2006).
Nesta etapa, a mulher manifesta vários sinais e sintomas característicos que podem
comprometer a sua QDV, nomeadamente: problema de sono, alterações vasomotoras,
perturbações de humor, atrofia geniturinária osteoporose, entre outros (Moraes,
Vandenberghe & Silveira, 2007; Bacelar-Antunes, 2005). Contudo, devemos ter em
conta que várias manifestações clínicas e a sua gravidade variam de mulher para
mulher, sendo influenciadas por fatores biopsicossociais que determinam o impacto
72
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
deste período de mudança na mulher que experiencia este período (Nappi &
Lachowsky, 2009).
De modo geral, estes resultados contrariam algumas sugestões da literatura. Este
facto pode dever-se à nossa amostra ser maioritariamente jovem e instruída. A idade é
um fator importante, uma vez que a experiência menopausal varia com a idade em que
os sintomas começam a ser percebidos pela mulher, por sua vez, mulheres mais
instruídas irão percecionar e atuar mais rapidamente nos sintomas que comprometam a
sua QDV (Filho & Costa, 2007; Laumann et al., 1999; Rosen et al., 1993).
O segundo objetivo implicava caracterizar a satisfação sexual em mulheres no
climatério. Os principais resultados encontrados revelam que é nas subescalas
Anorgasmia e Vaginismo que as mulheres relatam mais insatisfação sexual em
comparação com as sub-escalas Não Comunicação e Não Actividade, em relação às
quais, se afirmam mais satisfeitas. Relativamente ao Total podemos verificar que as
mulheres se encontram satisfeitas sexualmente. Este resultado vai ao encontro de
estudos levados a cabo por Woloski-Wruble et al.(2010) e Hawton, Gath e Day (1994),
que referem que a satisfação sexual pode manter-se elevada durante a transição
menopausica. Contudo, existem estudos que não corroboram totalmente estes
resultados. Nappi e Lachowsky (2009), p.e., referem que as mulheres que se encontram
no climatério sentem insatisfação sexual.
Relativamente aos valores das subescalas Anorgasmia e Vaginismo, pode-se referir
que estes resultados poderão estar intimamente ligados à idade da amostra, pois
Laumann, Paik e Rosen (1999), mencionam que à medida que a idade vai aumentando
existe uma tendência para a diminuição orgásmica. No que diz respeito à subescala
Vaginismo poderá estar relacionada com a fase do climatério que aa mulher se encontra,
pois para Catão (2008), as mulheres que se encontram na fase pós-menopausa
apresentam vaginismo em comparação com as mulheres na perimenopausa.
Paralelamente, a nossa amostra demonstrou melhores resultados nas subescalas Não
Comunicação e Não Atividade o que poderá refletir que as mulheres inquiridas possuem
uma boa capacidade de comunicação com o companheiro, procuram intimidade e
73
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
poderá existir atração erótica entre o casal (Catão, 2008). Poderá também estar
relacionado com uma boa intimidade emocional, uma vez que, para a mulher é
necessário, primeiramente, uma intimidade emocional para “construir” uma ligação
intima (Catão, 2008).
No entanto, os resultados deste estudo podem dever-se a inúmeros fatores. As
mulheres inquiridas no presente estudo, revelam-se sexualmente satisfeitas, este
resultado poderá dever-se ao facto de se sentirem satisfação marital (Donnelly, 1993;
Morokoff & Gillilland 1993). Em contrapartida, os conflitos não resolvidos, a distância
emocional experienciadas pelos parceiros ou o facto da pessoa não se sentir amada pode
afetar a satisfação sexual (Christopher & Sprecher, 2000; Davidson & Darling,1988;
Schenk, Pfrang, & Rausch, 1983; Donnelly, 1993; Morokoff & Gillilland, 1993). Outros
fatores predominantes e que podem estar relacionados com a satisfação sexual são os
fatores interpessoais, isto é, “sentirem-se desejadas”, “receber atenção do parceiro”, “ser
capaz de satisfazer o parceiro”, “sentir que o parceiro gosta do seu corpo” (Carvalheira
& Leal, 2008, p. 6); estes fatores são mais importantes para a mulher do que os fatores
de funcionamento físico-sexual, daí a nossa amostra pontuar valores médios menos
elevados na sub-escala Não-comunicação e similarmente valores menos elevados no
Total, o que revela que existe uma boa comunicação entre o casal relativamente aos
seus problemas sexuais.
Outros fatores que podem ser determinantes de satisfação sexual são a idade, as
habilitações literárias e outras variáveis sociodemográficas (Bancroft, Loftus, & Long,
2003; Farmer, Trapnell, & Meston 2009; Rosen, Taylor, Leiblum, & Bachmann 1993;
Laumann, Paik, & Rosen, 1999; Hawton, Gath, & Day, 1994). Desta forma, será
discutido de seguida se as variáveis sociodemográficas estarão relacionadas com a
satisfação sexual das mulheres estudadas.
O terceiro objetivo consistiu em analisar se existem diferenças entre as mulheres de
diferentes idades quanto à satisfação sexual. Embora não se encontrem diferenças
estatisticamente significativas nas subescalas Não Atividade, Insatisfação, Evitamento e
Total, a tendência é que de acordo com os resultados obtidos nas subescalas Não
comunicação, Não sensualidade, Anorgasmia e Vaginismo (escalas em que existe
74
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
diferenças estatisticamente significativas) é o grupo das mulheres mais velhas, dos 49
aos 64, que apresentam-se mais insatisfeitas sexualmente, do que o grupo das mulheres
dos 40 aos 48 anos. Este resultado sugere concordância com alguns dos estudos que
referem tendência para a diminuição das experiências sexuais satisfatórias com o
aumento da idade (Haavio-Mannila & Kontula, 1997; Pechorro, 2006; Deeks &
McCabe, 2001; Fugl-Meyer e Sjögren Fugl-Meyer, 1999). À semelhança do estudo de
Laumann, Paik e Rosen (1999), o presente estudo mostrou que existe uma tendência
para a diminuição orgásmica com o aumento da idade.
Contudo, os resultados não significativos nas subescalas Não atividade, Insatisfação,
Evitamento e na escala Total apontam de certa maneira para resultados obtidos por
Hisasue et al (2005), que não encontraram nenhuma relação entre a satisfação sexual e a
idade. No entanto, como podemos verificar na maioria dos estudos analisados, e no
presente estudo, é notório que são as mulheres mais velhas que se sentem mais
insatisfeitas sexualmente (Haavio-Mannila & Kontula, 1997; Pechorro, 2006; Deeks &
McCabe, 2001; Fugl-Meyer e Sjögren Fugl-Meyer, 1999).
De acordo com o nosso estudo, nas mulheres, a satisfação sexual tende a diminuir
conforme a idade vai aumentando, e esta diminuição pode estar relacionada com à
ausência de um parceiro funcional (Vilarinho, 2010). Há medida que a mulher vai
envelhecendo, o seu corpo sofre alterações, o que despoleta na mulher uma mescla de
sentimentos negativos relativamente à apreciação que faz acerca de si próprias, do seu
corpo e da sua vida em geral (Andersen & Cyranowski, 1998), como também da
autoestima sexual, ou seja, a imagem que a mulher tem de si enquanto ser sexual parece
estar intimamente ligada à satisfação sexual (Hurlbert et al. & Offman, 2007). O que
poderá explicar, o facto de existir diferenças estatisticamente significativas
relativamente à subescala Não sensualidade, isto é, a mulher poderá perder o desejo de
tocar e ser tocada devido aos fatores mencionados.
Outro fator que pode estar intimamente ligado com a idade é a existência de
perturbações genitourinárias, que surgem, também, devido ao hipoestrogenismo que vai
aumentando à medida que a mulher vai envelhecendo e que despoleta uma série de
complicações a nível genital, como, por exemplo, o vaginismo, diminuição de
75
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
lubrificação, dispareunia, anorgasmia, entre outros, que fazem com que a mulher se
senta menos satisfeita sexualmente devido a estas complicações que surgem com a
idade (Bacelar-Antunes, 2005; Northrup, 2009; Silva et al., 2009).
O facto das mulheres mais velhas se sentirem mais insatisfeitas na subescala Não
Comunicação, poderá estar relacionado com falta de partilha da intimidade sexual com
o parceiro e por conseguinte serem mulheres com menor satisfação sexual, Anorgasmia,
Vaginismo e Não-Sensualidade, derivado às suas crenças disfuncionais nesta temática
(Vilarinho, 2010).
No que diz respeito ao quarto objetivo, analisar se existem diferenças entre as
mulheres com diferentes estados civis quanto à satisfação sexual, embora não haja
diferenças estatisticamente significativas nas subescalas Não atividade, Não
comunicação, Evitamento e Não sensualidade os principais resultados obtidos nas
subescalas Insatisfação, Anorgasmia, Vaginismo e no Total, mostram e apontam
diferenças estatisticamente significativas entre as mulheres com parceiro e as mulheres
sem parceiro (relembra-se no entanto que a informação sobre o estado civil não dá a
certeza absoluta sobre a existência ou não de parceiro), sendo que as primeiras
apresentaram níveis significativamente superiores de satisfação sexual. Estes resultados
vão ao encontro dos estudos que assinalam que as mulheres com parceiro sentem-se
mais satisfeitas sexualmente em caparação com as mulheres sem parceiro (Barrientos &
Páez, 2006; Ashdown et al, 2011).
Para entender a sexualidade no casal, é necessário ter em atenção três aspetos
importantes, que são: o grau de satisfação individual que cada indivíduo retira da
relação, o grau de satisfação que o casal usufrui/retira das relações sexuais e, por último,
a avaliação do funcionamento sexual (López & Fuertes, 1999).
Pechorro et al. (2009), por outro lado, acrescentam, duas dimensões: satisfação
sexual geral (relativa à satisfação da mulher com os tipos e frequência dos seus
comportamentos sexuais), e satisfação com o seu companheiro. Desta forma, a
satisfação engloba uma componente pessoal e uma componente interpessoal, e que
depende dos desejos da pessoa por determinados tipos e frequências de atividades
76
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
sexuais, e tipos e comportamentos de companheiros (Pechorro et al., 2009). De acordo
com a revisão bibliográfica realizada, verificamos, numa forma geral que a satisfação
sexual esta estritamente relacionada com a satisfação conjugal (Pechorro et al., 2009).
Portanto as mulheres que referem estar satisfeitas com os seus relacionamentos
conjugais também mencionam estar satisfeitas com os seus relacionamentos sexuais
(Delamater, 1991, citado por Pechorro et al., 2009).
As mulheres com insatisfação sexual mencionam que é devido à qualidade
emocional das interações sexuais, como: terem menos carinho, afeição e menos amor
(Delamater, 1991, citado por Pechorro et al., 2009). Desta forma, a mulher evidencia
maior satisfação sexual através da intimidade com o companheiro (e.g. os aspetos
emocionais e interpessoais da atividade sexual), mesmo que tal não inclua o prazer
orgásmico (Delamater, 1991, citado por Pechorro et al., 2009; Young, et al., 2000).
No entanto, nos 2 scores (Anorgasmia e Vaginismo) não foi encontrada literatura
neste sentido, em futuros estudos seria importante analisar estes valores.
Com o quinto objetivo pretendemos analisar se existem diferenças entre as
mulheres com diferentes níveis de escolaridade quanto à satisfação sexual. Verificamos
que existem diferenças estatisticamente significativas em todas as subescalas do
inventário de satisfação sexual, excepto na subescala Evitamento. Com o nosso estudo
observou-se que quanto maior o nível de escolaridade, mais elevados os valores de
satisfação sexual, tendência que tem vindo a ser sublinhada por diversos estudos
(Laumann et al., 1999; Barrientos & Páez, 2006; Vilarinho, 2010).
Este resultado pode estar relacionado com o facto das mulheres mais instruídas, de
modo geral, usufruírem, presumivelmente, de mais informação relativamente à sua
resposta sexual, possuírem mais recursos, quer em termos de Internet, quer através de
bibliografia, na medida em que apresentem dificuldades ou simplesmente procurem
incrementar a qualidade e riqueza das suas experiências sexuais (Laumann et al., 1999;
Rosen et al., 1993). Esta instrução acaba por libertar estas mulheres de crenças
disfuncionais em matéria de sexualidade (Catão, 2008), facilitando a comunicação entre
o casal e a partilha com o seu companheiro das vicissitudes da relação sexual.
77
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Em relação à subescala Evitamento, podemos referir que embora as mulheres mais
instruídas tenham mais informação, no entanto se evitam a relação sexual tal como as
mulheres menos instruídas talvez percecionem esta subescala em especifico da mesma
forma. Contudo, não foi encontrada literatura no sentido de reflectir sobre o porque de
não haver diferenças, neste sentido, em estudo futuros será importante explorar este
resultado. Contudo não foi encontrada literatura neste sentido, em estudo futuros será
importante explorar este resultado.
Relativamente ao sexto objetivo, analisamos se existem diferenças entre as
mulheres que tomam e as que não tomam medicamentos quanto à satisfação sexual.
Concluímos que são as mulheres que tomam medicamentos que estão mais insatisfeitas
ao nível sexual, relativamente às mulheres que não tomam medicação. Foram
encontradas protanto diferenças estatisticamente significativas nas subescalas: Não
comunicação, Insatisfação, Anorgasmia e Total. Relativamente à subescala Não
comunicação não foi encontrada literatura nesse sentido. Os resultados obtidos vão ao
encontro dos resultados anteriormente revistos por Allahdadi, Tostes e Webb (2009);
Michelson, Bancroft, Targum, Kim e Tepner, (2000); Redelman (2010); Michelson e
Bancroft, (2000) e Montgomery, Baldwin, e Riley (2002). À semelhança do estudo de
Catão (2008) verificamos que são as mulheres que não fazem medicação que tem maior
ausência de Vaginismo, quando comparadas com aquelas que fazem medicação
(embora a diferença não atinga a significância estatística) Verificamos, ainda, que são as
mulheres que não fazem medicação que apresentam maiores indicadores de orgasmo,
quando comparadas com aquelas que utilizam medicação, resultados que vão ao
encontro dos referidos no estudo de Catão (2008).
Alguns autores referem que existe medicação que, pelos seus efeitos secundários,
pode relacionar-se com problemas sexuais, como é o caso dos antidepressivos ou anti-hipertensores (Arrington et al., 2004, citado por Vilarinho, 2010; Croog et al., 1986,
citado por Vilarinho, 2010; Townsend, 2006, citado por Vilarinho, 2010). Outros
fármacos que podem interferir com a resposta sexual feminina são os inibidores
seletivos da recaptação da serotonina, antidepressivos heterocíclicos, agentes
bloqueadores de dopamina, anti hipertensores, narcóticos e sedativos hipnóticos
(Clayton & Shen, 1998; Hale et al., 2005; Taylor, Rudkin, & Hawton, 2005).
78
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
O sétimo objetivo propunha analisar se existem diferenças entre as mulheres em
diferentes fases do climatério quanto à satisfação sexual. Os resultados revelaram que
são as mulheres na fase da pós-menopausa em comparação com as mulheres na fase da
perimenopausa as que se encontram menos satisfeitas sexualmente, tal como outros
estudos assinalara (Mishra & Kuh, 2006; Barentsen et al., 2001). Foram encontradas
portanto diferenças estatisticamente significativas nas subescalas: Insatisfação,
Evitamento, Não Sensualidade, Amorgasmia, Vaginismo e total, contudo não se
encontraram diferenças estatisticamente significativas nas subescalas: Não comunicação
e Não atividade, no entanto, não foi encontrada literatura neste sentido, seria importante
explorar em futuros estudos. À semelhança do estudo de Catão (2008), o presente
estudo mostrou que a ausência de Vaginismo é mais evidente nas mulheres da
perimenopausa do que naquelas que se encontram na pós-menopausa.
Mishra e Kuh (2006) referem que a mulher que se encontra na fase de pósmenopausa apresenta um declínio na satisfação sexual, que pode ser consequência de
sintomatologia psicológica (e.g., consumo de tabaco e vida percecionada como
stressante), bem como sintomas somáticos, suores frios e secura vaginal.
Para Dundon e Rellini (2010) os sintomas menopáusicos são muito importantes,
juntamente com o bem-estar psicológico, enquanto preditores da satisfação sexual, nesta
fase do climatério.
Outro fator que pode ser justificativo deste resultado poderá ter a ver com o facto de
a mulher nesta fase percecionar algumas expectativas negativas referentes a esta fase do
seu ciclo de vida (Hayslip & Panek, 1993, citado por Catão, 2007), ou ainda devido às
perturbações neurovegetativas (calores) e às perturbações genitourinárias (BacelarAntunhes, 2005).
Na fase pós-menopausa, as mulheres apresentam queixas como a dispareunia,
diminuição da lubrificação, ardência pós-coital, anorgasmia, vaginismo (BacelarAntunes, 2005). Referem, também, a existência de uma diminuição do prazer sexual e
até mesmo a ocorrência de uma impossibilidade da sua realização (Bacelar-Antunes,
2005). Todas estas queixas culminam em relações sexuais difíceis e dolorosas e a
79
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
mulher perante esta eventualidade inibe-se pelo facto de não retirar satisfação nas suas
práticas sexuais (Bacelar-Antunes, 2005).
No que concerne ao oitavo objetivo pretendemos analisar se existem diferenças
entre as mulheres em diferentes fases do climatério quanto à QDV. Os resultados
demonstraram que são as mulheres na fase da perimenopausa aquelas que tinham
melhor QDV, o que acaba por ir ao encontro dos estudos realizados por Nisar e Sohoo
(2010), que evidenciara que são as mulheres na pós-menopausa que apresentam valores
inferiores de QDV, nos domínios Físico, Psicológico, Relações Sociais e Ambiental
relativamente às mulheres na perimenopausa, no presente estudo só se verificou
diferenças estatisticamente significativas no domínio físico e domínio de relações
sociais. Ou seja, embora nos outros domínios não se apresentem resultados
estatisticamente significativos, o domínio físico e domínio de relações sociais apontam
para q que as mulheres na fase da perimenopausa são as que têm melhor qualidade de
vida.
Um estudo de Moilanen, Aalto, Raitanen, Hemminki, Aro e Luoto (2012) não
corrobora o que foi mencionado anteriormente, salientando que a melhoria da QDV está
relacionada com a atividade física, peso estável e com níveis de escolaridade mais
elevados, mas não com as mudanças das diferentes fases do climatério.
Para Nisar e Sohoo (2010), a diminuição da qualidade de vida à medida que a
mulher vai envelhecendo está relacionada não só com os sintomas menopáusicos desta
fase (e.g., afrontamentos, insónias, atrofia genitourinária), mas também com o
envelhecimento, com a frequência cada vez maior de doenças crónicas, como também o
isolamento social, todos estes fatores poderão ter um impacto negativo na QDV da
mulher no climatério (Blake, 2006; Bacelar-Antunes, 2005; Chaby, 2005; Stearns et al.,
2002).
De Lorenzi et al. (2005) acrescentam alguns condicionamentos que poderão estar
associados à QDV da mulher no climatérico, como, por exemplo, a condição física e
emocional, a inserção social, a influência das atitudes, experiências frente a eventos
vitais e a perceção que a mulher tem relativamente à menopausa na QDV. Favarato e
80
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Aldrighi (2001) acrescentam a doença coronariopatia, que interfere na QDV, limitando
o desempenho das atividades da vida diária, capacidades físicas e intensificando as
dificuldades emocionais comuns em mulheres pós-menopáusicas.
É importante referir que, para haver uma melhoria da QDV na fase pós-menopausa,
é necessário dar importância a um estilo de vida saudável, à condição de saúde e bemestar, sentir-se bem com o seu “self” e com a vida, isto é, saber gerir as realizações e
frustrações, enfrentar as dificuldades e manter-se emocionalmente equilibrada para
promover um equilíbrio emocional e garantir a QDV (Freitas, Silva, & Silva, 2004).
É necessário ter em atenção o facto de o número de participantes na fase
perimenopausa ser muito superior ao número de participantes na fase pós-menopausa, o
que nos sugere prudência na interpretação destes resultados.
Por fim, verificar se existe relação entre a QDV e a satisfação sexual em mulheres
no climatério constituiu-se o nono objetivo deste estudo. Os resultados a este nível
revelam que quanto melhor for a QDV maior será a satisfação sexual das mulheres no
climatério. Os resultados obtidos vão ao encontro de estudo realizados por Basson
(2006), citado por Brito & Makiama (2008), Silva (2008); Pais-Ribeiro e Raimundo
(2005), Senra (2012), Bertan e Castro (2010) e Vilarinho (2010).
De facto existem fatores que estão diretamente ou indiretamente relacionados com
estas duas variáveis, são eles: a reposição hormonal, aspetos psicossociais, afetividade e
a satisfação conjugal (Brito & Makiama, 2008).
Cabra et al., (2012), mencionam por exemplo, que os sintomas climatérios
influenciam a QDV das mulheres, sendo a satisfação sexual um marcador indispensável
do bem-estar feminino, ao afetar a sexualidade, está comitantemente a comprometer a
QDV das mulheres.
Bertan e Castro (2010) vão ao encontro dos resultados da nossa investigação e
referem que a satisfação sexual é um aspeto importante da vida do indivíduo que deve
ser considerada quando se avalia a sua QDV (Bertan & Castro, 2010).
81
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Na revisão da literatura verificamos alguns condicionamentos como, incontinência
urinária, doença arterial coronária, até mesmo o cancro, que poderão estar associados à
baixa QDV e consequentemente poderão ter impacto negativo na satisfação sexual
(Pais-Ribeiro & Raimundo, 2005; Silva, 2008; Bertan & Castro, 2010; Souza, 2010;
Senra,2012). São alguns fatores que poderão estar na base da relação entre estas duas
variáveis.
82
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Conclusão
O climatério pode ser interpretado como um processo de transformações físicas e
emocionais. Esta fase na vida da mulher é influenciada por múltiplos fatores: a cultura,
os costumes, o ambiente onde está inserida e também pela sua história de vida pessoal e
familiar e por particularidades pessoais e pelo psiquismo (Freitas, Silva, & Silva, 2004).
Contudo, é um conjunto de construções/ representações sociais sobre a capacidade
reprodutiva, a menstruação, a fertilidade, a sexualidade e o envelhecimento que
influenciam a vivência do climatério e não somente as características do próprio
acontecimento (Pelcastre-Villafuerte, Garrido-Latorre, & Léon-Reyes, 2001).
O presente estudo teve como objetivo avaliar a satisfação sexual e a QDV da mulher
no climatério.
Relativamente aos objetivos inicialmente propostos e que orientaram a presente
investigação, pensamos que foram atingidos, na medida em que ficou clara a relação
entre as variáveis satisfação sexual e QDV, bem como as variações destes dois
construtos em função de variáveis como a idade, estado civil, escolaridade, fases do
climatério e medicação.
Podemos referir, de uma forma geral, que foram encontrados os seguintes
resultados:

No geral, as mulheres no climatério consideravam possuir uma QDV moderada,
sendo os domínios relações Sociais e Psicológico os mais pontuados/ “melhores”;

As mulheres, no geral, sentiam-se satisfeitas sexualmente, tendo pontuações
mais elevadas nas subescalas Não comunicação e Não atividade;

As mulheres mais velhas, dos 49 aos 64, apresentaram-se mais insatisfeitas
sexualmente, relativamente ao grupo das mulheres, dos 40 aos 48 anos;

As mulheres com parceiro evidenciaram estar mais satisfeitas sexualmente,
comparativamente com as mulheres sem parceiro;

As mulheres com níveis de escolaridade mais altos sentiam-se mais satisfeitas
sexualmente, em comparação com as mulheres menos instruídas;
83
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério

As mulheres que tomavam medicamentos referiram sentir-se mais insatisfeitas
sexualmente, relativamente às mulheres que não tomavam medicação.

As mulheres na pós-menopausa, em comparação com as mulheres na fase da
perimenopausa encontravam-se menos satisfeitas sexualmente.

Eram as mulheres na fase da perimenopausa aquelas que tinham melhor QDV,
em caparação com as mulheres na pós-menopausa;

Concluímos ainda que, quanto melhor QDV maior a satisfação sexual das
mulheres no climatério.
Os principais resultados desta investigação, realizada a partir de uma amostra de 100
participantes, apoiaram, em geral, as predições deste estudo e mostraram-se consistentes
com as pesquisas previamente elaboradas nesta área. Além disso, permitiram observar a
associação entre as variáveis QDV e satisfação sexual, indicando que quanto melhor for
a QDV, maior será a satisfação sexual.
Não obstante, após a reflexão sobre estes resultados e a análise dos resultados
encontrados na literatura, pode-se utilizar esta informação a nível preventivo, uma vez
que na administração dos questionários verificou-se que as mulheres encontravam-se
pouco informadas relativamente às fases do climatério. Deste modo seria pertinente,
através de uma psicoeducação, realizada nas consultas de especialidade, por panfletos,
ou até mesmo ações de formação esclarecer/informar, preparar e apoiar, quer
psicologicamente, quer fisicamente, as mulheres para esta nova etapa de vida e
efetivamente, por conseguinte explorar formas alternativas de promover a sua QDV.
Assim sendo, era importante uma abordagem multidisciplinar (e.g., médicos
ginecologistas, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, entre outros) para a criação de
programas de intervenção na saúde, envolvendo a mulher em consultas de terapia
individual ou em grupo, terapia de casal ou familiar.
Consideramos que, no presente estudo, subsistem algumas limitações, sobre as quais
pensamos ser importante refletir, na medida em que a tomada de consciência das
mesmas serve de ponto de partida para novas e futuras investigações neste campo de
investigação.
84
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Uma das limitações deste estudo refere-se ao tamanho reduzido da amostra, bem
como a sua heterogeneidade, impossibilitando as generalizações. Seria pertinente em
futuros estudos a amplificação da amostra, bem como uma amostra/grupos mais
homogéneos no que concerne à idade; estado civil; fases da menopausa, visando a
criação de planos de intervenção junto das mulheres no climatério.
A natureza transversal desta investigação impõe que as conclusões retiradas sobre a
QDV e a satisfação sexual na mulher no climatério sejam compreendidas no seu
contexto estatístico limitado. A realização de um estudo longitudinal permitiria
acompanhar as mulheres antes de entrarem na pré-menopausa até à pós-menopausa para
verificar qual a relação entre as variáveis mencionadas ao longo do estudo.
O fato do protocolo ser de autoadministração, pode indicar uma determinada
vulnerabilidade a enviesamentos, como, por exemplo, a resposta ao acaso (e.g., escolher
sempre a alternativa central, ou os dois extremos alternadamente), ou a tendência central
(e.g., utilização da alternativa central) (Morreira, 2004). Estes dois estilos de resposta
poderiam acontecer maioritariamente no inventário de satisfação sexual, uma vez que
algumas questões são de difícil compreensão e ambíguas.
Para ir de encontro a um dos objetivos do presente estudo foi necessário recorrer a
testes não paramétricos, devido à existência de uma grande diferença no número de
sujeitos dos grupos estado civil. A utilização destes testes é uma desvantagem, pois não
encontram tantas diferenças entre os dados, quando realmente existem. Para usarmos os
testes paramétricos era necessário aumentar o número de participantes nos restantes
grupos.
Depois de explorada esta temática surgem novas ideias que poderiam ser úteis para
futuras investigações. Seria então pertinente explorar outras variáveis importantes, e que
segundo a literatura se encontram relacionados com a satisfação sexual e a QDV,
destacando-se a religião; sintomas menopáusicos; meio de residência; doenças;
atividade física, auto-estima, qualidade do relacionamento conjugal, bem como o
funcionamento sexual dos cônjuges.
85
Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério
Outra sugestão refere-se à análise da relação entre as variáveis sociodemográficas e
a QDV, uma vez que relativamente a este grupo “etário” os estudos podem ser escassos.
A realização desta investigação foi muito gratificante, nomeadamente derivado do
facto desta temática ser, tanto quanto possível aupurar, pouco abordada nas
investigações em Portugal, o que acaba por constituir um aspeto inovador e
diferenciador. Contudo, devido a este aspeto foi um desafio a realização desta
investigação devido à escassez de bibliografia que envolvesse a QDV e a satisfação
sexual, que exigiu da nossa parte empenho e dedicação relativamente à exploração desta
temática, que por si só contribui de forma positiva para o enriquecimento académico e
pessoal.
Deste modo, parece-nos evidente a necessidade de se fazer mais investigação nesta
área, de forma a que os resultados obtidos ajudem na adaptação da mulher nesta fase de
desenvolvimento, na promoção de uma vida sexualmente satisfatória e com
repercussões na (boa) QDV.
86
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em 9 de Janeiro de 2013.
108
ANEXOS
Anexo A – Sintomas Menopáusicos
Quadro 2 – Sintomas Menopáusicos (N=100)
Variáveis
n
Principais sintomas menopáusicos
%
Afrontamentos
Sim
38
38,0
Não
62
62,0
Alterações de Humor
Sim
52
52,0
Não
48
48,0
Sim
2
2,0
Não
98
98,0
Sim
40
40,0
Não
60
60,0
Sim
27
27,0
Não
73
73,0
Sim
32
32,0
Não
68
68,0
Alterações de Pele
Aumento de Peso
Cessão completa da menstruação
Depressão
Quadro 2 – Sintomas Menopáusicos (N=100) (Continuação)
Variáveis
n
Dificuldades de Concentração
%
Sim
24
24,0
Não
75
75,0
Sim
28
28,0
Não
72
72,0
Diminuição dos níveis de energia
Dificuldade nas relações sexuais (secura e prurido sexual)
Sim
26
26,0
Não
74
74,0
Sim
40
40,0
Não
60
60,0
Sim
40
40,0
Não
60
60,0
Dores de cabeça
Insónias
Irritabilidade
Sim
38
38,0
Não
62
62,0
Sim
29
29,0
Não
71
71,0
Menstruação irregular
Quadro 2 - Sintomas Menopáusicos (N=100) (Continuação)
Variáveis
n
%
Modificação dos Hábitos Sexuais
Sim
17
17,0
Não
83
83,0
Sim
19
19,0
Não
81
81,0
Sim
20
20,0
Não
80
80,0
Perda de Memória
Seios Sensíveis e inchados
Anexo B – Quadro de Doenças
Quadro 2 – Doenças (N=100)
Variáveis
Doenças quais
Anemia
Ansiedade
Artroses
Asma
Bronquite
Cancro no colo do útero
Colesterol
Depressão/Coluna
Depressão
Depressão/
Lombalgia/Cervicalgia/Hipertiroidismo
n
%
1
2
1
1
1
1
1
1
4
1
1,0
2,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
4,0
1,0
1
1,0
1
1,0
Depressão/Epilepsia/ Tiroide
Diabete/doença das articulações
1
1
1,0
1,0
Diabetes
Diabetes/ Hipertensão
Doença psiquiátrica
Dores nos ossos
Esclerodermia
Gastrite/hipertensão/Hérnia Lombar
3
1
1
1
1
1
3,0
1,0
1,0
1,0
1,0
1,0
Hematoma na medula do joelho
1
1,0
Hipertensão
Hipertensão/colesterol/Insónia
2
1
2,0
1,0
Hipotiroidismo/hipertensão
Lúpus
Problemas na coluna/Dores de cabeça
1
2
1
1,0
2,0
1,0
Quistos nos ovários/ Reumatismo
1
1,0
Depressão/ Problemas de coluna/Úlcera
nervosa
Depressão/Ansiedade/tendinite
Anexo C - Quadro de Medicação
Quadro 2 – Medicação (N=100)
Variáveis
n
%
Sim
13
13.0
Não
87
87.0
Sim
5
5.0
Não
95
95.0
Sim
2
2.0
Não
98
98.0
Sim
2
2.0
Não
98
98.0
Sim
9
9.0
Não
91
91.0
Sim
1
1.0
Não
99
99.0
Sim
7
7.0
Não
93
93.0
Antidepressivo
Antidislipiémicos
Antidiabéticos
Analgésicos
Ansiolíticos
Antiarrítmicos
Antihipertensores
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Satisfação Sexual e Qualidade de Vida da Mulher no Climatério