Fundação Getulio Vargas
22/05/2012
Diário do Comércio Online - MG
Tópico: CPS
Editoria: Negócios
Pg: 22:42:00
Nova classe média "nas nuvens"
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Rio - A Gol, segunda maior companhia aérea brasileira, delineou em pesquisa inédita o
perfil da clientela incorporada ao longo dos últimos oito anos com a ascensão da classe
C, que já representa 12,5% de sua carteira total, ou cerca de 4,3 milhões de
passageiros. Uma das principais conclusões é que a viagem aérea, que inicialmente
parecia ser uma experiência isolada, está se firmando como hábito para boa parte dos
novos usuários: 37% deles já embarcam num avião pelo menos uma vez por ano.
O novo conjunto de clientes é formado por pessoas que saem principalmente de São
Paulo e do Rio de Janeiro em direção ao Nordeste. Mas a rota internacional começa a
aparecer nas estatísticas, em uma linha em direção a Buenos Aires. Visitar a família é o
motivo principal das viagens.
Com esse objetivo, a atendente de restaurante Leidiane Cristina de Castro, de 32 anos,
vai embarcar para São Luís, no Maranhão, nas férias de julho. O bilhete foi comprado na
última sexta-feira, cerca de dois meses antes da viagem, no quiosque da Gol instalado
na Central do Brasil, estação onde chegam os trens vindos da Baixada Fluminense.
Há três anos no Rio, Leidiane de Castro nota que o preço das passagens ficou mais em
conta de lá para cá. "Quando vim, paguei R$ 397 só por um trecho. Agora, a ida e a volta
saíram por R$ 435."
A chamada "nova classe média" deve continuar na mira das companhias nos próximos
anos. Hoje, esse grupo já representa 55% da população brasileira e deve chegar a 60%,
ou 118 milhões de pessoas, até 2014, calcula o professor Marcelo Néri, da Fundação
Getulio Vargas (FGV).
De acordo com ele, esse público já é dominante em termos de poder de compra: detém
46% da renda nacional, ante 44% das classes A e B juntas. Além disso, o hábito de voar
deve ser mantido. "As pessoas tendem a manter suas conquistas, mesmo que tenham
de se endividar, poupar o ano todo ou pedir adiantamento de férias para pegar seu voo."
Sem saudades. A lembrança dos três dias em um ônibus cruzando seis estados até o
destino final, na primeira vez em que veio ao Rio, na infância, não traz saudades a Maria
das Graças da Silva, 27 anos. Há dois anos e meio, ela decidiu trocar de vez a pequena
Bananeiras, no interior da Paraíba, pela favela da Rocinha, mas veio de avião. Com a
mudança de cidade, ela aboliu as viagens de longa distância de ônibus.
Embora o próximo voo de Maria da Silva esteja marcado para dezembro, ela quer
comprar o bilhete até agosto. Funcionária de uma padaria, ela vai para a Paraíba com
familiares para o casamento do irmão. Atentos à melhor época para comprar os bilhetes,
os novos passageiros que viajam sozinhos (o equivalente a 60%) costumam fazer suas
reservas de 11 a 21 dias antes da partida, em média. Quando estão em grupo, a média
sobe para entre 29 e 60 dias.
Foi também de João Pessoa, capital que mais emite viajantes da classe C para o Rio,
segundo a Gol, que veio Leandra Fernandes, atendente em uma loja, distante alguns
quilômetros da padaria em que trabalha Maria. Desde 2010, quando se mudou para a
Rocinha, ela tem voado todos os anos. Na próxima viagem, em julho, vai visitar a mãe
em Guarabira, também no interior da Paraíba.
Dessa vez, ela vai levar a colega de trabalho Mirlene Silva de Sousa, de 33 anos, que
nunca entrou em um avião. Além de conhecer a cidade natal da amiga, Mirlene quer ir a
outros destinos no Nordeste durante a viagem de mais de 30 dias. "Quero aproveitar",
diz Mirlene de Sousa, que vai com os dois filhos para o Recife.
Ela pagou R$ 900 pelos bilhetes, comprados na RC Viagens, uma agência de turismo na
Rocinha, que vende até no carnê. A atendente preferiu, porém, parcelar a compra em
seis vezes no cartão de crédito.
Com dúvidas e medo de voar, os passageiros de primeira viagem que Antônio Costa,
dono da agência, costuma receber dizem preferir comprar os bilhetes pessoalmente a
adquiri-los via internet.
"Eles se sentem mais seguros vindo aqui." Essa característica foi identificada pelo estudo
da Gol, que faz a maior parte de suas vendas para a classe C em suas lojas,
especialmente nos quiosques como o da Estação da Sé, em São Paulo.
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