Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 43 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social R e s u m o Vera Lúcia Alves França* Maria Elisa da Cruz** E ste artigo tem como objetivo apresentar um breve relato das atividades desenvolvidas pelo Projeto Social para a Unidade de Assentamento Subnormal – Coroa do Meio, do Programa Moradia Cidadã, da Prefeitura Municipal de Aracaju, financiado pelo Programa Habitar Brasil/BID, através da CAIXA. O Trabalho Social tem sido desenvolvido pela Universidade Federal de Sergipe, através da FAPESE, desde 2002 e envolve ações ligadas a Participação Comunitária e de Recuperação Ambiental. Dentre estas atividades destacam-se o Plantão Social e o Acompanhamento às famílias que estão sendo relocadas, além das de Educação Ambiental que dão grande visibilidade e credibilidade ao projeto. Após três anos de atuação, já se observam mudanças que envolvem a melhoria da qualidade de vida no bairro, embora ainda exista muita coisa a ser realizada, tendo em vista que apenas 38% das famílias foram atendidas e as obras ainda estão em andamento. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão Social; Políticas Públicas; Habitação. * Professora Doutora do departamento de Geografia da Univesidade Federal de Sergipe ** Professora Mestre aposentada do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe 44 Vera Lúcia Alves França; Maria Elisa da Cruz INTRODUÇÃO E ste artigo apresenta de forma sucinta um relato das atividades desenvolvidas pelo Projeto Social para a Unidade de Assentamento Subnormal – Coroa do Meio, do Programa Moradia Cidadã, da Prefeitura Municipal de Aracaju, financiado pelo Programa Habitar Brasil/BID, através da CAIXA. O Trabalho Social tem sido desenvolvido pela Universidade Federal de Sergipe, através da FAPESE, desde 2002. A Coroa do Meio é um bairro criado pela Prefeitura Municipal de Aracaju, na década de setenta, que ocupou uma área de fragilidade ambiental, composta por restinga, lagoas, riachos e manguezais, cedida pela União. O processo de ocupação da área foi controverso, desabrigando algumas famílias lá residentes que passaram a ocupar a etapa 4, não urbanizada. O projeto da formação do Bairro Coroa do Meio “foi implantado numa área cuja ocupação era apenas de pescadores, muitos dos quais migrantes, notadamente da região do Baixo São Francisco, que trabalhavam em Aracaju e faziam daquele local o seu espaço residencial, de lazer e de complementação de renda, com a captura de caranguejo, moluscos e peixes, muitas vezes vendidos em barracos na praia de Atalaia” (Silviano, 1984, p.33). Ao longo dos anos, a ocupação se acentuou, atingindo desde a rua José Steremberg, no Bairro Atalaia, até as ruas Urbano Neto, no sentido Norte e Aloísio de Campos, ao leste. Assim, a ocupação subnormal da Coroa do Meio “é hoje, no caldeirão do problema urbano de Aracaju, aquele que talvez tem possibilitado mais questionamentos e discussões. Se parcialmente está incorporada às estruturas internas da cidade, em si ainda padece os efeitos de uma concepção caótica, não superada ao longo da sua trajetória” (PMA/SEPLAN, 2001, 43). Diante desta situação a Prefeitura Municipal decide executar um projeto ambicioso de Reurbanização da área da ocupação subnormal, isto é a etapa 4. A concepção do projeto traz no seu bojo novos paradigmas em que se estabelecem as idéias de totalidade e de participação comunitária numa visão de governança urbana e construção da cidadania. O projeto visa executar a urbanização da área de forma integrada, com intervenções físicas e sociais, aprovadas pelos agentes desse programa e pela população beneficiada, de modo a proporcionar uma significativa mudança na área, no sentido da melhoria nas condições de vida da população, tendo em vista a preservação ambiental, o atendimento de necessidades mínimas dos moradores e a sustentabilidade do projeto. As ações previstas incluem a erradicação de 600 habitações subnormais e a construção de igual número de habitações; a abertura de uma via de contenção ao longo da Maré do Apicum, indo desde a rua José Steremberg, na conexão com a Avenida Rotary, até a rua Urbano Neto; a ampliação de equipamentos públicos (escola, centro de saúde e creche); construção de um Centro de Referência em Educação Ambiental (Museu do Mangue), um ponto de apoio para os pescadores e de uma nova escola; pavimentação e drenagem das ruas; rede de esgotamento sanitário além da regularização fundiária, dentre outras. Ao longo desses trinta e seis meses de atividades o Projeto Social desenvolveu ações voltadas para o atendimento dos objetivos estabelecidos, enfrentando as dificuldades pertinentes às ações de interferência numa área densamente ocupada e de intensos conflitos sociais e políticos. Além disso, há que se destacar o retardo para o início das obras (cerca de oito meses), tendo em vista a necessidade de revisão do projeto técnico, assim como a liberação dos recursos do financiamento. Enquanto isso, a equipe social foi a grande responsável pela presença na área, no sentido de articular a comunidade para o processo de adesão e o recadastramento das moradias e das famílias. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social Nessa fase, coube a equipe social o árduo trabalho de amenizar os ânimos da população que demonstrava, mais uma vez, a descrença na consecução de um projeto que, por diversas vezes, tinha sido veiculado pelo poder público e não tinha se realizado. A partir de um trabalho comprometido e eficiente a equipe social ganhou credibilidade junto à comunidade, sendo intensificada após o início das obras e, sobretudo, com a entrega das 24 primeiras casas, em janeiro de 2004. 1. O PROJETO SOCIAL Ao longo do desenvolvimento das atividades a equipe procurou pautar suas ações no sentido de atender aos objetivos propostos no projeto e descritos a seguir (PMA/SEPLAN, 2001, p. 84): 45 de moradores para acompanharem o desenvolvimento do projeto e das obras; - Fortalecer os fóruns de debate e de participação da comunidade visando decisões referentes às intervenções ambientais, urbanísticas e sócioeconômicas; - Incentivar a participação da comunidade desde a etapa do planejamento, passando pelas de execução, acompanhamento e avaliação garantindo o exercício do processo de decisão democrática; - Capacitar as lideranças e grupos representativos já existentes; - Ampliar a incorporação de novos representantes nos grupos já formados buscando uma capacitação permanente durante todo o desenvolvimento do trabalho; Objetivo geral: “Elevar o padrão da qualidade de vida da população alvo, propiciando aporte técnico-social no processo de implantação de uma infra-estrutura urbana, regularização fundiária e recuperação ambiental e intervir fundamentalmente no processo educativo para a modificação de hábitos, atitudes e costumes, assegurando participação comunitária em todas as etapas de desenvolvimento do projeto ampliando o exercício da cidadania”. Objetivos Específicos - “Mobilizar os moradores para a participação através de mecanismos de comunicação e divulgação dos fins e das ações a serem empreendidas na área; - Criar estímulos para uma mobilização permanente a partir da estruturação de uma comissão - Estimular a busca de parcerias e de integração de ações; - Promover atividades educativas para a preservação ambiental e dos espaços reorganizados, garantindo o nível de qualidade de vida conquistado; - Promover condições de acesso aos programas e serviços desenvolvidos pelo poder público municipal como exercício de apropriação de um direito devido ao cidadão; - Criar condições de acesso às oportunidades de capacitação e de geração de ocupação e renda aos moradores desempregados ou de baixa renda privilegiando os segmentos mais vulneráveis – jovens e mulheres chefes de família; - Proporcionar discussões sobre as formas de trabalho alternativo, junto ao segmento dos pescadores da UAS Coroa do Meio. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 46 Vera Lúcia Alves França; Maria Elisa da Cruz - Oferecer assistência ao segmento da terceira idade através de um trabalho reflexivo, propondo ações concretas para o atendimento de suas necessidades mais prementes; - Fortalecer as ações empreendidas pela creche e pré-escola do bairro no sentido da qualidade do atendimento; - Estabelecer mecanismos de integração de todos os envolvidos no processo tanto órgãos, secretarias, Ongs, associação de moradores e outras; - Mitigar a incidência de doenças decorrentes das precárias condições sanitárias e pelo ambiente insalubre; - Implementar os programas de alfabetização de adultos existentes na área; - Prestar atendimento aos portadores de necessidades especiais visando a sua inclusão social; - Desenvolver projetos de capacitação voltados para assegurar a geração de ocupação e renda aos adolescentes em situação de vulnerabilidade social“. 1.1 Trabalho de participação comunitária O trabalho de participação comunitária tem como princípio metodológico à organização e a participação da comunidade, no sentido de proporcionar a inclusão do cidadão no contexto urbano, ampliando seu conceito de cidadania e oportunizando moradia de melhor qualidade. Portanto, a metodologia de trabalho tem como princípio prioritário à ação de parceria e reciprocidade entre o Município e os Movimentos Sociais Urbanos estabelecendo canais de comunicação que permitem a apropriação de informações, apresentação de sugestões e demandas, bem como avaliação durante o seu desenvolvimento. A implantação do Projeto de Participação Comunitária vem obedecendo aos quatro eixos definidos a saber: mobilização, organização, geração de trabalho e renda, educação sanitária e ambiental sendo executada através da articulação de diversas secretarias e órgãos municipais, coordenadas pela SEPLAN, contando ainda com parcerias da esfera pública e privada a exemplo da SEMED, SMS, SEMASC, Sociedade SEMEAR, PETROBRAS, EMURB, ENSURB, Centro de Cultura Espírita, TORRE, Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, entre outros. Além disso, ainda são desenvolvidas ações de Recuperação do Manguezal e de Monitoramento da água. As ações previstas neste projeto de Trabalho de Participação Comunitária são: - Definição do escopo e discussão dos projetos de intervenção com a comunidade – Os trabalhos se iniciaram com a apresentação junto à comunidade dos projetos de intervenção, suas etapas e detalhamentos possibilitando a inserção de sugestões por parte dos comunitários, que dependendo da viabilidade técnica e financeira, foram incorporadas ao projeto executivo. A proposta final foi submetida à aprovação da comunidade, sendo construídos os pactos urbanos, ambiental e social. - Mobilização para o processo de adesão ao projeto – esta etapa foi iniciada a partir da implantação do plantão social e desenvolvida através de assembléia, reuniões e visitas domiciliares, nas quais foram explicadas a importância e a condição para a efetivação do projeto de que houvesse a adesão de 80% da comunidade, sendo que foi alcançado o índice de 84%, superando a meta exigida pelos órgãos financiadores. - Articulação com as ações da Secretaria Extraordinária de Participação Popular – esta articulação foi realizada tendo em vista a característica de Projeto Integrado e da sua atuação na área e a participação dos comunitários nas assembléias do Orçamento Participativo. De fato, Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social é um novo momento na Administração Municipal que se propõe a uma nova forma de governança urbana, no atendimento às exigências do artigo 44 do Estatuto da Cidade. - Implantação e acompanhamento do processo de regularização fundiária – Esta ação ainda está incipiente tendo sido prevista para o ano em curso. Mesmo assim, no Plantão Social são fornecidas informações para os moradores. Esse processo culminará com a entrega dos títulos aos comunitários das habitações recém construídas e das preexistentes que estão dentro da área do projeto. - Acompanhamento do processo de retirada das ocupações que obstruem o sistema viário – Esta ações vem se dando através de reuniões com os moradores envolvidos para esclarecimentos sobre o novo ordenamento e solução do sistema viário da Coroa do Meio. Também, tem sido feitas reuniões para avaliação técnica de cada caso além de visitas domiciliares para esclarecimentos sobre a retirada das ocupações para correção e / ou complementação da malha viária. - Suporte às Obras – Esta ação vem se dando através de visitas periódicas para observação da qualidade do serviço executado e o cumprimento de prazos propostos pelo projeto de engenharia, além da vistoria completa ao término de cada etapa e quando solicitada pelos moradores. Já foram entregues 226 casas, totalizando 38% das famílias a serem beneficiadas. Além disso, já estão contempladas mais setenta e uma famílias que estão residindo em casa de aluguel, tendo em vista a necessidade de remoção das palafitas e desobstrução das áreas para a implantação da via de contenção e para o aterro a fim de criar espaço para construção de novas moradias. A entrega das novas casas está prevista para o final do mês de março. Outras obras já foram concluídas como a ampliação da Escola Professor José Nunes Mendonça, da Creche e do Centro de Saúde Dr. Hugo Gurgel e da maior 47 parte da via de contenção. As obras de drenagem já estão sendo realizadas, para posteriormente se efetivar a pavimentação das ruas. - Acompanhamento das remoções para as unidades habitacionais construídas – esta ação vem se efetivando através da parceria com a EMURB e as empresas construtoras (TORRE e COGEFE) e contatos diretos (visitas domiciliares e reuniões) com as famílias envolvidas para discutir a relocação para as novas unidades habitacionais. Nesta fase foram realizados cursos, oficinas, palestras com a finalidade de promover mudanças de hábitos por parte da família, no sentido de alcançar novos níveis de qualidade de vida e de cidadania. Atenção especial tem sido dada para a questão da água e energia tendo em vista os problemas que vem ocorrendo com as contas das famílias que já mudaram. - Acompanhamento do pós morar – Após a mudança para a nova moradia à equipe vem realizando visitas e reuniões visando à integração das famílias, a aquisição de hábitos condizentes com o novo morar, o zelo pela nova unidade habitacional bem como pelos espaços comunitários novos e os pré-existentes. - Esse acompanhamento deverá se realizar durante os 12 meses após a conclusão das obras a fim de que se consolide a sustentabilidade do projeto. - Assessoria às organizações comunitárias e Capacitação de Líderes Comunitários e/ou grupos representativos – Através de Cursos, Seminários e Oficinas tem sido feito o atendimento das necessidades e interesses das organizações existentes na área como associações de moradores, igrejas, grupos esportivos, culturais, associações de mulheres, idosos, entre outras. Além disso, foram ofertados cursos para lideranças das organizações comunitárias a exemplo de Relações Humanas, Elaboração de Projetos Comunitários, Participação Comunitária: Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 48 Vera Lúcia Alves França; Maria Elisa da Cruz Limites e Possibilidades, Educação Sanitária e Ambiental, entre outros. Essa assessoria tem auxiliado no direcionamento das necessidades e disponibilidades das organizações visando à integração de ações e a racionalização dos recursos existentes. Todas estas atividades tem como suporte o Plantão Social que tem mostrado grande eficácia, pois as famílias têm contato direto com as assistentes sociais que acompanham e orientam para a solução dos problemas, dirimindo dúvidas, apaziguando ânimos e auxiliando na construção da cidadania. A Tabela 1 mostra uma síntese dos principais atendimentos realizados ao longo do período de atuação do projeto. volvido em parceria com a SEMED e a SEPLAN. No segundo semestre de 004, na primeira semana de agosto, se iniciou novo Curso de Alfabetização para mais duas turmas, envolvendo 50 alunos, dentro do Programa BRASIL ALFABETIZADO. As aulas se realizam no Centro de Referência da Família, no próprio bairro e são acompanhadas pelas assistentes sociais. 1.3. Educação sanitária e ambiental O Programa de Educação Sanitária e Ambiental tem como objetivo promover a mudança de hábitos e atitudes, visando a sustentabilidade ambiental e. conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Além disso, visa à formação de agentes multiplicadores que disseminem as informações recebidas junto aos comunitários, nas suas diversas instâncias. 1.2. Geração de ocupação e renda Este vetor tem relação com a sustentabilidade do Projeto, com a qualificação da mão de obra local, viabilizando a possibilidade de inserção no mercado de trabalho ou do desenvolvimento de atividades autônomas. Já foram ofertados vários cursos, dentre eles os de construção civil, garçom, camareira, informática, telemarketing, atendimento ao cliente, técnicas de vendas, Ceia Natalina, cabeleireiro, manicura, culinária regional, Limpeza e desinfecção de Reservatório Domiciliar de Água, entre outros, sendo para isso, estabelecidas parcerias entre a FUMDAT, SENAI, Associações Comunitárias e outras entidades. Outra ação que tem sido incrementada é a implantação pelos financiadores do Estado, do microcrédito a fim de viabilizar pequenos empreendimentos dos comunitários. A participação de associações comunitárias tem facilitado o desenvolvimento dos cursos, embora ainda se observe a necessidade de oferta de cursos para pessoas de baixo nível de escolaridade. Para resolver o problema do analfabetismo já foram realizados cursos para 2 turmas de 25 alunos, dentro das ações do Programa de Educação de Jovens e Adultos, desen- De fato, o que se pretende é uma mudança de hábitos e atitudes que conduzam a melhoria da qualidade de vida da população de forma particular e coletiva, resultando num outro paradigma em que as ações pessoais e locais refletem no global. Segundo Dias, “a Educação Ambiental deve fugir do estágio meramente contemplativo para assumir uma postura de tomada de decisões, de fazer acontecer às coisas que precisamos modificar. No fundo, o que a Educação Ambiental persegue é o estabelecimento de um novo estilo de vida, que reconheça os nossos limites como espécie eucultural” (1999 p.37). Este programa vem se consolidando através da oferta de cursos, palestras, campanhas, oficinas e visitas técnicas, destinadas às lideranças, aos grupos temáticos, professores, pescadores, estudantes e comunitários em geral, alcançando ampla aceitação junto à comunidade e o atendimento a 896 pessoas do bairro (tabela 2). Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social 49 Tabela 1 - Atendimentos realizados 2002/2004 ATIVIDADES Convidados/ inscritos Participantes % 1. MOBILIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA 1.1. Plantão Social 1.2. Visitas às Famílias 1.3.Visitas Institucionais 1.4.Acompanhamento ao Processo de Relocação 1.5. Realização do Trabalho com Grupos Temáticos (inclusive cursos) 1.6. Cursos de Relações Humanas Sub-total 596 1224 183 2003 9672 1446 111 799 649 122 12799 134 52,4 66.6 2. EDUCAÇÃO SANITÁRIA e AMBIENTAL 2.1. Cursos de Educação Ambiental 2.2. Palestra sobre Educação Ambiental 2.3 Outros Eventos Sub-total 1580 434 99 2113 896 631 61 1588 57 145.4 62 75,15 3. GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA 3.1. Cursos de Capacitação TOTAL DE ATENDIMENTOS 719 4835 747 15134 103.9 Tabela 2 - Oferta de cursos de educação ambiental 2002-2005 Nº de turmas 1 Clientela Equipe técnica envolvida com o Projeto 1 Agentes de Saúde 4 Número de inscritos 30 Número de participantes 26 Participação relativa (%) 87 30 22 73 Lideranças Comunitárias 126 96 76 1 Mães dos alunos do PETI 30 27 90 1 Integrantes do Orçamento Participativo 30 11 37 1 Adolescentes do PETI 27 26 96 1 Pescadores 32 16 50 1 Grupo de Idosos 40 30 75 13 Comunitários 665 293 44 4 Adolescentes 191 137 72 3 Professores da Rede Pública 118 60 51 2 Famílias do Ciclo Um 141 69 49 1 Comerciantes 60 31 52 2 Agentes Ambientais (Cidadania Plena) 60 52 87 1580 896 58 Total 36 Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 50 Vera Lúcia Alves França; Maria Elisa da Cruz As ações têm sido ampliadas com a oferta de cursos para três turmas de Agentes Ambientais, com a finalidade de difundir informações às pessoas que se interessam pela preservação do meio ambiente e de contribuir junto à comunidade com a divulgação dessas informações na busca da melhoria da qualidade de vida no planeta, partindo de ações locais para o global. Para participar dos cursos de Agentes Ambientais foram selecionadas pessoas de nível médio e que já tinham participado dos Cursos de Educação Ambiental. Além disso, foi ofertado um curso de Agente Ambiental Mirim para Jovens e Adolescentes da Escola Juscelino Kubitschek que demonstraram interesse em interagir com a comunidade. Com oferta inicial de 20 vagas o curso funcionou com 42 participantes tendo em vista a intensa procura e a efervescência dos alunos em participar em ações junto à comunidade. Os Agentes se reúnem na primeira sexta-feira do mês e programam atividades que se realizam no bairro, especialmente, nas áreas onde foram implantadas as novas moradias. Outra atividade foi à formação de um grupo de teatro de fantoches que apresenta peças com temas relativos às questões de cidadania e meio ambiente. Vale ressaltar que foi ofertado um Curso sobre Cidadania Plena em que foram discutidos os direitos e deveres do cidadão, à luz da Constituição Federal, a fim de respaldar um grupo de comunitários que desejam a formação de uma organização não governamental a fim de promover a melhoria das condições ambientais do bairro. Este grupo, com o acompanhamento e apoio da equipe, vem realizando reuniões semanais, em que discute os problemas do bairro buscando estratégias para solucioná-los. Os resultados dessas ações já são visíveis com a mudança de hábitos e atitudes por parte dos comunitários e a participação mais intensa junto às atividades desenvolvidas na comunidade. Ao longo de 2005 será implantada a coleta seletiva de lixo, tendo início nos prédios públicos como a Escola Juscelino Kubitschek, o Centro de Saúde e na Creche. Para isso já foram realizados cursos com os professores e alunos além do estabelecimento de contatos com órgãos parceiros a exemplo da CARE, da ENSURB e da TORRE. Para dar suporte às atividades de educação ambiental a equipe tem produzido material didático como cartilhas, apostilhas, folder, vídeo, peças de teatro de fantoches, paródias, poesias, relatos de vida, entre outros o que tem facilitado o acesso e aceitação dos moradores. 2. RECUPERAÇÃO DO MANGUEZAL A implantação do projeto ocorre numa área de intensa fragilidade ambiental com alto nível de degradação, em função da intensa ocupação. Além disso, implica no corte de algumas áreas de manguezal para a implantação da via de contenção e construção das moradias. Assim, a partir de acerto definido pelo Ministério Público, ADEMA e IBAMA, com a SEPLAN ficou estabelecido à recuperação do Manguezal da Maré do Apicum, com a formação de um cordão verde de 12 hectares, indo desde a Rua José Steremberg, na confluência com a Avenida Rotary até a rua Urbano Neto. Para tanto, as atividades estão a cargo de uma equipe de biólogos que, mensalmente, tem desenvolvido ações de coleta de propágulos para a formação de mudas de mangue e de sementes de plantas da restinga, para arborizar a via de contenção e as novas residências. O retardo no desenvolvimento das obras proporcionou a perda de mudas e para aproveitá-las foi feito o plantio nas primeiras vinte e quatro casas no Largo Eleanor Roosevelt, numa ação educativa, já tendo sido feito o replantio daquelas que não sobreviveram. Com a liberação da área da Maré do Apicum, situada em frente ao Ciclo Um, pela EMURB, tem sido feito o plantio com duas finalidades: aproveitar as mudas produzidas e fazer um teste para verificar o comportamento da área, tendo em vista os altos níveis de degradação e a intensa ação antrópica. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social Na área plantada já se observa a recuperação do manguezal com o surgimento natural de mudas em função da movimentação da maré, com fluxos de sementes e do respeito da população que tem evitado o pisoteio. Isto já é um reflexo das ações de educação ambiental desenvolvida ao longo do Projeto. Mesmo assim, ainda há muito a fazer, tendo em vista que algumas pessoas ainda jogam lixo na avenida e mesmo no manguezal. De fato, as mudanças de comportamento são lentas e exigem ações contínuas. O monitoramento das mudas de mangue é feito permanentemente, pois através dos resultados se alcançarão conclusões sobre o método realizado para o plantio, além da avaliação da vulnerabilidade do local onde foram plantadas. À proporção que novas áreas forem sendo liberadas o plantio será efetivado e acompanhado até a sua consolidação. 3. MONITORAMENTO DA ÁGUA O Projeto contempla também o monitoramento da água da Maré do Apicum a fim de acompanhar a melhoria da qualidade de vida da população. De fato, as águas são salinas, sem potabilidade, mas, há um uso intenso por parte da população para a pesca e o lazer. A expectativa é que com a retirada das palafitas e a construção do sistema de esgotamento sanitário a água passe a apresentar níveis aceitáveis de qualidade. O monitoramento é feito mensalmente, com a coleta de água em cinco pontos definidos previamente e considerando o movimento das marés. Os dados mais recentes, constantes do relatório encaminhado a SEPLAN, enfocam que Pelos dados até agora disponíveis, mesmo nos fluxos de maré avaliados, continua existindo o quadro de presença de carga orgânica e de organismos coliformes fecais que ainda são preocupantes, mesmo havendo redução dos índices colimétricos em alguns 51 dos pontos de coleta, quando comparado à última amostragem. Tudo isso devido ao aporte de esgotos. Estes valores continuam relevantes e medem de alguma maneira, o grau de contaminação em que está submetida aquela área (Filho Daltro, 2004, p. 8). 4. RESULTADOS OBTIDOS: As atividades desenvolvidas no Projeto Social da Coroa do Meio têm apresentado resultados positivos para a comunidade e para a Universidade considerando a possibilidade de treinamento profissional de diversas áreas, a exemplo dos estagiários e dos alunos que já desenvolveram monografias, sobretudo pelas alunas do Curso de Serviço Social em número de sete, tomando como base o público alvo, enfocando as questões sociais trabalhadas pelo Serviço Social, além de estágio curricular de outras 11 alunas, sendo que duas estão em fase de conclusão, fortalecendo as relações entre a graduação e a extensão. No semestre 2004.2 também foi registrada a presença de estudantes de Biologia que fizeram estágio curricular junto à Educação Ambiental, participando ativamente da ação realizada por ocasião do sesquicentenário da cidade, nas margens do manguezal, no Ciclo Um. A integração entre Universidades e outras instituições de ensino também tem se verificado com a participação de alunos dos Cursos de Serviço Social, Psicologia e Turismo da UNIT e de Turismo do CEFET em atividades de acompanhamento em visitas e nos Cursos de Educação Sanitária e Ambiental. Além disso, os alunos do Curso de pós-graduação em Geografia e em Saúde Coletiva da UFS também realizaram trabalho de campo buscando informações sobre o Projeto. Além disso, os resultados do Monitoramento da água já foram apresentados em eventos nacionais, como o Encontro Nacional de Engenharia Ambiental pelo Professor Daltro e seus alunos bolsistas e no Congresso de Iniciação Científica da UFS, em 2003. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 52 Vera Lúcia Alves França; Maria Elisa da Cruz Já foram enviados dois resumos para serem apresentados sobre a forma de painéis no Encontro Nacional de Engenharia Sanitária e Ambiental em Florianópolis, e no Encontro Nacional da Rede de Educação Ambiental a ser realizado em Brasília e painel no Encontro Nacional de Ciência e Tecnologia sobre o tema: “Moradia Cidadã: Uma estratégia de inclusão social”. Os resultados do projeto ainda são parciais em virtude do estágio em que se encontram as obras, assim, ainda há um longo caminho a percorrer, entendendo que num trabalho de cunho sócioeducativo os resultados, necessariamente, não são quantificáveis. Mas, sabe-se que as ações desenvolvidas ao longo do projeto vêm alterando significativamente a qualidade de vida dos moradores do bairro, além das mudanças no desenho urbano tendo como saldo positivo à preservação do meio ambiente, especialmente do manguezal, berçário natural de espécies no mundo tropical. São ações inclusivas, de caráter permanente e voltadas para a construção da cidadania, evidenciando uma verdadeira transformação social. Esperase que outras áreas da cidade sejam contempladas com projetos semelhantes tendo em vista o grande número de ocupações subnormais e de famílias envolvidas. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005 Projeto de reurbanização da Coroa do Meio: uma estratégia de inclusão social 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL (2001) Estatuto da Cidade: Lei n. 10257, de 10 de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais da política urbana. Brasília: Câmara dos Deputados. DIAS, Genebaldo Freire (1999) Elementos para a Capacitação em Educação Ambiental. Ilhéus: Editora da UESC. FILHO DALTRO, José (2004) Relatório do Monitora- mento da água. Aracaju: FAPESE/UFS/SEPLAN. PMA/SEPLAN (2001) Projeto de Reurbanização da Coroa do Meio. Projeto Social. Aracaju: PMA/ SEPLAN. SILVIANO, Cornélio (1984) Projeto Cura: um exemplo de intervenção do Estado nas transformações do espaço urbano. Dissertação de Mestrado em Geografia, São Paulo, FFCL/USP. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 43-54, mar./jun. 2005