() Sexo É muito mais temas RG Apresentação Redação Maria Adrião Realização UNICEF – Anna Penido, Silvio Kaloustian, Ana Maria Silva, Denise Bueno Revista Viração – Paulo Lima, Vivian Ragazzi, Camila Caringe Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – Ana Teresa de Castro Bonilha, Sandra R. Francisco, Ana Maria Peres Silva Jovens CEDOC Ademir Franco Paré Junior Camila dos Santos Frigatto Camila Regina dos Santos Eliene Santana Correia Felipe Fortunato Rodrigues da Silva Helber Pereira dos Santos Juliana Camila Santos Celestino Karina Ferreira da Cruz Micaela Carolina Cyrino Natiele Souza Santos Rafael Neves Biazão Renata Marley Silva Neri Rodrigo Gomes Soares Revisão Técnica Sandra Unbehaum – Fundação Carlos Chagas Revisão de Texto Andréa Vidal Diagramação Vitor Massao Flávio Yamamoto William Haruo Fotos Arquivo Revista Viração e ONG Bom Parto Ilustrações Marcio Baraldi e Lentini Foto da Capa Fernanda Forato Sabemos que conversar sobre a sexualidade, sobre o nosso corpo, sobre ser adolescente, sobre se informar e fazer escolhas conscientes faz parte do nosso dia a dia. Sabemos também que esses temas estão na televisão, nas revistas, nas conversas com os amigos, nas escolas etc. Mas será que as informações sobre eles estão corretas e nos passam mensagens positivas a respeito de como exercer nossa sexualidade com responsabilidade e prazer? Foi pensando nisso que tivemos a ideia de elaborar um fascículo que trata dessas coisas de maneira simples, leve, informativa e sem muita embromação para dizer o que quer. Portanto, aqui está o fascículo Sexo e (é) muito mais! Este fascículo apresenta diversos assuntos relacionados à nossa sexualidade, ao nosso corpo, à questão da gravidez na adolescência, à diversidade sexual, à prevenção das DST/HIV/aids e ao que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), além de dicas de livros, filmes e sites. Nenhum dos assuntos que estão aqui foi tirado da cartola ou da nossa cabeça. Na verdade, este fascículo foi escrito com base em textos e materiais educativos já produzidos por especialistas, pelo governo e por organizações não-governamentais que trabalham com adolescentes e jovens. Também pesquisamos na internet, em livros, guias e cartilhas, além de trocarmos ideias com adolescentes e jovens que trabalham com o tema dos direitos sexuais e direitos reprodutivos na comunidade. Estamos oferecendo a você algumas informações que têm relação com o tema dos direitos sexuais e direitos reprodutivos, mas é bom correr atrás de outras, até porque esses conhecimentos e sua discussão não se esgotam aqui. E, quando for trabalhar com esse assunto, não se esqueça de considerar as características da sua comunidade e o objetivo que você quer atingir. Conhecer o que a sua comunidade deseja saber sobre esse tema irá orientar sua busca por mais e mais informações. Então, mãos à obra! Sexualidade: Que bicho é esse? Já pararam para pensar em como os assuntos ligados à sexualidade estão presentes no nosso dia a dia? Eles estão nos programas e nas novelas que passam na televisão, nas matérias de jornais e revistas, no bate-papo entre amigos, nas famílias, nas escolas, nos serviços de saúde e nas comunidades. Infelizmente, nem sempre esses assuntos são tratados com profundidade e naturalidade, porque as pessoas ainda se sentem constrangidas em falar sobre eles. No entanto, elas de esquecem de que a sexualidade nos acompanha desde o momento do nosso nascimento até a nossa morte. Quando o bebê toma o leite materno e sente saciar sua fome, é automaticamente invadido por uma sensação de prazer. Isso acontece porque na infância a sexualidade e as sensações de prazer estão ligadas à satisfação de necessidades vitais, como comer, tomar banho e receber carinho. As psicólogas Claudia Piccolotto Concolatto e Fabíola Giacomin1 explicam: “Pensemos em um bebê muito pequeno, mamando no seio materno (ou na mamadeira). Após saciar-se, ele dorme tranquilamente no colo da mãe: eis a sexualidade se instalando. Se observarmos essa mãe com seu bebê, veremos que, ao mesmo tempo que ela oferece o peito ao filho para saciar sua fome, envia sinais de aconchego ao acariciá-lo, ao sustentar sua cabecinha com delicadeza, ao conversar com ele enquanto lhe dá de mamar. Isso vai deixando uma marca de prazer, um registro de satisfação no psiquismo que está começando a se formar. No início, a criança suga para se alimentar; depois, faz isso também pelo prazer que ali encontra. O registro dessa sensação prazerosa, a qual desejará repetir, é o que constituirá a sexualidade e o próprio aparelho psíquico da criança”. É assim que a nossa sexualidade vai se constituindo! Mas, afinal de contas, o que é a sexualidade? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos de sua vida; por isso não é só relação sexual, não 1. Sexualidade na infância? Claudia Piccolotto Concolatto e Fabíola Giacomin, Disponível em http://www.annex.com.br/artigos/claudia6.asp. Acessado em 6 de novembro de 2008. se limita a ter ou não orgasmos. Sexualidade é muito mais do que isso. É a energia que motiva uma pessoa a buscar contato físico e afetivo, intimidade; se expressa na forma de sentir, de as pessoas se tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e tanto a saúde física como a mental. Também podemos afirmar que, além do nosso corpo, a sexualidade envolve nossa história, nossos costumes, nossas relações afetivas e nossa cultura, e que vai sendo mudada de acordo com a época. Pergunte à sua avó como eram as relações de namoro quando ela era jovem. Certamente eram bem diferentes dos namoros de hoje em dia. Pra entender melhor cia S) é uma agên M (O e d ú a S e d ndo. Mundial s partes do mu a ri vá m A Organização e o çã a de m representa e saúde públic d s internacional co a ic lít o p r e saúde desenvolv preendendo a m Seu objetivo é co s, vo o p s o e não todos ental e social, m , co qualidade para si fí r a st , a OMS do de bem-e ça. Além disso como um esta n e o d e d a ci n a ausê e. somente como os com a saúd d a id cu s o ra a os p ente? propõe caminh do se é adolesc n a u q e d a lid a E como é a sexu a por a qual se pass n a d vi a d a p corpo é uma eta psicológicas. O A adolescência e is ra o rp co ades, s rmaçõe novas curiosid s, e d ta n muitas transfo vo s va e é um mos a ter no tudo mais. Ess e muda, começa s to n e m ti mos n novos se do nos importa n a u q é is novas dúvidas, o p , e os madurecimento s trocados entr re a lh momento de a o s o m r, co sso corpo, , é se conhece so is é e d a mais com o no lid a xu que, aqueras... E se lo contato ou to e p s e amigos e nas p çõ sa n se osto ou r, descobrir seja do sexo op s, buscar o praze a o ss e p s a e tr o por ou rsas formas qu e iv d s a r se sentir atraíd a it e ade portante é resp nciar a sexualid ve vi não. O mais im e r ta n e m de experi ade, as pessoas têm e responsabilid r ze ra p m co rcê-la os. e, lógico, de exe s e os dos outr e it lim s o ri p ró p respeitando os Mais sexualidade! Por Rafa Biazão, 18 anos, e Eliene Correia, 18 anos, da Rede Tecer o Futuro – São Paulo Quando se fala em sexualidade, começam a surgir várias coisas, como o preconceito, por exemplo. Muitos adolescentes, quando entram nessa fase, entram na onda dos “amigos descolados”, que são nada mais nada menos do que grupos dos quais eles começam a fazer parte para ter o privilégio de serem descolados também. A maioria acaba entrando só para ter uma certa popularidade; às vezes, o adolescente faz coisas de que nem gosta só pra dizer mesmo que é “o melhor da turma”. E a virgindade? Na época de nossos avós, a virgindade da menina tinha um valor especial. Era esperado que ela só tivesse relações sexuais depois do casamento. Mas, com a revolução sexual e as mudanças no comportamento social, a virgindade acabou perdendo esse valor. Em muitos casos, garotos e garotas iniciam sua vida sexual independentemente de se casarem. Só que, ainda hoje, muitas garotas iniciam a vida sexual por pressão dos amigos, e não porque elas de fato desejam transar. Fazem isso apenas para serem aceitas no grupo de amigos. Outra coisa que ainda acontece muito é a velha história da “prova de amor”. O garoto pede à garota uma prova de amor, que é o sexo, e muitas vezes as meninas terminam cedendo contra sua própria vontade só para agradar o parceiro. Todo mundo sabe que isso não é uma coisa boa –fazemos sexo quando estamos com desejo, vontade de estar com aquela pessoa, isto é, não só para satisfazer o parceiro, mas para nos satisfazer. Isso vale para os garotos também! Muitas meninas pressionam os garotos para que role sexo e, quando não acontece nada, saem por aí falando mal deles! E a gravidez? Muitas vezes, na hora H, o casal se esquece de colocar a camisinha, até porque circula o mito de que camisinha tira o prazer e a excitação. Mas é aí que mora o perigo! Sem a camisinha pode acontecer uma gravidez não planejada, e também existe o risco de contrair uma doença sexualmente transmissível (DST), ou seja aquelas doenças que são pssadas pelo sexo, como a aids, por exemplo. E as “ficadas”? Elas existem desde o fim da década de 70, só que atualmente é comum rolar muito beijo sem compromisso sério com ninguém, e nada mais, como acontece em festinhas e nas baladas entre amigos. Muita gente acha legal porque assim tem maior possibilidade de conhecer várias pessoas, de escolher o parceiro e de conhecer mais sensações sem ter um relacionamento sério. Mas também há pessoas que se sentem magoadas, usadas, já que o mito do “amor romântico” (se apaixonar, namorar etc.) ainda é muito forte na nossa sociedade. Mas também não podemos esquecer dos adolescentes que se apaixonam verdadeiramente e preferem namorar sério. E o diálogo com a família? Falar desses assuntos com o pai, com a mãe, a avó ou o avô, ou seja lá quem for que cuida da gente, não é fácil não! Muitas vezes, em casa não há abertura para tratar disso; noutras é o próprio adolescente que não se sente à vontade para conversar com a família sobre o assunto. É preciso ficar atentos a isso, pois muitas vezes conversamos e tiramos nossas dúvidas somente com os amigos, e nem sempre eles estão bem informados; com isso, acabamos recebendo informações incompletas e incorretas. Outras vezes, buscamos informações na Internet, mas ela nem sempre é confiável, não é? Uma alternativa é tentar conversar sobre as questões da sexualidade sem transformá-las em um bicho de sete cabeças. Caso não se sinta à vontade para conversar sobre esse assunto com seu pai ou sua mãe, procure alguém em quem você confie de verdade e que, além de te escutar, possa te informar corretamente! Viver a sexualidade na juventude é tudo isso, é entrar num mundo desconhecido e que desperta muita curiosidade. Independentemente da nossa idade, o importante é ter sempre informações corretas sobre o que é legal ou não, o que é seguro ou não. Podemos vivenciar nossa sexualidade sempre, mas com segurança, para poder curtir mais e com prazer! Se liga! Sexo e sexualidade são a mesma coisa? Um dos sentidos da palavra sexo está relacionado ao ato sexual e aos prazeres do corpo. Outro sentido diz respeito às nossas características biológicas, que nos definem como sendo do sexo feminino ou do sexo masculino. Bebês com pênis são do sexo masculino e bebês com vagina são do sexo feminino. Já a sexualidade se refere às nossas preferências e experiências sexuais, à descoberta da nossa identidade e atividade sexual, que reflete o nosso jeito de ser e de agir. Tá na Mão Filme da hora lli Zeffire reção de Franco gunda versões. Di se e a eir im pr – William Romeu e Julieta texto original de terpretações do in o sã s ba Am ). autor (primeira versão ção da época do s fiel à ambienta ai m a eir im pr a Shakespeare, de um amor entre moderna. Trata-se s ai m ão rs ve a e a segunda um inimigas entre si. famílias que são as du ria ra nt co e adolescentes qu Pra ouvir ma da do a ver com o te úsica que tem tu m a um de ca di Aí vai a rma livre e sexualidade de fo da cia ên viv a da abor rio sexualidade. Ela ade com seu próp da responsabilid a eç qu es se o as nã independente. M imeiro lugar! s. Respeito em pr tro ou s do o m corpo e co CD Tribalistas) sa música no ocê encontra es Já sei namorar (V Fique esperto! • Viver a sexualidade é uma escolha e um direito que cada pessoa tem, mas não se esqueça que tem de ser de forma prazerosa, saudável e respeitosa. Por isso, é importante avaliar se você está realmente a fim de manter relações sexuais, afinal de contas “fazer por fazer” ou porque seu grupo de amigos ou amigas está te pressionando não é o melhor caminho. Você também tem o direito de dizer não! Caso o seu parceiro ou parceira te obrigue a manter relações sexuais sem que você queira é uma situação de violência! • Outra coisa fundamental é ter informações corretas sobre como se prevenir das DST/aids – falaremos sobre este assunto daqui a pouco, e as formas de evitar uma gravidez não planejada. Por isso, conhecer os métodos contraceptivos é tão importante! (Tribalistas) Já sei namorar gua Já sei beijar de lín a sonhar Agora só me rest Já sei onde ir Já sei onde ficar sair Agora só me falta cia pra televisão Não tenho paciên ão ência para a solid Eu não sou audi m Eu sou de ningué undo Eu sou de todo m e quer bem E todo mundo m m Eu sou de ningué undo Eu sou de todo m meu também (...) E todo mundo é AdolescênciaS Por que será que colocamos um “S” na palavra adolescência? Será que dá para afirmarmos que existe somente uma forma de ser adolescente? Ou cada um de nós, de acordo com as nossas vivências e experiências, encara a adolescência de diferentes maneiras? Por algum tempo, a adolescência foi definida como uma fase da vida (mais ou menos dos dez aos quartoze anos de idade) chamada de puberdade, em que aconteciam várias transformações no corpo. Hoje o conceito de adolescência vai além das mudanças corporais, envolvendo também as mudanças na forma de pensar, na maneira de agir e de se relacionar consigo mesmo e com os outros. A puberdade é caracterizada por mudanças no corpo, que estão relacionadas com a produção de hormônios. As principais mudanças são: • Crescimento acelerado da altura; • Aumento acelerado do peso; • Aumento dos tecidos gordurosos, muscular e ósseo: nas garotas percebem-se quadris mais largos e cintura fina; nos garotos nota-se o desenvolvimento da musculatura e do tronco; • Surgimento dos pelos; • Desenvolvimento dos genitais e aparecimento das características sexuais secundárias: • Nos garotos há o aumento do escroto e dos testículos e, em seguida, do pênis, especialmente no comprimento. Além disso, têm início a produção de espermatozoides e as ejaculações. O timbre da voz engrossa. • Nas garotas percebem-se o aumento dos seios e a primeira menstruação (menarca). A forma de encarar e interpretar a adolescência varia de acordo com o contexto social e cultural e a época a que nos referimos. Por exemplo, ser adolescente em São Paulo é diferente de ser adolescente numa cidade do sertão do Nordeste; ser adolescente na era da internet é diferente de ser adolescente na época em que nem existia computador. Enquanto nas classes populares dos centros urbanos as crianças assumem mais cedo responsabilidades ditas do 10 mundo adulto, como trabalhar, ganhar a vida, tomar conta dos irmãos mais novos etc., nas classes média e alta a experiência não é necessariamente a mesma. Além do mais, adolescer também depende da história de cada pessoa. Podemos dizer, então, que não existe um adolescente padrão e que a adolescência não se limita a um “turbilhão de hormônios”, mas que existem diferentes maneiras de ser adolescente. Por isso, usamos o plural: adolescênciaS. Se liga! O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – vamos falar dele mais adiante –, considera a adolescência a fase dos doze aos dezoito anos de idade. Essa classificação por faixa etária (idade) auxilia os governos na construção de políticas públicas (fascículo Adolescentes e Participação Política ) para essa população, isto é, ajuda nossos governantes a criar serviços e programas de saúde, de educação, de trabalho, de assistência social etc. adequados a cada faixa etária. 11 Se liga! Para o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) trabalhar com os adolescentes, fase dos 12 aos 18 anos de idade, é uma prioridade! Para garantir aos adolescentes condições apropriadas a seu pleno desenvolvimento, assim como a proteção necessária, considerando as diversidades regional, étnica e de gênero, as ações do UNICEF no Brasil concentram-se em dois eixos: • Participação – Busca promover e estimular a participação dos adolescentes nos processos de decisão na família, nas escolas, nos movimentos comunitários, nas políticas públicas (orçamento, conselhos, entre outros) e em grupos de jovens. • Políticas públicas para a redução da vulnerabilidade dos adolescentes – Pretende garantir que União, Estados e municípios construam e implementem políticas públicas que busquem responder às necessidades dos adolescentes brasileiros. São ações de educação e aprendizagem, de saúde integral, de assistência social e cultural, de esporte e lazer voltadas para a redução da vulnerabilidade relacionada à exclusão social e educacional e para a prevenção da violência, da gravidez na adolescência e das DST/aids. 12 Meu corpo, minha sexualidade O corpo é uma importante ferramenta de expressão da nossa sexualidade. Além de ser cheio de músculos, ossos e órgãos, ele também conta com um sistema nervoso que nos faz sentir dor e prazer. É por meio do nosso corpo, da expressão corporal, que comunicamos às pessoas como estamos nos sentindo (se sorrimos, se choramos, se gritamos) e até mesmo quem somos (se vestimos tal tipo de roupa, se sentamos de determinado jeito). Por isso, quando falamos de sexualidade, é fundamental falar também do corpo. Respeitar a nós mesmos, nosso próprio corpo e nossos sentimentos é a base para nos relacionar com as outras pessoas. Conhecer os processos de funcionamento dos órgãos do nosso corpo é importante para uma vida sexual saudável e segura. Por exemplo, se soubermos como é o nosso sistema reprodutivo (parte do corpo responsável pela reprodução) e como ele funciona, poderemos planejar e decidir quando e como ter filhos. Se soubermos como são e como funcionam nossos órgãos sexuais, saberemos como cuidar da saúde deles e também como sentir e dar prazer. 13 ÓRGÃOS SEXUAIS FEMININOS Órgãos sexuais externos • Monte de Vênus: é a parte mais saliente, localizada sobre o osso da bacia, chamado púbis. Na mulher adulta, é recoberta de pelos, que protegem essa região. • Grandes lábios: também coberta de pelos, é a parte mais externa da vulva. Começam no Monte de Vênus e vão até o períneo. • Pequenos lábios: são mais finos que os grandes lábios e não têm pelos. Podem ser vistos quando afastamos os grandes lábios com os dedos. São muito sensíveis e aumentam de tamanho durante a excitação. • Clitóris: é um órgão arredondado ricamente irrigado e inervado (cheio de nervos). É muito sensível e, quando estimulado, desencadeia sensações bastante prazerosas que contribuem para o orgasmo feminino. • Abertura da uretra: é a abertura por onde sai a urina. • Abertura da vagina: é uma abertura alongada por onde saem os corrimentos, o sangue menstrual e o bebê. Monte de Vênus Grandes lábios Clitóris Pequenos lábios Órgãos sexuais internos • Útero: órgão onde o feto se desenvolve durante a gravidez. Quando a mulher não está grávida, o útero tem o tamanho de um punho. • Colo do útero: parte inferior do útero. Tem um orifício por onde passa a menstruação e por onde entram os espermatozoides. Num parto normal, esse orifício aumenta para dar passagem ao bebê. • Corpo do útero: parte maior do útero, que cresce durante a gravidez e volta ao tamanho normal depois do parto. É formado por duas camadas externas: uma membrana chamada peritônio e um tecido muscular chamado miométrio. Sua camada interna, o endométrio, se desenvolve durante a menstruação, renovando-se mensalmente. • Tubas uterinas: são duas, uma de cada lado do útero. Quando chegam no ovário, elas se abrem, lembrando uma flor. É por dentro das tubas que os óvulos viajam até o útero. • Ovários: são dois, do tamanho de azeitonas grandes, um de cada lado do útero. Ficam presos ao útero por um ligamento nervoso e por várias camadas de pele. Desde o nascimento, os ovários contêm cerca de 500 mil óvulos, que ficam ali armazenados e se desenvolvem. Também produzem o hormônio feminino progesterona. • Vagina: canal que começa na vulva e vai até o colo do útero. A pele dentro dele é semelhante à da parte interna da boca, com várias preguinhas que permitem que ela estique durante a relação sexual ou para a passagem do bebê na hora do parto. Abertura da uretra Ovários Abertura da vagina Tubas uterinas Corpo do útero Colo do útero 14 Vagina 15 ÓRGÃOS SEXUAIS MASCULINOS Órgãos sexuais externos • Pênis: membro com funções urinária e reprodutora. É um órgão muito sensível, e seu tamanho varia de homem para homem. Na maior parte do tempo, o pênis fica flácido (mole), mas, quando os tecidos do corpo esponjoso se enchem de sangue durante a excitação sexual, ele aumenta de volume e fica duro, ao que se dá o nome de ereção. Numa relação sexual, quando bastante estimulado, o pênis solta um líquido chamado esperma ou sêmen, que contém os espermatozoides. A saída do esperma provoca uma intensa sensação de prazer, chamada de orgasmo. • Escroto: espécie de bolsa localizada atrás do pênis que tem várias camadas, entre elas uma pele fina recoberta de pelos e de cor mais escura que a do resto do corpo. Seu estado varia conforme a contração ou o relaxamento da musculatura: no frio, por exemplo, ele fica mais curto e enrugado, e no calor, mais liso e alongado. O escroto guarda os testículos. • Prepúcio: pele que recobre a cabeça do pênis. Quando o membro fica ereto, o prepúcio fica puxado para trás, deixando a glande (cabeça do pênis) descoberta. Quando isso não ocorre, tem-se o que é conhecido como fimose, que pode causar dor durante o ato sexual e dificultar a higiene. A fimose pode ser facilmente corrigida por meio de uma pequena cirurgia com anestesia local. • Glande: a cabeça do pênis. Sua pele é bem macia e bastante sensível Pênis Órgãos sexuais internos • Testículos: glândulas sexuais masculinas que produzem os espermatozoides e os hormônios. Um desses hormônios é a testosterona, responsável pelas características secundárias masculinas, como o engrossamento da voz e o surgimento de pelos e músculos. Tem a forma de dois ovos e, para senti-los, basta apalpar o saco escrotal. • Uretra: é um canal usado tanto para urinar quanto para ejacular. Tem cerca de 20 cm de comprimento e está dividida em três partes: uretra prostática, quando atravessa a próstata; uretra membranosa, quando atravessa o assoalho da pelve; e uretra esponjosa, localizada no corpo esponjoso do pênis. • Epidídimo: canal ligado aos testículos onde os espermatozoides vão sendo fabricados nos testículos e ficam armazenados até amadurecerem e serem expelidos no momento da ejaculação. • Próstata: glândula que produz uma secreção que, junto com a secreção das vesículas seminais, forma o líquido seminal. Dá ao sêmen o seu odor característico. • Vesículas seminais: duas bolsas que secretam fluidos para que os espermatozoides possam nadar. • Canais deferentes: dois canais muito finos que saem dos testículos e por onde os espermatozoides são conduzidos até a próstata. • Canal ejaculatório: canal formado pela junção do canal deferente com a vesícula seminal. É curto e reto, e quase todo o seu trajeto está situado ao lado da próstata, terminando na uretra. Vesículas seminais Prepúcio Canais deferentes Próstata Escroto Glande Epidídimo Uretra 16 Canal ejaculatório Testículos 17 Tá na Mão Filme da hora da história de z Jaoui: trata-se ne Ag de o çã re Di em – s Questão de imag tras personagen envolvida com ou tá es e qu liz fe in inha e uma garota gord o. tipo de frustraçã que vivem algum um Denise Garcia: é oda – Direção de m na tô as m , ia Sou fe feito a partir do do Rio de Janeiro nk fu s ile ba os e br documentário so Quebra-Barraco. ize Tigrona e Tati De o m co as eir nk depoimento de fu Direitos humanos, direitos sexuais e direitos reprodutivos. O que os adolescentes têm a ver com isso?2 Vamos falar um pouco sobre alguns direitos que têm a ver com os direitos humanos, os direitos dos adolescentes. O que será que esse papo de direitos tem a ver com a vida sexual e a vida reprodutiva dos jovens? Muita coisa! É claro que você já ouviu falar em direitos humanos, que são os direitos fundamentais de uma pessoa. Entre eles estão o direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, ao afeto e à livre expressão da sexualidade. Esses direitos são considerados fundamentais porque sem eles uma pessoa não é capaz de se desenvolver nem de participar plenamente da vida em sociedade. Nas últimas décadas, pessoas elaboraram leis internacionais e nacionais para reconhecer os direitos sexuais e os direitos reprodutivos como direitos humanos. Se, para viver, precisamos de trabalho, saúde, educação e moradia, para viver nossa sexualidade precisamos também de liberdade, dignidade e uma vida livre de todo tipo de violência e discriminação. Os adolescentes e os jovens também são contemplados por esses direitos, porque eles dizem respeito a todas as pessoas, independentemente do sexo, da orientação sexual, da raça, da etnia, da idade ou da religião. Mas o que são exatamente os direitos reprodutivos e sexuais? É o que vamos ver a seguir. 2. Texto extraído e adaptado do Ciência Hoje na Escola, v. 13. Conversando sobre saúde com adolescentes. Instituto Ciência Hoje, 2007. 18 19 Os direitos reprodutivos têm a ver com a autonomia necessária para que cada pessoa decida quando e como reproduzir. Entre eles estão: • o direito de as pessoas decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas; • o direito de acesso a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos; • o direito da reprodução livre de discriminação, imposição e violência. E os direitos sexuais têm a ver com o exercício da sexualidade de todas as pessoas: • O direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições, e com total respeito pelo corpo do(a) parceiro(a); • O direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual; • O direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças; • O direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil (solteiro, casado etc.), geração ou condição física; • O direito a escolher se deseja ou não ter relações sexuais; • O direito de expressar livremente sua sexualidade: heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade, entre outras; • O direito de ter relações sexuais independentemente da reprodução; • O direito ao sexo seguro para evitar uma gravidez não planejada e para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis (DST) e a aids; • O direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e um atendimento de qualidade, sem discriminação; • O direito à informação e à educação sexual e reprodutiva. Além disso, para que os direitos humanos sejam respeitados, precisamos estar atentos ao respeito à diversidade. Isso quer dizer que as diferenças entre as pessoas – sejam de raça, etnia, religião ou orientação sexual – não podem resultar em tratamento desigual. A igualdade racial e a igualdade entre homens e mulheres são fundamentais para o desenvolvimento da humanidade e para que os direitos humanos virem uma realidade. 20 E você, adolescente, sabe quais são os seus direitos? Bem, agora você deve estar pensando: “Todo esse papo de direitos humanos só serve para os adultos”. Nada disso! Como já dissemos, você tem todos os direitos que mencionamos. Mas você tem razão de estar questionando, porque a ideia dos Direitos da Criança e do Adolescente é relativamente nova no Brasil. Foi com a Constituição Federal, em 1988, e com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 que meninos e meninas passaram a ser considerados sujeitos de direito. Até então, a legislação considerava meninos e meninas propriedades do nosso país. O ECA garante à criança e ao adolescente todos os direitos fundamentais inerentes ao ser humano. Assegura, por exemplo, o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Ou seja, você tem direito à privacidade, à preservação do segredo e ao consentimento informado. O que significa isso, na prática? Significa, por exemplo, que é direito seu ter privacidade nas suas consultas nos serviços de saúde, com atendimento em espaço privado e apropriado. Além disso, deve contar com a garantia de confidencialidade, ou seja, as questões discutidas durante uma consulta ou entrevista não podem ser divulgadas a seus pais ou responsáveis sem o seu consentimento, sem a sua autorização – isso é o que chamamos aqui de consentimento informado. Esses direitos, além de contribuírem para a sua autonomia, permitem que as questões relacionadas à saúde sexual e reprodutiva dos jovens sejam tratadas nos serviços de saúde e na escola. Mais uma vantagem para o jovem. 21 Agora vamos falar sobre saúde sexual e saúde reprodutiva Se liga! Os direitos de crianças e adolescentes previstos na Constituição de 1988 foram regulamentados por meio da Lei Federal no 8.096, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O texto do ECA pode ser facilmente encontrado na Internet, no endereço www.planalto. gov.br/ccivil_03/Leis/L8069Compilado.htm. Seguem alguns artigos do Estatuto que têm a ver com o que foi discutido: • “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo de proteção integral de que trata essa Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.” (Art 3º) • “É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso universal e igualitário às ações para promoção e recuperação da saúde.” (Art 11º.) • “O direito ao respeito consiste na imobilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.” (Art 17º.) 22 Mas, antes de falarmos mais especificamente sobre isso, vamos relembrar que sexualidade não é sinônimo de atividade sexual. Sexualidade é muito mais que isso. É um aspecto essencial da vida das pessoas e envolve sexo, gênero (ver mais na página 29), orientação sexual, erotismo, prazer, relações afetivas, amor e reprodução. Ela está presente em todas as etapas da vida de mulheres e homens, desde o nascimento até a morte. É na adolescência, quando ocorrem profundas transformações biológicas, psicológicas e sociais, que aparece também a capacidade reprodutiva. Ou seja, o acelerado crescimento físico é acompanhado da maturação sexual. Assim, a sexualidade ganha uma dimensão especial, diferente daquela que você vivencia na infância. Por isso, é importante para todos nós – especialmente para o jovem – conhecer o funcionamento do nosso corpo e compreender nossos sentimentos para poder fazer escolhas que sejam as mais positivas para a nossa vida e favoreçam a expressão da nossa sexualidade. É quando falamos de escolhas que vemos a importância de discutir saúde sexual e saúde reprodutiva. Como canta Rita Lee, “Não quero luxo, nem lixo/ quero saúde para gozar no final”. Os adolescentes, assim como os adultos, são pessoas sexuadas, livres e autônomas, que têm direito a receber uma educação sexual e reprodutiva que os auxilie a lidar com a sexualidade de forma positiva e responsável, incentivando-os a adotar comportamentos de prevenção e de cuidado pessoal. Muito se avançou no mundo em termos de saúde sexual e saúde reprodutiva. As questões relacionadas a isso envolvem a concepção (gravidez), a contracepção (métodos para evitar a gravidez), as práticas corporais, afetivas e sexuais e até certos problemas, como a violência e o sofrimento nas interrelações, o aborto em condições inseguras, as DST e a aids. Entre essas questões todas, há duas que merecem toda a nossa atenção: a contracepção (evitar a gravidez) e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e da aids. 23 Se liga! Saúde reprodutiva A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, promovida pela ONU e realizada na cidade do Cairo, Egito, em setembro de 1994, teve um papel superimportante na promoção da saúde reprodutiva e sexual, assim como dos direitos sexuais e direitos reprodutivos como requisitos importantes para o desenvolvimento da humanidade. Nessa conferência, a saúde reprodutiva foi definida da seguinte forma: “A saúde reprodutiva é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não de mera ausência de doenças ou enfermidades, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo e com suas funções e processos. Isso quer dizer que, para uma boa saúde reprodutiva, a pessoa precisa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo”. Saúde sexual O HERA (Health, Empowerment, Rights and Accountability), um grupo internacional de mulheres, define saúde sexual da seguinte forma: “A saúde sexual é a habilidade de mulheres e homens de desfrutar e expressar sua sexualidade, sem riscos de doenças sexualmente transmissíveis, gestações não desejadas, coerção, violência e discriminação. A saúde sexual informada, agradável e segura, baseada na autoestima, implica uma abordagem positiva da sexualidade humana e o respeito mútuo nas relações sexuais. A saúde sexual valoriza a vida, as relações pessoais e a expressão da identidade própria da pessoa. Ela é enriquecedora, inclui o prazer, e estimula a determinação pessoal, a comunicação e as relações”. 24 Vamos ver alguns pontos importantes a respeito dos métodos anticoncepcionais: • De maneira geral, os jovens podem usar a maioria dos métodos anticoncepcionais disponíveis, como pílulas e injeções anticoncepcionais, camisinhas masculina e feminina, diafragma e DIU (dispositivo intrauterino) e métodos comportamentais. Entretanto, na adolescência, alguns métodos são mais adequados que outros. Além disso, é importante frisar que não existe um método anticoncepcional melhor que outro, assim como também não existe um método 100% eficaz – todos têm uma probabilidade de falha. Recomenda-se que, antes de usar qualquer método anticoncepcional, o jovem procure um médico; • Um método pode ser adequado para uma pessoa e não ser para a outra; por isso, cada um deve escolher o método mais adequado para si. Essa escolha deve ser livre e informada. É importante procurar um serviço de saúde antes de iniciar o uso de qualquer método, porque existem situações em que alguns deles não devem ser usados. Além disso, é necessário fazer um acompanhamento periódico para verificar se o método escolhido está sendo usado de forma correta e se houve o aparecimento de algum problema. • Você já ouviu falar muito disso, mas repetir nunca é demais: a camisinha, masculina ou feminina, deve ser usada em todas as relações sexuais, mesmo se você estiver usando outro método contraceptivo. Esse é o único método que, além de protegê-lo da gravidez não planejada, protege você das DST/aids e da hepatite. E, em se tratando de doenças, todo cuidado é bem-vindo; • Apesar de ser bastante usado, o coito interrompido, mais conhecido como “gozar fora” (o homem retira o pênis da vagina um pouco antes da ejaculação), não deve ser estimulado como método contraceptivo. É grande a possibilidade de falha, já que o líquido que sai do pênis um pouco antes da ejaculação pode conter espermatozoides e que, às vezes, o homem não consegue interrromper a relação sexual antes da ejaculação. Além disso, o coito interrompido pode gerar tensão entre os parceiros, pois a relação fica incompleta. 25 • O DIU (dispositivo intrauterino) pode ser usado pelas adolescentes, mas aquelas que nunca tiveram filhos correm maior risco de expulsá-lo do útero. Esse método também não é indicado para as adolescentes que têm mais de um parceiro sexual ou cujos parceiros têm outros parceiros e não usam camisinha em todas as relações sexuais, pois nessas situações existe maior risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST). Se liga! Pílula do dia seguinte ou contracepção de emergência O que é? • Comprimidos feitos com hormônios não naturais, ingeridos por via oral até 72 horas após uma relação sexual sem proteção ou quando houve falha no uso do método utilizado (exemplo: rompimento de camisinha, esquecimento da pílula, relação sexual imprevista e /ou contra a vontade da mulher). Seja qual for a escolha, a dupla proteção (associação da camisinha masculina ou feminina com outro método anticoncepcional) é sempre a melhor solução. Por que isso é importante? Porque, quando as pessoas usam apenas um método contraceptivo para evitar a gravidez, em geral se esquecem dos riscos de contrair DST. O único método que pode proteger contra as DST, a aids e ainda a gravidez é a camisinha. Resumindo: mesmo escolhendo um método contraceptivo para evitar a gravidez, use sempre a camisinha também. 26 Como usar? • Existem vários esquemas possíveis para a contracepção de emergência, mas o mais utilizado consiste em 2 pílulas de Levonorgestrel 0,75 mg. • Após uma relação sexual desprotegida, tomar o primeiro comprimido o mais rápido possível, e o segundo comprimido doze horas depois. • O primeiro comprimido deve ser tomado no máximo até 72 horas após a relação sexual. Após esse prazo, sua eficácia fica muito comprometida. • Deve-se evitar ter relações sexuais até a próxima menstruação, o que deve acontecer em até quatro semanas. Caso ela não aconteça, existe a possibilidade de gravidez. • Assim que ocorrer a menstruação, é preciso iniciar imediatamente o uso de um método contraceptivo seguro e eficaz. 27 Fique esperto! • A anticoncepção de emergência não deve ser usada como método contraceptivo de rotina, apenas em situações de emergência como as que mencionamos. • Ela também não previne contra as DST. • Quanto menos tempo houver entre a relação sexual e a ingestão da primeira dose, maior a sua eficácia. • Seus efeitos colaterais mais comuns são náuseas e vômitos. • Essa pílula não causa nenhum risco para o feto, caso ocorra gravidez. Também não interrompe uma gravidez em andamento, isto é, não é abortiva. • Pode ser facilmente comprada em farmácias ou obtida gratuitamente em serviços públicos de saúde. Importante: procure um serviço de saúde o quanto antes para receber as orientações e os cuidados necessários para a sua saúde. Tá na Mão Filme da hora utos que ração de 20 min o: Vídeo com du ov m co o pã e X-salada s adolescentes, ter os direitos do ba de ra pa es çõ as situa úde buscar apresenta divers vai ao posto de sa ta ro ga a Um . ce sconhe e que a maioria de tar o filho durant te quer amamen en sc ole ad ãe m uito. A preservativo grat Amigos em um certo de transar. to en om m o e ut l disc as aulas. Um casa mãos dadas. ais que chega de xu se os m ho de l casa bar observam um das a s e depois mostra foram encenada es çõ ua sit s tra Essas e ou suas reações e a ntiram, discutindo se e qu do m ra e fala adolescentes, qu . de seus colegas Na web 28 .br e: www.ecos.org o em Sexualidad çã Ecos – Comunica Relações de gênero Em alguns parágrafos acima comentamos que o sexo nos define biologicamente como machos e fêmeas. Menino tem pênis, menina tem vagina. E, por causa disso, muita gente acredita que é também o nosso corpo biológico que nos define como homens e mulheres. Só que essa ideia de “ser mulher” e de “ser homem” não nasce com o nosso DNA, na nossa carne; é a gente que inventa como ser uma coisa ou outra. Por exemplo, alguém inventou que a cor da roupa dos meninos devia ser azul e a cor da roupa das meninas devia ser rosa. Você já reparou como as pessoas tratam os bebês? Se for menino, todo mundo fica dizendo: “Como ele é forte!”, “Já nasceu com cara de homem!”; “Esse vai dar trabalho!”. Se for menina, até o jeito de segurar e o tom de voz mudam: “Olha que lindinha!”; “Tão delicada!”. E a gente vai criando os meninos para serem livres, para correr; ensinamos que devem se defender, competir e ganhar. As meninas a gente tenta controlar, ensina a usar roupas femininas, a serem cheirosas e meigas, a serem “boas mulheres”. Elas podem até estudar e trabalhar, mas têm que saber se comportar, e isso significa não ter muita liberdade. E todos nós crescemos achando que essas verdades são as únicas verdadeiras. Só que não é bem assim. Apesar de o homem e a mulher nascerem com semelhanças físicas e biológicas, os costumes e alguns valores são diferentes para cada um, dependendo do lugar em que eles vivem. Tem lugares em que os homens não ajudam de jeito nenhum nas tarefas da casa. Nesses lugares é comum as pessoas acharem que cuidar dos filho e da casa é “coisa de mulher”. Mas tem lugares em que muito homem cozinha, dá banho nos filhos, põe pra dormir. Tem lugares em que as mulheres trabalham na construção civil, dirigem metrô e ônibus, atividades que antes só os homens exerciam. Agora, você já reparou que a principal divisão que existe entre homens e mulheres é a divisão em “tarefas masculinas” e “tarefas femininas”? Isso também foi a gente que inventou. Uma das coisas que ajudaram a “criar” essa divisão foi a ideia de que o homem deveria garantir o sustento da família, para que nada lhe faltasse, e protegê-la. 29 A consequência disso é que os homens são responsáveis pelas principais decisões em todas as áreas: educação, saúde, política etc. Mas o pior é que, na nossa sociedade, quase sempre as mulheres ficam com as tarefas e profissões menos valorizadas. Essa diferença acaba criando desigualdades e preconceitos, e é aí que está o grande problema. As mulheres ganham menos do que os homens, e a maior parte das profissões exercidas pelas mulheres (empregada doméstica, babás, professora, enfermeira etc.) é pouco valorizada. Tá na Mão Filme da hora ro: é a história de reção de Mike Ca Di – s ia le ba de sua A encantadora scer. A tradição de ão gêmeo ao na irm o eu rd pe e cia e uma menina qu Com sua inteligên ada de um líder. eg ch a va ra pe aldeia. comunidade es m os meninos da para competir co ta lu a in en m a sensibilidade, ória de uma : trata-se da hist od wo st Ea t in Cl – Direção de Menina de ouro econceitos, ela . Enfrentando pr xe bo r ta lu a er o sonh jovem cujo maior nca deixando ento, mesmo nu im ec nh co re ou s e conquist rompeu barreira mília. a pela própria fa de ser discriminad 30 Diversidade sexual Você já parou para pensar em como a vida seria chata se todos fôssemos iguais, pensássemos do mesmo jeito e tivéssemos os mesmos gostos? Ainda bem que não é assim, que existe a diversidade. Somos seres diversos na forma de pensar, de agir, de ver o mundo e também de expressar a nossa sexualidade, refletida na maneira de nos comportar, nas nossas atitudes e na maneira como nos relacionamos afetiva e eroticamente. A isso chamamos de diversidade sexual. O modo de as pessoas se expressarem, sejam elas heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, é bastante diverso. No entanto, os gays e as lésbicas, as travestis e os transexuais são as pessoas que mais sofrem preconceito e discriminação na nossa sociedade, só porque não seguem um padrão de comportamento heterossexual, considerado “certo” por muitas pessoas. Nesses casos, onde ficam os direitos das pessoas de se expressarem da forma que desejarem? Antes de respondermos a essa pergunta, vamos conversar um pouco sobre orientação sexual. Orientação sexual é a atração afetiva, emocional e sexual que uma pessoa sente por outra. Essa atração pode ser por alguém do sexo oposto (heterossexual), por alguém do mesmo sexo (homossexual) ou por ambos os sexos (bissexual). A heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade fazem parte da diversidade sexual, ou seja, das várias formas de vivenciar e expressar a sexualidade. Homossexualidade não é sinônimo de doença física, nem de problema psicológico. Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser doença, desvio ou perversão, sendo excluída, enquanto “desordem”, do Diagnostic and Statistical Manual (DSM) da Associação Psiquiátrica Americana. No Brasil, a homossexualidade deixou de ser considerada doença pelo Conselho Federal de Medicina, em fevereiro de 1985. Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia reforçou essa decisão, proibindo tratamentos psicológicos com o objetivo de “converter” uma pessoa homossexual em heterossexual. 31 Ser gay ou lésbica não é uma questão de opção ou escolha. Assim como os heterossexuais não escolhem ser heterossexuais, os homossexuais e os bissexuais também não escolhem isso, porque a orientação afetiva e sexual é algo natural de cada pessoa. Não há como um homossexual influenciar um amigo para que ele seja homossexual também. E não é o nosso corpo biológico que define por quem iremos sentir atração sexual ou afeto. Apesar de sermos socializados desde que nascemos para construir nossa identidade de gênero (masculinidade ou feminilidade) de acordo com o nosso sexo biológico, nem sempre isso é possível. Travestis, por exemplo, têm pênis (nasceram biologicamente homens), mas sua identidade de gênero é feminina. Se liga! A palavra homossexualismo foi adotada há algumas décadas para definir a homossexualidade como doença. Por essa razão, os gays não usam o sufixo -ismo. Chamamos então de homossexualidade. 32 Pra entender Identidade de melhor gênero . ou uma garota to ro ga m u r se im como formas de carinhosos, ass e Existem muitas s o ig e m , is os s sensíve bém conhecem m Ta s. Existem garoto ta ru b e ar conta as agressivas o e adoram tom lã o existem menin b m u m te a oje, tes, que b ó que, ainda h S r. a h n zi meninos valen co m enino, inas que odeia nceito se um m co re p da casa, e men m co ra , essoas enca ste, na verdade xi e e u q O . a maioria das p lé a b m da iz que gosta de , que depende ta ro por exemplo, d ga e to ro portante é as de ser ga e se vive. O im u q são várias form m e io e m de o a um e d “ser homem” e e d s a rm história de cad fo e s o nos idade de jeito a maneira com é ro respeitar a infin e n gê e d e ara identidad ou mulheres p s n e m o h “ser mulher”. A o m ,e expressamos co o à nossa volta ã st e e sentimos e nos u q s a o ata-se da para as pess s reconheça. Tr o n nós mesmos e e d a d e ci so ados, os que a cidos e respeit e h n co como desejam re s, o st eremos ser vi rtando se forma como qu eres, não impo lh u m o m co u o ênis. como homens a ou com um p n gi va a m u m nascemos co 33 Fala, galera! Aí vai um bate-papo rápido com Eduardo Santarello, do Grupo de Jovens e Adolescentes Ativistas (JA!), da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Quando a gente se descobre homo ou bissexual, graças à cultura embutida na nossa cabeça, começam a aparecer muitas dúvidas, mas a pergunta que não cala é: por quê? Parece que algo ruim aconteceu e queremos saber quem é o culpado. Ninguém tem culpa (se é essa a resposta de que você precisava). Cada pessoa tem suas realidades e posturas diferentes em relação a tudo na vida. E não é diferente em relação à descoberta de sua sexualidade. Às vezes um adolescente heterossexual tem mais dificuldades e tabus na sua expectativa de vida sexual do que um garoto gay, e vice-versa. O que importa, de verdade? É você estar de bem consigo mesmo. O resto você vai levando conforme as coisas vão acontecendo. Se você é jovem e está se descobrindo agora, não fique assustado; mesmo se já descobriu faz tempo, mas ainda não está bem, não se sinta obrigado a colocar essa informação num outdoor, nem sinta que é a única pessoa do mundo a viver essa realidade. Não se feche. Em primeiro lugar, abra seu coração e sua mente para você mesmo, identifique o que você realmente é, e, se chegar a alguma conclusão, se abra com algum amigo verdadeiro. Contextualize uma nova forma de ver o mundo sem dor nem traumas e avalie os riscos de ganhar e perder. Lembre-se: sexualidade não é só sexo; vem no pacote o seu comportamento na sociedade... Optar é quando a gente escolhe. Até hoje nunca vi nenhum relato de alguém que é homo ou bi porque escolheu, mas sim porque é. Então, se alguém perguntar a você o motivo pelo qual optou ser o que é, corrija-o dizendo que, assim como ninguém opta por gostar de gordinhos ou magrinhos, de mais velhos ou mais novos, ninguém opta por gostar de homem ou de mulher. Seguimos apenas a nossa orientação natural, que não precisa ter resposta ou motivo, necessariamente, mas que deve ser respeitada, obrigatoriamente. 34 Se liga! O assunto é o Projeto de Lei PL 5003/2001, de autoria da deputada Iara Bernardi (PT-SP), que transforma a homofobia em crime e está na ordem do dia no Congresso Nacional. O movimento de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT) comemora o fato. “É uma questão de igualdade civil”, aponta Julian Rodrigues, da assessoria da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão Sexual. “Hoje se separam as pessoas homossexuais, que têm seus direitos diminuídos. Vivemos como num apartheid, mas não pela cor.” Essa Frente Parlamentar é um grupo de 92 deputados e senadores que promovem discussões e se unem para levar adiante projetos que tratem do tema. Uma grande vitória e uma força de representação dentro do Congresso, onde os conservadores tentam diluir as iniciativas dos representantes de minorias. Sorte bem diferente teve o primeiro projeto de lei em defesa dos homossexuais, apresentado, em 1995, pela então deputada federal Marta Suplicy (PT-SP). O projeto do “casamento” homossexual previa que os mesmos direitos fossem concedidos a casais hétero e homossexuais num casamento civil ou situação similar (união estável). Ou seja: direito de herança e pensão em caso de morte, divisão de bens com segurança numa separação etc. A pressão das bancadas evangélica e católica foi tão forte que a proposta sumiu da pauta de votação diversas vezes. Até hoje o projeto está engavetado, dependendo da iniciativa de um novo parlamentar para retomar os passos. “Usaram o projeto como moeda de barganha”, diz Beto de Jesus, que acompanha as iniciativas políticas e atua nas Associações Nacional e Internacional de GLBT. 35 Ações de entidades e a promoção das paradas em todo o país são um grande impulso para que a discussão das questões ligadas à homossexualidade ganhe força no Congresso. Dessa forma, também colocam em pauta, na cabeça da galera e dos políticos, os direitos GLBT. Quer consultar o andamento das leis? Anote os números de cada uma e procure no site www.camara.gov.br: • Projeto de Lei de Criminalização da Homofobia: PL 5003/2001 (autor: Iara Bernardi) • Projeto de Lei de união civil estável entre homossexuais: PL 1151/1995 (autora: Marta Suplicy) Glossário Homofobia: conduta recheada de preconceito e discriminação em razão da homossexualidade de uma pessoa. transvestem para poder se identificar com a imagem que têm de si mesmas. Essa população passa por graves problemas de abandono social. Tá na Mão Filmes da hora to entre uma um relacionamen tra os m e film te ração – Es se sente Uma estranha at ao descobrir que ões desse homem aç re as e , em m travesti e um ho ais. ja se envolver m vesti e que dese tra a um r po ído atra Anne ar tha Coolidge e Jane Anderson, M de o çã re Di – s ções Desejos proibido os em várias gera ndo casais lésbic lve vo en s ria tó his Reche: são três que se casal de senhoras imeira trata de um pr a s: te en er dif e épocas tão da identidade a é sobre a ques nd gu se a ; po m stante te relacionam há ba sal de mulheres a é sobre um ca im últ a ; as bic um casal de lés de gênero entre avidar. Aí vão as respostas sobre as principais dúvidas que a galera tem sobre a diversidade sexual: O que são transexuais? São pessoas que têm sua identidade de gênero completamente oposta ao seu corpo biológico, apresentando a necessidade de moldar seu corpo, suas feições e seu jeito de se manifestar para se aproximar do jeito do sexo oposto. Há forte desejo de adequar o corpo biológico à sua identidade de gênero por meio de cirurgia. Existem tanto transexuais masculinos (corpo biológico feminino e identidade masculina) como transexuais femininas (corpo biológico masculino e identidade feminina). O que são travestis? São pessoas que têm sua identidade de gênero mais próxima à do sexo oposto, mantendo características do seu corpo biológico. Embora muitas travestis invistam na transformação física, a maioria não tem intenção de alterar seu sexo biológico. Existem travestis de ambos os sexos. Travestis são pessoas que se 36 que deseja engr um e que se passa em Lea Pool: é um film de o çã re Di – inas Assunto de Men mas tudo uma pela outra, s se apaixonam ta ro ga as du de colégio interno on dade. sua homossexuali a delas descobre um de ã irm a muda quando s Moodysson: o ção de Luka de colégio – Dire aneira filme conta, de m nes, ovocados por Ag ados por Elin e pr nt fre en s ito nfl a, os co sensível e diver tid o computador. edos apenas para gr se us se a nt co ântica que mo é uma menina rom tos, mostrando co ta de erros e acer ple re da na jor a Ambas vivem um itos. tabus e preconce de hoje, cheio de do un m no r sa es difícil se expr Amigas Na web w.corsasp.org Grupo Corsa: ww ovem.com E-jovem: www.e-j s.com.br en X-teens: www.xte 37 Gravidez na Adolescência entre os próprios adolescentes, com os familiares, com a escola, com o serviço de saúde, com especialistas etc. Pai e mãe adolescentes têm os mesmos direitos de receber apoio e assistência que pai e mães adultos. A gravidez na adolescência é tema constante nos programas de televisão, nas reportagens de jornais e revistas, nas escolas, nos serviços de saúde e nas rodas de bate-papo entre os amigos. Quase sempre que falamos sobre esse assunto, ele vem recheado de ideias negativas, como se fosse uma doença que precisa ser evitada. Quem nunca escutou a famosa frase “Vamos prevenir a gravidez precoce!”? Essas ideias mostram que a sociedade ainda encara os adolescentes como pessoas irresponsáveis, como se eles não estivessem “preparados” para assumir os cuidados para com uma criança e como se a gravidez fosse necessariamente fruto de uma atitude inconsequente e impensada. Mas peraí! Uma garota adolescente pode ficar grávida por vários motivos: ou ela e o parceiro não usaram um método contraceptivo (camisinha, pílula etc.) – porque não conheciam nenhum, porque tiveram dificuldade para comprar ou para pegar nos serviços de saúde (onde é grátis) – ou porque se descuidaram, vacilaram mesmo. Mas eles também podem ter engravidado porque queriam ser mãe e pai. Mesmo na adolescência a gravidez pode ser uma escolha. É difícil para muitas pessoas, principalmente para as adultas, aceitarem que a gravidez e o exercício da maternidade e da paternidade na adolescência é um dos direitos reprodutivos que precisam ser respeitados. Além disso, os adolescentes precisam ter – e têm – o direito de obter informações seguras sobre as formas de evitar uma gravidez e sobre como planejá-la, como acessar serviços de saúde que os atendam com respeito e dignidade, sem constrangêlos, e como obter os métodos contraceptivos de que precisam acompanhados de orientação médica eficiente e confiável. Isso não quer dizer que tudo bem os adolescentes engravidarem sem planejamento, porque uma gravidez, ter um filho, tornar-se mãe ou pai nessa fase da vida muda muita coisa, e nem sempre é a melhor opção. Só que não dá para ficar brigando com os adolescentes, recriminando-os e punindo-os; o melhor a fazer é conversar muito sobre esse assunto. Essa conversa pode rolar 38 Se liga! O que fazer quando a garota descobre que está grávida? A primeira coisa é conversar com o parceiro sobre o que está acontecendo e tentar envolvê-lo ao máximo nas suas decisões daqui pra frente. Lembre-se de que o garoto pode estar tão ou mais nervoso do que a garota com essa novidade. Independentemente de o parceiro apoiá-la ou não, procure um adulto de sua confiança para conversar sobre seus sentimentos e planos. Nessa hora, quanto mais pessoas de sua confiança você tiver ao seu lado melhor. Essa mesma dica vale para os garotos quando descobrirem que terão um filho. A maternidade e paternidade na adolescência Vocês perceberam que, quando falamos em gravidez na adolescência, automaticamente remetemos às garotas, como se apenas elas estivessem envolvidas na situação e fossem as responsáveis por ela? Que quase sempre deixamos os garotos fora dessa história? É sobre esse assunto que vamos conversar agora. Para isso, vamos fazer uma viagem à nossa infância e responder a algumas perguntas básicas. • Qual era a cor preferida das meninas? • Menina brincava de quê? • Como eram as roupas das meninas? • Se porventura uma menina quisesse brincar de bola, o que achariam dela? 39 Provavelmente, pelo menos duas das respostas abaixo foram dadas por você: • Rosa. • Boneca, cozinhar, arrumar a casa. • Vestidos cheios de laços e babados . • Que parecia um menino! parceiro tem o direito de acompanhá-la. É uma boa oportunidade para receber informações importantes sobre o desenvolvimento do bebê, tirar dúvidas e ir aprendendo a cuidar dele. Essas respostas nos fazem pensar sobre a forma como, desde crianças, as garotas são estimuladas a cuidar do outro e das coisas. Elas cuidam de boneca, preparam a comida, trocam fraldas, colocam a boneca para dormir etc., cuidam da casinha, lavando os pratos, passando pano no chão etc. É dessa forma que vamos associando a imagem da mulher à de mãe, como se fosse tudo a mesma coisa, como se toda mulher quisesse necessariamente ser mãe. E nos esquecemos de que ser mãe é uma escolha, um direito reprodutivo! Essa ideia de que ser mulher é igual a ser mãe cria outra ideia, a de que só as mulheres sabem cuidar de filhos. E cadê os homens nessa história? Não é à toa que, quando pinta uma gravidez, logo julgamos os garotos inconsequentes e irresponsáveis. E, na maioria das vezes, nem consideramos que eles também podem aprender a cuidar de um filho. Isso é preconceito. Na verdade, se fala muito pouco sobre o papel dos homens na discussão sobre gravidez, e assim fica difícil envolver os garotos nesse assunto. Existem poucos projetos educativos em escolas e serviços de saúde que envolvem o pai adolescente em suas ações. Geralmente, as pessoas apenas julgam negativamente o garoto e dificultam ainda mais o interesse dele em assumir a paternidade como um direito e a responsabilidade pelo filho. Não podemos nos esquecer de que as pessoas, independentemente de serem homens ou mulheres, não nascem sabendo ser mãe ou pai. Isso a gente aprende no dia a dia, com a ajuda de outras pessoas. Mas uma coisa é certa: assim como uma mulher adulta, a adolescente grávida precisa tomar alguns cuidados para que a gravidez ocorra sem problemas, como fazer as consultas do pré-natal em uma Unidade de Saúde, por exemplo. É nessas consultas que o médico acompanha o crescimento do bebê e a saúde da mãe adolescente. E o Se liga! De acordo com a Lei no 11.108/05 de 1990, qualquer gestante tem o direito de ter um acompanhante em todas as consultas do prénatal, durante o pré-parto, o parto e o pós-parto. Nesse sentido, ser agente dos direitos reprodutivos pressupõe trabalhar com a questão da gravidez na adolescência, considerando mulheres e homens no debate. Significa também desconstruir preconceitos e discutir valores da sociedade sobre esse tema, entendendo que nem toda gravidez na adolescência é indesejada. Tira-dúvidas3 1. Se transar uma vez só pode ficar grávida? Sim, uma única transa pode resultar numa gravidez, se a mulher estiver no seu período fértil. 2. Se transar com meninos colocando o pênis nas coxas, pode engravidar? Depende em que altura da coxa. Se for muito próximo da vulva, sim. Quando nas “brincadeiras sexuais” o pênis se aproxima muito da entrada da vagina e o homem ejacula, se a mulher estiver no período fértil existe a possibilidade de que uma gravidez aconteça. 3. As respostas abaixo foram retiradas do site www.aids.gov.br/adolesite. 40 41 3. Masturbação pode fazer mal à saúde? Não, o ato em si não faz mal à saúde. Só se torna um problema quando a pessoa passa a se masturbar compulsivamente (com muita frequência e em qualquer lugar), com isso prejudicando outros aspectos da vida, como os estudos, as relações com outras pessoas e o trabalho. 4. Masturbação faz crescer o pênis, a mão, peito nos homens, dá espinhas? Não, não provoca nada disso. A masturbação é uma atividade íntima, pode ajudar a pessoa a conhecer o próprio corpo e a entrar em contato com o prazer. A falta de informação e os tabus que ainda cercam esse tema é que criam problemas para a pessoa que se masturba, seja por estigmatizá-la, seja por possibilitar o surgimento da culpa – aliás, sentimento totalmente sem fundamento. 5. Masturbação faz perder a virgindade? Desde que praticada com cuidado, não. Mas, se para se masturbar a menina introduzir algum objeto ou os dedos na vagina, o hímen poderá se romper. o em brasileiro basead Lui Farias: filme de o çã re Di – a vou à lut Com licença, eu rios conflitos scente que tem sé ole ad a um de trata a história fatos reais que re deas de sua vida. tenta tomar as ré e ida av gr en , na família iro que trata da mentário brasile em de 22 grávida de um jov anos, está scência. Evelin, 13 , declara gravidez na adole . Luana, 15 anos as recentemente og dr de o fic trá o ne, 14 anos que deixou só para ela. Edile java ter um filho se de is po z, ide grav . Ao que planejou sua sua vizinha Joice bém engravidou m ta e qu x, Ale filho de anos, espera um ssas três jovens. ado o cotidiano de nh pa om ac é o longo de um an 42 imado elaborado unicação pela ECOS – Com 2007. Salud Y Gênero, uto Promundo e tit Ins i, pa Pa o ut Instit em Sexualidade, inas são criadas rcebe que as men pe e qu ia, ar M da menina influencia Conta a história que essa criação inos, e descobre en m s do te en er de maneira dif s da infância a s. De lembrança de itu at e s to en mportam seus desejos, co . papel no mundo questiona o seu ia ar M , ro tu fu o sonhos para Ou Filmes da hora Meninas – Di – Comunicação em borado pela ECOS ela o ad im an eo ão – Víd Minha vida de Jo nero, 2002. É um undo e Salud Y Gê om Pr o ut tit Ins i, tituto Papa z, João, e os Sexualidade, Ins tória de um rapa s, que conta a his ra lav pa m se o, tornar-se desenho animad crescimento para seu processo de e nt ra du a nt fre en , as desafios que ele miliar, a homofobia mo, a violência fa his ac m o : de da a socie z da homem em noss sexual, a gravide eira experiência im pr a , de da ali ão à sexu de. dúvidas em relaç ível e a paternida almente transmiss xu se ça en do a namorada, um aria – Vídeo an tra história de M Tá na Mão Werneck: docu reção de Sandra Tá na Mão Na web .br rg w.institutopapai.o Instituto Papai: ww r reprolatina.org.b Reprolatina: www. 43 Prevenção das DST/aids (matéria da Revista Viração sobre aids) Uma breve história4 Por volta de 1980, várias pessoas começaram a procurar atendimento médico por apresentarem um tipo de câncer de pele bastante raro ou uma pneumonia muito grave. Todas essas pessoas estavam com o sistema de defesa do corpo muito debilitado e morreram poucos meses depois. Como a maioria delas eram homossexuais masculinos, pensou-se, a princípio, que fosse uma doença exclusiva de gays. No entanto, novos casos foram surgindo, e não apenas entre homens que faziam sexo com homens. Usuários de drogas injetáveis, homens e mulheres que haviam recebido transfusões de sangue, principalmente os hemofílicos5, começaram a apresentar os mesmos sintomas. Em 1982, deu-se o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) a esse quadro de doenças e sintomas. Em 1983, cientistas franceses identificaram o vírus em pessoas que apresentavam os sintomas da aids e, logo em seguida, esse mesmo vírus foi detectado por cientistas norte-americanos. Hoje, ele é conhecido pelo nome de HIV, Vírus da Imunodeficiência Humana. O desconhecimento sobre como as pessoas se infectavam mais o fato de a aids ter sido detectada, inicialmente, em determinados grupos sociais marginalizados na sociedade deram origem a muitos mitos e inverdades, como, por exemplo, o de que a doença só atacava homossexuais, usuários de drogas, hemofílicos e pessoas promíscuas. Esses grupos foram chamados de “grupos de risco”. Esses mitos também contribuíram para aumentar o preconceito contra os homossexuais. Inúmeras pessoas perderam seus empregos por essa razão, e surgiram até casos de homossexuais que foram expulsos de suas próprias cidades só pelo fato de terem uma orientação sexual diferente da maioria. Hoje, mesmo sabendo que o HIV de uma pessoa infectada se encontra no sangue, no líquido claro que sai do pênis antes da ejaculação, no esperma, na secreção vaginal, e que objetos infectados por essas substâncias e o leite da mãe soropositiva também contêm o HIV, ainda tem muita gente achando que não precisa se cuidar. Mesmo sabendo que esse vírus é transmitido através das relações sexuais sem o uso da camisinha e por sangue contaminado, ainda tem gente que usa drogas injetáveis, compartilhando seringas usadas e dispensa a camisinha na hora da transa. Além desses comportamentos que colocam as pessoas em situações de risco de se infectar com o HIV, e outras DST, existem outros fatores que contribuem para uma maior ou menor exposição ao vírus: como a falta de informação, a dificuldade de ter a camisinha na hora “H” porque não conseguiu pegar nos serviços de saúde, por exemplo, os tabus e mitos em torno da sexualidade, as crenças e valores individuais etc. Nesse sentido, está mais do que provado que a aids pode atingir qualquer pessoa: mulheres e homens, velhos e crianças, jovens e adultos, ricos e pobres, brancos e negros, heterossexuais ou homossexuais. Ou seja, qualquer pessoa está vulnerável a se infectar pelo HIV, se não se cuidar! Enquanto tiver gente achando que a aids só acontece com os outros e resistindo a usar a camisinha em todas as relações sexuais, mesmo sabendo como se pega e como não se pega a aids, mais e mais pessoas estarão se infectando pelo HIV. É um descuido enorme com a própria saúde e com a de seus parceiros. 4. Texto extraído e adaptado do Boletim ECOS para Adolescentes, número 13, dezembro de 2005. Fontes: Mulher e aids, Sexo e Prazer sem Medo/Núcleo de Investigação em Saúde da Mulher e da Criança – Instituto de Saúde; Manual Um Abraço/ECOS; e aids, O Que é? Que Podemos Fazer?/ ABIA. 5. Hemofílicos são portadores de uma doença que dificulta a coagulação do sangue e que necessitam de transfusão de sangue frequentemente. 44 45 Pra entender melhor têm que certas pessoas e u q o ã iç d n ue co e é uma a adoecer do q e r a ct fe Vulnerabilidad in se pessoas suscetíveis a ? Porque essas ce te as tornam mais n co a so is Por que se prevenir. Isso u o r ge te ro outras pessoas. p se tíveis ssibilidades de as estão susce o ss e p têm menos po s a s a d suas então, que to no dia a dia de s o significa dizer, n a d r e fr so ças ou a evitá-las, a adquirir doen s condições de re io a m m tê rego, s uma rmações, emp fo n (i vidas, mas alg s o rs cu re m de mais porque dispõe utras. dade) do que o ri la o sc e , a d n re O que é aids? A aids é uma doença que aparece algum tempo depois que uma pessoa é infectada pelo vírus HIV. Uma pessoa fica doente de aids porque o vírus HIV destrói as defesas que o corpo possui contra as doenças. Pode demorar mais de dez anos para a aids aparecer. Só tem um jeito de a gente saber se tem ou não o HIV: é fazendo o teste. O teste é gratuito. Basta se informar no serviço de saúde do seu bairro para saber onde é possível fazê-lo. A aids ainda não tem cura, mas já existem diversos remédios que mantêm a doença sob controle. 46 O vírus HIV está • No sangue • No corrimento e nas secreções da vagina • No esperma e nas secreções do pênis • No leite da mãe Não se pega e não se passa aids • Na piscina • Pelo suor • No assento do banheiro • Pela toalha ou pelo sabonete • Em talheres, copos, pratos e xícaras • Pela picada de mosquito O HIV pode entrar no corpo • Pelo sexo anal, sexo oral e sexo vaginal • Na transa de - Mulher com homem - Mulher com mulher - Homem com homem • Pela agulha ou seringa já utilizada na hora de aplicar droga, fazer tatuagem e colocar piercing. • Da mãe para o bebê - Durante a gravidez - Na hora do parto - Pelo leite, na amamentação ATENÇÃO É preciso fazer o teste. Se der positivo, a mãe deve tomar os remédios indicados pelo médico. Dá para evitar que o bebê tenha o vírus da mãe antes de ele nascer. Tudo isso deve ser feito bem no começo da gravidez! 47 E o ECA nisso tudo? Você já deve ter percebido que a população jovem é uma das mais vulneráveis a se infectar pelo vírus do HIV. Ouvindo profissionais que atuam na área de saúde, fica claro que o combate à proliferação da aids muitas vezes é prejudicado pela falta de uma política de prevenção mais séria. Mas o que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem a ver com isso? Estratégias que incentivam o exercício do protagonismo juvenil são uma das alternativas mais eficientes para a contenção da epidemia. Quando os próprios jovens se reúnem para pensar, planejar e introduzir intervenções apropriadas, por usarem uma linguagem mais próxima e direta, de e para jovens, as chances de produzir mudanças significativas no jeito de curtir uma transa “sem grilos” passam a ser maiores, mais divertidas e sedutoras. O artigo 11 do ECA assegura atendimento médico à criança e ao adolescente através do Sistema Único de Saúde, garantindo-lhes o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. “O poder público tem a obrigação de fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.” A lei prevê a implementação de programas de proteção voltados tanto ao tratamento especializado quanto à prevenção. No entanto, as estatísticas mais recentes demonstram que as abordagens utilizadas para informar sobre os métodos de prevenção disponíveis não estão surtindo o efeito desejado. Se as informações existem e são divulgadas, se comportamentos mais saudáveis e responsáveis no que diz respeito à prática do sexo seguro podem ser aprendidos, mas isso não está acontecendo, podemos concluir que alguma coisa está errada na absorção do conteúdo transmitido. Além de direitos básicos, como saúde, alimentação, moradia e educação, o Estatuto garante em seu texto o direito à informação e à participação. E é por isso que representa um instrumento útil para que a juventude possa interferir nas políticas públicas e, junto a outros atores, aumentar os espaços de debate e reflexão para a busca de soluções afinadas com a cultura, a sexualidade e os interesses singulares dos jovens, transformando a realidade individual e coletiva. Para que aconteça uma redução no número de adolescentes que vivem com o HIV, o trabalho de prevenção deve estar integrado à ideia de cidadania. É um desafio que envolve questões de gênero, direitos reprodutivos, uso de drogas, preconceitos, educação, oportunidades de desenvolvimento, crenças e valores que vão mudando conforme o contexto. 48 Como se proteger das DST/aids? CAMISINHAAAAA!6 A camisinha é a maneira mais fácil e mais eficiente de barrar a transmissão de fluidos corporais, sangue, esperma e secreção vaginal para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a aids. A camisinha masculina é uma capa de borracha (látex) que é colocada sobre o pênis, e reduz efetivamente a transmissão das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e da aids (síndrome da imunodeficiência adquirida). O preservativo é o único método eficaz na prevenção dessas doenças e age também como contraceptivo, isto é, evitando a gravidez. 6. Informações retiradas do site www.aids.gov.br/adolesite. 49 COMO USAR CORRETAMENTE A CAMISINHA MASCULINA • Coloque sempre a camisinha antes do início da relação sexual. • Coloque a camisinha quando o pênis estiver duro. • Não deixe a camisinha apertada na ponta do pênis. Deixe um espaço vazio (2cm) na ponta da camisinha; ele vai servir de depósito para o esperma. • Aperte o bico da camisinha até sair todo o ar. Cuidado para não apertar com muita força, para não estragar a camisinha. • Encaixe a camisinha na ponta do pênis, sem deixar o ar entrar. Vá desenrolando até que ele fique todo coberto. Se ela não ficar bem encaixada na ponta ou se ficar ar dentro, a camisinha pode rasgar. OUTRAS DICAS • Se a camisinha romper durante a relação, retire o pênis imediatamente e coloque uma nova. • Depois de gozar, retire o pênis quando ainda estiver duro. Quando o pênis começa a amolecer, a camisinha fica frouxa, permitindo que o esperma escape pela parte de cima. • Retire a camisinha com cuidado: não deixe que ela escorregue, nem que o líquido seja derramado. • Depois de retirada a camisinha, embrulhe-a em papel higiênico e jogue-a no lixo. 50 ATENÇÃO 1. Não se deve passar nada na camisinha. Se quiser que ela fique mais lisa na penetração, use as já lubrificadas. Em último caso, use apenas lubrirficantes à base de água. 2. Use camisinha nova cada vez que tiver relação. 3. Guarde as camisinhas novas em lugar fresco e seco. 4. As camisinhas que estiverem pegajosas, ressecadas ou estragadas não devem ser usadas. 5. Lave os órgãos genitais com água e sabão após cada relação sexual. Existe mais alguma informação importante sobre a camisinha que se deve saber? Sim, é importante, também, saber outras informações sobre o uso da camisinha: 1. Verificar o selo de garantia do INMETRO ( Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial) e a data de validade na embalagem do preservativo; 2. Use a camisinha desde o início até o final da penetração, não apenas na hora de ejacular (gozar); 3. Use uma camisinha nova em cada relação sexual, e só utilize uma de cada vez, pois o atrito entre duas camisinhas aumenta o risco de ruptura; 4. O uso regular de preservativo pode levar ao aperfeiçoamento na sua técnica de utilização, reduzindo a freqüência de ruptura e escape e, conseqüentemente, aumentando a sua eficácia. Estudos recentes demonstraram que o uso correto e consistente do preservativo masculino reduz o risco da infecção do HIV e outras DST. Quais são as dicas para usar a camisinha com maior segurança? 1. Se quiser que a camisinha fique mais lisa durante a penetração, use lubrificante feitos à base d´água. Qualquer outra substância utilizada para lubrificar a camisinha provocará o risco de ruptura. 2. Use uma camisinha nova em cada relação sexual, e só utilize uma de cada vez, pois o atrito entre duas camisinhas aumenta o risco de ruptura. 3. Guarde as camisinhas em lugar fresco e seco. 4. As camisinhas que estiverem pegajosas, ressecadas ou estragadas não devem ser usadas. 51 Não se esqueça de que você tem o direito de pegar camisinhas gratuitamente na unidade de saúde!!! CAMISINHA FEMININA A camisinha feminina é uma “bolsa” feita com um plástico macio, o poliuretano, que é um material mais fino que o látex do preservativo masculino. Essa bolsa recebe o líquido que o homem libera na relação sexual, impedindo o contato direto dos espermatozoides com o canal vaginal e com o colo do útero da mulher, evitando assim a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, do HIV e prevenindo a gravidez não planejada. A bolsa tem 15 centímetros de comprimento e oito centímetros de diâmetro, sendo, portanto, bem mais larga que o preservativo masculino. Tem, porém, maior lubrificação. Na extremidade fechada existe um anel flexível e móvel que serve de guia para a colocação da camisinha no fundo da vagina. A borda do outro extremo termina em outro anel flexível, que vai cobrir a vulva (parte externa da vagina). • O anel externo deve ficar uns 3 cm para fora da vagina – não estranhe, pois essa parte que fica para fora serve para aumentar a proteção (durante a penetração, pênis e vagina se alargam e, então, a camisinha se ajusta melhor); • Até que você e o seu parceiro tenham segurança, guie o pênis dele com a sua mão para dentro da sua vagina. Obs.: com o vaivém do pênis, é normal que a camisinha se movimente. Se você sentir que o anel externo está sendo puxado para dentro, segure-o ou coloque mais lubrificante. Passo a passo: • Encontre uma posição confortável para você – pode ser em pé, com um dos pés em cima de uma cadeira, sentada com os joelhos afastados, agachada ou deitada; • Segure a camisinha com o anel externo pendurado para baixo; • Aperte o anel interno e o introduza na vagina; • Com o dedo indicador, empurre a camisinha o mais fundo possível (a camisinha deve cobrir o colo do útero); • Uma vez terminada a relação, retire a camisinha, apertando o anel externo; torça a extremidade externa da bolsa para garantir a manutenção do esperma no interior da camisinha; puxe-a para fora delicadamente. VOCÊ SABE SE PROTEGER DA AIDS? 1) Nas relações sexuais, você usa a camisinha... ( ) A – sempre. ( ) B – às vezes. ( ) C – nunca. 2) Numa festa, você percebe que vai rolar uma transa. Só que você não tem preservativos. Você... ( ) A – vai atrás de um. ( ) B – se preocupa, mas deixa a transa acontecer assim mesmo. ( ) C – não se preocupa, porque a pessoa é bonita e tem aparência saudável. 52 53 3) Você está na piscina e percebe que uma pessoa com aids está ao seu lado. Você... ( ) A – sai rapidinho. ( ) B – continua tomando seu banho, porque sabe que não se pega aids em piscinas. ( ) C – sai discretamente da piscina. 4) Como você acha que uma mulher grávida, HIV positivo, pode transmitir o vírus para o filho? ( ) A – Compartilhando os mesmos copos, pratos e talheres. ( ) B – Durante a gestação, no parto e na amamentação. ( ) C – Espirrando e tossindo próximo ao bebê. 5) Você está na rua e vê um amigo que não encontra faz tempo. Você andou sabendo que ele tem aids. Você... ( ) A – atravessa a rua e faz de conta que não o conhece. ( ) B – cumprimenta seu amigo de longe. ( ) C – dá um grande abraço no seu amigo e conversa com ele. 6) Como um usuário de drogas injetáveis deve se prevenir da transmissão do HIV? ( ) A – Compartilhando agulhas e seringas. ( ) B – Compartilhando somente equipamentos para diluição da droga. ( ) C – Usando seringas, agulhas e equipamentos de diluição da droga individuais. 7) Numa conversa, surge o tema aids. Você... ( ) A – não se interessa pelo assunto, porque só acontece com os outros. ( ) B – fica interessado, porque a aids é um problema de todos. ( ) C – muda de assunto, porque esse não é um tema para se conversar entre amigos. 54 RESPOSTAS (cada resposta correta vale 10 pontos) 1) A; 2) A; 3) B; 4) B; 5) C; 6) C; 7) B. 0 a 20 pontos – Você precisa se proteger melhor. Procure mais informações. 30 a 50 pontos – Você está no caminho certo, mas a informação que você tem ainda não é suficiente para protegê-lo da aids. 60 a 70 pontos – Parabéns! Você tem informação e sabe se prevenir contra a aids. Divida essa informação com seus amigos. Se liga! Utilizar os serviços do CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), que é um serviço especializado nas DST/aids, é muito simples. Veja como funciona: 1. O primeiro passo é se cadastrar. As fichas de cadastro ficam arquivadas na recepção e no computador. 2. Depois de matriculado, o usuário pode frequentar os aconselhamentos coletivos (palestras e grupos de discussão). 3. Se quiser, o usuário também pode fazer os testes para verificação de infecção pelo HIV ou sífilis sem prescrição médica. O resultado demora cerca de quinze dias para sair. 4. Todos os que optam por fazer o exame passam por uma sala onde recebem aconselhamento individual, independentemente dos resultados. Caso o resultado seja positivo, são encaminhados para tratamento. Se for negativo, são alertados sobre a prevenção. 55 Se liga! O que são as DST? As DST (doenças sexualmente transmissíveis), como o próprio nome indica, são doenças transmitidas por meio da relação sexual. Pode ou não apresentar sintomas, tais como: coceiras, corrimento, verrugas, bolhinhas, feridas, ínguas. Por isso, fique esperto: se você apresentar qualquer um desses sintomas, procure um médico o mais rápido possível! Como se pega uma DST? Por meio das relações sexuais desprotegidas, sejam elas anais, orais ou vaginais. Elas também podem ser transmitidas da mulher grávida para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação. Como agir em caso de suspeita de DST? Procurar atendimento profissional num serviço de saúde para fazer o diagnóstico, realizar o tratamento completo e receber orientações corretas sobre como evitar a transmissão e comunicar seu(s) parceiro(s). Tira-dúvidas7 1. Pode-se usar duas camisinhas ao mesmo tempo na hora da relação sexual? Não. Use apenas uma camisinha de cada vez. Quando a mulher estiver usando o preservativo feminino, o homem não precisa usar o preservativo masculino. O homem nunca deve usar dois preservativos. O atrito entre eles pode provocar o rompimento do látex. 2. Mosquitos e insetos transmitem o HIV? Há provas evidentes de que o HIV não é transmitido por mosquitos ou outros insetos, como pulgas, piolhos, percevejos e outros insetos que possam estar presentes na residência de doentes com aids. Eles não transmitem o vírus a outras pessoas. Sabe-se que o HIV vive em algumas células do organismo humano, mas que não vive nas células dos insetos. Portanto, mosquitos e outros insetos não podem ser hospedeiros do HIV. 3. É obrigatório comunicar a escola ou a empresa se uma pessoa é soropositiva? Não. É um direito do portador do HIV não contar para as pessoas do seu convívio social sobre sua condição. 4. O teste anti-HIV pode ser realizado sem a pessoa saber? Não. O teste só deve ser realizado com o consentimento da pessoa a ser testada e de forma voluntária, a menos que o teste tenha como objetivo selecionar doadores de sangue e doadores de órgãos para transplante, ou que seja feito com material anônimo (sem identificação). 5. O teste anti-HIV pode ser obrigatório para a admissão em um novo emprego? Não. O teste jamais pode ser compulsório (obrigatório). As leis brasileiras proíbem essa obrigatoriedade. 6. O HIV pode ser transmitido ao se fazerem tatuagens? Sim. O sangue pode aderir a qualquer instrumento que corte ou perfure a pele, e transmitido a outra pessoa que usar esse instrumento se ele não tiver sido esterilizado. 7. O HIV pode ser transmitido pelo beijo? Somente poderá ocorrer transmissão do HIV pelo beijo nas situações em que houver sangue infectado misturado à saliva, devido a uma lesão ou ferida na boca. 7. Informações retiradas do site www.aids.gov.br/adolesite. 56 57 8. Há perigo de contágio por meio dos aparelhos e instrumentos usados pelos dentistas? Sim. Por esse motivo, os instrumentos utilizados nos consultórios devem ser adequadamente esterilizados. Todos os pacientes têm o direito de questionar os dentistas sobre os cuidados tomados no consultório e até observar alguns deles: por exemplo, se o profissional usa luvas, se descarta a agulha utilizada, se tem estufa para esterilização etc. Tá na Mão e ? Se informe e tir sobre as DST/aids s ai m r be sa er Qu olesite w.aids.gov.br/ad dúvidas no site ww Estes outros sites www.aids.gov.br também podem todas as suas te ajudar: www.abia.org.br www.apta.org.br Se liga! Para o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) trabalhar com o HIV/aids é uma de suas prioridades. Através da campanha mundial Unidos com as crianças e os adolescentes – Unidos vamos vencer a aids!, o UNICEF Brasil vem desenvolvendo ações através de parcerias e do estímulo a participação de crianças e adolescentes: • A prevenção da transmissão vertical (mãe para filho); • A garantia do tratamento pediátrico (para bebês); • A proteção, cuidado e apoio a crianças e adolescentes afetados pelo HIV; • A prevenção, informação, habilidades e serviços para adolescentes e jovens. A campanha busca ampliar o acesso às informações necessárias para que os adolescentes e jovens protejam-se do HIV, aos meios de prevenção do HIV/aids e aos medicamentos. 58 Se quiser ligar: Corsini Tele aids – Centro 0800 111213 das 8h às 18h De 2a a 6a-feira, Filmes da hora s as consequência : o filme mostra ck ne er W ra nd o de Sa e dos Cazuza – Direçã ixão e intensidad e é regido pela pa qu , za zu Ca do ds. das escolhas ra lidar com a ai as dificuldades pa su tra os m is po momentos, e de s Livros imperdívei Depois daquela viagem itora Ática Valéria Polizzi, Ed a Viver, com Aids Ops! Aprendendo Editora Autêntica Bernardo Dania, 59 Viver com o HIV Como vimos, a adolescência é um momento de muitas descobertas e questionamentos. Imagine todo esse turbilhão de emoções acompanhado de uma especificidade: viver com o vírus HIV. Esta seção do fascículo se dedica a questão do viver com vírus HIV na adolescência. Por isso, convidamos adolescentes que vivem essa experiência para falar sobre o assunto. Por Karina Ferreira da Cruz, 22 anos, de São Paulo. Atualmente trabalha como Agente de Prevenção (Projeto do Programa Municipal de DST/aids da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo), no Projeto Tecer o Futuro, desenvolvido pela Associação Nossa Senhora do Bom Parto, além de atuar na Rede Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids. 1. Como é, para você, viver com HIV? Hoje em dia tem sido uma vida quase normal, pois não é facil viver com algumas doenças oportunistas… Reações negativas do corpo, ter que tomar a medicação todos os dias nos horários certos, ter que passar no médico todo mês (quando não toda semana)… Mas o legal é que hoje, mesmo com tudo isso, sou uma mulher casada, saio para me divertir, canto, danço e trabalho normalmente como qualquer outra pessoa. 2. Como é a sua relação com a família e os amigos? Para mim, é normal. Minha família toda sabe, e eles nunca me discriminaram por causa do HIV. Alguns amigos sabem e outros não, porque vejo quando há ou não necessidade de eles saberem. E os que não sabem… não é porque tenho medo de eles terem preconceito, mas simplesmente porque acho que não vai mudar em nada a nossa relação se eu contar. 3. Como você percebe a vivência da sexualidade pelos adolescentes que vivem com o HIV? É um pouco difícil definir a sexualidade do jovem que vive com HIV/AIDS, porque ela envolve muitas coisas, como a descoberta e o conhecimento do próprio corpo, suas precauções, seus medos e inseguranças. 60 Antes de mais nada, quando o jovem se descobre interessado por uma certa companheira e vê que a relação já está ficando mais séria, bate aquele ponto de interrogação: “Será que eu conto ou não conto que sou soropositivo?”. Quando já está decidido a contar ou não, surge outro dilema na hora da transa – como ele vive um conflito, tem medo de infectar a parceira. Aí se pergunta: “Posso confiar no preservativo? Como vou conseguir que minha parceira use camisinha?”. Quando essa fase passa, vêm mais perguntas: “Será que posso ter filhos? Será que eles vão nascer HIV+?”. Fora a dificuldade de alguns jovens homossexuais soropositivos, que se sujeitam tanto à violência moral quanto à violência física para não perder um parceiro. Isso quando não acontece de os jovens só acharem seguro ter relações com jovens que também são soropositivos. Parece que há liberdade sexual entre eles, mas sabemos que ainda assim há riscos. Por isso tentamos trabalhar a prevenção positiva, dizendo aos jovens que, mesmo tendo relações sexuais com jovens que também são soropositivos, eles devem usar o preservativo para evitar novas infecções e a mutação do vírus HIV em seus corpos. A questão estética também mexe muito com alguns jovens. Em certos casos, jovens que já tomam remédios há muito tempo e têm predisposição à lipodistrofia, um dos efeitos colaterais de alguns antirretrovirais, acabam perdendo gordura em algumas regiões do corpo, como braços, pernas e rosto. Há também casos de acúmulo de gordura na região da barriga ou na região das costas próximo ao pescoço – essa gordura dá a impressão de o jovem ser corcunda, o que dificulta a atração entre esses jovens. 4. Você acha que a sociedade ainda tem preconceitos para com as pessoas que têm aids? Hoje em dia, o preconceito está mais mascarado. As pessoas não saem dizendo que têm preconceito, mas, como faço parte da Rede de Jovens que Vivem com HIV/aids, ouço, por exemplo, muitos depoimentos de pessoas que fazem graduação e são discriminadas pelos professores por serem soropositivos. Além disso, dou oficinas em diversos lugares há seis anos e ainda ouço que as pessoas que vivem com HIV/Aids devem ficar deprimidas, isoladas; que suas roupas devem ser lavadas separadamente; que todos os utensílios da casa devem ser separados. Então faço a elas uma pergunta: “Como essa pessoa 61 é fisicamente?”, e logo me respondem: “Magra, cheia de feridas e inválida. Deve ficar na cama”. Aí pergunto-lhes outra coisa: Se fossem a uma balada ou festa e conhecessem uma pessoa. Se ficassem com ela por algum tempo e os dois tivessem relações sexuais? Se depois essa pessoa contasse que era soropositiva… O que elas fariam? Algumas delas dizem que matariam a pessoa; outros que iam bater nela; raramente dizem que conversariam sobre o assunto. Por isso, afirmo que faltam informações e, em consequência disso, há preconceito. Velado, mas ainda existe. 5. Na sua opinião, como é a relação das escolas com os adolescentes que vivem com o HIV/aids? E como é a relação dos adolescentes com os serviços de saúde? O que ouço dos jovens da Rede Nacional de Jovens que Vivem com o HIV/aids é que ainda há muitos médicos despreparados e que os serviços de saúde deixam muito a desejar. Pensando neles, vou relatar aqui algumas coisas: Alguns médicos apenas prescrevem remédios, mas não ouvem as queixas e angústias de seus pacientes. Outros não sabem que muitos jovens abandonam os medicamentos porque têm a cabeça cheia de preocupações com seus familiares, por terem de sair das casas de apoio, por causa dos efeitos colaterais muito fortes, que atrapalham seu desempenho no trabalho, na faculdade e na escola – muitas vezes, esses jovens ficam indispostos, com vômito ou diarreia, alucinações e calombos pelo corpo. Há médicos que não se constrangem nem um pouco em dizer ao jovem que não adianta tomar nenhum medicamento, pois o vírus já está resistente ou porque seu organismo não aceita o remédio. Segundo esses médicos, só resta a esse jovem esperar a morte ou orar para que surja um medicamento que funcione, como se fosse apenas mais uma vida que vai para o saco! Há Unidades Básicas de Saúde (USB) em que os profissionais não são preparados para serem sigilosos; com isso, alguns diagnósticos são dados em público. Em outras Unidades não existe integração da especialidade de infectologia com outros serviços (reumatologia, oftalmologia, odontologia etc.). E, quando essa integração existe, os profissionais não são preparados o bastante para atender aos jovens soropositivos. Alguns nem imaginam como é viver com HIV. 62 Vou contar uma experiência que tive com a dentista lá do serviço onde sou atendida. Ela me perguntou se eu ia me casar. Eu disse que sim, e a bendita soltou esta: ”Você não vai ter filho, né? Porque você não quer que seu marido seja infectado“. Mas o que eu achei ruim foi que, em vez de me perguntar se havia possibilidade de eu ter um filho sem infectar meu marido, ela afirmou que eu não deveria ter um filho. Onde ficam os meus direitos sexuais e reprodutivos? E se fosse outro jovem? Ela poderia ter acabado com o sonho de um jovem menos informado. A relação das escolas com os adolescentes que vivem com o HIV/aids é muito complicada, pois as crianças e os jovens em horário de aula têm que sair para tomar o medicamento ou, às vezes, têm que faltar para ir ao médico. Isso é ruim, porque, por terem que justificar tais “regalias”, os pais ou cuidadores acabam tendo que informar a sorologia de seus filhos à Diretoria e aos professores, para que eles compreendam e facilitem a vida do soropositivo nesse sentido. Com isso, alguns agem com preconceito contra esses jovens, adolescentes e crianças, expondo-os aos demais alunos, profissionais da escola e demais cuidadores. 6. Como você iniciou a militância pela luta dos direitos dos adolescentes que vivem com HIV/aids? É uma longa história. Eu comecei lutando por mim, pelos meus direitos. Quando eu fazia um curso de Práticas Administrativas, conheci um pessoal que fez uma grande diferença na minha vida. Eles me ensinaram que, antes de mais nada, eu podia viver bem. Depois eu comecei a frequentar o Cedoc (grupo de jovens de São Paulo que fazem pesquisas e levantamento de documentos com o tema HIV/aids) e participei de um encontro que aconteceu em Brasília, onde só havia jovens vivendo com HIV/aids. Lá aprendi o ECA e alguns dos meus direitos. Voltando de lá, no Cedoc, tivemos que escolher um tema de pesquisa – o meu tema era o direito das pessoas que vivem com HIV/aids. Hoje tenho até uma comunidade sobre isso no Orkut. Fora isso, no Cedoc, nós fazíamos muitas outras pesquisas, e isso me deu uma enorme bagagem sobre a vida com o vírus. Essa experiência começou a me mostrar que o movimento Aids ainda deixava a desejar em algumas questões. 63 Nós éramos incentivados a realizar ações para mudar pequenas coisas que, na nossa opinião, não estavam certas. Assim, em um encontro de jovens na faculdade de saúde pública realizado pelo GIV (Grupo de Incentivo a Vida), conheci uma pessoa muito especial, a Bethe Franco. Com isso, comecei a frequentar o GIV, o que também me ajudou a amadurecer bastante. Participei de uma capacitação em um curso de ativismo, e lá, diante das demandas dos jovens vivendo com HIV/aids, foi criada a rede nacional. Tudo isso mais a percepção de que há necessidade de buscar equidade para esses jovens me levaram a ser militante por seus direitos. 7. O que é a Rede Nacional de Jovens Vivendo com o HIV/aids? Uma rede virtual e presencial na qual nos reunimos para discutir as demandas de cada jovem em seu estado, assim como para monitorar leis e projetos de lei que beneficiam os jovens ou os prejudicam para agirmos de acordo com o que for possível. Somos uma rede de ajuda mútua. Ouvimos uns aos outros em suas felicidades e tristezas, cooperando com eventos para discutir políticas públicas para a juventude soropositiva. 8. Quais são as dificuldades encontradas pelos jovens vivendo com HIV/aids? Quase todas as dificuldades já foram ditas, mas não posso me esquecer de que ainda tem o problema de jovens que vivem em casas de apoio e que, aos dezoito anos, têm que sair de lá. Às vezes, eles não têm nem família para qual voltar, muito menos capacidade de arrumar emprego nem autonomia para tomar os próprios remédios. Quando existem parentes, fica muito difícil estabelecer um vínculo em tão pouco tempo, já que nesses casos a inserção na família não começou quando o jovem era pequeno. As casas de apoio, por sua vez, não dão nenhum suporte psicológico ou socioeconômico aos familiares para que eles cuidem desse jovem. 9. Fale sobre sua experiência com os medicamentos. Nossa, eu e os medicamentos… Nós não tinhamos uma relação amigável. Eu os odiava tanto que queria distância deles. Fiquei muito tempo tomando os meus medicamentos do jeito errado. Eles não desciam pela minha garganta; pareciam entalar de propósito. Odiava o gosto deles, mesmo sendo comprimidos. Odiava ter que acordar cedo; odiava quando vinham os efeitos colaterais… vômito, diarreia, como já falei. Ficava empolada, tonta… Várias vezes joguei remédio na 64 privada. Escondia no seio para a minha avó não ver que eu não tinha tomado. Mas isso tudo teve que mudar no dia em que eu fiquei muito doente de verdade. Tive uma espécie de pneumonia. Tomava os remédios e nada de melhorar. Comecei a tomar os antirretrovirais, mas mesmo assim me sentia fraca. Tinha que tomar injeções, soro na veia. Nisso surgiu um caroço no meu pescoço. Uma jovem de dezoito anos que pesava 61 kg passou a pesar 49 kg. Fiquei pele e osso até descobrir que era tuberculose. Tive que tomar remédio com supervisão todos os dias no posto. Tomava dois deles em jejum e, depois de algum tempo, tinha que lanchar para poder tomar os outros. Hoje em dia eu tenho me esforçado para ter uma boa adesão com os meus medicamentos, mas, mesmo assim, meu corpo tem reagido negativamente. Já tive algumas doenças oportunistas, como herpes zóster, e agora estou com suspeita de lúpus. Mas minha carga viral, ou seja a quantidade de vírus HIV que está no corpo, está indetectável, o que é um bom sinal. Também escutamos Oseías Cerqueira dos Santos, da Rede Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids, de Salvador/Bahia.Escuta só o que ele nos fala sobre ser adolescente e viver com o HIV. Viver é sempre viver: ter sonhos, expectativas, projetos é comum a todos os jovens, e pra mim que vivo com HIV isso não é diferente. Se tem algo que me impede de levar uma vida ainda mais normal é o preconceito de quem pensa que, por ter HIV, não posso frequentar os mesmos espaços que as demais pessoas, ter uma vida sexual, profissional e afetiva. Preconceito de quem pensa que eu estou menos vivo que as outras pessoas por apresentar um pequeno vírus em mim. Confesso que é muito melhor viver sem o HIV, mas depois que me descobri HIV positivo não posso, não devo, não quero abandonar nada do que construí de projeto de vida quando ignorava a existência dele. Entretanto, quero lutar para que a cada dia nós, jovens que vivem com HIV, possamos viver uma vida normal, sendo respeitados e vistos como mais que portadores do HIV. Luto para que eu e todas as pessoas não precisemos abdicar de seus sonhos e possamos conviver harmonicamente em sociedade. 65 Para vencer o preconceito, é necessário que cada jovem entenda que o HIV não é um problema apenas de quem o vivencia, mas que todos nós somos responsáveis por formar uma sociedade livre, justa e solidária, como está na Constituição Federal. Eu vivo, continuo vivendo, continuarei vivendo, mas o preconceito não precisa continuar a sufocar a minha vida! Se liga! Viver com o HIV não significa o fim do mundo. Na década de 80, quando a epidemia da aids começou, o tratamento era muito difícil porque os cientistas conheciam pouco sobre a doença. Com o tempo, foram se descobrindo remédios e alternativas para o tratamento. Felizmente, hoje no Brasil, desde 1996, o acesso aos medicamentos (anti-retrovirais) é válido para todos e todas. Sem dúvida, a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV mudou muito graças ao tratamento e a redução do preconceito. Mas tratamento contra a aids não é só tomar remédio. Ir às consultas, fazer exames com regularidade e levar uma vida saudável (praticar exercícios físicos, se alimentar bem, ter amigos, etc.) faz parte do tratamento. Organização dos Jovens Vivendo com HIV/aids Olha só que legal! Vários jovens dos quatro cantos do país que vivem com HIV/aids se reuniram em Salvador, em 2007, no II Encontro Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids para discutirem sobre como é viver e conviver com o HIV. Nesse encontro rolou uma super festa de máscaras. Confira ao lado o relato sobre essa festa feito pela Revista Escuta Soh (www.revistaviracao.org.br/escutasoh). 66 No segundo dia do II Encontro Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids, rolou uma super festa na boate do Ondina Aparthotel para os jovens participantes do evento. A festa começou por volta das 20 horas e contou também com a presença dos principais organizadores do encontro, que animaram ainda mais o momento. Na entrada, era entregue para cada jovem uma máscara de festa para climatizar ainda mais a noite que estava só começando. Ao som de música eletrônica, os jovens dançavam e se divertiam muito. Bem no auge da festa, a música foi interrompida por dois jovens, Edson Santos e Camila Pinho, integrantes do Grupo VHIVER, de Belo Horizonte (MG), que pegaram o microfone e declamaram um desabafo que sensibilizou os presentes. As frases foram as seguintes: Ao pensar como é ser soropositivo, ou o que é ser soropositivo me passam algumas coisas pela cabeça: eu estudo, trabalho, namoro, faço teatro, tenho amigos, gosto de música, de festas entre muitas outras coisas. Tá, mas e daí? Isso não me caracteriza como soropositivo e não me diferencia muito das outras pessoas. Por que será, então, que às vezes sinto-me como se escondesse algo das pessoas? Ou por que muitas vezes sinto-me incomodado em dizê-las que sou soropositivo? Creio ter medo da forma como me lançarão o olhar de estranheza ou até mesmo de curiosidade. Elas ainda nos imaginam acamados nos hospitais e desacreditam na vida após o HIV. Mais do que acreditar, eu aprendi a viver com o HIV. Desde então faço parte de um grupo de apoio, integração social e informações gerais a outros soropositivos. Comecei a trabalhar com a aids: acolhendo aqueles que passam por toda a dor e sofrimentos já vividos por mim. E também por meio de trabalhos de prevenção, cuidando para que outras pessoas não vivam tamanho sofrimento. Após o trabalho, a caminho de casa, às vezes de súbito me vêm à mente que ela não ficou no Grupo VHIVER, ela continua comigo, e vai estar em todos os lugares que eu estiver, quando eu acordar, me alimentar, quando eu abraçar, quando eu cantar, dançar, sorrir, chorar. Mas uma coisa ela não consegue fazer, me desanimar nem desistir de viver. O jovem soropositivo deve sair da posição de coitadinho, de vítima, enfrentar o preconceito e combatê-lo. 67 Acima de qualquer coisa somos jovens, somos humanos. Devemos ser protagonistas do nosso futuro, devemos responder por nós mesmos. Quem sou eu? Qual é a minha cara? Sou filho. Sou amigo. Sou pai e mãe. Somos soropositivos. Será que eu me aceito como sou ou isso não me interessa mais? Não sou melhor. Nem pior que ninguém. Somos todos areias no vento. Onde ficaram os meus sonhos? E o que é ser soropositivo? Não é ser doente. Não é ser vítima. Não é ser coitado ou incapaz. O mais difícil é sair da imagem que se criou em cima da aids e que não me deixa acreditar no meu potencial, na minha garra. E me faz muitas vezes desistir de mim... da vida. Passo a representar personagens. E quando é que sou eu mesmo? Ninguém tem que me entender. Mas temos por obrigação tentar nos entendermos e nos conhecermos. Porque só assim poderemos nos construir em cima de bases fortes e resistir aos grandes ventos e tempestades. Temos obrigação de lutar pela vida. Nesse momento, emocionados com o desabafo, todos aplaudiram Camila e Edson. Todas as máscaras foram rasgadas, que tinham na verdade o simbolismo das máscaras que usamos em nossas vidas. A festa continuou num clima gostoso e descontraído, onde os jovens tiveram a oportunidade de conhecer novas pessoas e se conhecerem melhor. 68 PROTEGENDO A VIDA O adolescente que vive com o vírus HIV pode se valer do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para garantir seu tratamento. Isso porque os artigos do ECA querem proteger integralmente a saúde dos jovens, cuidando para que ele receba tratamento em todos os casos de enfermidade, desde uma unha encravada até uma doença mais grave. O estatuto especifica que o adolescente deve receber tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), “garantido o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde”. Os dirigentes públicos (presidente, prefeito, governador) têm obrigação de fornecer gratuitamente a medicação necessária, próteses ou qualquer tipo de tratamento de que o jovem necessitar. Em caso de internação, o artigo 12 do ECA garante que o adolescente seja acompanhado pelos pais ou por um responsável durante o período em que estiver no hospital. A criança pode ser protegida de contaminação desde o útero. O ECA garante que a mãe deve ter acompanhamento neonatal e passar por todos os exames que possam detectar enfermidades. No caso da adolescente grávida portadora do vírus HIV, o ECA garante os direitos da mãe e do bebê. Em caso de não atendimento em postos de saúde, falta de remédios e tratamentos para adolescentes e crianças, acione o Conselho Tutelar da sua cidade. 69 Este material foi testado com adolescentes das comunidades de Heliópolis e Cantinho do Céu em São Paulo. Valeu Galera! Tá na Mão Heliópolis Na web www.giv.org.br rg.br www.pelavidda.o org.br www.gapabahia. s Livros imperdívei ra JWM Cazu Barroz, Edito cidiu viver com olescente que de . Um ad Roch in Positivo Aids Rafael Reis de Almeida Daniel Nunes Pereira Rafael Soares de Oliveira Leonardo Belo da Silva Eduardo Portela Brenda Passos Santos Daniel da Silva dos Santos Mayara Cintia L. Vieira Wellington Wesley Luiz Alessandra dos Anjos Fabiola Batista Cantinho do Céu Vanessa Da Conceição Liliane dos Santos Mendes Ellen Cristina Nascimento Nogueira Luciane Morais Francileide Oliveira Jéssica Aparecida Almeida Costa Lucas Gomes Daniella de Sousa Cardoso Andréia Sabino Estevão Henrique Barbosa Jéssica de Sousa Marques Maxwell Rodrigues Mendes Johnny Nogueira de Souza Ana Carolina Rodrigues de Almeida 70 Felipe Tavares Pessoa John Leno da Silva Vieria Andreza dos Santos Silva Kayone Caroline da Silva Bruna Alves Campos Crione de Sousa Ribeiro Fernando Antônio Raiane Myrele C. dos Santos Aleni Rodrigues Débora de S. P. dos Santos Gessiára de Sousa Augusto E. de C. R. da Silva Henrique S. Vitorio 71 Iniciativa Parcerias