Mapeamento da prevalência de casos de Tungíase, no município de Charqueadas. O Serviço de Vigilância em Saúde realizou, juntamente às Unidades de Saúde da Família do Município, um levantamento de dados (através de questionário específico), sobre os casos de Tungíase (Bicho-do-pé), atendidos no município, Os resultados das análises estão dispostos por áreas pertencentes a cada Unidade de Saúde, conforme tabela abaixo: Você acha que é um Ocorre bicho-do-pé Frequência dos problema de Saúde UBSF em pessoas? atendimentos Casos Graves Pública? Sim Não Não sei Sim Não Não sei Diária Semanal Mensal Sim Não X São Miguel X X X Santo Antônio X X X Sul América X X X X Vicente Pinto X X X X Cruz de Malta X X X Piratini X X X Vila Otília Beira Rio Central * As colunas em branco da tabela, se devem ao fato de as Unidades de Saúde não terem enviado as informações. De acordo com a tabela acima, a questão número 1 do questionário mostrou que há atendimentos de tungíase na grande maioria das Unidades de Saúde. Apenas a Unidade Cruz de Malta, relatou não ter ocorrência do agravo na sua área. A T. penetrans se encontra em lugares secos e arenosos, dentro e fora das residências, (principalmente as precárias), e em pátios onde há a presença indevida de chiqueiros, estábulos, galinheiros. O fato de a área pertencente à U.S.F. Cruz de Malta se localizar no centro da cidade pode explicar a inexistência de casos, pois a quantidade de residências que apresentam os focos da pulga é menor, comparado aos bairros mais distantes do centro da cidade. Em relação à questão Freqüência dos atendimentos, apenas a U.S.F São Miguel relatou a realização de atendimentos semanais de casos de tungíase, as demais, relataram ter freqüência mensal de atendimentos. Condições sociais e o clima podem ser fatores determinantes para o aumento da incidência, visto que em períodos de seca, a ocorrência é mais comum. A literatura nos traz que moradores de residências sem rede de esgoto e sem água tratada representam a maioria dos casos, e também moradores de residências confeccionadas com madeira ou material reaproveitado, principalmente com piso de areia, visto que o piso de areia aumenta a probabilidade da doença, especialmente na época de seca. A presença de animais soltos facilita o contágio, já que a pulga também vive em cães, gatos, suínos e ratos. Estas condições podem estar contribuindo para uma maior prevalência de casos na Unidade São Miguel, visto que grande parte da população da área, se apresenta em condições semelhantes à descrita acima. Analisando as respostas da questão 3 do questionário, a qual se referia ao atendimento da ocorrência de casos graves de bicho-de-pé, apenas as Unidades São Miguel e Santo Antônio relataram a ocorrência de casos graves em suas áreas de abrangência. Nota-se que a U.S.F Santo Antonio, apesar de relatar freqüência mensal, os casos quando ocorrem são graves. As fissuras nos pés, provocadas pela penetração da pulga podem servir como porta de entrada para microrganismos patogênicos, como o Clostridium tetani, agente causador do tétano. A superinfecção bacteriana das lesões é comum e sua gravidade pode resultar em seqüelas como dificuldade de andar, deformação e perda de unhas de dedos do pé, como também deformação e autoamputação de dígitos, além de sepse e óbito. Quando as U.S.F foram abordadas com a questão: Você acha que a tungíase é um problema de saúde pública na sua área? Observou-se que apesar da U.S.F São Miguel apresentar casos freqüentes e graves de tungíase, não a consideram como um problema de saúde pública de sua área. Em contrapartida a U.S.F. Vicente Pinto, apesar de não ter atendimento freqüente e grave do agravo, é a única U.S.F que considera a tungíase um problema de saúde pública em sua área. Os dados acima descritos são de extrema importância para a avaliação das áreas infestadas, visto que não havia nenhum contato do Serviço de Vigilância em Saúde com a realidade epidemiológica do agravo no município. Este estudo tem a finalidade de propor ações preventivas em relação a tungíase, para que possamos diminuir a prevalência de casos em nosso Município, principalmente na área abrangente à U.S.F São Miguel, que conforme concluímos é a Unidade de maior prevalência do agravo. Nos últimos anos, o número de publicações com o objetivo de aumentar a percepção da doença entre os gestores, profissionais de saúde e o mundo científico está aumentando, principalmente de países da América Latina e Caribe, como Argentina, Brasil e Haiti. Entretanto relatos clínicos sistemáticos de pacientes com doença grave ainda são escassos, reforçando o fato de que a tungíase pode ser uma doença negligenciada. Concluímos que independente dos esforços que têm sido realizados para o manejo clínico da tungíase, o controle sustentável requer o empenho dos gestores públicos de saúde na implementação de ações de controle e monitoramento no âmbito coletivo, aliado às melhorias da educação, do trabalho e da infra-estrutura urbana nas comunidades mais carentes.