CURSO SUPERIOR DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM GESTÃO IMOBILIÁRIA: RESPONSABILIDADE SOCIAL DA UNIVERSIDADE ZAPPAROLI, IRENE DOMENES (IoE/ Londres/ PUC/SP/ehps) [email protected] RODRIGUES, MOARA CRISTINA (UEL) [email protected] Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a tendência que se verifica atualmente no sistema de educação superior brasileiro de oferta de cursos seqüenciais ao lado dos tradicionais cursos de graduação. Esta mudança foi introduzida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN, em vigência desde dezembro de 1996, e tem o efeito de estabelecer a dualidade do sistema. Assim, pretendemos analisar a real dimensão dessa nova espécie de curso no contexto do sistema de educação superior, considerando os aspectos de acesso à educação superior e articulação com o mundo do trabalho, além de verificar se os cursos seqüenciais podem ser entendidos como alternativos aos cursos de graduação. Para tanto, realizamos um estudo em uma Universidade Pública do Estado do Paraná, uma das primeiras a implantar essa espécie de curso, onde definimos como foco de análise, o Curso Seqüencial de Formação Específica em Gestão Imobiliária. Os procedimentos metodológicos basearam-se na pesquisa bibliográfica e documental, incluindo arquivos de órgãos públicos e privados, relatórios e tabelas estatísticas, e, principalmente, o banco de dados da instituição. Esta pesquisa permite concluir que flexibilidade do processo de seleção de acesso aos cursos seqüenciais propicia o direcionamento das vagas ao público específico, o que pode ser realizado por meio de convênios. Pode-se afirmar, ainda, que os cursos constituem eficiente oportunidade de democratização do acesso à educação superior, tendo como exemplo a oferta de 1715 vagas para o curso de gestão imobiliária.Os cursos seqüenciais constituem-se em projetos alternativos aos tradicionais cursos de graduação, e que, a sua adoção pelas universidades brasileiras, sobretudo as públicas, pode se constituir em importante estratégia de democratização e, sobretudo, importante mecanismo na difícil tarefa de universalização da educação superior no Brasil. Palavras-chave: cursos seqüenciais; acesso à educação superior; gestão imobiliária. 1545 Introdução e Justificativa A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN, promulgada em 26 de dezembro de 1996, sob nº 9.394/96, traz para o cenário educacional uma proposta inovadora, ao estabelecer, em seu artigo 44, que a educação superior abrangerá além dos cursos e programas tradicionais os cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino. Esta mudança altera significativamente o modelo de educação superior brasileiro vigente. Primeiramente, porque o sistema se torna dual: de um lado os tradicionais cursos de graduação, definidos na legislação como bacharelados, licenciaturas e cursos de tecnologia. Esses cursos são definidos em grandes áreas de conhecimento, com foco na formação acadêmica, e conduzem às carreiras profissionais tradicionalmente conhecidas. De outro lado, os cursos seqüenciais, definidos por campo de saber, objetivando a qualificação para o ingresso no mercado de trabalho e que conduzem à formação em carreiras profissionais diferenciadas e distintas daquelas originadas pelos cursos de graduação. Além disso, o novo sistema de educação superior brasileiro se torna mais diversificado, no que se refere aos cursos superiores e às correspondentes carreiras profissionais, e mais flexível, no que diz respeito ao acesso à educação superior. Duas são as espécies de cursos seqüenciais, os de formação específica, com destinação coletiva e conduzindo a diploma, e os de complementação de estudos, com destinação coletiva ou individual e conduzindo a certificado. Nessa perspectiva, é objetivo do presente trabalho, é verificar a real dimensão dessa espécie de curso no novo contexto do sistema educacional superior brasileiro, considerando os aspectos de acesso à educação superior, articulação com o mundo do trabalho e o perfil do aluno do curso seqüencial de Gestão Imobiliária e bem assim, verificar se os cursos seqüenciais podem, efetivamente, serem entendidos como alternativos aos tradicionais cursos de graduação. Além desta introdução o artigo está organizado nas seguintes seções: na primeira seção descreve-se os procedimentos metodológicos empregados; na segunda seção está descrita a configuração dos cursos seqüenciais conforme a literatura especializada; a seção seguinte apresenta o curso seqüencial de Gestão Imobiliária como proposta de qualificação profissional e articulação com o mercado de trabalho. 1546 Metodologia Para a caracterização deste trabalho, consideramos as instituições de ensino superior públicas do sul do Brasil que ofertam cursos seqüenciais, e elegemos como foco de análise, o curso seqüencial de formação específica em Gestão Imobiliária. A Instituição foi escolhida por estar entre as primeiras universidades públicas do sul do Brasil a ofertar esta espécie de curso; - é, atualmente, uma das universidade públicas do sul do Brasil que oferece o maior número de vagas em cursos seqüenciais; o Curso de Gestão Imobiliária é um dos primeiros cursos seqüenciais de formação específica ofertado por instituição pública no sul do Brasil; e também porque permitiu o livre acesso dos pesquisadores ao banco de dados institucional. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental, incluindo amplo levantamento no banco de dados institucional da Universidade pesquisada e na legislação interna e externa que regulamenta a matéria. Utilizamo-nos também da aplicação de questionário para a coleta de dados acerca do perfil dos alunos matriculados no curso em questão. Esta etapa compreendeu, a aplicação do questionário dividido em duas partes, - informações pessoais e informações profissionais. Configuração dos Cursos Seqüenciais no Sistema de Ensino Superior Os objetivos de tais cursos são, principalmente, permitir uma maior diversificação da oferta de cursos de educação superior; atender à demanda por expansão de vagas nas universidades, de forma a reduzir a pressão dos alunos concluintes do ensino médio; reduzir a evasão concentrada nas primeiras séries dos cursos de graduação, por meio do aproveitamento de créditos; possibilitar a formação universitária em carreiras diferenciadas e distintas dos tradicionais cursos de graduação; propiciar acesso à educação superior a quem já está inserido no mundo do trabalho, mas que não teve oportunidade de freqüentar um curso de nível superior na idade adequada; e principalmente, possibilitar níveis de formação e de qualificação da população, como estratégias de sucesso e de inserção das pessoas e do país no mundo globalizado (MARTINS, 2004, p. 13-20). Obrigatoriamente vinculados a cursos de graduação da área de conhecimento na qual se encontram inseridos, com essa espécie não se confundem, tampouco se confundem com os tradicionais cursos profissionalizantes de nível médio, programas de pós-graduação, ou extensão comunitária. Devem ser entendidos, isto sim, como cursos de formação superior, destinados a egressos 1547 do ensino médio, principalmente os que já estão inseridos no mercado de trabalho ou pessoas já graduadas que desejam redirecionar sua carreira profissional. Conforme Zapparoli (2005) a oferta de cursos seqüenciais de formação específica, passou de 423 para 875, no período de 1999 a 2003, e o número de alunos matriculados cresceu, de aproximadamente 14 mil, no de 1999, para 52 mil, em 2003. Estima-se que neste ano de 2005, o número de cursos seqüenciais em oferta seja superior a 1.000, e o número de alunos seqüenciais matriculados já tenha ultrapassado a casa dos 70.000. Neste contexto, um dos primeiros cursos seqüenciais de formação específica ofertados no Brasil foi o de Gestão Imobiliária. Este curso seqüencial deriva seu campo de saber da grande área de conhecimento da Administração, e está sintonizado à nova política de profissionalização preconizada pelos Conselhos Regionais de Corretores de Imóveis, CRECI, e pela Confederação dos Corretores Imobiliários, COFECI, que preconizam a profissionalização desta categoria funcional em nível superior, ao mesmo tempo em que possibilita melhores condições de empregabilidade e antecipação do acesso ao mercado de trabalho. Assim, a criação e instalação dos cursos seqüenciais, ao lado dos tradicionais cursos de graduação, apresentam-se como alternativa para minimizar o que vários autores, desde Parsons (1959, p.66) passando por Bourdieu (1998) e Bourdieu e Boltanski, (1998) apontam como um processo de seleção, que ocorre entre a habilidade intelectual e a classe social, indicando a existência de “ ... uma linha de demarcação entre os alunos destinados à faculdade e os que não são...”. A oferta dessa modalidade de curso no Brasil tem o efeito de potencializar, ao longo dos próximos anos, a ampliação dos índices de matrículas em educação superior. Segundo Stroparo (2004, ps. 01-02), citando Gorostiaga (1999, ps. 187-188), o Brasil ocupa lugar de pouco destaque no cenário educacional da América Latina, considerando-se os índices de matrículas nesse nível educacional. Enquanto 20% dos jovens latino-americanos, na faixa etária dos 19 aos 24 anos, estavam matriculados em instituições pós-secundárias, no ano de 1997, no Brasil, este índice não passava de 11%, muito aquém de países como Uruguai (40%) e Argentina (39%). Superava apenas Paraguai, cujo percentual de matrículas não passava de 9% naquele ano. Países como Estados Unidos e Inglaterra, que admitiram a dualidade de seus sistemas educacionais, como o faz o Brasil agora, aproximam-se rapidamente da universalização da educação superior. Na década de 1990, o índice de matrículas em instituições pós-secundárias chegou a 81% no 1548 Reino Unido e a 85% nos Estados Unidos (SCHUETZE & SLOWEY, 2000, ps. 1-2). Segundo Altbach (1998, p. 7), as razões que explicam a expansão da educação superior nesses países são, a abertura do sistema, tornando-o acessível a todos, a manutenção de mensalidades de baixo custo a par do crescimento do número de instituições, a manutenção de padrões de competitividade entre os sistemas europeu e norte-americano, e, principalmente, a criação de escolas politécnicas ao lado das tradicionais instituições de formação acadêmica. A oferta de cursos seqüenciais certamente influenciará positivamente os índices de matrícula em educação superior também no Brasil. Esta tendência já é detectada no Censo da Educação Superior de 2002, promovido pelo Ministério da Educação, MEC, quando os cursos seqüenciais são citados dentre as razões que explicam o acelerado processo de expansão da educação superior verificada nas últimas duas décadas. Com efeito, a partir de 1980, o crescimento anual do número de matrículas em educação superior foi constante, chegando 3,5 milhões no ano de 2002, com a incorporação de cerca de 400 mil novos alunos a cada ano. Segundo o Relatório MEC (2003, p. 2-3), as razões que explicam este fenômeno são os seguintes: - crescimento do número de egressos do ensino médio; - a incorporação de grupos que historicamente apresentam baixos índices de acesso à educação superior, principalmente, as mulheres e pessoas com mais de 24 anos; - a política adotada pelos últimos governos de estímulo ao crescimento da rede particular de educação superior; - e, as inovações trazidas ao sistema de educação superior brasileiro pela nova LDBEN/96, principalmente, nova espécie de instituições pós-secundárias, - Centros Universitários e Faculdades Integradas -, e nova espécie de cursos superiores, os cursos seqüenciais. Da mesma forma, a instalação de cursos seqüenciais no Brasil, constitui importante instrumento de democratização do acesso à educação superior: na medida em que cresce o número de cursos seqüenciais ofertados pelas universidades brasileiras, mais pessoas têm acesso à formação profissionalizante nesse nível de ensino, contribuindo dessa maneira para minimizar os altos índices de rejeição de candidatos nos processos seletivos de acesso. Segundo o Relatório MEC (2003, p. 2-3), no setor público, cada vaga universitária foi disputada por 9,4 candidatos, e no setor privado, esta proporção foi de 1,6 candidatos para cada vaga, deixando em evidência um sistema altamente excludente. 1549 Curso Seqüencial de Formação Específica em Gestão Imobiliária Na proposta pedagógica do curso o profissional formado em Gestão Imobiliária estará habilitado a atuar em empresas públicas ou privadas, nos diversos segmentos imobiliários, além de organizações e instituições em geral. Atuará como agente de apoio no mercado onde estiver inserido, promovendo o uso das técnicas científicas da gestão de negócios imobiliários, promovendo o desenvolvimento regional com uma visão humanística, empreendedora, crítica e ética, além de ser criativo e interessado pelos conhecimentos da área específica dos negócios imobiliários e, genericamente, das grandes áreas da Administração, do Direito e outras áreas do conhecimento correlatas. De forma geral, estará apto a reconhecer os aspectos sociológicos e ambientais, as necessidades, aspirações e expectativas individuais e coletivas, quanto ao meio organizacional envolvido; a tomar decisões de forma que saiba assumir os riscos inerentes à atividade; a conhecer a teoria da Administração, considerando sua posição no contexto social, cultural, político e econômico; a atuar em empresas de qualquer porte, compreendendo sua responsabilidade ética e social; a trabalhar em equipe buscando objetivos comuns e atuar com flexibilidade, liderança e espírito empreendedor. O currículo do curso foi concebido tendo em vista este perfil de profissional, e tem como eixo principal, a formação de profissionais empreendedores, capazes de gerar novos negócios e promover mudanças em sua área de atuação, com vistas ao alcance de vantagens competitivas sustentáveis. A metodologia contempla ações concretas que envolvem conteúdos universais e cognitivos e procura configurar o processo de ensino e aprendizagem de maneira dinâmica. Os conteúdos curriculares são modulados em disciplinas de conteúdos básicos e profissionalizantes. Esse processo metodológico envolve a seleção, estruturação, planejamento e avaliação dos conteúdos, com contínuo estímulo à inter e transdisciplinaridade e a correlação entre teoria e prática; inserção do aluno em suas práticas educativas desde os primeiros contatos com o conhecimento, colocando-o frente à realidade do mundo do trabalho; aquisição gradual de conhecimentos e habilidades, promovendo a aprendizagem para o desempenho profissional com competência; valorização dos saberes acumulados frente à interação social estabelecida entre seus pares; avaliação diagnóstica, objetivando resgatar os saberes de conteúdos percebidos ao longo do processo educativo; incentivo a ações e atitudes que estimulem o desenvolvimento potencial, a 1550 criatividade, a iniciativa, o senso ético e crítico. Desse modo, a metodologia do curso direciona-se ao desenvolvimento da capacidade do discente em conhecer e entender o ambiente global no qual os negócios imobiliários estão inseridos, proporcionando condições aos egressos de tomarem decisões relativas a esta área de atuação. Para tanto, o curso busca o aprimoramento das habilidades estratégicas e humanas do acadêmico, visando desenvolver sua capacidade de gerenciar problemas, garantindo qualidade e ética no serviço prestado. È objetivo do curso, formar especificamente e em curto prazo para o mercado imobiliário, possibilitando a ampliação de perspectivas e evolução profissional, e propiciar conhecimentos suficientes para atuar com competência em empresas imobiliárias. Ainda, aprofundar o conhecimento das organizações no atual processo de concorrência globalizada; promover o empreendedorismo capaz de concorrer num ambiente dinâmico, evolutivo e ético; desenvolver profissionalmente atividades de intermediação na compra, venda, permuta e locação de imóveis; emissão de pareceres em avaliações, assessorias e consultorias nas soluções de negócios imobiliários. Deve-se frisar, também, que a qualificação profissional dos gestores do segmento imobiliário amplia as condições de empregabilidade e antecipam o acesso ao mercado de trabalho. Esses são objetivos permanentes do curso. Vagas e Critérios de Seleção Os Cursos Seqüenciais de Formação Específica são realizados em Convênio com entidades públicas ou privadas representativas das categorias profissionais inseridas no campo de saber dos cursos ofertados, onde é estabelecida a vinculação das vagas a este segmento, em grau de preferência. Atualmente encontramos no Brasil uma oferta de 1745 vagas para o Curso Seqüencial em Gestão Imobiliária, oferecidos em 22 Universidades, sendo somente duas públicas. A grande parte se concentra na região sul, aonde 39,06% dos cursos são oferecidos. Já na região norte encontramos 11,06%, 10,18% no nordeste, 19.23% no sudeste e 19,8% no centroeste. Em função dessa peculiar característica, a seleção de candidatos é realizada por meio de análise de currículo e aproveitamento escolar, de sorte que, são classificados, preferencialmente, os candidatos que atuam há mais tempo em organizações afiliadas às entidades parceiras, cuja atividade principal esteja inserida no campo de saber do curso seqüencial ao qual o candidato pleiteia matrícula. 1551 Havendo empate, são classificados os candidatos oriundos de escola pública e que apresentem a melhor média de aproveitamento escolar no ensino médio. O Perfil do aluno do Curso Seqüencial em Gestão Imobiliária Os alunos da primeira oferta já alcançaram a formatura, e, atualmente, encontra-se em operacionalização a segunda oferta, com 32 alunos regularmente matriculados, sendo constituída, em sua maioria por alunos do sexo masculino (69%). Com relação à faixa etária dos alunos, 55% têm idade superior a 36 anos. Quando perguntado sobre a situação escolar, 90% dos alunos se declararam afastados dos bancos escolares. Com relação ao tempo de afastamento, 46% dos alunos estavam afastados há mais de dez anos. No ensino médio tiveram formação técnica, 40%, educação geral, 31%, e curso supletivo, 28%. Sobre a realização de curso pré-vestibular, apenas 16% o fizeram, e apenas 9% dos entrevistados já são graduados em algum curso superior. Entre os alunos, 78% estão empregados e 12,5% dos entrevistados se declararam proprietários de empresa imobiliária; 28,12% exercem cargo de chefia, e 65% ganha acima de 5 salários mínimos. Considerações finais O Curso Seqüencial de Formação Específica em Gestão Imobiliária, por sua própria característica, propicia acesso à educação superior a pessoas já inseridas no mercado de trabalho da área do curso, mas sem a devida formação (78,12%), haja vista os critérios de seleção definidos em Convênio com as entidades parceiras (CRECI-PR e COFECI), que priorizam os candidatos já inseridos no mercado imobiliário sem a devida formação em nível superior ou com formação não específica. Da mesma forma em relação à idade dos alunos. Apenas 21,88% possuem 25 anos ou menos, enquanto o índice nacional para esta faixa etária, entendida como adequada para a educação superior, chega a 62% (RELATÓRIO MEC, 2003, p.2). Outro indicador que merece consideração é o fato de a grande maioria dos matriculados estar afastado dos bancos escolares 90,63%, e em grande parte há mais de cinco anos, 62,49%. Além disso, apenas 15,65% prestaram cursinho pré-vestibular. Como se vê, o perfil dos alunos matriculados nesse curso coincidem com o perfil dos 1552 brasileiros que integram o enorme contingente de pessoas que não têm acesso à educação superior. Embora tenham conquistado espaço no competitivo mercado de trabalho, a competição cada vez mais acirrada dos concursos vestibulares, constitui barreira intransponível para a maioria dessas pessoas, pois a cada ano, maior é a distância que os separa do ensino médio, cujos conhecimentos são imprescindíveis para quem busca acesso ao ensino superior. Ademais, a generalidade e o caráter acadêmico dos cursos de graduação não constituem a melhor opção de profissionalização para esta específica parcela da população. Outra característica que merece destaque neste modelo é a necessária articulação com os setores produtivos, inatingível no atual modelo de seleção centrada no concurso vestibular. A flexibilidade do processo de seleção de acesso aos cursos seqüenciais propicia o direcionamento das vagas ao público específico, o que pode ser realizado por meio de Convênios. Assim, podemos afirmar que os cursos seqüenciais de formação específica constituem eficiente oportunidade de democratização do acesso à educação superior, permitindo a participação de pessoas excluídas pela alta competitividade dos concursos vestibulares, mas que, apesar disso, conquistaram espaço no mercado de trabalho. Podemos afirmar também, que os cursos seqüenciais constituem-se em projetos alternativos aos tradicionais cursos de graduação, cuja amplitude de suas áreas de conhecimento e a generalidade de seus conteúdos não satisfaz determinados segmentos dos setores produtivos nacionais, e que, a sua adoção pelas Universidades Brasileiras, sobretudo as públicas, pode se constituir em importante estratégia de democratização do acesso a esse nível de ensino e, sobretudo, importante mecanismo na difícil tarefa de universalização da educação superior no Brasil. 1553 Referências BELL J. Doing Your Research Project: A guide for first-time researches in education and social science. 3rd. ed. Buckingham: Open University Press. 2001. BOURDIEU, P.; BOLTANSKI, L. O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o sistema de reprodução. In NOGUEIRA, M.A.; CATANI, A. Escritos de Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. BOURDIEU, P. Classificação, Desclassificação, Reclassificação. 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INSTITUIÇÃO Universidade Severino Sombra - USS Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas - CIESA Universidade Tiradentes - UNIT Universidade de Caxias do Sul - UCS VAGAS 30 80 CIDADE/UF Vassouras-RJ Dourados-MS CATEGORIA Privada - Filantrópica Privada - Particular em Sentido Estrito 200 Manaus-AM Privada - Particular em Sentido Estrito 60 50 Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Comunitária Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Comunitária Privada - Comunitária Privada - Comunitária Privada - Filantrópica Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Filantrópica Privada - Comunitária - Confessional Filantrópica Pública Estadual Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Filantrópica Centro de Ensino Superior de Farroupilha - CESF 100 Aracaju-SE São Sebastião do Caiua RS Farroupilha-RS Universidade Salvador - UNIFACS Universidade de Caxias do Sul - UCS Centro Universitário Univates - UNIVATES Universidade de Caxias do Sul - UCS UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA - UVA Centro Universitário de Brasília - UniCEUB Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI Universidade Católica Dom Bosco - UCDB 55 50 60 100 60 100 45 60 Salvador-BA Canela-RS Lajeado-RS Caxias Do Sul - RS Rio De Janeiro-RJ Brasília - DF São Jose-SC Campo Grande - MS Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG Centro Universitário Vila Velha - UVV Universidade Norte do Paraná - UNOPAR Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte Em Extinção Universidade Potiguar - UNP Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR 45 100 100 50 Ponta Grossa -PR Vila Velha -ES Londrina-PR Santos - SP 60 120 Natal - RN São José dos Pinhais-PR Universidade Estadual de Guarapuava - UNICENTRO Universidade São Judas Tadeu - USJT Universidade Católica de Brasília - UCB Total de vagas 30 90 100 1.745 Garapuava - PR São Paulo - SP Brasília - DF Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Comunitária Privada - Comunitária - Confessional Filantrópica Pública Estadual Privada - Particular em Sentido Estrito Privada - Confessional - Filantrópica