SORAYA COELHO GONÇALVES MACHADO Enfermeira Especialista em Saúde Comunitária (ESESM- Porto) Mestre em Gerontologia Social (Universidade da Madeira – UMa) Orientadora: Profª Drª Isabel Fragoeiro; Co-orientadora: Profª Drª Gorete Reis INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida e a melhoria das condições sócio-sanitárias com a redução das doenças infecto-contagiosas, faz crescer o número de idosos dependentes e aumenta o número de casos de dependência nas atividades de vida diária devido às patologias crónico degenerativas prevalentes. Alguns fatores podem intervir nas dificuldades do cuidado quotidiano e contribuir para aumentar a sobrecarga dos cuidadores informais destes idosos dependentes no domicílio. Dentre eles, realçamos a condição de saúde e as características de quem é cuidado, as limitações de quem cuida, muitas vezes relacionadas ao próprio processo de envelhecimento e adoecimento do cuidador, algumas situações de desamparo social experimentadas ao longo da vida e a ausência de algum tipo de suporte formal que facilite o cuidado no domicílio. A sobrecarga de papéis tem consequências na qualidade do cuidado ao idoso e na saúde do próprio cuidador, mostrando que o corpo humano transmite importantes sinais de falta de adaptação à nova tarefa. O presente estudo faz parte da Tese de Mestrado em Gerontologia Social da Universidade da Madeira, 1- METODOLOGIA Tipo de estudo : Fortin (2003), menciona que “O tipo de estudo descreve a estrutura utilizada segundo a questão de investigação, visa descrever variáveis ou grupos de sujeitos, explorar ou examinar relações entre variáveis ou ainda verificar hipóteses de causalidade”( p.133). O estudo decorreu do interesse da investigadora em responder à questão: Qual a percepção da sobrecarga do cuidador informai de idosos dependentes no domicílio do Concelho de Santana? O estudo foi transversal, quantitativo e correlacional. Através deste identificamos os níveis de sobrecarga dos cuidadores informais dos idosos dependentes e as relações existentes entre as variáveis independentes relativas aos cuidadores informais e aos idosos dependentes com a mesma. Objetivos Identificar a população idosa dependente e seus cuidadores informais; Verificar a existência e o nível de sobrecarga percecionada pelos cuidadores informais ; Avaliar a relação entre os fatores relativos aos idosos e aos cuidadores com o nível de sobrecarga Fonte. www.corbis.com “Young Italian Woman at a Table” by Paul Cezanne. População e critérios de inclusão : A população acessível foi constituída pelos cuidadores informais de idosos dependentes acompanhados no domicílio pelos Enfermeiros de Família dos Centros de Saúde Concelhios e composta por 69 cuidadores. Os critérios de inclusão foram: ser cuidador de um idoso dependente (com idade ≥ a 65 anos) há pelo menos 6 meses e aceitar participar do estudo. Instrumento de colheita de dados: O formulário para além das questões de caracterização do cuidador informal incluiu outras escalas validadas para a população portuguesa. Além de identifi carmos o nível de dependência funcional do idoso com a Escala de Barthel modificada (Mahoney; Barthel,1965;Lima, 1995), foi utilizada a Escala de Percepção da Sobrecarga ( Burden Interview Scale, Zarit e Zarit, 1983; Zarit et al.,1985), validada para Portugal (Sequeira 2007), para determinar o nível de sobrecarga. A Escala de Sobrecarga do Cuidador (ESC) é dividida em quatro subcategorias específicas e é composta por cinco possibilidades de resposta que determinam o nível de sobrecarga do cuidador. Quanto maior a pontuação maior a sobrecarga. Cumprimos os procedimentos éticos para a realização do estudo, após aprovação pelo Conselho de Administração do SESARAM-EPE. A colheita de dados ocorreu no período de Março a Junho de 2011.Os dados foram tratados utilizando-se estatística descritiva e inferencial com recurso ao Programa PASW 19. Foi determinado o coeficiente de alpha de Cronbach para aferir da consistência interna do instrumento de sobrecarga, além do teste de Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis. Tabela nº 1 – Sobrecarga do cuidador de acordo com a existência de vínculo parental 2 - RESULTADOS OBTIDOS - A população acessível foi composta por 69 cuidadores informais de idosos dependentes, com idade entre 39-80 anos. Observa-se que a maioria (37,7%) tinha idade entre 44-54 anos, seguindo-se aqueles com idade entre 64-74 anos (26,1%) e os com 54-64 anos (17,4%). -Para determinar as consequências do ato de cuidar e o nível de sobrecarga percecionada pelos cuidadores informais, seleccionámos algumas variáveis: o nível de dependência do idoso, a existência de vínculo familiar, o género do cuidador, o tipo de sobrecarga percepcionada e analisámos a relação existente entre a sobrecarga e o nível de dependência do idoso. - A sobrecarga de acordo com a natureza do vínculo existente entre o cuidador e o idoso, encontrava-se distribuída conforme consta da tabela nº 1: 56,0% dos idosos são cuidados pelas filhas e 28,0% pelas esposas, resultado semelhante aos de diversos estudos realizados em Portugal (Caldas, 2003;Simonetti & Ferreira,2008; Andrade Costa, Caetano et cols 2009; Sequeira, 2010), que evidenciaram que os cuidadores informais eram maioritariamente do género feminino, em geral as filhas e as esposas dos idosos. Constatou-se também que 14,5% dos cuidadores informais não tem vínculo parental com a pessoa idosa. - Na distribuição dos níveis de perceção da sobrecarga por género do cuidador (tabela nº 2), evidenciou-se que 30,6% das mulheres percepcionava sobrecarga ligeira e 10,0% não referiram qualquer sobrecarga. A sobrecarga intensa era percepcionada por 60% dos cuidadores homens. - A distribuição da sobrecarga dos cuidadores pelos níveis de dependência dos idosos (tabela nº 3) revelou que 36,3% não referiram sobrecarga e 63,7% referiram-na ligeira ou intensa. Realça-se a subjetividade da percepção do cuidador informal sobre a doença e suas complicações nos idosos, a qual interfere na forma como percepcionam a sobrecarga vivida. Dos idosos 68% eram muito dependentes e com idade entre os 65 e mais de 100 anos. (quantos exatamente??) -Atendendo a que a maioria das patologias presentes nos idosos dependentes (tabela nº 4) eram degenerativas e de progressão lenta, supõe-se que os cuidadores se adaptaram paralelamente ao ato de cuidar, não referindo na sua maioria sobrecarga intensa. O oposto pode supor-se no que diz respeito às situações de sobrecarga intensa, nas quais as mudanças sofridas na rotina podem ter contribuído para alterar a relação entre os cuidadores e as pessoas cuidadas. A sobrecarga do cuidador informal relaciona-se com a necessidade de cuidados diários aos idosos dependentes. - A sobrecarga evidenciou-se mais significativa nos cuidadores informais analfabetos (p = 0,006), nos mais carenciados economicamente (p ˂ 0,01) e nos que não gozavam férias ( p=0,002). Estes resultados são semelhantes aos obtidos em estudos realizados sobre o tema por outros autores (mencionar alguns). - Aproximadamente um terço dos cuidadores (30,4%) percepcionavam sobrecarga intensa (tabela nº 3). - A intervenção da rede formal de apoio e dos enfermeiros aos cuidadores informais (colocar % ) revelou-se importante na minimização dos níveis de sobrecarga. O apoio formal aos cuidadores informais é uma variável a considerar na prevenção dos riscos para a saúde e bem estar, nomeadamente nas situações causadoras de stresse, o qual interfere de na qualidade dos cuidados facultados aos idosos. -Cuidar de um idoso dependente influencia as relações socias do cuidador informal, pois o desempenho dessa função exige uma dedicação praticamente exclusiva, sobretudo quando não contam com apoios de outras pessoas. Estimular a participação de outros elementos da família, para que o cuidador possa ter um período de descanso e beneficie de suporte social é fundamental. Tabela nº 2 – Sobrecarga do cuidador de acordo com o género Tabela nº 3 – Sobrecarga do cuidador x nível de dependência do idoso Tabela nº 4 – Patologias do idoso dependente CONCLUSÃO: Ao determinarmos a sobrecarga percebida pelo cuidador informal de um idoso dependente, identificamo-la como uma sensação subjetiva que depende de vários fatores intervenientes na vida de ambos e respectivas famílias. Os cuidadores são vulneráveis quando submetidos ao stresse psicológico, físico, emocional e financeiro. A idade do cuidador é um factor relevante no momento em que se encontra a cuidar de alguém com dependência, pois a grande maioria dos mesmos “é cuidador necessitando também de receber cuidados”, devido à idade avançada e às condições físicas e psicossociais advindas daquela. Cuidar de um idoso dependente faz parte de um sistema dinâmico numa rede de relações que transforma seus componentes continuadamente a partir de duas maneiras distintas. A primeira mudança estrutural ocorre entre o cuidador e a pessoa cuidada, por meio das experiências vividas e das novas aprendizagens. A segunda mudança, estrutural, é a adaptação à nova situação vivida pelos intervenientes. O ato de cuidar, sob o ponto de vista do paradigma sistémico é uma resultante na relação diária da pessoa do cuidador com a pessoa cuidada. Ao concluir este trabalho contribuímos para identificar a sobrecarga dos cuidadores informais dos idosos dependentes no Concelho de Santana e identificámos alguns factores que a influenciam de forma significativa. As variáveis identificadas com influência na sobrecarga do cuidador deverão ser alvo de atenção nas intervenções das equipas multidisciplinares de saúde e sociais. Os resultados e conclusões deste trabalho servirão para uma reflexão sobre como os enfermeiros podem apoiar o cuidador informal a cuidar dos idosos dependentes e suas famílias mantendo-os inseridos na comunidade, utilizando medidas preventivas da sobrecarga e de stresse intensos. BIBLIOGRAFIA: Andrade,L.M;Costa, M.F.M.;Caetano,J.A et cols (2009): A problemática do cuidador familiar portador de acidente vascular cerebral. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(1)37-43. São Paulo. Brasil Caldas, C. P. (2003) : Envelhecimento com dependência: responsabilidades e demandas da família. Cadernos de Saúde Pública. Vol. 19, nº 3, p. 773-781.Rio de Janeiro Figueiredo, M.H. (2012): Modelo dinâmico de avaliação e intervenção familiar: uma abordagem colaborativa em Enfermagem de família”. Editora Lusociência Fortin, M.F. (2003). O Processo de Investigação . 2ª edição. Ed. Lusociência. Lisboa Netto, M.P.(2002): Gerontologia a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. Editora Atheneu. São Paulo. Sequeira, C (2010):Cuidar de Idosos com dependência física e mental. 1ª edição. Editora Lidel. Porto Simonetti, J.P; Ferreira J.C. (2008): Estratégias de coping desenvolvidas por cuidadores de idosos portadores de doença crônica. Revista da Escola de Enfermagem da USP.42(1):19-25.São Paulo. Email : [email protected]