Aula: 11 Temática: Metabolismo das principais biomoléculas – parte III Hoje veremos a via glicolítica, ou seja, a quebra de glicose para produção de energia. Boa aula! VIA GLICOLÍTICA (de Embden-Meyerhof) ou GLICÓLISE: A glicólise é uma seqüência de reações que metaboliza uma molécula de GLICOSE a duas de PIRUVATO, com a produção de duas moléculas de ATP. Consiste numa seqüência de reações que ocorrem na ausência de oxigênio (anaerobicamente). GLICOSE ↓ reações anaeróbias (VIA GLICOLÍTICA) → 2 ATP 2 PIRUVATO As reações e os intermediários envolvidos no processo da glicólise estão esquematizados na Fig. 1. Os açúcares simples como a glicose e a frutose entram nessa via somente após serem fosforilados (adição de um grupo fosfato). Existe uma enzima específica que catalisa a fosforilação de cada um dos açúcares, sendo o ATP, doador de fosfato. Subseqüentemente, uma série de reações interligadas resulta em degradação sucessiva do fosfato de glicose a um composto de três carbonos, o ácido pirúvico. BIOQUÍMICA Fig. 1 – Via glicolítica (glicólise). As enzimas envolvidas são: glicocinase, reação (1); fosfoexoisomerase, reação (2); fosfofrutocinase, reação (3): aldolase, reação (4); gliceraldeido3-fosfato desidrogenase, reação (5); fosfogliceratocinase, reação (6); fosfogliceratomutase reação (7); enolase, reação (8); cinase-pirúvica. reação (9): carboxilase-pirúvica, reação (10); desidrogenase alcoólica, reação (li); e desidrogenase lática, reação (12) (modificado de BENNET & FRIEDEN, 1987). O oxigênio não é consumido durante o processo de conversão de glicose em ácido lático ou em álcool etílico. Contudo, dois dos passos individuais são reações de oxidorredução: a oxidação de gliceraldeido-3-fosfato para ácido 1,3difosfoglicérico - reação (5) da figura 10 e a redução de ácido pirúvico para etanol - reações (10) e (11) ou para ácido lático - reação (1). O NADH2 produzido na reação (5) pode ser utilizado na reação (11) ou (12) fig.10. O rendimento de energia desta via metabólica (glicólise) pode ser acompanhado, em termos de ligações de alta energia contidas nas moléculas de ATP, na figura 2. BIOQUÍMICA Lembre-se que, nas células, a energia é dada por moléculas de ATP, quando uma de suas ligações com o fósforo se rompe, transformando-o em ADP. Para que a célula se mantenha viva, é necessário que tenha um suprimento de moléculas de ATP, que fornecerá energia para a manutenção de suas funções vitais. Assim, num organismo vivo, moléculas de ATP estão constantemente sendo formadas e constantemente sendo gastas. Fig. 2 – Mostra o consumo e o ganho de energia em forma de moléculas de ATP durante a via glicolítica (glicólise): Um mol de ATP é consumido na primeira fosforilação (reação 1 da fig. 10), outra é consumida na reação (3) da figura 10. A reação (6) da fig. 10 resulta em 1 mol de ATP, ou 2 moles por molécula de glicose. Pode se notar que um rendimento de ATP semelhante, ocorre na reação 9 da figura 10. Assim por mol de glicose metabolizada há um consumo de 2 moles de ATP, mas são finalmente produzidos 4 moles, sendo que o rendimento liquido é de dois moles de ATP. Se começarmos com glicogênio ao invés de glicose o rendimento líquido será de 3 e não 2 moles de ATP. Para fins didáticos, podemos dividir a glicólise em algumas etapas: - 1ª Etapa: Fosforilação da glicose → consiste na fosforilação da glicose, em glicose-6-fosfato, em presença de ATP e da enzima hexoquinase que atua tendo como co-fator, o íon Mg2+. BIOQUÍMICA - 2ª Etapa: Isomerização da glicose → glicose-6-fosfato é isomerizada em frutose-6-fosfato, assistida pela enzima glicose-fosfato isomerase. - 3ª Etapa: Fosforilação da frutose-6-fosfato → há uma segunda reação de fosforilação, da frutose-6-fosfato, sob ação da enzima fosfofrutoquinase, que tem como cofator, o íon Mg2+ transformando-a em frutose 1,6 – difosfato. - 4ª Etapa: Quebra da frutose 1,6 - difosfato → graças à ação de uma aldolase, a frutose -1,6-difosfato é quebrada em duas trioses isoméricas: o fosfogliceraldeído e a fosfodihidroxiacetona No equilíbrio, apenas cerca de 11% se encontra na forma de trioses. Entre estas, a maioria encontra-se sob a forma de dihidroxicetona. - 5ª Etapa: Oxidação do gliceraldeído-3-fosfato → nesta etapa ocorre a única oxidação durante a glicólise. É realizada em presença de fosfato inorgânico e é catalisada por uma desidrogenase que tem a NAD+ como cofator. Durante a etapa, a energia libertada pela oxidação é transferida para a formação de uma nova ligação fosfato, rica em energia. À medida que o fosfogliceraldeído for sendo oxidado, a fosfodihidroxiacetona transformar-se-á em fosfogliceraldeído e será oxidada, por seu turno. Portanto, por cada uma das moléculas de glicose que “entra” no processo de glicólise, ocorrerá a oxidação de duas moléculas de fosfogliceraldeído em ácido difosfoglicérico. - 6ª Etapa: Hidrólise do ácido difosfoglicérico → Durante esta etapa, a energia liberada pela hidrólise é transferida para a síntese de ATP a partir de ADP e de fosfato inorgânico. - Etapa de produção de ácido pirúvico: Durante as etapas seguintes, o ácido 3fosfoglicérico sofrerá diversas reações e é transformado, por último, em ácido pirúvico. O fenômeno mais significativo é a fosforilação de mais um ADP em ATP. BIOQUÍMICA Em resumo, no decurso da glicólise, por cada molécula de glicose, são produzidas duas moléculas de ácido pirúvico. No início do processo, foi investida energia (consumiram-se 2 ATP). No final do processo recuperou-se energia sob a forma de 4 ATP. O saldo é de 2ATP por molécula de glicose. Nos seres aeróbios, a glicólise é a via de entrada da glicose no ciclo de Krebs (ou do ácido cítrico). Nestes, o NADH2 formado na reação (5) da Fig. 10, entra no esquema de fosforilação oxidativa resultando na produção de ATP. Assim sendo, em células aeróbicas a via glicolítica resulta num total de 8 moles de ATP por mol de glicose metabolizada. Embora a glicólise seja um processo quase universal, o destino de seu produto final, piruvato, pode variar de espécie para espécie ou mesmo de tecidos para tecido. Na presença de oxigênio, o piruvato é metabolizado a dióxido de carbono e água pelo ciclo do ácido cítrico (ou de Krebs) e pela cadeia transportadora de elétrons. Na ausência de oxigênio, ocorre a fermentação que gera uma menor quantidade de energia. No processo da fermentação, o piruvato se transforma, ou fermenta, gerando ácido láctico (fermentação láctica) ou etanol (fermentação alcoólica). Finalmente, é bom lembrar que a glicólise ocorre no citoplasma das células e consiste na degradação da glicose em ácido pirúvico. É chamada de fase anaeróbia da respiração celular, pois não há consumo de oxigênio. Pode ser considerada uma “preparação” para fases posteriores, onde haverá uso do O2 (ciclo de Krebs) ou não (fermentação). Na verdade, a seqüência glicolítica (glicólise) é considerada o conjunto de reações iniciais da degradação da glicose. Tem início com a ativação da glicose que recebe dois grupos fosfato, fornecidos pelo ATP, que se transforma em ADP. Finda esta fase, o processo para obtenção de energia continua, o que veremos em nossa próxima aula. Um forte abraço e até lá! BIOQUÍMICA