INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Parasitária Paleogenética de populações pré-colombianas da Bolívia: Análises do mtDNA humano, e infecções por Trypanosoma cruzi e vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV). Nancy Carolina Orellana Halkyer Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz, para a obtenção do grau de Mestre em Biologia Parasitária Orientadora Dra. Ana Carolina Paulo Vicente, Laboratório de Genética Molecular de Microrganismos IOC-FIOCRUZ Março de 2008 i INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Parasitária Título: Paleogenética de populações pré-colombianas da Bolívia: Análises do mtDNA humano, e infecções por Trypanosoma cruzi e vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV). Autor: Nancy Carolina Orellana Halkyer Orientador: Dra. Ana Carolina Paulo Vicente Aprovada em: _____/_____/_____ pela banca examinadora: Dr. Adauto Araújo - Presidente Dr. Adeilton Brandão Dr. Antonio Vallinoto Rio de Janeiro, ii de de 2008 A Deus e aos meus pais. iii Agradecimentos A Deus e a minha família antes de tudo, pelo amor, força, apoio incondicional. Ao Dennis pela companhia, amor e compreensão. Ao programa PEC-PG convênio Brasil/Bolívia e à CNPq, pela oportunidade que me deu de ter estudado no Brasil. A Fundação Oswaldo pela oportunidade de ser parte de uma instituição de tanto prestigio e de excelente nível acadêmico. A Dra. Ana Carolina Paulo Vicente e a Dra. Ana Jansen por compartilhar seus conhecimentos e ter aberto as portas de seus laboratórios para que eu aprendesse. Ao Dr. Luis Fernando Ferreira e Dr. Adauto Araújo muito obrigada pela sua ajuda, sua força, seus conhecimentos, sua amizade e o contagiante amor pela paleoparasitologia e por acreditar nos alunos. A Dra. Sheila Mendoça por sua amizade, por compartilhar seus conhecimentos e por seu profisionalismo, pessoa admirável. A Rosa pela ajuda no trabalho. A todas as amigas do laboratório de Biologia Molecular de Microorganismos por seu apoio e amizade. Aos meus queridos amigos: Juliana, Alexandre, Fernanda, Daniela, Cristiane, Rosa de Fátima; as amizades colombianas, Gabicita, Cristina, Dona Aparecida, Marta e dona Cíntia por terem sido mais que amigos a minha família aqui no Rio de Janeiro. Muito obrigada a todos aqueles que foram parte desta etapa profissional na minha vida. iv Lista de abreviaturas: aC Antes de Cristo AP Antes do presente AD Ano Domini aDNA ancient DNA dC Depois de Cristo dNTP Deoxinucleotídeo trifosfato EDTA Ácido Etilenodiaminotetracetico HVS-I Hipervariable Segment I IPTG Isopropyl ß-D-1- thiogalactopyranoside Kb Kilobases kDNA DNA do kinetoplasto LGMM Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos LTR Long terminal repeats MgCl2 Cloreto de Magnésio m Metros ma milhões de anos mm milímetro mtDNA mitocondrial DNA NaOCl Hipoclorito de Sódio nm Nanometros nt nucleotídeos pb Pares de bases PCR Polymerase Chain Reaction pC Pré-colombiana PM Marcador de Peso PRF Projeto de reconstrução facial (código do museu) v PAAK Abreviatura do museu referente a amostra da pirâmide de Akapana PAGE Gel poliacrilamida rpm Revoluções por minuto SDS Sodium dodecyl sulfate SSC Saline-Sodium Citrate (solução citrate salina) TCI Trypanosoma cruzi I TCII Trypanosoma cruzi II UV Radiação ultra violeta [α – 32P] Fósforo radioativo-partícula alfa µl Microlitro 14 carbono 14 C vi Índice de Figuras e Tabelas Página Figura 1.1- DNA mitocondrial, localização da região D-loop e região dos polimorfismos nos segmentos hipervariáveis (HVI)._________________________________________3 Figura 1.2- Mapa da expansão demográfica dos haplogrupos. _____________________5 Figura 1.3-Prováveis vias para a dispersão da infecção pelo HTLV até América._____ 11 Figura 1.4-Estrutura genômica do HTLV.____________________________________ 12 Figura 1.5-Estrutura genética do HTLV. _____________________________________13 Figura 1.6-O parasito Trypanosoma cruzi.____________________________________14 Figura 1.7-Ciclo biológico do Trypanosoma cruzi._____________________________15 Figura 1.8-Organização esquemática do rDNA do Trypanosoma cruzi______________19 Figura 1.9-O locus do Miniexon apresenta unidades repetidas e esta organizada em tandem________________________________________________________________20 Figura 1.10 -Minicirculos do kDNA de T. cruzi._______________________________ 20 Figura 3.1-Foto de uma das Múmias pré-hispânicas de Cochabamba e as Múmias hispânicas de Chuquisaca incluídas no estudo. ________________________________25 Figura 3.2-Mapa da Bolívia com os 9 Departamentos___________________________26 Figura 3.3-Cronologia de algumas das principais culturas do Altiplano e Vale da Bolívia._______________________________________________________________ 27 Figura 3.4- Mapa de Cochabamba, com as províncias. Inclui provincia Ayopaya, Mizque, Campero e Carrasco, onde foram encontradas algumas das múmias deste estudo_____ 30 Figura 3.5-foto satélite do centro de Tiwanaku no departamento de La Paz._________ 34 Figura 3.6-Capital de Tiwanaku- La Paz, Bolívia.______________________________34 Figura 3.7-Coleta das amostras.____________________________________________ 36 Figura 4.1-Visualização em PAGE 8% da integridade do aDNA total de algumas das amostras.______________________________________________________________46 Figura 4.2–Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados das amostras de Tiwanaku._____________________________________________________________ 47 vii Figura 4.3 – Amplicons dos clones obtidos de mtDNA de algumas das amostras de Tiwanaku, Chuquisaca e Cochabamba Visualizados em Agarose 3%._______________ 48 Figura 4.4-Alinhamento da região HVS-1 de amostras de Chuquisaca, Cochabamba e Tiwanaku. _____________________________________________________________49 Figura 4.5 – Haplótipo da múmia colonial C-01do museu de Chuquisaca, alinhado com uma seqüência do genebank.______________________________________________ 52 Figura 4.6 - haplotipo da múmia colonial C-02 do museu de Chuquisaca, alinhado com uma seqüência do genebank._______________________________________________52 Figura 4.7 - haplotipo da múmia pré-hispânica 1590 do museu de Tiwanaku, alinhado com uma seqüência do genebank.___________________________________________53 Figura 4.8–Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados da amostra 1590 de Tiwanaku._____________________________________________________________ 53 Figura 4.9 – Visualização em gel agarose 3%, amplicons obtidos das amostras 1590 e 1710 do segmento tax de HTLV ___________________________________________ 54 Figura 4.10 - Amplicons de clones do segmento tax HTLV de clones das amostras 1590 (Tiwanaku) e 1710 (Chuquisaca) (fragmentos de 220pb). _______________________ 54 Figura 4.11 – Seqüência de HTLV-2 da múmia pré-colombiana 1590 do museu de Tiwanaku mostra uma diferença (T) em relação a uma seqüência de HTLV-2 (C) do genebank._____________________________________________________________ 55 Figura 4.12 – Seqüência de HTLV-1 da múmia pré-colombiana 1710 do museu de Chuquisaca mostra uma diferença (C) em relação a uma seqüência de HTLV-1 (G) do genebank._____________________________________________________________ 56 Figura 4.13–Alinhamento das seqüências obtidas dos clones da amostra 1590 HTLV-2 com seqüências depositadas no GeneBank. ___________________________________57 Figura 4.14- Alinhamento das seqüências obtidas da amostra 1710 HTLV-1 comparada com seqüências depositadas no GeneBank____________________________________57 Figura 4.15–Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados das amostras de 1590 (Tiwanaku) e IC (Chuquisaca)._____________________________________________58 Figura 4.16–Visualização em agarose 3% dos clones amplificados das amostras de IC (Chuquisaca).__________________________________________________________ 57 Figura 4.17 - Membrana de nylon mostrando os sinais positivos das diferentes amostras. Foi usado um kDNA como controle positivo nas hibridações para T. cruzi.__________59 viii Figura 4.18-Membrana de nylon mostrando os sinais positivos das diferentes amostras 1590 e 1710 e os controle positivo LTR+pX de HTLV-1 e HTLV-2 nas hibridações para HTLV. _______________________________________________________________60 Figura 4.19-Membrana de nylon mostrando sinal positivo da amostra 1590 e do controle positivo LTR+pX HTLV-2 na hibridação para HTLV-2_________________________61 Tabela 1.1- Distribuição do HTLV-1 e HTLV-2 nos ameríndios mediante métodos moleculares e a identificação por sorologia de anticorpos para HTLV-1/2 nos Ameríndios._____________________________________________________________9 Tabela 3.1 - Informação das múmias do museu de Cochabamba, referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Cochabamba: 1200- 800 anos ____________________________________31 Tabela 3.2- Informação das múmias do museu de Chuquisaca referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Chuquisaca:1200- 800 anos _____________________________________ 32 Tabela 3.3 - Informação das múmias do museu Tiwanaku, La Paz referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Tiwanaku: 3600-900 anos aproximadamente ___________ 35 Tabela 3.4-Iniciadores utilizados nas reações de PCR.__________________________ 39 Tabela 4.1 - Quantificação dos aDNAs extraídos das múmias de Cochabamba, Tiwanaku e Chuquisaca. Dados sobre a concentração e pureza de ácidos núcleicos (absorbância 260/280) e as amplificações obtidas da região HVS-I humana nos diferentes tecidos. _ 45 Tabela 4.2-Posições nucleotídicas dos polimorfismos que determinam no fragmento de 188 pb aos haplogrupos Ameríndios A, B, C e D. ______________________________50 Tabela 4.3-Resumo dos haplogrupos encontrados em Tiwanaku, Chuquisca Cochabamba.___________________________________________________________51 Índice Introdução_____________________________________________________________1 1.1 - Primeiras migrações humanas da América________________________________ 2 ix e 1.2 - O DNA mitocondrial e os haplogrupos___________________________________ 2 1.3 - Os haplogrupos durante a expansão demográfica.___________________________4 1.4 - Variabilidade Genética no continente Americano.__________________________ 6 1.5 - Paleodemografia e a Paleoparasitoses ___________________________________ 7 1.6 - O Vírus Linfotrópico das Células-T Humanas (HTLV)______________________7 1.6.1 - Distribuição do HTLV entre ameríndios________________________________ 9 1.6.2 – Transmissão_____________________________________________________ 10 1.6.3 - Hipótese do seu espalhamento_______________________________________ 10 1.6.4 - Estrutura genômica do HTLV e seus produtos protéicos___________________12 1. 7 – A Tripanossomíase Americana _______________________________________14 1.7.1 - Ciclo Biológico___________________________________________________14 1.7.4 - Vias de Transmissão _______________________________________________17 1.7.5 - Fases da Doença de Chagas e a sintomatologia associada__________________ 18 1.7.6 - O genoma do Trypanosoma cruzi_____________________________________19 1.7.7 - Diversidade Genética do T. cruzi_____________________________________ 20 Objetivos_____________________________________________________________ 22 2.1 - Objetivo Geral_____________________________________________________ 23 2.2 - Objetivos específicos________________________________________________ 23 Materiais e métodos____________________________________________________ 24 3.1 – Material de estudo__________________________________________________25 3.1.1 - Natureza das amostras______________________________________________25 3.1.2 - Cronologia e datação das amostras ___________________________________ 26 3.1.3 - Descrição das culturas pré-hispânicas e sítios arqueológicos da Bolívia_______28 3.1.4 - Coleta das amostras_______________________________________________ 36 3.2 - Extração do DNA __________________________________________________36 3.3 – Quantificações do aDNA no espectrofotômetro Nanodrop, Uniscience ND-1000_37 3.4 - Alvos analisados___________________________________________________ 38 x 3.5 - Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ________________________________ 38 3.5.1 - PCR Reconstrutiva________________________________________________38 3.5.2 - PCR Humano ___________________________________________________ 40 3.5.3 - PCR para T. cruzi_________________________________________________40 3.5.4 - PCR para HTLV _________________________________________________40 3.6 – Clonagem ________________________________________________________40 3.7 - Purificação dos produtos de PCR______________________________________40 3.8 - Extração do plasmídeo ______________________________________________41 3.9 – Determinação das seqüências nucleotídicas ______________________________41 3.10 – Hibridação de DNA com sondas de DNA marcadas radioativamente ________ 41 3.10.1 – Dot Blot ______________________________________________________ 41 3.10.2 - Sondas moleculares utilizadas ______________________________________42 3.10.3 - Southern Blot ___________________________________________________42 3.11 - Soluções e meios de cultura. _________________________________________43 Resultados ____________________________________________________________44 4.1 – Extrações de aDNA ________________________________________________ 45 4.1.1 - Quantificações espectrofotométricas __________________________________45 4.1.2 - Amplificações da região mitocondrial D-loop humana HVS-I (188 pb) ______ 47 4.1.3 - Alinhamento completo das seqüências obtidas das múmias pré-hispânicas de Tiwanaku, Chuquisaca e Cochabamba ______________________________________ 49 4.2 – Alvo HTLV ______________________________________________________ 53 4.2.1 - Amplificações do alvo HTLV _______________________________________ 53 4.2.2 - Clones HTLV____________________________________________________54 4.2.3 - Tipagem dos HLTVs ______________________________________________55 4. 3 - Alvo T. cruzi _____________________________________________________ 58 4.3.1 - Amplificações da região conservada dos minicírculos.de T. cruzi do aDNA___58 4.3.2 - Clones de T. cruzi (região conservada dos minicírculos) __________________ 58 4.3.3 – Gene do miniexon _______________________________________________ 58 xi 4.4 - Hibridações dos diferentes alvos ______________________________________ 59 4.4.1 - Hibridações com sonda kDNA de T. cruzi _____________________________ 59 4.4.2 - Hibridação com sonda HTLV-1 e HTLV-2 (pool das regiões pX e LTR de ambos tipos). _______________________________________________________________ 60 4.4.3 - Hibridação com sonda das regiões pX e LTR do HTLV-2 ________________ 60 4.5 - Southern Blot para o alvo T. cruzi (sonda kDNA de T. cruzi) _______________ 61 Discussão ____________________________________________________________ 62 Conclusões ___________________________________________________________ 71 Bibliografia___________________________________________________________ 73 xii Resumo Restos humanos de origem arqueológica podem ser fonte de informação relevante para o conhecimento da origem de infecções parasitarias. Tivemos a oportunidade de analisar material de 26 múmias pré-colombianas da Bolívia datadas de 3600-900 anos atrás. Utilizando o sistema comercial de extração de DNA antigo (GeneClean BIO101) e sob condições especiais estabelecidas para a manipulação de aDNA (DNA antigo), ossos, dentes e tecido mole foram processados. O aDNA recuperado por reação de polimerização em cadeia, utilizando iniciadores específicos para os alvos humano e do vírus HTLV (Human T-cell Lymphotropic Virus) e do protozoário Trypanossoma cruzi, foi clonado e seqüenciado. Desta forma, foram identificadas as linhagens genéticas ou haplogrupos de 19 múmias précolombianas, assim como o haplogrupo de três múmias hispânicas do museu de Chuquisaca. A freqüência das linhagens genéticas foi: haplogrupo B 58% (11/19), haplogrupo A 42% (7/19) e haplogrupo D na múmia 1590 de Tiwanaku. A presença de aDNA de T. cruzi foi revelada pela hibridação, com sondas de kDNA do protozoário, em 11/29 múmias (38%). Três foram de Chuquisaca, quatro de Tiwanaku em La Paz e quatro de Cochabamba. Também recuperamos aDNA de HTLV e as análises genéticas determinaram a presença de ambos tipos do vírus: HTLV-1 e HTLV-2 nos indivíduos 1710 (Chuquisaca) e 1590 (Tiwanaku, La Paz) respectivamente. A recuperação de aDNA de HTLV-2, da múmia pré-colombiana de Tiwanaku, é a primeira evidencia biológica da presença ancestral deste vírus na América, apoiando a hipótese da sua introdução no continente junto com os primeiros povoadores há 35000-15000 anos atrás. xiii Abstract Archaeological human remains can be source of important data concerning the origin of parasite infections. Here we had the opportunity to investigate 26 pre-Columbian mummies from Bolivia dating 3600-900 years ago. Using the ancient DNA extraction comercial system (GeneClean BIO101) and, under the special conditions established for aDNA (ancient DNA) manipulation, bones, teeth and soft tissues samples were processed. The aDNA recovered by polimerase chain reaction using specific primers to human, HTLV (Human T-cell Lymphotropic Virus) and the protozoan Trypanossoma cruzi targets were cloned and sequenced. Therefore, allowing the determination of the genetic lineages or haplogroups of 19 pre-Columbian mummies, as well as the haplogroups of three colonial human remains of Chuquisaca museum. The genetic lineages frequences were: 58% B haplogroup (11/19), 37% A haplogroup (7/19) and haplogroup D in 1590 mummy from Tiwanaku, La Paz. The presence of T. cruzi aDNA was revealed, by hybridization with the protozoan kDNA probe, in 11/29 mummies (38%). Three were of Chuquisaca city, four of Tiwanaku and four of Cochabamba city. We also recovered aDNA belonging to HTLV and the sequence analysis determined the presence of the both virus types: HTLV-1 and HTLV-2 in subjects 1710 (Chuquisaca city) and 1590 (Tiwanaku in La Paz) respectively. The recovery of HTLV-2 aDNA, from a pre-Columbian mummy of Tiwanaku, is the first biological evidence of the ancestral presence of this virus in the Americas supporting the hypothesis of its introduction in the continent with the first settlers 35000- 15000 years ago. xiv 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 - Primeiras migrações humanas da América A entrada e dispersão da espécie humana nas Américas tem sido matéria de intenso debate e várias têm sido as propostas. Classicamente é admitido que o continente americano fosse habitado inicialmente por populações que chegaram da Ásia, pelo estreito de Bering aproximadamente 15.000 a 35.000 anos atrás (Hopkins, 1959). Considera-se também que populações de proto-índios ou paleo-índios tenham migrado para o continente americano pelas vias trans-pacífica e/ou trans-atlântica, provavelmente no final da última glaciação (11.000-12.000 anos atrás), envolvendo grupos migratórios como: australianos, africanos, melanésios e polinésios (Rivet, 1980; Lahr, 1995; Pucciarelli, 2000; Gomez, 2006). Provavelmente o povoamento das Américas tenha acontecido através de diversas ondas migratórias, e que estes povos nômades se dispersaram e se assentaram por todo o continente, constituindo o que hoje são as populações indígenas americanas (Neves, 1985). 1.2 - O DNA mitocondrial e os haplogrupos O DNA mitocondrial (mtDNA) é uma molécula circular de aproximadamente 16,5 kilobases de tamanho que contém no seu genoma 37 genes e várias regiões sinalizadoras. Uma destas regiões, denominado D-loop ou região controladora da replicação do mtDNA, apresenta três segmentos hipervariáveis: HVS-I (342 pb, localizado nas posições 16.02416.365), HVS-II (268 pb. 73 - 340) e HVS-III (137pb. 438 – 574) (Anderson et al., 1981, Ingman et al., 2000) (figura 1.1). Na seqüência da região HVS-I é possível identificar polimorfismos que caracterizam diferentes haplogrupos e definem as linhagens genéticas humanas. A identificação dos polimorfismos característicos das diversas populações ao redor do mundo permitiu refinar os estudos para traçar a história evolutiva dos humanos (Lutz et al., 2000). Os haplogrupos são uma coleção de haplótipos que compartilham pelo menos uma variação genética, e são também referidos como linhagens genéticas ou linhagens do mtDNA (Neel et al., 1994). Os haplogrupos são utilizados como marcadores antropológicos devido às características do mtDNA: herança estritamente materna, ausência de recombinação e por apresentar grande quantidade de cópias em uma única célula (Pakendorf & Stoneking, 2005). 2 Figura 1.1 - DNA mitocondrial, localização da região D-loop e região dos polimorfismos nos segmentos hipervariáveis (HVI). Fonte: www.herkules.oulu.fi; Lutz, 2000. 3 1.3 - Os haplogrupos durante a expansão demográfica. A distribuição e frequência atual dos haplogrupos nas populações tem contribuído para a construção da história da expansão geográfica da espécie humana a partir da África. Para isto, considerou-se um tipo particular de mtDNA de uma mulher como sendo a linhagem materna ancestral dos humanos modernos (Eva mitocondrial) que teria existido no Leste ou no Sul da África, há mais de 130 mil anos (Forster et al., 2001; 2004). Esta primeira mulher da espécie humana (Homo sapiens), provavelmente, viveu em um ambiente de condições favoráveis que permitiu aumentar a freqüência do seu haplogrupo. Durante a história humana, alguns descendentes apresentaram variações na seqüência que determinaram os polimorfismos, que se fixaram no genoma mitocondrial tornando o tipo inicial cada vez menos comum ou extinto (Forster et al., 2001). Atualmente, são poucas as linhagens diretamente relacionadas às linhagens ancestrais africanas, sendo uma delas o haplogrupo L1 restrito atualmente à África e em menor freqüência (aproximadamente 1 %) na Arábia e no Mediterrâneo. Outras linhagens antigas descendentes diretas da primeira linhagem são: L1d e L1k que ocorrem somente no Sul da África; L1c no Centro e Oeste da África (nos pigmeus); L1e e L1f no Leste da África (Watson et al., 1997). Este padrão de distribuição geográfica dos haplogrupos sugere uma expansão inicial através da África, datada aproximadamente de 130 mil anos ou mais (figura 1.2) (Forster, 2004). 4 Figura 1.2 - Mapa da expansão demográfica dos haplogrupos (Fonte: www. worldfamilies.net). Por volta de 80-60 mil anos atrás houve uma nova expansão que repovoou a África com os haplogrupos L2 e L3, sendo que os haplogrupos L1 originais diminuiramu, exceto nos ancestrais de algumas populações do Oeste Africano. Após dispersão na África, os haplogrupos L2 e L3 participaram da única migração com êxito do homem moderno indo para fora da África há 80-54mil anos atrás (Forster et al., 2001). É provável que a população que saiu da África tenha sido muito pequena, posto que só o haplogrupo L3 sobreviveu. Considera-se que os haplogrupos modernos não africanos sejam descendentes deste haplogrupo (Oppenheimer, 2003; Lahr & Foley, 1994). Posteriormente e a partir do haplogrupo L3, surgiram os haplogrupos M e N. Ainda não está claro se estes haplogrupos surgiram na África justo antes do Êxodo ou se foi depois, no Leste da Índia (devido à grande diversidade de M nesta região) (Forster et al., 2001). Estudos mais recentes sugerem que os haplogrupos M e N tenham sido introduzidos por uma migração ao subcontinente da Índia e ao Sudeste da Ásia, sendo possível também que uma migração independente ao norte da Índia tivesse introduzido o haplogrupo N (Barnabas et al., 2005). As evidências arqueológicas da migração do homem moderno desde o Leste da África até a Índia são compatíveis com a idade da expansão do homem moderno e o tempo de coalescência do grupo M (Quintana- Murci et al., 1999; Forster, 2004). 5 Kong et al (2003), indica que os primeiros humanos modernos também teriam carregado até o Sudeste da Ásia o haplogrupo euroasiático R. Aproximadamente a metade da população do Leste Asiático, incluindo os Siberianos, apresenta o haplogrupo M. Duas variantes foram reconhecidas como subgrupos do M, haplogrupos C e D, que posteriormente foram identificados como dois dos haplogrupos fundadores do Novo Mundo (Quintana- Murci et al., 1999). 1. 4 - Variabilidade Genética no continente Americano. Schurr et al (1990) foram os primeiros a sugerir que a variabilidade do mtDNA nos nativos americanos estaria reduzida a quatro haplogrupos fundadores: A, B, C e D. Posteriormente, o trabalho de Bailliet et al (1994) reconhece nestas linhagens, os subhaplogrupos A1, A2, C1, C2, D1 e D2, com características de linhagens fundadoras. O termo mtDNA fundador indica que um tipo de mtDNA entrou numa determinada região, por exemplo nas Américas, junto com as migrações e o descobrimento de um novo continente, com condições mais favoráveis que levaram a aumentar a freqüência e sobrevivência desses tipos de mtDNA nos descendentes (Torroni et al., 1993; Forster et al., 1996; Richards et al., 2000). Posteriormente, um quinto haplogrupo denominado X, ausente na Ásia, é identificado entre os Ameríndios. Os polimorfismos que o caracterizam ocorrem nos Navajos e Ojibwa da América do Norte (Torroni & Wallace 1995; Scozzari et al., 1997; Brown et al., 1998). Identificou-se entre os europeus o haplogrupo X, representando 4% do mtDNA nos europeus. Todas as análises sugerem que o haplogrupo X entre os nativos americanos e os europeus compartilha um ancestral materno, que teria divergido um do outro há muito tempo atrás (Brown et al., 1998). A ancestralidade do haplogrupo X nas Américas pode ser corroborada por sua identificação em restos humanos pré-coloniais. Foram recuperadas seqüências parciais da região controladora no mtDNA em vestígios de ameríndios da cultura Oneota de Illinois River Valley datados de 1300 A.D. Esta região apresentava as assinaturas determinantes do haplogrupo X, demonstrando a presença deste nas Américas antes da colonização européia (Stone & Stoneking, 1993; Stone & Stoneking, 1998). Os haplogrupos A, B, C e D também foram identificados em populações pré-hispânicas do Chile e Peru, indicando que estes haplogrupos possivelmente em diferentes freqüências representam os haplogrupos ancestrais dos ameríndios (Lalueza-Fox et al., 2001; Moraga et al., 2005; Shinoda et al., 2006). 6 1.5 - Paleodemografia e a Paleoparasitologia A Paleopatologia e a Paleoparasitologia se estabelecem no século XX como as ciências dedicadas respectivamente ao diagnóstico e interpretação de quadros patológicos em populações pré-históricas e ao estudo de parasitos encontrados em material arqueológicos ou paleontológicos, com o objetivo de conhecer a origem e dispersão de parasitos e seus hospedeiros (Ferrreira,1988). Ancestralmente, as populações migrantes trouxeram para América novos hospedeiros e parasitos e passaram a conviver com os parasitos que, até então, circulavam entre os animais das Américas. Este contato foi se estabelecendo e evoluindo, de acordo com a interação dos humanos com a natureza e foi neste cenário que surgiram novos parasitos do hospedeiro humano (Rothhamer, 1985; Araújo & Ferreira, 2000). Diversos são os trabalhos em paleoparasitologia que determinaram, em material biológico mumificado, utilizando técnicas imunológicas e moleculares, a presença de parasitos tais como: Schistosoma haematobium, Plasmodium falciparum, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis, Ancylostoma duodenale, Trypanosoma cruzi entre outros. Também trabalhos com alvos humanos como: grupos sanguíneos e mtDNA, que são considerados marcadores migracionais e cuja informação permitiu inferir sobre a origem de determinadas populações humanas (Sauca, s/a; Ferreira et al., 1987; Fornacieri et al., 1995; Cerruti et al., 1999; Guhl et al., 1999; Ferreira et al., 2000; Iñiguez et al., 2003; Orellana, 2004). Acompanhar o processo evolutivo das infecções parasitárias nas populações ancestrais em diversos territórios significa recuperar eventos sucedidos no espaço e no tempo da história humana (Araújo & Ferreira, 2000), podendo auxiliar para a compreensão de sua distribuição no presente, além de fornecer subsídios para avaliação de fatores de risco da transmissão. É neste cenário que se insere o presente estudo, que pretende compreender a distribuição e a antiguidade no continente Americano de duas infecções, causadas pelos parasitos: vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV) e Trypanosoma cruzi nas populações pré-hispânicas da Bolívia. 7 1. 6 - O Vírus Linfotrópico das Células-T Humanas (HTLV) O vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV) pertence à família Retroviridae (Coffin 1992) e foi o primeiro oncoretrovirus humano isolado e é classificado em dois tipos: tipo 1 (HTLV-1) e tipo 2 (HTLV-2). É um vírus caracterizado por sua baixa patogenicidade e sua alta estabilidade genômica. Os provirus HTLV-1 e HTLV-2 são as versões no homem dos retrovírus de macacos: STLV-1 e STLV-2 (Salemi et al., 1999). A infecção por HTLV-1 é classificada em vários subtipos, que possivelmente surgiram de distintas passagens de STLV-1 do macaco para o homem, em distintas regiões geográficas (Ásia e África), enquanto que o HTLV-2, com quatro subtipos, parece ter evoluído a partir de uma única passagem macaco/homem na África (Salemi et al., 1999). A infecçaõ por HTLV-1 é endêmica (1-5% prevalência) em muitas regiões do mundo: Japão, Índia, Irã, Caribe, África, América Central e do Sul e também (>1% prevalência), Oriente Médio Melanésia, Austrália, Estados Unidos, Portugal e França, enquanto que o HTLV-2 é encontrado principalmente em duas populações: comunidades indígenas da América do Norte, Central e Sul e usuários de drogas nos EUA, Europa e Ásia (Fujiyoshi et al., 1999). A infecção por HTLV-1 está associada ao desenvolvimento de duas doenças: a paraparesia espástica tropical e a leucemia das células T do adulto. Em relação ao HTLV-2 existem poucos relatos de sua associação a quadros clínicos (Shindo et al., 2002). 8 1.6.1 - Distribuição do HTLV entre Ameríndios Ameríndios HTLV-1 HTLV-2 HTLV1/2 Sorologia - Bolívia Quechuas Aymaras - Argentina Mataco Toba Susques - Chile Atacameños Aymara Mapuche Huiliche Alakalf Papa Nui - Brasil Tyriyos Mekranoiti Yanomamí Galibé Kayapo Arara do Laranjal Kraho -Peru Karumas Wayku Quéchuas Aymara - Colômbia Chibchas Tunebo Wayuu Palikurs - Paraguai Sanapaná Populações do Chaco Paraguaio - Panamá Guaymi - Venezuela Guahibo - Guiana Francesa Arawaks Palikurs + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - Estados Unidos Seminole Pueblo Navajo + + + Tabela 1.1 - Distribuição do HTLV-1 e HTLV-2 nos Ameríndios mediante métodos moleculares e a identificação por sorologia de anticorpos para HTLV-1/2 nos ameríndios (Ref.: Reeves et al., 1990; Lairmore et al., 1990; Hjelle et al., 1990; Maloney et al., 1992; Hjelle et a.,l 1992; Dueñas-Barajas et al., 1993, Levine et al., 1993; Cartier et al., 1993; Fuyiyoshi e cols., 1999; Shindo et al., 2002, Ishak et al., 2003, Vallinoto et al., 2006). 9 1.6.2 - Transmissão O HTLV é transmitido por contato com os linfócitos infectados e/ou vírus livre presente no sangue. As vias de transmissão podem ser principalmente: aleitamento, sexual e sangue (transfusão e hemoderivados) (Black, 1997). Inicialmente, é possível que a transmissão do STLV dos macacos tenha passado para o homem pela ingestão ou manipulação de carne crua (Azran et al., 2004). 1.6.3 - Hipótese do seu espalhamento A distribuição geográfica e prevalência entre grupos indígenas do HTLV-1 e HTLV-2 levantaram a hipótese de que estes vírus possam ter acompanhado as migrações humanas ancestrais (Figura 1.3) (Fujiyoshi et al., 1999). A soroprevalência do HTLV-2 entre os grupos indígenas isolados das Américas (Fujiyoshi et al., 1999) e a falta de positividade para STLV, entre os macacos do Novo Mundo, apontam para a hipótese de que o HTLV-2 tenha sido introduzido nas Américas acompanhando as primeiras migrações humanas (Salemi et al.,1999). Estudos de epidemiologia molecular apenas detectaram nos grupos indígenas das Américas o HTLV-2 enquanto que, o HTLV-1 estaria presente nas populações urbanas. Além disto, o subtipo de HTLV-1 encontrado nas Américas é o subtipo Cosmopolita, que se encontra espalhado por todo o mundo. Considerando estas evidências especula-se que o HTLV-2 seria um vírus ancestral dos primeiros povoadores das Américas, enquanto que o HTLV-1 teria sido introduzido no continente principalmente durante o intenso tráfico de escravos que ocorreu entre a África e o continente americano, nos séculos XVIII e XIX, e nas imigrações japonesas do século XX (Azran et al., 2004). 10 Migração Via Bering Migrações Recentes desde Japão Tráfico de escravos Figura 1.3 - Prováveis vias para a dispersão da infecção pelo HTLV até América (Fonte: adaptado de National Geographic Society. www.nationalgeographic.com). Uma evidência sobre a antiguidade do HTLV nas populações indígenas pré-hispânicas das Américas, é estabelecida por Li et al (1999) que recuperaram material genético do HTLV1 de uma múmia do Chile, datada de aproximadamente 1500 anos. 11 1.6.4 - Estrutura genômica do HTLV e seus produtos protéicos O HTLV possui uma estrutura morfológica similar a de outros retrovírus, apresenta uma construção complexa que consiste de um envelope e um nucleocapsideo (Figura 1.4) (Goff, 2001). Figura 1.4-Estrutura genômica do HTLV (Fonte: http://www.dinep.ufba.br/endemias/htlv1/imagens/manual_021.gif). 12 O HTLV tem um genoma diplóide de RNA de fita simples, de em torno de 9000pb, com uma organização similar aos outros retrovírus, ou seja, as regiões gag, pol e env, além da região que flanqueia das extremidades do genoma LTR (long terminal repeats). Caracteriza-o uma seqüência próxima à extremidade 3´ conhecida como região pX, a qual contém os genes reguladores tax e rex. As LTRs são essenciais na integração do DNA proviral no DNA nuclear dos linfócitos humanos (provírus) e também para a regulação transcricional do genoma do HTLV (Fig. 1.5) (Green & Chen, 2001). Figura 1.5 - Estrutura genética do HTLV (Fonte: http://www.dinep.ufba.br/endemias/htlv1/imagens/manual_022.gif). 13 1. 7 – A Tripanossomíase Americana A tripanossomíase americana ou Doença de Chagas é primitivamente uma parasitose de animais silvestres. Estende-se atualmente do sul dos Estados Unidos até a Patagônia. Na Bolívia, a área endêmica inclui 80 % do território, com maior incidência nos vales Andinos e no Chaco e, a população comprometida é de aproximadamente 3 milhões de pessoas (WHO, 1991; Alfred et al., 1999; Breniere et al., 2002). O agente etiológico da doença de Chagas, Trypanosoma cruzi, é um protozoário flagelado, da família Trypanosomatidae, da ordem Kinetoplastida (Figura 1.6) (Levine, 1980). Figura 1.6-O parasito Trypanosoma cruzi 1.7.1 - Ciclo Biológico T. cruzi apresenta quatro estágios evolutivos básicos durante seu complexo ciclo biológico: na luz do tubo digestivo do vetor são encontradas a forma multiplicativa, epimastigota, e a forma infectante, tripomastigota metacíclica. No hospedeiro mamífero são encontradas a forma amastigota que é multiplicativa e intracelular e a forma tripomastigota sanguínea. Ambas as formas encontradas no mamífero são infectivas. Quando o triatomíneo vetor suga o sangue de um mamífero infectado pode ingerir os tripomastigotas, estas formas se diferenciam no tubo digestivo do vetor para epimastigota e metacíclico. Os triatomíneos infectados, ao picar novamente o homem ou outros animais, defecam e eliminam as formas metacíclicas. Os tripomastigotes metacíclicos são fagocitados pelos macrófagos da região e se 14 diferenciam em amastigotas, reiniciando o ciclo (Figura 1.7) (Carvallo & Martinez, 1972; Brener, 1997). A plasticidade biológica do T. cruzi, um organismo bem adaptado ao parasitismo, provavelmente resultou de um longo processo de evolução clonal desde a sua divergência, ocorrida aproximadamente há 100ma (Henriksson et al., 1996). Este processo de evolução incluiu a adaptação aos distintos taxa de mamíferos com os quais foi entrando em contato sucessivamente, na medida em que estes foram povoando o continente americano. Figura 1.7 - Ciclo biológico do Trypanosoma cruzi - No vetor (a) formas epimastigotas (b) se multiplicam no lúmen do intestino. Diferenciam-se para tripomastigotas metacíclicos (c) ocorre na porção final do intestino. Estas formas infectam mamíferos (1). Após adesão, penetram nas células, os tripomastigotas se diferenciam em amastigotas multiplicativos (2). Após diferenciação e liberação de tripomastigotas sangüíneos (3), estas formas podem invadir músculos e outros tecidos. O ciclo se fecha quando o indivíduo infectado é picado por outro triatomíneo. 15 1.7.2 - O vetor Os vetores do T. cruzi, são hemípteros hematófagos, que pertencem à ordem Hemíptera e a Família Reduviidae, subfamília Triatominae. Incluem atualmente 123 espécies das quais 110 estão difundidas pelo novo mundo, e uma grande proporção delas atualmente encontrada naturalmente infectada (Carvallo & Martinez, 1985; Bermudez & Balderrama, 1991; Alfred et al., 1999). Na Bolívia, o vetor mais importante é o Triatoma infestans, presente em sete de seus nove departamentos: La Paz, Cochabamba, Tarija, Sucre, Potosí, Santa Cruz e Beni (Albarracin - Veizaga et al., 1999). Encontrando-se focos silvestres em grandes quantidades nos vales dos departamentos de Cochabamba, La Paz, Sucre e recentemente encontrado na região do Chaco Boliviano (Noireau et al., 2005). Compreendendo uma área de transmissão vetorial, entre 300 e 3000 metros de altitude. Foi possível também encontrar estes triatomíneos até 4100 m de altitude na Bolívia (Castro & Torrico, 1999). 1.7.3 – Origem Várias hipóteses são sugeridas em relação a origem da infecção humana pelo T. cruzi, a mais frequentemente citada, atribui às habitações humanas construídas a partir da colonização européia, o processo de domiciliação do triatomíneo vetor e conseqüente infecção do homem pelo T. cruzi (Rothahammer et al., 1985; Fornacieri et al., 1992). Ossos não cozidos e pêlos de roedores foram achados em coprólitos humanos, indicando que as populações humanas pré-históricas provavelmente consumiam carne crua infectada destes animais. Evidências apontam para a existência da infecção humana nas Américas mesmo quando o homem vivia como nômade alimentando-se de carne crua de animais silvestres, indicando a via oral como a forma mais provável de transmissão (Reinhard, 1992; Schofield, 2000). A via oral é um mecanismo eficiente de transmissão de T. cruzi entre mamíferos selvagens e humanos. Os recentes surtos da doença de Chagas aguda, que têm acontecido no Brasil por consumo de açaí e caldo de cana, estão associados à via oral. Estes se caracterizam por quadros clínicos bastante graves e letalidade de 6% (Dias, 2006). Outra hipótese sugere que o homem tenha se infectado com o T.cruzi, a partir de sua sedentarização. Durante este processo, houve inicialmente a estocagem de grãos e alimentos que teriam atraído animais (mamíferos e triatomíneos) com potencial de sinantropização. O ciclo de transmissão originalmente silvestre passa então a acontecer na área ocupada pelo homem (Rothhammer, 1985). 16 1.7.4 - Vias de Transmissão Via Vetorial: Via de transmissão através do contato com as fezes do vetor infetadas por T.cruzi. Oral: pela ingestão de alimentos contaminados pelo parasito, do próprio triatomíneo ou de carne crua de mamíferos infectados. Transfusional: através de sangue contaminado ou por transplante de órgãos. Transmissão vertical: transmissão da mãe infectada para o filho durante a gravidez, via placentária, corresponde a 5% das infecções na Bolívia (Kirchhoff, 1995; Flores et al., 2003). Em relação ao vetor, existem três tipos de transmissão do T. cruzi: o ciclo de transmissão silvestre, o peridomiciliar e o domiciliar (Alfred, 1999). T. infestans é o vetor mais importante na Bolívia, tendo como hipótese de sua expansão a partir da Bolívia, até os vales do norte chileno e sul peruano. Muito depois, teria alcançado a Argentina pela cordilheira dos Andes e por último o Brasil no início do século XX. O deslocamento populacional pelo continente, assim como o intercambio comercial de produtos entre países vizinhos pode ter facilitado a dispersão passiva dos vetores (Schofield, 1988; Alfred et al., 1999). No Chile foram encontrados restos de T. infestans em urnas funerárias das culturas précolombianas Tafi, Santamaria e La Aguada. A forma de fechamento destas urnas, antes do enterramento, impossibilitaria a penetração dos barbeiros, portanto o triatomíneo estaria entre as roupas do indivíduo, no ato do sepultamento. Esta é uma evidência que aponta para a intensa domiciliação dos triatomíneos e o estreito contato deste com as comunidades précolombianas (Carpintero& Viana, 1980). Lesões associadas à Doença de Chagas e a identificação de T. cruzi em múmias das culturas Chinchorro encontradas em Tarapacá, Chile, assim como também em múmias da cultura Wankarani, (Rothhammer et al., 1985; Fornacieri et al., 1995; Guhl et al., 1999; Guhl et al., 2000; Ferreira et al., 2000), datadas de 9000 anos a.C. demonstraram, definitivamente, que a entrada do homem no ciclo de transmissão do T. cruzi foi anterior à colonização européia (Aufderheide et al., 2004). Vale mencionar que a cultura Chinchorro e Wankarani eram originárias da Bolívia, e que migraram para o Sul do Peru e Norte do Chile respectivamente, onde se estabeleceram, podendo ter dispersado a infecção por T. cruzi durante o processo migratório. É claro que, com a colonização européia, foram introduzidas novas relações de produção, novas formas de ocupação da terra e novos modos de morar, entre eles as casas de adobe na região dos Andes e os casebres de palha, o que propiciou a domiciliação e, posterior 17 dispersão para o resto do continente, do T. infestans (Briones et al., 1999). Esta hipótese explica apenas parcialmente a origem da Doença de Chagas nas Américas: nunca foram explicados os casos de áreas endêmicas onde a presença do T. infestans nunca foi registrada. É interessante que somente na Bolívia, T. infestans é encontrado no ecótopo silvestre, naturalmente infectado (Dujardin et al., 1998; Noireau et al., 2005). 1.7.5 - Fases da Doença de Chagas e a sintomatologia associada A Tripanossomíase Americana apresenta as seguintes fases no hospedeiro mamífero: aguda na que se produz uma inflamação no local da inoculação ou de ingresso do parasito, posteriormente febre, fadiga, dores de cabeça, diarréias que desaparecem em algumas semanas. A parasitemia aumenta e é detectável sorologicamente após 10 a 12 dias da infecção. Na fase indeterminada ou assintomática, geralmente a infecção passa inadvertida, este período começa de 8 a 10 semanas após o contato com o parasito e pode durar muitos anos até o individuo desenvolver alguma lesão cardíaca ou intestinal que resultam em megaórgãos na fase crônica (Kirchhoff, 1995; Andrade, 1999). 18 1.7.6 - O genoma do Trypanosoma cruzi Todos os parasitos pertencentes à ordem Kinetoplastida apresentam uma mitocôndria única, cujo DNA se apresenta em um arranjo peculiar, concatenado, formando uma rede. Os elos desta rede são formados por minicírculos e maxicírculos. Os maxicírculos são moléculas de aproximadamente 20 Kb e são representadas em dezenas de cópias, contendo seqüências codificadoras. Os minicírculos são moléculas menores (0.6- 5.0 Kb) presentes em grande número de cópias (milhares) e codificam RNAs guias, envolvidos nos processos de edição de mRNA oriundo dos maxicirculos. A molécula de um minicírculo em T. cruzi contém quatro regiões conservadas (121pb) específicas desta espécie, intercaladas por quatro regiões variáveis (330pb) (Figura 1.8) (Guhl et al., 2002; Junqueira et al., 2005). No material genético nuclear a região espaçadora do gene de miniéxon é utilizada para tipagem da espécie T. cruzi (Souto et al., 1996). Figura 1.8 - Organização esquemática do rDNA do Trypanosoma cruzi. O rDNA esta constituido de sequencias repetidas nas que as regiões codificadoras das SSU (small subunits) e LSU (Large subunits) estão separadas por dois espaciadores internos transcritos (ITS). O ITS 1 separa a região codificadora da subunidade 18S e a 5.8 S rDNA, e o ITS2 separa as sequencias 5.8 S rDNA e do 24S rDNA (Macedo et al., 2004). 19 INTRON EXON MINIEXON Figura 1.9 - O locus do Miniexon apresenta unidades repetidas e esta organizada em tandem. A região do Exon esta representada na figura em preto, em cinza a região dos introns. A região espaçadora não transcrita esta representada pela linha preta conectora (Macedo et al., 2004). 4 Regiões conservadas 121 pb 4 Regiões variáveis Figura 1.10- Minicirculos do kDNA do T. cruzi (Sturm et al., 1989). 1.7.7 - Diversidade Genética do T. cruzi A diversidade genética do parasito é um dos aspectos interessante deste táxon que apresenta um amplo espectro de hospedeiros mamíferos (oito ordens) nos quais infecta quase qualquer tipo de tecido. Dois genótipos principais foram reconhecidos entre as numerosas sub-populações do parasito TCI e TCII (mais recentemente foi proposta uma linhagem ancestral, TCIII) (Macedo & Pena, 1998; Brisse et al., 2000; Macedo et al., 2004; Freitas et al., 2006). No entanto as correlações destas linhagens com determinado bioma, ecótopo, hospedeiro ou doença humana ainda são controversas. 20 O T. cruzi I (TCI) tem sido relacionado ao ciclo de transmissão silvestre e o T. cruzi II (TCII) identificado nos ciclos de transmissão domésticos. Apesar deste postulado é possível encontrar ambos os genótipos do parasito no ambiente silvestre (Jansen et al., 1999; Lisboa et al., 2004). Considerando as evidências já obtidas em relação à presença de T. cruzi em material humano arqueológico, proveniente das regiões andinas do Peru e Chile, e a atual prevalência da infecção por este parasita na Bolívia nosso projeto visa: recuperar material genético de T. cruzi a partir de tecidos de múmias, representantes de culturas ancestrais da Bolívia. Ainda, investigaremos a presença do provírus HTLV nas mesmas amostras já que este vírus é prevalente entre populações atuais de ameríndios e considerado ancestral nas Américas. 21 2. OBJETIVOS 22 2.1 - Objetivo Geral. Determinar a presença de HTLV e T. cruzi em material mumificado das culturas Mojocoya, Colla Aymara, Presto Puno, Puqui e Tiwanaku, datadas entre 3600-900 anos atrás. 2.2 - Objetivos específicos. - Determinar as linhagens genéticas (haplogrupos) das múmias pré-hispânicas e hispânicas dos museus arqueológicos através das análises do mtDNA. - Diagnosticar molecularmente a presença do vírus linfotrópico das células T humanas (HTLV) e do T. cruzi nas múmias. - Recuperar e analisar material genético do T. cruzi e HTLV do material arqueológico. 23 3. MATERIAIS E MÉTODOS 24 3.1 – Material de estudo. 3.1.1 - Natureza das amostras Foram analisadas amostras de tecidos de 29 corpos mumificados encontrados nos departamentos de Cochabamba, Chuquisaca e Tiwanaku em La Paz, Bolívia, pertencentes a diferentes culturas pré-hispânicas estabelecidas no território boliviano (Figura 3.2). Destes, nove múmias eram do museu Tiwanaku (La Paz), encontradas na pirâmide de Akapana, Município de Tiwanaku; proveniente do Departamento de Sucre, dez múmias, três do período colonial da Bolívia e sete múmias do período pré-hispânico (dados de procedência das amostras tabela 3.1, 3.2 e 3.3) e tecidos de dez múmias pré-hispânicas de Cochabamba. Recomenda-se, a utilização de dentes e ossos para este tipo de estudos, já que preservariam melhor o material genético (aDNA). Tecidos moles das amostras de Cochabamba foram incluídos no estudo, pois eram os únicos disponíveis. O material mumificado apresentava boa preservação. A mumificação foi espontânea devido ao clima seco e frio das regiões onde foram encontradas as múmias (Figura 3.1). Múmia pré-hispânica Múmias hispânicas – Chuquisaca Figura 3.1- Foto de uma das Múmias pré-hispânicas de Cochabamba e as Múmias hispânicas de Chuquisaca incluídas no estudo. 25 Figura 3.2 - Mapa da mapas/mapa/bolivia.jpg). Bolívia com os 9 Departamentos (Fonte: www.paises-america.com/ 3.1.2 - Cronologia e datação das amostras O material obtido dos três museus abrange restos mumificados das culturas Mojocoya do Período Formativo ao Intermediário Inicial (1-800 anos d.C.), Colla Aymará do Período Intermediário (600 a 1400 anos d.C.), Puqui do Período Intermediário (600- 1400 anos d.C.), Presto Puno do Período Intermediário (600- 1400 d.C.); e Tiwanakota (Período 1500 anos a.C. até 1100 anos d.C) (Figura 3.3) (Escalante, s/a; Salinas, 2004; Pereira et al., 2004) . A cronologia das diferentes populações incluídas neste estudo foi definida pela informação obtida da estratigrafia, radiocarbono (C14) e contexto cultural (Ponce Sanginés, 2000; Salinas, 2004; Pereira, 2004). 26 Figura 3.3 - Cronologia de algumas das principais culturas do Altiplano e Vale da Bolívia. (adaptado de Escalante, J. s/a). 27 3.1.3 - Descrição das culturas pré-hispânicas e sítios arqueológicos da Bolívia A Bolívia é um país que apresenta mais de 33 grupos étnicos desde os Andes até as planícies do Chaco, onde os quéchuas e aymaras atualmente são os maiores representantes indígenas (FAO, 2006). Outros vários grupos indígenas existiram ancestralmente, e deixaram evidências que consistem em utensílios primitivos, tecidos e pinturas rupestres encontradas dentro de cavernas e enterramentos em distintos lugares. Os achados mostram que estes povos, ainda em estado nômade, subsistiam de coleta de frutos, raízes e a caça de animais silvestres. Em função do freqüente deslocamento pela busca do alimento, utilizavam estas grutas ou cavernas como um refúgio temporário, depósito para alimento ou santuário (Correal et al., 1990). O sedentarismo das populações aborígines americanas foi conseqüência da gradual mudança nas suas formas de moradias ou refúgios até o surgimento das casas construídas de adobe. Ainda hoje a alimentação e atividade das populações dos Andes da Bolívia constam basicamente de alimentos tradicionais e milenares principalmente tubérculos, milho, diversos outros grãos. Os preás (cuíes, roedores do gênero Cavia) eram partes da sua alimentação; a caça de animais silvestres e a domesticação de alguns animais como as llamas, alpacas e guanacos, são atividades também muito antigas. Das atividades envolvidas na agricultura e domesticação de animais sabe-se que a llama, especialmente no altiplano, servia a estas populações para o transporte de produtos de consumo alimentício. As evidências fósseis destes animais, em distintos lugares, sugerem um significativo deslocamento pela atividade comercial entre países vizinhos (Ponce, 1977; Correal et al., 1990). - Cochabamba. O departamento de Cochabamba localizado no centro da Bolívia (Figura 3.4), a uma altitude de 2548m, apresenta uma cronologia arqueológica de quatro períodos: Formativo (1150a.C.-200 d.C), Intermediário Inicial (200a.C–600 d.C.), Intermediário Final (600d.C.1400 d.C) (Pereira, 2004). As primeiras populações de caçadores e coletores estabelecidas em Cochabamba deixaram evidências de sua presença na região de Kayarani (Província Carrasco). Durante o Período Formativo (1500a.C. e 600 d.C), outras populações estabeleceram-se, principalmente em Aiquile (Província Campero), onde foram encontrados artefatos de cerâmica monocroma, keros (espécie de taças), pipas, instrumentos musicais em cerâmica e osso. Estas populações também desenvolveram a metalurgia, fabricaram tecidos, cestas, e artefatos de uso cotidiano e 28 para rituais religiosos, sendo encontrados seus mortos dentro de vasos de cerâmica, que dependendo da hierarquia dentro da população, eram decorados luxuosamente (Pereira, 2004). Posteriormente as culturas distribuídas nos vales cochabambinos (principalmente no Municipio Omereque, Província Campero) foram influenciadas pela cultura tiwanakota durante a etapa expansiva do império, devido ao interesse pelas terras férteis de cultivo e pelo milho dos vales (Pereira, 2004). A coleção de múmias pré-hispânicas de Cochabamba foram doações feitas ao Museu de Cochabamba. Nem todas as amostras apresentam informação sobre sua procedência (tabela 3.1). A maioria é da fazenda Pocanchi ao norte de Independencia, Província Ayopaya. Nesta região, as múmias Aymaras, anteriores a conquista incaica, foram achadas dentro de “chullpares”, denominação tradicional das pequenas construções feitas de adobe onde eram colocados os corpos dentro de cestas feitas de totora (tecido vegetal), junto às múmias ou Chullpas também eram encontradas oferendas (Pereira, 2004). As múmias do Museu de Cochabamba também incluem indivíduos da cultura Puqui, que parecem estar relacionados com os caravaneiros de llamas da época do domínio Tiwanakota. Esta cultura se estende principalmente entre as regiões de Coipasa e Uyuni, em Potosí e Oruro (Pereira, 2004). 29 Figura 3.4-Mapa de Cochabamba, com as províncias. Inclui provincia Ayopaya, Mizque, Campero e Carrasco, onde foram encontradas algumas das múmias deste estudo (Fonte:http://www.pizarra.edu.bo/index.php/Cochabamba/MAPAPOLITICODECOCHABANBA). 30 Tabela 3.1 – Informação das múmias do museu de Cochabamba, referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Cochabamba: 1200- 800 anos (Fonte: Museu de Cochabamba: “Instituto de Investigaciones Antropológicas, Museos Arqueológicos”. Múmia (Código museu) 275 Procedência Gênero Ayopaya Desconhecido 277 Desconhecido Desconhecido 221 Adulto 279 Idade Adulto Criança Tipo de amostra Tecido mole Ossos Desconhecido Adulto Tecido mole Masculino Adulto Tecido mole 268 Desconhecido Ayopaya Masculino Adulto Tecido mole 405 Quillacollo, Feminino Adulto dente 429 Desconhecido Adulto dentes 348 Mojocoya norte de Sucre Vinto 323 Omereque Adulto Masculino dente 206 Omereque Adulto Masculino dente Desconhecido Desconhecido dente - Chuquisaca Sobre as práticas funerárias das populações pré-hispânicas se conhece muito pouco, os abrigos naturais ou cavernas têm sido utilizadas pelos habitantes pré-hispânicos da região, como tumbas nas ladeiras e mesetas de alguns lugares de Chuquisaca e Cochabamba (Salinas, 2004). Em Chuquisaca (2700m), os mortos geralmente eram colocados dentro das cavernas, tampando a entrada com uma parede de pedra. No interior da caverna é possível achar vários corpos mumificados separados por este tipo de paredes; provavelmente, os indivíduos achados em uma mesma caverna, pertenceram a uma única família (Salinas, 2004). Os corpos mumificados da coleção do museu de Chuquisaca foram encontrados embrulhados em várias camadas de tecido de fibras vegetais e animais, formando fardos funerários. Junto a cada múmia foram encontradas cerâmicas e objetos de madeira (Salinas, 2004) na sua maioria da cultura Mojocoya. Esta cultura apresentou-se no Sudeste de Cochabamba e no Norte de Chuquisaca (Salinas, 2004). 31 As múmias hispânicas do museu de Chuquisaca pertencem ao século XVIII e foram encontradas no interior de uma parede da Igreja de Santo Domingo. Na época as igrejas eram utilizadas como cemitérios, até o ano 1826, quando foi proibida esta prática, por motivos de saúde publica. O processo de mumificação natural destes indivíduos foi favorecido pela ambiente seco (tabela 3.2) (Salinas, 2004). Tabela 3.2 – Informação das múmias do museu de Chuquisaca referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Chuquisaca:1200- 800 anos (Fonte: Museos Universitários de Charcas; Salinas et al., 2000). Múmia (Código museu) Múmias Colonias: C-01 Procedência Gênero Sucre- Catedral Sto. Domingo Sucre- Catedral Sto. Domingo Sucre- Catedral Sto. Domingo Masculino Sem número (S/N) RC Região Cultura Presto Puno Meseta de SaucaProvíncia Sudanês, cultura Mojocoya Meseta de SaucaProvíncia Sudanês, Cultura Mojocoya Meseta de SaucaProvíncia Sudanês,Cultura Mojocoya Sudañes- Icla Cultura Mojocoya Río Chico 1710 Sem procedência C-02 C-03 Múmias Pré-hispânicas: Ph.-01 Ph.-02 Ph.-03 Ph.-04 1990 IC Idade Tipo de Amostra Tecido mole Masculino criança aprox. 10 anos criança aprox. 16 anos Aprox. 65 anos Masculino 8- 10 anos Tecido mole Feminino 3- 5 anos Dente Feminino 25 anos Dente Desconhecido Aprox. 10 meses Dente Masculino 30- 40 anos Feminino Osso Osso Dente Feminino 30- 40 anos Dente Masculino 20- 30 anos Dente 32 - Tiwanaku As amostras da cultura Tiwanaku incluídas neste estudo foram extraídas de corpos encontrados na Pirâmide de Akapana (tabela 3.3). Esta pirâmide de 800m de perímetro apresenta na entrada peças esculpidas do homem puma ou “chachapuma” em basalto preto e tem no interior templos semi-subterrâneos. A estrutura piramidal, réplica das montanhas simboliza na base o âmbito terrestre e no topo, o âmbito celestial, considerado morada dos deuses (Escalante, s/a; Ponce Sanginés, 2000). O palácio dos Sarcófagos ou “Putuni”, no mesmo centro tiwanakota, é uma construção com uma plataforma de 1.20m de altitude onde, também é possível achar nas paredes interiores câmaras funerárias. Estas câmaras apresentam um sistema de fechamento que consiste de uma porta de pedra que desliza ao umedecer o piso (Escalante, s/a; Ponce Sanginés, 2000). A cultura Tiwanaku é a mais antiga e importante do período pré-colombiano boliviano. Originou-se no Período Formativo Altiplânico (1500a.C.-1200d.C.) sendo reconhecidas três épocas durante seu desenvolvimento: Período Aldeão (Épocas I e II 1500a.C.-45d.C.), Período Urbano Clássico (Épocas III e IV 45d.C.-700d.C.) e Período Expansivo (Épocas V 700d.C.-1200d.C.). A cultura Tiwanaku durou três milênios, desde os anos 1150a.C. até 1172d.C. No início, Tiwanaku era uma pequena vila, constituída por populações provenientes do lago Titikaka e pouco depois por populações de diversas regiões. A capital deste império, localizada a 71km da cidade de La Paz na Bolívia, no município Tiwanaku, localiza-se entre 16°33’ de Latitude Sul e 68°40’ de Longitude Oeste. A superfície do território é de 314,833Km² e a latitude de 3,850m (figura 3.5 e 3.6). Durante o Período Formativo de Tiwanaku as condições climáticas eram favoráveis para o assentamento de grupos nômades. As evidências arqueológicas sugerem a existência de manifestações não relacionadas a essa região, constituindo a prova da presença de outras associações entre grupos diferentes no mesmo local. Durante o Período Aldeão, começou a construção de casas e a agricultura e criação de animais com técnicas trazidas por outros grupos. No Período Urbano Clássico levantaram-se palácios e templos, considerando-se a época da engenharia. O Período Expansivo Imperial foi a época na qual Tiwanaku começou a construção da rede fluvial para entrar a outros pisos ecológicos na busca de novos recursos naturais, estendendo se até alcançar o Norte da Argentina e Chile e a costa do Peru. Muitos dos caminhos hoje atribuídos aos incas, denominados “Caminhos dos Incas” foram construídos muito antes pelos tiwanakotas no período expansivo (Escalante, s/a; Ponce Sanginés, 2000). 33 Figura 3.5- foto satélite do centro de Tiwanaku no departamento de La Paz (Fonte: www.googleearth.com). Figura 3.6- Capital de Tiwanaku- La Paz, Bolívia (Fonte: Ponce Sanginés, 2000). 34 Tabela 3.3 – Informação das múmias do museu Tiwanaku, La Paz referente à procedência, idade, sexo e tipo de amostras utilizadas para nosso estudo. A datação aproximada das múmias de Tiwanaku: 3600-900 anos aproximadamente (Fonte: Museo Tiwanaku, La Paz- Bolívia: Unidad Nacional de Arqueologia”. Múmia (Código museu) Múmias Préhispânicas 01 02 Individuo no1 PAAK 2004 Unidade 10/12/2003 UE 5019 N° 1071 UE 6013 N° 1590 EU 5418 N° 1306 Unidade 10/11/ 2009 EU 5326 Unidade 10/12/ 2007 Individuo # 1 Unidade 28/03/2004 Procedência Gênero Idade Tipo de amostra Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Masculino Adulto Dente Desconhecido Feto Tecido mole Masculino Criança Dente Masculino Criança Dente e osso Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Masculino Adulto Osso Feminino Adulto Dente e osso Masculino Adulto Osso Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Tiwanakotas, na pirâmide de Akapana Feminino Adulto Osso Feminino Adulto Dente 35 3.1.4 - Coleta das amostras Durante todo o trabalho, tanto de coleta de amostras quanto no laboratório, foram usadas luvas, máscara e jalecos descartáveis. As amostras foram coletadas com pinças e bisturi e depositadas em tubos falcon estéreis e irradiados com UV e guardadas a -20oC. Utilizaram-se materiais estéreis e luz ultravioleta/60 minutos nas áreas de trabalho e materiais, tal como sugeriu Kalmár (2000). Figura 3.7 - Coleta das amostras. 3.2 - Extração do DNA - Preparação das amostras. Segundo Hofreiter et al. (2001) e Yang & Watt (2005), é importante utilizar diferentes ambientes para cada etapa de manipulação das amostras, especialmente na extração de aDNA e durante a PCR. Considera-se que, no caso de ossos e dentes das múmias, os contaminantes só estejam nas superfícies. Portanto as superfícies das amostras foram descontaminadas utilizando-se solução de hipoclorito de sódio (6%), que atua como solução quelante de DNA exógeno (Kemp & Smith, 2005). Todos os experimentos foram desenvolvidos em um laboratório exclusivo para DNA antigo, sala de paleogenética do Laboratório de Genética Molecular de Microrganismos/IOC. O processamento inicial de descontaminação das amostras inclui a limpeza com bisturi para a eliminação de restos de solo ou sedimentos nas superfícies dos tecidos, seguidamente limparam-se as amostras com gaze previamente imersa em solução de hipoclorito 6%. Cada face dos ossos, dentes e tecidos moles foi exposta à radiação UV por 15 minutos. Após estas etapas as amostras são colocadas dentro de sacolas plásticas estéreis que 36 foram previamente expostas a UV por 15 minutos para evitar contaminação com DNA exógeno. Seguidamente as amostras foram imersas no nitrogênio líquido e posteriormente trituradas com ajuda de martelo, aproximadamente 400mg do pó recuperado da amostra é colocado em tubos eppendorf de 2ml. – Extração do DNA com o sistema comercial Geneclean Bio 1001, Vista, CA. A extração de DNA foi realizada mediante o sistema comercial (GENECLEAN® Kit for Ancient DNA-Bio101). A utilização deste kit reduz os riscos de contaminação e aumenta a eficiência de recuperação de aDNA (Pääbo, 2004). O kit comercial foi desenvolvido especificamente para isolamento de DNA antigo de tecidos mumificados, ossos e dentes; algumas modificações foram feitas e serão detalhadas a continuação. Alíquotas individualizadas dos componentes do kit foram preparadas no fluxo laminar. Na etapa de pré-incubação, na extração de aDNA, as quantidades de soluções sugeridas pelo kit comercial, foram modificadas da seguinte forma: no tubo com a amostra triturada colocamos: 400µl de SDS, 250µl de Proteinase K e 5µl de EDTAincubadas 24 horas a 37oC. O kit tem três soluções para a etapa de incubação (A, A2 e B); as três foram testadas e os melhores resultados foram obtidos com a combinação das soluções A + A2 (800µl solução A + 200µl A2). Esta combinação de soluções foi usada no decorrer de todo o trabalho. As amostras foram incubadas a 60oC por 20 horas. As modificações na etapa de pré-incubação e incubação aumentaram a eficiência da recuperação de aDNA. Após estas etapas continuamos com o protocolo do kit. Durante as extrações foram introduzidos controles negativos, estes consistem em a utilização de todos os reagentes que avaliam que não este sendo introduzida nenhuma contaminação durante os procedimentos de extração. 3.3 – Quantificações do aDNA no espectrofotômetro Nanodrop, Uniscience ND-1000 O aDNA extraído de todas as amostras foi quantificado por espectrofotometria, utilizando 1µl do material para obter dados sobre a pureza do material e conhecer a concentração de ácido nucléicos recuperados. 37 3.4 - Alvos analisados Os alvos de estudo incluídos neste trabalho foram o DNA mitocondrial-região D-Loop humana; gene de miniexon e regiões conservada e variável do kDNA do protozoário Trypanosoma cruzi e o gene tax do vírus linfotrópico das células T humanas. Para tal, aplicamos a técnica de PCR utilizando iniciadores delimitando regiões de em torno de 250pb, devido a qualidade do aDNA, geralmente bastante fragmentado. 3.5 - Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Os iniciadores utilizados nas reações de PCR estão indicados na Tabela 4. Os iniciadores foram definidos a partir de literatura e testados quanto a sua especificidade. Para a amplificação de regiões específicas, a reação de PCR foi realizada em um volume final de 50 µl. As reações individuais foram compostas de água Mili-Q esterilizada, tampão de reação 1X (Invitrogen), MgCl (Invitrogen) 2,5mM, dNTP (dATP, dCTP, dGTP e dTTP) (Promega) 0,4mM. Taq polimerase (Platinum) 2,5U, 200 ng de cada iniciador e 3-5µl do aDNA obtido nas extrações pelo kit comercial. Os produtos de PCR foram visualizados em PAGE 8% e corados em Brometo de Etidio. 3.5.1 – Polimerização Reconstrutiva A finalidade da utilização deste procedimento é recompor as moléculas de aDNA fragmentadas (Golemberg et al., 1996). Utilizou-se para conseguir recuperar aquelas amostras que não amplificaram com a PCR normal. As reações são preparadas para um volume final de 25µl e utilizado 5µl do aDNA. Para as demais PCR convencionais, foram utilizados 5µl deste aDNA reconstruído. O procedimento foi o seguinte: 20 ciclos com 98oC/8 segundos, 50oC/8 segundos e 72oC/20 segundos. 38 Tabela 3.4 - Iniciadores utilizados nas reações de PCR Nome do Seqüências dos oligonucleotídeos Iniciador Alvo e fragmento Referencias esperado TcMcF (S67) TGGTTTTGGGAGGGG(G:C)(G:C)(G:T)TCAA(A:C)TTT TcMcR TATATTACACCAACCCCAATCGAACC 121pb Sturm et al. (1980) Trypanosoma cruzi Souto et al. (1996) (S34A) TC CCCCCCTCCCAGGCCACACTG TC1 GTGTCCGCCACCTCCTTCGGGCC TC2 CCTGCAGGCACACGTGTGTGTG Exon TACCAATATAGTACAGAAACT Trypanosoma cruzi TcI TTGCTCGCACACTCGGCTGCAT Mini-exon (200-250pb) TcII ACACTTTCTGTGGCGCTGATCG L16234(F) CACATCAACTGCAACTCCAAA H16422(R) ATTGATTTCACGGAGGATGG L15996(F) CTCCACCATTAGCACCCAAAGC H16401(R) TGATTTCACGGAGGATGGTG AV 45(F) GGACGCGTT(A/G)TC(A/G)GCTC AV46(R) (G/T)GG(A/G)GAIAG(C/T)TGGTA(G/T)AGGTA 302pb AV42(F) CTCCCCTCCTTCCCCAC 219pb AV43(R) CCA(G/C)(A/G)(G/T)GGTGTAIAIGTTTTGG Mini-exon (300-350 pb) mtDNA humano-HVS-I Fernandez et al. 2001 LGMM (188pb) mtDNA humano-HVS-I LGMM (405pb) HTLV Região gene Tax 39 Vandame et al. 1997 3.5.2 - PCR Humano A região utilizada para a definição dos haplogrupos humanos é a região hipervariável do genoma mitocôndrial, sendo a região HVS-I a mais utilizada para este tipo de estudo. Para a análise da região HVS-I, a PCR (Reação de Polimerização em Cadeia) foi realizada com os seguintes iniciadores: L16234 e H16422, que delimitam um fragmento de 188 pb. A reação de PCR foi realizada com as seguintes condições: pré-desnaturação a 94oC/1 minuto, seguido de 40 ciclos de 94○C/20 segundos, 50○C/20 segundos e finalmente 72○C/20 segundos. 3.5.3 - PCR para T. cruzi Foram analisadas as seguintes regiões na procura de T. cruzi: região conservada do minicírculo de 121pb (TcMc Reverso e Forward), região espaçadora do gene de miniexon (TCI 350 e TCII 300pb), assim como outros iniciadores multiplex para a região de miniexon de 250pb para TCI e 200pb para TCII. A reação de PCR para as regiões de miniexon e região conservada dos minicírculos foi realizada com as seguintes condições: 95oC/5 minutos, seguido de 40 ciclos de 94○C/20 segundos, 55○C/20 segundos e finalmente 72○C/20 segundos. 3.5.4 - PCR para HTLV Nosso alvo foi um segmento do gene tax, utilizando o nested PCR genérico para HTLV-1/2 com os seguintes iniciadores: externos AV45 (F) e AV46(R) e internos AV42 (F) e AV43(R) que delimitam um fragmento de 302pb e 219pb respectivamente. A reação de PCR foi realizada com as seguintes condições: pré-desnaturação a 94oC por 30 segundos, seguido de 45 ciclos de 94○C/20 segundos, 48○C/20 segundos e finalmente 72○C/20 segundos, utilizou-se 3µl do aDNA total na primeira reação e 5µl do produto da primeira reação na segunda PCR. 3.6 - Clonagem A Clonagem dos produtos amplificados foi realizada seguindo o protocolo do kit pGEM®-T Easy Vector System I (Promega). Utilizamos células competentes DH5α para a etapa da transformação. Semeamos as células competentes transformadas em meio de LB Agar com ampicilina 50µg/ml, Xgal e IPTG durante 24 horas a 37○C. Posteriormente as colônias brancas (aproximadamente 60% das colônias brancas contém o inserto) foram inoculadas em tubos contendo 3ml de caldo LB com ampicilina 50µg/ml e incubados a 37oC por 12-18 horas. 40 - Extração de DNA pelo método de choque térmico A cultura das colônias dos transformantes (semeados em LB caldo) foi transferida para um tubo tipo Eppendorf e centrifugados a 14000rpm por 3 minutos. O sobrenadante foi descartado e o sedimento foi solubilizado em 500µl de água Mili-Q estéril e esta suspensão foi submetida a banho-maria fervente (100oC) por 20 minutos, sendo imediatamente submetida a uma temperatura de -20oC por 1 hora. Este material foi posteriormente descongelado e centrifugado novamente a 14000rpm por 3 minutos para o sobrenadante ser utilizado nas reações de PCR. 3.7 - Purificação dos produtos de PCR Os produtos da PCR que amplificaram para os alvos específicos foram purificados seguindo o protocolo do kit comercial Perfectprep Gel Clean-up de Eppendorf e Wizard® Plus SV minipreps DNA Purification System da Promega. Os produtos purificados foram visualizados em Agarose 3%, corados em Brometo de Etídio e posteriormente seqüenciados. 3.8 - Extração do plasmídeo Após a clonagem os produtos do PCR foram purificados utilizando o kit comercial Wizard® Plus SV minipreps DNA Purification System da Promega, mediante o qual extraímos o plasmídeo, visualizando a extração em gel de agarose 1%. 3.9 – Determinação das seqüências nucleotídicas Os fragmentos amplificados e purificados foram utilizados como molde de DNA para a reação de seqüênciamento de suas duas fitas com o sistema comercial BigDye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction Kit® (Applied Biosystems – Perkin Elmer Co.) e separadas em seqüenciador automático ABI PRISMTM 377DNA Sequencer (Applied Biosystems-Perkin Elmer Co.). As seqüências nucleotídicas foram editadas, alinhadas e analisadas com auxilio do programa CHROMAS, BioEdit e Seqman. As seqüências foram comparadas àquelas depositadas no banco de seqüências GeneBank. 3.10 – Hibridação de DNA com sondas de DNA marcadas radioativamente 3.10.1 – Dot Blot Utilizada para a detecção de HTLV e T. cruzi. A hibridação foi realizada utilizando 30µl do aDNA total. As amostras foram denaturadas e fixadas em membranas de nylon HybondTM-XL (Amersham Biosciences). 41 3.10.2 - Sondas moleculares utilizadas Para a confecção de sondas se seguiu o protocolo do sistema comercial RediprimeTM II (Random Prime Labelling Sistem, Amersham Biosciences). As marcações foram feitas utilizando [α-32P] dCTP. - T. cruzi: kDNA total de T. cruzi (5µl de uma concentração de 80ng/ml). - HTLV: pool de produtos de PCR corespondentes às regiões tax, env e LTR de HTLV-1 e de HTLV-2. As sondas foram purificadas através de centrifugação em coluna MicroSpinTM (Sephacryl S-200 HR). A resina no interior de cada coluna foi ressuspensa com o auxílio do vórtex e o lacre inferior foi retirado. A coluna foi colocada em um tubo Eppendorf que serviu de suporte e foi centrifugada a 6000rpm por 1 minuto, este tubo foi descartado e a sonda foi aplicada no centro do topo da resina da coluna em um outro tubo e novamente centrifugou se a 6000rpm por 2 minutos. A sonda purificada foi utilizada na hibridação. - Pré-hibridação: As amostras fixadas na membrana foram incubadas a 42oC por 1 hora em contato com a solução de pré-hibridação e em agitação: SDS 0.5%, Formamida 50%, SSC 6X, Denhardt 5X. Após este tempo a sonda preparada foi adicionada a esta solução. Deixou– se em agitação por 18 horas, após este tempo lavamos a membrana com SSC 0,1% e 0,5% SDS quatro vezes cada 15 minutos e uma última lavagem por uma hora/60oC. A membrana foi seca a temperatura ambiente e exposta ao filme de raio X (Kodak X-OMAT AR) a -70oC por uma semana. A revelação do filme foi realizada no equipamento automático M35 XOMAT Processor (Kodak). 3.10.3 - Southern Blot Foi utilizada esta técnica após corridos em gel de agarose 3%, os produtos de PCR amplificados para a região conservada dos minicírculos, este gel foi transferido para uma solução de desnaturação (NaCl 1.5M, NaOH 0.5M) onde permaneceu a temperatura ambiente por 35 minutos sob leve agitação. A solução foi substituída por uma de neutralização (NaCl 1.5M, 1.0 tris-HCl pH 8) por mais 30 minutos também sob agitação. Após este tratamento, o DNA contido no gel foi transferido por capilaridade para uma membrana de nylon HybonTMN+ (Amersham Life Science) utilizando SSC 10X. A transferência foi deixada durante 24 horas. Após a transferência a membrana foi seca a temperatura ambiente e posteriormente o DNA foi fixado a membrana sob luz ultravioleta (300nm) por 15 minutos e a membrana foi deixada hibridando durante a noite com a sonda de kDNA de T. cruzi. 42 3.11 - Soluções e meios de cultura Todas as soluções e meios de cultura utilizados neste estudo foram preparados de acordo com os protocolos do Maniatis et al., 1989. 43 4. RESULTADOS 44 4.1 – Extrações de aDNA As extrações de aDNA de todas as amostras foram quantificadas por espectrofotometria (tabela 4.1). Durante as extrações foram introduzidos controles para monitorar contaminação exógena. Em nenhum caso foi constatada a ocorrência de contaminação. CHUQUISACA (800 - 1200 d.C) TIWANAKU (1500a.C -1200 d.C.) COCHABAMBA (800 - 1200 d.C.) 4.1.1 - Quantificações espectrofotométricas Múmias (Código Museu) 323 429 277 348 279 221 268 275 206 405 02 5418 #1 01 5019 PAAK 5326 1590 Ind 1 C-01 C-02 C-03 01Ph 02 Ph 03 Ph 04 Ph RC 1710 PRF Icla PRF Concentração ng/µ µl 188,88 115,35 214,93 67,52 32,74 4,95 30,26 22,26 328,8 27,33 88,20 91,76 38,2 14,49 33,28 54,66 123,93 38,28 69,78 114,54 99,50 48,87 73,10 99,5 63,99 62,27 43,88 20,33 10,2 Amplificações da região HVS-I (mtDNA) humana 260/280 2,98 6,1 2,56 3,92 1,55 2,19 2,02 4,52 1,76 2,83 1.45 9,31 8,88 2,28 6,66 5,19 6,09 2,66 10,44 1,61 3,05 1,62 1.30 3,05 1,73 1,49 2,97 1,93 1,9 + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Tipo de tecido Tecido mole Dente Osso Dente Tecido mole Tecido mole Tecido mole Tecido mole Dente Dente Tecido mole Osso Dente Dente Osso Dente e osso Osso Dente e osso Dente Tecido mole Osso Osso Tecido mole Dente Dente Dente Dente Dente Dente Tabela 4.1 – Quantificação dos aDNAs extraídos das múmias de Cochabamba, Tiwanaku e Chuquisaca. Dados sobre a concentração e pureza de ácidos nucléicos (absorbância 260/280) e as amplificações obtidas da região HVS-I humana nos diferentes tecidos. A marcação em amarelo indica a não amplificação dessas amostras e os tipos de tecidos utilizados. 45 Em relação ao tipo de tecido e a recuperação de aDNA amplificável há uma relação positiva quando o tecido é osso ou dente. 14.3% das amostras de osso ou dente não amplificaram, enquanto que 50% das amostras de tecido mole não amplificaram (tabela 4.1). - Determinação da integridade e concentração de DNA em gel PAGE 5% O aDNA total de todas as amostras foi aplicado em PAGE 5%. Os resultados neste gel mostraram o estado do aDNA extraído. Foi colocado também um Ladder de 100pb. Pode se notar na pista 6 (5019) um rastro que mostra o aDNA fragmentado. Nas pistas 3 (#1) e 4 (02PC), 5 (405), 7 (03PC), 8 (IC), 9 (04PC) e 10 (277 Ph) conseguimos ver rastros muito tênues, enquanto não se observa aDNA nas pistas 2 (206). PM 206 #1 02PC 405 5019 03PC IC 04PC 277 Figura 4.1 – Visualização em PAGE 8% da integridade do aDNA total de algumas das amostras. Pista 1: PM (ladder Invitrogen 100pb). 46 4.1.2 - Amplificações da região mitocondrial D-loop humana HVS-I (188 pb) Conseguimos amplificar aDNA de 21 amostras. Os produtos destas foram clonados e seqüenciados. As fotos mostram os produtos de PCR de 188pb resolvidos em gel PAGE 8% (Figura 4.2) e para o caso dos clones visualizados em géis de agarose 3% (Fig. 4.3). C- C+ MP (190pb) 1590 PAAK 02PC 01 188pb Figura 4.2 – Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados das amostras de Tiwanaku. O alvo tem tamanho aproximado de 188pb e o marcador de peso molecular (MP) utilizado é de aproximadamente 190 pb. Foram incluídas em todas as reações de PCR e durante as extrações de aDNA, controles negativos para os reagentes. Os controles positivos (para os reagentes) foram feitos em outro laboratório. Os resultados demonstram que não foi introduzida nenhuma contaminação de origem humana durante a montagem da reação de PCR. Em relação à amostra 01 de Tiwanaku e 277 de Cochabamba só conseguimos amplificações após PCR reconstrutiva. Não foi possível amplificação do alvo humano das amostras pré-hispânicas 01PC, 02PC e 1710 de Chuquisaca e das amostras: 206, 268, e 279 de Cochabamba. Das nove amostras de Tiwanaku apenas a amostra 02 foi negativa. Embora tenha sido possível recuperar o aDNA de quase todos os indivíduos (tabela 4.1), devido a antiguidade e conservação das amostras, o DNA pode estar muito degradado ou com a presença de inibidores da PCR. 47 O tipo de amostra (dentes ou ossos) e as condições do ambiente seco e frio das regiões possivelmente foram fatores determinantes para a recuperação do aDNA dos 22 indivíduos (tabela 4.1). 1590 277 5326c8 03PC IC MP C+ C- 188 pb. Figura 4.3–Amplicons dos clones obtidos do mtDNA de algumas das amostras de Tiwanaku, Chuquisaca e Cochabamba (fragmentos de 188pb). Visualizados em Agarose 3%. 48 4.1.3 - Alinhamento das seqüências obtidas da região HVS-1 humana das múmias pré-colombianas de Tiwanaku, Chuquisaca e Cochabamba. Figura 4.4- Alinhamento da região HVS-1 de amostras de Chuquisaca, Cochabamba e Tiwanaku. As três últimas seqüências correspondem às amostras Colonias da Igreja de Santo Domingo de Chuquisaca. Ref. Corresponde à seqüência referencia de Anderson et al. (1981). M1-M3, são as seqüências dos manipuladores do laboratório. Encontram-se marcadas as assinaturas que definem aos 4 haplogrupos principais dos ameríndios (Alves-Silva et al., 2000) 49 As seqüências obtidas das múmias foram alinhadas com a seqüência referência de Anderson et al (1981), da região D-loop mitocondrial. Mediante o alinhamento foi possível identificar os polimorfismos que definem os haplogrupos ameríndios (figura 4.3 e tabela 4.3). As seqüências das três múmias hispânicas achadas na Igreja de Santo Domingo também foram incluídas neste alinhamento e não apresentaram nenhuma das assinaturas dos haplogrupos ameríndios. As seqüências das amostras hispânicas foram comparadas com as do banco GeneBank e sua maior identidade é com amostras européias. Apesar de o manipulador pertencer ao haplogrupo A todas as múmias com este haplogrupo, apresentam haplótipo distinto ao do manipulador. - Posições nucleotídicas que definem haplogrupos ameríndios Posições nucleotídicas Haplogrupos 16276 16284 16304 16311 16313 Hapl A T - A - - Hapl B - - - - - Hapl C - C - C T Hapl D - - - C - Tabela 4.2 - Posições nucleotídicas dos polimorfismos que determinam os haplogrupos Ameríndios A, B, C e D na região D-loop HVS-I. 50 Conseguimos seqüências de 22 múmias, destas 3 foram européias e 19 ameríndias. Os haplogrupos ameríndios A, B e D foram identificados nas múmias de Tiwanaku, Chuquisaca e Cochabamba. Entre as seqüências ameríndias 11 pertencem ao haplogrupo B, sete a A e uma a D (Tabela 4.4). Procedência Tiwanaku Pré-hispânicas Chuquisaca Hispânicas Cochabamba Amostras Haplogrupo 1590 D Indi1 A 5418 A 5326 A PAAK2004 B 5019 B #1 B 01 B 03 B 04 A RC B IC B C-01 U C-02 T C-03 U 277 B 348 A 275 A 323 B 405 B 429 B 221 A Tabela 4.3 - Resumo dos haplogrupos encontrados nas múmias de Cochabamba, Chuquisaca e Tiwanaku. 51 - Comparação das seqüências das múmias hispânicas com o banco de dados. As seqüências das múmias hispânicas C-01 e C-03 têm identidade total com seqüências correspondentes ao haplogrupo U encontrado na Europa (Figura 4.5). > gb|DQ856317.1| Length=16569 Homo sapiens haplotype U6a7 mitochondrion, complete genome Adhispânico 1 GCCACCCCTCACCCACTAGGATATCAACAAACCTACCCACCCTTAACAGTACATAGTACA |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 16255 GCCACCCCTCACCCACTAGGATATCAACAAACCTACCCACCCTTAACAGTACATAGTACA 60 Adhispânico 1 TAAAGCCATTTACCGTACATAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGTCCCCATGGATGA |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 16315 TAAAGCCATTTACCGTACATAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGTCCCCATGGATGA 120 Adhispânico 1 CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA |||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 16375 CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA 16314 16374 148 16402 Figura 4.5 - Haplotipo da múmia colonial C-01do museu de Chuquisaca, alinhado com uma seqüência do GeneBank. Enquanto que a seqüência da amostra da múmia hispânica C-02, apresentou 99% de identidade com seqüências do haplotipo T encontradas na Espanha (Figura 4.6). > gb|EU369395.1| Length=16569 mulherhisp 1 Sbjct 16255 Mulherhisp Sbjct 16315 Homo sapiens haplotype T1 mitochondrion, complete genome GCCACCCCTCACCCACTAGGATATCAACAAACCTACCCATCCTTAACAGTACATAGTACA ||||||||||||||||||||||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||| GCCACCCCTCACCCACTAGGATACCAACAAACCTACCCATCCTTAACAGTACATAGTACA 60 TAAAGCCATTTACCGTACATAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGTCCCCATGGATGA |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| TAAAGCCATTTACCGTACATAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGTCCCCATGGATGA 120 Mulherhisp121 CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA |||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 16375 CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA 16314 16374 148 16402 Figura 4.6 - Haplotipo da múmia colonial C-02 do museu de Chuquisaca, alinhado com uma seqüência do GeneBank. 52 Interessantemente, a amostra 1590 Tiwanaku em que foi identificada a presença do HTLV-2, que pertence ao haplogrupo D, apresentou identidade de seqüência com um indivíduo da Mongólia (Figura 4.7). > gb|DQ098340.1| sequence; mitochondrial Length=546 1590 1 Sbjct 232 Homo sapiens isolate Hohhot Mongolian54 D-loop, partial GCCACCCCTCACCCACTAGGATACCAACAAACCTACCCACCCTTAACAGTACATAGTACA 60 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| GCCACCCCTCACCCACTAGGATACCAACAAACCTACCCACCCTTAACAGTACATAGTACA 291 1590 61 TAAAGCCATTCACCATACACAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGCCCCCATGGATGA |||||||||||||| |||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 292 TAAAGCCATTCACCGTACATAGCACATTACAGTCAAATCCCTTCTCGCCCCCATGGATGA 1590 121 Sbjct 352 CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA |||||||||||||||||||||||||||| CCCCCCTCAGATAGGGGTCCCTTGACCA 120 351 148 379 Figura 4.7 - Haplotipo da múmia pré-hispânica 1590 do museu de Tiwanaku, alinhado com uma seqüência do GeneBank. A marcação vermelha mostra a diferença encontrada entre as duas seqüências. 4.2 – Alvo HTLV 4.2.1 - Amplificações do alvo HTLV Conseguimos amplicons do segmento do gene Tax de HTLV de aproximadamente (220pb) das amostras 1590 e 1710 (figuras 4.8 e 4.9). PM 1590 ~220pb. Figura 4.8 – Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados da amostra 1590 de Tiwanaku. O alvo tem tamanho aproximado de 220pb e o Ladder utilizado é de 100 pb. 53 1590 1710 PM ~220pb Figura 4.9 – Visualização em gel agarose 3%, amplicons obtidos das amostras 1590 e 1710 do segmento tax de HTLV, marcador de peso molecular (PM) 100 pb. 4.2.2 - Clones HTLV Os amplicons dos clones das amostras 1590 e 1710 foram visualizados em agarose 3%, mostrando um tamanho de 220 pb (Figura 4.10). MP ~220pb. Figura 4.10 - Amplicons de clones do segmento tax HTLV das amostras 1590 (Tiwanaku) e 1710 (Chuquisaca) (fragmentos de 220pb), MP (marcador de peso). 54 4.2.3 - Tipagem dos HLTVs O seqüênciamento dos amplicons relativos ao segmento do gene tax permitiu a tipagem do HTLV recuperado das múmias 1590 e 1710. Revelando, que a primeira estava infectada com o HTLV-2, enquanto que a segunda com HTLV-1(Figura 4.11 e 4.12) > gb|M63884.1|HL2TAXD Human T-cell leukemia-lymphoma virus type II (from individual DS) tax-2 gene, partial cds Length=956 1590 Sbjct CTCCCCTCCTTCCCCACCCAGAGAACCTCAAGGACCCTCAAGGTCCTTACCCCTCCCACC 61 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| 203 CTCCCCTCCTTCCCCACCCAGAGAACCTCAAGGACCCTCAAGGTCCTTACCCCTCCCACC 262 1590 62 Sbjct 1590 1 ACTCCTGTCTCCCCCAAGGTTCCACCTGCCTTCTTTCAATCAATGCGAAAGCACACCCCC 121 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| 263 ACTCCTGTCTCCCCCAAGGTTCCACCTGCCTTCTTTCAATCAATGCGAAAGCACACCCCC 322 122 Sbjct 323 1590 182 Sbjct 383 TACCGAAATGGATGCCTGGAACCAACCCTCGGGGATCAGCTCCCCTCCCTCGCCTTCCCT181 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| TACCGAAATGGATGCCTGGAACCAACCCTCGGGGATCAGCTCCCCTCCCTCGCCTTCCCT 382 GAACCTGGTCTCCGTCCCCAAAACCTCTACACCCCCTGG |||||||| ||||||||||||||| |||||||| ||||| GAACCTGGCCTCCGTCCCCAAAACATCTACACCACCTGG 220 421 Figura 4.11 – Seqüência de HTLV-2 da múmia pré-colombiana 1590 do museu de Tiwanaku mostrando uma diferença (T) em relação a uma seqüência de HTLV-2 (C) do GeneBank (marcação vermelha). Com amarelo a sequencia dos primers utilizados. 55 Na amostra 1710 de Chuquisaca foi identificada a presença de HTLV-1. > gb|DQ323883.1| (tax) gene, partial cds Length=1000 1710 2 Sbjct 189 1710 62 Sbjct 249 Human T-lymphotropic virus 1 strain BRRP464 tax protein CTCCCCTCCTTCCCCACCCAGAGAACCTCTAAGACCCTCAAGGTCCTTACCCCGCCAATC 61 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| CTCCCCTCCTTCCCCACCCAGAGAACCTCTAAGACCCTCAAGGTCCTTACCCCGCCAATC 248 ACTCATACAACCCCCAACATTCCACCCTCCTTCCTCCAGGCCATGCGCAAATACTCCCCC 121 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ACTCATACAACCCCCAACATTCCACCCTCCTTCCTCCAGGCCATGCGCAAATACTCCCCC 308 1710 122 TTCCGAAATGGATACATGGAACCCACCCTTCGGCAGCACCTCCCAACCCTGTCTTTTCCA |||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||| Sbjct 309 TTCCGAAATGGATACATGGAACCCACCCTTGGGCAGCACCTCCCAACCCTGTCTTTTCCA 1710 181 Sbjct 369 GACCCCGGACTCCGGCCCCAAAACCTCTACACCCCCTGG |||||||||||||||||||||||||| ||||||| |||| GACCCCGGACTCCGGCCCCAAAACCTGTACACCCTCTGG 180 368 219 407 Figura 4.12 – Seqüência de HTLV-1 da múmia pré-colombiana 1710 do museu de Chuquisaca mostrando uma diferença (C) em relação a uma seqüência de HTLV-1 (G) do GeneBank, em vermelho e em amarelo a seqüência dos primers. Ver o alinhamento das seqüências dos clones achados nas amostras 1590 e 1710, que mostram as diferenças encontradas (figura 4.13 e 4.14). 56 - HTLV-2 Figura 4.13 - Alinhamento das seqüências obtidas dos clones da amostra 1590 HTLV-2 com seqüências depositadas no GeneBank. Os números de acesso das seqüências contemporâneas são: HTLV-2 (U32875.1/HTU2875); ref 1(H63884.1/HL2TAXD), ref 2 (AF326584.1, AV273635.1); ref 3 (AV2735.1); ref 4 (H10060.1/HL2V2CG). Em amarelo e azul as diferenças encontradas nos clones da múmia 1590. - HTLV-1 Figura 4.14 – Alinhamento das seqüências obtidas da amostra 1710 HTLV-1 comparada com seqüências depositadas no GeneBank. Os números de acesso das seqüências contemporâneas são: HTLV-1 (DQ323875.1); ref 1(DQ323883.1), ref 2 (AB373952.1); ref 3 (AB045559.1); ref 4 (DQ227164.1). Em amarelo e verde as diferenças encontradas nos clones da múmia 1710. 57 4. 3 - Alvo T. cruzi 4.3.1 - Amplificações da região conservada dos minicírculos.de T. cruzi do aDNA, Os primers utilizados amplificam uma região de 121pb, amplicons compatíveis com este tamanho foram observados para as amostras: IC e 1590. Também foram positivas as amostras: 277, 04PC e PAAK (Figura 4.15). PM 1590 IC 121pb. Figura 4.15 – Visualização em PAGE 8% de produtos amplificados das amostras de 1590 (Tiwanaku) e IC (Chuquisaca). O alvo tem tamanho aproximado de 121pb e o PM é de 100 pb. 4.3.2 - Clones de T. cruzi Amplicons dos clones da região conservada dos minicírculos foram visualizados em agarose 3% (Figura 4.16). 121pb. Figura 4.16 – Visualização em agarose 3% dos clones amplificados das amostras de IC (Chuquisaca). Fragmentos amplificados de 121pb. 4.3.3 – Gene do miniexon Não conseguimos amplificações utilizando ambos pares de iniciadores para o gene de miniexon (200-250 e 300-350pb). 58 4.4 - Hibridações dos diferentes alvos 4.4.1 - Hibridações com sonda kDNA de T. cruzi Foram obtidos resultados na hibridação com a sonda de kDNA de múmias dos três museus. Onze das 29 múmias foram positivas, apresentando sinais muito tênues. As amostras 03PC, IC, 04PC de Chuquisaca; 268, 323, 405, 277 de Cochabamba e 5418, PAAK, 5326 e 1590 de Tiwanaku. Correspondendo a 3/9 Chuquisaca, 4/10 de Cochabamba e 4/10 de Tiwanaku (Figura 4.16). Figura 4.17 - Membrana de nylon mostrando os sinais positivos das diferentes amostras na hibridação para T. cruzi. Foi utilizado um kDNA de T. cruzi como controle positivo. 59 4.4.2 - Hibridação com sonda HTLV-1 e HTLV-2 (pool das regiões pX e LTR de ambos tipos). Foram aplicados aDNA total de todas as amostras para o Dot-Blot de HTLV. Duas apresentaram um sinal tênue, as amostras 1710 de Chuquisaca e 1590 Tiwanaku, La Paz (Figura 4.17). Figura 4.18 - Membrana de nylon mostrando os sinais positivos das diferentes amostras 1590 e 1710 e os controle positivo LTR+pX de HTLV-1 e HTLV-2 nas hibridações para HTLV. 4.4.3 - Hibridação com sonda das regiões pX e LTR do HTLV-2 Na tentativa da obtenção de um sinal mais significativo, para as amostras positivas, colocamos o dobro de aDNA total da amostra 1590, já que não tínhamos mais material da 1710. Esta amostra foi positiva para PCR de HTLV-2. Os resultados desta segunda hibridação revelam um sinal forte confirmando com uma outra técnica molecular a presença do HTLV-2 no individuo tiwanakota (Figura 4.18). 60 Figura 4.19 - Membrana de nylon mostrando sinal positivo da amostra 1590 e do controle positivo LTR+pX HTLV-2 na hibridação para HTLV-2. 4.5 - Southern Blot para o alvo T. cruzi (sonda kDNA de T. cruzi) Vários clones da amostra IC (icla) de Chuquisaca amplificaram para o alvo do minicírculo. Na tentativa de determinarmos a identidade destes amplicons com T. cruzi, este material foi submetido à Southern blot e posterior hibridação com sondas de kDNA de T. cruzi. Não obtivemos sinais de hibridação. 61 5. DISCUSSÃO 62 Uma das grandes limitações de trabalhos com aDNA é a disponibilidade do material arqueológico nos museus, que restringem a coleta de amostras em função da preservação das múmias. No nosso trabalho nos foi concedido apenas um dente ou pequenas frações de osso ou tecido mole. Todo material foi coletado em apenas uma viagem feita a Bolívia. Portanto, tivemos restrições significativas nas extrações o que limita em algumas situações a abordagem experimental. Ou seja, experimentos casados: determinação de absorbância, discriminação no gel, PCR para vários alvos, a partir de uma mesma extração em alguns casos não foi possível. Os trabalhos que envolvem a recuperação e análise de aDNA têm dois pontos críticos a serem considerados: a qualidade do DNA e a contaminação do material arqueológico com DNA exógeno, que pode acontecer durante a escavação e estocagem em Museus e/ou durante os procedimentos no laboratório. Todas as amostras que fizeram parte de nosso estudo, tecidos humanos mumificados, foram recuperadas de sítios arqueológicos na Bolívia e vêm sendo mantidas em coleções de diferentes museus do país. Na ocasião das escavações, e durante a estocagem, dentro dos museus, não foram tomados cuidados específicos para evitar contaminações modernas do material biológico, a única exceção foi o Museu Chuquisaca, que instalou lâmpadas UV, na sala onde estavam armazenadas todas as múmias pré-colombianas . Pruvost et al., (2007), mostrou que o ponto mais crítico para preservação de aDNA, seria a alteração das condições de temperatura e umidade após a retirada do material do sítio arqueológico, e posterior estocagem. A mudança destas condições acelera o processo de degradação, portanto recomenda-se a retirada do material em condições estéreis, sem limpeza do mesmo, além do imediato congelamento e estocagem em temperaturas entre -20 oC a -70oC. As múmias do nosso estudo foram retiradas de sítios arqueológicos que apresentam temperaturas anuais médias de 18oC e clima extremamente seco, condições favoráveis à preservação de material biológico e muito semelhantes àquelas em que foram mantidas nos Museus. Por exemplo, o material proveniente de Tiwanaku, em La Paz, onde as temperaturas se mantêm numa média de 16oC e ambiente seco, foram aquelas com melhor recuperação de aDNA, apesar de serem os mais antigos, corroborando com os resultados de Pruvost et al., (2007). Todo o trabalho experimental foi desenvolvido na sala de paleo-genética, que fica isolada e distante fisicamente (em outro andar) do laboratório principal. Esta sala é equipada com luz UV para descontaminação do ambiente e de capelas, para processamento independente do material, durante todo o processo que envolve: limpeza do material, 63 trituração, isolamento do DNA (utilizando kit), montagem da PCR e reação de PCR. Além disto, temos em todas as etapas, controles negativos. Estas são as metodologias sugeridas para evitar/contornar a contaminação do material mumificado por material exógeno (Cooper et al., 2000; Malmström et al., 2005; Sampietro et al., 2006). Três múmias hispânicas do museu de Chuquisaca foram incluídas como forma de controle de contaminação moderna, tanto considerando o local de estocagem quanto a manipulação no laboratório. Após a morte, com a ausência do sistema de reparo das células vivas, a molécula do DNA vai sendo rapidamente degradada. Por tal motivo, em estudos envolvendo a recuperação de aDNA, normalmente se consideram segmentos de em torno de 200pb, na PCR (Pääbo, 1988, Madden, 2001). Quando possível, é recomendável que se utilizem genes com várias cópias. Salvo em situações muito especiais, a obtenção de produtos de PCR maiores que 300pb é uma evidência de contaminação com material moderno. O DNA extraído de material arqueológico pode ser avaliado quanto à sua concentração, pureza e integridade. Pela espectrofotometria pode-se estimar a concentração e pureza de ácidos nucléicos (Sambrook & Russell 2001). Nossos resultados indicam pela relação de absorbância OD260:OD280, que temos a efetiva presença de DNA, mas este pode estar degradado, de qualquer maneira, a visualização obtida em um gel, é que pode nos dar o conjunto de informações: presença de DNA/quantidade/integridade. Portanto, já que obtivemos, da maioria das amostras 22/29, a recuperação de aDNA humano podemos considerar que o material tinha condições mínimas de integridade e pureza, já que as reações de PCR não foram inibidas. Em relação à recuperação de aDNA humano, nosso alvo era o segmento de 188pb de DNA mitocondrial correspondente a região HVS-I, que ocorre em várias cópias. E como sugerido por Malmström et al., (2007), para evidenciar a contaminação do material por DNA humano atual, tentamos também, amplificar da mesma região um fragmento de 405pb. Não obtivemos, para nenhuma das amostras, o fragmento de 405pb enquanto que, o segmento de 188pb foi amplificado da maioria (22/29) das amostras. Além disto, nenhum dos haplótipos obtidos para as múmias tinha identidade total com o do manipulador ou pessoal do laboratório. Com isto, podemos considerar que os haplótipos recuperados e identificados no material arqueológico, eram oriundos das populações ameríndias pré-colombianas pertencentes às culturas Tiwanaku, Colla Aymara, Puqui, Mojocoya e Presto Puno da Bolívia. Os haplótipos identificados nas múmias apresentaram as assinaturas que determinam os haplogrupos ameríndios A, B e D, e mostraram padrões de distribuição já descritos para as regiões andinas. Contudo, pela primeira vez, determinaram-se haplogrupos de populações pré64 colombianas bolivianas, informação importante para entender o povoamento desta região. As múmias hispânicas apresentaram haplótipos de origem européia, o que além de fornecer informação sobre seus haplogrupos e as origens destes indivíduos, demonstram que não existiu contaminação humana atual durante a manipulação do material no laboratório, já que os manipuladores apresentam haplótipos diferentes. O haplogrupo T presente na múmia hispânica (C-03) foi identificado na Espanha (Alvarez et al., 2007). Estudos antropológicos com estas múmias sugeriram a provável origem espanhola destes indivíduos (Salinas, 2004). Nossos achados são a evidência biológica para esta afirmação. Em relação à preservação destas múmias hispânicas, Salinas (2004), sugere que a forma de enterramento, o ambiente seco e as temperaturas estáveis dentro das igrejas permitiram a mumificação espontânea e minimizaram a contaminação, colaborando com a preservação do material genético. De um modo geral o material mumificado obtido na Bolívia encontra-se em condições favoráveis para recuperação de aDNA quando comparado a amostras do Brasil (Fernandes, 2007). O que evidência o papel das condições ambientais (temperatura e umidade) na preservação do material biológico. Analisando material moderno e arqueológico, Moraga et al (2001), sugerem que as populações quéchuas e tiwanakotas das regiões andinas, têm um ancestral comum de origem amazônica. Da mesma forma, Rothhameer et al (2003) sugerem também esta origem para as populações dos Andes. Este postulado parte da obtenção de freqüências maiores para os haplogrupo C e D seguidos de B e A. Sendo que esta é a distribuição atual dos haplogrupos nas populações amazônicas. Bert et al., 2004, analisam 53 indivíduos da região oriental da Bolívia (amazônica) (Llanos de Moxos, Beni), nos quais encontraram os quatro haplogrupos Ameríndios nas seguintes proporções: A 18.5% (n=10), B 24.1% (n=13), C 50% (n=27) e D 5,6% (n=3), esta população, segundo os autores, apresenta a maior diversidade encontrada em ameríndios. Considerando que esta população ocupa uma pequena região, sugere-se duas hipóteses: os quatro haplogrupos entraram nessa região há muito tempo atrás, ou a introdução destes por migrações recentes (miscigenação). Os dados genéticos, linguísticos e culturais dão suporte para que a variabilidade possa ser ancestral e não produto da miscigenação. Estudos posteriores revelam que os haplogrupos B e A representaram as maiores freqüências em populações andinas, inclusive nas análises do material arqueológico do Chile e Peru é reportado o mesmo padrão (Moraga et al., 2005; Rodriguez- Delfin et al.,1999; Merriwether et al., 1995; Garcia et al., 2006). Nossos resultados concordam com os 65 encontrados nas regiões andinas. Nas múmias da Bolívia, encontramos em maior proporção o haplogrupo B, seguido de A, unicamente o indivíduo 1590, de Tiwanaku, apresentou o haplogrupo D. Shinoda et al., 2006, analizaram o mtDNA de 57 múmias do Império Inca em Machu Pichu, Peru. O estudo novamente revelou o haplogrupo B como o mais freqüente, seguido de C, A e por último D. Este padrão sugere uma afinidade genética com as populações modernas dos Andes centrais, principalmente da Bolívia e do Peru. Na América do Sul, em geral, as freqüências de A e B diminuem de Norte a Sul, enquanto que as dos haplogrupos C e D aumentam (Shimada et al., 1999; Moraga et al., 2000; Garcia et al., 2006). As seqüências das múmias pré-colombianas de nosso trabalho são encontradas também em populações da Mongólia e da Sibéria, contribuindo com a hipótese de origem dos primeiros povoadores das Américas terem se originado destas regiões. As reconstruções históricas, apoiadas em análises genéticas sugerem que a forma doméstica do T. infestans e, portanto da tripanossomíase americana, tenha se disseminado, desde a Bolívia para os países vizinhos, através das migrações humanas. Uma destas dispersões pode ter estado associada aos índios Chinchorro ou Wankarani, que migraram da Bolívia para se estabelecer no Norte do Chile e Peru (Rothamer et al., 1985; Rojas & Schofield, 2003). Lesões associadas à Doença de Chagas e à identificação de T. cruzi em múmias destas culturas (Rothamer et al., 1985; Fornacieri et al., 1992; Guhl et al., 1999; Ferreira et al., 2000), datadas de 4000 até 9000 anos a.C. demonstraram, definitivamente, que a entrada do homem no ciclo de transmissão do T. cruzi foi muito anterior à colonização (Aufderheide et al., 2004). É claro que, com a colonização européia, foram introduzidas novas relações de produção, novas formas de ocupação da terra e novos modos de morar, entre eles as casas de adobe na região dos Andes, o que facilitou a domiciliação e, posterior dispersão para o resto do continente, do T. infestans (Briones et al., 1999). É sugerido que esta dispersão tenha acontecido a partir da Bolívia pela presença do T. infestans dark morph encontrado no ecótopo silvestre, naturalmente infectado (Noireau et al., 2005). A caça do roedor (Galea musteloides) e sua criação, como fonte de alimento, são atividades antigas das populações bolivianas que podem ter propiciado a rota inicial para a domiciliação de T. infestans à aproximadamente 3000-4000 anos (Dujardin et al., 1998). O consumo da carne do roedor (reservatório de T. cruzi), o que pode ter sido na antiguidade uma das vias de transmissão oral do parasito. 66 Trabalhos determinaram a presença de T. cruzi em material mumificado do Chile e Peru. Como alvo utilizaram a região variável do minicírculo de 330pb (Guhl et al., 1999; Ferreira et al., 2000; Madden et al., 2001), enquanto que Aufderheide et al., (2004), analisaram a região conservada do minicírculo, que possui múltiplas cópias, e tamanho de 121pb. A identidade dos produtos das PCRs foi indiretamente determinada por hibridação dos mesmos com sonda de kDNA total de T. cruzi. Madden et al. (2001), foram os únicos que clonaram e seqüenciaram os produtos amplificados (85pb e 70pb) obtidos pela técnica de semi-nested PCR. Recentemente foi realizada a primeira tipagem de T. cruzi recuperado de material humano mumificado do Brasil datado 5000-2500 anos atrás. A linhagem identificada por seqüênciamento da região espaçadora do gene de mini-exon e TCI (Lima et al., 2008). Nossa abordagem envolvia a amplificação das regiões conservadas dos mini-círculos, clonagem e seqüenciamento dos amplicons e paralelamente a hibridação com sondas de kDNA de T.cruzi versus aDNA total recuperado do material arqueológico. Em 11 dos 29 aDNA total das múmias, conseguimos sinal positivo de hibridação para T. cruzi em: 3/9 Chuquisaca, 4/10 de Cochabamba e 4/10 de Tiwanaku. Enquanto que, só 05 (NH, 04PC, 277, 1590 e PAAK) das amostras tiveram resultado positivo da PCR relativos à região do minicírculo (121pb). Já em relação à PCR do alvo mini-exon (200-350pb), não obtivemos positividade. 02 (206, 268) das 11 amostras positivas para hibridação, possivelmente continham inibidores para reação de PCR, já que não foi possível recuperar mtDNA humano das mesmas. Poderíamos então esperar a recuperação de aDNA de T. cruzi de 09 das amostras, mas mesmo aquelas, em que houve a amplificação de um segmento de em torno de 121pb, o seqüenciamento dos clones obtidos de 03 delas (IC, 04PC, 1590), não revelou a presença de DNA de T. cruzi. O resultado da hibridação, que foi feita em condições de alta especificidade, é robusto o suficiente para indicar a presença do parasito em múmias bolivianas pré-colombianas. A não identidade do aDNA recuperado (minicírculo região conservada 121pb) com T. cruzi, nestas mesmas amostras, pode ser conseqüência da amplificação preferencial de material genético de organismos contaminantes, e DNA humano, que estejam em maior concentração e integridade. Portanto há a possibilidade de os amplicons obtidos, não corresponderem de fato ao parasito e isto foi constatado pelo sequênciamento de clones do fragmento de 121pb. Gulh et al., (2000) e Aufderheide et al., (2004), analisando múmias do Chile e Peru de 9000-600 anos atrás revelaram a prevalência da infecção por T. cruzi entre 26%-41% respectivamente. Estas prevalências são concordantes com a frequencia encontrada em nosso estudo (38%). 67 Salemi et al., (2000), realizaram análise de genomas completos de PTLVs, Vírus Linfotrópico das Células T de Primatas, que são os STLVs e os HTLVs , visando determinar quando se estabeleceram como linhagens independentes, em seus atuais hospedeiros. Toda a construção se baseou tanto nos dados relativos a presença atual do vírus/hospedeiro assim como nas migrações ancestrais de símios e humanos. Existem evidências de migrações de macacos da África para a Ásia 2.000.000 anos atrás, estes estariam infectados com PTLVs, que teriam dado origem aos STLV-1 e aos demais PTLV-1, a 93.000 anos atrás na Ásia. A presença destes vírus na África é conseqüência de migrações humanas e /ou símios, a partir da Ásia entre 60.000-19.500 anos atrás, em um movimento de volta à África. Assim, determinaram que o ancestral símio do HTLV-1b, HTLV-1a Africano e os subtipos Cosmopolitas divergiram em torno de 19.500 anos atrás, na África e o HTLV-1a 12.700 anos atrás. O HTLV-2 teria emergido, a partir de STLV-2, na África há 400.000 anos sendo, portanto uma virose humana muito mais antiga que o HTLV-1. O que explicaria sua menor capacidade de causar doenças em humanos, já que teriam um longo tempo de evolução juntos. O tipo HTLV-2d Africano teria se separado dos HTLV-2a e HTLV-2b Ameríndios 58.000 anos atrás enquanto que os HTLV-2a e HTLV-2b se estabeleceram como linhagens independentes em torno de 22.000 anos atrás. O vírus HTLV encontra-se presente em populações ameríndias de toda a América. Estudos mostram que, dentre 17 grupos nativos Sul Americanos, oito grupos étnicos dos Andes e das terras baixas, há soropositividade para este vírus. Os resultados mostram que indivíduos HTLV-1 positivos foram encontrados entre os grupos étnicos dos Andes, enquanto os casos positivos de HTLV-2 entre os grupos étnicos das terras baixas. Foi também identificada a presença do HTLV-1 entre os Aymara do Peru e Bolívia e os Quéchuas da Bolívia, na Puna Argentina e no deserto de Atacama no Chile. Enquanto o HTLV-2 foi achado entre os Kayapó do Brasil, Chaco do Paraguai e entre os Alakalf do Chile. (Fujiyoshi et al 1999). Até 1993, a presença do HTLV-2 foi identificada em 11 das 38 tribos examinadas de Norte à Sul do Continente Americano (Reeves et al 1990; Lairmore et al 1990; Hjelle et al 1990; Dueñas-Barajas et al 1992; Maloney et al 1992; Hjelle et al 1992; Levine et al 1993), algumas delas ainda bastante isoladas do contato com populações cosmopolitas. A ampla distribuição deste vírus em populações ameríndias atuais e a falta de evidência da presença do vírus dos símios (STLV) no continente sugerem que o vírus tenha migrado ancestralmente para continente Americano junto com os primeiros povoadores. 68 Sobre a existência de HTLV na Bolívia, Ohtsu et al (1987) e Tsugane et al (1988), analisaram imigrantes japoneses, provenientes de regiões endêmicas de HTLV-1. Nestas populações estabelecidas unicamente, nas terras baixas amazônicas do departamento de Santa Cruz, foram identificados anticorpos para HTLV-1, que segundo o estudo se incrementam com a idade. A maior prevalência estava entre as mulheres indígenas. Os resultados obtidos para os nativos bolivianos podem ser conseqüência da co-habitação com os imigrantes japoneses ou a existência prévia do vírus nestas populações. A recuperação de aDNA de HTLV-2 da múmia 1590, de Tiwanaku, com idade estimada entre 3600-800 anos, é a primeira evidência biológica da ancestralidade do HTLV-2 em populações ameríndias. A informação genética recuperada é da região do gene tax, e encontramos uma/duas variações nucleotídicas quando comparada com seqüências contemporâneas. Considerando que esta é a região mais conservada nos genomas dos HTLVs, a variação encontrada é significativa. Demonstrando também não ser uma contaminação contemporânea. Quanto a este aspecto, temos a evidência da hibridação do aDNA total da múmia 1590, com sondas específicas para HTLV-2, o que afasta uma contaminação e confirma a infecção. Além disto, conseguimos determinar o haplogrupo (D) deste indivíduo. Interessantemente o haplótipo do indivíduo 1590 apresenta 99% de identidade com haplótipos presentes em populações da Mongólia, local sugerido com origem dos ameríndios. Esta hipótese é sustentada pelas analises do mtDNA e a distribuição dos quatro haplogrupos (A, C, D e X), dos cinco haplogrupos ameríndios, nas populações da Sibéria, e do haplogrupo B na Mongólia (Neel et al., 1994). Salemi et al (2000) observaram que, de acordo com seus cálculos, o período de separação do HTLV-2a e HTLV-2b estaria em torno de 12.000-38.000 anos atrás, que seria coincidente com o das migrações humanas, via estreito de Bering, da Ásia para o assentamento nas Américas. Esta evidência, somada aos dados de prevalência destes vírus em populações ameríndias, apontariam para a ancestralidade do HTLV-2 no continente. Sustentando mais uma vez esta hipótese o HTLV-2 foi identificado em nativos da Mongólia (Hall et al 1994b). A partir da amostra 1710, de 1200-800 anos de idade, da região de Chuquisaca, Bolívia, foi possível recuperar seqüência nucleotídica da região do gene tax do HTLV-1. Esta é a segunda evidência biológica, da presença do vírus HTLV-1 em populações précolombianas andinas. Li et al., (1999), reportaram a identificação, em múmia chilena de 1500 anos, do HTLV-1. Considerando a coincidência da datação e da origem andina das duas múmias, a do Chile e a de nosso estudo, temos agora evidências biológicas, da presença do 69 HTLV-1, nos tempos pré-colombianos e, portanto a hipótese, mais aceita atualmente, da introdução do HTLV-1 nas Américas, via o tráfico de escravos nos séculos XVI e XVII, talvez não seja a única (Van Doreen et al., 1998; Vandame et al., 2000). Nossa seqüência apresenta uma variação nucleotídica quando comparada às seqüências contemporâneas. Mais uma vez, temos a considerar que, o gene tax é a região, dos genomas dos HTLVs, mais conservada. A maioria das seqüências dos clones da múmia chilena, correspondentes a segmento deste gene, apresentavam nenhuma ou uma diferença, quando comparadas com a seqüência referência ATK. Além de recuperação de informação genética, tivemos a evidência, da presença do provirus HTLV-1, no aDNA desta amostra, através do resultado positivo da hibridação do aDNA total da múmia 1710, com sondas para HTLV, o que afasta a possibilidade de contaminação moderna. 70 6. CONCLUSÕES 71 Nas populações das culturas Tiwanaku, Mojocoya, Colla Aymara, Presto Puno e Puqui da Bolívia o haplogrupo B foi predominante, seguido do haplogrupo A. Os haplótipos encontrados nestes indivíduos têm identidades com haplótipos encontrados em populações atuais da Mongólia e da Sibéria. Os genótipos das múmias, caracterizadas como coloniais segundo os dados arqueológicos dos museus de Charcas em Chuquisaca, confirmaram sua origem européia. Existia a infecção por T. cruzi na Bolívia entre populações pré-hispânicas de Chuquisaca, La Paz e Cochabamba datadas de 3600-900 anos atrás. As evidências biológicas da presença de HTLV-1 na múmia 1710 (1200-800 anos) e do HTLV-2 na múmia 1590 (3600-900 anos) corroboram a hipóteses da introdução ancestral dos virus nas Américas. 72 7-BIBLIOGRAFIA 73 Albarracin-Veizaga, H et al 1999. Chagas disease in areas of recent occupation in Cochabamba, Bolivia. Rev Saude Publica 33 (3):230-6. Alfred JR, Noireau F, Guillén G 1999. La Enfermedad de Chagas en Bolivia. Conocimientos Científicos al inicio del Programa de Control (1998- 2002). La Paz- Bolivia. Ed. E.G. pp. 5- 258. Alvarez JC, Jhonson Dl, Lorene JA, Martinez-Espin E, Martinez-Gonzalez LJ, Allard M et al 2007. Characterization of Human control region sequences for Spanish individuals in a forensic mtDNA data set. Leg Med (Tokyo) 9(6):293-304. Alves-Silva J, da Silva Santos M, Guimarães PE, Ferreira AC, Bandelt HJ et al. 2000. The ancestry of Brazilian mtDNA lineages. Am J Hum Genet 67(2):444-61. Anderson S, Bambier A, Barrell BG, de Bruijn MH, Coulson AR et al 1981. Sequence and organization of the human mitochondrial genome. Nature 290 (5806):457-65. Andrade Z 1999. Inmunopatology of Chagas Disease. Mem Inst Oswaldo Cruz 94(1):71-80. Aufderheide A, Salo , Madden M, Streitz J, Buikstra J, Guhl F et al 2004. A 9000 Year Record of Chagas Disease. PNAS 101(7):2034- 2039. Araújo A, Ferreira LF 2000. Paleo-parasitology and the antiquity of human hostparasite relationships. Mem Inst Oswaldo Cruz 95(1):89-93. Azran I, Schavinsky-Khrapunsky Y, Priel E, Huleilhel M, Aboud M 2004. Implications of the evolution pattern of human T-cell leukemia retrovirus on their pathogenic evolution. Int J Mol Med 14:909-915. Bailliet G, Rothhammer F, Carnese FR, Bravi CM, Bianchi NO 1994. Founder mitochondrial haplotypes in Amerindian populations. Am J Hum Genet 55(1):27-33. Barnabas S, Shouche Y, Suresh CG 2005. High- Resolution mtDNA Studies of the Indian Population: Implications for Paleolithic Settlement of the Indian Subcontinent. Ann of Hum Genetics 70:42-58. Bermudez, H, Balderrama, F 1991. Triatominos de Bolivia: Lista actualizada, distribución geográfica y clave pictórica de tribus, géneros y especies de triatominos de Bolivia. Ministerio de Previsión Social y Salud Pública. La Paz, Bolivia. 74 Bert F, Corella A, Gené M, Perez-Perez A, Turbón D 2004. Mitochondrial DNA diversity in the Llanos de Moxos: Moxo, Movima and Yuracare Amerindian populations form Bolivia lowlands. Taylor & Francis Heathsciences. Ann of Hum Bio 31(9): 9-28. Black, F 1997. Tracing Prehistoric Migrations by the Viruses They Carry: Human TCell Lymphotropic Viruses as Markers of Ethnic Relationships. Hum Biol 69(4):467- 482. Brenière SF, Bosseno MF, Noireau, Yacsik N, Liegeard P, Aznar C, Hontebelyrie M 2002. Integrate Study of a Bolivian Population Infected by Trypanosoma Cruzy, The Agent of Chagas Disease. Mem Instituto Osvaldo Cruz 97(3): 289-295. Brener, Z 1997. Trypanosoma cruzi: Morfologia e ciclo evolutivo. In: Dias, JCP & Coura JR, ed. Clinica e Terapêutica da doença de Chagas; uma abordagem prática para o clínico general. Rio de Janeiro. Editora Fiocruz. Briones MR, Souto RP, Stolf BS, Nogales B 1999. The evolution of two Trypanosoma cruzi subgroups inferred from rRNA genes can be correlated with the interchange of American mammalian faunas in the Cenozoic and has implications to pathogenicity and host specificity. Mol Biochem Parasitol 104: 219- 232. Brisse S, Dujardin JC, Tibayrenc M 2000. Identification of six Trypanosoma cruzi lineages by sequence- characterised amplified region markers. Mol Biochem Parasitol 111:95-105. Brown M, Seyed H, Torroni A, Bandelt H, Allen J, Schurr T et al 1998. mtDNA haplogroup X: An ancient link between Europe/ Western Asia and North America? Am J Hum Genet 63:1852-1861. Carpintero DJ, Viana, EJ 1980. Hipótesis sobre el desarrollo de la tripanosomiasis Americana. Ed. Luis A. León. Ed. Casa de la Cultura Ecuatoriana. Quito. pp. 73- 92. Cartier L, Tajima K, Araya F, Castillo JL, Zaninovic V, Hayami M et al 1993. Preliminary study of HTLV-I seroprevalence in Chilean Indian populations. Rev Med Chil 121(3):241-6. Carvallo RU, Martínez A 1972. Life Cycles of Some Species of Triatoma (Hemiptera: Reduviidae). Can Entomol 104:699- 704. Carvallo RU , Martínez A 1985. Biología, Ecología y Distribución geográfica delos triatominos americanos. In. Factores biológicos y ecológicos en la enfermedad de Chagas, Carvallo, RU, Rabinovich, JE & Tonn RJ. Eds, OPS- ECO MSAS- SNCH, Buenos Aires, Argentina Vol. 1 149-208 75 Castro M, Torrico F 1999. La Enfermedad de Chagas. Control y Manejo. IIBISMED. Cochabamba- Bolivia. pp. 9-50. Catalan-Soares B, Proietti FA 2006. HTLV-1 e 2: Aspectos epidemiológicos. Cap.5 Cadernos Hemominas. HTLV. Volume XIII. 69-85. Cerutti N, Marin A, Massa ER, Savoia D 1999. Immunological investigation of Malaria and new perspectives in paleopathological studies. Boll Soc Ital Biol Sper 75(3-4):1720. Coffin, JM 1992. Structure and classification of retroviruses. The Retroviridae. Plenum Press, New York. Vol(1):19-50. Cooper A, Poinar HN 2000. Ancient DNA: do it right or not al all. Science 289:1139. Coulthart M, Posada D, Crandall K, Dekaan GA 2006. On the phylogenetic placement of human T cell leukemia virus type 1 sequences associated with an Andean mummy. Infect Genet Evol 6, 91-96. Correal G, Hammen T, Van D 1990. Investigaciones arqueológicas en los abrigos rocosos de Tequendama. 1200 años de historia del hombre y su medio ambiente en la altiplanicie de Bogotá. Rev. Fundación de Investigación Arqueólogica Nacional. Dias, J 2006. Notas sobre o Trypanosoma cruzi e suas características bio-ecológicas, como agente de enfermidades transmitidas por alimentos. Rev Soc Bras Med Trop 39(4):370375. Dueñas-Barajas E, Bernal JE, Vaught DR, Nerukur VR, Sarmiento P, Yanagihara R et al 1993. Human retroviruses in Amerindians of Colombia: high prevalence of human T cell lymphotropic virus type II infection among the Tunebo Indians.Am J Trop Med Hyg 49: 659663. Dujardin JP, Schofield CJ, Tibayrenc M 1998. Population structure of Andean Triatoma infestans: allozyme frequencies and their epidemiological relevance. Med Vet Entomol 12: 20-29. Escalante J. s/a. Tiwanaku. Miniguía. Ed. Presencia.1-52. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) 2006. Poblaciones indígenas en América. 76 Fernandes O, Santos SS, Cupolillo E, Mendonça B, Derre R, Junqueira AC et al 2001. A mini-exon multiplex polymerase chain reaction to distinguish the major groups of Trypanosoma cruzi and T. rangeli in the Brazilian Amazon. Trans R Soc Trop Med Hyg 5(1):97-9. Fernandes A 2007. Infecção por Trypanosoma cruzi no período pré-colonial no Brasil: análise de material arqueológico de Minas Gerais. Disertação de tese de mestrado: 1-56. Ferreira LF, Araújo AJG, Confalonieri U, Chame M, Ribeiro BM 1987. Encontro de ovos de ancilostomideos em coprólitos humanos datados de 7.230 ± 80 anos, Piauí, Brasil. Anais da Academia Brasileira de Ciências 59(3): 280-281. Ferreira LF, Araujo AJG, Confalonieri U 1988. Paleoparasitology of Chagas disease revaled by infected tissues from Chilean mummies. Acta Tropica 75(1):79-84 Ferreira LF, Britto C, Cardoso MA, Fernandes O, Reinhard K, Araújo A 2000. Paleoparasitology of Chagas disease revaled by infected tissues from Chilean mummies. Elsevier Science B.V. Acta Trop 75:79-84. Flores A 2003. Estudio de la Evolución de Anticuerpos tipo IgG anti T. cruzi Maternos en Niños con Parasitemia Negativa(M+B-). IIBISMED. UMSS. Cochabamba, Bolivia. Fornacieri CM, Viacava P, Bevilaqua G, Segura E 1992. Chagas disease in Peruvian Inca Mummy. Lancet 339 (8785): 128-129. Forster LR, Harding R, Torroni A, Bandelt H 1996. Original evolution of Native American mtDNA variation: a reapparaisal. Am J Hum Genet 59:935-945. Forster P, Torroni A, Renfrew C, Rohl A 2001. Phylogenetic star contraction applied to Asian and Papuan mtDNA evolution. Mol Biol Evol 18:1864-1881. Forster P 2004. Ice Ages and the mitochondrial DNA chronology of human dispersals: a review. Phil Trans R Soc Lond B. 359:255-264. Freitas JM, Pinto LA, Pimenta JR, Rodriguez LB, Gonçalves VF, Teixeira SMR et al 2006. Ancestral Genomes, Sex, and the population Structure of Trypanosoma cruzi. Plos Pathog 2: 226-233. Fujiyoshi T; Li HC; Lou H; Yashiki S; Karino S; Zaninovic V et al 1999. Characteristic distribution of HTLV type I and HTLV type II carriers among native ethnic groups in South America. AIDS Res Hum retroviruses 15 (14):1235-1239. 77 Garcia F, Moraga M, Vera S, Henríquez H, Llop E, Aspillaga E, Rothhammer F 2006. mtDNA Microevolution in Southern Chilès Archipelagos. Am J Phys Anthropol 129: 473-481. Gessain A, Pecon- slattery J, Meertens L, Mahieux R 2000. Origins of HTLV-1 in South America. Nat Med 6 (3): 232-233. Gomez A 2006. Primeros Pobladores de América. Introducción a las Principales teórias. Perú: 1- 17. Golenberg E, Bickel A, Weihs P 1996. Effect of highly fragmented DNA on PCR. Nucl Acids Res 24:5026-5033. Guhl F, Jaramillo C, Vallejo GA, Yhockteng T, Cardenas A, Fornacieari G, Arriaza B, Aufderheide, AC 1999. Isolation of Trypanosoma cruzi DNA in 4000 year old Mummified Tissue From North Chile. Am J of Phys Ant 108:401-407. Guhl F, Vallejo GA, Cardenas AF, Aufderheide A 2000. Chagas disease and human migration. Mem Inst Oswaldo Cruz 95(4):553-555. Guhl F, Jaramillo C, Carranza JC, Vallejo GA 2002. Molecular Characterization and Diagnosis of Trypanosoma cruzi and T. rangeli. Arch Med Res 33(4):362-370. Hall WW, Zhu SW, Horal P, Furuta Y, Zagaany G, Vahina A 1994b. HTL-II infection in Mongolia.AIDS Res Hum Retroviruses 10: 443. Henriksson J, Aslund L, Pettersson U 1996. Karyotype variability in Trypanosoma cruzi. Parasitol Today 12(3):108-14. Hjelle B, Scalf R, Swensons S 1990. High frequency of human T-cell leukemialymphoma virus type II infection in New Mexico blood donors: determination by sequencespecific oligonucleotide hybridization. Blood 76(3):450-454. Hjelle B, Chaney R 1992. Sequence variation of functional HTLV-II tax alleles among isolates from an endemic population: lack of evidence for oncogenic determinant in tax. J Med Virol 36(2):136-41. Hofreiter M, Serre D 2001. Ancient DNA. Nat Rev Genet 2(5):353- 359. Ina Y, Gojobori T 1999. Molecular evolution of human T-cell leukemia virus. J Mol Evol 31(6):493-499. 78 Hopkins DM 1959. Cenozoic history of the Bering land Bridge: The seaway between the pacific and artic basins hast often been a land route between Siberia and Alaska. Science 129(3362):1519-1528. Ingman M, Kaessmann S, Paabo U, Gyllensten U 2000. Mitochondrial genome variation and the origin of modern humans. Nat 408: 708-713. Iñiguez A, Reinhard K, Araújo A, Ferreira LF, Vicente ACP 2003. Enterobius vermicularis: Ancient DNA from North and South American Human Coprolites. Mem Inst Oswaldo Cruz 98(I):67-69. Ishak R, Vallinoto ACR, Azevedo VN, Ishak MOG 2003. The epidemiological aspects of retrovirus (HTLV) infections among Indian populations of the Amazon region of Brazil. Cad Saúde Pública 19:109-118. Jansen AM, Santos De Pinho AP, Lisboa CV, Cupolillo E, Mangia RH, Fernandez O 1999. The sylvatic cycle of Trypanosoma cruzi: a still unsolved puzzle. Mem Inst Oswaldo Cruz 94:203-204. Junqueira AC, Degrave W, Brandão A 2005. Minicircle organization and diversity in Trypanosoma cruzi populations. Trends Parasitol 21(6):270-272. Kalmar T, Bacharati C 2000. A simple and efficient method for PCR amplifiable DNA extraction from ancient bones. Nucleic Acids Res 28:e66e67. Kemp BM, Smith 2005. Use of bleach to eliminate contaminating DNA from the surface of bones and teeth. Forensic Sci Int 154(1):53- 61. Kirchhoff L 1995. Infectious Diseases and Their Patologic Agents. Chapter 2. Part III. Trypanosoma Species (American Trypanosomiais, Chagas Disease). Biology of Trypanosomes: 2442- 2450. Kong QP, Yao YG, Sun Ch, Bandelt HJ, Zhu Ch, Zhang YP 2003. Phylogeny of East Asian Mitochondrial DNA lineages Inferred from complete Sequences. Am J Hum Genet 73:671-676. Lahr MM 1995. Patterns of modern human diversification: implications for Amerindian origins. Yearb Phys Antropol 38: 163-198. Lahr M, Foley R 1994. Multiple dispersals and modern human origins. Evol Anthropol 3:48-60. 79 Lalueza-Fox C, Calderón FL, Calafell F, Morera B, Bertranpetit J 2001. MtDNA from extinct Tainos and the peopling of the Caribbean. Ann Hum Genet 65(Pt 2):137-51. Lairmore MD, Jacobson S, Gracia F, De BK, Castillo L, Larreateguei M et al. 1990. Proc Natl Acad Sci USA 87:8840-8844. Levine ND 1980. A Newly Revised Classification of the Protozoa. J Protozool 27: 3758. Levine PH, Jacobson S, Elliott R, Cavallero A, Colclough G, Dorry C et al 1993. HTLV-II infection in Florida Indians. AIDS Res Hum Retroviruses 9(2):123-127. Li HC, Fujiyoshi T, Lou H, Yashiki S, Sonoda S, Cartier L, Nuñez L, Muñoz I, Horai S, Tajima K 1999. Nat Am 5(12):1428- 1432. Lima V, Maio AI, Otsuki K, Araújo A, Ferreira LF, Vicente AP, Jansen AM 2008. Chagas disease by Trypanosoma cruzi I linage in ancient hunters and gatherers of Brazil. Emer inf disease. In press. Lisboa CV, Mangia RH, De Lima NR, Martins A, Dietz J, Baker AJ et al 2004. Distinct patterns of Trypanosoma cruzi infection in Leontopithecus rosalia in distinct Atlantic coastal rainforest fragmetns in Rio de Janeiro-Brazil. Parasitology 129:703-711. Lutz S, Wittig H, Weisser HJ, Heizmann J, Junge A, Dimo- Simonin N et al 2000. Is it possible to differentiate mtDNA by menas of HVII in samples that cannot be distinguished by sequencing the HVI and HVII regions? Forensic Sci Int 113:97-101. Macedo AM, Pena SDJ 1998. Genetic variability of Trypanosoma cruzi: implications for the pathogenesis of Chagas disease. Parasitol Today 14:119-123. Macedo AM, Machado CR, Oliveira RP, Pena SDJ 2004. Trypanosoma cruzi: Genetic structure of populations and relevance of genetic variability to the pathogenesis of Chagas disease. Mem Inst Oswaldo Cruz 99:1-2. Madden M, Salo WL, Streitz J, Aufderheide AC, Fornaciari G, Jaramillo C et al 2001. Short technical reports. Hybridization screening of very short PCR products for paleoepidemiological studies of Chagas disease. BioTechniques 30:102-109. Malmström H, Storå J, Dalén L, Holmlund G, Götherström A 2005. Extensive Human DNA Contamination in Extracts from Ancient Dog Bones and Teeth. Mol Biol Evol 22 (10): 2040. 80 Malmström M, Svensson EM, Gilbert MT, Willerslev E, Götherström A, Holmlund G 2007. More on contamination: The use of asymmetric molecular behavior to identify authentic ancient human DNA. Mol Biol Evol 24(4):998-1004. Maloney EM, Biggar RJ, Neel JV, Taylor ME, Hahn BH, Shaw GM et al 1992. Endemic human T cell lymphotropic virus type II infection among isolated Brazilian Amerindians. J Infect Dis 166(1):100-107. Maniatis T, Sambrook J, Fritsch EF 1989. Molecular Cloning. A Laboratory Manual. Second Edition. Merriwether DA, Rothhammer F, Ferell RE 1995. Distribution of the four-founding lineage haplotypes in native Americans suggests a single wave of migration for the New World. Am J Phys Anthropol 98:411-430. Moraga M, Aspillaga C, Santoro C, Standen V, Carvallo P, Rothhammer F 2001. Análisis de ADN mitocondrial en momias del norte de Chile avala hipótesis de origen amazónico de poblaciones andinas. Rev Chil Hist Nat 74:719-726. Moraga M, Rocco P, Miguel J, Nervi F, Llop E, Chakraborty R et al. 2000. Mitochondrial DNA polymorphisms in Chilean aboriginal populations: implications for the peopling of the southern cone of the continent. Am J Phys Antropol 113: 19- 29. Moraga M, Santoro C, Standen V, Carvallo P, Rothhammer F 2005. Microevolution in Prehistoric Andean Populations: Chronological mtDNA variation in the desert valleys of Northern Chile. Am J Phys Antropol 127:170- 181. Neel J, Biggar R, Sukernik RI 1994. Virologic and genetic studies relate Amerindian origins to the indigenous people of the Mongolia/Manchuria/southeastern Siberia region. Proc Natl Acad Sci USA. 91:10737-10741. Neves WA, Blue M 2000. The Buhl burial: a comment on Green e col. Am Antiq 65:191-194. Noireau F, Cortez MG, Monteiro FA, Jansen AM, Torrico F 2005. Can Wild Triatoma infestans foci in Bolivia jeopardize Chagas disease control efforts? Trends Parasitol 21(1): 710. Ohtsu T, Shoichiro T, Tobinai K, Shimoyama M, Nanri S, Watanabe S 1987. Prevalence of Antibodies to Human T-cell Leukemia/lymphoma Vírus Type I and Human Immunodeficiency Vírus in Japanese Immigrant Colonies in Bolívia and Bolivian Natives. Jpn J Cancer Res 78(12):1347-53. 81 Oppenheimer S 2003. Out of Eden: the peopling of the world. London: Constable. Orellana N 2004. Tipificación de Grupos sanguíneos, Factor Rh e identifcación de antígenos de Trypanosoma cruzi en mómias de los museos arqueológicos de Cochabamba y Sucre. Tesis defendida para la titulación de la facultad de Biologia, Universidad Mayor de San Simón, Cochabamba, Bolivia. Pääbo S, Poinar H 2004. Genetic Analices From Ancient DNA. Annu Rev Genet 38:645- 679. Pääbo S, Gifford JA, Wilson A 1988. Mitocondrial DNA sequences from a 7000-year old brain. Oxford, England. Nucleic Acids Res 16(20):9775-9787. Pakendorf B, Stoneking M 2005. Mitochondrial DNA and Human Evolution. Annu Rev Genet 6:165-83. Pereira D, Sanzetenea R, Muñoz A 2007. Cochabamba Arqueológica. Los Tiempos: 1-16. Ponce SC 1977. Tiwanaku 200 años de investigaciones arqueológicas. 2da Edición. Cima. Bolivia. Ponce SC 2000. Tiwanaku y su fascinante desarrollo cultural. Volumenes I e II. Pruvost M, Schwarz R, Correia VB, Champlot S, Braguier S, Morel N et al. 2007. Freshly excavated fossil bones are best for amplificationof ancient DNA. Proc Natl Acad Sci USA 104:739-744. Pucciarelli HM 2004. Migraciones y variación craneofacila humana en América. Complutum. Vol. 15: 225- 247. South America. Am J Phys Anthropol 68(4):495-498. Quintana-Murci L, Semino O, Bandelt HJ, Passarino G, McElreavey K, SantachiaraBenerecetti AS 1999. Genetic evidence of an early exit of Homo sapiens sapiens form África through eastern África. Nat Genet 23:437-441. Reeves WC, Cutler JR, Gracia F, Kaplan JE, Castillo L, Hartley TM et al 1990. Human T cell lymphotropic virus infection in Guaymi Indians from Panama. Am J Trop Med Hyg 43(4):410-8. Reinhard KJ, Greib PR, Callhan MM, Hevly RH 1992. Discovery of colon contents in a skeletonized burial: soil sample for dietary remains. J Archaeol Sci 19:697-705. Richards M, MAcauly V 2000. Genetic data and the colonization of Europe: genealogies and founders. In Archaegenetics: DNA and the population prehistory of Europe 82 (ed. C. Renfrew & K. Boyle), pp. 139-151. Cambridge, UK: McDonald Institute for Archaelogical Reserarch. Rivet P 1990. Nouvelle hypothèse sur le peuplement primitive de l´Amerique du Sud. Los origenes del hombre Americano: 74- 75. Rodriguez-Delfin L, Rubin de Celis V, Zago M 2001. Genetic Diversity in an Andean Population form Peru and Regional Migration Patterns of Amerindians in South America: Data from Y Chromosome and Mitochondrial DNA. Hum Hered 51:97-106. Rojas A, Schofield CJ 2003. Triatoma infestans: pasado, presente y futuro del principal vector de la Enfermedad de chagas en el Cono Sur. XII Reunión intergubernamental INCOSUR/ Chagas. Santiago, Chile. Rothhammer FA, Nuñez L, Standen V, Arriaza B 1985. Chagas disease in preColumbian South America. Am J Phys Anthropol 68(4):495-498. Rothhammer F, Moraga M, Rivera M, Cologero M, Santoro V, Standen V et al 2003. Análisis de ADNmt de Restos esqueletales del sitio arqueológico de Tiwanaku y su relación con el origen de sus constructores. Chungará(Arica) 35(2):269-274. Salemi M, Lewis M, Fergal J, Hall W, Desmyter J, Vandamme AM 1999. Different population dynamics of human T cell lymphotropic virus type II in intravenous drug users compared with endemically infected tribes. Proc Natl Acad Sci USA 96(23):13253-13258. Salemi M, Desmyter J, Vandamme AM 2000. Tempo and Mode fo Human and Simian T-Lymphotropic Virus (HTLV/STLV) Evolution Revealed by Analyses of FullGenome Sequences. Mol Biol Evol 17(3):374-386. Salinas VE 2004. Estudio de las momias prehispánicas y coloniales de los Museos Universitarios Charcas Guardan. Jornadas Arqueológicas. 1ra Versión. Sucre- Bolivia. 113130. Salinas VE, Mendoza J, Miranda R, Rico H, Tapia O, Sanzetenea R, Collazos L 2000. Antropología Física: Identificación de las características intrínsecas y extrínsecas de los craneos del Museo de Antropología y Arqueología de la U.M.R.P.S.F.X.CH. 9-72. Sambrook J, Russell D 2001. Molecular Clonning. A laboratory Manual. Quantification of Nucleic Acids. 3th edition. Vol. 3, Cap.8. A.8.19-A.821. Sampietro ML, Gilbert MT, Lao O, Caramelli D, Lari M, Bertranpetit J 2006. Tracking down human contamination in ancient human teeth. Mol Biol Evol 23(9):1801-1807. 83 Sauca SG s/a. Enfermedades importadas y Esquistosomiases urogenital. Laboratorio de Microbiologia, Consorci Hospitalari de Mataró. Barcelona- España. SEIMC. Schofield, CJ 1988. Biosystematics of the Triatominae. Department of Entomology. London School of Hygiene and Tropical Medicine. London- Ingland. Schofield, CJ 2000. Trypanosoma cruzi – The Vector-Parasite Paradox. Mem Inst Oswaldo Cruz 95(4): 535-544. Schurr TG, Ballinger SW, Gan YY, Hodge JA, Merriwether DA, Lawrence DN et al 1990. Amerindian mitochondrial DNAs have rare Asian mutations at high frequencies, suggesting they derived from four primary maternal lineages. Am J Hum Genet 46(3):613-23. Scozzari R, Cruciani F, Santolamazza P, Sellitto D, Cole DEC, Rubin LA et al 1997. mtDNA and Y chromosome-specific polymorphisms in modern Ojibwa: implications about the origin of their gene pool. Am J Hum Genet 60: 241-244. Shimada I 1999. The evolution of Andean diversity: regional formations, ca. 500 B.C.-A.D. 600. In: Solomon F, Schwartz S, editors. Cambridge history of native people of the Americas. Cabridge: Cambridge University Press. P 350-517. Shindo N, Alcântara L, Van Dooren S, Salemi M, Costa M, Covas D et al 2002. Human Retroviruses (HIV anda HTLV) in Brazilian Indians: Seroepidemiological Study and Molecular Epidemiology of HTLV Type 2 Isolates. AIDS Res Hum Retroviruses 18(1):71-77. Shinoda K, Noboru A, Guillen S, Shimada I 2006. Mitochondrial DNA analysis of ancient Peruvian highlanders. Am J Phys Anthropol 131: 98-107. Souto RP, Fernandes O, Macedo AM, Campbell DA, Zingales B, Souto RP 1996. DNA markers define two major phylogenetic lineages of Trypanosoma cruzi. Molec and Bioc Parasitol 83(2):141-152. Stone A, Stoneking M 1993. Ancient DNA from a pre-Columbian Amerindian population. Am J Phys Anthropol 92(4):463-471. Stone A, Stoneking M 1998. mtDNA analysis of a prehistoric Oneota population: implications for the peopling of the New World. Am J Hum Genet 62(5):1153-70. Sturm NR, Degrave W, Morel C, Simpson L 1989. Sensitive detection and schizodeme classification of Trypanosoma cruzi cells by amplification of kinetoplast minicircle DNA sequences: use in diagnosis of Chagas disease. Mol and Biochem Parasitol 33:205-214. 84 Torroni A, Schurr TG, Cabell MF, Brown MD, Neel JV, Larsen M et al 1993. Asian affinities and continental radiation of the four founding Native American mtDNAs. Am J Hum Genet 53:563-590. Torroni A, Wallace DC 1995. mtDNA haplogroups in native Americans. Am J Hum Genet 56(5):1234-8. Tsugane S, Watanabe S, Sugimura H, Otsu T, Tobinai K, Shimoyama M et al 1988. Infectious states of Human T lymphotropic virus tipe I and Hepatitis B virus among Japanese immigrants in the Republic of Bolivia. Am J Epidemiol 128(5): 1153-1161. Vandamme AM, Hall W, Lewis MJ, Goubau P, Salemi M 2000. Origins of HTLV-1 in South America. Nat Med 6(3):232-233. Vandamme AM, Van Laethem K, Liu HF, Van Brussel M, Delaporte E, de Castro Costa CM, Fleischer C, Taylor G, Bertazzoni U, Desmyter J, Goubau P 1997. Use of a generic polymerase chain reaction assay detecting human T-lymphotropic virus (HTLV) types I, II and divergent simian strains in the evaluation of individuals with indeterminate HTLV serology. J Med Virol 52(1):1-7. Van Doreen S, Gotuzzo E, Salemi M, Watts D, Audenaert E, Duwe S et al 1998. Evidence for a post-Columbian introduction of human T-cell lymphotropic vírus in Latin América. J Gen Virol 79: 2695-2708. Watson E, Forster P, Richards M, Bandelt HJ 1997. Mitochondrial footprints of human expansions in Africa. Am J Hum Genet 61:691-704. World Health Organization (WHO) 1991. Control of Chagas Disease. Technical Report Series, 811. Geneva: WHO. pp 91. Yang DY, Watt K 2005. Contamination controls when preparing archaeological remains for ancient DNA análisis. J Archaeol Sci 32(3): 331- 336. Vallinoto ACR, Pontes GS, Muto NA, Lopes IGL, Machado LFA, Azevedo VN et al. 2006. Identification of human T-cell lymphotropic vírus infection in a semi-isolated AfroBrazilian quilombo located in the Marajó Island (Pará, Brazil). Mem Inst Oswaldo Cruz 1001(1): 103-105. 85