Mensagem de despedida no Instituto do Ceará
José Augusto Bezerra*
rezados membros da Mesa Diretora dos trabalhos mencionados pelo protocolo, queridos confrades, demais autoridades, senhoras
e senhores:
Hoje é um dia de glória! Sonhos que se findam e outros que começam, embora estejam entrelaçados.
Lembro-me dos grandes da história, que pediam aos Deuses, ao
começar e lembravam de lhes agradecer, ao terminar. Assim, tomando
as suas lições, trago-lhes aqui o meu coração repleto de gratidão. É meu
tempo de agradecer.
A prestação de contas completa farei posteriormente, por escrito,
pois o tempo hoje é limitado.
Mas inicio dizendo da emoção de poder passar o bastão em um
clima de beleza, glamour, e alegria, bem diferente daquele em que iniciamos nossa gestão, há seis anos, num ambiente marcado pela morte
do Presidente, pela renúncia do vice e pelo caos financeiro e administrativo daquilo decorrente. Tão complexos eram os desafios que não
desejo aqui detalhá-los, bastando saber que nenhum sócio queria aceitar
a honrosa missão de Presidente, pois dizia-se, com segurança, que, tecnicamente, o Instituto não poderia sobreviver mais 60 dias.
Após várias reuniões e todas as tentativas possíveis àquela época,
restaram eu e o Pedro Sisnando Leite com a ideia de assumir os assuntos pendentes, os quais, para citar apenas um, entre tantos igualmente urgentes, exigia a conclusão do Museu Barão de Studart no
prazo, improrrogável, de 30 dias (Sabendo-se que além das obras fí* Sócio Efetivo do Instituto do Ceará.
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sicas faltantes, também iríamos assumir a prestação de contas daquele
projeto, junto ao Ministério da Cultura, num valor atual de um milhão
de reais, tendo uma contabilidade sete meses atrasada). Não havendo
mais tempo, numa última reunião, juntos com os membros da Diretoria
antiga e com muitas dúvidas, cujas respostas não dependiam de nós,
falei: Pedro você fica como Presidente e eu lhe ajudarei como vice,
e o Pedro Sisnando Leite, após alguma reflexão, disse-me: Agora não
posso, mas, aceite o contrário, assuma a Presidência, que eu serei o
vice. E assim foi feito. Os outros baluartes da anterior Diretoria nos
apoiaram e traçamos as estratégias. Nos dois primeiros anos fizemos
três reuniões da diretoria por semana e duas ordinárias por mês, ou seja,
catorze reuniões mensais, que multiplicadas por vinte e quatro meses,
totalizaram 336 reuniões. Nos dois anos seguintes, com as coisas já
melhores, fizemos uma reunião semanal da Diretoria e duas ordinárias
por mês, num total de 144 reuniões e, nos dois últimos anos, pudemos
fazer uma reunião quinzenal de diretoria e uma ordinária por mês, num
total de 72 reuniões.
Então, meu primeiro agradecimento seja a Deus, por ter podido
resistir a essa maratona de 552 reuniões e mais algumas extraordinárias,
nos seis anos, sem faltar a uma só delas.
Em segundo lugar, mesmo com o seu legado cheio de desafios,
meu agradecimento vai para o meu antecessor, que morreu no exercício
da Presidência, em plena arena de luta, procurando novos horizontes
para esta entidade. O saudoso amigo e imortal Eduardo Campos, um
dos grandes intelectuais desta terra!
O outro imenso reconhecimento seja para os sócios da entidade,
os quais, cada um ao seu modo, sempre colaboraram dentro das suas
possibilidades, físicas, geográficas, de tempo ou financeiras. De modo
especial destacamos a Diretoria, com a qual sempre trabalhamos com
absoluta transparência e em clima de plena democracia, e o que parece quase impossível é que ao longo de tantos anos, com tantos pontos
de vista diferentes, nunca tivemos uma divergência insanável e, conti­
nuamos hoje, tão amigos quanto quando começamos. Como não posso
falar de todos, represento-os nas figuras, primeira do nosso incansável
Tesoureiro Fernando Câmara, único que aqui vem todos os dias e tão
bem desempenha a difícil missão da tesouraria, e, segundo, na pessoa
do confrade Pedro Alberto, este intelectual, responsável há décadas pelo
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que é o maior orgulho desta entidade, a Revista do Instituto do Ceará, a
qual, do alto dos seus 126 anos ininterruptos de publicação, contempla
toda a história da nossa terra e da nossa gente, incluindo esta festa.
Um ponto importante que me causa prazer é o ambiente global de
harmonia que hoje temos na instituição, porquanto os graves casos de
incompatibilidades pessoais que aqui encontramos vieram-se diluindo
e bem como, nos últimos seis anos, nenhuma nova discórdia ocorreu.
Os funcionários foram outro fantástico grupo de apoio ao bom
andamento dos nossos planos. De um modo geral dou nota 10 a devoção e consciência profissional deles, comandados pela dedicada geó­
grafa Marinez Alves Feitosa. É claro que levamos anos para formar
esta equipe atual. Uma boa lembrança que levo é a de ter podido, nesse
ínterim, melhor equacionar os seus salários e funções, embora ainda
mereçam mais, num futuro próximo. Sou sinceramente grato a estes
bons e leais colaboradores!
Devo ressalvar os novos sócios efetivos que chegam à Casa do
Barão. Foi uma grande luta de dois anos, preparando o estatuto e um
ambiente adequado para suas digníssimas pessoas. Esperamos que
gostem, pois vocês realmente merecem.
Enfim quero agradecer a Deus por ter tido uma família que me
apoiou, pois foi dela o tempo que retirei para poder dedicar-me à missão
que assumi. Sou grato especialmente a minha esposa Bernadete, que
me estendia a mão amiga nos momentos das travessias e acendia um
candeeiro nos instantes de escuridão.
Devo registrar que estou deixando a Presidência, mas que aqui
continuo como um velho soldado, pois esta casa é parte da minha vida.
Hoje podemos mencionar que após um longo trabalho desde
aquele começo, estamos passando ao nosso querido amigo irmão Ednilo
uma Instituição saneada e organizada, creio que no melhor momento da
sua história. Apenas a pintura do prédio, que foi feita no início da nossa
gestão, precisa ser refeita, mas tem verba prevista da Prefeitura prometida para o próximo mês.
Na minha ótica, é atualmente a entidade cultural mais bem estruturada da nossa região. Destacaremos apenas quatro tópicos, para que
se tenha uma ideia do que foi feito, porquanto na prestação de contas
por escrito falaremos em quarenta pontos, aproximadamente:
1º. - A hemeroteca – Quando aqui chegamos era um amontoado
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de jornais em um quarto quente e com um cheiro de papel tão velho que
não permitia nem lá entrarmos. Fizemos um projeto junto ao BNB, um
grande parceiro desta entidade. Organizamos os jornais, encadernamo-los e climatizamos o local. Digitalizamos os periódicos mais significativos e assim foi criada a melhor e mais bem ambientada hemeroteca
do nosso Estado.
2º. - O nosso site – Quando começamos nossa administração estava ele em nome de terceiros e tinha umas duas mil consultas anuais.
Superamos os problemas jurídicos, passando-o para o nosso nome, resolvemos os problemas técnicos e, hoje, temos em média 150.000 consultas anuais, de todo o Brasil, o que reflete a credibilidade e o prestígio
da Instituição. Provavelmente é o maior site cultural do NE.
3º. - A biblioteca – Tivemos que colocar ar condicionado, pois
era tão quente que nem os funcionários podiam trabalhar. Incorporamos
seis novas bibliotecas, que nos foram doadas, nesse período de seis
anos. Recuperamos e restauramos a maior parte dos livros, o que é um
processo caro e lento. Colocamos computadores, copiadoras escanners,
inclusive para pequenos jornais. Refizemos a parte coberta, já que a
umidade e a água da chuva ameaçavam o acervo. Colocamos câmeras,
o que inibiu os antigos casos de vandalismos. Recuperamos a parte
elétrica, fizemos um seguro e até colocamos detectores de incêndio.
Cremos que é a mais rica e bem estruturada biblioteca do Estado, inclusive com laboratório de restauração próprio.
4º. - Um novo Estatuto – Coisa que se arrastava há vinte anos e o
próprio Eduardo Campos me disse certa vez que não ia meter a mão naquele vespeiro. Após vinte anos de espera, está pronto e sem o advento
da procuração, que lhe tirava o aspecto democrático, além de incorporar
outras importantíssimas inovações.
Gostaria de falar em muitas outras coisas, principalmente na conclusão do Memorial e no resgate do Acervo do Barão, duas grandes
obras patrocinadas pelo Grupo Ivens Dias Branco, a quem nunca poderemos agradecer totalmente pelo apoio que nos deu e, cujo Presidente,
Dr. Ivens Dias Branco, um dos nove maiores empresários brasileiros,
uma lenda viva, e Sócio Benemérito desta entidade, nos dá a honra de
prestigiar esta solenidade.
Porém, dentro do tempo de vinte minutos que me propus falar,
procurei tão somente lhes dar uma visão panorâmica para dizer, ao final,
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que o coroamento de uma boa gestão é ter no sucessor a pessoa adequada para dar continuidade ao que foi feito. No caso encontramos um
homem bom, entusiasta, respeitado pela sociedade, culto e admirado
até fora do Brasil. Um amigo leal e um homem religioso, que também
sabe pedir a Deus, para um dia poder lhe agradecer.
Já pensaram na sorte de o termos entre nós e de aceitar esta missão?
Filho do imortal educador Edilson Brasil Soárez e tendo ao lado
uma mulher excepcional, culta e solidária, Fani Soárez, poderá levar o
Instituto do Ceará a momentos nunca dantes vivenciados.
Temos, não diria um pacto, mas um desejo de fazer com que
as duas entidades culturais centenárias do Estado, Instituto do Ceará
e Academia Cearense de Letras, trabalhem em sintonia, pelo bem da
cultura cearense.
Vamos ajudar este amigo maravilhoso, Ednilo Soárez, pois todos
nós, a cultura desta terra e o Instituto do Ceará, só teremos a ganhar!
Muito obrigado.
(Discurso pronunciado em 27 de maio de 2013).
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