coluna | felipe mojave
lidando com os
coinflips
Dicas que podem alterar sua chance
de vitórias envolvendo as corridas
E
stive lendo muito sobre
este assunto em sites, fóruns
e, principalmente, observando a postura e opiniões
dos profissionais de torneios
multi-table, e achei que seria um ótimo
assunto a ser analisado para você,
amigo leitor da Flop.
Quem não sabe que é necessário
entrar em situações de coinflip nos torneios para sair vitorioso? Bom, isso
todo mundo sabe. Independentemente
da estrutura do torneio e do seu estilo
de jogo, com a pressão dos blinds e
a batalha para acumular fichas, você
irá se sentir obrigado a encarar essa
situação mais cedo ou mais tarde. Os
exemplos mais clássicos de coinflips
são: AKs x QQ ou AT x KQ.
O que muita gente não sabe é que
você pode muito bem controlar essas
situações e fazer com que elas ocorram
a seu favor. E a pergunta fica no ar:
20 | junho
“Como é que algum jogador pode ter
vantagem em uma situação de coinflip,
se o nome mesmo já diz que ambos
jogadores têm os mesmos 50% de chances de vencer a mão?” Pois é, mas a
diferença não está aí, mas sim na situação em que você enfrenta esse tipo
de jogada. Um bom player de torneios
sabe a hora certa de ir para a corrida
e, assim, maximizar o seu lucro.
Então, como é que podemos extrair o
máximo de vantagem das situações de
coinflip? Vou lhe passar algumas dicas.
Quando
Q
evitar o
Coinflip
uanto mais você se esquivar
dessa situação entre o começo
e o meio do torneio, melhor.
Se você acredita ser um jogador que
irá colocar todas as suas habilidades
para desenvolver situações em que
tenha grande vantagem quando todas
as fichas forem para o centro da mesa,
por que você irá viver entrando em
casos em que a chance de perder todas, ou grande parte das suas fichas,
é de 50%? Não faz nenhum sentido.
Vale a pena aguardar um momento
em que o pot odds e a porcentagem
de vencer a mão o favoreçam, e será
melhor ainda se tiver a capacidade de
acumular seu stack, sem nem mesmo
ter mostrado suas cartas.
C
omplementando esse raciocínio,
não é necessário ficar caçando
coinflips a toda hora, mas haverá
momentos em que entrar nessa situação será a melhor opção para ficar
vivo ou ir mais longe no torneio.
Um exemplo clássico: você está em
um torneio e já dobrou suas fichas,
e em sua mão aparece um AK. Um
adversário, com stack maior que o seu,
lhe dá um re-raise all in quando os
blinds estão 200/400. Por mais que
haja grandes chances de ele ter um
par menor que KK ou mesmo AK,
não vale a pena arriscar o seu torneio
em um coinflip nesse momento, pois
a quantidade de fichas investidas no
pote é pequena, considerando o tamanho de seu stack em relação aos blinds.
No decorrer do jogo, você encontrará
situações muito melhores para envolver as suas fichas. Esqueça o seu ego
e dê fold em uma mão que possivelmente está empatada: deixe o adversário levar essa e, assim,
mostre-se inteligente.
Mas se você perceber
que seu adversário está
tentando roubar os blinds
ou se a quantidade de fichas na mesa for considerável, se estiver com
um stack menor que 20
Big Blinds, faça tudo ao
contrário do que escrevi
antes. Cuidado com essa
denominação de quantidade de blinds, pois
isso se aplica, principalmente, nos torneios deep
stack, e não no “turbão”
que você joga no clube
com os amigos, em que
20 BB’s é muita ficha e
todo mundo está com o
M apertado.
Dimes
TT
[email protected]
[email protected]
O
o oponente
tomar a decisão
bviamente que, em razão de
você estar em all in, seu adversário é quem tem agora a
decisão de dar call ou fold. Uma vez
que o pote já tem uma considerável
quantidade de fichas, agredir é uma
decisão muito mais inteligente do que
a de ser agredido, pois há a possibilidade de o seu adversário decidir
pelo fold e de você ganhar o pote ali
mesmo. A mesma situação pode ser
definida no flop, quando você acerta
um combo draw e, basicamente, a qualquer mão forte que seu adversário
tenha, você estará em uma situação de
coinflip. Nesse caso, a jogada torna-se
ainda mais interessante, pois os potes tendem a ser maiores e, se o seu
adversário decidir pagar sua aposta,
chegou a hora da corrida atrás de um
grande pote, o que pode significar seu
sucesso no torneio. Bons jogadores
vão usar esse fator, na grande maioria das vezes, em própria vantagem,
portanto, esqueça da sorte aqui, pois
este coeficiente que estamos lidando
se chama fold equity, – basicamente,
é a situação em que, quando seu oponente der fold, você ganha o pote
100% das vezes, e quando ele der
call, você ganha o pote 50% das vezes. Ótimo negócio, não é?
Saiba
como identificar
os coinflips
Um fator muito importante para ser
bem-sucedido em torneios é poder
ter a certeza de que os coinflips são
realmente coinflips.
Muitos jogadores cometem o seguinte
erro: “Vou pagar esse all in, pois é coinflip mesmo!” Ou, então: “Ele deve ter
AK”. Não entre nessa onda de ter “esperança” de que o seu adversário sempre
vai ter um AK na mão quando você
tiver um par. Se você se equivocar na
leitura e se deparar com um par maior
que o seu, suas chances se reduzem a
20% para ganhar a mão; ou 30%, se
você encontrar-se dominado em uma
situação de AK x AQ ou AJ x QQ. Esse
erro pode ser crucial para o seu torneio,
portanto, pare e analise a jogada antes
de tomar qualquer decisão.
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Quando você decide ir atrás do coinflip
com mãos do tipo A2, sabendo que ela
tem um valor maior do que mãos sem
Ás, figuras (KQ, KJ, QJ) e cartas que
não formam pares, tenha muita cautela
também. Primeiramente, você terá que
“contar com a sorte” ou com a leitura
perfeita para entrar em uma situação
de coinflip real; depois, você tem que
ganhar o coinflip, propriamente dito.
O
utro caso muito famoso é
quando se tem um par baixo,
como 55, por exemplo. Esse é
um par bom e está na frente de qualquer mão, exceto de pares maiores.
Você tem que saber identificar qual
é o range com que o seu oponente lhe
daria call. Se você acredita que ele lhe
pagaria com pares médios, ou seja,
entre 77 e TT, esse movimento não
seria o mais adequado, já que, se ele
realmente tiver um par maior que o
seu e resolver dar call, você não irá se
encontrar em uma situação de 50%,
mas sim de 80% de chances de perder
a mão e jogar o seu torneio fora, por
uma decisão precipitada. E é exatamente por isso que o AK é a mão perfeita para você jogar o seu adversário
para fora do pote ou colocá-lo para
pensar, pois as duas únicas mãos que
você não quer ver na sua frente são
AA e KK. Portanto, qualquer outra
mão que seu adversário tiver, ou você
está na frente ou está em um coinflip.
Por esse motivo, os AKs são supervalorizados em torneios multi-table.
Já em cash game, essa mão deve ser
jogada com muito mais cautela, ou,
pelo menos, deveria ser. Entrar nessa
situação em cash é pura burrice. Quem
joga esse tipo de mesa está buscando
maximizar o seu edge, e tem tempo
de sobra para procurar uma situação
muito melhor do que um coinflip para
enfiar todo o seu dinheiro, já que os
blinds não aumentam. Posso falar com
propriedade sobre isso, pois sou um
jogador regular de cash e não vou ficar
entrando nessa para perder dinheiro.
Já tem o rake, a gasolina, o hotel, a
Internet e a comida. É muita coisa
envolvida nos 50% de chance que sobram para você, o que faz com que
seu retorno, nessa situação, seja muito
menor do que no longo prazo.
Foto: Joe Giron
Deixe
Mojave como chip leader no PCA
P
ortanto, não se trata de sorte ganhar ou não um coinflip. Você
pode vencer ou perder todos eles
em um torneio, só que, no final das
contas, o resultado será o mesmo: 50%.
Como um mero exemplo: o mesmo
coinflip que me eliminou na bolha do
EPT de Barcelona em 2008, em um
pote gigantesco e faltando oito mesas
para a final, foi que me credenciou ao
maior stack da história de um Dia 1
no PCA das Bahamas neste ano. Não
confunda: alguns jogadores realmente
têm “mais sorte” do que outros nos
momentos-chave dos torneios, mas
nunca misture a Matemática com a
sorte. É o mesmo caso de um artilheiro
estar debaixo do gol e, livre, receber a
bola para empurrar para a rede: você
precisa estar lá para conferir a jogada, e
tudo o que você fez no passado é fruto
exclusivo do seu trabalho e esforço, e
lhe possibilita estar lá, naquelas condições, naquele momento.
Em resumo, é fato que você terá
que entrar nessas situações durante os
torneios. Cabe agora ter a certeza de,
quando isso acontecer, que seja em
um momento melhor e mais favorável. Deixo a você um grande abraço
e um muito obrigado por ler a minha
Coluna. Gostaria de receber o seu
retorno sobre os textos que escrevo e
ficaria muito contente em responder
às possíveis dúvidas que você tenha
sobre eles.
Abraços, e bom jogo! �
Felipe “Mojave” Ramos
Embaixador do site PartyPoker, conseguiu
uma mesa final e a sexta colocação na
WSOP 2009. É o primeiro brasileiro a conquistar três premiações no EPT.
junho | 21
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Lidando com os coinflips