CURSO: PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO EM ANÁLISES CLÍNICAS ROSEANA NEVES SILVA ARAUJO A IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA HBA1C NA AVALIAÇÃO DE RISCO DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MELLITUS. Salvador/Ba 2011 ROSEANA NEVES SILVA ARAUJO A IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA HBA1C NA AVALIAÇÃO DE RISCO DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MELLITUS. Artigo científico apresentado à Atualiza, como Trabalho de Conclusão de Curso, na pósgraduação Latu Senso em Análises Clínicas. Orientador: Prof. Msc. Edimar Caetité Jr. Salvador/Ba 2011 A IMPORTÂNCIA DA DETERMINAÇÃO DA HBA1C NA AVALIAÇÃO DE RISCO DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MELLITUS Roseana Neves Silva Araujo RESUMO O diabetes mellitus é uma síndrome frequente de etiologia múltipla decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina em exercer adequadamente seus efeitos. É uma situação clínica de freqüência expressiva na população mundial. Por essa razão, esforços têm sido empregados na implementação de métodos de monitoramento e no desenvolvimento de terapias efetivas para o seu controle. As conseqüências do diabetes mellitus, em longo prazo, acontecem devido a alterações micro e macrovasculares que levam à disfunção, dano ou falência de vários órgãos. As complicações crônicas compreendem a nefropatia, a retinopatia, a neuropatia, e doenças vasculares ateroscleróticas, como as doenças coronariana, arterial periférica e vascular cerebral. A hemoglobina glicada (HBA1c) é o teste mais indicado na quantificação do risco de complicações crônicas em pacientes diabéticos. Estudos têm demonstrado que o risco destas complicações é diretamente proporcional ao controle glicêmico, determinado através dos níveis de HbA1 e quando estes níveis estão situados, permanentemente, acima de 7% as complicações crônicas começam a se desenvolver. Os objetivos deste estudo são analisar a importância da dosagem periódica da HbA1c, associada aos testes de glicemia, como controle mais eficiente do diabetes, bem como evidenciar as complicações crônicas do diabetes nos indivíduos com níveis elevados de hemoglobina glicada. O procedimento metodológico utilizado para dar embasamento a este estudo foi exclusivamente o da pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Diabetes mellitus. Hemoglobina glicada. HBA1c. Complicações crônicas. Graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Graduada em ciências Biológicas pela Universidade Católica do Salvador. 2 INTRODUÇÃO Esse artigo tem como tema a abordagem teórica sobre a importância da determinação da HBA1c na avaliação de risco das complicações crônicas do diabetes mellitus. O diabetes mellitus é uma patologia que surge em conseqüência de uma anormalidade na produção ou na utilização da insulina. A anormalidade na produção pelas células beta das ilhotas de Langerhans e pode ser de dois tipos: por produção deficiente de insulina por estas células ou por síntese relativamente normal, porém com liberação anormal desse hormônio (RAVEL, 1995). A Associação Americana de Diabetes (ADA), em 1997, propôs nova classificação do diabetes, baseada em aspectos fisiopatológicos, dividindo-os em quatro grandes classes clínicas: diabetes tipo 1 (DM1), diabetes tipo 2 (DM2), outros tipos de diabetes e diabetes gestacional. Foram eliminados, desta forma, os termos insulinodependentes e insulino-independentes. Esta classificação foi, em seguida, adotada pela Organização Mundial de Saúde e Sociedade Brasileira de Diabetes. O DM1 é uma doença crônica que pode acometer diferentes faixas etárias, sendo mais comumente diagnosticada em crianças, adolescentes e adultos jovens, Corresponde a cerca de 5 – 10% dos casos de diabetes. O DM2 representa 90 – 95% dos casos de diabetes, acometendo indivíduos de qualquer idade, porém mais frequentemente diagnosticado após os 40anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2007). No adulto, a hemoglobina A (HbA) constitui cerca de 97 – 98% da hemoglobina normal: o restante inclui cerca de 2,5% de hemoglobina A 2 e cerca de 0,5% de hemoglobina F (HbF). A glicação da hemoglobina ocorre durante a exposição dos eritrócitos à glicose plasmática; a hemoglobina e a glicose podem formar uma ligação inicialmente muito lábil, mas que pode se tornar estável.Uma vez ocorrida a ligação estável, ela é pouco e lentamente reversível. Na HbA1 a ligação lábil constitui normalmente cerca de 10% da glicose total ligada. A formação da HbA 1 ocorre lentamente durante toda a sobrevida de 120 dias do eritrócito, e o número de moléculas de HbA afetadas pela glicação depende do grau e da duração da exposição dos eritrócitos à glicose (RAVEL, 1995). 3 A determinação da hemoglobina glicada fornece informações essenciais para o tratamento do diabetes e, em certos casos, pode ajudar a estabelecer o diagnóstico, mas principalmente, é útil para monitorar as complicações, a longo prazo, do diabetes (RAVEL, 1995). A estratégia de prevenção das complicações crônicas do diabetes baseia-se no controle da hiperglicemia para tratamento precoce de suas complicações. É consenso a necessidade da manutenção de um controle glicêmico satisfatório em todos os pacientes, isto é, um grau de controle que previna a sintomatologia aguda e crônica atribuída à hiperglicemia e à hipoglicemia (DUNCAN; SCHIMDT; GIULIANI,1996). Devido ao impacto das complicações crônicas do diabetes mellitus, para pacientes e sociedade, o teste da HbA1c tem sido utilizado como indicador importante na avaliação e monitoramento da qualidade da assistência aos pacientes com diabetes mellitus pelas diferentes instituições. Informações sobre a freqüência com que este teste é solicitado e os níveis alcançados pelos pacientes devem ser utilizados para que as metas recomendadas para o controle glicêmico sejam atingidas. (CAMARGO; GROSS, 2004) As conseqüências do diabetes mellitus, à longo prazo, acontecem devido a alterações micro e macrovasculares que levam a disfunção , dano ou falência de vários órgãos. A complicações cônicas compreendem a nefropatia, com possível evolução para insuficiência renal, a retinopatia, com possibilidade de cegueira, e a neuropatia, com risco de úlceras nos pés, amputações, artropatia de Charcot e manifestações de disfunção anatômica, incluindo disfunção sexual. Pessoas com diabetes apresentam elevado risco de doença vascular aterosclerótica, como, por exemplo, as doenças coronariana, arterial periférica e vascular cerebral ( OLIVEIRA, 2003). O procedimento metodológico adotado, no presente estudo, foi, exclusivamente, o da pesquisa bibliográfica e teve como objetivos analisar a importância da dosagem periódica de HbA1c, associada aos testes de glicemia, como controle mais eficiente do diabetes e, também, evidenciar as complicações crônicas do diabetes nos indivíduos com níveis elevados de hemoglobina glicada. Este trabalho justifica-se pelo fato do diabetes mellitus ter se tornado uma epidemia que esta em curso em todo o mundo e as complicações, a longo prazo,decorrentes desta doença crônica 4 representam um importante problema de saúde pública, tendo em vista que para o tratamento das mesmas há necessidade de incorporação de tecnologias de alto custo, onerando excessivamente o sistema de saúde. A utilização da dosagem da HbA1c no monitoramento do nível glicêmico e a sua manutenção em valores próximos da normalidade, reduz o risco do aparecimento de tais complicações. IMPORTÂNCIA DA HEMOGLOBINA GLICADA NO CONTROLE DO DIABETES MELLITUS Um controle glicêmico satisfatório, no diabetes mellitus, acompanhado pelas medições de A1C, é capaz de prevenir e/ou retardar complicações microvasculares e neuropáticas. A manutenção dos níveis médios de hemoglobina glicada de 7%, tem prevenido o aparecimento e reduzido a progressão de nefropatia, retinopatia e neuropatia diabéticas, quando em comparação com os níveis de A1c mantidos, em média, em 9% nos pacientes sem controle glicêmico, segundo dados do Diabetes Control and Complications Trial (DCCT RESEARCH GROUP, 1993). A dosagem da HBA1c tem reconhecida importância na avaliação do nível de controle do diabetes mellitus, sendo indicada para todos os portadores de diabetes. Nestes pacientes, a hiperglicemia persistentemente prolongada é bastante nociva ao organismo. O descontrole permanente acarreta, no decorrer dos anos, uma série de complicações orgânicas, resultando em danos teciduais, perda de função e falência de vários órgãos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2006). Níveis de 4% a 6% do total de HBA1c apresenta-se glicada em indivíduos nãodiabéticos, enquanto que nos diabéticos sem controle, esses níveis podem chegar a duas a três vezes do valor normal. Diabéticos com níveis de HbA1c acima de 7% estão associados a um risco progressivamente maior de complicações crônicas. A partir dessa observação, os tratamentos dos diabéticos têm como objetivo manter os níveis de 7% de HbA1c como limite superior e valores obtidos acima dessa linha de corte sugere a revisão do esquema terapêutico em uso pelo paciente. A correlação entre o controle glicêmico, quantificado por determinações seriadas de hemoglobina glicada e os riscos de desenvolvimento e progressão das complicações crônicas do diabetes, é evidenciada através de estudos e na prática médica, tornando a medição de A1c um parâmetro bastante solicitado nos laboratórios clínicos (BEM; KUNDE, 5 2006). Ao interpretar o resultado da dosagem da HBA1c, é necessário considerar que os níveis médios mais recentes da glicemia são os que mais exercem influência no valor da hemoglobina glicada. Aproximadamente 50% da HBA1c são formados no mês precedente ao exame, 25% no mês anterior a esse e os 25% restantes, no terceiro ou quarto mês que precede a coleta da amostra (TAHARA; SHIMA, 1993). O teste de hemoglobina glicada é bastante relevante no acompanhamento de pacientes diabéticos, enquanto a dosagem da glicemia jejum e os TTOG (testes de tolerância oral à glicose) são mais indicados para diagnóstico do diabetes mellitus. O resultado de A1c encontrado no paciente diabético é determinante na conduta médica a ser seguida para este indivíduo. É o exame disponível, no momento, mais informativo em relação à prevenção de complicações crônicas e no controle do diabetes mellitus. Estes exames já estão altamente estandardizados, mediante a relevante importância clínica. Os métodos baseados em Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPCL) apresentam o potencial de automação e a reprodutibilidade desejáveis. Em função disso, o Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) adotou o HPCL como método de referência interino até haver algum definitivo, o qual demonstre excelente precisão, boa reprodutibilidade, baixa influência nos resultados da presença de hemoglobinas anormais, bem como a possibilidade de total automação. Dada a importância dos testes de HbA1c como medidor de desenvolvimento e progressão do diabetes, os laboratórios devem liberar resultados os mais fidedignos possíveis com o quadro clínico do paciente, sendo imprescindível que o laboratório participe ativa e regularmente de um programa de ensaios de proficiência específico (BEM; KUNDE, 2006). Os tratamentos utilizados para manter o nível glicêmico em valores que reduzem o risco das complicações do diabetes baseiam-se na obtenção de níveis aceitáveis de glicose em jejum <110mg/dl ou pós-prandial <140mg/dl ou da A1c abaixo do limite máximo do método utilizado. Isso devido ao fato de que há uma associação entre o controle glicêmico e o risco de morbidade cardiovascular. Para a avaliação do risco da ocorrência de complicações, em longo prazo, a medida da HbA1c, é o parâmetro de escolha, uma vez que reflete o grau de controle glicêmico dos 2 a 3 meses anteriores ao teste. A freqüência na realização deste exame depende do nível de controle glicêmico do paciente, sendo sugerida a realização do teste de 6 em 6 meses para pacientes com controle glicêmico estável e trimestralmente para aqueles 6 ainda não estáveis ou em ajuste terapêutico ou antes de uma mudança no tratamento. O resultado da HbA1c é dado em percentual, dependendo da concentração de glicose no sangue, do tempo de exposição da hemoglobina à glicose e ao tempo de meia vida das hemácias (aproximadamente 120 dias). O percentual da hemoglobina glicada é diretamente proporcional à concentração de glicose e ao período de contato (GROSS et al, 2002). COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES O diabetes mellitus inclui um grupo de doenças metabólicas caracterizadas pela presença de hiperglicemia, em decorrência de defeitos na secreção de insulina e/ou em sua ação (GROSS et al, 2002). No decorrer dos anos ou das décadas, a hiperglicemia prolongada promove o desenvolvimento de lesões orgânicas extensas e irreversíveis, afetando os olhos, os rins, os nervos, os vasos grandes e pequenos, assim como a coagulação sanguínea. Os níveis de glicose sanguínea persistentemente elevados são tóxicos ao organismo por três mecanismos diferentes: mediante a promoção da glicação de proteínas, pela hiperosmolaridade e pelo aumento dos níveis de sorbitol dentro da célula.Na prática, os valores normais de referência vão de 4% a 6%. Níveis de A1C acima de 7% estão associados a um risco progressivamente maior de complicações crônicas. Por isso o conceito atual de tratamento do diabetes define a meta de 7% (ou de 6,5%, de acordo com algumas sociedades médicas) como limite superior acima do qual está indicada a revisão do esquema terapêutico em vigor (GRUPO INTERDISCIPLINAR DA PADRONIZAÇÃO DA HEMOGLOBINA GLICADA, 2009) A perda de peso, a poliúria, a polidipsia, a polifagia e visão turva e outras complicações agudas, são sintomas que ocorrem em quadros de hiperglicemia. A fase crônica da doença está associada a dano, disfunção e falência de vários órgãos, em especial, olhos (retinopatia), rins (nefropatia), nervos, coração e vasos sanguíneos. Os diabéticos que demonstram um melhor controle glicêmico retardam ou reduzem o aparecimento de complicações crônicas microvasculares. Vários estudos demonstram que um controle eficiente é o fator primordial na prevenção das complicações do diabetes. É necessário que haja um perfeito equilíbrio no tratamento 7 com exercícios físicos, alimentação e medicação para manter os níveis de glicose no sangue dentro dos valores referenciais, ou seja, dentro da linha de corte. O diabetes é uma doença freqüente, por essa razão, esforços têm sido empregados na implementação de métodos de monitoramento e no desenvolvimento de terapias efetivas para o seu controle (GROSS et al, 2002). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2007), as complicações crônicas do diabetes podem ser classificadas em microvasculares, macrovasculares e neuropáticas. A patogênese das complicações do diabetes possivelmente envolve a interação entre os fatores genéticos e metabólicos.O rastreamento de complicações microvasculares deve ser anual e iniciado no momento do diagnóstico de diabetes tipo 2 e após 5 anos de doença e após a puberdade em pacientes com DM1. As complicações são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos. As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte em pacientes diabéticos tipo 2. Diversos fatores de risco, passíveis de intervenção, estão associados ao maior comprometimento cardiovascular observado nos pacientes diabéticos. Entre eles estão a presença da Nefropatia Diabética (ND) e da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). As complicações mais relatadas, na literatura consultada nesta revisão bibliográfica, são a Nefropatia Diabética, a Retinopatia Diabética, a Neuropatia Diabética, o Pé Diabético, Doença cardiovascular e Doença Obstrutiva Periférica. Nefropatia Diabética (ND) Dados de estudos randomizados, como o DCCT (Diabetes Control and Complications Trial) e o UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes Syudy), estabeleceram a eficácia do melhor controle metabólico na prevenção da nefropatia diabética (ND) e das outras complicações microvasculares. Em análise observacional, o UKPDS demonstrou que qualquer redução da glico-hemoglobina implica redução de risco de complicações, sendo o menor risco observado quando a glico-hemoglobina encontra-se em níveis normais (<6%). A redução de 1% da glico-hemoglobina associa-se à diminuição significativa do risco para qualquer desfecho relacionado ao diabetes mellitus em 21% e para complicações microvasculares em 37%. 8 (STRATTON et al, 2000) A nefropatia está presente em 15% a 20% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 2 e em 30 a 40% dos diabéticos tipo 1 com longa evolução. Trata-se da principal causa de insuficiência renal em pacientes que fazem diálise (PAZ et al, 1999). Retinopatia Diabética (RD) A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira em pessoas em idade reprodutiva podendo ser observada em 90% dos pacientes com DM1e 60% dos DM2 após 20 anos de doença. Evolui de forma assintomática na maioria dos pacientes, tornando necessário seu rastreamento periódico, já que a detecção em estágios precoces permite tratamento adequado diminuindo o risco de perda visual. Durante a gravidez a avaliação diagnóstica de RD deve ser trimestral. Outras manifestações oftalmológicas relacionadas ao diabetes incluem catarata prematura, relacionada à duração da doença e grau de exposição à hiperglicemia, e glaucoma. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2007) Neuropatia Diabética (ND) A neuropatia diabética é a complicação mais freqüente e precisa do diabetes mellitus, podendo atingir 80% a 100% dos pacientes à longo prazo e sendo retardada pelo controle glicêmico rigoroso (PAZ et al, 1999). Trata-se de um distúrbio neurológico demonstrável clinicamente ou por métodos complementares em pacientes diabéticos, quando outras causas de neuropatia são excluídas. Constitui importante problema de saúde pública. As formas de apresentação mais comum são a polineuropatia sensitivo-motora simétrica e a neuropatia autonômica. Sintomas como dormência, “queimação, pontadas ou choques”, em membros inferiores, afetam significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A perda de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, aumenta o risco de ulcerações e deformidades, especialmente nos pés, com potencial risco de amputação. A neuropatia autonômica, por sua vez, pode afetar diversos órgãos e sistemas (gastrointestinal, geniturinário e cardiovascular (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). A presença de neuropatia diabética mostrou-se fortemente associada à retinopatia diabética, já que a ND também é um conhecido fator de risco da RD ( RODRIGUES et al, 2010). 9 Pé Diabético O pé diabético é a principal lesão de extremidade, sendo assim denominado devido às lesões dos pés decorrentes da neuropatia e, principalmente, da doença vascular periférica. Pacientes diabéticos têm em torno de 15 vezes maior risco de sofrer amputações que os não-diabéticos e 20% dos amputados morrem em dois anos (PAZ et al, 1999). Dos casos graves que necessitam de internação hospitalar, 85% originam- se de úlceras superficiais ou lesões pré-ulcerativas em ´pessoas que apresentam diminuição da sensibilidade, devido à neuropatia diabética. Esses casos estão associados a pequenos traumas originados por uso de calçados impróprios, dermatose comum, manipulação incorreta dos pés, ou unhas, seja pela própria pessoa ou por outras não-habilitadas (GROSS, 1999). Doença cardiovascular (DCV) Em relação às complicações macrovasculares, os pacientes diabéticos, com dislipidemia (LDL > 100mg/dl), apresentam maior risco para DCV. Alguns estudos demonstram que a DCV é a principal causa de mortalidade nos pacientes diabéticos com diabetes mellitus tipo 1, o que não se observa quando a população avaliada è principalmente de jovens (RODRIGUES et al, 2010). A evidência de níveis elevados de colesterol como um fator de risco é muito forte, ou seja, o aumento dos níveis de lipoproteínas de baixa densidade (Low Density Lipoprotein - LDL) e baixos níveis de lipoproteínas de alta densidade (High Density Lipoprotein - HDL), aliados a altas taxas de concentração de triglicérides, indicam maior associação com as doenças macrovasculates.( DAVIDSON, 2001) Um estudo de avaliação do perfil lipídico, em pacientes com DM tipo 1, mostrou que mais da metade dos pacientes avaliados estavam fora dos valores considerados satisfatórios para colesterol total e LDL colesterol (ARCANJO et al, 2005). Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) Caracteriza-se pela obstrução aterosclerótica das artérias de membros inferiores. Muitos indivíduos são assintomáticos, mas cerca de 1/3 desenvolve claudicação intermitente. Pior prognóstico destes pacientes, com maiores taxas de morbidade e mortalidade associadas à DAOP (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2007). 10 Embora não existam dados populacionais sobre a prevalência das complicações crônicas do diabetes mellitus no Brasil, estima-se que o número de complicações crônicas seja elevado. Além do mais, provavelmente apenas uma pequena fração da população dos pacientes diabéticos é avaliada regularmente para a presença de complicações nas suas fases iniciais e recebe orientação terapêutica apropriada (GROSS; NEHEME, 1999) CONSIDERAÇÕES FINAIS O diabetes constitui um transtorno metabólico e, paralelamente a esta patologia ou em sua decorrência, ocorrem alterações vasculares as quais são as grandes responsáveis pela maior parte das manifestações clínicas do diabetes e causadores de considerável morbidade e mortalidade. Quase todos os tecidos do organismo são afetados, em maior ou menor grau, em decorrência de tais alterações vasculares, particularmente dos pequenos vasos. Entretanto, as lesões em alguns órgãos são mais freqüentes ou mais graves: o rim, o coração e o sistema arterial periférico.Além destes, a retina, a pele e o sistema nervoso periférico também são sede de lesões provocadas pelo diabetes, com importantes prejuízos à saúde do indivíduo. A hemoglobina glicada é, pois, o teste mais indicado na quantificação do risco de complicações crônicas em pacientes diabéticos, por ser um preditor extraordinário de diabetes e também um marcador de doença cardiovascular. Para reduzir o impacto dessas complicações na qualidade de vida e prolongar a vida de forma mais saudável e participativa na sociedade, faz-se necessário um controle glicêmico satisfatório através de dosagens periódicas, 3 em 3 meses, de HbA1c. Atualmente, a manutenção do nível de HbA1c abaixo de 7% é considerada como uma das principais metas no controle do diabetes. Alguns estudos indicam que as complicações crônicas começam a se desenvolver quando os níveis de HbA1c estão situados permanentemente acima de 7%. Algumas sociedades médicas adotam, inclusive, metas terapêuticas mais rígidas de 6,5% para os valores de hemoglobina glicada. 11 A principal vantagem da HbA1c está no fato de não sofrer grandes flutuações, como na dosagem da glicose plasmática, bem como estar diretamente relacionada ao risco de complicações em pacientes com diabetes tipo 1 e 2. Como as complicações crônicas do diabetes são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos, a evidência de um parâmetro que funcione como um marcador mais eficiente destes danos, tem um valor imenso para a saúde pública, uma vez que as incapacidades funcionais advindas das complicações contribuem para aposentadorias precoces, gerando um aumento significativo nos custos indiretos sobrecarregando o sistema previdenciário. Além disso, diminuem a qualidade e o tempo de vida das pessoas. Evidências a partir deste estudo teórico sobre os dados clínicos, epidemiológicos e bioquímicos indicam que mudanças no estilo de vida, intervenções dietéticas, e a manutenção de parâmetros glicêmicos próximos à normalidade baseado no monitoramento do nível de HbA1c, podem reduzir a incidência e a severidade das complicações neuropáticas, macro e microvasculares decorrentes do diabetes mellitus. THE IMPORTANCE OF HBA1C DETERMINATION IN THE RISK EVALUATING OF CHRONIC COMPLICATIONS ASSOCIATED WITH DIABETES MELLITUS ABSTRACT Diabetes mellitus is a frequent syndrome of multiple aetiology due to lack of insulin and/or the inability of insulin to exert its effects properly. It is a clinical condition often significant in the world population. For this reason, efforts have been employed in the implementation of methods for monitoring and developing effective therapies for its control. The consequences of diabetes mellitus, long-term, occur due to micro and macro vascular changes that lead to dysfunction, damage or failure of various organs. Chronic complications include nephropathy, retinopathy, neuropathy, and atherosclerotic vascular disease such as coronary disease, hypertension, stroke and peripheral. The glycated hemoglobin (HbA1c) test is the most suitable for quantifying the risk of chronic complications in diabetic patients. Studies have shown that the risk of these complications is directly proportional to glycemic control, determined by levels of HbA1c and, when these levels are permanently located above 7%, chronic 12 complications begin to develop. The objectives of this study are to analyze the importance of regular HbA1c dosage, associated with blood glucose tests, such as more efficient control of diabetes, as well as highlight the chronic complications of diabetes in individuals with high levels of glycated hemoglobin. The methodological procedure to make sense of this study was only of the literature. Key Words: Diabetes mellitus. Glycated hemoglobin. HBA1c. Chronic complications. REFERÊNCIAS ARCANJO, C. L. et al. Avaliação de dislipemia e de índices antropométricos em pacientes com diabetes mellitus tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab., v. 49, p. 9518, 2005. BEM, Andreza Fabro de; KUNDE, Juliana. 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