Pesquisa mostra que o riso é peça-chave para a vida em sociedade
Neurocientistas da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos,
descobriram que a risada tem pouco a ver com senso de humor e é, na
verdade, uma ferramenta de instinto de sobrevivência para animais que
convivem em sociedade. Há séculos, teóricos como Platão, Aristóteles, Kant e
Freud tentaram explicar o riso baseados na premissa errada de que eles
estariam explicando também o que seria o humor.
Para chegar à origem do riso, os cientistas escanearam cérebros de macacos e
ratos. E verificaram que a risada humana evoluiu do som rítmico feito por
primatas, como os chimpanzés, quando eles fazem cócegas uns nos outros
enquanto brincam.
Assim, a pesquisa indicou que o cérebro possui antigas conexões para produzir
o riso e para jovens mamíferos aprenderem a brincar uns com os outros. A
risada estimula circuitos cerebrais de euforia e também reassegura para o
outro animal que eles estão brincando, e não brigando.
Quando os pesquisadores iniciaram os estudos sobre o tema, há 20 anos, era
comum a opção de levar pessoas para o laboratório para assistirem a
episódios de famosas séries cômicas de TV, como "Saturday Night Live". Mas
elas não riam muito por causa do ambiente.
Em habitats naturais – calçadas, shoppings – foram observados milhares de
episódios de riso. E eles checaram que de 80 a 90 por cento dessas risadas
eram resultado de frases simples como "eu sei" ou "vejo vocês depois",
empregadas em contextos engraçados. Ou seja, não eram necessárias piadas
ou frases de efeito para gerar risos.
O estudo também mostrou que a maioria das pessoas (principalmente as
mulheres) riem mais enquanto conversam do que os outros que lhe ouvem,
usando as risadas como um tipo de pontuação para suas sentenças. É um
processo em grande parte involuntário. As pessoas podem conter o riso, mas
poucos conseguem forçar o riso de forma convincente.
Portanto, os pesquisadores concluíram que o ato de rir é um dos sinais sociais
mais honestos porque é difícil de ser fingido. Ele é uma espécie de fóssil do
comportamento, que evidencia as raízes que todos os seres humanos, e talvez
todos os mamíferos, têm em comum. A risada primitiva, então, evoluiu como
um dispositivo sinalizador com a função de destacar a compreensão de
interação amigável entre duas pessoas.
Os humanos começam a rir aos quatro meses e depois progridem das cócegas
para mecanismos mais sofisticados, como piadas. O riso pode ser usado para
reforçar os laços de solidariedade e identidade de um grupo, ao satirizarem e
insultarem pessoas de fora da unidade, mas é, sobretudo, um "lubrificante"
social. É uma maneira de fazer amigos e também de deixar claro quem
pertence a quais posições na hierarquia do status social.
(www.revistagalileu.globo.com. Acesso em 16/02/2012)
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