1 CRISTINA MISSEL SILVA AS DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DO CONCEITO DE FUNÇÃO, NO ENSINO MÉDIO, EM MATEMÁTICA Criciúma 2004 2 CRISTINA MISSEL SILVA AS DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DO CONCEITO DE FUNÇÃO, NO ENSINO MÉDIO, EM MATEMÁTICA Monografia apresentada à Diretoria de Pós-Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista, em Educação Matemática. Orientador: Régis Nunes Medeiros Criciúma 2004 3 Dedico esta monografia as pessoas que me acompanharam nessa árdua caminhada, mas extremamente gratificante: Aos meus pais, responsáveis por todas as coisas boas de minha vida, pelo exemplo de virtude, seriedade e honestidade, que me ensinaram os princípios e valores com que tracei minha vida, na busca dos meus ideais e sonhos, a Cristiane e Maurício, meus irmãos que muito me incentivou nessa caminhada. Ao Emerson, um grande companheiro que esteve sempre ao meu lado. A Deus que, em todos os momentos de nossa vida está presente. Enfim, agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram par a realização deste trabalho. 4 RESUMO Esta pesquisa relata um estudo desenvolvido ao Programa de Pós Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), com o objetivo de identificar as dificuldades enfrentadas pelos alunos na conceitualização de função na Primeira Série do Ensino Médio. Apresenta-se considerações relacionadas à história da origem do conceito das funções entre diversos autores e suas aplicações.Também fez-se um estudo através de uma pesquisa com três professores do Ensino Médio de diferentes escolas do Município de Santo Antônio da Patrulha no Rio Grande do Sul. Através desta pesquisa podemos diagnosticar diferentes dificuldades percebidas pelos professores no momento de conceitualizar funções com seus alunos e também perceber algumas atitudes que se deveria seguir no momento de ensinar tal conteúdo. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................6 1. OBJETIVOS.........................................................................................................8 2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................10 2.1 2.2 2.3 3. HISTÓRIA DAS FUNÇÕES MATEMÁTICAS .............................................10 O CONCEITO DE FUNÇÃO NO BRASIL ...................................................16 REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DO CONCEITO DE FUNÇÕES ............20 METODOLOGIA ................................................................................................22 3.1 HISTÓRIA DAS FUNÇÕES MATEMÁTICAS .............................................22 3.2 UM BREVE RELATO SOBRE OS PROFESSORES E AS ESCOLAS EM QUE ATUAM .........................................................................................................24 4. A DIFUCULDADE EM CONCEITUALIZAR FUNÇÕES (AS ANÁLISES FEITAS) ....................................................................................................................26 5. UMA VISÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE FUNÇÕES ATRAVÉS DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNS) .........................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................40 ANEXO .....................................................................................................................41 6 INTRODUÇÃO Muitos dos conceitos matemáticos que se ensinamos estão explícita ou implicitamente presentes em diversas situações do dia-a-dia, como por exemplo funções. Os gráficos de vários tipos e as tabelas que se vêem diariamente nos jornais, revistas e noticiários da televisão e que desde cedo fazem parte da vida dos alunos, são na realidade formas de representação de diversas funções. Pode-se perceber que o conceito de função tem sido motivo de preocupação de muitos professores, por sentirem a grande dificuldade que os alunos enfrentam em se apropriar desse conceito. No ensino atual e nos livros didáticos mais usados o assunto função é apresentado destacando-se duas características: • O conceito de função como expressão analítica; • A introdução do conceito como conjunto de pares ordenados e como caso particular de relações. 7 A primeira dessas características reflete a tendência de alguns grandes matemáticos durante o processo histórico da definição de função. A segunda reflete o último estágio desse processo, com definição de Peano (Sierpinska,1992). A partir de uma visão de educadores de Matemática da 1ª Série do Ensino Médio foi feita uma análise das dificuldades percebidas por esses educadores na conceitualização de função. Foram analisadas as formas como cada professor apresenta esse conceito em sala de aula, a maneira como desenvolvem esse conteúdo, a utilização de simbologias e também as diferentes dificuldades que cada educador focaliza em seus educando com relação ao conteúdo funções. Tendo como base a experiência de educadores, o trabalho pretende dar subsídios aos professores da 1ª Série do Ensino Médio para perceberem as dificuldades de seus alunos no trabalho com funções e questionar-se sobre essas dificuldades, fazendo uma relação com seus trabalhos e educandos, questionandose se as causas apresentadas também condizem com as situações enfrentadas por si. Sendo assim, o professor também será instigado a rever a sua forma de ensinar o conceito de função. A partir do que foi analisado pretende-se despertar nos educadores a forma como poderiam possibilitar uma aula, aos seus alunos, de forma que esses utilizem o conceito de função de maneira significativa, revendo suas posições diante desse assunto. 8 1. OBJETIVOS No decorrer dos anos, percebe-se que os temas nos quais nossos alunos encontram maiores dificuldades no ensino da Matemática são sempre os mesmos. Pergunta-se, muitas vezes, se existe alguma forma diferente de apresentar os conceitos matemáticos sem perder de vista o formal; se haveria um meio de tornar o ensino da Matemática mais leve, mais aplicado, porém sem imediatismo. Pesquisar sobre as dificuldades na elaboração do conceito de função no Ensino Médio, em Matemática é o objetivo desta pesquisa. Na busca em compreender os problemas, de conceitualização de função enfrentados por alunos leva-se a: 9 • Pesquisar sobre os obstáculos epistemológicos na apropriação no conceito de funções a partir do referencial teórico; • Verificar a prática pedagógica dos professores no trabalho com funções em sala de aula; • Pesquisar sobre os problemas apresentados pelos alunos na elaboração do conceito de função, percebidos pelos professores. 10 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 HISTÓRIA DAS FUNÇÕES MATEMÁTICAS A idéia de função, percorreu muitos séculos desde as suas primeiras noções intuitivas, e chegou à sua elaboração mais recente apenas no século XX.. Não parece existir consenso entre os diversos autores, a respeito da origem do conceito de função. Alguns deles consideram que os babilônios já possuíam um “instinto de funcionalidade” (YOUSCHKEVITCH, 1976, apud MACHADO, 1998). Pode-se encontrar uma idéia mais geral de função, desde 2000 a.C. onde os gregos faziam a conexão entre a Matemática e a Astronomia. 11 Segundo BOYER (1974), na França há indícios de idéias primárias de funções anteriores a 1361, quando Nicole Oresme descreveu graficamente um corpo movendo-se com aceleração uniforme. Para YOUSCHKEVITCH (1976), há três fases principais do desenvolvimento da noção de função: 1) A Antigüidade, na qual o estudo de casos de dependência entre duas quantidades ainda não havia isolado as noções de variável e de função; 2) A Idade Média, onde as noções eram expressas sob uma forma geométrica e mecânica, mas em que ainda prevaleciam, em cada caso concreto, a descrições verbais ou gráficas; 3) O período Moderno, a partir do século XVII, quando Jean Bernoulli (1667-1748), definiu função de uma grandeza variável a uma quantidade composta de qualquer maneira dessa grandeza variável e de constantes. Para ele, portanto, a função era a expressão analítica e desse ponto de vista prevaleceu durante muito tempo e impregna ainda a linguagem de hoje. Galileu Galilei (1564– 1642), contribuiu para a evolução da idéia de função, ao introduzir o tratamento quantitativo nas suas representações gráficas. Nessa época, o aprimoramento dos instrumentos de medida propiciaram a busca de resultados inspirados na experiência e na observação. 12 Já Descartes (1596-1650) utilizou-se de equações em x e y para introduzir uma relação de dependência entre quantidades variáveis, de modo a permitir o cálculo de valores de uma delas, a partir dos valores da outra. Entretanto, foi a partir dos trabalhos de Newton (1642-1727) e Leibniz (1646-1716) que surgiram as primeiras contribuições efetivas para o delineamento desse conceito. A teoria de Newton restringia-se a “imagens geométricas de uma função real de variável real” (CARAÇA, 1952). Newton tentou definir o limite de uma função, falando em “quantidades” e “taxas de quantidades” (BOYER, 1974), termos que são bastante imprecisos e distantes da noção de limite que conhecemos hoje. Foi Leibniz, na década de 70 do século XVI, quem usou o termo “função”, para se referir a “certos segmentos de reta cujos comprimentos dependiam de retas relacionadas á curvas”, logo depois, o termo foi usado para se referir a quantidades dependentes ou a expressões (ITÔ, 1987). Essas primeiras definições tinham um certo encantamento pela álgebra, como se vê pela definição de Bernoulli: “Função de uma quantidade variável é uma quantidade composta de alguma maneira desta variável e de quantidades constantes”. 13 (SIERPINSKA, 1992, p. 45) Cita outra definição interessante de Leonardo Euler (1707-1783), discípulo de Jean Bernoulli: “Uma função de uma quantidade variável é uma expressão analítica, composta de alguma maneira desta mesma quantidade e de números ou quantidades constantes”. Entretanto, a definição dada por Leonard Euler não explicita o que é uma “expressão analítica”. Para BOYER (1974), a imprecisão da definição de Euler fez com que D’Alembert tentasse melhorar os estudos e aperfeiçoar o conceito de limite, que só foi bem resolvida no século XIX. SIERPINSKA (1992, p. 45-46) elenca outras definições interessantes sobre funções que mostram a evolução histórica desse conceito matemático. O matemático francês Jean Louis Langrange (1736-1823) definiu funções de uma ou de várias quantidades como: Chama-se função de uma, ou de várias quantidades, toda expressão de cálculo na qual estas quantidades entram de uma maneira quaisquer, misturadas ou não com outras quantidades, que se vêem como valores dados e invariáveis, de modo que as quantidades da função podem receber todos os valores possíveis. Assim nas funções considera-se somente as quantidades que sejam variáveis, sem consideração às constantes que podem estar aí misturadas. Augustun Cauchy (1789-1857) a quem se atribui muito rigor ao cálculo e estudo de funções, afirma que: 14 Chamam-se funções de uma ou mais variáveis quantidades variáveis às quantidades que se apresentam, no cálculo, como resultado de operações feitas sobre uma ou várias outras quantidades constantes ou variáveis. Em 1837, Peter Gustav Lejeune-Dirichlet (1805-1859) propôs a seguinte definição geral de função, que foi amplamente aceita até meados do século XX: Se uma variável y está relacionada a uma variável x de modo que, a se atribuir qualquer valor numérico a x, existe uma regra de acordo com a qual um único valor de y é determinado, então y é dito ser uma função da variável independente x. (SIERPINSCKA, 1992, p. 46). Com publicações de Bourbaki-(pseudônimo de um grupo de matemáticos), esta é a definição de função usada atualmente nos meios matemáticos e científicos e, que foi proposta na primeira metade do século XX em 1939. Embora Gauss (1777-1855) o tivesse acompanhado em termos de rigor nos seus trabalhos, a definição de Cauchy também não pareceu precisa, pois não esclarece qual seria a natureza dessas operações feitas sobre as variáveis. Percebe-se que essa foi uma época de grande entusiasmo pelo cálculo, porém não suficiente para que se extinguissem por completo as confusões sobre 15 seus princípios básicos, havendo ainda muitos caminhos a serem percorridos a partir das noções intuitivas de cada pensador. Uma função é uma tripla ordenada (X, Y, f), onde X e Y são conjuntos e f é um subconjunto de X (Y, tal que, se (x,y) (f, e (x,y’) (f, então y = y’), segundo SIERPINSKA, (1992, p.30). Nessa concepção o conceito de função é definido de uma maneira simbólica, formal e quase sem usar palavras da língua materna. Com a eliminação dos problemas lógicos que envolviam a construção do conjunto dos números reais, hoje é possível elaborar funções muito mais abrangentes. Por exemplo, aquelas usadas no sentido de “aplicações”, definidas em conjuntos quaisquer, ou em estruturas da Álgebra, onde os domínios e imagens são “grupos”, “corpos”, “anéis”, etc. O conceito ganhou assim em generalidade porque se libertou da eventual forma de estabelecer a correspondência das variáveis, mas essa mesma generalidade o obrigou a afastar-se das condições de que nasceu. A grande questão que incomodava os estudiosos era: qual é a função mais geral y(x)? O que equivale a perguntar qual é a correspondência mais geral possível entre duas grandezas variáveis? Pensa-se então que, se escolhe uma lei determinada para a correspondência significa que, imediatamente particulariza-se essa lei, de forma que 16 se chega à conclusão seguinte: a correspondência x → y mais geral é aquela em que os valores das variáveis dependentes são dadas ao acaso. Gonseth, citado por CARAÇA, (1978, p.50) reconhecendo essa verdade fundamental diz: “lei e acaso são noções conjugadas que só adquiram todos os seu sentido quando tomadas uma em relação à outra. Nem uma nem outra tem existência autônoma – a sua contradição mútua faz parte do seu sentido”. A partir daí outros matemáticos procuraram atualizar melhor o conceito, relacionando da melhor forma possível a relação função versus cotidiano. Percebe-se, então, que a análise histórica vem nos auxiliar a compreender que a criação da Matemática não se dá num momento único. Há diferentes fatores que influenciam essa criação, todos dependendo dos problemas de cada época da sociedade. O mesmo acontece nas salas de aula. Na elaboração das idéias matemáticas, depende dos problemas levantados pelos alunos e pelos professores, assim como da linguagem matemática, com as quais essas idéias são abordadas. 2.2 O CONCEITO DE FUNÇÃO NO BRASIL Em agosto de 1925, Euclides Roxo é nomeado para o cargo de Diretor do Externato Pedro II. Nessa época, acumulava uma série de predicados. Esses elementos de seu currículo, somados à sua nova condição de diretor, são 17 fundamentais para explicar sua iniciativa de propor à Congregação do Colégio Pedro II, em 14 de novembro de 1927, uma alteração radical no ensino de matemática. Roxo mencionava a discussão internacional sobre modernização do ensino da disciplina que a Alemanha expôs à Comissão Internacional, por ocasião do IV Congresso Internacional de Matemáticos realizado em Roma, em 1908 (Tavares, 2002:, p.102-104). Em 15 de janeiro de 1929, é oficializado o aceite da proposta modernizadora encabeçada por Roxo. Apesar do Colégio Pedro II ser referência para o ensino secundário do país, as modificações trazidas pelo Decreto deveriam ser seguidas obrigatoriamente no Pedro II (Miorim, 1998, p.92). Roxo escreve artigos que buscam justificar a nova orientação para o ensino de matemática. Num deles destaca “o conceito de função como idéia axial do ensino”. “Só se pode saber um pouco o que são as matemáticas, só se pode suspeitar a sua extensão extraordinária, a natureza dos problemas que elas estabelecem e resolvem, quando se sabe o que é uma função (...)”. Dentre outras coisas, no dizer de Rocha (2001, p.104): “a idéia era familiarizar, desde cedo, o aluno com a noção de função, por meio de sua 18 representação gráfica e analítica, e dela fazer o ponto central do ensino, de maneira a possibilitar a conexão entre as diversas partes da matemática”. Assim, o conceito de função passa a fazer parte da matemática escolar nos programas advindos da Reforma “Francisco Campos”. Por força de um regime de exceção, Euclides Roxo elaborou praticamente sozinho, o que deveria ser objeto de ensino para todo o Brasil. A presença do conceito de função nos programas de matemática, desde o primeiro ciclo, embrião do que viria se tornar o ginásio, é garantido por uma política educacional autoritária. Passaram-se décadas e o tema “funções” continua fazendo parte do currículo do Ensino Médio da matemática, com relevante importância. Tanto é verdade que, até mesmo nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), projeto de reforma do Ensino Médio, que parte diretamente do Ministério da Educação, por intermédio da Secretária de Educação Média e Tecnológica, este assunto é mencionado, por ter conexão interna à própria Matemática. Segundo o PCN, não basta rever-se a forma ou metodologia de ensino, se mantiver o conhecimento matemático restrito à informação, com as definições e os exemplos, assim como exercícios de aplicação ou fixação. Pois se os conceitos são apresentados de forma fragmentada, mesmo que de forma completa e aprofundada, nada garante que o aluno estabeleça alguma significação para as idéias isoladas e desconectadas umas das outras. 19 O currículo a ser elaborado deve corresponder a uma boa seleção, deve contemplar aspectos dos conteúdos e práticas que precisam ser enfatizados. O critério central é o da contextualização e da interdisciplinaridade, ou seja, é o potencial de um tema permitir conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes formas de pensamento matemático, ou, ainda, a relevância cultural do tema, tanto no que diz respeito às suas aplicações dentre ou fora da Matemática, como a sua importância histórica no desenvolvimento da própria ciência. Um exemplo disso pode ser observado com relação às funções. O ensino isolado desse tema não permite a exploração do caráter integrador que ele possui. Devemos observar que uma parte importante da Trigonometria diz respeito às funções trigonométricas e seus gráficos. As seqüências, em especial progressões aritméticas e progressões geométricas, nada mais são do que particulares funções. As propriedades de retas e parábolas estudadas em Geometria Analítica são propriedades dos gráficos das funções correspondentes. Aspectos do estudo de polinômios e equações algébricas podem ser incluídos no estudo de funções polinomiais, enriquecendo o enfoque algébrico que é feito tradicionalmente. Além das conexões internas à própria Matemática, o conceito de função desempenha também papel importante para descrever e estudar através da leitura, interpretação e construção de gráficos, o comportamento de certos fenômenos tanto do cotidiano, como de outras áreas do conhecimento, como, a Física, Geografia ou Economia. Cabe, portanto, ao ensino de Matemática garantir que o aluno adquira certa flexibilidade para lidar com o conceito de função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma variedade de situações-problema de Matemática e de 20 outras áreas, o aluno pode ser incentivado a buscar a solução, ajustando seus conhecimentos sobre funções para construir um modelo para interpretação e investigação em Matemática. Conforme o que rege o PCN observa-se que o assunto funções, de fato, foi bem “aceito” no ensino, observando-se a sua importância desde quando Euclides Roxo o introduziu nos programas de matemática. 2.3 REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DO CONCEITO DE FUNÇÕES A partir dos resultados obtidos em uma pesquisa com professores do Ensino Médio (ZUFFI, 1999), vê-se que, ao fazerem uso da linguagem matemática para expressar suas próprias concepções sobre o conceito de função, esses professores apresentaram visões diferenciadas, quando solicitados a fornecer definições formais e quando se reportavam às definições informalmente. Cada uma dessas visões identificou-se com um momento histórico diferente para o conceito. No caso formal, as definições foram elaboradas de maneira a atingir as mais recentes propostas históricas de definição de função, muito próximas à de Dirichlet ou de Bourbaki, enquanto que, no tratamento informal, ou com exemplos e resoluções de problemas, as idéias propostas para as funções estavam muito mais próximas da definição de Euler. 21 Foi visto que obstáculos epistemológicos que ocorriam com alunos, apontados por SIERPINSKA (1992), também surgiram com os professores investigados. É comum que estes pensem nas funções somente em termos de equações e elementos desconhecidos a serem extraídos delas. Outro obstáculo evidenciou-se quando esses professores mostraram dificuldades em determinar quais eram as variáveis dependentes e independentes, para alguns casos propostos. A transposição didática (CHEVALLARD, 1991) para o conceito de função pareceu ocorrer de maneira oblíqua, de modo que é essencialmente a definição formal de Dirichlet, proposta no final do século passado, que chegou à sala de aula do ensino médio hoje, quando esses professores se reportam aos seus aspectos mais formais. Ao mesmo tempo, perderam-se as conceituações históricas intermediárias, mas algumas dessas, ainda que sem o conhecimento do professor, refletem-se nos exemplos apresentados e nas imagens conceituais (VINNER, 1991) formadas a partir desses exemplos, como foi o caso da definição de Euler. Esse passeio pela gênese histórica do conceito de função mostra o quanto sua elaboração foi complexa. Os conhecimentos históricos podem, então, colaborar com professores para uma reflexão mais profunda sobre as idéias matemáticas. Particularmente com relação às funções, eles podem auxiliar o professor na distinção entre suas concepções pessoais no assunto, entre as diversas formalizações matemáticas, propostas ao longo dos séculos, e sobre como isso se relaciona ao aprendizado de seus alunos. 22 3. METODOLOGIA 3.1 HISTÓRIA DAS FUNÇÕES MATEMÁTICAS O tema funções oferece uma vasta gama de possibilidades de representação simbólica (como diagramas, tabelas, gráficos, expressões algébricas e outros), sendo também muito rico na sua definição e conceitos periféricos. Hoje, a análise da maneira como duas grandezas se relacionam matematicamente é a síntese do estudo de funções. Entretanto, sabe-se que dificilmente duas grandezas podem ser isoladas do contexto de outras que também as influenciam, e que nem sempre a relação matemática entre elas é simples e de fácil compreensão por parte dos alunos. 23 Desse modo pretende-se ter um maior conhecimento, através das concepções e práticas de educadores, sobre as dificuldades que os mesmos percebem nos alunos, ao ensinar a função. A pesquisa, caracterizada como descritiva ou de campo, procedeu-se com uma coleta de dados, através da aplicação de um questionário a três professores de Matemática do Ensino Médio, com questões semi-abertas, sendo idêntico para cada um dos professores. Os professores alvo da investigação trabalham em diferentes escolas do município de Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul. Dois dos professores trabalham na rede pública de ensino e o terceiro atua na rede particular de ensino. Para dar início à pesquisa, foi feito um termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1), para cada professor participante da mesma, que foi aos mesmo tempo no momento da entrega do questionário. O termo de consentimento deixa claro para os participantes da pesquisa sobre o título da mesma, quais seus objetivos, o procedimento do trabalho, sendo que o mesmo poderá solicitar informações e tendo liberdade para retirar seu consentimento de participação na pesquisa a qualquer momento. Ficando a pesquisadora certa que as informações serão de caráter confidencial, sendo reproduzidas sem identificação da fonte. Conforme a responsabilidade que o pesquisador firmou com os pesquisados, no decorrer do desenvolvimento dessa pesquisa os nomes dos 24 professores serão trocados, os mesmos serão mencionados como professores(as) Flavio, Carla e Laura, para manter suas privacidades. 3.2 UM BREVE RELATO SOBRE OS PROFESSORES E AS ESCOLAS EM QUE ATUAM A professora Carla é formada em licenciatura em Matemática há três anos, porém a mesma já trabalha na área há pelo menos cinco anos. Carla trabalha numa escola da rede pública de ensino. A escola atende alunos provenientes de nível sócio-econômico médio baixo e funciona com dois períodos diurno de Ensino Fundamental séries finais e Ensino Médio e um período noturno de Ensino Médio. A professora Laura é formada há vinte e dois anos em Matemática e desde então trabalha na área. A mesma sempre trabalhou em escolas da rede pública e particular, porém atualmente trabalha somente numa escola sendo a mesma de rede particular. A escola na qual a professora Laura trabalha atende alunos provenientes de nível sócio econômico médio baixo e médio. Essa escola atende sua clientela em três períodos (manhã, tarde e noite). No período da manhã atende-se Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. No período da tarde atende-se a Educação Infantil e o Ensino Médio (curso de Magistério). O período da noite é voltado somente para o Ensino Médio (curso de magistério). 25 O professor Flávio é formado em Matemática, desde 2001, a partir daí o mesmo começou a trabalhar em escolas da rede pública de ensino. A escola à qual Flávio presta serviços é formada por uma grande população de nível sócioeconômico baixo. A escola funciona em três turnos, sendo que no turno da manhã atende ao Ensino Fundamental séries finais, à tarde atende aos alunos da Educação Infantil e Fundamental séries iniciais e à noite atende aos alunos do Ensino Médio. Tendo os questionários prontos foi feito um levantamento prévio sobre as situações enfrentadas pelos professores, e então fez-se uma análise das respostas e posteriormente escreveu-se sobre a idéia principal da pesquisa. 26 4. A DIFUCULDADE EM CONCEITUALIZAR FUNÇÕES (AS ANÁLISES FEITAS) Interpretando inicialmente as respostas dadas ao questionário, vemos que o conceito de função é introduzido pelos professores Carla e Laura dando preferência para a definição formal de função, que parte de conjuntos e elementos: “Dados dois conjuntos A e B, uma função de A em B é uma relação que associa a cada elemento de A um, e só um, elemento de B.” Porém, no momento da conceitualização de função, o professor Flávio faz uso da problematização de uma situação real. Aprender a resolver problemas matemáticos deve ser o maior objetivo da instrução matemática. Certamente outros objetivos da matemática devem ser procurados, mesmo para atingir o objetivo de competência em resolução de problemas. Desenvolver conceitos matemáticos, princípios e algoritmos através de um conhecimento significativo e habilidoso é importante. Mas o significado principal de aprender tais conteúdos matemáticos é ser capaz de usá-los na construção das soluções das situações-problema. (HATFIELD, apud DANTE, 1995:8) 27 Dando continuidade a análise dos questionários, percebe-se que no desenvolvimento do conteúdo de função a professora Carla utiliza-se somente de lista de exercícios didáticos, enquanto os demais professores preocupam-se em utilizar a aplicação de modelos matemáticos. Esses professores têm a preocupação de utilizar problemas que condizem com situações reais, sendo que a professora Laura utiliza-se dos mesmos na representação gráfica no plano cartesiano. É importante saber que há alguns professores que se preocupam em trabalhar funções através da resolução de problemas. Pois nem sempre, ou melhor, quase sempre é dada pouca ênfase ao uso de funções na resolução de problemas, sendo que deveria ser um dos aspectos fundamentais na formação dos estudantes. Estudos mostram que na abordagem de conceitos por resolução de problemas, caracteriza-se um problema como uma situação nova, o que imprime a necessidade de inventar, de criar, de conjecturar, de elaborar estratégias e produzir significados. Na utilização de problemas os professores Laura e Flávio dão ênfase à representação simbólica, convergindo suas atitudes em alguns pontos e divergindo em outros. Os pontos nos quais os mesmos convergem, dando maior importâncias, são na relação entre as variáveis e as equações. Porém os pensamentos são divergentes quando Laura dá maior importância aos diagramas e gráficos, e Flávio prioriza as tabelas e depois os gráficos. 28 Quando é colocada a afirmativa “Repetir corretamente uma definição formal de função significa conhecimento sobre a mesma.”, nenhuns dos professores pesquisados concordaram com tal afirmação, pois para Laura: “A repetição não exprime aprendizagem.” Carla diz: “O aluno pode decorar a definição e não saber o que ela significa.” Como expõe (Fagundes, 1996 p. 26); “Quando falamos de sistemas de representação, não nos estamos referindo à reprodução de símbolos e de signos gráficos. Estamos considerando sistemas de significação na assimilação do aprendiz. Estamos considerando o desenvolvimento de seus sistemas lógicos, sobre as regras e os conteúdos, para agir e interagir em seu ambiente sociocultural e para expandir a construção continuada de novos sistemas de significações.” Os professores parecem estar preocupados com que seus alunos tenham uma aprendizagem significativa, sabendo identificar uma situação e também exemplificá-la. Segundo o professor Flávio, “a imagem conceitual ou as aplicações fazem com que o conceito seja entendido e não decorado”. Entende-se que o professor deve estimular o aluno, por intermédio de atividades significativas permitindo ao mesmo uma atitude de investigação, possibilitando-o a enxergar a função em situações reais. Em relação ao processo de aquisição do conceito de função por um indivíduo, segundo Bergeron e Herscovics (1982), esse processo se dá em quatro níveis: compreensão intuitiva, matematização inicial, abstração e formalização. 29 Na elaboração do conceito de função é importante: analisar fenômenos; observar e descrever regularidades; interpretar independências; fazer generalizações para só então chegar à formalização. O professor deve desenvolver essas etapas a partir da exploração de atividades que se relacionam com a vivência do aluno. Assim, ao final desse processo, ele terá construído o conceito de função sem a utilização de regras e fórmulas desvinculadas da realidade situadas num mundo irreal de coisas prontas e sem sentido. O aluno, que forma um conceito a partir de situações em que, o professor o estimula a relacioná-la com a realidade, formará o seu próprio conceito a respeito de tal conteúdo. Talvez essa forma de conceber o conhecimento não permita ao aluno armazenar e mecanizar algumas informações por apenas um determinado tempo, mas, sim, chegar a uma aprendizagem com compreensão. Então, ao pensar no ensino de função deve-se deixar de lado os exemplos mais abstratos ou que não fazem parte de uma Matemática utilitária . Assim, essa tendência pode estar contribuindo para a construção de significados que de certa forma negam os conceitos fundamentais. Também deve-se querer que os conhecimentos escolares contribuam para a formação do cidadão e se incorporem como ferramentas, como recursos aos quais os alunos recorram para resolver com êxito diferentes tipos de problemas que lhes apresentem nas mais variadas situações, e não apenas em determinado 30 momento de uma aula. A aprendizagem deve desenvolver-se num processo de negociação de significados. Os professores Carla e Flávio pensam que quando um aluno não consegue formar um conceito de função, esse fato se deve à: falta de significado ao objeto “função”. Mais uma vez percebe-se que, no ensino de funções, deve haver sempre algo real para que o aluno possa fazer as relações necessárias no momento da formalização do conceito de função. Em contraposição a Carla e Flávio, segundo Laura o “não formar o conceito” passa por uma falha do professor no momento de apresentar-lhe tal conteúdo. Carla e Laura citam a falta de pré-requisitos, que são questões que falam da falha do professor. Concordando com que Laura cita anteriormente sobre a falha do professor. Quais são os pré-requisitos básicos? Os professores foram unânimes em responder que “seus alunos se encontram sem domínio da Matemática básica. ”Para Flávio a falta de domínio vem da falta de motivação e de significado às questões propostas pelos professores. Segundo Laura “essa regra serve só para exceções, mas para a minoria que vem com essa falta de domínio, relaciono o aprofundamento dos conteúdos básicos matemáticos”.Já para Carla muitos alunos não “vêem matemática com bons olhos” e não tem facilidades para entender o raciocínio lógico-matemático. Por isso, muitas vezes, não sabem operar com números inteiros, não multiplicam corretamente 31 (tabuada), o que faz com que os conteúdos não tenham significado para eles e que não vejam relação entre os conteúdos já trabalhados e os novos.” Conforme indica Pozo (1998, p.9): “... ensinar os alunos a resolver problemas supõe dotá-los da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá-los a encontrar por si mesmos respostas às perguntas que os inquietam ou que precisam responder, ao invés de esperar uma resposta já elaborada por outros e transmitida pelo livro-texto ou pelo professor.” Os professores devem motivar seus alunos a explorarem, das mais variadas formas, o conteúdo de função. Devem incentiva-los a procurar saber sobre cada representação simbólica, fazendo relações entre as mesmas. O professor deverá apresentar algumas idéias de desenvolvimento de estudo de funções a partir da exploração do princípio histórico, da representação gráfica (visualização), da intuição e do pensamento analítico. O educador deve explorar a representação gráfica e a intuição, pois a capacidade de analisar e interpretar gráficos é muito importante em qualquer domínio científico (Medicina, Biologia, Física, Química, etc). Para os professores entrevistados o aluno saber construir, analisar e interpretar um gráfico, não quer dizer que o mesmo não terá problemas para a conceitualização de função. Carla diz: “penso que o conceito de função deve ir além do gráfico.” 32 Nessa visão, espera-se que os estudantes possam criar uma imagem mental de um conceito matemático, processando-o interiormente diferentes representações mentais de um determinado conceito, através de diagramas, gráficos, símbolos, frases, etc. Como se está falando em gráfico não se pode deixar de falar na falta de percepção que os alunos têm em relacionar à mudança dos coeficientes de uma expressão ao gráfico que representa a mesma. Para a professora Carla isso ocorre porque o aluno não faz o relacionamento da expressão com o gráfico. Acredito que a falta de motivação, em certos momentos, por parte do professor, muitas vezes faz com que o aluno fique desligado e sem curiosidade pelas atividades propostas pelo mesmo. Desse modo o aluno as desenvolve mecanicamente sem perceber as mudanças que ocorrem ou poderiam ocorrer, no momento da resolução dessas propostas, tendo falhas nas análises de gráficos como cita a professora Laura, quando a atividade é relacionada com eles. Ao contrário de Laura e Carla, o professor Flávio não concorda com a incapacidade dos alunos em relação à mudança do gráfico. Flávio diz que “estamos generalizando os alunos, nessa questão, uma vez entendidos, e aplicado, o assunto não terá problema.” Pensa-se que, se o aluno resolve as atividades sem concentração, olhe com certeza, não terá a devida observação nas mudanças ocorridas no decorrer 33 delas. Mas, acredita-se que, se o aluno está trabalhando de uma forma motivada quando tenha compreendido o raciocínio lógico da atividade, perceberá claramente todas as alterações ocorridas fazendo uma relação entre as mesmas. Pode-se perceber, então, que cada professor tem o seu ponto de vista, sendo que esses às vezes, divergem ou convergem, mas de uma coisa se sabe: deve-se trabalhar na construção do conhecimento matemático, e ao mesmo tempo, motivar os alunos no enfrentamento de suas dificuldades na Matemática, pois como diz Piaget, 1976: “O conhecimento é construído pelo educando desde que incentivado em condições que propiciem tais conquistas.” 34 5. UMA VISÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE FUNÇÕES ATRAVÉS DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNs) Os PCNs vêm sendo muito discutidos e há uma série de ações do governo para colocá-los em prática. Quanto aos conteúdos, os PCNs propõem a retirada de alguns, a redução de outros e a introdução de conteúdos mais significativos para o aluno, no momento atual. Os PCNs, do Ensino Médio, dizem que: “o ensino isolado de funções não permite a exploração do caráter integrador que este tema possui.” Em relação à afirmativa, questiona-se os pesquisados: “se o professor trabalhar funções de uma forma integrada, o aluno adquirirá habilidades para lidar com o conceito de função em situações diversas?” Os educadores concordam com a questão, pois Flávio diz que “o aluno terá uma sistematização no raciocínio sobre funções e assim terá liberdade de criação para desenvolver e aplicar seus conhecimentos.” 35 Carla diz que “o aluno, ao trabalhar de forma integrada, realiza conexões entre a Matemática e outras ciências, podendo assim lidar com esses conceitos, aplicando-os em outras situações.” Os parâmetros têm como objetivo que os educandos percebam as aplicações da Matemática em variadas situações, o que ecoa a idéia de um ensino contextualizado; propõem que os educandos desenvolvam habilidades de análise e julgamento, de resolução de problema de comunicação e representação, que corresponde a uma visão da aprendizagem como “construção de competência”; os apresentam também, como finalidade do ensino, a compreensão da Matemática, a confiança no seu uso e certa satisfação pessoal com ela, o que reflete, entre outras idéias, a ética da identidade e a promoção da autonomia. Assim, podemos dizer que o PCN veio para auxiliar os educandos na apropriação dos conceitos. Do ponto de vista do professor Flávio “o mundo se moderniza e as tecnologias estão aí, como que vamos trabalhar como antes? O PCN é o meio de modernizar o ensino, nesse caso está acontecendo, tomara que seja sempre assim, um passo à frente dos acontecimentos.” Pesquisas mostram que o estudo das funções foi introduzido há muitos anos e, desde então, a idéia era familiarizar os alunos, por meio de representação gráfica e analítica, de maneira a possibilitar a conexão com as diversas partes da matemática. Então, percebe-se que sempre foi dada grande relevância ao estudo das funções. 36 Para Flávio “o ensino da matemática não pode ser estanque, determinado pelo conteúdo A ou B e, sim, uma libertação do raciocínio, não se pode dizer que a matemática é uma decodificação de números e, sim, uma compreensão do sentido das coisas, um processamento de atos, causas e conseqüências. Sabese que isso é uma constante na vida do aluno, portanto, como diz o PCN, a “função” deve ter um caráter integrador, não só com as partes da matemática, como também com todas as outras disciplinas. Eis aí o maravilhoso desafio.” Entende-se que é função do professor ser o grande colaborador e mediador desse processo. Reconhece-se que a prática pedagógica deve ser geradora de novos conhecimentos. Que a imposição precoce e a apresentação exclusiva do formalismo queimam etapas necessárias na estrutura do pensamento do aluno e tentam veicular uma Matemática destituída de sua história. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao iniciar esta pesquisa percebeu-se que o assunto FUNÇÕES é bastante amplo é extremamente útil em muitas situações matemáticas. Conforme o que sugerem os PCNs, percebe-se que funções é um conteúdo muito “rico”, podendo ser trabalhados de diversas formas em diferentes situações. Mas então, por que esse conteúdo é considerado de difícil compreensão por parte dos alunos? As funções têm o potencial de fazer conexões entre outros conceitos da Matemática, podendo se fazer aplicações na área ou fora da mesma, ou seja, utilizarmos em situações distintas. A função é um tema fácil de se fazer um estudo de forma integrada, para então, o aluno fazer a sistematização do assunto. De acordo com o que foi pesquisado, percebe-se que os alunos têm dificuldades no conteúdo de funções devido à falta de significado com que este é passado para os mesmos. O educador, muitas vezes, utiliza somente as definições 38 didáticas dos livros sem a preocupação de realizar atividades com significado, onde os alunos possam fazer relações entre a definição, para posteriormente construir o seu próprio conceito. Conforme algumas análises, vê-se que a conceitualização de função é compreendida e melhor interiorizada quando o professor utiliza a aplicação de problemas quando se faz a relação com situações reais de seus alunos. Com a utilização de problemas, envolvendo situações reais, os alunos verão um significado nos estudos, fazendo relações com conhecimentos já interiorizados. Trabalhando-se com a utilização de problemas, espera-se que os alunos tenham uma motivação maior na resolução das atividades, pois no momento que estiver executando as resoluções eles estarão compreendendo o sentido da mesma? De acordo com a pesquisa, os alunos enfrentam dificuldades na conceitualização de função e na resolução das atividades propostas, devido à falta de pré-requisitos básicos de Matemática vindos de séries anteriores. Mas, também pode-se questionar sobre as atitudes do professor frente ao ensino de funções. Pergunta-se: será que os alunos têm “falhas” na conceitualização de função, somente por causas próprias ou essas podem ser relacionadas com o professor da disciplina? Será que os professores estão realmente preparados para ensinar? Será que os professores têm realmente a compreensão do conceito que está ensinando? 39 Realmente há uma série de fatores que podem influenciar na aprendizagem do aluno. Esses fatores podem ser desde falta de conhecimento do aluno, desmotivação de ambas as partes (aluno/professor) e falta de aptidão do professor. Espero que este trabalho sirva de reflexão para os professores repensarem suas práticas pedagógicas em sala de aula. Deve-se ensinar a Matemática, com seus símbolos, normas linguagens e procedimentos de uma forma útil e agradável. Pensa-se também em cada aula e durante o ano letivo, não esquecendo que conhecimentos, atitudes e habilidades, desenvolvidas pelos alunos fazem parte do cotidiano e de suas vidas futuras. Para GÖMEZ (1998), “o aluno é um ativo processador da informação que assimila, e o professor, um mero instigador deste processo dialético por meio do qual se transformam os pensamentos e as crenças do estudante. Para provocar esse processo dialético de transformação, o docente deve conhecer o estado atual de desenvolvimento do aluno, quais são as suas preocupações, interesses e possibilidades de compreensão. O novo material de aprendizagem somente provocará a transformação das crenças e pensamentos do aluno quando conseguir mobilizar os esquemas já existentes de seu pensamento”. (p.69) 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOVER, C.D. História da Matemática. São Paulo: Edgar Blucher, 1971. Brasil Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica – Brasília. MEC; SEMTEC, 2002.360p CARAÇA, B. I. Conceitos Fundamentais da Matemática.Lisboa, Sá da Costa,1978. CARVALHO, Maria Cecília Costa e Silva. Padrões Numéricos e Funções. São Paulo: Moderna,1974. Encontro Nacional de Educação Matemática. São Leopoldo, julho,1998. Anais do VI Encontro Nacional de Educação Matemática – São Leopoldo: [s.n], 1998. 2 vol. GÓMES, Pérez A. e SACRISTÁN, Gimeno J. Compreender e Transformar o Ensino. 4 ED. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. Metodologia de Ensino de Matemática. Maria Auxiliadora. Maroneze de Abreu...[et.al]. – Florianópolis: UFSC/LED, 2002.104p SMOLE, Kátia Stocco. Aprendizagem significativa, o lugar do conhecimento e da inteligência. Páginas Abertas – Revista –Psicopedagogia. VALENTE, Wagner. Educação Matemática e Política: A escolarização do conceito de função no Brasil. Educação Matemática em Revista, ano 9, nº 12, junho,2002. ZUFFI, Edna. Alguns aspectos do desenvolvimento histórico do conceito de função. Educação Matemática em Revista, ano8, nº9/10, abril,2001. 41 ANEXO 42 Questões: 1. Você introduz o conceito de função como: a) relação entre duas grandezas. b) conjuntos fazendo a relação de A em B. c) problema de uma situação real. d) regra de associação. e) metáforas “se entra laranja sai suco, se entra tijolo, sai pó”. f) outros: ________________________________________ 2. Quando você desenvolve o conteúdo de função, em sala de aula, você utiliza: a) lista de exercícios didáticos. b) problemas de aplicação, que não condizem com a realidade dos alunos. c) aplicação de modelos matemáticos para a representação de situações reais. d) outros: ________________________________________. 3. Caso você trabalhe com problemas de aplicação, no conteúdo de funções, o que você explora em grau de maior importância, (Numerar de 1 a 7 conforme o grau de importância): a) variáveis ( ) e) tabelas ( ) b) relação entre variáveis ( ) f) equações ( ) c) diagrama ( ) g) outros: _________ ( ) d) gráficos ( ) 43 4. “Repetir corretamente uma definição formal de função significa ter conhecimento sobre a mesma”. Você concorda com esta afirmativa? a) sim b) não c) Porque? ______________________________________. 5. ”Para que um conceito seja compreendido não basta a definição conceitual, é necessário que o sujeito tenha imagem conceitual e vice-versa”. Você concorda com esta afirmativa. a) sim b) não c) Porque? ___________________________. 6. Quando um aluno não consegue formar um conceito de função você atribui isto a: a) falta de compreensão do conceito. b) falta de subsídios para tal. c) falta de significado ao objeto “função”. d) limites pessoais do aluno. e) falha do professor no momento de apresentar-lhe tal conceito f) outros: ________________________________________. 44 7. Quando o aluno enfrenta certas dificuldades em resolver os exercícios ou problemas propostos você atribui este fato a: a) falta de pré-requisitos. b) Não sabe interpretar. c) falta de motivação. d) falta de estudo em casa. e) outros: _____________________________________. 8. Como este aluno chega com relação a alguns pré-requisitos básicos? a) com domínio. b) sem domínio. Na sua opinião, de onde vem esta falta de domínio?________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ 9. Você acha que se o aluno souber construir, analisar e interpretar um gráfico, ele não terá problemas para conceituar função? a) sim b) não c) Porque?________________________________________ _______________________________________________ 45 10. Os alunos não são capazes de relacionar mudanças no gráfico com mudanças nos coeficientes da expressão, e vice-versa. Você atribui esta situação a: a) falta de prática na construção de gráficos. b) falhas na análise de gráficos. c) falta de relacionamento da expressão ao gráfico. d) outros. ________________________________________ 11. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), do Ensino Médio diz que: “o ensino isolado de funções não permite a exploração do caráter integrador que este tema possui”. Você acha que se o professor trabalhar funções de uma forma integrada, o aluno adquirirá habilidades para lidar com o conceito de função em situações diversas? a) sim b) não c) porque?________________________________________ 12. Com relação à questão anterior, será que o PCN veio para auxiliar na apropriação dos conceitos? a) sim b) não c) porque?________________________________________ 46 13. No Brasil, por volta de 1929, o estudo das funções foi introduzido por Euclides Roxo. A idéia era familiarizar desde cedo o aluno com a noção de função, por meio de sua representação gráfica e analítica, e dela fazer o ponto central do ensino, de maneira a possibilitar a conexão entre as diversas partes da matemática. Você acha que os professores que deram início ao desenvolvimento deste trabalho conseguiram fazer uma conexão entre as diversas partes da matemática como era previsto? E hoje, é feita alguma conexão? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ ____________________________________________________