1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA ANTONIO GOMES DA SILVA NETO ESTUDO DOS EFEITOS VASCULARES E RENAIS CAUSADOS PELO 6-GINGEROL ISOLADO DO GENGIBRE. FORTALEZA 2012 3 ANTONIO GOMES DA SILVA NETO ESTUDO DOS EFEITOS VASCULARES E RENAIS CAUSADOS PELO 6GINGEROL ISOLADO DO GENGIBRE. Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Farmacologia. Orientadora: Profa. Dra. Helena Serra Azul Monteiro FORTALEZA 2012 2 S582e Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde Silva Neto, Antonio Go mes da. Estudo dos efeitos vasculares e renais causados pelo 6 – gingerol isolado do gengibre / Antonio Go mes da Silva Neto. – 2012. 103f. : il. co lor., enc. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Departamento de Fisio logia e Farmacologia, Programa de Pós -Graduação de Farmacologia, Fortaleza, 2012. Orientação: Pro fa. Dra. Helena Serra A zul Monteiro. 1. Gengibre. 2. Rim. 3. Farmacologia. I. Título. CDD 616.1 4 ANTONIO GOMES DA SILVA NETO ESTUDO DOS EFEITOS VASCULARES E RENAIS CAUSADOS PELO 6GINGEROL ISOLADO DO GENGIBRE. Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Farmacologia. Aprovada em: ____/____/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Profª. Drª. Helena Serra Azul Monteiro (Orientadora) Universidade Federal do Ceará ________________________________________________ Profª. Drª. Renata de Sousa Alves Universidade Federal do Ceará ________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Havt Bindá Universidade Federal do Ceará 5 AGRADECIMENTOS A Deus que está sempre ao meu lado abençoando-me. À minha orientadora Profa. Dra. Helena Serra Azul Monteiro pela atenção, otimismo e dedicação oferecidas. À Profa. Dra. Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista pelo carinho, disponibilidade, apoio e amizade desde minha infância. Ao meu amigo e companheiro de jornada doutorando Rafael Matos Ximenes pelos conhecimentos compartilhados que foram valiosos para realização deste trabalho e pelo auxílio sempre que precisei. Ao Prof. Dr. Paulo Cesar Vieira e ao Dr. James Almada da Silva por terem cedido a substância isolada para a realização dos testes farmacológicos e pela oportunidade de trabalhar em uma nova parceria. À minha namorada Natássia que sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis juntamente com seus familiares. Ao Prof. Dr. Dalgimar histopatológicas e amizade. Beserra De Menezes pelas análises A todo corpo docente do Curso de Pós-graduação em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará, em especial Dr. Alexandre Havt Bindá, pela atenção fornecida em todos os momentos que busquei. À Profa. Dra. Renata de Sousa Alves pela amizade e apoio que sempre me deu. Ao amigo e doutorando companheirismo e apoio. Antonio Rafael Coelho Jorge pelo Aos demais companheiros de jornada do Laboratório de Farmacologia Venenos e Toxinas (LAFAVET), da iniciação científica e pós-graduação que proporcionaram momentos felizes e de crescimento profissional e pessoal. Aos Funcionários Silvia Helena, Aura Rhanes, Jossiê e Bento por toda a ajuda. Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo apoio financeiro. A todos os meus amigos pelo companheirismo e presteza. 6 ―Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim‖. Chico Xavier 7 RESUMO O gengibre possui em sua composição inúmeras substâncias voláteis e não voláteis. Dentre as substâncias não-voláteis destacam-se, principalmente, os gingerols, sendo o 6-gingerol o composto mais abundante e o responsável pela grande maioria das atividades farmacológicas descritas, como a antihipertensiva. Neste trabalho, foram investigados os efeitos renais, vasculares e em cultura de células tubulares renais do tipo MDCK (Madin-Darby Canine Kidney) causados pelo 6-gingerol. Foram utilizados ratos Wistar machos pesando entre 250 e 300g, cujos rins foram isolados e perfundidos com Solução de Krebs-Hanseleit contendo 6%p/v de albumina bovina previamente dialisada. Foram investigados os efeitos do 6-gingerol (3 μM, 10 μM, 30 μM; n=6) sobre a Pressão de Perfusão (PP), Resistência Vascular Renal (RVR), Fluxo Urinário (FU), Ritmo de Filtração Glomerular (RFG), Percentual de Transporte Tubular de Sódio (%TNa+), de Potássio (%TK+) e de Cloreto (%TCl-). O 6-gingerol foi adicionado após 30 minutos de controle interno. As células MDCK foram cultivadas em meio de cultura RPMI 1640 suplementado com 10% v/v de Soro Bovino Fetal e então avaliadas na presença do composto em diversas concentrações em dois períodos de incubação, 6 (seis) e 24 (vinte e quatro) horas. Após esses períodos, foram realizados ensaios de viabilidade celular. Foi avaliada a resposta do 6-gingerol em diversas concentrações na pressão arterial média de ratos wistar normotensos anestesiados. Os resultados encontrados na pressão arterial dos animais foi uma queda acentuada de maneira dose-dependente na pressão arterial destes animais. Em relação à perfusão renal, o 6-gingerol mostrou-se um potente diurético e com baixíssimos danos renais tanto nos dados encontrados no perfil histológico, como nos experimentos de avaliação de viabilidade celular em células MDCK o que está em consonância com o conhecimento da medicina tradicional. Os resultados encontrados não foram totalmente abolidos pelo inibidor específico do receptor TRPV1 utilizado no estudo, demonstrando que o 6gingerol possui outras vias renais a serem exploradas em estudos posteriores. Palavras-chave: 6-gingerol. Gengibre. Rim. 8 ABSTRACT Ginger has many volatile and nonvolatile substances in its composition. Among the non-volatile substances stand out, especially the gingerols, 6-gingerol being the compound most abundant and responsible for the vast majority of pharmacological activities described, such as anti-hypertensive. In this study, we investigated the renal and vascular effects besides the effect in renal tubular cell culture of the type MDCK (Madin-Darby Canine Kidney) caused by 6gingerol. Male Wistar rats weighing between 250 and 300, whose kidneys were isolated and perfused with Krebs-Hanseleit containing 6% w / v pre-dialysed with bovine serum albumin. We investigated the effects of 6-gingerol (3 mM, 10 mM, 30 mM, n = 6) on the perfusion pressure (PP), renal vascular resistance (RVR), urinary flow (FU), glomerular filtration rate (GFR), percentage of tubular transport of sodium (Tna +%), potassium (TK +%) and chloride (TCL-%). The 6gingerol was added after 30 minutes of internal control. MDCK cells were grown in RPMI 1640 culture medium supplemented with 10% v / v fetal bovine serum and then evaluated in the prese nce of compound at various concentrations in two incubation periods, 6 (six) and 24 (twenty four) hours . After these periods, we performed cell viability assays. The response was evaluated in 6-gingerol at various concentrations in mean blood pressure of normotensive anaesthetized Wistar rats. The results found in animals' blood pressure was a sharp drop in a dose-dependent way. With regard to renal perfusion, 6-gingerol proved to cause a potent diuretic and very low renal damage in histological profile, as in the experiments for evaluating cell viability in MDCK cells which are according to the traditional medical knowledge. The results were not totally abolished by specific inhibitor of the receiver TRPV1 used in this study, demonstrating that the 6-gingerol has other pathways renal to be explored in subsequent studies. Keywords: 6-gingerol. Ginger. Kidney. 9 LISTA DE FIGURAS 1. Rizoma do gengibre (Moraes, 2008) ................................................................19 2. Principais atividades descritas sobre o gengibre ..............................................20 3. Representação das cadeias laterais dos componentes do gengibre (Modificado de Reinhard, 2005) .......................................................................................... 21 4. Estrutura molecular do 6-gingerol .................................................................... 23 5. Representação simplificada da conversão dos gingerols em outras formas homólogas (Modificado de Reinhard, 2005) .................................................... 24 6. Regiões importantes para a interação com o receptor .................................... 30 7. Representação espacial da estrutura das diferentes famílias de receptores TRP. Adaptado de Montell, 2005 ..................................................................... 32 8. Sistema de perfusão renal. Fonte: LAFAVET – UFC .......................................39 9. Desenho esquemático do sistema de perfusão de rim isolado. Fonte: LAFAVET – UFC .............................................................................................................. 40 10. Valores de pressão de perfusão (PP) registrados durante a calibração do sistema (n=6).................................................................................................... 41 11. Valores registrados pelo fluxômetro (L/min) durante a calibração do sistema (n=6) ................................................................................................................. 41 12. Valores de volume de solução (mL/min) registrados durante a calibração do sistema (n=6) ................................................................................................... 42 13. Administração de manitol (100mg/mL – 3mL independentemente do peso) pela veia femoral no animal anestesiado ................................................................ 43 14. Identificação e dissecação do ureter (A) e ureter canulado (B) ....................... 44 15. Visualização da artéria mesentérica (A), da artéria renal (B) e também da artéria aorta (C) ................................................................................................ 45 16. Canulação da artéria renal realizada através da artéria mesentérica .......................................................................................................................... 45 17. Rim de rato isolado no sistema de perfusão .................................................... 46 18. Localização anatômica da artéria e veia femural e posicionamento dos cateteres arterial (vermelho) e venoso (azul) .................................................. 50 19. Sistema de aquisição de dados ....................................................................... 51 10 20. Fluxograma do cultivo e tratamento das células MDCK. Fonte: LCC – Laboratório de Cultivo Celular ......................................................................... 53 21. Efeitos do 6-gingerol em célula tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT .......................................................................................................................... 56 22. Efeitos da Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT ............................................................................................... ...........................57 23. Efeitos do 6-gingerol + Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT ............................................................................................. 57 24. Efeitos do 6-gingerol em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT ......................................................................................................................... 58 25. Efeitos da Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT .............................................................................................. ...........................59 26. Efeitos do 6-gingerol + Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT ........................................................................................... 60 27. Relação dose-efeito da administração de 6-gingerol, em bolus, em ratos anestesiados com pentobarbital sódico (50 mg/Kg), no percentual de redução da pressão arterial. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por análise de variância (ANOVA), com pós-teste de Bonferroni, e pelo teste t de Studente, com *p < 0,05 ................................................................................. 61 28. Relação dose-efeito da administração de 6-gingerol, em bolus, em ratos anestesiados com pentobarbital sódico (50 mg/Kg), na pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por análise de variância (ANOVA), com pós-teste de Bonferroni, e pelo teste t de Studente, com *p < 0,05 ................................................................................................................. 62 29. Aspecto morfológico normal do tecido cardíaco do grupo analisado através de microscopia óptica (aumento de 400x e coloração de hematoxilina-eosina) ......................................................................................................................... 63 30. Aspecto morfológico normal dos rins do grupo analisado através de microscopia óptica (aumento de 400x e coloração de hematoxilinaeosina) ............................................................................................................. 64 31. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente na pressão de perfusão................................................................................................. 66 32. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente na resistência vascular renal ......................................................................................................................... 67 11 33. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no fluxo urinário .......... 68 34. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no ritmo de filtração glomerular ......................................................................................................................... 68 35. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de sódio ............................................................................... 69 36. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de potássio .......................................................................................................................... 70 37. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentrações de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de cloreto .......................................................................................................................... 70 38. Corte histopatológico de rim perfundido com solução de Krebs-Hanseleit modificada e DMSO 1% por 120min (n=6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 100x) ................................................................................................. 71 39. Corte histológico de rim direito pefundido com 6-gingerol 3 µM (n=6, coloração hematoxilina-eosina, aumento400x) ................................................................ 72 40. Corte histológico de rim direito perfundido com 6-gingerol 10 µM. (n=6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 400X) .............................. 73 41. Corte histológico de rim direito perfundido com 6-gingerol 30 µM (n=6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 400X) ......................................... 74 42. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM na pressão de perfusão ............................................................................. 75 43. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM na resistência vascular renal ................................................................................................................. 76 44. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no fluxo urinário .................................................................................................. 77 45. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no ritmo de filtração glomerular ........................................................................... 78 12 46. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de sódio .......................................................................................... 79 47. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de potássio .................................................... 80 48. Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de sódio ......................................................... 81 13 LISTA DE QUADROS 1. Cálculos para determinação dos parâmetros funcionais renais .............43 14 ABREVIATURAS μg Micrograma _ Alfa °C Grau(s) centígrado(s) %TCl- Percentual de cloro tubular total transportado %pTCl- Percentual de cloro tubular proximal transportado %TK+ Percentual de potássio tubular total transportado %pTK+ Percentual de potássio tubular proximal transportado %TNa+ Percentual de sódio tubular total transportado %pTNa+ Percentual de sódio tubular proximal transportado AMPc Adenosina 3´, 5´ – Monofosfato Cíclica ANOVA Análise de varância C60 Valores do controle no período de 60 minutos C90 Valores do controle no período de 90 minutos C120 Valores do controle no período de 120 minutos CNP Peptídio natriurético do tipo c Cosm Clearance osmótico COX Ciclooxigenase COX-1 Ciclooxigenase - 1 COX-2 Ciclooxigenase - 2 ECl- Cloreto excretado EK+ Potássio excretado ENa+ Sódio excretado E.P.M Erro padrão médio PLA2 Fosfolipase A2 FU Fluxo urinário HE Hematoxilina-Eosina IL Interleucina IRA Insuficiência Renal Aguda LAFAVET Laboratório de Farmacologia em Venenos e Toxinas min. ou min Minuto (s) mL Mililitros mmHg Milímetros de mercúrio MDCK Células tubulares renais do tipo Madin-Darby Canine Kidney MS Ministério da Saúde MTT 3-(4,5-dimetilazil-2-il)-2,5 difenil tetrazólico NO Óxido nítrico NOS Óxido Nítrico Sintetase PGE2 Prostaglandina E2 PGI2 Prostaglandina I2 ou prostaciclina pH Potencial de hidrogênio PP Pressão de Perfusão p/v Peso/volume RFG Ritmo de Filtração Glomerular RVR Resistência Vascular Renal SBF Soro Bovino Fetal TNF Fator de Necrose Tumoral v/v Volume/volume 15 16 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 18 1.1 Aspectos Gerais da Fitoterapia ......................................................................... 18 1.2 Composição Química do Gengibre ................................................................... 20 1.3 Atividades Farmacológicas .....................................................................23 1.3.1 Atividade Anti-emética ............................................................................ 23 1.3.2 Atividades Antiinflamatória e antioxidante .............................................. 24 1.3.3 Atividade Antimicrobiana ........................................................................ 25 1.3.4 Estudos no Combate ao Câncer ............................................................. 26 1.3.5 Cardioprotetora e Anti-hipertensiva ........................................................ 27 1.4 Família de Receptores de Potencial Transiente (TRP) .................................... 28 2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 33 3. OBJETIVOS ........................................................................................................... 35 3.1 Objetivo Geral ........................................................................................ ..........35 3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................35 4. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 37 4.1 Perfusão de Rim Isolado .................................................................................. 37 4.1.1 Animais de experimentação ................................................................... 37 4.1.2 Substâncias Utilizadas ........................................................................... 37 4.1.3 Ensaios Biológicos ................................................................................. 37 4.1.4 Preparo da Solução Perfusora ............................................................... 38 4.1.5 Sistema de Perfusão Renal .................................................................... 39 4.1.6 Calibração do Sistema de Perfusão de Rim Isolado de Rato .................41 4.1.7 Técnica Cirúrgica ................................................................................... 46 4.1.8 protocolo Experimental .......................................................................... 46 4.1.9 Análises Bioquímicas ............................................................................. 47 4.1.10 Cálculo dos Parâmetros Funcionais Renais ........................................ 48 4.1.11 Análise Histológica ............................................................................... 48 4.2 Efeitos na Pressão Arterial Média de Ratos Anestesiados .............................. 48 4.2.1 Animais de Experimentação ................................................................... 48 4.2.2 Técnica Cirúrgica .................................................................................... 48 4.2.3 Protocolo Experimental ........................................................................... 49 17 4.2.4 Sistema de Aquisição de Dados ............................................................. 50 4.2.5 Análise Histológica .................................................................................. 50 4.3 Avaliação da Atividade do 6-gingerol sobre as Células Tubulares Renais (MDCK) ................................................................................................................... 51 4.3.1 Linhagem Celular .................................................................................... 51 4.3.2 Cultivo e Tratamento das Células MDCK ............................................... 51 4.3.3 Ensaio Colorimétrico com Sal de Tetrazolium (MTT) ............................ .52 4.3.4 Aspectos Éticos ...................................................................................... 53 5. RESULTADOS ....................................................................................................... 55 5.1 Avaliação da Atividade do 6-gingerol e da Capzasepina sobre as Células MDCK ................................................................................................................................. 55 5.2 Experimento com Incubação de 6 horas .......................................................... 55 5.3 Experimento com 24 horas de Incubação ........................................................ 57 5.4 Avaliação da Atividade do 6-gingerol na Pressão Arterial Média de Ratos Anestesiados .......................................................................................................... 59 5.5 Análise Histológica ............................................................................................ 61 5.6 Perfusão de Rim Isolado Frente ao 6-gingerol ................................................. 64 5.7 Efeitos do 6-gingerol nos Parâmetros Renais .................................................. 65 5.8 Análise histológica dos grupos da perfusão renal ............................................ 70 5.9 Efeitos do 6-gingerol frente ao Bloqueio do TRPV1 com Capzasepina ................................................................................................................................. 73 6. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 82 7. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 90 8. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 92 18 INTRODUÇÃO 19 1. INTRODUÇÃO 1.1 Aspectos Gerais da Fitoterapia O uso de produtos naturais, principalmente as com atividades medicinais, são utilizadas a mais de cinco mil anos por diversas civilizações. Entretanto, suas atividades começam a serem estudas mais profundamente pela medicina ocidental na busca por novas moléculas ativas e no desenvolvimento de novas drogas com potencial terapeutico melhor e com menos efeitos colaterais (CRAGG et al., 1997; DE SMET, 1997; SHU, 1998). Na década de 60, em países como Alemanha e França, e posteriormente transferindo-se para outras regiões da Europa e da América do Norte, demonstrou-se um interesse crescente pela fitoterapia e, ao invés de utilizar a infusão, cozimento ou tintura dos fármacos vegetais, bastante utilizadas no passado, as formas farmacêuticas encapsuladas ou comprimidos eram mais bem aceitas pela população. (CUNHA et al., 2003). Este interesse surgiu principalmente devido às pessoas acreditarem que os fitoterápicos são isentos ou possuem poucos efeitos colaterais, e que são aparentemente ―milagrosos‖ nos casos onde a medicina tradicional não alcançou resultados esperados. Infelizmente nem sempre esses efeitos são confirmados pelas pesquisas científicas que avaliam a eficácia e a segurança desses fitoterápicos (CALIXTO, 2000; CARVALHO et al., 2008). No Brasil, a utilização de plantas medicinais foi iniciada pelos povos indígenas. Nosso país é rico em diversidade além de possuir em seu território cinco principais biomas sendo designados como floresta amazônica, cerrado, mata atlântica, pantanal e caatinga com milhares de espécies nativas. Isso demonstra o grande potencial de diversidade e incontáveis moléculas com potencial terapêutico ainda podem ser encontradas (CALIXTO, 2000; RATES, 2001; VEIGA-JUNIOR, 2008). Entre inúmeras espécies utilizadas destaca-se, o gengibre que é uma planta herbácea aromática, perene, de rizoma articulado, septante, carnoso, revestido de epiderme rugosa, de onde desenvolve o caule aéreo (JOLY, 2002). Na parte inferior, possui muitos rizomas cilíndricos, horizontais, 20 distribuídos lateralmente, com ramificações situadas num mesmo plano, digitiformes, no vértice das quais se encontram cicatrizes do caule foliáceo de 14 a 16 cm de comprimento por 4 a 20 mm de espessura (FERNANDES, 2006). Figura 1 - Rizoma do gengibre (Moraes, 2008). O botânico Inglês William Roscoe (1753-1831) lhe deu esse nome em uma publicação no ano de 1807, a partir do sânscrito STRINA: ―com um corpo como um chifre‖. O gengibre (Zingiber officinale) é uma planta utilizada como condimento e como erva medicinal desde a antiguidade pelos povos do oriente. Na época das grandes navegações possuía uma importante representação nas especiarias. (Boletim, 2004). Hoje ela é encontrada comercialmente na forma crsitalizada, pó seco e até na forma de óleo essencial, sendo que nesta forma está contida em bebidas, ingredientes de alimentos e em produtos de higiene e cosmética (ELPO, 2004; NEGRELLE et al., 2005; SACCHETTI et al., 2005). Além dessa utilização como condimento, o gengibre possui atividades farmacológicas já descritas na literatura científica. Dentre elas, estão incluídas atividades, como analgésica, antiúlcera, antiemética, antimicrobianas, 21 ansiolíticas antilipidêmica, antihipertensiva, cardiotônica e imunoestimulante (SUEKAWA et al., 1984; KIUCHI et al., 1992; SHUKLA e SINGH, 2007) (Fig. 2). Antilipidêmico Anti- hipertensivo Cardiotônico Anti- inflamatório Antioxidante Analgésico Gengibre Antimicrobiano Antiemético Figura 2 - Principais atividades descritas sobre o gengibre. 1.2 Composição Química do Gengibre Mais de 400 compostos químicos foram isolados e identificados em extratos de rizomas de gengibre, e os novos ainda estão sendo detectados. Evidências atuais sugerem que uma fração contendo os compostos que possuem estrutura relacionada com os gingerols, shogaols e paradols são responsáveis pelas ações terapêuticas do gengibre (TJENDRAPUTRA, 2001). O gengibre apresenta em sua composição química, componentes voláteis (terpenos), não voláteis (compostos fenólicos e alcalóides) além das 22 oleorresinas extraíveis, gorduras, ceras, carboidratos, vitaminas e minerais e no rizoma também contém uma enzima proteolítica potente chamada de zingibain (JOLAD et al., 2005). Esses compostos são descritos como secundários e embora não sejam necessários ao ciclo da vida da planta, desempenham papel na interação com o meio ambiente (PERES, 2004). No grupo dos constituintes voláteis encontramos sesquiterpenos de hidrocarbonetos: zingeberene (35%), curcumeno (18%), farneseno (10%); e mais de 40 substâncias diferentes, se destacando o linalol, 1,8 cineol (SHUKLA et al., 2007; SANTOS et al., 2004). Muitos destes componentes voláteis contribuem para o distinto aroma e sabor de gengibre (JOLAD et al., 2004; JOLAD et al. 2005). Dentre os compostos não-voláteis merecem destaque os gingerols, shagaols e paradols. Estes compostos compartilham uma porção cetona aromática, mas são diferentes no comprimento da sua cadeia lateral alquil e o padrão de substituição na cadeia lateral (Fig. 3). Outros compostos fenólicos que fazem parte da composição química do gengibre são: os gingerdiois e os diarilheptanoides (JOLAD et al., 2005). 23 Figura 3 - Representação das cadeias laterais dos componentes do gengibre (Modificado de Reinhard, 2005) Entre os gingerois, o 6-gingerol é o composto mais abundante encontrado no gengibre e o responsável pela grande maioria das atividades farmacológicas descritas (YOUNG e CHEN, 2002). Outros gingerois presentes no gengibre, porém em menor quantidade são o 4-gingerol, o 8-gingerol, o 10gingerol e o 12-gingerol. Esses compostos em altas temperaturas sofrem desidratação e se transformam nos shogaols. Esses últimos quando sofrem hidrogenação formam os paradols (JOLAD et al., 2004; JOLAD et al., 2005) (Fig.4). 24 CH3 O OH O CH3 HO Figura 4 - Estrutura molec ular do 6-gingerol. Shogaols e paradols apresentam pequenas quantidades no gengibre fresco, mas estão presentes em altas concentrações no gengibre armazenado. Essa conversão é provável que tenha um impacto significativo sobre os efeitos nas preparações de gengibre, pois os compostos podem variar na sua biodisponibilidade, farmacocinética e propriedades farmacológicas (Reinhard et al, 2005). Já a quantidade de gingerols presente, determina a pungência (sensação de ―queimação‖ sentida na boca e no nariz) do rizoma. Essa varia de acordo com a região geográfica de onde a planta é colhida e se os rizomas são frescos ou secos (PRATO, 2010). 25 CH3 O O OH CH3 (CH 2)n HO Gingerois (n = 2, 4, 6, 8, 10) Desidratação CH3 O O Shogaois (n = 2, 4, 6, 8, 10) CH3 (CH 2)n HO Hidrogenação CH3 O O Paradois (n = 2, 4, 6, 8, 10) CH3 (CH 2)n HO Figura 5 – Representação simplificada da conversão dos gingerols em outras formas homólogas (Modificado de Reinhard, 2005). 1.3 Atividades Farmacológicas 1.3.1 Atividade Anti-emética Na medicina oriental, o gengibre é uma das ervas mais comumente utilizadas para o tratamento de náuseas e vômitos da gravidez (ALLAIRE et al., 2000). O mecanismo exato dessa atividade ainda não está totalmente elucidado, mas tudo indica que seja um efeito gástrico local, por aumentar o peristaltismo e tônus muscular. Com o efeito local, ocorre grande diminuição dos efeitos indesejáveis causados por antieméticos de ação central, como xerostomia e sonolência (MICKLEFIELD, 2000). Estudo realizado com 60 mulheres em pós -cirurgia (Obstetrícia e Ginecologia) comparou a utilização de metoclopramida, gengibre e placebo na incidência de eventos relacionados à atividade antiemética. O gengibre demonstrou ser capaz de reduzir a incidência de náuseas quando comparado com o placebo. 26 Entretanto, a incidência de náuseas foi estatisticamente igual nos grupos que utilizaram tanto gengibre quanto metoclopramida (BONE et al., 1990). Em 2004, Smith e colaboradores compararam a redução das náuseas com a vitamina B6 em um grupo composto de 291 mulheres com menos de 16 semanas de gestação. Constataram que o gengibre foi equivalente em reduzir as náuseas nesse grupo em média de 20%, sendo mais eficaz na redução de náuseas acompanhadas de vômito (50%). Nas pacientes em que as náuseas não foram acompanhadas de vômitos a diferença foi de 30%. 1.3.2 Atividades Antiinflamatória e Antioxidante Estudos demonstraram que o gengibre foi capaz de inibir a expressão de COX-2 induzida por LPS (lipopolissacarídeo) e inibir a produção de PGE2 (prostaglandina E2) e estudos ―in vivo ” demonstraram que o extrato aquoso de Zingiber officinale a quente inibiu as atividades da ciclooxigenase e lipoxigenase sobre o ácido araquidônico (UTPALENDU et al., 1999; LANTZ et al., 2007). A inibição da enzima cox, in vitro, pelo 6-gingerol mostrou-se dependente da concentração, sendo 0,5 – 1,0 mM, a faixa que mostrou o melhor resultado na inibição da quebra do ácido araquidônico (SHUKLA et al., 2007). Em 2010 Dugasani e colaboradores provaram que o 6-gingerol possui atividade antiinflamatória, mas quando comparado ao 6-shogaol ele perde em atividade antiinflamatória. Isso leva a hipótese que o 6-shogaol seria um melhor protótipo para a síntese de drogas na indústria. No entanto, mais estudos devem ser realizados. A atividade antioxidante está relacionada com a presença de compostos fenólicos. O gengibre, rico nesses compostos, portanto, apresenta significativa atividade antioxidante (JUSTO et al., 2009). Ahmed e colaboradores (2000) induziram estresse oxidativo utilizando pesticida (malation) em ratos e verificaram que a introdução de gengibre na dieta desses animais abolia esse efeito. Neste mesmo estudo, foi demonstrado que o efeito de redução da peroxidação lipídica do gengibre é tão eficaz quanto àquela 27 obtida com o ácido ascórbico. Esse efeito influenciou nos níveis enzimáticos da superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase. 1.3.3 Atividade Antimicrobiana O consumo de mais de uma tonelada diária de antibióticos em alguns países da Europa tem resultado na resistência de populações bacterianas, causando assim um sério problema de saúde pública. Isso leva à pesquisa de novas drogas e, consequentemente, o estudo de plantas que possuem essa atividade na medicina popular (BAQUERO e BLAZQUEZ, 1997). Avaliações etnobotânicas do gengibre demonstraram a capacidade de inibição de inúmeros fungos e bactérias patogênicas no homem (F ICKER et al., 2003; JAMES et al., 1999). Estudo realizado por James e colaboradores em 1999, demonstrou que o gengibre foi capaz de inibir a multiplicação de bactérias fermentadoras de carboidratos não digeridos no cólon e é capaz de inibir, in vitro, o crescimento de Escherichia coli, Proteus sp, Staphylococcus sp, Streptococcus sp e Salmonela sp. Estudos mais recentes mostraram que os componentes da raiz do gengibre possuem atividade antibacteriana sobre M. luteus, B. cereus, B. subfilis, Enterobacter aerogenes, Burkholderia pseudomalle, Staphylococcus aureu (PEREIRA, 2002; RUFF et al., 2006). Aguiar e colaboradores 2009 relataram que o extrato glicólico de gengibre e o hipoclorito de sódio têm ação fungicida sobre Candida albicans oral. Entretanto, essa atividade foi superior com o hipoclorito de sódio, pois a atividade fungicida do extrato glicólico de gengibre está limitada à sua concentração máxima de 12,5%. Isso ocorre, pois em maiores concentrações o efeito pungente seria muito pronunciado e poderia ocorrer dano a mucosa bucal. . 1.3.4 Estudos no Combate ao Câncer O 6-gingerol possui inúmeras aplicações na medicina oriental, principalmente, como erva que ―previne‖ vários tipos de câncer. Existem inúmeros 28 tipos de câncer, mas, no Brasil, o câncer de pele é o tipo de mais freqüente, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Kim e colaboradores (2007; 2005) demonstraram que o pré-tratamento com o 6-gingerol foi capaz de reduzir, in vitro, os níveis intracelulares de espécies reativas de oxigênio, induzidas por raios utra-violeta tipo B (UVB). Outro estudo reportou que o 6-gingerol em concentrações de até 25µM foi capaz de induzir apoptose em células da linhagem JB6 (referencia) e que em concentrações a partir de 50µM causou morte dessas células aparentemente por necrose (HUANG et al., 1996). Estudo recente mostrou que o 6-gingerol inibiu a adesão celular, a invasão celular e a atividade de metaloproteinases de matriz na linhagem MDA -MB231 de células tumorais de mama humanas (LEE et al., 2008). Em 2003, Mahady e colaboradores relataram que o Helicobacter pylori é o principal agente associado a úlceras pépticas e posterior desenvolvimento de câncer gástrico e do cólon. O 6-gingerol inibiu o crescimento de cepas de Helicobacter pylori CagA+. Essa atividade protetora pode ser benéfica co ntra o câncer de cólon (ISHIGURO et al., 2007). Em outro experimento realizado em 2009, Chung-Yi e colaboradores mostraram que o 10-gingerol (50-100µM), em concentração dependente, diminuiu a viabilidade celular de câncer colorretal da linhagem SW480. Em modelos de câncer pulmonar uma preparação fitoterápica utilizada na medicina chinesa, composta por cinco ervas, dentre elas o gengibre, inibiu a metástase pulmonar de células de melanoma B16F10 em camundongos através da estimulação de células TCD8 (SUZUKI et al., 1997). Utilizando o 6-gingerol isolado, foi observado que essa substância foi capaz de inibir a angiogênese, consequentemente, diminuir as metástases, quando os camundongos receberam células de melanoma da linhagem B16F10 por via intravenosa (KIM et al., 2005). Com esse resultado foi confirmada a ação dos 29 componentes do gengibre no resultado encontrado em 1997 por Suzuki e colaboradores. Alguns estudos sugerem que o 6-gingerol pode diminuir inflamações na próstata, além de elevar os níveis de prote ínas, como a caspase 9 e a caspase 3, que estão relacionadas a apoptose em células sensíveis a testosterona via upregulacion de p53 (NONN et al., 2007; SHUKLA et al., 2007). 1.3.5 Atividade cardioprotetora e Anti-hipertensiva Estudo mostrou que o gengibre possui efeito sinérgico à nifedipina quanto ao efeito antiagregante plaquetário em voluntários normais e em pacientes hipertensos. Os autores mostraram que a porcentagem da agregação plaquetária induzida por colágeno, ADP e epinefrina em pacientes hipertensos foi maior, em relação aos voluntários normais. Nesse mesmo estudo demonstrou-se que tanto aspirina quanto gengibre poderiam potencializar o efeito antiagregante da nifedipina nos grupos estudados. Uma combinação de 1g de gengibre administrado com 10mg de nifedipina, por dia, pode ser valioso para prevenção de complicações cardiovasculares, devido ao poder da associação na redução na agregação plaquetária (BORDIA et al., 1997). Estudo realizado na Arábia Saudita avaliou o efeito cardioprotetor do 6gingerol frente à Doxorubicina (DOX) - representante da classe das antraciclinas que possui elevado potencial cardiotóxico, o que limita seu uso clínico (STEARE et al., 1995). Ratos wistar, após administração de DOX (20mg/Kg) por via intraperitonial, demonstraram aumento significativo da enzima lactato desidrogenase (LDH) sérica 24 horas a administração. Essa elevação foi inibida quando os animais receberam 6-gingerol (10mg/Kg) como pré-tratamento cinco dias antes da aplicação da DOX (MANSOUR et al., 2008). Nesse mesmo estudo Mansour e colaboraradores (2008) constataram que a aplicação DOX (20mg/Kg) causou aumento de cinco vezes, após 48 horas, da isoenzima cardíaca da creatinoquinase (CK-MB) no soro dos animais e quando o 6- 30 gingerol (10mg/Kg) foi utilizado como pré-tratamento de forma semelhante à anterior, ocorreu uma redução de 58% na atividade dessa enzima. Ghayur e colaboradores (2005) relataram que o extrato de gengibre possui um efeito hipotensor importante e que os canais de cálcio dependentes de voltagem podem estar envolvidos no mecanismo de relaxamento e vasodilatação. Estudos com ratos wistar mostraram a utilização do extrato de gengibre aceleram a taxa a taxa de bombeamento do cálcio, aumentando sua concentração intracelular, sem interferir no seu efluxo, através da ativação da bomba Ca +2-ATPase do retículo sarcoplasmático e que o gengibre possui efeito sinérgico em pacientes que fizeram a combinação de 1g do rizoma com 10mg de nifedipina, por dia (YOUNG et al., 2006, KOBAYSHI et al, 1988; IWASAKI et al, 2006). Ghayur et al., (2005) demonstraram que o extrato de gengibre é capaz de inibir canais de cálcio e que o extrato seco não possuía nenhuma ação sobre a frequência cardíaca e pressão arterial em ratos wistar normotensos. Entretanto, alguns estudos realizados com o extrato do gengibre explorando o potencial anti-hipertensivo mostram resultados controversos, como vasodilatação inicial e posterior vasoconstrição em modelos de anel de aorta (IWASAKI et al. 1988; KOBAYSHI et al. 2006). Por isso, mais pesquisas tem que ser realizadas com as moléculas que estão sendo isoladas para que, com isso, seja mais seguro propor um mecanismo para seu efeito anti-hipertensivo em animais com hipertensão pré-estabelecida. 1.4 Família de Receptores de Potencial Transiente (TRP) Após análise dos resultados obtidos no sistema de perfusão renal, surgiu a hipótese que o 6-gingerol estava agindo através de receptores do tipo TRPV1 que atualmente estão ganhando repercussão por suas ações renais (CATERINA et al, 2007). A pelve renal é bastante inervada por nervos sensoriais aferentes e essa estrutura renal é considerada importante na detecção de estímulos mecânicos, bem como, estímulos químicos que levam a alteração renal da função excretora, incluindo 31 diurese e natriurese (AVELINO et al, 2002; KOOP et al, 1984; GONTIJO et al, 1994). Estudos na literatura demonstram que o TRPV1 pode ser ativado por diversos estímulos, como o calor, compostos com baixo pH, metabólitos derivados dos lipídeos e desequilíbrio osmótico Gontijo, et al; (1994) e Yi e Wang, (2008) demonstraram que a ativação dos receptores TRPV1 causava diurese e natriurese. Zhu et al, 2005 perfundiram capsaicina na pelve renal de ratos e demonstraram que um aumento no fluxo de urina em ambos os rins e que estes achados foram abolidos com sucesso pelo bloqueador deste receptor a capsazepina. Os gingerols possuem uma porção vanílica (Figura 6, a região A), que é considerada importante para a ativação do responsável por conferir afinidade ao sítio vanilóide, e também na região B, responsável por conferir uma conformação estruturar favorável a interação da molécula com o receptor (WALPOLE et al., 1993). A CH3 B O OH O CH3 HO Figura 6 - Regiões importantes para a interação com o receptor A história dos receptores de potencial transitório (TRP) começa na década de 1960, quando Cosens e Manning (1969) descreveram pela primeira vez a existência de uma variante mutante de Drosophila meganobaster que se apresentava cega. Analisando seu sistema visual, foi observado que o fotoceptor apresentava uma resposta transiente à estimulação luminosa prolongada, enquanto 32 que o fotoceptor normal apresentava uma resposta contínua. Já em (1989) os pesquisadores Montell e Rubin descreveram a presença de uma proteína composta por 1275 aminoácidos dispostos em aproximadamente oito segmentos transmembra, sem homologia a outros receptores descritos na literatura da época. Essas descobertas levaram os pesquisadores na busca do gene que codificava esta proteína e em 1992 Phillips e colaboradores encontraram o gene que foi denominado trp-like (trpl), e, também, foi observado que esta proteína possuía homologia com a região do sensor de voltagem de alguns canais de cálcio, sugerindo que este gene poderia codificar subunidades de um canal permeável a cálcio. Atualmente, compreende-se que os receptores de potencial transitório (TRP) são uma família de canais iônicos com a capacidade de permear cátions, principalmente cálcio. Apesar das teorias iniciais descreverem a existência de oito domínios transmembrana, técnicas de imagem por microscopia eletrônica e bioquímica demonstraram que na verdade, os canais TRP são formados por seis domínios transmembrana com a região formadora do poro entre as regiões cinco e seis, e a região sensor de voltagem entre as regiões um e quatro (LATORRE et al, 2009). A cauda C e N terminal apresentam-se voltadas para o lado intracelular, com caráter fortemente hidrofóbico (Fig. 7) (GAUDET, 2009). A região C terminal apresenta variação dentre os diferentes tipos de canais TRP, apresentando diferentes sítios e também uma região conservada (domínio TRP ou TRP box). Esta última região apresenta-se conservada em 11 das 13 isoformas conhecidas em mamíferos atualmente, sendo utilizada como marcador para o rastreamento destes canais. Além disso, alguns canais ainda apresentam sítio de ligação para calmodulina, como o TRPV, ou domínios enzimáticos, como os TRPM (Zhu, 2005). Acredita-se também que estes canais possam se apresentar como homômeros tetraméricos (STRUBING et al., 2001). A região N terminal apresenta-se formada por uma série de resíduos de anquirina, presente na maioria dos canais TRP. Estes resíduos estão dispostos como tijolos empilhados, formando uma superfície estável e rígida para o acoplamento de diversas proteínas ao receptor. Além disso, estes domínios servem como âncoras para o transito do receptor de vesículas até a membrana plasmática, 33 e também para a sua estabilização com a mesma e o cito esqueleto celular. Para alguns receptores, como os TRPVs, alterações nesta região implicam em uma não funcionalidade do mesmo (MONTELL et al., 2005). Figura 7 - Repres entação espacial da estrutura das diferentes famílias de receptores TRP. Adaptado de Mont ell, 2005. 34 JUSTIFICATIVA 35 2. JUSTIFICATIVA A ciência se dedica ao estudo de muitas substâncias derivadas de microrganismos, plantas e animais e o conhecimento dos mecanismos envolvidos em suas ações se faz necessário, pois provenientes destes organismos milhares de substâncias podem ser extraídas e servirem de ferramentas farmacológicas no tratamento de inúmeras enfermidades. Entre esses organismos as plantas são muito importantes, pois diversas culturas as utilizam há milênios com resultados excelentes do ponto de vista terapêutico, mas com poucos dados científicos relacionados com suas ações. O uso de gengibre em doenças cardiovasculares é conhecido há muito tempo na medicina tradicional paquistanesa, pelo seu efeito diurético e por causar redução da pressão arterial (TYLER et al, 1993; MILLER et al, 1998). Curiosamente, alguns estudos foram realizados para tentar elucidar o efeito hipotensor do extrato de gengibre e suas atividades, mas alguns resultados encontrados eram contraditórios (WEIDMAR et al, 2000). Em relação a sua ação diurética conhecida na medicina tradicional, quase nenhum dado científico é conhecido, mas algumas moléculas com características parecidas com o 6-gingerol, como é o caso da capsaisina (extraído da pimenta), estão sendo estudadas por inúmeros grupos de cientistas em todo mundo e em (2008) Li e Wang demonstraram que essa substância aumenta e ritmo de filtração glomerular e a excreção de eletrólitos na perfusão de rim isolado. Entretanto, o uso desta substância como diurética é limitado por possuir um elevado efeito irritante. Portanto este trabalho objetiva avaliar os efeitos renais e pressóricos promovidos pelo o 6-gingerol isolado do gengibre, além de avaliar se o efeito diurético promovido pelo gengibre é causado pelo 6-gingerol. 36 OBJETIVOS 37 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Avaliar os efeitos renais, cardíacos e pressóricos do 6-gingerol isolado do gengibre (Zingiber officinale Rosce) em animais normais e hipertensos, visando obter resultados que possam subsidiar a elucidação de seu mecanismo de ação fisiológico, bem como confirmar aspectos farmacológicos descritos na medicina popular na busca de novas ferramentas farmacológicas. 3.2 Objetivos Específicos - Estudar os efeitos renais do 6-gingerol em rim isolado de rato; - Avaliar as alterações na pressão arterial promovidas pelo 6-gingerol em ratos anestesiados; - Observar as alterações histológicas em rim e coração após o tratamento com o 6gingerol. - Estudar o efeito do 6-gingerol sobre a viabilidade de células tubulares (MDCK); 38 MATERIAIS E MÉTODOS 39 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Perfusão de Rim Isolado 4.1.1 Animais de Experimentação Serão utilizados ratos Wistar adultos, machos, entre 250 e 300g. Os animais serão mantidos em jejum durante as 12 horas que antecedem cada experimento apenas com água ―ad libitum” e os grupos experimentais (n = 6). 4.1.2 Substâncias Utilizadas Foi utilizado o 6-gingerol que gentilmente foi fornecido pelo professor pesquisador Dr. Paulo Cezar Vieira e o Dr. Jame’s Almada da Silva da Universidade Federal de São Carlos. No procedimento cirúrgico foram utilizados pentobarbital sódico a 3% (Cristália), manitol (Reagen) e heparina (Cristália). A solução empregada nos experimentos foi a de Krebs-Henseleit modificada contendo as seguintes substãncias com suas respectivas concentrações: 114.0mM de NaCl; 4.96mM de KCl; 1.24mM de KH2PO4; 0.5mM de MgSO4.7H2O; 24.99mM de NaHCO3; 2.10mM de CaCl2.2H2O; 3.60mM de glicose e albumina bovina a 6% peso por volume. 4.1.3 Preparo da Solução Perfusora A solução de Krebs-Henseleit modificada (FONTELES, 1998), concentrada 20x, continha NaCl = 138g, KCl = 7g, NaH2PO4.H2O = 3,2g, MgSO4. 7 H2O = 5,8g e Uréia = 10g. Quarenta e oito horas antes dos e xperimentos, 100mL desta solução foram separados e acrescidos de NaHCO3 = 4,2g , CaCl2 . 2 H2O = 0,74g, glicose = 2g, e penicilina G potássica cristalina = 0,05g. Em seguida, o volume foi completado para 2000 mL com água bidestilada. Foram retirados 300 mL desta solução, aos quais se adicionou albumina bovina (6g%). Em seguida, solução foi dializada com albumina, auxiliada por um homogeneizador. A diálise tem como 40 objetivo retirar substâncias contaminantes como piruvatos, citratos e lactatos (HANSON e BALLAR, 1968; COHEN, KOOK e LITTLE,1977; ROSS, 1978). A solução de Krebs-Henseleit para a diálise foi trocada com 24 horas. No final, após 48 horas de diálise, a solução perfusora foi acrescida com 0,15g de inulina. O pH da solução perfusora foi ainda ajustado entre os valores de 7,3 e 7,4. 4.1.4 Sistema de Perfusão Renal Necessidade do conhecimento dos mecanismos de controle da função renal levou inúmeros pesquisadores a desenvolverem a técnica de perfusão de rim isolado. Esta técnica permite o estudo da função renal na ausência de influências sistêmicas (NIZET, 1975). O nosso sistema consiste na perfusão de rim isolado com recirculação (FONTELES et al., 1983) com dois subsistemas, um in situ e outro em circuito fechado, para perfusão in vitro, ambos mantidos à temperatura de 37 ºC. Este sistema apresenta a vantagem da manutenção constante de parâmetros funcionais renais com utilização de albumina na solução perfusora, em menor volume, mantendo constante as substâncias dialisáveis com oxigenação adaptada ao próprio sistema como demonstrado nas figuras 8 e 9. Figura 8 - Sistema de perfusão renal. Fonte: LAFAVE T – UFC 41 Figura 9 - Desenho esquemático do sistema de perfusão de rim isolado. Fonte: LAFAVE T – UFC. 4.1.5 Calibração do Siste ma de Perfusão de Rim Isolado de Rato A calibração do sistema foi realizada antes de cada experimento com uma solução de cloreto de sódio a 0,9% mantida a 37°C. Foram observados para cada unidade da bomba de perfusão (1, 2, 3, 4 e 5) a pressão de perfusão (mmHg), o fluxo da solução no sistema (L/min) e o volume de solução coletado em um minuto 42 (mL/min). Para uma melhor adaptação do sistema às unidades, a coleta de dados foi realizada em intervalos de 2 minutos. As figuras 10, 11 e 12 mostram que o sistema manteve-se constante em todos os grupos experimentais. Figura 10- Valores de pressão de perfusão (PP) registrados durant e a calibração do sistema (n=6). Figura 11 - Valores registrados pelo fluxômet ro (L/min.) durante a calibração do sistema (n=6). 43 Figura 12- Valores de volume de solução (mL/min) registrados durante a calibraç ão do sistema (n= 6). 4.1.6 Técnica Cirúrgica As cirurgias foram realizadas segundo o método descrito por Balhlmann et al. (1967); Nishiitsutji-Uwo et al. (1967); Ross, (1978) e Fonteles et al. (1983). Os animais (n=6) foram anestesiados com pentobarbital sódico na dose de 50mg/Kg de peso corporal. Inicialmente, a veia femoral foi isolada e manitol (100mg/mL – 3 mL independentemente do peso) foi administrado (Figura 13), a fim de facilitar a visualização e a fixação da cânula ao ureter. Após assepsia da parede abdominal, procedeu-se uma incisão mediana e duas incisões perpendiculares à linha alba para uma melhor observação das estruturas anatômicas. 44 Figura 13 - Administração de manit ol (100mg/mL – 3mL independentemente do peso) pela veia femoral no animal anestesiado. Com uma lupa (aumento de 7 vezes) o ureter foi identificado, dissecado e canulado – tubo de polietileno PE-30 (Fig. 11), bem como a artéria mesentérica superior, artéria renal (Fig. 12) e a glândula supra-renal identificadas. O rim direito foi descapsulado e a glândula supra-renal isolada. Outra cânula metálica foi introduzida na artéria mesentérica superior até a artéria renal, onde foi fixada (Fig. 13). 45 Figura 14 - Identificação e dissecação do ureter (A) e ureter canulado (B). 46 Figura 15 - Visualização da artéria mesentérica (A), da artéria renal (B) e também da art éria aorta (C). Figura 16 - Canulaç ão da artéria renal realizada através da artéria mesent érica. 47 Durante o procedimento cirúrgico, uma parte da solução já oxigenada (40mL) foi desviada para o sistema de perfusão in situ, para perfundir o rim ainda in vivo, evitando qualquer isquemia ao órgão. Finalmente, o rim foi transportado para o sistema de perfusão in vitro, sem a interrupção do fluxo (Fig. 17). Figura 17 - Rim de rato isolado no sistema de perfusão. 48 4.1.7 Protocolo Experimental Os experimentos foram iniciados após a estabilização e adaptação do órgão às novas condições. Após os 30 minutos iniciais, considerados como controle interno, foi adicionada a substância-teste e observadas as mudanças nos parâmetros renais até os 120 minutos. A cada cinco minutos foram registrados a pressão de perfusão e o fluxo de perfusão em manômetro e fluxômetro, respectivamente. Amostras de urina e perfusato foram coletadas a cada dez minutos, e depois congeladas a -20 °C para posterior dosagem de sódio, potássio, cloreto, inulina e osmolaridade, importantes no cálculo dos parâmetros da função renal. 4.1.8 Análises Bioquímicas Nas amostras de urina e perfusato foram realizadas determinações de sódio, potássio e cloreto pelo método do íon eletrodo seletivo (RapidChem 744 Bayer®diagnóstica). Essas determinações foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. A inulina do perfusato e da urina foi determinada por hidrólise direta, conforme Walser et al. (1955) e Fonteles et al. (1983), com modificações que reduziram as quantidades de amostras e reagentes utilizados. Esse parâmetro foi determinado no Laboratório de Farmacologia de Venenos e Toxinas (LAFAVET) do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. A osmolaridade das amostras de urina e perfusato foram medidas utilizando um osmômetro (Osmômetro de Pressão a Vapor - modelo WESCOR® Vapro 5520). 49 4.1.9 Cálculo dos Parâmetros Funcionais Renais -1 -1 1. FU (mL.g . min ) = Fluxo urinário FU = (Peso do volume urinário / Peso do rim esquerdo) x 10 2. PP (mmHg) = Pressão de perfusão. Leitura em manômetro -1 -1 3. RFG (mL.g .min ) = Ritmo de filtração glomerular RFG = (DOU in / DOP in x FU) sendo DOU in = densidade ótica da inulina na urina e DOP in = densidade ótica da inulina no perfusato -1 -1 4. FPR (mL.g .min ) = Fluxo de perfusão renal (registrado a cada 10 min/peso do rim/intervalo de tempo) -1 -1 5. RVR (mm Hg/mL.g .min ) = Resistência vascular renal RVR = PP (mmHg) / FPR + -1 -1 6. FNa (μEq.g . min ) = Sódio filtrado + + FNa = RFG x PNa+ (PNa = Concentração de sódio no perfusato) + -1 -1 7. ENa (μEq.g . min ) = Sódio excretado + + + ENa = FU x UNa (UNa = Concentraç ão de sódio na urina) + -1 -1 8. TNa (μEq.g . min ) = Sódio transportado + + + TNa = FNa - ENa + 9. %TNa = Percentual de sódio transportado + + + %TNa = TNa x 100 / FNa 10. %TpNa+ = Percentual de sódio proximal transportado + + + %TpNa = TpNa x 100 / FNa + -1 -1 11. FK (μEq.g . min ) = Potássi o filtrado + + + FK = RFG x PK (PK = concentração de potássio no perfusat o) + -1 -1 12. EK (μEq.g . min ) = Potássio excretado + + + EK = FU x UK (UK = Concent ração de potássio na urina) + -1 -1 13. TK (μEq.g . min ) = Potássi o transportado + + TK = FK - EK + + 14.TK = Percentual de potássi o transportado + + %TK = TK x 100 / FK + + 15. %TpK = Percentual de potássio proximal transportado + + %TpK = TpK x 100 / FK -1 + -1 16. TCl- (μEq.g . min ) = Cloreto transportado TCl – = FCl – - ECl – 17. % TCl- = Percentual de cloreto transportado % TCl – = TCl – x 100 / F TCl – 18. % TpCl- = Percentual de cloreto proximal transportado % TpCl – = TpCl – x 100 / F TCl – Quadro 1 - Cálc ulos para determinação dos parâmetros funcionais renais. 50 4.1.10 Análise Histológica Após cada experimento, ambos, rim direito (perfundido) e rim esquerdo (controle), foram coletados e fixados numa solução de formal a 10%, para posterior análise histológica. Os fragmentos obtidos foram submetidos à desidratação, diafanização, e, em seguida, cortados em uma espessura de 5μm. Foram realizadas colorações de hematoxilina-eosina (HE) e as lâminas analisadas através de um microscópio óptico (NIKON). Todas as lâminas foram confeccionadas e analisadas no Laboratório de Patologia-BIOPSE pelo Prof. Dr. Dalgimar Beserra de Menezes. 4.1.11 Análise Estatística Foi usado o programa estatístico GraphPrism 5.0 para análise dos dados, que foram expressos como a média ± erro padrão da média (E.P.M.) de seis experimentos em cada grupo. Todas as tabelas e gráficos que avaliaram os parâmetros renais foram estudados de acordo com a variável tempo, compilados em quatro grupos de 30 minutos denominados: 30, 60, 90 e 120 minutos. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (ANOVA), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos) e teste t de Student como comparativo entre os grupos controle e tratado. O critério de significância utilizado foi p<0,05. 4.2 Efeitos na Pressão Arterial Média de Ratos Anestesiados 4.2.1 Animais de Experimentação Ratos Wistar, machos, pesando de 250-300 g foram submetidos a jejum de 24 horas. 4.2.2 Técnica Cirúrgica Após o jejum os animais foram anestesiados com pentobarbital sódico (50 mg/kg) e submetidos à cirurgia. A traquéia foi isolada e uma curta cânula de polietileno (PE 120) foi inserida nos animais por meio de traqueostomia, permitindo 51 um fluxo respiratório espontâneo e a fácil aspiração de eventuais secreções brônquicas. Figura 18 - Localização anatômica da artéria e veia femural e posicionamento dos cateteres arterial (vermelho) e venoso (azul). Após a traqueostomia, dois cateteres de polietileno (PE10 conectado a PE50) pré-enchidos com heparina (500 UI.mL -1 em salina isotônica) foram implantados na aorta abdominal (para registro da Pressão Arterial Média e Frequência Cardíaca) e na veia cava inferior (para administração de drogas), ambos 1 cm abaixo da artéria renal, conforme técnica descrita previamente (LAHLOU et al., 1999; SIQUEIRA, 2005). 4.2.3 Protocolo Experimental Foram utilizadas quatro doses para executar a curva dose-resposta 30, 100, 300 e 1000 µg/Kg e os resultados foram expressos em percentagem de queda frente ao valor basal. 52 4.2.4 Sistema de Aquisição de Dados No momento do experimento, o cateter aórtico foi acoplado a um transdutor de pressão piezo-elétrico (Braile BXSN) acoplado ao sistema de amplificação de sinal com interface USB (DATAQ DI-148U) e utilizando o software de aquisição de dados WinDaq/Lite. A P.A.M. e a F.C. foram diretamente calculadas pelo software (Figura 19). Figura 19 - Sistema de aquisição de dados. 4.2.5 Análise Histológica Após cada experimento os rins e o coração foram coletados e fixados em uma solução de formal a 10%, para posterior análise histológica. Os fragmentos obtidos foram submetidos à desidratação, diafanização, e, em seguida, cortados em uma espessura de 5μm. Foram realizadas colorações de hematoxilina-eosina (HE) e as lâminas analisadas através de um microscópio óptico (NIKON). Todas as lâminas foram confeccionadas e analisadas no Laboratório de Patologia-BIOPSE pelo Prof. Dr. Dalgimar Beserra De Menezes. 53 4.3 Avaliação da Atividade do 6-gingerol sobre as Células Tubulares Renais (MDCK) 4.3.1 Linhagem Celular As células utilizadas foram células tubulares renais do tipo MDCK (MadinDarby Canine Kidney) que foram cultivadas no Laboratório de Cultura Celular (LCC) do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará. 4.3.2 Cultivo e Tratamento das Células MDCK Foram cultivadas em garrafas de polietileno para cultura (volume de 250mL) e o meio de cultura usado foi o RPMI 1640 (Gibco) suplementado com 10% v/v de Soro Bovino Fetal (SBF), penicilina (100UI/mL) e estreptomicina (100μg/mL). As células foram incubadas a 37ºC, em atmosfera com 95% de umidade e 5% de CO2. Antes de cada experimento as células foram armazenadas em meio sem SBF por 24h para a obtenção de células na fase G0 do ciclo celular. Para cada experimento o meio de cultura foi removido e as células foram incubadas com tripsina-EDTA (0,25/0,02% v/v) a 37ºC por aproximadamente 10min. A tripsina foi inativada adicionando o mesmo volume de meio com SBF. A suspensão foi então centrifugada a 200g por 10min (MARTINS et al. 2005; CHAIM, 2005). O sobrenadante foi descartado e as células re-suspensas em meio de cultura. As células foram então quantificadas em câmara de Neubauer e plaqueadas (1x105céls/poço) permitindo o crescimento confluente por 2h. As células então foram avaliadas na presença de diferentes concentrações de 6-gingerol, solubilizadas em DMSO a 1% e pH 7.4. Foram realizados experimentos com os tempos de 6 horas e 24 horas. Após esses períodos também foram realizados ensaios de viabilidade (Figura 26). 54 Figura 20 – Fluxograma do cultivo e tratamento das células MDCK. Font e: LCC – Laborat ório de Cultivo Celular. As alíquotas de células para estoque foram mantidas em meio de cultura RPMI 1640 acrescido de SBF a 50% e DMSO a 10%, congeladas primeiramente à 80°C e mantidas em nitrogênio líquido (F RESHENEY, 2000). 4.3.3 Ensaio Colorimétrico com Sal de Tetrazolium (MTT) As células MDCK foram divididas em três grupos: Grupo 1: Células tratadas com 6-gingerol nas concentrações (1µM; 3 µM; 10 µM; 30 µM; 100 µM) Grupo 2: Células tratadas com Capzasepina nas concentrações (1 µM; 3 µM; 10 µM; 30 µM; 100; 300 µM) Grupo 3: Células tratadas com 6-gingerol (10 µM), capzasepina (30 µM) e combinação destas. 55 Antes dos tratamentos as células foram adicionadas a placas de 96 poços com densidade de 1 x 10 5 e tratadas de acordo com os grupos citados acima em dois tempos de encubação; 6 horas e 24 horas. Após a exposição das células as substâncias, 100μL de sobrenadante de cada poço foi retirado e então adicionado 3(4,5-dimetilazil-2-il)-2,5 difenil tetrazólico (MTT) (Sigma) 2,5 mg/mL dissolvido em PBS. Este método baseia-se na atividade metabólica de células viáveis, formando um produto colorido (sal de formazan, que é insolúvel em água). Após incubação por 4 horas, à 37ºC, em estufa com 5% de CO2, o sobrenadante foi removido e então foi adicionado dodecil sulfato de sódio 10% (SDS – 10%) em HCL 0,01N para solubilizar os cristais de formazan formados. As placas foram incubadas por 17h e em seguida foi realizada a leitura em espectrofotômetro (570nm). Os ensaios foram realizados em triplicata (MOSMANN,1983) e a viabilidade celular foi determinada por comparação entre as absorbâncias encontradas nos grupos tratados e a absorbância média do grupo controle (representa 100% de células viáveis). 4.3.4 Aspectos Éticos Todos os nossos experimentos foram feitos de acordo com as recomendações do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais (CEPA) da Universidade Federal do Ceará, sob o número 55/09. 56 RESULTADOS 57 5. RESULTADOS 5.1 Avaliação da Atividade do 6-gingerol e da Capzasepina sobre as Células MDCK O 6-gingerol apresentou redução da viabilidade apenas na dose de 30µM no período de incubação de 6 (seis) horas, quando comparados com o controle (Controle: 100,0 ±1,024; 1µM: 112,7 ± 7,736; 3µM 107,2 ± 0,1138; 10µM 111,4 ± 3,640; 30µM 92,95* ± 0,2275) (Fig. 21). Não foi observada redução da viabilidade das células MDCK no grupo da capzasepina e no grupo da combinação das duas substâncias quando comparados ao controle (Figura. 21 e Figura. 22, respectivamente). 5.2 Experimento com 6 horas de Incubação Figura 21 - E feitos do 6-Gingerol em células tubulares renais (MDCK ). Ensaio com MTT os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percentual de células viáveis após um período de incubação de 6 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (A NOVA ), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos). O critério de significância utilizado foi de p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao grupo cont role (n=9) . 58 % Viabilidade capsazepina Viabilidade celular (%) 150 100 50 0 Controle 1 3 10 30 Concentrações (/M) Figura 22 - E feitos da Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percentual de células viáveis após um período de incubação de 6 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (A NOVA ), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos). O critério de significância utilizado foi de p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao grupo cont role (n=9) . % Viabilidade combinação Viabilidade celular (%) 150 100 50 0 Controle 6-Ging 10 Cap 30 Cap+6-Ging Concentrações (/M) Figura 23 - Efeitos do 6-Gingerol + Capsaz epina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT os dados são ex pressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percent ual de células viáveis após um período de incubação de 6 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (A NOVA), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação ent re os grupos). O critério de significância utilizado foi de p<0,05. * significa p<0, 05 em relação ao grupo controle (n=9). 59 5.3 Experimento com 24 horas de Incubação O 6-gingerol causou uma redução da viabilidade das células MDCK analisadas nas concentrações de 30 µM e 100 µM (30 µM 65,22* ± 2,47; 100 µM 6,347* ± 0,03534) (Figura 24). A capsazepina causou uma redução da viabilidade das células MDCK nas doses de 100 µM e 300 µM (100 µM 73,793* ± 2,13; 300 µM 40,293* ± 1,88) (Figura 25). No grupo de união das duas substâncias 6-gingerol 10 µM e capsazepina 30 µM não houve redução significativa da viabilidade (Figura 26). Neste mesmo gráfico pode ser visto um aumento da viabilidade com a capsazepina na dose de 30 µM. Figura 24 - E feitos do 6-Gingerol em células tubulares renais (MDCK ). Ensaio com MTT os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percentual de células viáveis após um período de incubação de 24 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (A NOVA ), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos). O critério de significância utilizado foi de p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao grupo cont role (n=9). 60 Figura 25 - E feitos da Capsazepina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percentual de células viáveis após um período de incubação de 24 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (A NOVA ), com pós-teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos). O critério de significância utilizado foi de p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao grupo cont role (n=9) . Figura 26 - Efeitos do 6-Gingerol + Capsaz epina em células tubulares renais (MDCK). Ensaio com MTT os dados são ex pressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) da absorbância e representam o percentual de células viáveis após um período de incubação de 24 horas. Os dados foram avaliados através de Análise da Variância (ANOVA ), com pós -teste de Dunnett´s (múltipla comparação entre os grupos). O critério de significância utilizado foi de p< 0,05. * significa p<0,05 em relação ao grupo controle (n=9). 61 5.4 Avaliação da Atividade do 6-gingerol na Pressão Arterial Média de Ratos Anestesiados Administrações consecutivas de doses crescentes do 6-gingerol produziram redução significativa da pressão arterial média em relação ao controle em todas as doses utilizadas. A análise estatística destes percentuais máximos de redução da pressão arterial mostrou que a redução foi significativa em relação aos valores da dose imediatamente menor em todas as doses utilizadas, conforme ilustrado na Figura 27. Os percentuais de redução foram: dose 30 µg/Kg (19,47 ± 3,055); dose 100 µg/Kg (24,09 ± 3,644 ); 300 µg/Kg (41,00 ± 6,092 ); 1000 µg/Kg (52,88 ± 3,372). 6-GINGEROL Pressão Arterial (%) 0 -20 * * -40 * -60 30 100 300 1000 Dose (g/kg) Figura 27 - Relaç ão dos e-efeit o da administração de 6-gingerol, em bolus, em ratos anestesiados com pent obarbital sódico (50 mg/Kg), no percent ual de reduç ão da pressão arterial. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por análise de variância (A NOVA), com pós -t este de B onferroni, e pelo teste t de Studente, com *p < 0,05. A figura 28 demonstra a redução significativa na pressão arterial média em valores absolutos quando comparados com controle. As médias dos grupos controle (120,30 ± 3,022); (121,95 ± 3,055); (117,60 ± 4,644); (116,20 ± 4,092); (119,40 ± 5,372) e tratados com o 6-gingerol nas doses de 30 µg/Kg, 100 µg/Kg, 300 µg/Kg, 1000 µg/Kg, respectivamente: (119,84 ± 3,049); (98,100* ± 3,001); (94,950** ± 3,644); (81,550** ± 6,092); (56,670*** ± 4,372). 62 Pressão Arterial em Valores Abasolutos Controle Tratado Pressão Arterial 140 120 * 100 * 80 ** *** 60 40 20 0 0 30 100 300 1000 Dose (g/kg) Figura 28 - Relaç ão dos e-efeit o da administração de 6-gingerol, em bolus, em ratos anestesiados com pentobarbital sódico (50 mg/Kg), na pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por análise de variância (ANOVA), com pós-teste de Bonferroni, e pelo teste t de Studente, com *p < 0,05. 5.5 Análise Histológica Na análise histológica do tecido cardíaco após o experimento de pressão arterial com 6-gingerol não foi observada nenhuma alteração. (Figura 29). 63 Figura 29 - Aspecto morfológico normal do tecido cardíaco do grupo analisado através de microscopia óptica (aument o de 400x e coloração de hematoxilina-eosina). Na análise histológica dos rins após o experimento de pressão arterial com 6gingerol não foi observada nenhuma alteração. Os glomérulos e túbulos não apresentaram deposição de material proteináceo e os vasos e o interstício apresentaram aspecto normal. (Figura. 29). 64 Figura 30 - Aspecto morfológico normal dos rins do grupo analisado através de microscopia óptica (aumento de 400x e coloração de hematoxilina-eosina). 5.6 Perfusão de Rim Isolado Frente ao 6-gingerol Com a realização deste estudo pode-se observar um aumento na pressão de perfusão aos 90 e 120 minutos na dose de 3µM quando comparada ao grupo controle interno (c) (PPc 101.0 ± 1.615; PP90’108.5* ± 1.889; PP 120’ 118.2** ± 2.949; p<0,05, ** p<0,01; *** p<0,0001). Em relação às outras doses utilizadas 10 µM e 30 µM houve aumento significativo em todos os tempos estudados quando comparados ao grupo controle interno (PPc 108.2 ± 2.322; PP60 113.7 ± 5.975** ; PP90 124.9 ± 4.346**; PP120 133.5 ± 3.947**); (PPc 94.08 ± 1.669; PP60 101.1 ± 1.834**; PP90 109.9 ± 2.714***; PP120 119.4 ± 3.856***) (Fig. 31). 65 A resistência vascular renal sofreu aumento significativo em nossos estudos apenas nos tempos de 90 e 120 minutos quando comparados com o controle interno na dose de 10 µM (RVRc 5.416 ± 0.4566; RVR90 6.417 ± 0.431*; RVR120 6.644 ± 0.423*) (Fig. 32). O fluxo urinário mostrou aumento significativo nos tempos de 90 e 120 minutos quando comparados com o controle interno, nas doses de 10 µM e 30 µM (FUc 0.09042 ± 0.007655; FU60 0.1198 ± 0.01258**; FU90 0.1494 ± 0.01426**; FU120 0.1759 ± 0.01473***); (FUc 0.06346 ± 0.002895; FU60 0.07322 ± 0.002686**; FU90 0.1249 ± 0.008615***; FU120 0.1785 ± 0.02449***) (Fig. 33). Outro parâmetro estudado e que sofreu redução significativa em todas as doses utilizadas 3 µM, 10 µM e 30 µM e em todos os períodos analisados, quando foram comparados com o controle interno, foi o ritmo de filtração glomerular (RVRc 0.4260 ± 0.035200; RVR60 0.1810 ± 0.018330***; RVR90 0.1815 ± 0.007558***; RVR120 0.1944 ± 0.023520***); (RVRc 0.40950 ± 0.05275; RVR60 0.26820 ± 0.04320**; RVR90 0.24630 ± 0.03700**; RVR120 0.20250 ± 0.02703***); (RVRc 0.41080 ± 0.02037; RVR60 0.29120 ± 0.02258**; RVR90 0.30513 ± 0.01768**; RVR120 0.28280 ± 0.02631**) (Fig.34). O transporte tubular de sódio foi reduzido de forma significativa em todas as doses 3 µM, 10 µM e 30 µM utilizadas e em todos os tempos estudados quando comparados com o controle interno (%TNac 81.88 ± 1.856; %TNa60 63.30 ± 2.312***; %TNa90 63.38 ± 2.316***; %TNa120 61.32 ± 3.494***); (%TNac 83.13 ± 1.856; %TNa60 68.93 ± 3.627**; %TNa90 69.06 ± 1.600**; %TNa 120 46.47 ± 2.907***); (%TNac 83.51 ± 2.541; %TNa60 61.78 ± 5.842***; %TNa90 62.20 ± 4.255 ***; %TNa120 61.30 ± 3.943 **) (Fig.35). O transporte tubular de potássio sofreu alterações da mesma forma que o transporte de sódio, ocorrendo redução de maneira semelhante: (%TKc 70.21 ± 2.596; %TK60 39.75 ± 4.264 ***; %TK 90 41.22 ± 3.495***; %TK 120 39.56 ± 4.560***); (%TKc 72.08 ± 4.108; %TK 60 45.21 ± 5.822 **; %TK 90 46.23 ± 2.523 **; %TK 120 37.78 ± 2.259***); (%TKc 65.28 ± 4.321; %TK 60 34.78 ± 6.734 ***; %TK 90 33.05 ± 7.716***; %TK 120 39.68 ± 5.918**) (Fig. 36). 66 O transporte de cloretos também foi reduzido em todos os tempos estudados e com as doses utilizadas 3 µM, 10 µM e 30 µM de 6-gingerol (%TClc 78.25± 4.284; %TCl60 51.79 ± 1.675***; %TCl90 51.80 ± 1.060***; %TCl120 52.62 ± 2.302***); (%TClc 80.95 ± 2.955; %TCl60 64.14 ± 4.572**; %TCl90 66.42 ± 2.410**; %TCl120 36.08 ± 3.974***); (%TClc 81.27 ± 2.567; %TCl60 60.78 ± 4.999**; %TCl90 56.95 ± 4.598**; %TCl120 61.09 ± 5.209**) (Fig. 37). 5.7 Efeitos do 6-gingerol nos Parâmetros Renais. Figura 31 - Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente na pressão de perfusão os dados são ex pressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro perí odos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001. 67 RVR RVR (mmHg.mL/g/min) 8 6 * * DMSO 3 10 30 4 2 0 30 60 90 120 Tempo (min) Figura 32 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente na resistência vascular renal os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro perí odos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por A NOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p<0,05 em re lação ao controle interno (n=6). Figura 33 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no fluxo urinário os dados são expressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quat ro períodos de 30 minut os (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por A NOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p<0,05 em relação ao controle interno. 68 Figura 34 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no ritmo de filtraç ão glomerular os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minut os (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relaç ão ao controle interno (n=6). Figura 35 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de s ódio os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relaç ão ao control e interno (n=6). 69 Figura 36 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de potássio os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relaç ão ao controle interno (n=6). Figura 37 - Efeitos renais promovidos pelo 6 -gingerol nas concentraç ões de 3 µM, 10µM, 30 µM e DMSO utilizado como diluente no percentual de transporte de cloreto os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relaç ão ao controle interno (n=6). 70 5.8 Análise histológica dos grupos da perfusão renal. Na análise histológica dos rins perfundidos com 6-gingerol na dose com DMSO 1% não apresentaram deposição de material proteináceo e os vasos e o interstício apresentaram aspecto normal (Figura 38). Figura 38 - Corte histopatológico de rim perfundido soment e com solução de K rebs -Hanseleit modificada e DMSO 1% por 120 min (n=6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 100X). Na análise histológica dos rins perfundidos com 6-gingerol na dose de 3 µM não foi observado nenhuma alteração nos glomérulos, túbulos, interstícios e vasos (Figura 39). 71 Figura 39 - Corte histológico de rim direito perfundido com 6-gingerol 3 µM (n=6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 400X). Na análise histológica dos rins perfundidos com 6-gingerol na dose de 10 µM não foi observado nenhuma alteração nos glomérulos, túbulos, interstícios e vasos (Figura 40). 72 Figura 40 - Corte histológico de rim direito perfundido com 6-gingerol 10 µM. (n= 6, coloração de hematoxilina-eosina, aumento 400X). Na análise histológica dos rins perfundidos com 6-gingerol na dose de 30 µM foi observado deposição de material proteináceo no espaço de Bowman e intensa deposição de material proteináceo nos túbulos. Entretanto, os vasos e os interstícios não apresentaram nenhuma alteração (Figura 41). 73 Figura 41 - Corte histológico de rim direito perfundido c om 6-gingerol 30 µM (n=6, coloraç ão de hematoxilina-eosina, aumento 400X). 5.9 Efeitos do 6-gingerol frente ao Bloqueio do TRPV1 com Capzasepina. A administração do 6-gingerol causou um aumento na pressão de perfusão aos 60, 90 e 120 minutos na dose de 10 µM quando comparada ao grupo controle interno (c) (PPc 94.08 ± 1.669; PP60’ 101.10* ± 1.834; PP90’ 109.90* ± 2.714; PP120’ 119.40* ± 3.856) *p<0,05 (Figura 42). No grupo controle com capsazepina 30 µM houve uma aumento significativo apenas no tempo de 60 minutos (PP60 100.15* ± 4.800) (Figura 42) O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM demonstrou uma atenuação do aumento da pressão de perfusão nos tempos de 60 e 90 minutos, mas não no tempo de 120 minutos (PP 90 115.90* ± 6.698) (Figura 42). 74 Figura 42 - Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM na pressão de perfusão os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro p eríodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relaç ão ao controle interno (n=6). A resistência vascular renal sofreu aumento significativo em todos os tempos de 60, 90 e 120 minutos quando comparados com o controle interno na dose de 10 µM (RVRc 3.973 ± 0.1700; RVR60 4.266 ± 0.1739*; RVR90 4.632 ± 0.1872*; RVR120 5.039 ± 0.2480*) (Figura 43).. A utilização da capsazepina 30 µM mostrou um aumento significativo na resistência vascular renal no tempo de 60 minutos quando comparado com o controle interno (RVR60 4.33 ± 0.187*) (Figura 43. O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter o aumento da resistência vascular renal. No entanto, a comparação entre grupos no mesmo período de tempo 120 minutos, demonstrou uma redução significativa neste parâmetro. (RVR120 5.039 ± 0.2480; 4.933# ± 0.2429) (Figura 43). 75 Figura 43 - Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM na resistência vascular renal os dados são expressos por média ± Erro P adrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minut os (30, 60, 90 e 120 minut os). A análise estatística foi feita por A NOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p<0,05 em relação ao controle interno (n= 6); # significa p<0,05 em relação ao grupo trat ament o (n= 6) no mesmo período avaliado. O fluxo urinário foi aumento de forma significativa no grupo com 6gingerol na dose de 10 µM quando comparados de maneira tempo dependente (FUc 0.09942 ± 0.007655; FU60 0.11980 ± 0.010580*; FU90 0.14940 ± 0.012260*; FU120 0.17590 ± 0.012730*) (Figura 44). A utilização da capsazepina 30 µM não demonstrou alteração significativa no fluxo urinário nos tempos estudados (Figura 44). O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter o aumento do fluxo urinário. No entanto, a comparação entre grupos no mesmo período de tempo 120 minutos, demonstrou uma redução significativa neste parâmetro. (FU120 0.11000 ± 0.013600; 0.1466# ± 0.017600) (Figura 44). 76 Figura 44 - Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no fluxo urinário os dados são expressos por média ± Erro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minut os (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0, 05 em relação ao controle interno (n=6); # signific a p<0,05 em relação ao grupo tratamento (n=6) no mesmo período avaliado. O ritmo de filtração glomerular foi reduzido em todos os tempos estudados houve uma queda no grupo do 6-gingerol na dose 10 µM quando comparados com o controle interno (RFGc 0.40500 ± 0.04875; RFG60 0.26820 ± 0.04320**; RFG90 0.24630 ± 0.03700**; RFG120 0.20250 ± 0.02703**) (Figura 45).. O grupo da capsazepina 30 µM não alterou de forma significativa o ritmo de filtração glomerular (Figura 45). O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter a queda do ritmo de filtração glomerular, mas o bloqueio com a capsazepina consegui recuperar parcialmente este ritmo no tempo de 120 minutos quando comparado com o grupo do 6-gingerol no mesmo período estudado, 120 minutos (RFG120 0.20250 ± 0.02703; 0.3308# ± 0.03859) (Figura 45). 77 Figura 45- Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na conc entraç ão de 30 µM no ritmo de filtração glomerular os dados são expressos por média ± Erro P adrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minut os (30, 60, 90 e 120 minut os). A análise estatística foi feita por A NOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p<0,05 em relação ao controle interno (n= 6); # significa p<0,05 em relação ao grupo trat ament o (n= 6) no mesmo período avaliado. . O transporte tubular de sódio foi reduzido de forma significativa em todos ostempos estudados na dose 10 µM utilizadas quando comparados com o controle interno (%TNac 83.13 ± 1.856; %TNa60 72.93 ± 3.627*; %TNa90 75.06 ± 1.600*; %TNa120 46.47 ± 2.907*) (Figura 46). O percentual de transporte de sódio não foi alterado de forma significativa no grupo com capsazepina 30 µM (Figura 46). O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter a redução do percentual de transporte tubular de sódio,mas o bloqueio com a capsazepina consegui reduzir esta perca no tempo de 120 minutos quando comparado com o grupo do 6-gingerol no mesmo período estudado, 120 minutos (%TNa120 46.47 ± 2.907; 56.65# ± 4.886) (Figura 46). 78 Figura 46- Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de sódio os dados são expressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0, 05. * significa p< 0,05 em relação ao controle interno (n=6); # significa p<0,05 em relação ao grupo tratamento (n= 6) no mesmo período avaliado. . O transporte tubular de potá ssio foi reduzido de forma significativa em todos ostempos estudados na dose 10 µM utilizadas quando comparados com o controle interno (%TKc 76.08 ± 4.108; %TK60 54.21 ± 5.822*; %TK90 61.23 ± 2.523*; %TK120 37.78 ± 2.259**) (Figura 47). O percentual de transporte de potássio não foi alterado de forma significativa no grupo com capsazepina 30 µM (Figura 47). O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter a redução do percentual de transporte tubular de potássio, mas o bloqueio com a capsazepina potencializou a redução do transporte no tempo de 90 minutos quando comparado com o grupo do 6-gingerol no mesmo período estudado (%TK90 61.23 ± 2.523; 39.44# ± 2.231) e voltou logo após, no tempo de 120 minutos, houve uma recuperação em relação ao 6-gingerol no mesmo período estudado (%TK120 37.78 ± 2.259; 41.54# ± 4.282) (Figura 47). 79 Figura 47 - Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de potássio os dados são expressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao controle interno (n=6); # significa p<0,05 em relação ao grupo tratamento (n= 6) no mesmo período avaliado. O transporte tubular de cloreto foi reduzido de forma significativa em todos os tempos estudados na dose 10 µM utilizadas quando comparados com o controle interno (%TClc 80.95 ± 2.955; %TCl60 67.14 ± 4.572*; %TCl90 69.42 ± 2.410*; %TCl120 36.08 ± 3.974*) (Figura 48). O percentual de transporte de cloreto não foi alterado de forma significativa no grupo com capsazepina 30 µM (Figura 48). O grupo da combinação do 6-gingerol 10 µM e da capsazepina 30 µM não conseguiu reverter a redução do percentual de transporte tubular de cloreto, mas o bloqueio com a capsazepina potencializou a redução do transporte no tempo de 90 minutos quando comparado com o grupo do 6-gingerol no mesmo período estudado (%TK90 69.42 ± 2.410; 52.64# ± 2.339) e voltou logo após, no tempo de 120 minutos, houve uma recuperação em relação ao 6-gingerol no mesmo período estudado (%TK120 36.08 ± 3.974; 51.54# ± 4.036) (Figura 48). 80 Figura 48- Efeitos renais promovidos pelo 6-gingerol na concentração de 10µM e frente ao bloqueio com capzasepina na concentração de 30 µM no percentual de transporte de sódio os dados são expressos por média ± E rro Padrão Médio (E.P.M.) compilados em quatro períodos de 30 minutos (30, 60, 90 e 120 minutos). A análise estatística foi feita por ANOVA e teste t de student com p<0,05. * significa p< 0,05 em relação ao controle interno (n=6); # significa p<0,05 em relação ao grupo tratamento (n= 6) no mesmo período avaliado. . 81 DISCUSSÃO 82 6. DISCUSSÃO Os resultados encontrados de redução na pressão arterial demonstram que o 6-gingerol possui excelente ação hipotensora, o que está de acordo com as observações da medicina tradicional onde há muitos anos o gengibre é utilizado para o tratamento de doenças cardiovasculares. É conhecido por ter um potencial diurético na medicina oriental e ser capaz de reduzir a pressão arterial sanguínea, sendo prescrito, na medicina paquistanesa, à pacientes hipertensos para utilização após o jantar (GHAYUR et al, 2005; MILLER et al, 2000). O gengibre também é recomendado pelos curandeiros no Sul da Ásia para o uso em cardiopatias, hipertensão e para melhorar a circulação, devido ao seu potencial de inibir a agregação plaquetária (KAPOOR, 1990; DUKE, 2002). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2011), indicam que a há cerca de 600 milhões de hipertensos no mundo e que a doença atinge, em média, 25% da população brasileira, chegando a mais de 50% da população brasileira e, supreerdentemente, a 5% dos 70 milhões de crianças e adolescentes do Brasil. A elevação prolongada da pressão arterial lesiona os vasos sanguíneos por todo o corpo, principalmente em órgãos-alvo, como o coração, rins, cérebro e olhos, além de provocar espessamento e perda de elasticidade das paredes arteriais e aumento da resistência vascular periférica nos vasos acometidos. As conseqüências usuais da hipertensão descontrolada prolongada são o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e renal, acidentes vasculares cerebrais e visão prejudicada. O ventrículo esquerdo do coração pode ficar aumentado (hipertrofia ventricular esquerda), à medida que age para bombear o sangue contra a pressão elevada (POTTER e PERRY, 2001; SMELTZER e BARE, 2006). Na hipertensão arterial, o rim exibe um comportamento ambivalente, podendo ao mesmo tempo ser a causa da hipertensão ou sofrer seus efeitos lesivos, o que contribui, à medida que a lesão evolui. Por outro lado, além de sua função excretora, o rim exerce importantes funções hormonais capazes de influenciar o sistema cardiovascular como um todo, bem como é importante determinante do 83 comportamento farmacológico dos medicamentos, modificando sua absorção, distribuição, concentração e meia-vida plasmática (CARVALHO e ALMEIDA, 2001). Especula-se que as drogas empregadas para o tratamento antihipertensivo não protegem o rim, ou que o tratamento deveria ser instituído mais precocemente para melhoria da morbidade (MULINARI, 2000). Estudos com ratos wistar mostraram a utilização do extrato de gengibre aceleram a taxa a taxa de bombeamento do cálcio, aumentando sua concentração intracelular, sem interferir no seu efluxo, através da ativação da bomba Ca +2-ATPase do retículo sarcoplasmático e que o gengibre possui efeito sinérgico em pacientes que fizeram a combinação de 1g do rizoma com 10mg de nifedipina, por dia (YOUNG et al., 2006, KOBAYSHI et al, 1988; IWASAKI et al, 2006). Muhammad et al., (2005) demonstraram que o extrato de gengibre é capaz de inibir canais de cálcio e que o extrato seco não possuía nenhuma ação sobre a frequência cardíaca e pressão arterial em ratos wistar normotensos. Entretanto, alguns estudos realizados com o extrato do gengibre explorando o potencial anti-hipertensivo mostram resultados controversos, como vasodilatação inicial e posterior vasoconstrição em modelos de anel de aorta (IWASAKI et al. 1988; KOBAYSHI et al. 2006). Ghayur e Gilani,(2005) demonstraram que o extrato fenólico apresenta efeito hipotensor em ratos anestesiados através de bloqueio de canais de cálcio, além de possuir um componente colinérgico adicional. Vale salientar que essas atividades dependem do sistema de extração utilizados, pois o componente colinérgico está inserido na fase aquosa do extrato, enquanto o componente bloqueador dos canais de cálcio é mais potente na fração não polar (GILANI et al, 2005). Alguns estudos relatam que o 6-gingerol tem uma resposta inibitória sobre contrações espontâneas em modelos que utilizam veias porta de camundongos (Kimura et al.,1988). Outra observação importante é que a hipotensão em modelo de aorta é depende do endotélio e que o 6-gingerol possui um componente bloqueador de canais de cálcio (GHAYUR e GILANI, 2005). 84 Como foi visto o endotélio é importante na ação do 6-gingerol e estudos demonstram que os receptores do tipo TRPV1 ao TRPV4 estão sendo relatados na aorta e artéria pulmonar de ratos (INOUE et al., 2006). Isso nos traz mais uma via a ser estudada em modelos de pressão arterial, pois o 6-gingerol é um potente ativador desses receptores. Os estudos em modelos animais que avaliam a pressão arterial trazem grande ajuda na elucidação do mecanismo de ação do 6-gingerol, mas por ser um componente que possui muitas atividades e potencial de ativar inúmeros receptores, mais estudos têm de ser realizados para finalmente buscar um mecanismo principal e seus auxiliares em sua ação hipotensora. A descoberta de que os gingerols são potentes ativadores dos receptores do tipo TRPV 1 serve como parâmetro de explicação para o uso do gengibre em diversas doenças e inclusive em casos de hipertensão na medicina oriental. (BLUMENTHAL e WERNER, 1998; SRIVASTAVA e MUSTAFA, 1992). O principal ativador deste receptor, a capsaicina, possui excelente afinidade, mas sua utilização na medicina é limitada, pois sua pungência e neurotoxicidade são elevados (WOOD, 1993). Um resultado importante no nosso estudo foi que o 6-gingerol não possui efeito citotóxico nas células MDCK, nas doses utilizadas no experimento de perfusão renal, em períodos de incubação de 6 (seis) horas e 24 (vinte e quatro) horas, demonstrando que essa substância poderia ser utilizada com segurança nos experimentos de perfusão renal. Sabe-se que o 6-gingerol exerce efeito inibitório sobre a síntese de DNA de células cancerosas e causam apoptose em células de leucemia promielocítica da linhagem humana (LEE, et al 1998). Chen e colaboradores (2006) utilizaram células MDCK com 6-gingerol nas doses de 5 µM a 20 µM para testar a influência dessa substância nestas células tubulares, que possuem muitas semelhanças com as células humanas, e demonstraram que as concentrações utilizadas de 6-gingerol induziram o aumento intenso do influxo de cálcio nestas células. 85 Entretanto o trabalho supracitado não traz nenhum dado de biologia molecular sobre os receptores envolvidos nesta ação e nenhum ensaio de viabilidade sobre tais células. Silva e colaboradores (2012) utilizaram alguns gingerols, dentre eles o 6gingerol, inibiu a proliferação de células da linhagem 231-MDA-MB com IC 50 666.2 ± 134.6 µM. Outro dado encontro foi a inibição de fibroblastos humanos normais, porém em concentrações maiores que 500 µM. Estes resultados são um pouco diferentes dos encontrados pelo nosso grupo, onde foi visto uma diminuição da viabilidade das células em concentrações menores que 500 µM. No entanto, vale ressaltar que as células são de linhagens diferentes e possuem suas particularidades. Na experimentação em rim isolado de rato, a análise da urina, do perfusato, dos parâmetros funcionais é útil para estabelecer um perfil razoável dos efeitos funcionais e morfológicos de uma substância sobre o rim. Com as informações obtidas dessas análises, pode-se estabelecer uma hipótese de mecanismo de ação da substância estudada. Os resultados encontrados demonstraram que o 6-gingerol possui várias ações renais e uma potente ação diurética, confirmando algumas ações descritas pela medicina oriental. Com os resultados vasculares obtidos com a realização deste estudo pode-se observar um aumento na pressão de perfusão aos 90 e 120 minutos na dose de 3µM quando comparada ao grupo controle interno e com as outras doses utilizadas 10 µM e 30 µM houve aumento significativo em todos os tempos estudados, acompanhado do aumento significativo da resistência vascular renal nos tempos de 90 e 120 minutos quando comparados com o controle interno na dose de 10 µM. Esses dados são conflitantes quando comparados com os resultados observados na pressão arterial de animais anestesiados que mostraram uma redução da resistência vascular. Isso pode ser explicado, em parte, pela 86 complexidade do sistema renal que é controlado por milhares de vias de sinalização endócrina. Estudo recente demonstrou que a capsaicina, análogo do 6-gingerol e agonista específico do receptor TRPV1, causou uma redução da pressão de perfusão e aumento da taxa de filtração glomerular quando o rim era pré-contraído com fenilefrina e que este mecanismo era pela liberação de substância P e calcitonina por nervos sensoriais sensíveis a capsaicina (Li e Wang, 2008). Entretanto, vale ressaltar que o 6-gingerol é ativador inespecífico deste receptor e que quando foi realizado o antagonismo com capsazepina, antagonista inespecífico do receptor TRPV1, não houve grande alteração na resposta inicial. Baylie e Brayden (2011) relataram que a ativação do TRPV2 causa aumento de uma corrente de cálcio em miócitos de aorta de rato e que isso poderia proporcionar uma vasoconstrição, mas sua identificação em células renais ainda é controversa. Outros estudos realizados por Liu et al, 2001;. Sawynok e Liu, 2003, mostraram que a ativação do TRPV1 na medula espinhal e na periferia promove a liberação aumentada de adenosina, indicando que essa liberação também pode ser promovida a nível renal, entretanto os dados na literatura ainda são insuficientes. Vale ressaltar que estudos demonstram que a adenosina liberada poderia participar de uma via de feedback do receptor TRPV1 (PUNTAMBEKAR et al., 2004). Adenosina atua na hemodinâmica de órgãos como rins, cérebro e coração. Além disso, evidências obtidas nos anos 60 sugerem que a vasculatura renal difere dos demais leitos vasculares e ação da adenosina no rim seria potencialmente vasoconstrictor (HANSEM e SCHNERMANN, 2003). Em relação ao fluxo urinário nossos resultados mostraram aumento significativo nos tempos de 90 e 120 minutos quando comparados com o controle interno, nas doses de 10 µM e 30 µM e que com o bloqueio do receptor TRPV1 houve uma redução significativa deste fluxo urinário no tempo de 120 minutos quando comprado com o 6-gingerol no mesmo período de tempo. Confirmando o 87 conhecimento tradicional do efeito diurético do gengibre e mostrando que o bloqueio do receptor TRPV1 pela capsazepina traz uma redução deste aumento de fluxo urinário causado pelo 6-gingerol, mostrando sua importante participação neste mecanismo. O 6-gingerol também alterou o transporte tubular de sódio, potássio e cloro. O transporte tubular de sódio foi reduzido de forma significativa em todas as doses 3 µM, 10 µM e 30 µM utilizadas e em todos os tempos estudados quando comparados com o controle e que esta redução do transporte de sódio foi atenuada no tempo de 120minutos no grupo do bloqueio com capsazepina. O transporte tubular de potássio sofreu alteração da mesma forma que o transporte de sódio em todos os tempos estudados no grupo com 6-gingerol e seguindo os resultados encontrados com o sódio e o potássio, os íons de cloro também sofreram redução de transporte, demonstrando que o 6-gingerol aumentou a excreção de todos os eletrólitos. Isso ratifica ainda mais sua ação diurética. Lembrando que no grupo do bloqueio com a capsazepina, nos dois últimos parâmetros citados ocorreu uma atenuação da redução do transporte desses dois eletrólitos. Isso reforça a hipótese que o 6-gingerol está exercendo sua ação diurética através da ativação do receptor TRPV1. Zhu e colaboradores (2008) demonstraram que a ativação do receptor TRPV1 na pelve renal leva a um aumento da natriurese e da diurese, indicando que a ativação deste receptor que é expresso em nervos sensoriais renais, desempenha um papel importante na modulação excretória a nível renal. Em 2008, Jianping e Donna mostraram que a ativação do receptor TRPV1 no rim isolado pela capsaicina, agonista específico, causou um aumento do fluxo urinário, consonantes com nossos dados, e elevação do ritmo de filtração glomerular (RFG). Este último parâmetro citado foi conflitante com os dados encontrados pelo nosso grupo no estudo com o 6-gingerol que demonstrou uma redução importante do RFG em todas as doses utilizadas. Entretanto, vale ressaltar que o 6gingerol é agonista inespecífico e isso pode influenciar em suas ações vasculares. 88 Wang e Zhu (2008) demonstraram que a ativação do TRPV1 aumenta a excreção de água devido a um aumento da taxa de filtração glomerular e uma maior entrega distal de sódio e não por supressão de reabsorção proximal, sendo que este mecanismo ainda não é totalmente elucidado. Essa entrega aumentada de sódio a nível distal pode explicar, em parte, a redução de ritmo de filtração glomerular através da ativação do sistema de feedback túbulo glomerular. Esse mecanismo de defesa é ativado em situações onde o aporte de sódio está elevado na porção final do túbulo contorcido distal, mais especificamente na mácula densa. O sinal liberado é a adenosina que através de sua ação nos receptores A1 na arteríola aferente causa vasoconstrição de início rápido e conseqüente redução do ritmo de filtração glomerular e diminuição na perca de sódio e água pelos rins (OSSWALD et al., 1980). A adenosina reduz o fluxo sanguíneo renal predominantemente do córtex externo e ocasiona uma diminuição persistente na taxa de filtração glomerular (VANDER et al., 1970). Gutierrez e colaboradores (1999) demonstraram que a vasoconstrição arteriolar aferente é acompanhado por um aumento sustentado do cálcio livre citosólico. Bloqueadores específicos A1 específicos demonstram inibir respostas de queda no ritmo de filtração glomerular quando administrados diretamente no lúmem tubular ou em capilares peritubulares (SCHNEMANN et al., 1990). Portanto, mais estudos tem de ser realizados para elucidar e verificar a participação destes mecanismos acessórios nas respostas induzidas pelo 6-gingerol. 89 CONCLUSÃO 90 7. CONCLUSÃO O 6-gingerol mostrou potente ação diurética em todos os experimentos realizados e uma importante redução da pressão arterial em ratos wistar normotensos. Outras importantes observações foram às baixas influências em células renais, demonstrando sua segurança na utilização na medicina popular . Contudo, mais estudos são necessários para a melhor elucidação dos mecanismos envolvidos com a ação diurética, como estudo com outras doses, modelos animais e estudos de modelagem molecular, serão necessários para esclarecer o mecanismo de ação. 91 REFERÊNCIAS 92 8. REFERÊNCIAS AGUIAR, A.P.S.; CAIRES, L.P.; MAEKAWA, L.E. et al. Avaliação in vitro da ação do extrato glicólico de gengibre sobre Candida albicans. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, mai-ago; 21(2): 144-9,2009. 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