Exemplos de movimentos não-retilı́neos MÓDULO 1 - AULA 11 Utilizando, então, as definições de aceleração e velocidade, obtemos o módulo da aceleração da partı́cula (que, no caso de um MCU, tem apenas componente centrı́peta): v2 |a| = , (11.31) R ou ainda, lembrando que v = ωR, |a| = ω 2 R . (11.32) Para determinarmos a direção da aceleração da partı́cula, basta analisar novamente as figuras 11.4 e 11.5. Quando ∆t → 0, temos também ∆θ → 0 e com isso, nesse limite, a direção de ∆v passa a ser perpendicular à direção de v. Como v é tangente à trajetória circular, ∆v terá obrigatoriamente a direção radial, com sentido para dentro da curva por motivos óbvios. Conseqüentemente, usando argumentos puramente geométricos, mostramos que num MCU a aceleração da partı́cula é dada por a = −ω 2 R ur . Finalizamos esta seção comentando que num movimento circular não uniforme a aceleração da partı́cula terá, além de uma componente centrı́peta, uma componente tangencial, responsável pela variação do módulo de sua velocidade. Na última seção desta aula, você aprenderá a calcular a expressão da aceleração centrı́peta em termos do módulo de sua velocidade e de parâmetros geométricos de sua trajetória, mesmo em movimentos mais genéricos do que o circular. O movimento cicloidal Você já se deparou com um movimento cicloidal de uma partı́cula no final da aula 2. Naquela ocasião, você também aprendeu a definição cinemática de ciclóide (que será relembrada aqui), mas não aprendeu a deduzir as equações paramétricas dessa curva e muito menos pôde aplicar o formalismo de vetores ao estudo desse tipo de movimento por não estar ainda familiarizado com ele. Esta seção, sobre movimento cicloidal, vem preencher estas lacunas e aproveitar para dar mais informações sobre uma curva tão comum em nosso dia-a-dia e tão importante na história da fı́sica. Considere um disco de raio R rolando sem deslizar sobre uma superfı́cie plana e horizontal. Suponha que, ao movimentar-se, o disco se mantenha sempre num mesmo plano vertical e que o seu centro descreva um movimento retilı́neo. Nessas circunstâncias, a curva traçada por um ponto qualquer P da periferia do disco é uma ciclóide. Essa curva está ilustrada na Figura 11.6. 247 CEDERJ Exemplos de movimentos não-retilı́neos Y 2R R cos θ { P y θ C R sen θ { O x C < X Fig. 11.6: Trajetória cicloidal de um ponto na periferia de um disco que rola sem deslizar sobre uma superfı́cie plana e horizontal. A fim de deduzir as equações paramétricas que caracterizem os pontos dessa curva, é conveniente utilizar como parâmetro o ângulo de giro do disco. Seja θ o ângulo entre a vertical e o segmento de reta CP , onde C é o centro do disco em movimento e P , o ponto que descreve a ciclóide desenhada na Figura 11.6 à medida que o disco gira. Escolhemos os eixos cartesianos de modo que OX seja horizontal, enquanto OY, vertical e com a origem coincidindo com a posição do ponto P quando θ = 0. Note, então, que qualquer posição do ponto P ao longo de sua trajetória fica univocamente determinada pelo ângulo θ. A Figura 11.6 mostra esse ponto numa posição genérica durante seu movimento. Como não há deslizamento entre o disco e a superfı́cie, o comprimento do arco P C – onde C é o ponto de contato entre o disco e a superfı́cie horizontal – é igual ao comprimento do segmento OC . Expressando o ângulo θ em radianos, esse comprimento de arco é dado por Rθ. Desse modo, a Figura 11.6 nos permite escrever para a coordenada cartesiana x do ponto P : x = OC − R senθ = R(θ − senθ) . Novamente com o auxı́lio da Figura 11.6, escrevemos para a coordenada y do ponto P : y = CC − R cosθ = R(1 − cosθ) . CEDERJ 248 Exemplos de movimentos não-retilı́neos MÓDULO 1 - AULA 11 Resumindo: as equações paramétricas da ciclóide descrita pelo ponto P da Figura 11.6 são dadas por x = R(θ − senθ) (11.33) y = R(1 − cosθ) . Vale enfatizar que não é possı́vel relacionar diretamente por meio apenas das chamadas operações algébricas (soma, subtração, multiplicação, divisão e potenciação inteira) as coordenadas cartesianas do ponto P . A equação cartesiana da trajetória cicloidal do ponto P envolve operações mais complicadas, como a radiciação e o conceito de função inversa (veja o último problema proposto). O caráter nãoalgébrico dessa curva despertou a atenção de muitos matemáticos e fı́sicos importantes do século XVII, que utilizaram a ciclóide para testar e confrontar métodos da época sobre construção de tangentes a curvas etc. Independentemente de como o disco gire, isto é, se girar com velocidade angular constante (dθ/dt = Cte) ou variável no tempo, a trajetória do ponto P será a ciclóide descrita anteriormente. No entanto, diferentes movimentos do disco levam a diferentes funções-movimento vetorial do ponto P . Por exemplo, se o disco gira de tal modo que dθ/dt = ω, sendo ω uma constante positiva, temos para a função-movimento vetorial de P : r = x ux + y uy = = R(ωt − senωt) ux + R(1 − cosωt) uy , (11.34) onde, por simplicidade, escolhemos o zero de nosso cronômetro no instante em que θ = 0. Calculando-se a derivada temporal da expressão anterior, obtemos a velocidade do ponto P num instante genérico de seu movimento: v = ωR 1 − cos(ωt) ux + sen(ωt) uy . (11.35) A aceleração do ponto P num instante genérico é obtida derivando-se a expressão anterior uma vez em relação ao tempo: a = ω 2 R sen(ωt) ux + cos(ωt) uy . (11.36) Nos problemas propostos, você terá oportunidade de verificar algumas caracterı́sticas desse movimento. Por exemplo, no caso que acabamos de discutir, o ponto mais alto da trajetória do ponto P é atingido pela primeira vez (supondo que o movimento tenha começado em t = 0s) no instante t = π/ω. Nesse instante, a sua velocidade é horizontal e tem módulo máximo igual a 2ωR e aceleração vertical e para baixo, de módulo ω 2 R. No instante t = 2π/ω o ponto P toca a superfı́cie horizontal pela primeira vez após o inı́cio de seu movimento e isso ocorre 249 CEDERJ Exemplos de movimentos não-retilı́neos a uma distância 2πR da origem. A sua velocidade é nula nesse instante e a sua aceleração é vertical e para cima, de módulo ω 2 R. Finalizamos esta seção com um pouco mais de história sobre a ciclóide. No final do século XVII, mais precisamente no ano de 1696, Jean Bernoulli lançou um desafio, presumivelmente endereçado a alguns gigantes da época, como por exemplo, Leibniz e Newton, entre outros. Esse problema ficou conhecido com o nome de o problema da braquistócrona (do grego tempo mais curto) e consiste essencialmente na pergunta: qual deve ser a forma da superfı́cie sobre a qual uma partı́cula deve deslizar sem atrito para que, partindo do repouso de um ponto A, atinja um ponto B (que não esteja na vertical e que passe por A) no menor tempo possı́vel? A superfı́cie que minimiza o tempo de percurso entre A e B nada mais é do que uma superfı́cie cicloidal, ou seja, uma partı́cula ao se movimentar de A para B descreve justamente uma trajetória cicloidal. Esse problema, que pode ser considerado como um marco inicial do chamado cálculo variacional, foi resolvido no ano seguinte por várias pessoas, a saber: pelo próprio Jean Bernoulli, por seu irmão Jacques Bernoulli, por Leibniz, por L’Hopital e por Newton. Conta a lenda que Newton resolveu o desafio na mesma tarde em que tomou conhecimento do mesmo. Parece que, ao receber a solução apresentada por seu irmão, Jean percebeu que havia cometido um pequeno erro em sua solução. Apropriou-se, indevidamente, dos cálculos de seu irmão e corrigiu a sua própria solução. Essa atitude, no entanto, gerou uma grande discórdia entre os irmãos Jean e Jacques, que perdurou até a morte de Jacques. O método proposto por Jacques Bernoulli para o problema da braquistócrona prima por sua beleza e simplicidade, mas está além dos propósitos desta aula. Grandezas do movimento associadas à trajetória Consideremos o movimento de uma partı́cula dado por uma função-movimento vetorial f . Temos: r = f (t) . (11.37) Sabemos que a trajetória desse movimento é a curva traçada no espaço pelo ponto final do vetor posição. Dito de outro modo, é o conjunto de pontos pelos quais a partı́cula passa durante o seu movimento. Representemos por C a trajetória do movimento em consideração. Vamos agora desenvolver alguns conceitos associados CEDERJ 250