O Prêmio RBS de Educação que recebi, no ano em que comemoro 30 anos de
magistério, e 25 de Pastor Dohms, representa para mim o coroamento da minha caminhada
profissional. Significa que acertei na minha escolha; que acertei em estar sempre estudando,
buscando,questionando; que acertei em defender as ideias nas quais sempre acreditei. Nada
foi em vão.
Num tempo em que a sociedade valoriza as coisas que têm um caráter prático, as
coisas que têm significado imediato, as coisas que se fazem na velocidade , ter um projeto de
ensino de Literatura no Ensino Médio reconhecido se constitui, para mim, no reforço do
entendimento de que é preciso valorizar a reflexão; valorizar aquele conhecimento que não se
dá na velocidade nem na coletividade; valorizar o esforço intelectual de adentrar o texto e ler
o subtexto; valorizar o de dentro, o que não aparece imediatamente, a emoção, a imaginação.
Se perguntarmos para que serve a Literatura, minha resposta inicial é: para nada. Ela
não me capacita a fazer contas e a cuidar da minha vida financeira; ela não me capacita a
verificar num supermercado, ao olhar determinado produto alimentício, se ele fará mais ou
menos bem à minha saúde; ela não me capacidade a construir casas para as pessoas terem um
teto; ela não me capacita a defender os direitos de alguém; enfim, praticamente ela para nada
serve. No entanto, se eu olhar para a Literatura e perceber que ela me dá: capacidade de me
colocar no lugar dos outros e entender suas dores; capacidade de perceber o que realmente
está sendo dito sob a fala que se me apresenta; capacidade de exercitar a minha imaginação;
capacidade de me dar a conhecer outras realidades; capacidade de fazer com que eu descubra
dentro de mim as minhas emoções mais profundas e escondidas; capacidade de que eu me
entenda melhor ao ver nos dramas de “pessoas de faz de conta” meus próprios dramas, a
Literatura passa a ser essencial. Ela é um meio poderoso de reflexão, porque esta se dá através
da sensibilidade, e, sendo assim, ela é um meio poderoso de mudança pessoal: para melhor. E
quem se modifica, quem cresce, modifica o seu entorno. Quem se faz mais pessoa, se
humaniza e humaniza o mundo. Não é pouca coisa.
Penso que, numa época em que se fala tão mal da educação, e com razão, os
educadores precisam acreditar mais em si e no seu trabalho, orgulharem-se de suas práticas e
propostas, estarem cientes de que fazem, sim, um bom trabalho. É preciso ter coragem para
propor mudanças, para enfrentar obstáculos e para defender aquilo em que se acredita.
Quanto aos gestores, enquanto muitos são parceiros e sensíveis às necessidades de
mudança que se impõem ao longo da trajetória (é bom lembrar que uma das marcas da
educação é a revisão constante das crenças, postulados e ações), creio que ainda existe um
número bastante significativo, que pelos mais diversos motivos, nem sempre pedagógicos,
ainda não consegue ver seus professores como pessoas capazes no trabalho efetivo de sala de
aula, nas reflexões que envolvem a educação, creditando a eles reconhecimento e escutando
suas falas. Mas,como se trata de educação, acredito que as possibilidades de aprendizado e
crescimento são para todos, não apenas para os alunos. E acredito que a iniciativa da
Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho e do Grupo RBS ao propor num nível tão amplo a
discussão da educação através daquilo que deu certo se constitui, também, numa
oportunidade educacional para todos os envolvidos no processo.
Por último, gostaria de dizer que fiquei muito feliz com o modo como fui recebida na
minha volta. O carinho de meus colegas, meus alunos, dos funcionários, da escola me encheu
de emoção.
Suzana Borges da Fonseca Bins
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Depoimento da Professora Suzana.