UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE DESENVOLVIMENTO PROJETO A VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA DA SUBJETIVIDADE NA CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL AUTORA: GISELE CATARINA DOS SANTOS RODRIGUES ORIENTADOR: MARCO ANTÕNIO LAROSA Rio de Janeiro Setembro de 2003 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL PROJETO VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA DA SUBJETIVIDADE NA CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL OBJETIVOS: Estabelecer relações entre a subjetividade e a capacitação profissional, propiciando apresentar uma visão crítica sobre a forma como a Reeducação é desenvolvida em grande parte das Corporações com enfoque apenas objetivo do Homem, desconsiderando suas dimensões interiores, pessoais que tornam o Homem um animal diferenciado dos demais. 3 AGRADECIMENTOS A Deus que me deu a capacidade de observar e analisar o mundo a minha volta, ao meu Orientador, Professor Marcos Antônio Larosa pela competência em transmitir ajuda. Aos Professores do Projeto ”Vez do Mestre” que com suas magníficas experiências profissionais puderam contribuir para uma reconstrução de minha visão de mundo. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha mãe, meu modelo de mulher guerreira e profissional cujos valores transmitidos me são como pedras preciosas; ao meu pai (in memoriam) como exemplo de sensibilidade e altruísmo. Também ao meu companheiro Fausto que me estimulou a retornar aos estudos por acreditar em meu potencial. E, muito especialmente à minha filha por sua grandeza e pureza de alma cuja ajuda e compreensão me foram fundamentais durante esta jornada. 5 RESUMO Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise crítica em relação à forma pela qual os Profissionais de Recursos Humanos e outros cuja atividade laboral esteja ligada à condução de Processos de Qualificação Profissional costumam lidar com a questão da subjetividade. Pretendemos discutir de que forma a ausência de valorização desta questão interfere no alcance dos objetivos previamente traçados pelas Organizações. Serão apresentados conceitos de objetividade e subjetividade para as ciências e a relação estabelecida entre o sujeito-cognoscente e o objeto conhecido. Haverá a explanação da maneira pela qual a questão da emoção participa do processo decisório, derrubando velhos mitos que defendiam que decisões sábias somente poderiam ser tomadas com a cabeça fria, ou seja, sem a interferência das emoções. O tema emoção continuará a ser discutido de uma forma diferente, sendo apresentadas informações sobre o propósito de sua existência e a confirmação que este repertório de respostas emocionais possui uma base inata a partir dos reflexos. A forma como se desenvolvem as emoções secundárias ao estabelecermos contato com outros da mesma espécie por intermédio da socialização primária (família). Em seguida, a capacitação profissional será abordada desde a visão mecanicista sem se levar em consideração a dimensão subjetiva cuja sede é o interior, primado das emoções. Abordagens mais recentes poderão contribuir significativamente para a inclusão desta dimensão. Por fim, faremos uma breve conclusão apontando para os aspectos principais avaliados ao longo deste trabalho. 6 METODOLOGIA Este trabalho acadêmico parte da hipótese de que o modus operandi com que as corporações se propõem a utilizar as tecnologias educacionais, os recursos de apoio, embasamento teórico para a solução de problemas de desenvolvimento profissional têm oferecido resultado inexpressivo por não incluir um aspecto de vital importância em suas práticas, que é a dimensão subjetiva em seus projetos. A hipótese levantada é de que ao incluir em Programas Educacionais a dimensão subjetiva, a probabilidade de a empresa realmente alcançar comprometimento dos colaboradores com intuito de maximizar a produtividade será atingida de maneira mais eficaz e duradoura. A formulação desta hipótese partiu de observações realizadas ao longo de minha experiência profissional que corroboraram o conhecimento intuitivo já existente antes da pesquisa, além de ter sido motivada por entender que a empresa possui um importante papel na sociedade e um forte compromisso de ajudar a promover melhoria contínua na vida das pessoas que a compõem. Após uma primeira análise do levantamento bibliográfico, pôde-se perceber que o tema escolhido é bastante atual e tem sido discutido há algum tempo por diversos autores e em campos distintos das ciências. Inicialmente, foi realizada a busca de um livro que serviu como base para a escolha do tema para, partindo de uma leitura prévia, ser definido o assunto específico. Em seguida, realizou-se o levantamento bibliográfico na biblioteca da Universidade Cândido Mendes. Foi utilizada a Internet também como fonte de leitura e pesquisa de figuras ilustrativas. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO_________________________________________________8 CAPÍTULO 1__________________________________________________10 Objetividade e Subjetividade nas Ciências_________________________10 CAPÍTULO 2 __________________________________________________12 Bases Neurobiológicas na Tomada de Decisões____________________12 CAPÍTULO 3___________________________________________________17 A Importância das Emoções_____________________________________17 CAPÍTULO 4___________________________________________________25 Capacitação Profissional________________________________________ 25 CONCLUSÃO__________________________________________________37 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA___________________________________39 8 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo proporcionar uma reflexão crítica acerca da forma como é tratada a Capacitação Profissional dentro das Organizações, comumente sofrendo um enfoque objetivo no qual são considerados como relevantes apenas Conteúdo Programático, Planejamento, Cronograma, Metodologia utilizada, Recursos Audiovisuais e público a que se destina. Sabe-se que uma Organização somente funciona a contento quando consegue perceber que todo o aparato tecnológico não responde por si só às demandas do mercado haja vista o fato de que o homem construiu e constrói a civilização e tudo que ela contém com o objetivo de satisfazer as suas necessidades. O homem faz pelo e para o homem porque quer criar necessidades, gerar novas formas de relacionamento, satisfazer desejos e concretizar sonhos. Assim sendo, devemos lembrar que a dimensão subjetiva está presente em todos os momentos da vida. No primeiro capítulo, trataremos de definir o conceito de conhecimento dentro da perspectiva da epistemologia, estabelecendo a relação entre o sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido. Em seguida, discutiremos como as questões da objetividade e subjetividade são tratadas no âmbito empresarial. Será apresentado um breve histórico da área de Administração de Recursos Humanos, informando de quando data seu início segundo relatos de pesquisadores e que correntes de pensamentos, tais como a Psicologia Industrial e as Teorias das Organizações, influenciaram o desenvolvimento da ARH enquanto teoria e prática profissional. Também serão relatadas as transformações sofridas por esta área a partir das mudanças ocorridas no contexto sócio-político-econômico. 9 Mostraremos ao longo do texto como o dualismo cartesiano mente-corpo que norteia todas as ações e diretrizes no campo da Capacitação Profissional deve ser repensado, pois descobertas mais recentes no campo da neurobiologia vêm possibilitando a criação de um novo cenário que estimula gerar novos paradigmas para as Ciências Humanas e Sociais. Neste capítulo será relatado o caso de paciente lesionado no cérebro por uma barra de ferro que se manteve vivo e as mudanças comportamentais provenientes desse acidente, trazendo uma visão inovadora da relação entre razão e emoção como uma percepção direta de estados corporais e formando um elo entre corpo e consciência. No capítulo três, explanaremos sobre o conceito de emoção e sua finalidade de manter a sobrevivência da espécie e a defesa da vida. Examinaremos aquelas que são inatas e as que são aprendidas através de socialização. Ao longo do capítulo quatro, discorreremos sobre as novas tendências para a capacitação profissional, incluindo a discussão sobre a proposta da Educação Continuada e desafios concernentes a elas. Serão discutidas as contribuições que a psicanálise pode fornecer aos profissionais de educação corporativa a partir do conhecimento do funcionamento do inconsciente e das motivações que são subjacente a toda conduta humana. 10 Capítulo 1 Objetividade x Subjetividade Nas Ciências A compreensão dos mecanismos que criam o conhecimento humano e o papel deste na vida sempre ocuparam uma posição de destaque na história do homem. Há muito filósofos, pensadores e cientistas vêm mobilizando sua energia para identificar estes processos. O estudo da mente humana mostrou-se como ponto de partida para alcançar o entendimento do processo de aquisição de conhecimento. Diversas concepções foram formuladas, oferecendo uma variedade de respostas sobre a natureza e a origem do conhecimento. A etimologia de a palavra conhecer tem origem no termo latino cognoscere e significa “ter noção, conhecimento, informação, de; saber” (p.454). Segundo o Dicionário Aurélio, o vocábulo conhecimento apresenta um conceito filosófico assim esclarecido: “... atributo geral que têm os seres vivos de reagir ativamente ao meio circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência”. Partindo desta definição, podemos inferir que os seres vivos em geral possuem esta capacidade com a finalidade de manterem sua vida. Cada ciência tem o seu objeto de estudo a ser investigado circunscrito pelas especificidades do fenômeno a que se intenta conhecer. O objeto de estudo é o assunto, a matéria a ser estudada. Assim, por exemplo, a Biologia tem como objeto de estudo, os seres vivos e as leis da vida. Já a Psicologia analisa os fenômenos psíquicos e o comportamento. É relevante perceber que a investigação parte de uma relação estabelecida previamente entre o sujeito-cognoscente, e o objeto conhecido. 11 Conforme registra Teles em seu livro Introdução à Filosofia, “O sujeito cognoscente é sujeito apenas enquanto há um objeto que apreender e viceversa, o objeto é objeto de conhecimento apenas enquanto é apreendido pelo sujeito”. Esta apreensão se verifica mediante uma construção que o sujeito elabora a partir dos elementos sensíveis determinados pelo objeto. O conhecimento resulta primeiramente da atividade do “Eu” sobre elementos mecânicos que o atingem. Em segundo lugar, é uma elaboração posterior sobre os remanescentes do conhecimento sensível, tais como: imagens, lembranças, recordações, idéias, etc. Neste caso, a atividade do sujeito que conhece principia com o ato de receptividade dos dados sensíveis causados pelos objetos. As ciências sempre primaram pela preservação da objetividade dos fenômenos a serem investigados por parte dos cientistas. O ideal de cientista bem-sucedido é um sujeito empedernido cujo olhar é isento de envolvimento emocional sobre seu objeto de estudo, mantendo uma postura de neutralidade. Contudo, tal olhar nunca é neutro, pois este sujeito que olha é constituído de uma história própria submetida a uma determinada herança cultural vivendo um momento político único. Em se tratando de áreas sociais e humanas é possível identificar de forma mais clara a presença desta subjetividade. Ainda assim vive-se constantemente a buscar uma condição objetiva no ambiente empresarial atrelada que estão a correntes de pensamentos baseadas nas concepções tayloristas de administração. Frases tal como - ao entrar na empresa, deixe seus problemas pessoais do lado de fora - encerram uma atitude considerada positiva pela organização, porém irreal para a maior parte das pessoas. 12 Capítulo 2 Bases Neurobiológicas da Tomada de Decisões Segundo estudos recentes no campo da neurobiologia que é a ciência que estuda as estruturas neurais e seu relacionamento com a regulação do organismo para a sobrevivência, o processo de tomada de decisão/razão está intimamente ligado aos processos emocionais. Isto significa dizer que os sistemas cerebrais que regulam um processo se encontram enredados aos mecanismos do outro e que ambos se interligam com a regulação do corpo. Esta hipótese tem como um dos principais defensores António Damásio, cientista responsável pelo centro de estudos neurológicos dos Estados Unidos que vem desenvolvendo pesquisas a cerca da interdependência entre razão e emoção. Tais pesquisas não são conclusivas, mas apontam para a possibilidade de haver uma verdadeira revolução no pensamento ocidental que privilegia o dualismo cartesiano. Este último defende a separação entre os mecanismos mentais e corpóreos, ou ainda, o existir humano depende unicamente do pensamento e da consciência do pensamento (“Cogito ergo sum”). As investigações realizadas sobre este assunto foram conduzidas ao longo de vinte anos de estudos com diversas pessoas que sofriam de distúrbios neurológicos. Em seu livro O Erro de Descartes, Damásio relata o caso de um paciente que sofreu uma lesão cerebral a partir de um acidente com uma barra de ferro que atravessou a base do crânio, atingindo a parte anterior do cérebro e saindo pelo topo da cabeça e as conseqüências originadas por este acidente. 13 Foram observadas alterações comportamentais significativas, sugerindo uma mudança na estrutura da personalidade caracterizada por um acentuado prejuízo em sua conduta social e pessoal, gerando comportamentos tais como ausência do senso de responsabilidade em relação a si e aos outros, incapacidade de prever o futuro e planejá-lo dentro de um contexto social de certa complexidade e incapacidade de organizar de maneira independente sua própria vida. O processo de tomada de decisões que sabemos fazer parte do raciocínio lógico fora prejudicado consideravelmente, pois havia evidências que suas escolhas eram inadequadamente feitas, apresentando-se como desvantajosas, diferentemente da forma como fazia antes do acidente, embora fossem percebidos indícios de que tanto o aspecto intelectual quanto a linguagem tivessem sido preservados. Logo, pôde-se supor pelo quadro apresentado que seu sistema de valores devia ter sido afetado através do acidente, ou então, embora intacto em parte, mostrava-se ineficaz para utilização em circunstâncias da realidade. Foi constatado através de outras pesquisas que, em doentes com lesões cerebrais cuja capacidade de raciocínio e tomada de decisões sugeria comprometimento, determinados processos neuropsicológicos dependiam da inviolabilidade dos sistemas cerebrais responsáveis pelos processos racionais para funcionar. Quando as lesões atingem regiões onde se localizam os córtices préfrontais ventromedianos e a amígdala notam-se dificuldades em solucionar problemas e em lidar com emoções e sentimentos nos pacientes. 14 Também no hemisfério direito, há os córtices somatossensoriais que respondem pelas mesmas dificuldades mencionadas anteriormente, comprometendo os processos de sinalização básica do corpo. Por último, foram encontradas regiões nos córtices pré-frontais que envolvem o raciocínio e tomada de decisões num padrão diferente, ora atingindo operações intelectuais em todas as esferas inclusive na pessoal e social ora especificamente ligadas à objetos, números, palavras e espaço sem danificarem os aspectos social e pessoal. Assim, a partir destas explicações, as suposições que ocorrem são que a razão, a emoção e os mecanismos de regulação do organismo se encontram nas mesmas regiões, não se apresentando em ponto específico do cérebro, mas em diversas localizações com um certo grau de interdependência. Embasados nestes experimentos, verificou-se que a razão pura, isenta de componentes emocionais, defendida por teóricos racionalistas parece improvável de ocorrer em pessoas “normais”, ou seja, aquelas cujos mecanismos cerebrais estão livres de lesões. Ao contrário, parece haver uma estreita relação entre a conduta de lesionados pré-frontais com o ideal de tomada de decisões sugeridas pelos racionalistas. A razão pura utiliza-se de uma quantidade enorme de avaliações em termos de vantagens/desvantagens de situações que se apresentam no cotidiano que requerem a necessidade de se elaborar um rol pormenorizado das mesmas. Pode-se citar, como exemplo, a análise de um parceiro para se montar um negócio. O indivíduo deverá recorrer a uma série de conhecimentos anteriores sobre o caráter do sócio, pesquisa sobre a viabilidade ou não do 15 negócio, especulação sobre o tempo necessário para se obter vantagens pecuniárias, etc. Para tal análise, é necessário que o cérebro se debruce sobre as experiências passadas, crie imagens mentais a respeito das opções de respostas e dos resultados correspondentes. Todo este cenário descrito é constituído por variadas cenas imaginárias que não seguem um fluxo contínuo, mas que se justapõem de forma rápida uma às outras. O que deve ser compreendido aqui é que a memória é utilizada para formação destas imagens, auxiliando para que o processo de tomada de decisão tenha uma base. Contudo, não podemos nos esquecer que esta capacidade é limitada, e que determinadas decisões necessitam de uma rapidez que nem a memória nem o raciocínio lógico conseguem dar conta. Assim sendo, António Damásio levanta uma hipótese de que existe um mecanismo que auxilia a evitar desperdício de tempo para aquelas decisões que precisam ser tomadas em frações de segundos. Sugere que sempre que há um mau resultado advindo de uma decisão equivocada, por mais fugaz que seja, o corpo produz uma sensação visceral desagradável. Por ocorrer no corpo, denominou este fenômeno como estado somático e porque ele marca uma “imagem” que fica associada ao evento, resolveu chamar-lhe de marcador somático. Este mecanismo consiste em reduzir a um número bem pequeno, as alternativas dentro de um panorama muito amplo, facilmente evocado pelo cérebro, quando da necessidade de escolha. Sua função básica é servir como um sinal de alerta para opções que possam ter um resultado negativo, eliminando-as rapidamente da parte da mente responsável por tecer considerações mais profundas, justamente utilizando o corpo como indicador. 16 Este poderoso mecanismo apresenta-se como um meio de aumentar a precisão e a eficiência do processo de decisão, sendo que sua ausência as reduz. Logo, é “... um caso especial do uso de sentimentos gerados a partir de emoções secundárias”. Concluindo segundo o cientista, é chegada a hora de reconhecer que o espírito habita um organismo vivo em que o cérebro e o corpo vivem intimamente integrados. O neurologista inverte a máxima de Descartes: "existo (e sinto), logo penso". Desenho reproduzido para demonstrar áreas importantes do cérebro. Figura 3b: Diagrama da metade esquerda do cérebro, com a área de movimento (vermelho) e as áreas sensitivas (azul).Fonte: Cunningham: Manual de Anatomia Prática ,São Paulo. Atheneu. 1976 17 Capítulo 3 A Importância das Emoções Como foi visto no Capítulo precedente, o homem não é um ser dotado de razão pura. Partindo desta premissa, devemos procurar compreender mais adequadamente a dimensão emocional que está presente em todos os atos humanos, inclusive no ambiente profissional. Sabe-se hoje que todo o universo teve a mesma origem, a famosa explosão chamada Big Bang. Esta origem é a energia condensada, constituída de estruturas moleculares com as mesmas propriedades. Os elementos químicos existentes na natureza participam da constituição de todos os seres vivos e o que provoca a diferença entre as espécies é o grau de complexidade das estruturas moleculares. O homem também participa desta condição, pois todos nós temos consciência da nossa dependência da natureza. A emoção pode ser definida como reações fisiológicas e psicológicas que influem na percepção, aprendizagem e desempenho segundo Edward Murray (p.80). O conceito de emoção é muito variado entre os estudiosos, sendo que alguns a diferenciam do sentimento e outras a percebem como um mesmo estado. Supomos haver sutis diferenças entre estes estados, sendo a emoção caracterizada por um estado efêmero e o sentimento possui uma maior estabilidade em termos de duração. Em seu início de vida, o ser humano assemelha-se aos animais por conta de um repertório de comportamentos reflexos que têm a função de adaptabilidade ao meio ambiente fruto de herança de nossos antepassados ao longo do processo evolutivo. As emoções básicas do humano estão presentes nos animais e têm como finalidade a manutenção da sobrevivência e a defesa da vida. 18 Já os humanos são capazes de fazer a passagem da emoção puramente reflexa (resposta imediata a um estímulo) para um outro estado reflexivo no contato com outros humanos. Este fenômeno ocorre quando da inserção da linguagem que faz parte da ordem do simbólico e que permite ao homem representar as coisas ao seu redor, sonhar, imaginar, fantasiar. 3.1- Emoções Primárias e Emoções Secundárias Já se sabe que tanto os animais quanto os seres humanos reagem a estímulos ambientais com o intuito de preservação e que estas reações cuja base é neurofisiológica são as emoções. Sabe-se também que nem todas as emoções que o homem vivencia é experimentado pelos animais. As emoções podem ser classificadas em: primárias e secundárias. As primárias correspondem às reações espontâneas que parecem pré- programadas, já alojadas em alguma parte do cérebro que, diante de um estímulo com determinadas características ameaçadoras, são disparadas. O sistema límbico é um dos responsáveis por desencadear as reações emocionais em conjunto com a região interna do cérebro chamado de paleocórtex e considerado em termos evolucionário um cérebro arcaico. Este sistema possui um órgão denominado amígdala que processa e detecta as características externas ameaçadoras e através do seu sistema neuronal responde a estas informações produzindo no corpo a emoção de medo, alterando o processamento cognitivo de forma que haja uma correspondência entre o estado e a reação padronizada. A ira é um outro exemplo de emoção primária que funciona como evitação da dor ou forma de alcançar um objetivo impedido por fatores 19 externos, principalmente em se tratando de animais. No humano, segundo Sigmund Freud a energia agressiva é uma resposta do organismo à frustração, podendo se manifestar de forma destrutiva ou não. O processo de desencadeamento das emoções primárias compõe um processo básico e servem como apoio para o desenvolvimento das emoções secundárias que utiliza mecanismos de maior complexidade envolvendo tanto o sistema límbico, mas também os córtices pré-frontais e somatossensoriais. Abaixo, a representação gráfica do processo de emoções primárias: 1.a. O perímetro negro representa o cérebro e o tronco cerebral. Depois de um estímulo ter ativado a amígdala (A), seguem-se várias respostas: internas (assinaladas RI); musculares; viscerais (sinais autônomos); e para os núcleos neurotransmissores e hipotálamo (H). Não incluo no diagrama diversas outras estruturas cerebrais necessárias à implementação dessa enorme série de respostas. Por exemplo, as respostas musculares por meio das quais exprimimos emoções, digamos, com a postura do corpo, utilizam provavelmente estruturas nos gânglios basais (a saber, o chamado striatum ventral). Extraído do livro O Erro de Descartes (Damásio,p.162) 20 A natureza das emoções secundárias está relacionada ao processo de maturação. Em outras palavras, não nascem com o indivíduo, porém são aprendidas ao se estabelecer o contato com outras pessoas. É nas relações sociais que se desenvolvem, por isso partem sempre de experiências vividas anteriormente que formaram imagens mentais, provocando mudanças no estado do corpo, envolvendo sistemas viscerais, musculaturas esqueléticas e glândulas endócrinas (pituitária e supra-renais). Também o sistema imunológico sofre influências em seu funcionamento e todo o quadro afeta a homeostase. O conjunto de emoções experimentado pelo adulto se origina da combinação de elementos como intensidade, agradabilidade/desagradabilidade e aproximação/evitação. Isto significa dizer que estas dimensões combinadas de todas as formas possíveis desencadeiam as diferentes emoções que sentimos, porém a partir de oito emoções consideradas básicas, a saber: ira, alegria, surpresa, pesar, repulsa, medo, pressentimento e consentimento. Parafraseando Damásio, “... emoção é a combinação de um processo avaliatório mental, simples ou complexo, com respostas dispositivas a esse processo, em sua maioria dirigida ao corpo propriamente dito, resultando num estado emocional do corpo, mas também dirigidas ao próprio cérebro (núcleos neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em alterações mentais adicionais”. (p.168/169). 3.2 Resultados do Efeito da Emoção sobre a Conduta Humana Há controvérsias sobre os efeitos da emoção. Alguns teóricos defendem a idéia de que as emoções provocam um efeito negativo sobre o 21 comportamento, desorganizando-o, gerando desempenho inadequado para a realização de algumas tarefas. A ansiedade, por exemplo, comum de se observar em pessoas que vão se submeter a algum tipo de avaliação, testagem pode provocar um fracasso no resultado desta. Alguns experimentos foram desenvolvidos em dois grupos de crianças: algumas que se mostravam mais propensas à sentirem ansiedade em dias de prova e outras que se mostravam mais tranqüilas. Embora o nível intelectual dos dois grupos fosse equivalente, o primeiro tendeu a ter resultados mais baixos e o segundo resultados mais satisfatórios. A despeito destes experimentos, alguns teóricos contrapõem-se a esta idéia, considerando que “... as emoções organizam e dirigem o comportamento...” (p.103). Robert Leeper apresenta um exemplo que confirma esta hipótese. Cita que, ao regressar de viagem, uma família descobre que existe um piromaníaco que já fez vários estragos em outras casas da comunidade tem rondado a vizinhança. Esta informação cria ansiedade em um primeiro momento em todos os membros da família, mas a partir daí, inicia-se um sistema de ações que objetivam evitar tal tragédia em sua própria casa. Primeiro percebem o perigo iminente, provocando uma reação de defesa através da aquisição de um sistema de alarmes. Depois, passam a verificar se as portas e janelas estão bem trancadas. Este exemplo nos mostra como as emoções podem promover atitudes favoráveis neste caso a segurança familiar, corroborando a hipótese de que servem a um propósito de organização. Supomos que, as emoções funcionam para organizar o comportamento, e não para desorganizá-lo, pois o organismo procura sempre manter o estado 22 de homeostase com vistas à continuidade da sobrevivência de acordo com os biologistas. 3.3 Formação do Eu: O Amor Como Fonte Propulsora Anteriormente foi feita a distinção entre a emoção e sentimento. Em toda a história da humanidade, podemos perceber a importância do sentimento denominada amor, em especial para aqueles afeitos às leituras clássicas que propagam o amor como um dos mais nobres sentimentos. Também encontramos experiências no campo da Psicologia que confirmam a importância do amor como condição sine qua non para a continuidade da vida. Alguns estudos revelam que a sobrevivência de um bebê não depende apenas de cuidados especiais no que tange à alimentação, higiene, segurança etc. A formação psíquica depende do estabelecimento de relações afetivas com a progenitora. Aliás, a formação adequada do eu está diretamente baseada na solidificação das relações afetivas com a mãe. O amor impulsiona à constituição da personalidade. Esta é uma das maiores diferenças entre o homem e os animais. Como disse Milton de Oliveira, “A primeira diferença entre o homem e os animais se estabelece nessa relação primária: a emoção orgânica dá origens às relações de afeto e transforma-se no amor”. Mas, o leitor poderia perguntar: O que isso tem a ver com a Capacitação Profissional? A resposta fornecida é: tudo. Não devemos nos esquecer que esta dimensão emocional nos acompanha durante toda nossa jornada na terra, portanto deve ser respeitada por qualquer área do saber. 23 3.4 – Emoções: Fraquezas da Alma O ideal iluminista da razão pura atende à manutenção e perpetuação do status quo. Sabe-se que a cultura ocidental valoriza em termos profissionais, as atividades tecnológicas ligadas às ciências exatas que produzem formas muito eficientes de auxiliar as empresas a obterem cada vez mais lucro. No Brasil, a oferta de empregos nestas áreas é bem mais profícua do que em profissões das áreas humanas. A remuneração e benefícios também são muito mais atraentes. As indústrias se modernizam adquirindo maquinário sofisticado que substitui a força humana, produzindo em alta escala e dificultando o acesso da grande maioria desqualificada ao mercado de trabalho. Se retornarmos ao passado, encontraremos indícios da desvalorização das emoções há muito sedimentada e transmitida de geração a geração. Verificamos em um extenso número de publicações que vão desde a Bíblia até os livros de administração, a propagação desta linha de pensamento. De acordo com as concepções religiosas, as emoções são fraquezas da alma, perturbações mentais, pois se o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é a perfeição, como poderia tal criatura perfeita carregar atributos tão inferiores? Sendo assim, o homem superior não poderia ser dominado pelas paixões, até por serem da ordem corpórea, portanto inferior. A idealização completa do homem é ter o absoluto controle das emoções, atingindo o máximo de maturidade. As reações espontâneas são substituídas pelas artificiais. No campo da administração, a Teoria X surge como um modelo que preconiza a continuidade desta idéia de forma bastante evidente, considerando 24 que o homem somente produz se as variáveis de controle estiverem atuantes. O ambiente de trabalho necessário para tal controle é aquele da submissão a uma rígida hierarquia. A figura do chefe é daquele que tem o poder centralizado em suas mãos, tendo como principal atribuição dar as ordens e checar se as mesmas são realizadas dentro de regras pré-estabelecidas independentemente de consulta ao indivíduo ou grupo responsável pelo cumprimento das mesmas. O “subordinado” é visto como uma peça que faz mover a máquina administrativa e não são levadas em conta as condições para produção, a motivação para desenvolver certas atividades, as aptidões e habilidades. A ideologia desta teoria é que o homem não aprecia o trabalho e que, só o faz mediante uma gestão “mão-de-ferro”. Neste ambiente repressor interessa apenas aos administradores atingir os objetivos máximos de produtividade, relegando a segundo plano o fator humano. A partir de Freud com a descoberta das moções inconscientes, não mais se pode negar a impossibilidade de os sujeitos humanos manterem o controle total de suas ações. Grande parte dos acontecimentos é determinada por motivações que se situam em um lugar que está além de nossa compreensão. O homem é marcado por ser desejante, logo por ser faltoso. Nossas escolhas afetivas, profissionais, em qualquer campo da vida constituem uma eterna busca da completude. Segundo Freud, o processo de humanização do homem só ocorre devido a esta condição. A fundação da cultura caracteriza-se pelo fato de o homem em sendo desejante, buscar gratificações que são impedidas de serem realizadas por esta mesma cultura. Em outras palavras, o homem precisa recalcar sua libido, sublimando-a para poder se relacionar socialmente e construir tudo o que a civilização contém. 25 Capítulo 4 CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Quando se fala em Capacitação Profissional, geralmente a imagem que formamos é a de uma sala-de-aula repleta de pessoas, uma série de recursos visuais e audiovisuais e uma figura central que encarna a função de transmitir informações sobre o assunto em pauta. Ainda hoje é de se notar que a Educação nas Empresas reproduz o modelo tradicional que é utilizado durante o período de formação escolar/acadêmica, embora alguns profissionais da Educação já adotem novas metodologias mais sofisticadas dentro das Organizações. Contudo, esta não é a realidade da maior parte das Empresas, principalmente as nacionais já que treinar pessoas demanda investimento financeiro, sendo visto como um custo adicional e desnecessário. A Era da Informação traz consigo a necessidade de atualização constante de todos, por esta razão existem tantos teóricos das mais variadas áreas do saber, preocupados em criar estratégias para colaborarem com a aprendizagem na empresa. Assim, nascem iniciativas tais como as “learning organizations” de Peter Drucker, considerado o guru atual da administração de empresas. A rapidez com que acontecem as mudanças provoca como reação em cadeia uma forte necessidade de estar informado e é por este motivo que o espaço empresarial deve transformar-se em um espaço de aprendizagem contínua. Existem inúmeros motivos que podemos citar para que tal fato ocorra; um dos mais importantes é que quando se aprende dentro das organizações, a possibilidade de reunir a teoria e a prática em ações mais eficazes torna-se bastante clara, pois devemos considerá-las como metades que se 26 complementam. Uma outra razão para a empresa se tornar um espaço contínuo de aprendizagem refere-se à produtividade, pois como proclama Idalberto Chiavenato “... para que sejam produtivos, os empregados devem sentir que o trabalho é adequado às suas capacidades...” Sabe-se, porém, que por maior investimento realizado ao longo de sua carreira que o profissional tenha realizado, sempre existem aspectos a serem desenvolvidos. Em alguns casos, o empregado possui alto nível de especialização, de qualidade técnica, mas faltam-lhe recursos para relacionarse com as pessoas. Neste exemplo, deverão ser desenvolvidas novas atitudes perante o grupo, incentivando o colaborador ao trabalho em equipe, conscientizando-o de que as novas demandas de mercado já não mais admitem o trabalho isolado e individual. Na Educação Continuada, a proposta é ampliar o universo da aprendizagem com o propósito de abarcar a totalidade da organização sendo esta vista como “... um sistema que convive com outros sistemas numa rede de conexões”. Eis aí mais um motivo para considerar fundamental tornar a organização uma entidade que aprende. Todo o processo de ensino/aprendizagem em uma empresa deve atingir a globalidade do fenômeno humano, abandonando modelos mecanicistas e reducionistas voltados para um único foco. Por esta razão, a educação empresarial deverá atingir quatro aspectos, a saber: o comportamento, a cognição, a afetividade e as atitudes. Assim, capacitar é a palavra de ordem. Capacitar significa tornar competente, ou seja, desenvolver as habilidades, atitudes e comportamentos adequados a um desempenho eficaz no ambiente de trabalho. É importante esclarecer que o termo capacitação está sendo utilizado com igual sentido à palavra treinamento e educação, pois 27 aquela apresenta conotação pejorativa segundo alguns autores que a associam ao significado de adestramento, comumente usado para animais. De acordo com Idalberto Chiavenato, o treinamento (capacitação) pode ser entendido como “um processo educacional de curto prazo aplicado de maneira sistemática e organizada, através do qual as pessoas aprendem conhecimentos, atitudes e habilidades em função de objetivos definidos” (p.294). Pode-se verificar que este processo tem em vista a otimização do potencial humano na busca da excelência por resultados, ou seja, a maximização da produtividade deve ser alcançada através das práticas implantadas pelo órgão de Recursos Humanos. Contudo, deve-se notar que a responsabilidade pelo desenvolvimento educacional dos profissionais é de toda a organização em especial a alta administração deve se envolver e apoiar, pois, do contrário, atingir os resultados esperados se tornará impossível. Em algumas corporações, educar é um elemento utilizado na gestão de negócios, favorecendo a possibilidade de aumento de lucro. Esta nova mentalidade é adotada por empresas cuja visão é de vanguarda, pois elas sabem que a competição acirrada para conquistar novos mercados traz como conseqüência uma nova ordem que é a da qualidade de produtos e serviços oferecidos e isto só é conseguido com profissionais qualificados, felizes e satisfeitos. Em seu livro Gestão de Pessoas, Idalberto Chiavenato determina alguns aspectos fundamentais da moderna gestão de pessoas. Acentua ele: “As pessoas como seres humanos: dotados de personalidades próprias, profundamente diferentes entre si, com uma história particular e diferenciada, possuem doses de conhecimentos, destrezas e capacidade indispensáveis à 28 adequada gestão dos recursos organizacionais. Pessoas como pessoas e não como meros recursos da organização”. É fundamental ressaltar que são as pessoas que dinamizam a empresa, utilizando-se de sua energia para transformá-la através de sua capacidade criativa e inteligente que busca soluções para as mais expressivas dificuldades enfrentadas no cenário atual de alto grau de competitividade. Vale lembrar a idéia defendida pela Teoria Hedonista de que o homem busca o prazer e evita o sofrimento. Esta formulação pode ser estendida para todas as realizações humanas incluindo o ambiente organizacional, principalmente se pensarmos que grande parte do nosso cotidiano está voltada para as atividades laborais com pessoas que não integram nosso núcleo mais íntimo, a família. Logo, este ambiente deve proporcionar felicidade e possibilidade de realização dos projetos. Embora, o trabalho seja uma fonte importante de identidade pessoal, os seres humanos são muito mais do que simples seres produtivos. As demais dimensões da vida podem facilitar ou dificultar a excelência de resultados. A visão sistêmica de empresa também tem que ser adotada para o homem, considerando-o em sua totalidade existencial. Afinal, o homem é um ser ‘’biopsicossocial‘’. Baseados nesta visão globalizante, o indivíduo em si é um sistema propriamente dito; um microcosmo dentro de um macrocosmo. Saímos do nosso ambiente natural onde era necessário usar a força física para dominar as intempéries da natureza em direção à construção da civilização onde é necessário usar a energia da libido canalizando-a para os aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais. 29 4.1. Sociedade do Ter e Implicações na Educação Corporativa Desde os primórdios da história humana, como forma de defender-se de ameaças advindas do exterior, o homem uniu-se a outros da mesma espécie criando sua tribo para caçarem o alimento, protegerem a sua família, lutarem contra animais selvagens em conjunto. O sentido de cooperação e a noção de trabalho em equipe nascem dessas experiências como conseqüência natural da necessidade de sobrevivência, fundando-se também aquilo que denominamos de cultura. A criação de lanças para abater animais gigantescos reflete o início das atividades laborais e de sua organização. Com o passar do tempo e o aumento dos grupamentos humanos, houve a necessidade de identificar no seio destes, um indivíduo que fosse o responsável por vigiar as normas e regras que regulavam o funcionamento das tribos. Surgem os primeiros líderes. Assim, à medida do crescimento populacional, outras ferramentas mais potentes para garantir a subsistência foram sendo inventadas originando a divisão do trabalho. Desta forma, as sociedades foram se sofisticando e por conseqüência foram desenvolvendo novos hábitos de consumo e fundando outras espécies de relacionamento interpessoal baseadas nos escambos. Em um outro período, os escambos foram substituídos pelo papel-moeda que passou a representar uma nova ordem estabelecida. Inaugurou-se a Era da Industrialização e o advento do capital tornou-se uma conquista a ser realizada custasse o que custasse. Eis o marco inicial da constituição das sociedades modernas voltadas para o consumo exacerbado de produtos e serviços. 30 A base das sociedades atuais com raras exceções tem como pilar de sua existência o modo TER de viver. Nas sociedades capitalistas a questão dos altos ganhos perpassa por questões relativas à ética e à moral. As pessoas são valorizadas a partir de uma análise das aquisições materiais, das propriedades privadas e dos bens. Pessoas muito ricas se dão ao luxo de comprar ilhas e praias, tornandoas propriedade particular, impedindo aqueles que não participam do seu meio social de usufruir as belezas naturais e punindo quem ouse ingressar nestas paragens. Acostumamo-nos a olhar como espectadores para o mundo a nossa volta, considerando perfeitamente natural as desigualdades sócio-econômicas e os tratamentos opressores e sub-humanos com que as elites e os donos do poder habitualmente lidam com classes menos favorecidas. No âmbito das organizações parece que as normas e regulamentos de relacionamento remetem à questão do poder cujo significado da palavra é a de possuir. Sendo assim, as rígidas hierarquias e centralização do poder de decisão nas mãos da minoria reproduzem fielmente as condições em que vive grande parte da população diante do Poder Público. Parafraseando Bárbara Towley em seu texto “Conhecimento e Poder nas Organizações”, a área de Recursos Humanos apresenta “... uma preocupação com a manutenção do sistema, característica da perspectiva funcionalista. Ao refletir sobre preocupações como a eficiência, remanescente da teoria clássica de administração, a ARH não passa de um mecanismo por meio do qual a realização dos objetivos e a sobrevivência de organizações podem ser promovidas...” (Davel e Vergara, p.118). 31 Os colaboradores são então percebidos como objetos que servem ao propósito de satisfazer ao prazer desta minoria. Por esta razão, quanto menos pensar, mais facilmente se conduz os grupos a agirem em favor deste prazer sem que percebam com clareza o jugo sob o qual estão. Manter o estado de consciência ingênua nos empregados é uma das principais missões latentes do setor de Treinamento e Desenvolvimento que deve atender prioritariamente às necessidades corporativas em que muitas das vezes poderá ser conflitante com a dos personagens principais. Através da promoção de diversas atividades “educativas”, por exemplo, é possível fazer uma triagem das informações que devem chegar às várias equipes. Em empresas cujos índices de profissionais não-alfabetizados ou semi-alfabetizados é significativo, trazendo prejuízos à consecução dos objetivos corporativos, costuma-se criar salas e contratar professores para orientarem destes trabalhadores. Aparentemente é uma iniciativa que deveria ser aplaudida se não fosse o fato de que o objetivo magno de contribuição social fica relegado a um segundo plano em favor da possibilidade de manter por mais horas estes trabalhadores como reféns de sua própria ignorância. Deduz-se que a educação na empresa poderá atender a determinados propósitos que fogem a sua função máxima que é desenvolver a consciência crítica. É importante ressaltar que a observação acima mencionada não diz respeito a todas as empresas, mas reflete a realidade de um número bastante significativo. Ainda na escola, principalmente no Brasil, massifica-se os conteúdos programáticos sem que haja uma averiguação da real necessidade de transmissão das informações e desconsiderando as características peculiares tais como aptidões, habilidades e preferências por determinada matéria. 32 4.2. Funções da Educação De acordo com Querolim (p.21) como “... instrumento capaz de mediar as relações do homem com o mundo, a educação possui algumas funções”. Examinaremos cada uma cuidadosamente: Função Redentora Fundamenta-se no fato de que a sociedade é constituída de diversos indivíduos que devem conviver harmonicamente integrada para que haja um bom funcionamento da mesma. A função da educação é alcançar este objetivo. Denomina-se redentora por estar atrelada à origem do processo educacional cujos primórdios como um saber organizado está diretamente ligado à educação cristã. Comênio, autor de “Didática Magna: Tratado da arte de ensinar tudo a todos”, sugere que a educação tem como objetivo redimir o homem ensinando-o como viver verdadeiramente, portanto a vê como um ato de amor. Suas ações compreendem desenvolver valores éticos nos cidadãos para servir de modelo para tomada de decisões, podendo ser entendido seu papel latente como um aparelho repressor. Função Reprodutora Esta corrente de pensamento defende a idéia de que a educação é parte integral da sociedade, por isso a função é reproduzir a organização social no interior da escola. Coloca-se ao dispor dos interesses das ideologias dominantes. 33 Este modelo não consiste em construir uma fórmula, mas uma forma que saiam padronizadas, oferecendo respostas iguais em condições iguais. As pessoas pensam que pensam. É um mecanismo de dominação. Através da escola, o aluno aprende a reproduzir os modelos autoritários. Traz como resultado o que foi discutido anteriormente e é a prática mais comum encontrada nos espaços escolares. Não pretende atingir objetivos que trariam mais felicidade para todos, apenas intenciona reproduzir fielmente o sistema. Esta proposta envolve os professores em sua teia, levando-os a tornarem-se agentes do sistema que eles repoduzem. Função Transformadora Esta tem como propósito criar alicerces para servir como um mediador de um projeto social que possui determinantes e condicionantes, ou seja, uma influência mútua na relação que estabelece com outras instâncias, podendo estar a serviço de processos democráticos de condução da sociedade. Luta pela transformação social e toma este objetivo como seu papel principal, atingindo aspectos políticos, sociais e econômicos. Demonstra ter um caráter conservador e de vanguarda. Dos modelos apresentados, pode-se ter uma visão mais ampla de que a vida das pessoas pode ser manipulada. O mecanismo da educação é um dos mais poderosos instrumentos capazes de realmente contribuir para o crescimento do país como nação. 34 Os profissionais da educação precisam rever seus conceitos a fim de perceber até que pontos não estão reproduzindo em sala paradigmas que ferem seus valores. 4.3. Contribuições da Psicanálise para a Educação Freud, o fundador da Psicanálise, possuía um interesse especial em educação, podendo ser percebido na sua obra. Sugeria que seu papel é “... fortalecer as barreiras no tocante ao fluxo das pulsões sexuais, estabelecendo repugnância, sentimentos de vergonha e as exigências dos ideais estéticos e morais”. (p.39/40). A meta da educação é colaborar com o controle dos impulsos sexuais, restringindo-os na infância, pois a permanência levaria o impulso a um ponto incontrolável, podendo torná-lo inútil depois. Na realidade, a educação tem uma faceta conflitiva, haja vista ser a mediadora entre os impulsos sexuais e o comportamento social. O mestre de Viena é favorável a idéia de que o educador deve se familiarizar com os conceitos da psicanálise com o objetivo de tentar abolir os impulsos considerados indesejáveis pela sociedade, posto que estes esforços constituem um modo de colaborar para o surgimento de futuras neuroses ao invés de adequá-la ao mundo. Sua proposta para educadores é que atentem para a sublimação e deixem de lado a repressão. Propõe que a psicanálise pode evidenciar que os instintos associais e perversos na criança não deveriam ser submetidos à repressão e sim desviado de seus objetivos originais para outros mais valiosos, caracterizando o processo de sublimação ao qual foi referido anteriormente. 35 A esta altura, o leitor pode estar se perguntando porque levantamos estas reflexões sobre a educação infantil se estamos tratando da educação empresarial. Sabemos que o inconsciente, ou seja, aquela dimensão psíquica a que não temos acesso fácil ao seu conteúdo está presente na vida de crianças e adultos dirigindo a conduta e manisfestando-se em todas as ocasiões. Sendo assim, os responsáveis por capacitar profissionais deveriam ter conhecimentos ainda que rudimentares a respeito da constituição do aparelho anímico, mecanismos de defesa do ego e conceitos básicos que auxiliam a trazer à tona motivações intrínsecas ao educando que poderão dificultar sua compreensão da proposta pedagógica. Estes conhecimentos favorecem a leitura do imaginário que poderão auxiliar na consecução de uma proposta que faça jus às necessidades da empresa em questão. Atualmente, alguns pedagogos empresariais já utilizam alguns conhecimentos oriundos da contribuição da psicanálise como é o caso da Culturanálise cuja proposta é através da realização de pesquisa junto aos colaboradores da empresa, buscar indícios através da análise das respostas literalmente transcritas tanto dos problemas manifestos conscientemente quanto daqueles que participam do imaginário organizacional. Desta forma, o projeto educacional proposto através destas análises poderá atender às demandas da dimensão subjetiva, do interdito, do proibido. 36 4.4. Objetividade e Subjetividade nas Organizações As empresas são criadas para gerarem um capital cada vez maior que se bem investido, retorna multiplicado para os acionistas. Os conhecimentos descobertos são todos aplicados para um aumento cada vez maior da eficácia organizacional. Nas prateleiras das livrarias são lançadas a cada ano, várias publicações que se tornam best-seller, propondo fórmulas de sucesso organizacional. Marketing, propaganda, administração e economia são saberes voltados para o mesmo objetivo: lucro máximo. Vive-se uma época de grande apelo ao exterior estimulada pelo mercado de bens e serviços que são produzidos com a finalidade de atingir a pessoas de diversas faixas etárias para o consumo desenfreado. Se pararmos para fazer uma reflexão, descobriremos que a maioria dos produtos que compramos são dispensáveis a nossa subsistência, porque as propagandas se apropriam de conhecimentos sobre o comportamento humano para induzirem a aquisição desenfreada e desmedida de produtos e serviços que mal temos tempo de aproveitar. Este é o momento do show -business, de efeitos especiais onde o ter parece tornar o lugar do ser. Somos treinados desde a infância a olhar apenas para a aparência das pessoas. Os cabelos bem cuidados, as roupas de griffes famosas, o automóvel importado são os instrumentos de medida usados para definir os bem-sucedidos e felizes no cenário contemporâneo. A classe de pessoas que, por alguma razão, não conseguem obter tais dádivas é olhada por nós com menosprezo. Não nos damos nem ao luxo de 37 observar por detrás das aparências, esquecendo-nos que também fazem parte da comunidade humana com anseios, necessidades como as nossas. Somos levados de roldão neste turbilhão de acontecimentos. Apenas quando se enfrenta algum problema grave que mobiliza a necessidade de reajustamento da própria vida, o indivíduo consegue se dar conta que deve reconsiderar certos aspectos da vida, até então negligenciados. Esta perspectiva abrange a noção de interioridade, revitalizando o desejo de um encontro mais verdadeiro consigo mesmo e com o outro. É emergente a redescoberta da mais bela relação entre os humanos. Devemos abandonar o relacionamento Eu-Objeto para iniciarmos o encontro do Eu-Tu onde ninguém subjuga ninguém aos seus caprichos, mas vê no outro a sua própria imagem refletida. É o encontro de seres humanos. A instância ser da vida está vinculada aos sentimentos. Solidariedade, compaixão, amor, respeito, consideração são alguns sentimentos que temos esquecido dentro das gavetas e até mesmo, deixado de experimentar presos que estamos a determinadas trivialidades. A partir do momento que os profissionais de Educação dentro do contexto organizacional reverem suas posições de forma crítica, repensando a que modelos estão dispostos a atender e reconsiderando seu papel como agente de mudança, além de considerar a dimensão subjetiva em seus projetos de trabalho, uma nova ordem poderá ser estabelecida de modo mais justo para todos os envolvidos na empresa. Poderemos ter pessoas felizes realmente. 38 CONCLUSÃO O imperativo das mudanças no desenvolvimento das capacidades humanas é uma realidade do mundo contemporâneo. Estudos recentes apontam para novos ditames no contexto organizacional. À medida que avançam a tecnologia e informática, as ciências se desenvolvem também como um reflexo da modernidade, pois novos equipamentos auxiliam a caminhar por novos rumos até então inimagináveis de existirem. A religião e a ciência sempre defenderam pontos de vista opostos, gerando mal-estar entre os representantes de cada categoria. Nos novos tempos, a ordem é evitar interpretações dicotômicas e posturas rígidas, fechadas, já que sempre podemos aprender e desenvolver novas atitudes perante a vida. Temos que manter a humildade a todo custo, pois a cada nova hipótese levantada, existe sempre uma forma de refutá-la. A visão cartesiana corpo/mente e demais correntes filosóficas e abordagens da teoria das organizações perpetuam uma imagem dualista que não respeita o ser completo, holístico e é esta a razão principal de o homem conviver com realidades opostas em sua existência, não conseguindo responder às desgraças humanas de jeito que elas não mais precisem existir. Robôs que executam tarefas nas indústrias convivem lado a lado com adultos desqualificados que perdem seus empregos, submetendo-se a trabalharem na economia informal para evitar a fome. Logo, pedagogos empresariais podem contribuir para minimizar sofrimentos como este através de um trabalho onde seja incluída a dimensão subjetiva que caracteriza o homem como humano. 39 BIBLIOGRAFIA CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos Recursos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999. DAMÁSIO, António R. O Erro de Descartes - Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1996. DAVEL, Eduardo e VERGARA, Sylvia Constant. Gestão com Pessoas e Subjetividade. São Paulo: Editora Atlas, 2001. MURRAY, Edward J. Motivação e Emoção. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986. OLIVEIRA, Milton de. Energia Emocional. São Paulo: Makron Books, 2000. CHANLAT, J.F. O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992 a. v.1. DAVEL, E.P.B; VASCONCELOS, J.G. “Recursos” humanos e subjetividade. Petrópolis: Vozes, 2000. 40 ÍNDICE Sumário 7 CAPÍTULO 1 Objetividade e Subjetividade nas Ciências CAPÍTULO 2 10 12 Bases Neurobiológicas na Tomada de Decisões CAPÍTULO 3 A Importância das Emoções 3.1 - Emoções Primárias e Emoções Secundárias 3.2 – Resultados do Efeito da Emoção sobre a 17 18 20 Conduta Humana 3.3 – Formação do Eu: O Amor como Fonte Propulsora 3.4 – Emoções: Fraquezas da Alma 22 23 CAPÍTULO 4 Capacitação Profissional 25 4.1. Sociedade do TER e implicações na empresa 29 4.2. Funções da Educação 32 4.3.Contribuições da Psicanálise na educação 34 36 4.4. Objetividade e Subjetividade na Organização Conclusão 38 39 Bibliografia Consultada 41 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da Monografia: A INFLUÊNCIA DA SUBJETIVIDADE NA CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Data da Entrega: 30/09/2003 Avaliação: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _____________________________________. Avaliado por: _________________________________. Grau: ________. ____________________, ____ de ________________ de ______.