Trabalho publicado no "XVIII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica: Anais de trabalhos completos. São José dos Campos: Univap, vol. 2/5, p.35-40, 2002". Método para Inspeção de Bombas Infusoras Hirama, R.T.1; Nishikawa, R.2 ; Penco, M.C.C.3 ; Yokoo, R.4 & Ramírez, E.F.F.5 1,2,3,4 5 Alunos e Prof. M.Sc. do Departamento de Engenharia Elétrica (DEEL), Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Brasil, Caixa Postal 6001, CEP 86051-990 Fone: +55 43 371 4789, Fax: + 55 43 371 4790 [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo - Neste trabalho será mostrado o processo de implantação de um programa de controle de qualidade de bombas infusoras no Hospital Universitário Regional Norte do Paraná (HURNP/UEL) em conjunto com alunos e professores do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Londrina (DEEL/CTU/UEL). As rotinas implantadas consistiram em: inspeção visual, verificação da bateria, limpeza e lubrificação dos roletes e do rotor e testes de fluxo e oclusão. Através de uma análise de custos dos testes realizados percebeu-se que o item mão-de-obra altera significativamente o custo final. Entretanto, com o passar do tempo os custos inicialmente altos tendem a diminuir, pois quando a equipe ganha experiência técnica e gerencial otimizam-se o tempo gasto e os métodos utilizados. Além disso, o estabelecimento de um convênio entre hospitais e centros de formação de técnicos em eletrônica ou engenheiros eletricistas pode garantir mão-de-obra qualificada a um custo baixo para o hospital. Assim, este programa mostrou-se viável em um hospital-escola público de médio porte, apoiado por um curso de graduação em Engenharia Elétrica desde que seja feito um trabalho de minimização dos problemas associados a um serviço público. Palavras-chave: Bombas Infusoras, Manutenção Preventiva, Engenharia Clínica. Abstract - This paper shows a quality control program for infusion pumps that was established and performed by an electrical engineering lecturer and some students (DEEL/CTU/UEL) at the University Hospital of the State University of Londrina (HURNP/UEL). The quality control consists of visual inspection, battery tests, cleaning and lubrication of pump rollers, and flow / occlusion tests. In addition, it was done a cost analysis indicating that final cost was significantly affected by the amount of labor hours. So, the costs tend to reduce when the quality control group gains experience and optimizes the time and materials involved during the tests. It was also showed that cooperation between hospitals and engineering schools is desirable because it permits the utilization of qualified personnel at low costs. Finally, this work concludes for the feasibility of an internal quality control service in a public medium-sized teaching hospital supported by an electrical engineering graduation course. However, some problems usually found in a public service must be minimized. Key-words: Infusion Pumps, Preventive Maintenance, Clinical Engineering. Introdução Com o avanço da biomedicina, medicamentos mais potentes e perigosos são desenvolvidos a fim de agirem com maior eficácia. A infusão de soluções intravenosas contendo esses medicamentos, ou mesmo o fornecimento de nutrição enteral, vêm sendo atividades rotineiras em hospitais, tornando o volume infundido dessas substâncias fator importante para o sucesso do tratamento. Para isto, utilizam-se infusões por gravidade, que consistem em frascos flexíveis suspensos por hastes onde a pressão é controlada manualmente por pinças. Este método acarreta erros no volume infundido principalmente quando são necessárias baixas vazões (menores que 50 ml/h), devido ao volume infundido ser controlado visualmente e a pressão no equipo ser menor à medida que a coluna da solução do frasco diminui. Assim, as bombas infusoras surgiram para facilitar a infusão venosa precisa e consistente de drogas cardiovasculares potentes e de ação rápida, além de outras drogas ou soluções. Existem diversos mecanismos de funcionamento das bombas infusoras peristálticas (HPCS, 2000): -bomba peristáltica rotativa, que usa um equipo especial com um pequeno tubo de silicone o qual é esticado por roletes montados em um rotor. À medida que o rotor gira a uma velocidade precisa, os roletes comprimem o tubo e forçam o fluido, entre os roletes, a passar do frasco para o paciente na vazão escolhida. -bomba peristáltica linear, que usa discos semelhantes a dedos que comprimem o tubo de um equipo simples sucessivamente em um movimento ondulatório. O tubo é mantido contra uma placa estacionária e é alternadamente pressionado e liberado pelos dedos móveis, forçando o fluido a se mover. Uma segunda modalidade de mecanismo de bombeamento utiliza um cassete normalmente composto de um dispositivo do tipo pistão, com tubos entrando e saindo de ambos os lados. Nestas bombas, um pistão movido a motor se movimenta através da entrada e saída de um cilindro. Quando o pistão entra, há infusão de fluido no paciente e, quando o pistão sai, ocorre a aspiração de líquido do frasco, enchendo novamente o cassete (HPCS, 2000). Além dos tipos mencionados, existem também as bombas infusoras de seringa, ou bombas de perfusão, que são compostas por um êmbolo, um encosto, uma seringa e um motor. A bomba de seringa expele o fluido da seringa avançando ora o êmbolo, ora o encosto com uma velocidade controlada por um motor, cuja velocidade varia com a vazão prefixada e o tamanho da seringa. A maioria das bombas usa um motor de passo que fornece volume determinado a cada passo (HPCS, 1999). Além de realizarem infusões mais precisas, as bombas infusoras reduzem a incidência de alguns problemas ligados a equipos de infusão manual por gravidade, incluindo variações na taxas de infusão e vazão-livre devido a pinças deslocadas em infusões “secas” (equipos que se enchem de ar quando o frasco fica vazio). Além disso, as bombas infusoras possuem uma série de alarmes que avisam o operador de condições que possam ser prejudiciais ao paciente, como: fim de infusão, entrada de ar na linha, frasco vazio, oclusão e erro de fluxo. Essa versatilidade das bombas provoca uma menor atenção do corpo clínico nos hospitais, que acabam deixando todo o processo a cargo das máquinas. De início isso não acarreta nenhum problema, mas o uso contínuo dos equipamentos provoca desgastes em seus componentes e sua calibração sofre alterações, colocando em risco a saúde do paciente. Portanto é importante utilizar-se dos serviços de um engenheiro clínico, que poderá garantir o bom funcionamento dos equipamentos, possibilitando a redução de custos e o aumento da eficácia dos procedimentos relacionados com a tecnologia na saúde (Betts, 1987). Assim, o engenheiro clínico poderá fornecer apoio científico, técnico e gerencial para a administração, os departamentos clínicos e o corpo médico do hospital, de maneira a garantir a melhor qualidade possível dos serviços prestados pelo hospital com relação às tecnologias médicas. O gerenciamento de um programa de manutenção preventiva (MP) é uma importante atribuição do engenheiro clínico. A MP normalmente consiste em um conjunto de procedimentos e testes periódicos nos equipamentos para diminuir a probabilidade de falhas, evitando que determinado equipamento funcione em más condições ou desfalque seu setor por um longo período devido à espera por conserto. Os riscos envolvidos na utilização de equipamentos que não recebem manutenção preventiva são muito grandes. Existem vários casos de acidentes ocorridos por equipamentos médico-hospitalares que poderiam ter sido evitados caso os mesmos recebessem MP (Costa et al., 1995). Assim, devido à importância da implantação de um programa de manutenção preventiva, neste trabalho será mostrada a experiência de implantação de um sistema de controle de qualidade de bombas infusoras no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP) em conjunto com o Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Londrina (DEEL / UEL). Com isto, estarão sendo dados os primeiros passos para a implantação de um programa de manutenção preventiva de bombas infusoras no HURNP. Metodologia Inicialmente realizou-se uma pesquisa junto ao patrimônio do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP / UEL) de 300 leitos, para caracterizar os tipos, marcas, modelos e quantidades existentes de bombas infusoras nos diversos setores do hospital (UTIs, centro cirúrgico, pronto socorro e enfermarias). O primeiro problema encontrado foi a falta de padronização do banco de dados, pois algumas bombas de seringa e de microinfusão estavam com o mesmo nome genérico ("bombas infusoras") dado às bombas peristálticas. Além disso, algumas bombas de seringa constavam como bombas de perfusão. Ao final dos testes, estes problemas foram enumerados e levados para as chefias responsáveis, que fizeram as devidas correções nos prontuários dos equipamentos. O resultado do inventário atualizado de bombas infusoras do hospital é mostrado na tabela 1. Em seguida, fez-se o estudo das normas pertinentes às bombas infusoras (ABNT, 1999; ANSI, 1992). Os testes sugeridos por estas normas requeriam um tempo muito grande e uma série de equipamentos de apoio (balanças analíticas, pipetas, becker, etc.) que deveriam ficar em um ambiente rigorosamente climatizado. Percebeu-se que estes testes são mais adequados em ensaios para a certificação ou obtenção do registro de comercialização da vigilância sanitária para equipamentos recémfabricados e não visando a aferição de equipamentos em funcionamento. Como o objetivo do trabalho era verificar, de maneira relativamente rápida, qual a situação do parque de bombas infusoras no HURNP/UEL, optou-se por adquirir um testador disponível no mercado. Após licitação, adquiriu-se um testador de bombas infusoras da marca Bio-Tek, Modelo IDA4 PLUS de 02 canais, que custou R$ 15.700,00. Durante o processo de aquisição foram encontrados obstáculos como: o tempo longo de licitação (06 meses); o tempo longo de entrega (04 meses); o tempo longo de manutenção na garantia (11 meses) do equipamento (pois o mesmo era importado); e as tentativas de impedir o funcionamento do IDA-4 PLUS por parte de empresas locais que atrasaram a realização do projeto. Para minimizar alguns destes problemas, a empresa fornecedora emprestou outro equipamento para que os testes pudessem ser concluídos. Com o estudo dos manuais das bombas de infusão (B.Braun, 1997; 1998) e do IDA-4 PLUS (Bio-tek, 2000), além de informações adquiridas junto ao corpo clinico, foi elaborado um roteiro de procedimentos e testes para verificar o funcionamento das bombas infusoras dentro das faixas de infusão mais utilizadas pelo hospital. Para a realização dos testes, a divisão de manutenção (DMPE) do hospital cedeu uma sala, onde foi montado um laboratório. Já os materiais de consumo, tais como equipos de soro, água destilada, ferramentas, óleo lubrificante, álcool e outros, foram fornecidos pelas chefias de enfermagem e da DMPE. A equipe encarregada de fazer os testes era composta por 01 professor especialista em Engenharia Clínica, 02 técnicos de manutenção do hospital e 12 alunos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Londrina. Esta equipe era assistida pelos técnicos de manutenção de equipamentos do HURNP quanto aos procedimentos de manutenção das bombas. Os resultados dos testes foram registrados em planilhas de Excel. Inicialmente, o teste de cada bomba estava previsto para aproximadamente 4 horas. No decorrer dos testes, pode-se verificar graficamente que o valor do fluxo médio se estabilizava com um tempo bem menor. Assim, foi possível reduzir o tempo dos testes. No início dos testes, tentou-se recolher as bombas seguindo um critério de seleção por setor, mas alguns fatores como o alto grau de utilização e a falta de cooperação e desinteresse dos chefes de alguns setores mostraram ser insuficiente o uso de apenas este critério. Além disso, havia dificuldade para encontrar as bombas nos setores de origem, pois havia uma grande circulação das bombas infusoras pelos vários setores do hospital. Por isso, os números de patrimônio (FUEL) das bombas encontradas dificilmente correspondiam aos setores de origem das mesmas. Ao fim de cada teste, uma etiqueta adesiva foi colada na parte inferior das bombas, constando a data do teste em azul, caso o equipamento fosse aprovado, ou em vermelho, caso reprovado. Isto facilitou a identificação das bombas já testadas e das que precisariam de manutenção mais urgente. Além disso, tornou possível para as enfermeiras identificar e separar as bombas que precisariam ser testadas posteriormente. Contudo, alguns setores continuaram dificultando a retirada das bombas do local de uso. Em setores onde há grande utilização de bombas infusoras, como nas UTIs, foi adotado um sistema de "troca". Uma bomba pertencente ao departamento de Engenharia Elétrica da UEL era emprestada ao setor durante o tempo em que a bomba do setor era retirada para os testes. Após 03 varreduras gerais no hospital algumas bombas não foram encontradas, algumas estavam esperando conserto, e outras em manutenção externa. Mais detalhes dos resultados das buscas serão mostrados na seção de resultados deste trabalho. Durante a preparação dos testes ocorreram alguns contratempos, tais como a retirada de bolhas de ar dos equipos de soro, entrada de ar no IDA-4 PLUS e erros de operação por parte da equipe que realizava os testes. O trabalho feito com cada bomba pode ser dividido em 4 etapas: 1- Inspeção visual, que consistiu na verificação de avarias na carcaça, painel, cabo e sensor; 2- Verificação do funcionamento da bateria; 3- Limpeza e lubrificação dos roletes e do rotor; 4- Verificação do funcionamento, através de testes de fluxo e oclusão. Para as bombas peristálticas (rotativas ou lineares) os testes realizados foram os seguintes: 1º teste de fluxo: com fluxo médio de 5 ml/h para um volume de 10 ml, inicialmente com duração de 2 horas, foi reduzido a aproximadamente meia hora. As bombas com erro inferior a 7% foram consideradas aprovadas neste teste. 2º teste de fluxo: com fluxo médio de 20 ml/h para um volume de 20 ml, inicialmente com duração de 1 hora, foi reduzido a aproximadamente 15 minutos. As bombas com erro inferior a 6% foram consideradas aprovadas neste teste. 3º teste de fluxo: com fluxo médio de 50 ml/h para um volume de 20 ml, inicialmente com duração de 24 minutos, foi reduzido a aproximadamente 15 minutos. As bombas com erro inferior a 6% foram consideradas aprovadas neste teste. Teste de oclusão: Com duração entre 1 e 3 minutos, este teste verifica qual a pressão necessária para obstruir a passagem do liquido infundido e quanto tempo a bomba demora a responder a esta pressão, disparando o alarme. Para as bombas de seringa, os testes realizados foram os seguintes: 1º teste de fluxo: com fluxo médio de 1,2 ml/h para um volume de 2,4 ml, com duração de 2 horas. As bombas com erro inferior a 4% foram consideradas aprovadas neste teste. Tabela 1 - Caracterização do Parque de Bombas Infusoras do HURNP / UEL. MARCA B.BRAUN B.BRAUN DIGICARE B.BRAUN SAMTRONIC SAMTRONIC RESCA MODELO NUTRIMAT EP-20 NUTRIMAT II DIGIPUMP LP-5100 PERFUSOR FM 650 670 MICROINFUSOR CXT TIPO PERISTÁLTICA ROTATIVA PERISTÁLTICA ROTATIVA PERISTÁLTICA LINEAR SERINGA SERINGA SERINGA MICROINFUSÃO TOTAL QUANTIDADE 21 (19,6%) 72 (67,3%) 02 (1,8%) 04 (3,8%) 01 (0,9%) 04 (3,8%) 03 (2,8%) 107 (100%) Tabela 2 - Resultados dos testes Modelo / Marca Nutrimat II (B.Braun) EP20 (B.Braun) Perfusor FM (B.Braun) 650 (Samtronic) 670 (Samtronic) Microinfusor (Resca) Digipump (Digicare) Tipo 22 Com Defeito 04 Em Conserto 16 Não Encontradas 04 72 (67,3%) 07 08 02 03 01 21 (19,6%) 03 01 - - - 04 (03,7%) Seringa - 01 - - - 01 (00,9%) Seringa 02 - - - 02 04 (03,7%) Micro Infusão Peristáltica Linear Totais 01 - - - 02 03 (02,8%) 01 - 01 - - 02 (01,9%) 40 (37,4%) 32 (29,91%) 07 (6,5%) 19 (17,8%) 09 (8,4%) 107 (100%) Peristáltica Rotativa Peristáltica Rotativa Seringa Aprov. Reprov. 26 2º teste de fluxo: com fluxo médio de 12 ml/h para um volume de 10 ml, com duração de 50 minutos. As bombas com erro inferior a 3% foram consideradas aprovadas neste teste. O teste realizado com bombas de microinfusão foi feito com fluxo de 1,667 ml/h com volume de 2,3 ml/h realizado em 1,5 horas aproximadamente. O erro encontrado foi menor que 1 % e a bomba considerada aprovada. Resultados A tabela 2 apresenta os resultados dos testes descritos na metodologia. Na tabela 3 encontra-se o tempo gasto em cada etapa dos testes. Nela são mostrados: -Total de horas trabalhadas: tempo total gasto, incluindo a limpeza, preparação, montagem e realização dos testes, além da localização e transporte das bombas dos setores para o local de trabalho; -Tempo de teste: duração dos testes medida pelo cronômetro do IDA-4 PLUS; -Tempo de limpeza: tempo gasto na limpeza das bombas; -Tempo de preparação das bombas: que inclui a colocação do equipo, montagem e conexão ao aparelho de testes; Total -Tempo efetivo de trabalho = tempo de teste + tempo de limpeza + tempo de preparação; -Tempo de preparação para os testes: tempo gasto na localização, transporte, espera de liberação dos equipamentos nos setores, preenchimento de formulários, colocação de etiquetas, etc). Informações Adicionais: -Tempo Médio para Testar 01 bomba infusora = 03:08 hrs (medido pelo cronômetro do IDA-4 PLUS). -Tempo Total de Testes=247,53 hrs (79 bombas) -Número de Pessoas que realizaram os testes = 15 (1 professor, 2 técnicos e 12 estudantes) -Período de realização dos testes = 03 meses -Custo de implantação = R$ 15.700 (Equipamento de Testes) + R$ 1.000 (Bancada)=R$ 16.700=CI -Custo de Operação Anual = R$ 2.000 (calibração e manutenção) + R$ 300,00(materiais)= R$ 2.300,00 = CA -Custo Médio de cada teste (CMT) supondo uma vida útil de 10 anos do equipamento será: CI 10 anos CMT = = R$ 37 ,10 107 × 1 teste por ano CA + (1) Tabela 3 - Tempo gasto nos testes Total de horas trabalhadas 169h (100%) * Tempo Efetivo de Trabalho Tempo Tempo Tempo de de de preparação teste limpeza das bombas 107,58h 13,75h 9,17h (63,66%) (8,14%) (5,42%) 130,50 (77,22%) Tempo de preparação para os testes 38,5h (22,78%) (*) Dados referentes aos testes realizados nas últimas 55 bombas infusoras. Nas bombas restantes somente foi registrado o tempo efetivo de trabalho. Discussão e Conclusões Verifica-se na tabela 2, que houve um número significativo de bombas não encontradas (09 bombas ou 8,4% do total). Elas devem ser localizadas para que seja possível a avaliação de seu estado de funcionamento, pois podem apresentar risco à saúde dos pacientes caso estejam sem condições de uso. Também vale a pena ressaltar que os testes apresentaram custo relativamente baixo, em torno de R$ 37,00 por teste, pois o hospital não teve gastos com as horas trabalhadas pelos participantes do projeto. Estimando os valores de horas técnicas de R$ 2,84 (alunos), R$ 6,25 (técnicos) e R$ 13,28 (professor), baseados nos valores brutos de salários de professor e técnicos, e bolsas de iniciação científica dos alunos, se o hospital fosse pagar os serviços prestados, os custos seriam os seguintes: -Custo de implantação = R$ 15.700 (Equipamento de Testes) + R$ 1.000 (Bancada) + R$ 637,44 (48 horas de professor para preparação dos manuais técnicos e treinamento aos alunos) = R$ 17.337,44 = CI -Custo de Operação Anual = R$ 7.891,79 (335,27 Horas de Professor + 108,5 Horas dos Técnicos + 972,28 Horas de Alunos) + R$ 2.000, 00 (calibração e manutenção) + R$ 300,00 (materiais) = R$ 10.191,79 = CA Assim, o Custo Médio de cada teste (CMT) supondo uma vida útil de 10 anos do equipamento será: CI 10 anos CMT = = R $111,45 107 × 1 teste por ano CA + (2) Entretanto, verificando que o custo médio de conserto das bombas está na faixa dos R$ 100,00, pode-se concluir que o custo de cada teste está muito alto, ficando fora da realidade. Isto aconteceu pois nele está englobado o custo de aprendizado da equipe e a necessidade do professor ter de acompanhar todos os testes para orientar os alunos e os técnicos. Considerando uma hipótese mais realista, ou seja, uma equipe mais enxuta (01 professor para orientar os trabalhos, 01 técnico do hospital e 02 alunos estagiários para realizarem os testes), com as rotinas de testes otimizadas e com os membros devidamente treinados e experientes, a tendência será os custos diminuírem com o passar dos anos como mostrado a seguir: -Custo de implantação = R$ 15.700 (Equipamento de Testes) + R$ 1.000 (Bancada) + R$ 637,44 (48 horas de professor para preparação dos manuais técnicos e treinamento aos alunos) = R$ 17.337,44 = CI -Custo de Operação Anual = R$ 2.417,42 (33,53 Horas de Professor + 10,85 Horas dos Técnicos + 670,54 Horas de Alunos) + R$ 2.000 (calibração e manutenção) + R$ 300, 00 (materiais) = R$ 4.717,42 = CA Assim, o Custo Médio de cada teste (CMT) supondo uma vida útil de 10 anos do equipamento será: CI 10 anos CMT = = R$ 60,29 107 × 1 teste por ano CA + (3) O valor encontrado na equação (3) está mais de acordo com o mercado, pois o custo do controle de qualidade (R$ 60,29) estará abaixo do custo médio de conserto (R$ 100,00). O estudo das condições das bombas reprovadas é sumamente importante, pois, em alguns casos, seu conserto pode não ser viável economicamente, sendo uma melhor opção, a substituição do aparelho. A análise de custos é muito importante, tanto no momento da manutenção quanto na aquisição do equipamento, pois existem bombas de infusão (peristálticas rotativas) que são baratas, mas utilizam equipos caros (dedicados). Por outro lado, as bombas peristálticas lineares que utilizam equipos simples (mais baratos) são muito mais caras. O hospital deverá avaliar o grau de utilização das bombas de modo a escolher a opção mais adequada para seu caso, minimizando assim os gastos de operação e manutenção destes equipamentos. Analisando os resultados da tabela 2 notase que 49,37%, ou seja, 39 das 79 bombas testadas, foram reprovadas (apresentavam defeitos ou estavam descalibradas). Isto não representa uma surpresa, visto que as bombas infusoras do HURNP nunca haviam sido testadas anteriormente. Segundo os dados contidos na tabela 3, o tempo de trabalho efetivo representou 77,2% das horas trabalhadas, que é um valor considerado bom, já que a eficiência mencionada na literatura (Bronzino, 1992) fica entre 75 e 80%. Porém neste trabalho o valor poderia ser maior, já que a maior parte do tempo gasto na preparação dos testes (22,78% do tempo total) foi gasto na localização e espera de liberação das bombas nos setores. Aqui o problema deixa de ser técnico e passa a ser administrativo. A partir destes dados apresentam-se as seguintes sugestões de procedimentos para aplicação imediata que melhorariam a qualidade do parque de bombas infusoras do hospital: - Atualizar periodicamente o banco de dados do patrimônio do hospital, o que facilitará a localização não só das bombas infusoras, mas também de qualquer outro equipamento; -Tomar providências urgentes para localizar as bombas não encontradas; -Verificar a relação custo x benefício de consertar e/ou calibrar as bombas que estiverem em melhor estado de conservação; -Desativar e/ou substituir as bombas antigas e que apresentem defeitos muito graves e frequentes; -Verificar a possibilidade a médio e longo prazo de substituição das bombas peristálticas rotativas que utilizam equipos específicos e caros, por bombas peristálticas lineares que utilizam equipos simples e mais baratos. Assim, pode-se perceber que a implantação de um serviço de controle de qualidade de bombas infusoras em um hospital apresenta custos de implantação e de operação inicial altos, mas que tenderão a diminuir com o passar do tempo, à medida que a equipe envolvida ganhar experiência técnica e gerencial, otimizando o tempo gasto e os métodos utilizados. Um outro fator que também pode contribuir para a redução de custos é o estabelecimento de convênios entre os hospitais e centros de formação de técnicos em eletrônica ou engenheiros eletricistas, como o mostrado neste trabalho, que garantirão o fornecimento de mão-de-obra qualificada a um custo baixo para o hospital e contribuirão para a formação prática de profissionais de alto nível na área de engenharia clínica para servir a sociedade. Então, pode-se concluir que a implantação de um programa de manutenção preventiva de bombas infusoras é viável em um hospital-escola público de médio porte quando devidamente apoiado por um curso de graduação em engenharia elétrica, desde que seja feito um gerenciamento adequado para minimizar as desvantagens geralmente associadas a um serviço público tais como licitações demoradas, decisões mais políticas que técnicas, burocracia e falta de motivação e estímulo dos funcionários da instituição. Agradecimentos À equipe de trabalho: André Kuramoto, André Matsumoto, Graciele Maeoka, Kleber Felizardo, Luiz Dorabiato, Marcos Itano, Mauro Tatesuji e Vanessa Calsavara. À CEC/UEL e à Diretoria do HURNP pelo apoio financeiro e institucional. Referências American National Standard Institute/Association for the Advancement of Medical Instrumentation - ANSI/AAMI (1992), ID26, "Infusion devices", Arlington. Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT (1999), NBR/IEC/60601-2-24; "Equipamentos eletromédicos. Parte 2prescrições particulares para segurança de bombas e controladores de infusão", Rio de Janeiro. B.Braun (1997), " Manual do operador: Bomba Infusora Perfusor fm". B.Braun (1998), " Manual do operador: Bomba Infusora Nutrimat II", rev.4. Betts, W.F. (1987), "Cost-effective clinical engineering programs: an expanding role in hospitals", J. Clin. Eng., v.12, n.2, p.119-125. Bio-Tek Instruments (2000), "IDA-4 Plus - Infusion Device Analyzer: Operator's Manual", Rev.02. Bronzino, J.D. (1992), "Management of medical technology: a primer for clinical engineers, Stoneham: Butterworth-Heinemann". Costa, T., Adeodato, S., Becari, A. (1995), "Máquinas perigosas", Globo Ciência, n.52, p.48-53. HealthCare Product Comparison System - HPCS (1999), "Infusion Pumps, Syringe", Emergency Care Research Institute (ECRI), Plymouth Meeting. HealthCare Product Comparison System - HPCS (2000), "Infusion Pumps, General-Purpose; micro; multichannel", Emergency Care Research Institute (ECRI), Plymouth Meeting.