PANORAMA DE PLH NOS PAÍSES DE LÍNGUA ALEMÃ
Língua e identidade na Europa:
Um panorama do ensino de PLH nos países de língua alemã
Alexandra Magalhães Zeiner
Nota sobre a autora
Alexandra Magalhães Zeiner é escritora brasileira e ativista cultural em Augsburg,
Alemanha.
Contato: [email protected]
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PANORAMA DE PLH NOS PAÍSES DE LÍNGUA ALEMÃ
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de esclarecer o papel do ensino Português em países de
língua alemã, dentro do contexto Europeu. Todas as iniciativas citadas apoiam o trabalho da
autora na Alemanha.
Palavras-chave: Políticas linguísticas na Europa; português como língua de herança;
ensino do português na Alemanha, Áustria e Suíҫa; iniciativas complementares.
Abstract
This article aims to clarify the role of Portuguese teaching in German-speaking countries
within the European context. All initiatives mentioned on this article support the author’s
work in Germany.
Keywords: Language policies in Europe; Portuguese as heritage language; Portuguese
teaching in Germany, Austria and Switzerland; complementary initiatives.
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Agradecimentos
Obrigada a todas educadoras da Brasil em Mente, assim como as colegas de curso,
espalhadas pelo mundo, na minha opinião, exemplos maravilhosos da força da mulher
brasileira em diferentes comunidades no exterior.
Minha gratidão às professoras e instituições dos países que falam a língua alemã, citadas
no artigo. Foi durante meu trabalho como coordenadora do Projeto Adote um Autor, na
Alemanha, que iniciei parcerias com instituições germano-brasileiras, as quais apoiam
eventos onde celebramos o Brasil.
Dedico esse artigo a todas as mulheres que lutam para ensinar e repassar aos filhos o
que temos de melhor no nosso país: nossa língua, arte e cultura.
Grata à minha mãe, Francisca de Mesquita Magalhães, por seu belo exemplo como
professora de escolas estaduais, no interior e na capital do Ceará.
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Língua e identidade na Europa:
Um panorama do ensino de PLH nos países de língua alemã
Diversidade cultural europeia
A diversidade linguística e cultural da Europa é considerada muito rica. A intensificação
do ensino ao longo da vida e aprendizagem de línguas estrangeiras é um dos meios de
comunicação e de intercâmbio entre os cidadãos de diferentes línguas e culturas, além de ser
um incentivo à mobilidade e a uma maior abertura, necessária para abraçar todas as diferenças
de um continente multicultural.
Segundo a visão da União Europeia (UE) sobre o aprendizado de idiomas, existe o
conceito geral de que o domínio de diversas línguas deve tornar-se um pré-requisito para seus
cidadãos, os quais serão beneficiados profissionalmente e terão melhores oportunidades no
mercado de trabalho. A proficiência em diferentes idiomas é um incentivo a capacidade de
adaptar-se a trabalhar e viver em ambientes caracterizados por diferentes culturas
(Europäische Kommission, 2003).
Na Europa, idiomas podem ser considerados como importantes instrumentos para
conhecer outras pessoas, por esta razão, pode-se afirmar que o plurilinguismo é um elemento
constitutivo da identidade e cidadania europeia. De acordo com o Quadro Comun Europeu de
Referência e Portfolio Europeu de Línguas (Fisher, 2001), a iniciativa do projeto “Políticas
Linguísticas para uma Europa multilíngue e multicultural” foi apoiada pela União Europeia e
pelo Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Julho de 2000, tendo como principais
objetivos:

A necessidade de aprender e ensinar línguas estrangeiras, não só dentro do sistema de
ensino (do nível pré-escolar até a educação adulta), mas também um incentivo para a
aprendizagem de toda a vida;
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
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A importância da definição de um quadro europeu comum de referência para a
aprendizagem de Línguas;

O interesse em torno da criação de um Centro Europeu de Línguas.
O português de Portugal
Por muitos anos, mas especialmente a partir de 1974 (o ano da Revolução), Portugal
procurou implementar diretrizes definidas na área de línguas pelos Projetos Educacionais do
Conselho da Europa e da União Europeia (especialmente desde sua entrada na UE). Dentro
deste contexto, decisões como a aprendizagem obrigatória de línguas estrangeiras e da
diversidade de oferecer novas metodologias, a definição de novos conceitos de formação de
professores e/ou a utilização de novos materiais multimídia, são alguns exemplos dessas
práticas. Novos programas com foco em línguas e a criação de novos manuais escolares no
ensino básico e secundário foram uma das respostas às mudanças que ocorreram nos métodos
de aprendizagem de línguas e avaliação (Haarmann, 1983&1993).
Em escolas onde existe um grande número de crianças pertencentes a diferentes etnias,
projetos pilotos foram desenvolvidos para que exista uma conscientização sobre a importância
da língua de herança (LH). Por exemplo, em escolas de Lisboa, para uma melhor integração
de alunos de Cabo Verde e Guiné-Bissau, foram organizados cursos de crioulo. Portugal,
como membro da UE, adotou as conclusões do Conselho Europeu resumindo-a em um livro
intitulado Servicecenter zur europäischen Mehrsprachigkeit [Ensinar e aprender: Rumo à
sociedade cognitiva] (EuroComCenter, 2003).
Em 2001, no âmbito do Ano Europeu das Línguas, uma Comissão Nacional foi definida
em Portugal e composta por entidades de ensino diferentes, com um plano de diversificação
de atividades, incluindo línguas estrangeiras e o português a partir de uma dupla perspectiva
(língua materna / língua estrangeira)
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A imigração brasileira para Europa
Na atualidade o Brasil contribui decisivamente para a imigração latino-americana em
muitos países europeus, mas principalmente em Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra
(Decsy,1986). Dentre as causas mais comuns para muitos que escolheram este caminho estão
uma busca de melhores condições de vida na área de destino e/ou de rejeição a situações de
opressão e carência na área de partida.
Foi somente nos anos 1980 que artigos, coletâneas e algumas teses foram publicados,
enfocando o tema imigração, primeiramente sobre as comunidades brasileiras nos Estados
Unidos, seguidos pelos dekasseguis, trabalhadores brasileiros no Japão. Até então os
imigrantes em países europeus mereceram uma atenção menor, apesar de existirem alguns
trabalhos sobre a situaҫão de imigrantes em Portugal, Itália, Espanha e Inglaterra (Almeida,
2007). Atualmente, considerando a presença crescente de brasileiros em toda Europa, tudo
indica que esse será um assunto cada vez mais atrativo para futuros artigos e pesquisas.
Estudos sobre o comportamento da imigração latino-americana na Europa sugerem que
o perfil brasileiro é o de uma pessoa que não ignora a necessidade de ser competitivo no
mundo contemporâneo, mas tende a evitar a confrontação direta nas instâncias em que outros
povos podem ser mais assertivos. De alguma forma, esse tipo de comportamento transmite
uma mensagem de que o brasileiro não é suficientemente assertivo ou dedicado ao que faz, o
que os coloca numa falsa posição em relação, por exemplo, aos alemães, britânicos e italianos
na Europa; aos americanos e mexicanos nas Américas; aos chineses e japoneses na Ásia.
A consciência dos contrastes dentro de cada dimensão cultural deve ser considerada
como um exemplo e uma ferramenta de trabalho adicional para o ensino do português
brasileiro na Europa. O primeiro beneficiado pelo uso dessa ferramenta deve ser o próprio
professor, que talvez tenha a necessidade de redefinir estereótipos em relação à cultura
brasileira (Reis Batista, 2009). Na verdade, muitos desses conceitos foram provavelmente
construídos durante sua educação formal no Brasil ou após o contato com outras culturas,
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caso tenham finalizado sua formaҫão no exterior. Somente após uma avaliação desse tipo de
experiência o profissional deve conscientizar-se de que não lhe cabe transmitir um juízo de
valor a respeito do caráter mutável da cultura brasileira em relação às culturas de alguns dos
seus alunos, que podem se apresentar menos socialmente hierarquizadas.
Provavelmente um professor de português como língua de herança ou como segunda
língua precise lidar com eventuais comentários e conceitos negativos de famílias que ainda
não tenham superado o estágio do choque cultural. Em muitos aspectos específicos da cultura
brasileira esse fato ainda representa razão suficiente para frustrações e irritações. Mesmo
assim, caberá ao orientador, especialmente nesses casos, usar esses exemplos de forma
positiva e transformadora, a fim de propiciar aos seus estudantes uma integração menos
sofrida e mais consciente.
O ensino do português nos países de língua alemã
Nos países germânicos, tradicionalmente, somente no ginasial estuda-se um ou mais
idiomas de uma forma mais didática. O ginásio é uma escola secundária vocacionada para a
preparação dos alunos para acederem a uma universidade, tendo sua origem na Reforma
Protestante ocorrida no século XVI. O primeiro sistema de escolas a ministrar um ensino
ginasial surgiu na Saxônia em 1528.
No sistema educativo germânico, os ginásios destinam-se aos alunos com maior
vocação acadêmica. Estes alunos, são “filtrados” à saída do ensino primário, por volta dos 10
a 13 anos, e somente aos melhores será permitido aceder ao ginásio. Tradicionalmente, o
ginásio foca-se nas humanidades e nos estudos clássicos, com o seu currículo a incluir
normalmente o ensino do latim e do grego antigo (Frohne, 1992). Outras modalidades do
ensino ginasial incluem as línguas modernas, as ciências, a economia e as tecnologias.
Alguns outros países – a maioria deles no Leste Europeu – introduziram o ginásio nos
seus sistemas educativos, mas com caraterísticas diferentes dos ginásios germânicos. Estes
ginásios não correspondem a um ramo do ensino secundário, mas sim a um nível de ensino
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(Finkenstaedt & Schröder, 1992). Normalmente, o ginásio constitui a primeira etapa do ensino
secundário (equivalente aproximadamente aos segundos ciclos do ensino fundamental do
Brasil e do ensino básico de Portugal).
Apresento, a seguir, alguns exemplos de iniciativas, particulares e governamentais, que
visam estimular o ensino do “português brasileiro” para filhos de imigrantes nos países de
língua alemã. Ressalto que os exemplos citados têm como objetivo principal conscientizar
comunidades sobre a importância de manter viva nossa arte e cultura através do nosso idioma.
Ensino de língua portuguesa nas escolas públicas de Viena
Na Áustria, português também se aprende na escola
A minha pátria é a língua portuguesa (Fernando Pessoa)
Lic. Daniella Ringhofer
Lic. Mestr. Tatiana Mazza da Silva-Surer
O governo austríaco propicia às crianças e jovens entre seis e dezoito anos o ensino de
língua materna ou língua de herança. Vinte e quatro línguas fazem parte do programa e mais
de 32 mil alunos em todo o território austríaco frequentam as aulas. Somente em Viena são
quase 18 mil alunos. Dentre as línguas oferecidas, temos a língua portuguesa desde 2010 nas
escolas ginasiais (AHS e NMS) e desde 2011 nas escolas primárias (Volksschulen).
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As aulas se dão em escolas públicas de Viena e são gratuitas. Para os alunos de AHS e
NMS, faz-se a divisão entre as variantes brasileira e europeia/africana e também quanto ao
nível de fluência e compreensão dos alunos. Para os alunos das escolas primárias, até o
presente momento, a divisão dos alunos acompanha os anos escolares, mas, a partir do ano
letivo 2014-2015, houve uma proposta de usar como critério de divisão a desenvoltura do
aluno na língua em questão
Todo aluno, seja de escola pública ou privada, filho de falante nativo de língua
portuguesa, pode participar das aulas. Tal participação será inserida no boletim e no histórico
escolar, com ou sem nota, de acordo com a escolha de cada um. Vale ressaltar que o aluno
não precisa ser fluente na língua portuguesa para poder frequentá-las.
Nas aulas de português como língua materna, são trabalhados temas de cultura geral do
país, exercícios de escrita, gramática, compreensão textual e auditiva e a fala. Dentro das
possibilidades, são trabalhados jogos, filmes, passeios e demais atividades lúdicas.
Para os alunos da Volksschule, há aulas às segundas-feiras às 15 horas na escola
Neustiftgasse no sétimo distrito ou às quintas-feiras às 15 horas na escola Schönngasse no
segundo distrito. Para os alunos dos segmentos subsequentes, as aulas acontecem às sextasfeiras à tarde ou aos sábados pela manhã na escola Akademisches Gymnasium, na
Beethovenplatz no primeiro distrito.
Para todos os alunos a partir do quinto ano ginasial há também a possibilidade de
inclusão da matéria “Português como Segunda Língua Viva”. Para tanto, o aluno necessita
realizar uma prova externa (Externistenprüfung).
Para maiores Informações para o ano letivo 2015-2016, contatar:
Prof. Lic. Mestr. Tatiana Mazza da Silva-Surer (alunos de Volksschulen):
[email protected] / Tel: +43 (0) 6804459364
Prof. Lic. Daniella Ringhofer: (alunos de AHS, NMS, HTL e Berufschulen de Viena ou
redondezas): [email protected] / Tel: +43 (0) 6769610866
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Linguarte de Munique
Camila Lira
Linguarte e.V. é uma associação cultural sem fins lucrativos criada em 2003 por pais e
professores da comunidade brasileira de Munique com o objetivo geral de promover a língua
portuguesa e a cultura do Brasil. Dentro deste escopo, a Linguarte concentra-se,
primeiramente, em atividades que possibilitem a educação e o ensino de português aos filhos
de falantes de língua portuguesa. Embora falemos do Brasil em especial, não se diferenciam
alunos falantes de outras variantes do português. Essas atividades abrangem conteúdos
específicos do currículo brasileiro do ponto de vista do ensino do idioma no exterior, projetos
culturais voltados para um ou mais temas específicos da cultura brasileira, projetos
interdisciplinares que colocam os alunos em contato com representantes (p.ex. músicos,
pesquisadores etc.) da comunidade brasileira em Munique e região. Atualmente 25 crianças
aprendem português na Linguarte, divididas em cinco grupos, organizados não só por sua
faixa etária como também por seus conhecimentos linguísticos.
No quadro de professores da Linguarte atualmente estão três professoras contratadas
para o ensino de PLH. Até o presente momento oferecemos três cursos quinzenais, aos
sábados e por um período de três horas com pausa de trinta minutos; e dois cursos semanais,
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com aulas de 90 min. Os cursos são oferecidos desta forma por conta da necessidade
apresentada pelas famílias. As turmas são geralmente formadas por irmãos e o curso aos
sábados proporciona aos pais a facilidade de levar seus filhos ao mesmo local, o que durante a
semana, devido aos diferentes compromissos de seus filhos, se tornaria impossível. Estes
grupos são denominados Português Alfabetização I, Português Alfabetização III e Português
Avante III. Durante a semana temos duas turmas de Alfabetização I.
A Linguarte e.V utiliza diversos materiais didáticos. Nas turmas de alunos mais novos
(grupos de recreação e alfabetização) não há a adoção de livro didático, mas cabe ao professor
selecionar materiais como também preparar materiais para o que necessita. Vê-se que há a
necessidade de se adaptar os materiais que estão no mercado (sejam livros específicos para o
ensino de PLH como também material de ensino no Brasil ou em Portugal) para a turma com
que se irá trabalhar, pois é sabido que cada turma é diferente da outra e tem necessidades
diferentes também. A Linguarte tem ainda livros didáticos para o ensino de português como
língua materna do ensino fundamental, que também servem como material de pesquisa de
atividades para o professor. Em sua maioria, o material é adaptado levando em conta o
objetivo pedagógico e a faixa etária do aluno. Neste caso, um mesmo texto pode ser
trabalhado de diversas formas em diferentes grupos. É o caso, por exemplo, do trabalho com
vocabulário. Enquanto a turma de alunos mais novos aprende o vocabulário usado em sala de
aula através de jogo da memória e atividade de fixação como “ligar a figura ao seu nome”, os
mais velhos podem, além do jogo, trabalhar em duplas e anotar o nome de tudo que se usa/
tem em sala de aula.
Tenho notado que ainda há muito que fazer para o ensino de PLH não só em Munique
como na Alemanha como um todo, em especial na conscientização da família e no apoio do
governo brasileiro.
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Uma escola de português com diferentes sotaques em Berlim
A Escola Europeia (Europa-Schule) Berlin Neues Tor surgiu de uma iniciativa de pais e
acabou se transformando numa das escolas preferidas na capital alemã. O pré-requisito não é
a nacionalidade, mas se a criança fala como idioma principal o português ou o alemão. As
crianças fazem um teste, onde procura identificar-se qual é a língua principal. Se for o
português, ele será alfabetizada em português, caso contrário, em alemão. A partir do segundo
ano, inicia-se a alfabetização na segunda língua. Um dos objetivos da escola é que as crianças
sejam alfabetizadas nas duas línguas.
A escola trabalha dentro dos padrões das escolas europeias no país: metade das matérias
é lecionada em português, outra metade em alemão. A Neues Tor oferece educação bilíngue
desde o pré-primário até a sexta série, quando termina em Berlim o ensino fundamental.
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Elisa Deppe, depoimento de uma professora particular
“Meu nome é Elisa, sou professora primária. Vivo há dezoito anos na Alemanha e há
três anos e meio dou aulas particulares de português para três crianças. Quando iniciei o
trabalho, as crianças não sabiam ler ou escrever (suas idades eram seis, cinco e quatro anos).
Procurei material especifico para esse trabalho, mas infelizmente nada encontrei. Na verdade,
eu gostaria de ter uma sequência de trabalho, ou seja, onde iniciar e como prosseguir. Assim,
comecei a criar eu mesma um material. Trabalho em uma escola na minha cidade e pedi ajuda
de material visual para a professora de inglês, com quem obtive auxílio de cópias de um
material educativo, adaptando-o para o português.
Mais tarde encontrei um livro de português para estrangeiros para crianças, mas
somente com o português de Portugal. Juntando esse material didático criei uma “linha de
orientação” para minhas aulas. Utilizando um material de Portugal, pedi para as crianças
criarem seu livro particular, para escrever e ver as figuras, sem haver a necessidade de utilizar
cópias coloridas. Não utilizei o livro completo como material didático e, para algumas lições,
modifiquei a sequência e a metodologia.
Fiz cópias de diferentes materiais encontrados em variados websites, geralmente
direcionados a atividades para crianças, ou específicos para professores de português. Adaptei
algumas páginas de trabalhos de escoteiros, as quais, traduzidas e improvisadas,
transformaram-se em materiais para minhas aulas. Utilizei também um material auxiliar para
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brincadeiras, como bolas, bonecos, utensílios para cozinha e de outras partes da casa, panos
coloridos, massinha de modelar, pinturas com tinta de dedos, tinta guache ou outras tinturas e
colagens de figuras, teatro de bonecos etc. Utilizo recursos como a mímica e também
exercícios de educação física, exemplificando partes do corpo e também nomeando
movimento (verbos e adjetivos).
Desenvolvo algumas brincadeiras infantis, como esconde-esconde, brincadeiras de roda,
além de brincadeiras com uso de palavras e números, como bingo, charadas ou labirintos.
Para a memorização e treino da escrita utilizo jogos da memória, pinturas com desenhos sobre
o tema do momento e também jogos de bingo (memorização dos números). Procuro ter
sempre uma história curta para a leitura no final da aula. Principalmente para a adaptarão
auditiva do texto e uso correto da gramática.
Minhas aulas têm sempre o mesmo ritmo, ou seja, inicio e termino sempre da mesma
maneira. Inicialmente fazemos uma roda onde começamos com uma música infantil, pois
através das canções utilizamos a gramática e palavras novas. Depois, inicio o conteúdo do dia,
sempre procurando alterar entre a parte escrita e brincadeiras, movimentos, novamente a
escrita, finalizando com uma roda, onde sentamos no chão e podemos ouvir uma história ou
fazer uma brincadeira para relaxar. Procuro variar o ritmo em dias especiais, como final de
férias, quando fazemos um piquenique ou preparamos um presente para os pais, ou mesmo
cozinhando algo. Procuro fazer também no início e no final das férias uma
aula de revisão relembrando os temas vistos.
Infelizmente os pais nem sempre se comunicam com as crianças em português,
tornando lento o progresso do meu trabalho. Acredito que se houvesse uma conscientização
das famílias, nosso idioma seria mais apreciado dentro de casa.
Meu objetivo principal é que as crianças falem frases completas, e estamos na fase onde
o vocabulário está avançado, mas iniciando o uso da gramática. Creio que trabalhando com
encenações e repetirão, conseguirei alcançar meu objetivo.”
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A importância de ensinar aos filhos a língua do país de origem
Em Liechtenstein, há uma instituição que promove a cultura brasileira. Aqui, algumas
breves palavras de sua presidente:
“A Casa Brasil Liechtenstein tem o desejo de expandir seus projetos com muitos
outros brasileiros no exterior formando uma grande ‘Casa de Brasileiros no Exterior’. Venha
você também participar da Casa Brasil com a gente.”
Denise da Cruz Campitelli – Presidente da Casa Brasil.
A continuação, apresento o depoimento de Andrea Frommelt, professora, pedagoga e
coordenadora dos cursos de português da Casa Brasil-Liechtenstein:
“Dois anos atrás participei do curso de formação continuada de professores em Zurique,
chamado ‘Português como Língua de Herança’, por indicação de uma amiga, hoje presidente
da Casa Brasil, Denise da Cruz Campitelli.
O termo ‘língua de herança’ me marcou muito, pois é exatamente assim que vejo que
temos que passar para os nossos filhos o idioma de nosso país de origem, como uma herança.
Sempre tive a preocupação de conversar com meu filho em português pelo fato de muitas
vezes presenciar mães falando em uma língua que não as aproximava efetivamente dos filhos,
por tentarem falar a língua do país em que moravam. É claro que isso não impede que a mãe
ou o pai fale em outro idioma com seu filho, se domina a língua dos pais e sente que isso
também traz a união afetiva entre seu filho.
Eu e minha amiga Denise da Cruz observamos que um curso só de língua portuguesa
seria pouco para manter unido o interesse de uma associação num país tão pequeno. A partir
daí a estratégia era abrir a associação com o curso de português, mas com a ideia de uma
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associação mais abrangente com outros interesses, como projetos de eventos culturais dentre
outros que pudessem atrair mais brasileiros também da Áustria e Suíça para dentro da
associação no Liechtenstein. Criamos, assim, a Casa Brasil Liechtenstein, nome dado pela
Presidente Denise da Cruz e por Athius da Cruz Mendes, responsável pelo departamento
contábil e marketing, o terceiro fundador. Hoje temos a Casa Brasil Cursos, que inicia este
ano letivo de 2014-2015 com:
 Aulas
de português
 Palestra de ARDUINO
 Iniciação
 Aulas
às redes sociais
de alongamento.
E como é aprendida a língua portuguesa no Principado do Liechtenstein? O
português é ensinado com muita criatividade, com o propósito de despertar nos nossos alunos
o desejo de estarem sempre nas aulas. Como professora e coordenadora do projeto Cursos de
Português, procuro sempre preparar as aulas de forma dinâmica, induzindo o aluno a
participar de todo o processo de aprendizado. Atendemos na escola crianças em idades de
quatro a doze anos, sendo que o nível de conhecimento da língua portuguesa é variado, pois
uns falam muito bem e outros não falam quase nada. É por esse motivo que nas aulas de
português procuro explorar muito a conversação e trabalho com rimas, parlendas, músicas
folclóricas, dança, ritmo, datas comemorativas brasileiras, literatura infantil do Brasil,
culinária infantil com receitas brasileiras, apresentações de teatro e uma vasta gama de
atividades para que o nível de escrita, fala e leitura dos alunos aumente de forma bem
divertida e descontraída.
Porque a criança deve falar português?
 Se a criança domina bem
uma língua, será mais fácil aprender bem uma segunda ou
terceira língua.
 Para conhecer
melhor suas origens.
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 Para uma
 Para seu
 Se um
A
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melhor comunicação.
futuro profissional.
dia os pais retornarem ao país de origem.
língua portuguesa está entre as dez línguas mais faladas do mundo.
 Para que possa
ler e escrever em português.
 Para se orgulhar
da língua e país de origem de seus pais.
O ensino de PLH vem ganhando uma crescente atenção de profissionais e pesquisadores
da área pela importância de se manter a língua como uma herança passada de pais para filhos
e de filhos para seus filhos e assim sucessivamente, de geração a geração. Ensinar à criança
nossa língua (idioma), cultura, costumes e valores contribuirá em muito na sua formação
intelectual, segurança, identidade e integração social. Não devemos, seja na posição de pais,
professores ou ativistas em algum grupo ou associação brasileira, deixar de dar o incentivo a
esta outra geração brasileira, que nasceu e está nascendo fora do Brasil, para ensinar nosso
idioma como uma língua de herança”. Sendo ensinada com paixão, esta língua nunca será
esquecida, mas sim valorizada por aqueles que a aprenderam e aprenderão. Não tire de seu
filho essa “herança” que, de alguma forma, no futuro poderá ser cobrada de você. Vivemos
em um mundo onde quanto mais línguas aprendemos, mais somos valorizados. Valorizemos
nossa língua, vamos passar essa herança.”
O caso particular da Suíça
Desde o início dos anos 2000, uma nova onda imigratória brasileira se somou aos
portugueses, que chegaram há várias décadas, para converter-se na terceira nacionalidade
mais importante dentro do grupo de 1,5 milhão de estrangeiros que vivem na Suíça, atrás
apenas dos italianos e sérvios. Os portugueses são atualmente o segundo grupo da UE em
número que mais chega à Suíça procurando um emprego, depois dos alemães e antes dos
franceses. Vale ressaltar que a Confederação Helvética (nome oficial do país) não faz parte da
Comunidade Europeia (Coulmas, 1991).
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Estabelecer cursos para melhorar a integração da população estrangeira em pequenos
povoados não é uma tarefa simples, mas na Suíça atual se fala bastante sobre integração, e o
governo sabe da importância que ela tem para todos. Cursos foram criados para mães com
filhos em idade pré-escolar, pois o bom desempenho das crianças bilíngues nas escolas suíças
é reconhecido por todos. Trata-se de um conhecimento valioso para toda família, pois é
importante que as crianças aprendam o idioma dos pais antes de frequentar a escola local.
No entanto, o ensino do português continental é diferenciado do ensino do português
brasileiro, pois as regras do sistema de educação suíҫo exigem esta separarão. Geralmente os
cursos são ofertados por instituições particulares (brasileiras e portuguesas), com taxas
variadas de inscrições, uma forma de atrair as famílias.
Minha opinião, baseada em viagens e contatos com alguns profissionais de diferentes
regiões na Suíça, confirma o conceito geral: mesmo sendo conservador em diferentes aspectos
sociais, o país está se esforçando para integrar melhor os estrangeiros. Existem vários projetos
em andamento, como os chamados “mediadores culturais”. O verdadeiro desafio é atrair a
atenção dos pais para que suas crianças frequentem os cursos, além de fazer com que as
famílias de baixo nível de educação, que geralmente não estão acostumadas a sentar em
bancos escolares, as inscrevam nestas ofertas.
Acredito que a partir deste trabalho inicial, um pequeno levantamento baseado em
minha experiência pessoal como escritora brasileira na Alemanha, futuras pesquisas sobre o
tema apresentado sejam necessárias para a condução e/ou criação de um plano piloto onde
diferentes profissionais – independentes ou vinculados a associações europeias ou não
governamentais – trabalhem e pesquisem explorando o PLH, para assim dar continuidade e
divulgar em conjunto a língua portuguesa na Europa, divulgada através da arte e cultura
brasileira nas diferentes comunidades brasileiras no exterior.
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Referências bibliográficas
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Coulmas, F. (1991). A Language Policy for the European Community, Prospects and
Quandaries. Amsterdam/Berlin.
Decsy, G. (1986). Décsy, G.: Statistical Report of Languages of the World as of 1985.
Bloomington.
EuroComCenter (2003): EuroComCenter – Servicecenter zur europäischen
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Anexo I:
Informações sobre a Creche Curumim da Imbradiva em Frankfurt
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