i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS MURILO ALEXANDRE FENDRICH DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO EM CANHÕES LASER CO2 DE VIDRO SELADOS FLORIANÓPOLIS 2007 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS MURILO ALEXANDRE FENDRICH DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO EM CANHÕES LASER CO2 DE VIDRO SELADOS Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro de Materiais. Orientador: Prof. Alexandre Lago, Ph.D. Co-Orientador: José Maria Mascheroni, M.Sc. FLORIANÓPOLIS 2007 iii MURILO ALEXANDRE FENDRICH DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO EM CANHÕES LASER CO2 DE VIDRO SELADOS Este Trabalho de Graduação foi julgado adequado para obtenção do título de Engenheiro de Materiais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina. ___________________________________ Prof. Dylton do Vale Pereira Filho, M.Sc. Coordenador Banca Examinadora: ___________________________________ Prof. Alexandre Lago, Ph.D. Orientador ___________________________________ José Maria Mascheroni, M.Sc. ___________________________________ Prof. Dylton do Vale Pereira Filho, M.Sc. . iv Fendrich, Murilo Alexandre, 1983Desenvolvimento do processo de recuperação em canhões Laser CO2 de vidro selados / Murilo Alexandre Fendrich. - 2007. 61 f. : il. color. ; 1 cm Orientador: Alexandre Lago. Trabalho de conclusão de curso (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Engenharia de Materiais, 2007. 1. Laser Gasoso. 2. Radiação Eletromagnética. 3. Gás CO2. I. Lago, Alexandre. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Engenharia de Materiais. III. Título. Fonte: Maria Helena de Gouveia e Maria Margarete Sell da Mata. v A minha família, maior riqueza que possuo. vi AGRADECIMENTOS À empresa Automatisa Sistemas Ltda., em especial a José Maria Mascheroni, pelo apoio e depósito de sua confiança, e a Rômulo Salvador pela grande parceria formada. Aos Professores Alexandre Lago e Nicolau Rodrigues, pela orientação no desenvolvimento deste trabalho. Aos meus grandes amigos por todo o incentivo. À minha família, Patrícia, Junior, Max, Isabel, Rodrigo, Guilherme, Victor e Marcelo pelo amor, compreensão e paciência dedicados. Em especial, à Janir e ao Wilson, por serem meu maior braço de apoio, como meus pais, e nunca deixarão de estar ao meu lado independente do caminho a seguir. E também a Deus, que caminha comigo todos os dias e assim seguirá. vii Educai os meninos e não será necessário castigar os homens. Pitágoras viii RESUMO Este trabalho tem por finalidade iniciar a primeira etapa do desenvolvimento de manutenção e recarga em canhões Laser CO2 de vidro selados. Para realizar esta atividade fez-se inicialmente uma pesquisa acerca da evolução da tecnologia laser existente. Em seguida fez-se uma busca dos aspectos construtivos dos lasers, mais precisamente os de CO2 abordando as características dos mesmos em termos do método de funcionamento, construção e suas misturas gasosas. Após a pesquisa bibliográfica realizou-se efetivamente a atividade de proceder a recarga gasosa na cavidade laser a partir de mistura quantificada em laboratório e acionamento do laser. Mediu-se a potência emitida e obtiveram-se resultados satisfatórios para esta primeira etapa alcançando-se a potência original apresentada anteriormente pelo fabricante. Com base nos resultados obtidos está aberta a possibilidade de realizar manutenção em canhões laser no Brasil, permitindo o desenvolvimento de tecnologias nacionais. ix ABSTRACT This work has for purpose to initiate the first development stage in sealed CO2 glass laser tubes maintenance and recharging. To carry out this activity an existing laser technology evolution research since its invention was performed followed by an approach of lasers constructive aspects, more precisely CO2 within its characteristics, function method, construction and gas mixtures. After the bibliographical research became effectively fulfilled the activity to proceed the gaseous recharging in the laser cavity within a laboratory quantified mixture, followed by the first laser emition process. Emitted power was measured and the results were satisfying to this first stage, achieving the original supplier manufacturing laser power. Based on the obtained results the possibilities are opened to proceed maintenance on laser tubes in Brazil, initially developing new national technologies. x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Processo de absorção da energia de um fóton. (Svelto, 1982, p. 2). Figura 2: Processo de emissão espontânea da energia através de um fóton. (Svelto, 1982, p. 2). Figura 3: Processo de emissão estimulada de energia. (Svelto, 1982, p. 2). Figura 4: Esquemático simplificado de um Laser. Figura 5: Esquema de um laser gasoso (Halliday, 1991). Figura 6: Esquema de um laser semicondutor (Halliday, 1991). Figura 7: Esquema de um laser de estado sólido gasoso (Halliday, 1991). Figura 8: Laser CO2 de vidro selado. (parallax-tech.com, 2007). Figura 9: elementos básicos que compõem um tubo laser. (Luhs, 2003, p. 14). Figura 10: Estrutura da molécula de CO2 linear apresentando modo de vibração simétrico (Luhs, 2003, p. 10). Figura 11: Modo de flexão da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Figura 12: Modo de vibração assimétrico da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Figura 13: Esquema de rotação da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Figura 14: Transições do CO2 e N2. (Luhs, 2003, p. 12). Figura 15: Mudança do fluxo de fótons no material. (Svelto, 1982. p. 5). Figura 16: Efeito da adição de He na descarga CO2 – N2 sobre a potência de saída de um laser de CO2 (Willet, 1974). Figura 17: Efeito da adição de He sobre a temperatura do gás numa descarga CO2 – N2. (Willet, 1974). Figura 18: canhões laser em estudo no trabalho, foto superior canhão A, foto inferior canhão B. Figura 19: Seção transversal genérica de um tubo laser de vidro selado representando o modelo dos canhões em estudo. Figura 20: Espelhos refletores dos canhões em estudo Figura 21: Espectro de transmissão para os materiais dos espelhos de saída dos canhões laser estudados. (SintecOptronics.com, 2006). Figura 22: Catodos dos lasers em estudo. Figura 23: Anodos dos lasers em estudo. Figura 24: medidor contínuo de potência utilizado para captação dos dados. xi Figura 25: demonstração da região de alimentação de gás ou “mamica” a ser fragilizada para posterior recarga. Figura 26: Conjunto para medição da pressão interna nos tubos laser. Figura 27: ajuste com tubo de silicone para medição da pressão. Figura 28: Cromatógrafo para caracterização do gás laser presente nos canhões. Figura 29: extensões de vidro para acoplar o laser ao sistema de recarga. Figura 30: bomba de vácuo utilizada no trabalho. Figura 31: tubo de Hélio para limpeza da cavidade laser. Figura 32: tubo reservatório de mistura de CO2 para laser. Figura 33: Montagem experimental da bancada de recarga dos lasers CO2 de vidro selado Figura 34: Espectro qualitativo da mistura gasosa do laser A. Figura 35: união da extensão de vidro para recarga. Figura 36: resultado do procedimento de soldagem com oxi-butano. Figura 37: exemplo de acoplamento do laser A à tubulação de recarga gasosa. Figura 38: Evolução da potência dos canhões laser durante um período de 4 horas. Figura 39: Resultado da recarga do canhão laser A, plasma gerado na cavidade e apontado como alvo um tijolo. Figura 40: esquema de montagem da tubulação e válvulas para limpeza e recarga do tubo laser. Figura 41: modelo geral do projeto da estação de recarga de lasers. xii LISTA DE QUADROS Quadro 1: Tipos de lasers mais usuais. (Halliday, 1991). Quadro 2: Valores de potência medidos nos canhões anterior ao experimento de recarga dos canhões laser A e B. Quadro 3: medidas das pressões nos canhões. Quadro 4: resultado da medição quantitativa em cromatógrafo. xiii LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS LASER Light amplification by stimulated emission of radiation MASER Microwave amplification by stimulated emission of radiation CO2 Dióxido de carbono CO Monóxido de carbono He Hélio N2 Nitrogênio Ne Neônio E Energia h Constante de Planck ν Freqüência c Velocidade da luz ∆E Abertura de banda Comprimento de onda h Constante de Planck Nd Neodímio YAG Ytrium Aluminum Garnet / Granada de Ítrio Alumínio Rh6G Rodamina 6G Al Alumínio As Arsênio Ga Gálio Xe Xenônio Cu Cobre Au Ouro Mo Molibdênio Ar Argônio xiv Si Silício Zn Zinco Se Selênio Ge Germânio S Enxofre Hz Hertz n População do nível de energia z Direção do fluxo de fótons F Fluxo de fótons que atravessa o material F0 Fluxo inicial de fótons que atravessa o material g Ganho Absorção Seção de choque de transição l Comprimento da seção K Kelvin µm micrometro nm nanometro W Watts UV Ultra violeta P Potência xv SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 1.1 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 1 1.2 OBJETIVO ........................................................................................................................ 3 1.2.1 Objetivo Geral................................................................................................................. 3 1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................................... 3 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS............................................................................................. 4 2.1 HISTÓRIA DOS LASERS................................................................................................. 4 2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS LASERS ................................................................ 5 2.2.1 Processo Laser ................................................................................................................ 5 2.2.2 Aspectos Construtivos ..................................................................................................... 8 2.2.3. Tipos de lasers................................................................................................................ 9 2.3 O LASER DE CO2. ........................................................................................................ 11 2.3.1 Definição ...................................................................................................................... 11 2.3.2 Propriedades.................................................................................................................. 13 2.3.3 A molécula de CO2 ....................................................................................................... 15 2.3.4 Condição para obtenção LASER na Molécula de CO2 .................................................. 17 2.3.5 Adição de N2 e He......................................................................................................... 19 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 21 3.1 MATERIAIS.................................................................................................................... 21 3.1.1 Laser CO2 de vidro selado e caracterização do equipamento ......................................... 21 3.2 MÉTODOS. ..................................................................................................................... 25 3.2.1 Abertura dos canhões. ................................................................................................... 25 3.2.2 Preparação para recarga................................................................................................. 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 33 4.1 POTÊNCIA, PRESSÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GASES.................................... ..33 4.1.1 Potência anterior a abertura dos canhões ....................................................................... 33 4.1.2 Medida da pressão interna ............................................................................................ 34 4.1.3 Caracterização dos gases ............................................................................................. 342 4.2 UNIÃO DA EXTENSÃO DE RECARGA....................................................................... 36 4.3 LIMPEZA DA CAVIDADE, POTÊNCIA OBTIDA E SELAGEM ................................. 37 xvi 5 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 450 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 41 ANEXO A ............................................................................................................................. 43 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA A história do Laser teve início em 1899 com Max Planck apresentando as primeiras considerações e cálculos sobre os fótons. Mais precisamente após a segunda guerra mundial vem evoluindo continuadamente para aplicação nos mais diversos tipos de processamento de materiais graças às descobertas contínuas sobre os efeitos realizados por sua radiação. Contudo até a atualidade os lasers ainda trazem uma série de desafios para os que desejam empregar esta tecnologia. Este trabalho de conclusão de curso foi desenvolvido a pedido da empresa Automatisa Sistemas Ltda., em uma parceria com o curso cooperativo de Engenharia de Materiais da UFSC e visa realizar a manutenção em canhões Laser CO2 (dióxido de carbono) de vidro selados, contínuos e excitados por corrente contínua. O trabalho desenvolvido contou com a ajuda do professor Alexandre Lago, e teve sua parte experimental realizada nos laboratórios do Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial (IEAv/CTA) na cidade de São José dos Campos/SP. Os canhões laser CO2 de vidro selados são bastante comuns no mercado de máquinas para processamento de materiais por laser (ex: corte, marcação, soldagem, etc.). Tais equipamentos exigem manutenção de acordo com seu uso. Da mesma forma os canhões laser CO2 de vidro selados possuem um tempo de vida médio, o qual é dependente de fatores como a qualidade do gás, do material dos eletrodos, do sistema de refrigeração e das características de excitação da fonte de alta tensão. Uma das questões evidentes relativa aos canhões de laser CO2 de vidro selados é o seu tempo de vida. Dentre os fatores que contribuem para a diminuição da vida útil do laser pode-se citar a degradação da molécula do gás CO2 em CO (monóxido de carbono) e a contaminação do meio ativo junto aos eletrodos. Segundo a Optech Consulting em estudo realizado em 2004, analisando as tendências do mercado laser entre os anos de 2002 e 2010, haverá um incremento em termos financeiros de 110 para 200 milhões de Euros relativos à comercialização de lasers de CO2 selados com potências abaixo de 500 watts. Acompanhando tal tendência, o crescimento de máquinas laser no Brasil utilizando-se desta faixa de potência também vem evoluindo significativamente nos últimos anos. 2 Os lasers de CO2 dominam o segmento de lasers atualmente, por sua versatilidade de aplicações, relativo baixo custo, construção simples e disponibilidade de materiais no mercado. Os mesmos são largamente utilizados no segmento industrial para processamento de materiais, sendo estes basicamente em operações de corte e soldagem (com potências da ordem de muitos quilowatts), para marcação a laser (com baixas potências), aplicáveis a metais, tecidos, papéis ou tratamento cerâmico, mas também em cirurgias laser. Há no presente momento no Brasil total dificuldade para realizar manutenção destes canhões laser que estão em trabalho, devido ao fato de não haver oferta de serviços que realizem a recuperação dos mesmos, restaurando sua potência e o tempo de vida útil especificado inicialmente pelo fabricante. A solução até então passa pelo processo de remover o canhão do local onde o mesmo está em trabalho e enviar ao seu país de origem para realização de recarga ou até considerar a hipótese de descartá-lo. O fato de enviar ao seu país de origem e esperar pelo retorno do canhão toma em média 70 dias, o que normalmente deixa o equipamento em que o canhão está operando inviabilizado de trabalhar gerando atrasos e prejuízos. Conforme citado acima, o processo de manutenção realizado fora do país no canhão laser CO2 selado consiste em quebrar a selagem existente na parte interna da ampola de vidro, realinhar e/ou efetuar a troca dos espelhos do laser, eletrodos, limpeza da cavidade, evacuação da mesma, novo enchimento com mistura gasosa a base de CO2, Hélio (He) e Nitrogênio (N2) finalizado pela nova selagem. Por estas razões torna-se interessante técnica e economicamente promover o desenvolvimento de uma linha de estudo e processo que permita a realização da recarga nestes tipos de Lasers, evitando-se dispêndios excessivos em logística internacional, e em conseqüência abrindo um novo ramo de trabalho para a indústria nacional. Neste trabalho serão feitas as atividades identificadas como manutenção explicitadas acima, ou seja, será aberto um canhão laser CO2 de vidro selado, limpeza da cavidade, evacuação, recarga com nova mistura gasosa e nova selagem. Como avaliações quantitativas serão também realizadas e comentadas as medidas de potência obtida após a atividade de recarga buscando o máximo de informações que possam ser tratadas em termos de garantia na recuperação da potência nominal do canhão e conhecimento para o processo industrial de manutenção e recarga em canhões laser CO2 de vidro selados. 3 1.2 OBJETIVO 1.2.1 Objetivo geral O trabalho tem por objetivo recuperar dois canhões de Laser de CO2, de vidro, selados, procedentes de dois fornecedores distintos a fim de restabelecer a potência nominal. 1.2.2 Objetivos específicos - Efetuar a abertura dos canhões - Inserção da nova mistura de gás - Selagem do tubo - Obter as medidas para controle da potência e desempenho do laser - Discutir os resultados obtidos e dificuldades no processo - Propor soluções para os problemas encontrados durante o estudo 4 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 2.1 HISTÓRIA DOS LASERS O laser, cuja sigla em inglês significa Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou seja, amplificação da luz por emissão estimulada de radiação, começou a ter seu uso explorado na Segunda metade do século XX e desde então, tal ferramenta tem se difundido de forma acentuada, tornando-se objeto de inúmeras pesquisas e processos em diferentes áreas de atuação como na medicina, odontologia, indústria e também comércio. A invenção do laser ocorreu graças a uma das leis que determinaram o marco inicial da física quantica, elaborada pelo físico alemão Max Planck em 1899, na qual o físico elaborou a constante que leva seu próprio nome (Planck) e é utilizada para o cálculo da energia absorvida ou irradiada do fóton. No ano de 1905, Albert Einstein abordou em um de seus artigos a idéia dos fótons tratando da teoria quantica da luz e assim possibilitou explicar o efeito fotoelétrico. A teoria dos fótons de Einstein contradizia a teoria ondulatória da luz pelo fato das idéias do físico alemão irem contra as noções de física corrente da época, por esta razão Einstein não obteve apoio da comunidade científica, sendo reconhecido pela mesma somente em 1922. A idéia fundamental de Einstein era a de que toda radiação com frequencia visível tem o efeito físico por trás de seu funcionamento caracterizado pela emissão estimulada, condição necessária ao equilíbrio térmico da radiação com a matéria. Einstein descobriu através de suas considerações teóricas que não apenas um átomo aborve um fóton incidente e o reemite ao acaso após certo tempo (emissão irradiada), mas que também este mesmo átomo deve reemitir seu fóton absorvido se um segundo interagir com o mesmo. O fóton reemitido tem a mesma frequência do fóton que o estimulou e, igualmente importante, apresenta a mesma fase. Em 1916, Albert Einstein, a partir da lei de Planck, apresentou os fundamentos da invenção do laser, o maser, que ficaria esquecida até o fim da Segunda guerra mundial, e em 1953 em pesquisa liderada por Charles Hard Townes, foi produzido o primeiro Maser (Microwave amplification by stimulated emission of radiation), um dispositivo similar ao laser, que se difere do mesmo pelo fato de que em vez da emissão de luz visível o maser produz microondas. 5 No ano de 1960 o físico americano Theodore Maiman aplicou os princípios do maser para a região óptica. Um maser óptico é chamado de laser, dispositivo de estudo deste trabalho. Em 1961, nos laboratórios BELL, Ali Javan desenvolveu um dispositivo Laser com um uma mistura gasosa baseada em He e Ne, aparelho atualmente conhecido exatamente pela junção de ambos os gases, Hélio-Neônio. Em 1964 Kumar Patel, também nos laboratórios BELL, implementou o primeiro laser de dióxido de carbono, reportando resultado de menos de 1 miliwatt de potência de saída e desde então as pesquisas referentes aos diferentes tipos de laser crescem cada vez mais, possibilitando desta forma um leque de inovações e utilidades em diversas áreas de atuação. 2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS LASERS 2.2.1 Processo Laser As fontes de luz comum utilizadas no dia-a-dia são incoerentes, isto é, emitem ondas com diferentes comprimentos e com as mais diversas relações de fase. O resultado é que os feixes luminosos deste tipo de fonte se espalham muito rapidamente, sendo que grande parte da energia se perde por efeito da interferência destrutiva. O maior exemplo a ser considerado é o das lâmpadas. Conforme sigla já explicada anteriormente, o Laser é um dispositivo que produz radiação eletromagnética (Luz) com características muito especiais, sendo a mesma monocromática (freqüência/comprimento de onda muito bem definidos) e coerente (relações de fase bem definidas), além de ser colimada possibilitando a propagação como um feixe. Um laser funciona baseado no princípio de excitar um número mínimo de átomos de determinado material, podendo este material ser sólido, líquido ou gasoso para um nível de energia superior ou também chamado de excitado. Quando o elétron deixa o estado excitado e retorna ao estado fundamental o átomo emite o fóton, que pode ser tratado como um pacote de energia. A energia de um fóton é quantizada e relacionada ao comprimento de onda, segundo a Equação 1: E = hv = hc/ Onde: v é a freqüência em Hz; (Eq. 1) 6 h é a constante de Planck, h = 6,63 . 10-34 J.s; c é velocidade da luz, c = 3 . 108 m/s Este processo de decaimento é também chamado de emissão espontânea e o fóton emitido é absorvido por outro átomo, que por sua vez deixa o estado de maior valência e reemite o fóton incidente e o fóton proveniente da mudança de estado de maior para menor energia. Este fenomeno é chamado de emissão estimulada, o que, em um processo continuo, resultará na formação do feixe luminoso e pontual. Para obter-se maior clareza a respeito dos fenômenos atômicos que norteiam o processo do laser, faz-se necessário esclarecer com mais profundidade os pontos referenciais apresentandos. Estes são descritos a seguir: Processo de absorção de energia, ou seja, o elétron orbitando em determinado nível é submetido a uma energia externa adquirindo capacidade para sair do estado fundamental para o estado excitado, como mostra a figura 1 a seguir: Figura 1: Processo de absorção da energia de um fóton. (Svelto, 1982, p. 2). Processo de emissão de energia, ou seja, o mesmo elétron que anteriormente absorveu o fóton e saltou de nível, agora permanecerá em um estado instável até o momento que o mesmo retornar para seu estado fundamental. É durante esta transição que o elétron emite a energia absorvida. Esta mudança de nível é conhecida como emissão espontânea e está apresentada na figura 2 a seguir: Figura 2: Processo de emissão espontânea da energia através de um fóton. (Svelto, 1982, p. 2). 7 Agora será descrito um terceiro processo de transferencia de energia, chamado de emissão estimulada. Este processo está representado pela figura 3: Figura 3: Processo de emissão estimulada de energia. (Svelto, 1982, p. 2). Para conceituar a emissão estimulada deve-se considerar o caso quando o elétron está em um estado que não seja o fundamental, ou seja, esteja excitado. Este estado de excitação instável permanece durante certo tempo e, dependendo do átomo, pode levar um período indesejável. No entanto, pode-se fazer com que este elétron retorne ao estado fundamental mais rapidamente através de um agente externo, isto é, um fóton. Quando este fóton entrar em contato com o elétron excitado haverá a estimulação do elétron para o estado de mais baixa energia, emitindo assim o fóton oriundo da mudança de nível juntamente com o fóton que o estimulou. Uma consideração muito importante e fundamental é a de que estes fótons são a “luz” de característica coerente, de mesma energia, direção e fase para o funcionamento e caracterização da produção do laser. Estes dois fótons emitidos irão estimular outros átomos elevenado-os ao seu estado excitado, provocando assim a emissão de mais fótons com as mesmas características dos fótons excitantes. Desta forma ocorre uma série de emissões estimuladas, que comporão a luz amplificada com ondas de mesma direção e fase. Partindo-se do princípio da emissão estimulada explicado, ainda é necessário confinar esta energia numa região determinada, por isto as etapas a seguir descrevem o processo de confinamento em uma ampola com espelhos altamente refletivos e paralelos entre si. 8 2.2.2 Aspectos Construtivos Como foi apresentado anteriormente, a energia do fóton emitido está relacionada com o seu comprimento de onda. Deste modo, quando há necessidade de que o sistema emita luz com determinado comprimento de onda, o primeiro aspecto construtivo de um laser é selecionar um meio ativo (material) em que os elétrons apresentem características de seu espaçamento entre o nível fundamental e excitado exatamente igual a energia do feixe que se deseja obter. Os meios-ativos de lasers podem ser feitos a partir de materiais sólidos, líquidos ou gasosos. Para construir-se um laser, além do meio-ativo, também é de fundamental importância outras duas partes denominadas de fonte externa e espelhos, conforme esquema demonstrado na figura 4. Figura 4: Esquemático simplificado de um Laser Uma condição necessária para se obter o laser relaciona-se com o estado dos elétrons, ou seja, estes deverão estar em níveis excitados, do contrário não haverá o desencadeamento do processo de emissão estimulada. Assim sendo, constata-se que antes de estimular o processo quântico, necessita-se excitar o meio ativo, para que desta forma se obtenha a maioria dos elétrons no estado excitado. Normalmente obtem-se esta excitação através de uma fonte de alimentação externa que deve fornecer energia suficiente para que os elétrons possam saltar de nível, alterando seu estado de fundamental para excitado. A fonte externa tem a característica de interfacear a emissão de fótons para obter o estado de valencia desejado dos átomos situados no meio ativo. 9 A segunda parte constituinte do laser são os espelhos, que tem a função de refletir os fótons emitidos da cavidade ressonante, resultando no estímulo dos elétrons do meio ativo, coerência e amplificação do feixe. A Segunda característica é a intensidade do feixe luminoso, que diferentemente das fontes de luz convencionais pode ter elevada intensidade. Sua potência pode atingir desde microwatts a terawatts. O terceiro ponto trata da direção do feixe. Como exposto anteriormente, os espelhos que constituem a cavidade ótica refletem a luz emitida e apenas 10% emergem do sistema. Esta porcentagem tem a mesma direção e sentido, com isso, há pouca dispersão do feixe, situação que é de fundamental importância em determinadas aplicações. Uma quarta característica é a coerencia do feixe, ou seja, a onda deve ter a mesma fase, direção e sentido para que assim se tenha um feixe pontual e monocromático. 2.2.3 Tipos de Lasers Há diferentes tipos de laser, que dependem quase que exclusivamente do composto existente no meio ativo, o qual pode ser em sua maioria do tipo sólido, líquido ou gasoso. Laser Gasoso: os lasers do tipo gasoso são excitados por uma descarga elétrica no interior de um tubo adequadamente pressurizado (vácuo) que contenha o composto gasoso e a cavidade ressonante afastada de uma distância que varia entre 5 cm até 5 m, como mostra a figura 5. Entre os mais eficientes está exatamente o laser de CO2, operando na faixa do infravermelho. Figura 5: Esquema de um laser gasoso (Halliday, 1991). 10 Laser Semicondutor: o meio ativo composto de material semicondutor é excitado pela corrente elétrica que flui através da junção p-n. Este tipo de estrutura apresenta uma cavidade ressonante da ordem de 200 µm. Por ser de baixo custo e de volume reduzido, o laser semicondutor é o mais popular, utilizado em leitores de CD e DVD. A figura 6 representa de forma simplificada o laser semicondutor. Figura 6: Esquema de um laser semicondutor (Halliday, 1991). Laser Sólido: os lasers de estado sólido são feitos de cristais e vidros isolantes. Esses lasers são excitados por lampadas ou diodos. O laser de rubi, que foi o primeiro laser a ser construído, deu lugar a lasers sólidos mais eficientes a base de neodímio, como o laser de Nd:YAG (Yttrium Aluminum Garnet, granada de ítrio e alumínio). A figura 7 mostra em detalhes o laser de rubi, onde observa-se que no momento em que é aplicada uma determinada tensão entre os extremos do tubo de flash, ocorre a excitação dos elétrons do meio ativo através de uma emissão fotônica. Figura 7: Esquema de um laser de estado sólido gasoso (Halliday, 1991) 11 Laser de Corante: os lasers de corante utilizam líquidos circulantes que são excitados por lampadas ou outros lasers. Um dos mais usados é o de Rh6G (Rodamina 6G), um material altamente fluorescente. A maior vantagem dos lasers de corante é que sua frequencia pode ser variada continuamente, bastando utilizar-se de um elemento ótico (como uma rede de difração) de modo a selecionar apenas a frequencia desejada. Esses lasers também são capazes de gerar pulsos extremamente curtos. A quadro 1 abaixo apresenta um comparativo entre os diferentes tipos de laser para os diferentes tipos de meios ativos. Quadro 1: Tipos de lasers mais usuais. Meio ativo Composto Comprimento de Onda Potência Utilidade HeNe 633 nm 1 mW Cód. De Barras Argônio 488 nm 10 W Medicina CO2 10,6 µm 200 W Corte e Soldagem GaAs 840 nm 5 mW Cd Player AlGaAs 760 nm 50 mW Impressoras Rubi 694 nm 100 MW Holografia Nd:Yag 1,06 µm 50 W Semicondutores Corante aromático Sintonizável 100 mW Espectroscopia Gás Semicondutor Estado Sólido Líquido Fonte: Halliday, 1991. 2.3. O LASER DE CO2 2.3.1 Definição Comercialmente chamado de laser CO2 (dióxido de carbono), este equipamento é um laser baseado numa mistura gasosa submetida a vácuo determinado como o meio de ganho. Apesar deste laser possuir a denominação de somente um gás, contém em sua mistura além do próprio CO2, também Hélio e Nitrogênio, e possivelmente Hidrogênio, vapor de água e/ou Xenônio. Tal laser é bombeado eletricamente através de uma descarga gasosa, a qual pode ser operada com corrente contínua (DC), corrente alternada (AC) (ex: 20-50 kHz) ou no domínio da rádio-freqüência (caso dos canhões de cavidade metálica). 12 Lasers de CO2 em sua maioria emitem no comprimento de onda de 10,6 µm, mas há também outras linhas na região de 9 até 11 µm (particularmente a 9,6 µm), portanto localizase na faixa do espectro infravermelho. A interação desta radiação com a matéria é de característica térmica. Na maioria dos casos, as potências estão entre algumas dezenas de watts e muitos quilowatts. A maioria dos tipos de lasers de CO2 são: - tubos selados ou também denominados lasers sem fluxo, para baixas potências; - lasers de fluxo axial; - lasers de fluxo rápido transversal (para potências de saída da ordem de muitos quilowatts); - Atmosfera excitada transversal (TEA) lasers com pressão de gás alta (próximo da atmosférica) e uma série de eletrodos e entradas de gás ao longo do tubo (para modo pulsado somente, adequado para potências de multi-quilowatts); - Lasers de alta potência SLAB, com o gás num “gap” entre um par de eletrodos de radiofreqüência planares refrigerados a água (não deve ser confundido com lasers de estado sólido); - Laser CO2 de gás dinâmico (ex, para armamentos antimísseis), no qual a energia não é provida pela descarga gasosa, mas sim pela reação química num tipo de motor de foguete. Os conceitos diferem principalmente na técnica de extração de calor, mas também na pressão de gás utilizada e na geometria dos eletrodos. Em tubos laser selados de baixa potência (ex: para marcação a laser), a perda de calor é transportada pelas paredes do tubo por difusão, por um fluxo lento de gás e também por refrigeração a água. A qualidade do feixe pode ser muito alta. Lasers CO2 de alta potência utilizam de convecção de gás forçada, a qual pode ser na direção axial (ao longo do feixe) ou na direção transversal (para maiores potências). O laser CO2 distingue-se por ser parte indispensável da produção industrial. Em comparação com todos os outros lasers, o de CO2 distingue-se por sua alta eficiência e alta potência de saída. São tão altas que a potência de saída na maioria das vezes são limitadas pelos limites de destrutibilidade dos componentes ressonadores óticos. A presente tecnologia permite potências de saída de até 20 kW. Contudo, são os lasers CO2 de potência até 500 watts que atingiram uso de maior frequência, e mais precisamente os laser CO2 de vidro 13 selados são o foco principal deste trabalho. Um exemplo do mesmo está mostrado na figura 8 a seguir. Figura 8: Laser CO2 de vidro selado. (parallax-tech.com, 2007). 2.3.2 Propriedades O gás presente no interior da cavidade, como mencionado anteriormente, é uma mistura gasosa na qual a molécula responsável pela emissão Laser é o CO2, contudo trata-se na verdade uma mistura de gases sob vácuo que possuem determinadas funções no processo, normalmente dentro do tubo a base gasosa apresenta os seguintes compostos e pode apresentar variação dependendo da utilização [Patel]: - Gás de CO2 (Dióxido de carbono) em torno de 10 – 20%; - Gás N2 (Nitrogenio) com uma porcentagem de 10 – 30%; - Gás He (Hélio) com o restante da porcentagem do gás; - Vapor d’água em quantidades variáveis, porém muito baixas. A mistura de outros gases ao meio ativo eleva a eficiência do laser, auxiliando na pressão de confinamento e na troca de calor. Conforme mecionado o laser de dióxido de carbono opera no infravermelho sendo desta forma necessário implementar materiais especiais para confecção do aparelho. A figura 9 a seguir apresenta os elementos que compõem o tubo do laser de CO2. 14 Figura 9: elementos básicos que compõem um tubo laser. (Luhs, 2003, p. 14). A presença dos eletrodos (anodo e catodo) no tubo garante, através de uma fonte de alimentação, a excitação dos elétrons, os quais geram com a emssão estimulada e espontânea os fótons que por sua vez são amplificados pela ação de reflexão dos espelhos M1 e M2. Os espelhos que compõem o tubo de descarga de CO2 são compostos projetados e fabricados especialmente para refletir o espectro do infravermelho, em especial para valores ao redor de 10,6 µm. Em geral os espelhos possuem a forma plana ou curvada, e os componentes utilizados no processo de fabricação podem ser: - Ouro (Au); - Cobre (Cu); - Alumínio (Al); - Molibdênio (Mo); - Compostos a base de silício (Si). Os materiais utilizados para a refração da luz, ou seja, para permitir a saída de parte da radiação gerada (no contexto apresentado anteriormente, 10% da energia gerada) são compostos em grande parte pelos seguintes materiais: - Seleneto de Zinco (ZnSe); - Germânio (Ge); - Arseneto de Gálio (GaAs); - Sulfeto de Zinco (ZnS). 15 O refrigerante utilizado para manter as condições ideais para o funcionamento do laser de CO2 geralmente é a água, sendo esta de fundamental importância para manter a temperatura nas condições ideais de uso, ou seja, com a potência determinada e a qualidade requerida do feixe. Outro ponto a ser observado é a existência de vácuo e um permutador de calor, de modo a permitir que a mistura gasosa tenha as condições ideais de pressão e temperatura, respectivamente. Basicamente, para os lasers de CO2 selados, questões como limpeza da cavidade ressonante, proporções da mistura gasosa, seu volume, valor de pressão (vácuo) e a maneira de selagem são cruciais para as características de durabilidade e manutenção da potência emitida e também da vida útil do sistema por degradação gasosa e desgaste dos eletrodos por sputtering. 2.3.3 A molécula de CO2 A molécula de CO2 é composta por dois átomos de oxigênio e um de carbono dispostos em uma estrutura linear simétrica ou “alongada”, que pode vibrar em três diferentes modos normais (figuras 10, 11 e 12), além de efetuar rotações sobre os três eixos espaciais, figura 13. Cada modo normal de vibração é associado pelos números quânticos n1n2n3. Na figura 14 estão demonstrados alguns dos níveis de energia vibracionais da molécula de CO2 do estado eletrônico fundamental calculados, desprezando-se qualquer perturbação sobre o estado vibracional devido à rotação da molécula de CO2. Para excitar-se a molécula de CO2, ou seja, obter-se inversão de população no meio ativo, é necessário excitá-la convenientemente, fazendo-se por colisões com os elétrons da descarga promovida pela fonte de alimentação e por colisões ressonantes com a molécula de N2 excitada vibracionalmente. A influência dos gases N2 e do He na excitação e relaxação da molécula de CO2 serão analisadas posteriormente. Nos lasers de CO2 a descarga elétrica promovida pela fonte de alimentação acarreta o impacto eletrônico direto de elétrons com moléculas podendo-se dar de duas formas: colisões elásticas e inelásticas. Em uma colisão inelástica, a molécula absorve energia dos elétrons, sendo excitada para estados mais altos de energia ou até mesmo ser ionizado. Nas colisões elásticas só há transferência de momento (N.m). 16 Figura 10: Estrutura da molécula de CO2 linear apresentando modo de vibração simétrico (Luhs, 2003, p. 10). Figura 11: Modo de flexão da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Figura 12: Modo de vibração assimétrico da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Para cada vibração fundamental existem rotações moleculares as quais são caracterizadas por um número quântico J. 17 Figura 13: Esquema de rotação da molécula de CO2. (Luhs, 2003, p. 10). Figura 14: Transições do CO2 e N2. (Luhs, 2003, p. 12). 2.3.4 Condição para obtenção LASER na Molécula de CO2 Será abordada neste item a consideração físico-matemática para se conseguir a excitação no meio ativo laser (CO2). Para isto inicia-se demonstrando esquematicamente num meio ativo a presença simplificada de somente 2 estados ou níveis de energia. Ambos os níveis, 1 e 2, possuem energias E1 e E2 respectivamente, e n1 e n2 suas respectivas populações. O nível 1 será considerado como o nível inferior e o nível 2 o de maior energia. Se uma onda eletromagnética com freqüência igual à freqüência de transição entre esses 2 níveis = (E2 – E1)/h e intensidade correspondente ao fluxo de fótons F (fótons/cm2 s) atravessa o material ao longo da direção z, figura 15, provocará uma variação do fluxo de fótons dF devido aos processos de emissão estimulada e absorção na região com dimensão dz que pode ser descrito por: 18 dF = F (n2 – n1)dz Onde (Eq. 2) é a seção de choque de transição medido em cm2. A equação acima mostra que se n2 > n1 (dF/dz>0) o fluxo de fótons aumenta ao percorrer a distância dz. Neste caso, o sistema comporta-se como um amplificador do número de fótons, e portanto, podemos definir o ganho óptico do sistema como: g = (n2 – n1) (Eq. 3) Do mesmo modo, se n2 < n1 (dF/dz<0) o fluxo diminui ao atravessar a espessura dz, e o material comporta-se como um absorvedor. Neste caso, podemos definir em analogia a situação anterior, um coeficiente também positivo, sendo agora de absorção: = (n1 – n1) (Eq. 4) Um outro parâmetro importante em sistemas lasers, é o ganho por passo no material ativo, ou seja, integrando-se a equação 2 anteriormente apresentada, obtemos para os casos de amplificação e de absorção respectivamente: F = F0egl F = F0e- (Eq. 5) l Onde l é o comprimento total do meio ativo e F0 o fluxo inicial. Figura 15: Mudança do fluxo de fótons no material. (Svelto, 1982. p. 5). (Eq. 6) 19 2.3.5 ADIÇÃO DE N2 E He Moléculas de nitrogênio são excitadas pela descarga até um nível vibracional metaestável e transferem sua energia de excitação às moléculas de CO2 quando colidindo umas com as outras. A função do Hélio serve para depopular o nível laser inferior e também remover calor. Outros constituintes tais como hidrogênio ou vapor d’água podem ajudar (particularmente em tubos laser selados) a reoxidar o monóxido de carbono gerado (formado pela descarga) em dióxido de carbono. Patel et. al. em suas observações percebeu que havia uma maneira encontrada para aumentar a eficiência do laser de CO2 adicionando nitrogênio e hélio no meio ativo. Foi observada a coincidência entre o nível vibracional do N2 (v=1) com o nível superior do laser de CO2 (0001), sendo a diferença de freqüência de apenas 18 cm-1, conforme indicado na figura 14 anteriormente. Como o N2 é facilmente excitável por uma descarga elétrica (impacto de elétrons) e o seu nível vibracional v=1 é metaestável, portanto com tempo de vida longo, há uma grande produção de N2 (v=1) na descarga. Estas moléculas, ao colidir com as moléculas do CO2 transferem sua energia excitando preferencialmente o nível superior da transição laser. Portanto, realizando-se tal observação, nota-se que praticamente toda a energia dos elétrons é transferida para a excitação vibracional das moléculas de N2 e CO2, sendo a excitação eletrônica ou ionização, tanto do N2 como do CO2, desprezível frente à excitação vibracional. Para as condições típicas da descarga elétrica do laser de CO2 aproximadamente 42% da potencia total dos elétrons são para a excitação dos 8 primeiros níveis vibracionais do N2. A partir disso, o N2 transfere 70% de sua energia para o nível superior laser através de colisões ressonantes de segundo tipo, isto é, colisões com transferência de energia vibracional entre moléculas. Combinando os 42% de transferência de potência com os 41% de eficiência quântica da transição laser, indica que um máximo de 17% da potência elétrica acoplada para o N2 e CO2 pode ser convertida em potência óptica. A adição de He na descarga CO2 – N2 reduz a temperatura eletrônica média resultando em uma maior eficiência de excitação vibracional do N2 e do CO2 por colisões ressonantes inelásticas. Esses processos ressonantes tem, como vimos anteriormente, seção de choque máxima para baixas energias eletrônicas. Além desse efeito, a adição crescente de He na mistura CO2 – N2 em um laser de CO2 de onda contínua cresce a potência de saída na transição vibracional 0001 1000 por um fator de aproximadamente 5 vezes, figura 16. 20 Figura 16: Efeito da adição de He na descarga CO2 – N2 sobre a potência de saída de um laser de CO2 (Willet, 1974). Outra vantagem na adição de He é devido a sua capacidade térmica ser aproximadamente 5 vezes maior do que a do N2 e do CO2, desta forma o He conduz rapidamente o calor para as paredes do tubo resfriando a descarga em cerca de 400 K a 6 torr, figura 17. De fato, com a adição do He haverá um aumento na relaxação colisional dos níveis 1000 e 0111 do CO2, o qual tem grande probabilidade de serem excitados termicamente. Figura 17: Efeito da adição de He sobre a temperatura do gás numa descarga CO2 – N2. (Willet, 1974). 21 3 MATERIAIS E MÉTODOS Para que os objetivos propostos sejam alcançados, os resultados da etapa experimental deste trabalho devem satisfazê-los. Assim: O primeiro objetivo específico, medir a potência de saída previamente à abertura dos canhões nos locais pré-determinados, assim como medir a pressão interna da cavidade Laser e soldar uma extensão de vidro para facilitar o manuseio durante a recarga; O segundo objetivo específico, que se trata de projetar o sistema de alimentação apropriado para limpeza da cavidade laser, evacuação e em seguida inserção da nova mistura de gás; O terceiro objetivo específico, que será a selagem do tubo mantendo o vácuo; O quarto e quinto objetivos específicos, Obter as novas medidas de controle de potência e discutir os resultados obtidos e dificuldades no processo. Nos itens a seguir serão apresentadas as condições para atingir os tópicos apresentados acima. 3.1 MATERIAIS 3.1.1 Laser CO2 de vidro selado e caracterização do equipamento Neste trabalho foram escolhidos dois canhões laser CO2 de vidro selados de fornecedores distintos, adquiridos pela empresa Automatisa Sistemas Ltda., sendo um denominado pela letra A, e outro pela letra B. O primeiro emite nominalmente a potência de 100 watts enquanto que o segundo, 65 watts. Ambos tiveram sua selagem rompida e foram montados na primeira bancada experimental de recarga. Como justificativa para a escolha destes canhões, tratam-se de dois modelos atualmente comercializados nas máquinas de corte da empresa. Ambos possuem características distintas que serão apresentadas na seqüência. 22 Figura 18: canhões laser em estudo no trabalho, foto superior canhão A , foto inferior canhão B. Neste trabalho faz-se necessário que sejam feitas definições para o desenvolvimento do experimento. Na figura 18 são mostrados os dois canhões lasers que foram fornecidos pela Automatisa para a realização deste estudo. Realizando-se um corte transversal em ambos os equipamentos, verifica-se que os tubos são formados por três tubos concêntricos de vidro, como diagramado na figura 19. Sendo: Região de Descarga: tubo mais interno onde ocorre a descarga elétrica para excitar o meio ativo do laser, neste caso uma mistura a base de gás CO2. A região confinada por este tubo é denominada região de descarga, e o tubo de tubo de descarga. Região de Refrigeração: é a região entre o tubo de descarga e o segundo tubo onde circula a água que tem por finalidade manter equilibrada a temperatura do laser. Esta região é denominada como região de refrigeração e o segundo tubo que a confina é chamado de camisa d’agua. “Buffer”: O terceiro e último tubo mais externo tem por função armazenar a mistura gasosa que forma o meio ativo do gás. Este tubo será chamado de tubo externo e a região entre ele e a camisa d’agua será chamada de “buffer”. Figura 19: Seção transversal genérica de um tubo laser de vidro selado representando o modelo dos canhões em estudo. 23 Espelho total: espelho totalmente refletor, também chamado de espelho total, as figuras a seguir apresentam os espelhos totais de ambos os canhões, os mesmos localizam-se a direita de cada foto na figura 20 para cada canhão estudado. Note-se a diferença entre ambos, sendo que o canhão A apresenta um material refletor sólido à base de Silício (Si), enquanto o B é uma película de Ouro (Au) depositada sobre uma superfície de vidro. Sua má aparência não é devido ao uso e sim análises realizadas após a remoção. Espelho de acoplamento ou espelho de saída (Output Coupler): localizado a esquerda de cada foto, trata-se de um espelho parcialmente refletor, capaz de transmitir parte da energia incidida e também refletir para a cavidade laser a outra porção da energia, percebese no canhão laser A um material transparente e “amarelado”, um vidro de Seleneto de Zinco (ZnSe), com refletância de 30% da energia incidida e transmitância cerca de 70%. Por outro lado o canhão laser B possui em sua “janela de saída” um espelho de Germânio, com transmitância da ordem de 45% e refletância de 55%, ressaltando-se que estes valores são referência para o comprimento de onda de 10,6 µm num material sólido com 10 mm de espessura conforme apresentados nos gráficos da figura 21, portanto pode-se afirmar existência de mudança nestes valores para os espelhos utilizados. Componentes óticos Canhão laser A Canhão laser B Figura 20: Espelhos refletores dos canhões em estudo 24 Figura 21: Espectro de transmissão para os materiais dos espelhos de saída dos canhões laser estudados. (SintecOptronics.com, 2006) Lado do Catodo: lado do tubo de laser que contém o catodo (eletrodo maior, de forma tubular e refrigerado, conforme figura 22) será chamado de lado do catodo. Também corresponde ao lado onde é fixado o espelho total. Eletrodos Catodo do laser A Catodo do laser B 25 Figura 22: Catodos dos lasers em estudo. Lado do anodo: lado do tubo de laser que contém o anodo, no caso do canhão A na forma de um pino, que na figura 23 apresenta-se incandescente pelo plasma gerado, o mesmo não possui refrigeração, já o B também de forma tubular e refrigerado. Corresponde ao lado onde é fixado a janela de saída (Output coupler). Eletrodos Anodo do laser A Anodo do laser B Figura 23: Anodos dos lasers em estudo. 3.2 MÉTODOS Para realizar as recargas em canhões laser CO2 de vidro selado, certas etapas prévias são fundamentais que sejam descritas e propostas para se atingir os objetivos. Por isto neste item serão apresentadas atividades que possibilitam delinear o trabalho de recarga e concluirse o objetivo final de restabelecer a potência original em ambos os canhões. Como ainda são desconhecidos alguns passos necessários para o processo, serão apresentados inclusive os criados para possibilitar o desenvolvimento deste projeto. 26 3.2.1 Abertura dos canhões O processo denominado como abertura dos canhões será apresentado a seguir através da realização de quatro atividades, sendo a medição da potência anterior à abertura, a demonstração de quebra da selagem abrindo-se a cavidade rompendo o vácuo interno e o conjunto de medições de pressão interna (vácuo) e captação da mistura gasosa para análise qualitativa e quantitativa. 3.2.1.1 Medição da potência A medição da potência foi realizada através de medidor contínuo da marca Ophir, modelo FL250A – SH – V1, este modelo apresenta-se na figura 24. Figura 24: medidor contínuo de potência utilizado para captação dos dados. Este medidor tem a vantagem como o nome já informa de permitir a medição contínua da potência, ou seja, torna possível a detecção das oscilações de potência do laser durante intervalos de tempo. Tal equipamento é interessante devido as variáveis que influenciam na potência do laser poder ser mais facilmente identificáveis e corrigidas. 3.2.1.2 Quebra da selagem 27 Através da utilização de uma lima diamantada a região de alimentação e recarga do gás foi sensibilizada (figura 25). Muito comumente chamada de “mamica” esta região apresenta-se como a mais crítica no desenvolvimento deste processo. Pontas de Selagem dos canhões laser Canhão A Canhão B Figura 25: demonstração da região de alimentação de gás ou “mamica” a ser fragilizada para posterior recarga. 3.2.1.3 Medição da pressão A pressão interna foi medida através de um medidor de vácuo do tipo capacitivo, sendo o seu conjunto sensor e display apresentados a seguir. 28 Conjunto para medição da pressão Display Medidor de vácuo do tipo capacitivo Figura 26: Conjunto para medição da pressão interna nos tubos laser. Para realização deste ensaio foi necessário efetuar uma adaptação na qual após a operação de fragilizar a ponta de vidro com a lima, a mesma foi acoplada a uma mangueira de silicone ajustada para não haver vazamentos, a ponta de vidro (ou “mamica”) fragilizada foi então quebrada com as mãos sobre a mangueira ligada ao sistema de medição de vácuo que estava acionado junto à tubulação que conecta a mangueira de silicone e o laser, então se captou os valores de pressão de vácuo dentro das ampolas de vidro. A figura 27 abaixo mostra o exemplo explicativo da mangueira de silicone revestindo a ponta de vidro dos lasers que serviram como mecanismo para quebrar o vácuo sem perdê-lo para o ambiente e permitindo as medições. A B Figura 27: ajuste com tubo de silicone para medição da pressão. 29 3.2.1.4 Captação de mistura gasosa para análise Faz-se necessário neste trabalho também captar a mistura gasosa em paralelo com a medida da pressão interna. Utilizando-se do mesmo mecanismo que foi feito para medir a pressão, acoplou-se um septo para tomada de gás e armazenamento de uma amostra para qualificação e quantificação dos componentes presentes na mistura através de cromatografia gasosa. Após a captação a amostra gasosa foi levada para análise qualitativa e quantitativa em cromatógrafo. O modelo utilizado foi o HP5972MSD pertencente ao Instituto de Estudos Avançandos (IEAv), cuja foto apresenta-se na figura a seguir. Figura 28: Cromatógrafo para caracterização do gás laser presente nos canhões. 3.2.2 Preparação para recarga 3.2.2.1 União de extensão de vidro Depois de quebrada a “mamica”, medida a pressão interna e coletada amostra do gás presente para análise, faz-se necessário extender a mamica para nova selagem, isto se deve ao fato de que a mesma é muito curta para poder ser instalada num sistema de recarga e as vibrações inerentes a bomba de vácuo, podem comprometer a integridade física do canhão laser comprometendo-o. Uma ponta de vidro muito pequena significa bastante perigo para o tubo laser, também no que diz respeito as tensões que serão deixadas pelo calor da solda a ser realizada no vidro para facilitar o manuseio durante a recarga. As figuras abaixo mostram os segmentos de vidro que serão acoplados a região de recarga para adaptação ao sistema de limpeza e recarga. 30 Canhão A Canhão B Figura 29: extensões de vidro para acoplar o laser ao sistema de recarga. 3.2.2.2 Equipamentos para montagem experimental da bancada Neste momento deve-se fazer uma breve revisão dos métodos propostos para se poder prosseguir e atingir a recarga dos lasers CO2 de vidro selados. Demonstrou-se até então que é necessário para a recuperação de um canhão laser, saber a potência inicial que o mesmo está emitindo, ou seja, se ele ainda emite laser ou qual a discrepância de potência em relação as suas características iniciais e também em função do tempo de uso. Também é de suma importância realizar um trabalho minucioso sobre a região de recarga (comumente denominada “mamica”) ao fragilizá-la também para saber-se sob qual valor de pressão interna está o gás laser. Por isto propôs-se o modelo de primeiramente fragilizar a região de recarga, e em seguida revesti-lo por uma mangueira de silicone acoplada ao medidor de pressão e ao septo para tomada de amostra, sendo assim é permitido que o sistema mantenha-se fechado com o ambiente externo e possibilitando o trabalho. Assim que as medidas são realizadas o sistema é aberto tem-se a próxima etapa do processo que é a de união da extensão de vidro para recarga. Este processo como será apresentando no tópico resultados não é simples e afeta o tubo laser, tanto no sentido de aplicar tensões adicionais ao vidro fragilizando-o e por conseqüência aumentando suas chances de trincar, como também sujar a cavidade laser, pois o calor da chama de soldagem também traz detritos para dentro da cavidade, que precisará de limpeza prévia ao enchimento com nova mistura de gás. Para este tópico é conveniente demonstrar um esboço geral do método desenvolvido para recarga do laser de vidro apresentando o conjunto experimental montado. 31 Antes da apresentação deste modelo são apresentados os outros equipamentos utilizados para o método e que são de suma importância para o trabalho tanto experimental quanto comercialmente. Na figura 30 a seguir apresenta-se a bomba de vácuo do tipo turbomolecular, ela é um dispositivo com duas bombas em conjunto, sendo uma de arraste (drag) e outra a turbomolecular propriamente dita, este é modelo PFEIFFER TCP 015 pertencente ao IEAv, com capacidade de atingir pressões de vácuo da ordem de até 10-5 torr. Figura 30: bomba de vácuo utilizada no trabalho. Conforme mencionado nos parágrafos anteriores, a soldagem de uma extensão de vidro a “mamica” traz contaminações para a cavidade laser, para isto propõe-se neste trabalho que antes do enchimento da cavidade com a mistura quantificada, se utilize um gás de arraste circulante para limpeza da cavidade, na figura 31 está o tubo de gás Hélio (He) que foi utilizando como agente de limpeza. Por fim, a figura 32 mostra o reservatório da mistura quantificada utilizado para alimentar os canhões durante a recarga. 32 Figura 31: tubo de Hélio para limpeza da cavidade laser. Figura 32: tubo reservatório de mistura para laser Todos estes instrumentos e materiais demonstrados nos itens anteriores foram montados numa bancada experimental de recarga cuja figura 33 apresenta com maiores detalhes. A partir da montagem do dispositivo serão captados os dados para atingir o objetivo geral de recarregar os canhões laser CO2 de vidro selados. Canhão A Canhão B 33 Figura 33: Montagem experimental da bancada de recarga dos lasers CO2 de vidro selado 34 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o item 3.2 em Métodos, serão apresentados a seguir os resultados das medições e processos propostos para o desenvolvimento da recarga dos canhões laser CO2. 4.1 POTÊNCIA, PRESSÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GASES 4.1.1. Potência anterior a Abertura dos canhões O canhão A apresentava potência inferior àquela fornecida pelo fabricante do equipamento. Diferentemente o canhão B utilizado para este trabalho era novo e emitia sua potência nominal. Na quadro 2 abaixo se apresentam as medidas tomadas da potência anterior a abertura. Foram tomadas um total de 10 medidas de potência. Quadro 2: Valores de potência medidos nos canhões anterior ao experimento de recarga dos canhões laser A e B. 35 Potência em Watts (W) antes da recarga Medida Canhão Laser 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A 78,1 82,9 80,5 76,1 76,8 77,2 81,9 79,7 83,9 83,6 B 68,5 65,4 65,8 64,6 61,6 66,2 61,8 60,6 65,9 67,7 Média Desvio Padrão 80,07 2,93 64,81 2,66 Como se pode perceber a potência do laser A estava 20% abaixo do nominal de 100 watts fornecido enquanto o canhão laser B apresentava estabilidade adequada. 4.1.2. Medidas da pressão interna Na quadro 3 abaixo são apresentadas as medidas captadas pelo medidor de vácuo capacitivo acoplado ao sistema de alimentação de gases. Quadro 3: medidas das pressões nos canhões. Pressão interna (torr) Medida 4.1.3. Caracterização dos gases 4.1.3.1 Medição qualitativa A 30 B 25 36 Deve-se informar neste ponto do estudo que devido as restrições em termos de tempo e calibração do equipamento somente a mistura gasosa do canhão A foi captada e analisada. A mesma foi submetida a análise qualitativa e quantitativa através de cromatografia gasosa cujo resultado demonstrado no gráfico da figura 34 demonstrado a seguir. Figura 34: Espectro qualitativo da mistura gasosa do laser A. A análise foi feita num cromatógrafo que tem como sensor de partículas um espectrômetro de massa do tipo quadrupolo elétrico. A amostra foi injetada no cromatógrafo através de uma seringa. Verifica-se que há a presença inequívoca de CO2, N2, Ar e Xe. Na massa 28, provavelmente também há a contribuição de CO. Não aparece no espectro, por estar fora da resolução do equipamento, o He e o H2. A presença de H2O no espectro pode ser atribuída à contaminação do tubo ou do sistema de vácuo. A própria presença de O2 no espectro indica a adição de H2O na mistura gasosa. No entanto é mais plausível que a mistura inicial seja composta de: - CO2 - N2 - He - Ar - Xe. 4.1.3.2 Medição quantitativa A medição quantitativa apresentou as seguintes proporções de cada componente: Quadro 4: resultado da medição quantitativa em cromatógrafo. 37 CO2 19,0% N2 23,0% Xe 0,5% Ar 0,3% He 57,20% Conforme apresentado na revisão bibliográfica, esta mistura segue em essência o padrão básico das misturas gasosas para emissão no comprimento de onda de 10,6 µm. Contudo há a presença dos elementos Xenônio e Argônio, que podem estar presentes como catalisadores para redução da taxa de degradação química sofrida pelo CO2. Tal degradação é responsável pela perda gradativa da potência do laser. Isto também justifica o fato de os canhões laser CO2 de vidro selados possuírem um tempo de vida médio o qual é estimado em horas, tal conceito é advindo do fato que depois de degradado todo o CO2 existente na cavidade o laser não possui mais capacidade de ionizar-se para emitir no seu comprimento de onda específico. Com base no resultado quantitativo desta mistura padrão do canhão laser A preparou-se nova mistura com estes componentes para teste de recarga e novo acionamento do laser. Não foi possível captar as proporções de água, uma vez que o cromatógrafo toma a mesma como impurezas da tubulação do sistema, inviabilizando sua medida quantitativa. No entanto, é altamente provável a presença de vapor d’agua no interior do canhão laser atuando como catalisador. 4.2 UNIÃO DA EXTENSÃO DE RECARGA Utilizando-se de um aparelho comumente conhecido como maçarico de oxi-butano, capaz de atingir temperaturas da ordem de 2900 ºC, fez-se a soldagem da extensão no tubo, conforme mostrado na figura 35. Canhão A 38 Figura 35: união da extensão de vidro para recarga O resultado desta atividade pode presencia-se através da figura 36 para ambos os canhões, esta extensão permitirá que os canhões sejam mais facilmente manuseáveis ao serem acoplados a bancada de recarga e também facilitará no momento de selá-lo sob vácuo, oferecendo uma região maior de trabalho ao operador que concluirá o processo de recarga. Canhão A Canhão B 39 Figura 36: resultado do procedimento de soldagem com oxi-butano 4.3 LIMPEZA DA CAVIDADE, POTÊNCIA OBTIDA E SELAGEM Figura 37: exemplo de acoplamento do laser A à tubulação de recarga gasosa. Uma vez os lasers acoplados ao sistema, conforme exemplo a seguir, fez-se a limpeza da cavidade por 4 horas evacuando-se até a pressão de 10-2 torr utilizando-se da bomba turbomolecular apresentada na figura 30. O gás He foi utilizado como gás de limpeza, o mesmo mostrado na figura 31. Ao final da etapa de limpeza da cavidade, os canhões laser foram então evacuados pela última vez até atingir novamente o valor de pressão interna de 10-2 torr e através de válvulas adequadamente montadas na linha da tubulação de recarga, a mistura quantificada demonstrada na tabela 4 foi injetada para dentro dos canhões utilizando como ferramenta para melhor passagem do gás uma válvula do tipo agulha. Em cada um dos canhões a mistura foi injetada até que fosse atingida a mesma pressão medida no item 4.1.2, sendo 30 torr para o canhão A, e 25 para o canhão laser B. 40 Após os canhões laser terem sido preenchidos com mistura a base de CO2 quantificada, os mesmos foram acionados para verificação da restauração da potência nominal. Tomando-se como base um período de 4 horas, ambos os canhões foram mantidos acionados apontando para o medidor contínuo de potência para captação dos valores emitidos. Como exemplo explicativo, na figura 39 o feixe laser do canhão A está apontado para um tijolo com o sensor do medidor de potência logo atrás do mesmo, removendo-se este tijolo o feixe laser incidirá diretamente sobre o medidor permitindo as medições. Para se obter um resultado prévio da potência emitida pela recarga manteve-se ambos os canhões acionados a 100% da capacidade da fonte de alta tensão de cada um. Deste modo solicitando a cavidade laser a emitir o seu máximo de energia (potência). O resultado pode ser analisado no gráfico da figura 38 que mostra que tanto para o laser A, quanto para o laser B suas potências foram restauradas, cabendo enfatizar que no caso do canhão A a potência resultante após a inserção da nova mistura foi maior do que antes do processo de recarga, alterando sua potência da ordem de 80 watts (tabela 2) para valores em torno de 90 watts. Também é interessante ressaltar que a mistura quantificada para o canhão laser A também se tornou válida para o funcionamento do canhão laser B, alcançando valores de potências entre 60 e 70 Watts conforme apresentado no gráfico, ou seja, suficientemente próximos dos valores originais. Gráfico da Potência em Função do Tempo (Evolução durante 4 horas) 110 Potência (Watts) 100 90 80 70 60 50 1 60 120 180 240 Tempo (minutos) Las er norte-am ericano Las er chinês Figura 38: Evolução da potência dos canhões laser durante um período de 4 horas. Depois de realizadas as medidas de potência durante 4 horas para cada canhão laser, os mesmos foram selados e estão aptos a iniciar o teste real de durabilidade, fruto para novos estudos. 41 Exemplo do feixe laser e do plasma obtidos – canhão A Figura 39: Resultado da recarga do canhão laser A, plasma gerado na cavidade e apontado como alvo um tijolo. 42 5 CONCLUSÕES Dois canhões laser CO2 de vidro selados de fornecedores distintos foram escolhidos para o estudo da viabilidade de recarga gasosa com recursos disponíveis no Brasil. Os resultados mostraram que há a possibilidade da realização desta atividade cabendo ainda maior estudo acima da propriedade do gás. A análise via cromatografia gasosa dos gases originais presentes nos canhões permitiu que fosse produzida uma mistura que pôde recuperar a potência original emitida, sendo em alguns casos capaz de superar os valores inicias. Maiores estudos serão necessários para uma etapa que pode ser denominada “pós-selagem”, para fornecer ao contratante da recarga uma garantia em termos de vida útil para os lasers em horas de trabalho possíveis de serem realizadas. Salientando-se que o intuito deste trabalho é o de somente verificar a possibilidade de atingir a potência original. Durante o estudo algumas etapas de manuseio apresentaram-se com elevada dificuldade, a iniciar pelo trabalho da união de extensão da “mamica” que foi fragilizada demasiadamente acumulando tensões. Principalmente no caso do canhão do fornecedor B, o mesmo trincou várias vezes durante o estudo devido a sua espessura de parede ser de dimensões reduzidas, muito inferiores as dimensões de parede do fornecedor do laser A. Um projeto conciso de estruturação da bancada de recarga deve ser feita, pois as vibrações inerentes a bomba de vácuo e o fluxo dos gases demonstram-se como os fatores mais críticos para a integridade dos vidros. Por esta razão o anexo A irá propor uma estação de recarga possível de ser montada industrialmente e com procedimentos a serem seguidos. O fato de haver possibilidade de redução nos custos do processo é de elevado interesse comercial e favorece a produção nacional evitando trabalhos burocráticos de exportação e reimportação. 43 REFERÊNCIAS ALVES, Maria Bernardete Martins; ARRUDA, Susana Margareth. Como fazer referências: (bibliográficas, eletrônicas e demais formas de documentos). Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF>. Acesso em: 17 abr. 2006. CALLISTER Jr, William D., Ciência e Engenharia de Materiais, Uma Introdução. 5a.edição, Rio de Janeiro, RJ, 2002. CINELLI, M. J. Desenvolvimento e construção de um laser de CO2 (Dissertação de mestrado). UFSC. 1992. 83p. HALLIDAY, David, RESNICK, Robert & WALKER, Jearl. Física 4 – Óptica moderna 4a. Edição – LTC Livros Técnicos Científicos – Rio de Janeiro, 1991. LUCALM (BRASIL). Newsletter: Aplicações dos Lasers. Disponível em: <http://www.lucalm.hpg.ig.com.br/mat_esp/lasers/lasers.htm >. Acesso em: 10 Mar 2007. LUHS, W. CO2 laser workstation, laser maintenance & troubleshooting. 3ª ed. MEOS GmbH, 2003, 35 p NORMAS ABNT NBR 6023, Informação e documentação – Referências - Elaboração. Ago 2002. 24 p. PARALLAX TECHNOLOGY. Disponível em: <http://www.parallax-tech.com>. Acesso em: 12 Fev 2007. PATEL, C. K. “Continuous-Wave Laser Action on Vibrational Rotational Transitions of CO2”, Physical Review, New Jersey, vol. 136, nº 5°, p. 1187-1194 Nov. 1964. SINTEC OPTRONICS. <http://www.sintecoptronics.com/catalog/co2lens.pdf>. Acesso em: 14 Dez 2006 44 SVELTO, O., Principles of Lasers, Plenum Press, 2nd Ed. New York, 1982 WILLET, C. S., Introduction to gas Lasers: Population inversion mechanisms. Pergamon Press – New York, 1974. 45 ANEXO A ANTEPROJETO DE UMA ESTAÇÃO PARA RECARGA E ALINHAMENTO DE CANHÕES LASER ESTAÇÃO PARA TROCA DE GASES Figura 40: esquema de montagem da tubulação e válvulas para limpeza e recarga do tubo laser. Na figura 40 é mostrado um diagrama da estação de troca de gases. A estação de troca de gases e a bancada de alinhamento podem ser integradas numa mesma bancada de trabalho. Os mesmos suportes utilizados para o alinhamento da cavidade óptica podem servir de suporte do tubo para a troca de gases. A seguir é feita uma descrição proposta para o procedimento de troca da mistura gasosa do tubo laser. Esta descrição foi elaborada baseando-se nas atividades realizadas durante o experimento, verificou-se que elas podem ser delineadas em 13 etapas, com mudanças sendo feitas conforme a necessidade. Descreve-se então o processo como: 1 – Fragilizar um anel em torno da “mamica” para reduzir sua espessura de modo que não quebre o vácuo, a fim de facilitar a quebra nos passos seguintes (Figura 25). 46 2 – Tomar um tubo de silicone conectado ao sistema de vácuo e envolver a “mamica” com este tubo, de modo que comprima a “mamica” depois do anel fragilizado (Figura 27). 3 – Fazer vácuo no tubo de silicone abrindo válvulas 1 e 3, fechando-se a válvula 2, figura 40. 4 – Fechar a válvula 1 e forçar o pescoço da mamica de modo a rompê-lo, sem quebrar o vácuo. 5 – Abrir a válvula 1 e 2, lentamente encher o tubo com hélio até uma pressão acima da pressão ambiente. 6 – Fechar a válvula 1 e com cuidado tirar o tubo de silicone da mamica. 7 – Acoplar um tubo de quartzo ao sistema de vácuo e encostá-lo na mamica, de modo que a envolva, mais ou menos como o tubo de silicone. 8 – Soldar o tubo de quartzo à mamica. 9 – Abrir as válvulas 1 e 3 e evacuar o tubo. 10 – Fechar a válvula 2 e evacuar o reservatório de mistura. 11 – Usando a pressão indicada no medidor de pressão, encher o reservatório com a mistura, pela mesma alimentação da entrada de He. 12 – Fechar a válvula 1. 13 – Selar o tubo. Na figura 41 é mostrado o desenho esquemático da bancada de recarga de gás, com o tubo laser completo e os reservatórios de gases para recarga. Figura 41: modelo geral do projeto da estação de recarga de lasers. 47 ALINHAMENTO DA CAVIDADE RESSONANTE Somente no caso do canhão A foi verificado que é possível realizar o alinhamento do laser pois os espelhos da cavidade óptica são colados com cola epóxi de baixa pressão de vapor, diretamente sobre suportes metálicos (suporte de óptica). O alinhamento é então feito por deformação do suporte, ajustando-se 4 parafusos Allen. No caso dos canhões B os conjuntos de ótica são colados diretamente sobre os suportes de vidro, por isso não será proposto alinhamento para este modelo de canhão, somente para o norte-americano. 1) ALINHAMENTO FINO Nos casos de desalinhamento pequeno (o laser continua emitindo porém com potência baixa), pode-se alinhar o laser energizado, usando um medidor de potência contínuo do mesmo modelo utilizado para o desenvolvimento deste trabalho, girando aos poucos os parafusos de alinhamento no sentido de maximizar a potência do laser. Inicia-se no espelho total, passa-se para o de acoplamento, volta para o total e para o de acoplamento novamente, até que se consiga maximizar a potência do laser. Deve-se tomar cuidado pois o alinhamento com o laser operando implica em girar os parafusos com alta tensão aplicada na cabeça do laser. Deve ser utilizada uma chave Allen isolada eletricamente (uma capa de nylon, por exemplo). 2) ALINHAMENTO GROSSO Para os casos de alinhamento grosseiro do canhão laser pode-se utilizar de um equipamento especial para alinhamento dotado de um laser de HeNe, responsável por efutar emissão no espectro visível. Posicionando-se o canhão sobre um trilho ótico capaz de efetuar rotações pode-se alinhar o laser sem acioná-lo. No fim, o objetivo é que o feixe do laser de HeNe passe no centro do tubo de descarga. Está sendo assumido que os suportes dos espelhos da cavidade estão alinhados com o tubo de descarga.