FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO: A EXPERIÊNCIA DO IFESP Maria das Neves de Medeiros Otília Maria Alves da Nóbrega Alberto Dantas Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy – IFESP 1. INTRODUÇÃO A formação de professores em serviço é uma temática bastante enfatizada no contexto atual brasileiro, devido a sua importância para a educação. O IFESP – Instituto Superior de Educação Presidente Kennedy - através do Curso Normal Superior é um exemplo de experiência bem sucedida de formação docente, voltado para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Desse entendimento, procuramos delinear a história do IFESP, acentuando momentos significativos da educação norte-rio-grandense, no que se refere a formação do professor. Para tanto, dividimos o trabalho em três partes. Na primeira parte abordamos, mesmo que limitadamente, a história desse Instituto, enfatizando sua criação, importância para a sociedade e implantação/reimplantação de políticas públicas de educação, sempre voltadas para a formação do professor. A parte seguinte é de caráter epistemológico. Nela, pretendemos refletir sobre a formação inicial e continuada do professor, considerando que as transformações ocorridas na sociedade brasileira têm provocado no campo educativo, principalmente no ensino, grandes impactos, estimulando no professor uma formação profissionalizada, atuante e adequada às necessidades da educação. Tal formação tende a responder à demanda de uma educação básica de qualidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96 - em seu artigo 87 § 4º, estabelece um prazo à formação superior dos profissionais da educação. Nessa perspectiva, o Instituto de Educação, desde 1994, vem formando, em nível superior, professores para as séries inicias do Ensino Fundamental. Tal curso é destinado à professores em exercício de docência sem formação superior, propondo-se a suprir a carência de formação docente, ainda presente no Rio Grande do Norte. Finalmente, na terceira parte, destacamos a experiência com a formação de professores em exercício no magistério, desenvolvida no IFESP, através do Curso Normal Superior. A referida experiência tem preparado professores para desenvolver competências e habilidades necessárias a sua forma de pensar e agir autonomamente na sociedade, especialmente no campo educativo. Testemunhamos, durante nosso percurso profissional na instituição, que a formação de professores ali desenvolvida se refaz constantemente, para, a partir daí, garantir um melhor nível do trabalho profissional docente. Procuramos com este estudo contribuir para elevar o status formativo do IFESP para um patamar teórico-metodológico e técnico nos moldes postulados pelos atuais movimentos de renovação didático-pedagógico. 2. HISTÓRICO DO INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PRESIDENTE KENNEDY NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO As Escolas Normais existem no Brasil desde o século XIX. A primeira delas foi criada em 1830, em Niterói, sendo pioneira na América Latina e, de caráter público. Em 1835 a Província do Rio de Janeiro se destaca por possuir uma Escola Normal aberta. Em 1846 a província da Bahia se destaca pelo mesmo objetivo junto à província de São Paulo, sendo que nesta, a Escola Normal tinha um caráter fechado e imutável, seguindo ainda uma proposta de ensino extremamente rígida, permanecendo até 1870. Porém, a formação de professores, de 1840 a 1845, não se destinava à educação primária. Era comum encontrar mestres incompetentes e escolas desestruturadas, limitando-se a desenvolver suas funções de modo excessivamente objetivo (BARROS, 2000) a partir do método intuitivo. As escolas brasileiras na segunda metade do século XIX passaram a ser estruturadas segundo os três níveis de ensino, visando a formação do professor. Desde o nível mais elementar (a escola primária), o médio (escola secundária) e o programa do Liceu, todos implantavam em seus currículos algo que pudesse vislumbrar uma formação docente. No Liceu, por exemplo, a pedagogia proposta no currículo abordava qualquer conteúdo que justificasse a formação de professores (Filosofia, Didática, ...). As escolas primárias serviam como campo de estágio enquanto que o curso secundário preparava o futuro professor para freqüentar o Liceu ou ser professor primário, caso não continuasse sua formação profissional. Até o ano de 1860, existia um total de seis Escolas Normais em todo o país, localizadas nos centros mais populosos das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Elas experimentaram um desenvolvimento mais acelerado durante o período republicano. Em 1949, eram ao todo 540 escolas, espalhadas por todo o território nacional. A Constituição de 1891 instituiu os seguintes itens: instauração do sistema presidencialista e federativo; laicidade nos estabelecimentos públicos de ensino; descentralização da instrução primária, incumbindo os Estados de organizar os sistemas escolares completos; animar, através da União, o desenvolvimento das ciências, letras e artes no ensino secundário e superior, e liberdade do ensino. Para XAVIER, RIBEIRO e NORONHA (1994, p. 105): “(...) essa já tradicional divisão de competências no âmbito educacional mantinha-se em nome de princípios como o do federalismo e da autonomia dos Estados. Sustentava-se, portanto, um princípio de que a oligarquia cafeeira lançara mão para não ter que arcar com o ônus das regiões pobres.” Em 1892 o Rio Grande do Norte começa a colocar em prática o que determinava a Constituição. Cabia ao município a sua organização político-administrativa de forma autônoma e ao Congresso estadual desenvolver o progresso das ciências, letras e artes no Estado, além de manter e subvencionar escolas e outros estabelecimentos, bem como reformar a instrução pública. Desse modo, em 1908, é criada através do Decreto n.º 178 de 29 de abril, a Escola Normal de Natal, funcionando como anexo da Escola Estadual Atheneu Norte-rio-grandense. Um instrumento importante para definição dessa nova filosofia foi a Reforma Benjamin Constant. O texto constitucional tinha como princípio a liberdade e laicidade do ensino, bem como a gratuidade da escola primária. Mediante a Reforma ocorrida no governo Augusto Tavares de Lyra no Rio Grande do Norte, através da reforma do ensino secundário o Atheneu norte-riograndense é equiparado ao Ginásio Nacional, introduzindo em seu currículo disciplinas científicas e técnicas. Durante o governo de Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (1908-1913) no Rio Grande do Norte é regulamentada a instrução pública, determinando que a instrução primária seja oferecida na forma de sistema misto (Estado/município), cabendo ao Estado arcar com subvenções. Foram instalados por todo o Estado mais de 24 grupos escolares. A Escola Normal do Rio Grande do Norte foi reaberta no início desse governo (1908) com o objetivo de prover a formação do professor, para renovação da instrução pública no Estado. Portanto, as principais agências formadoras de professores são: a Escola de Música instalada nas dependências do teatro Carlos Gomes; a Escola Normal; o Atheneu norte-riograndense; e a Escola Doméstica. Inicialmente, o Curso Normal apresentava uma orientação literária e formativa. Isso se demonstrava num programa de disciplinas abstratas e descritivas, sem qualquer formação instrumental ou prática para o magistério. Apenas na segunda década do século XX, já no período republicano, esse curso se profissionalizaria de fato. A partir de então, mesmo mantendo a ênfase na formação geral, as Escolas Normais definiram um conteúdo específico de preparação técnicopedagógica. A intenção principal, conforme RIBEIRO (1993), era tornar todos esses níveis de ensino formadores não só preparadores de alunos para o ensino superior. O exame de madureza, na escola secundária teve esse fim. Outra intenção foi o investimento numa formação científica, rompendo com a tradição humanista, clássica, responsável pelo academicismo dominante no ensino brasileiro. Entre 1914 e 1920, durante o governo Ferreira Chaves, foi implantada uma outra forma na educação do Rio Grande do Norte, dotando o ensino de uma nova ordem pedagógica, o Escolanovismo, a ser implantado nas escolas primária e normal. Essa proposta valorizava os processos intuitivos de pensar, experimentar e fazer. O curioso é que o Estado interferia excessivamente na educação pública, porque mais uma vez, nessa época, passou a controlar, por força da lei, o trabalho pedagógico do professor e os níveis de ensino infantil, primário, complementar, secundário e profissional. Ampliou também a difusão do ensino para maior número de indivíduos. Desse modo, dos anos 10 aos anos 60, aconteceram muitas reformas no ensino. Se tomarmos os problemas de quantidade e de qualidade apresentados pela organização escolar brasileira, do ponto de vista dos interesses da maioria da população, vamos constatar que as reformas representaram pouco, no sentido de ajudar na conquista de uma escola de qualidade para todos. Para ROMANELLY (1987) tais reformas colaboraram no sentido contrário, pois acabaram por representar um mecanismo de controle, por parte da minoria dominante, do processo de expansão da rede escolar. Com a Reforma Capanema (1935 a 1937), Escolas Normais espalhadas pelo Brasil, receberam atenção maior, contribuindo em certa medida para a diminuição das taxas de analfabetismo. Com esse intuito, foram criados também as Escolas Regionais e os Institutos de Educação. Desse modo, para adequar-se às reformas estabelecidas, conforme a Lei nº 2639 de 28 de janeiro de 1960, a Escola Normal de Natal, passou a denominar-se Instituto de Educação de Natal, localizado ainda em suas antigas instalações. Com o convênio firmado entre a SUDENE, USAID e “Aliança para o Progresso”, foi construido e inaugurado em 1965 o prédio do Instituto de Educação Presidente Kennedy, atualmente denominado IFESP (Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy), um contributo à influência norte-americana nas políticas de educação no Brasil e, em especial, no Rio Grande do Norte. Desde os anos 20 o Brasil passou a dar preferência aos relacionamentos com os norteamericanos, provocando as mudanças na vida econômica, cultural, educacional e pedagógica do país. O ideário pedagógico do Movimento da Escola Nova, na versão americana defendido pelos educadores Dewey e Kilpatrick, ganhou adeptos nas gerações como de intelectuais jovens, conhecidos nos anos 30 como os profissionais da educação. Consequentemente, a partir de 1935, é o Conselho de Segurança Nacional que vai orientar as relações das Forças Armadas com a Educação. O campo educacional recebe intervenções pontuais no momento em que afirmam que a segurança nacional está ameaçada, demitindo professores, intelectuais que para eles ameaçaria essa segurança, como por exemplo, Anísio Teixeira e de tantos outros professores, devido a influência direta do professor junto ao aluno. Com o ciclo de reformas da educação brasileira, cujo marco principal é a Lei 5692/71, que fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, o Instituto de Educação Presidente Kennedy passou a ser denominado Escola Estadual Presidente Kennedy – 1º e 2º graus, sob a autorização nº 394/76, transformando o curso normal em uma das habilidades profissionais de 2º grau, ou seja, Curso de Magistério. A formação de caráter mais humanista, presente até então, transforma-se em favor da profissionalização para o exercício docente. Dando continuidade ao processo de transformação, no ano de 1994, através da Lei nº 6573 de 03 de fevereiro, a Escola Estadual Presidente Kennedy passa a denominar-se Instituto de Formação de Professores Presidente Kennedy (IFP), ministrando em nível de 3º grau o curso de formação para professores de 1ª a 4ª séries, reconhecido pela Portaria nº 69/96 do Conselho Nacional de Educação (CNE). A experiência piloto estava voltada para a formação docente, desenvolvida segundo acordo de cooperação educativa Brasil – França, conforme as diretrizes educacionais presentes no Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003), integrando-se no âmbito nacional aos projetos dos CEFAMs (Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério). Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei federal nº 9394/96), o IFP se redefine como instituição de formação de professores, pois a nova LDB aponta para uma imediata necessidade de resposta à formação de professores que atuam de 1a a 4a séries em nível superior, demarcando prazo para que todos possam concluir sua formação nesse nível. A própria LDB, no Artigo 62, ao se referir à formação de docentes em nível superior diz que esta pode ser ministrada em Institutos Superiores de Educação, incluindo também o Curso Normal Superior, para atender a formação de docentes para a educação infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Com essa abertura e a homologação da resolução CP/CNE 1/99 que dispõe sobre os Institutos Superiores de Educação, o IFP transforma-se em Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy (IFESP), através do Decreto nº 7909 de 04 de janeiro de 2001, formalizando o curso Normal Superior. Desse modo, o IFESP continua pautado na política de qualificação docente do Ministério da Educação da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Desportos, visando a concretização das determinações da LDB, concernentes à formação de professores. Todavia, a criação dos Institutos Superiores de Educação foi alvo de severas críticas por parte das organizações e entidades ligadas à educação, contrárias a essa proposta, justificando que não houve uma discussão mais ampla do modelo de formação a ser desenvolvido nessas instituições. As críticas e protestos feitos aos Institutos Superiores de Educação, como instituições responsáveis pela formação de professores, não podem negar a sua importância no atual contexto. Se para alguns caracteriza-se como formação aligeirada e de baixo custo, a concentrar formação específica e formação pedagógica em espaço não universitário (KUENZER, 2001), para outros, é um espaço em que se possibilita o atendimento a diversas demandas dos sistemas de ensino que não tiveram oportunidade de se formar em instituições universitárias que tem tradição nesse processo. Os desafios da sociedade atual e o conjunto das demandas educacionais, apontam para necessidade de desenvolver projetos de formação de professores diferentes dos moldes tradicionais. O Curso Normal Superior, ministrado no IFESP, apresenta estas especificidades. Ao longo do tempo, a Escola Normal de Natal, como era chamada, vem sofrendo transformações de cunho técnico e político-pedagógico, provenientes da política educacional vigente. Sem entrar na análise do conteúdo dessas mudanças, a tentativa de historiar essa instituição revela rupturas significativas em sua natureza. As sucessivas alterações introduzidas desde a sua criação até o presente momento descaracterizaram-na como instituição nuclearmente voltada para a formação de professores, seja formação inicial, seja continuada. 3. REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA DO PROFESSOR A todo instante ouvimos falar que estamos em tempo de reestruturação produtiva, economia competitiva e de globalização. E, do mesmo modo, a escola necessita ajustar-se a essa nova realidade. Com isso, surgem também novas exigências em relação a formação inicial e continuada dos professores. A educação não poderia ficar alheia a essas transformações. Em todo mundo, uma grande inquietação domina os meios educacionais gerando reformas que preparem o homem às novas estratégias para desenvolver competências e habilidades gerais, específicas e de gestão. As transformações que ocorrem na sociedade contribuem para acalorar discussões e debates referentes a temas como a formação profissional do professor. No atual contexto, essa formação assume um papel que transcende a mera instrução, possibilitando a participação, reflexão e, consequentemente, a formação. Quanto ao processo de formação de professores, reconhece-se que os cursos de formação pouco têm contribuído para formar um profissional preparado e competente sensível às mudanças que requer a atual sociedade. O que se percebe é um distanciamento entre a formação inicial do professor e sua atuação prática frente às demandas educacionais advindas de seu contexto profissional. Entretanto, o cenário reafirma a necessidade de uma formação contínua e permanente do professor, uma vez que, além de fornecer conhecimento e corrigir distorções desse processo inicial, também contribui para uma reflexão acerca de mudanças e para o desenvolvimento e redefinição de competências profissionais. Os dados sobre a qualidade do ensino indicam que no Brasil essa evidência é uma das piores do mundo. A avaliação do SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico do MEC) nos mostra que em termos de desempenho estamos muito atrasados. E um dos fatores que contribuem para esse fracasso é a falta de qualificação profissional do professor. As estatísticas do INEP (Instituto Nacional de Pesquisa) revelam que entre 1994 e 1999, houve, em âmbito nacional, um aumento de 45,3% no número de professores do Ensino Médio com formação de grau superior, chegando hoje a 88,0% do total de funções docentes nesse nível de ensino. Enquanto isso, no mesmo período, o número de professores do Ensino Fundamental com formação superior teve um crescimento de 24,4%, alcançando atualmente 46,9% do total. As preocupações com a formação do professor vão, no entanto, muito além dos aspectos quantitativos. Desde a Lei 5692/71 observa-se, no Estado do Rio Grande do Norte, uma descaracterização das Escolas Normais, pela proliferação de Escolas de 2º grau a oferecerem cursos profissionalizantes de Magistério, na sua maioria sem as mínimas condições exigidas à preparação desse profissional. De modo geral, na formação inicial de professor tem se tornado evidente a existência de problemas como a fragilidade e a descontextualização da formação, a inadequação dos conteúdos teóricos e práticos que impedem a visualização e análise mais geral do sistema educacional e uma desmotivação por parte dos formandos diante da desvalorização da profissão. As atuais políticas educacionais têm se redefinido visando corrigir distorções anteriores para adequar-se as necessidades do contexto social e educativo, principalmente a formação superior do professor. Dessa forma faz-se necessária uma política de formação continuada de professores em serviço, a fim de desempenhar o seu verdadeiro papel como principal agente do processo de reversão do quadro de fracasso escolar em que se encontram as instituições de ensino, com vistas a alavancar mudanças no quadro educacional brasileiro. Independentemente das condições nas quais efetuou a formação inicial, o professor precisa ter continuidade nos estudos não apenas para ficar atualizado quanto às modificações na área de conhecimento que leciona, mas por uma razão mais urgente que se refere à própria natureza do fazer pedagógico, isto é, o domínio da práxis que é histórica e inacabada. Existe um consenso entre especialistas quanto à necessidade de instituir-se uma política de formação continuada e permanente do professor em exercício de sua função docente, o que implica em diferentes programas e ações articuladas que vão desde a formação no local de trabalho, a cursos de formação em nível superior. O curso Normal Superior, ora proposto pelo IFESP, caracteriza-se como um curso de formação continuada por estar previamente voltado para qualificar professor com formação docente inicial em nível médio e que esteja em exercício da função docente na Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 4. EXPERIÊNCIA COM A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DESENVOLVIDA NO IFESP O curso de formação de professores tem desenvolvido uma proposta de trabalho de modo singular. O currículo ali trabalhado, por ser diferenciado, possibilita o envolvimento entre as disciplinas, com a principal finalidade de permitir “a valorização da ação docente, tendo como objeto de constante discussão e análise” o cotidiano da sala de aula (DANTAS, 1998b, p. 6), definindo-se, dessa forma, a proposta do curso. A carga horária do curso perfaz um total de 3.030 horas, no período de 2 (dois) anos, integralizada através do exercício da docência pelo professor-aluno, que recebe acompanhamento dos professores-formadores. Ainda são desenvolvidos estudos referentes às disciplinas distribuídas na Grade Curricular do curso, envolvendo as seguintes áreas de formação: a)Fundamentos da Educação; b)Formação Polivalente; c)Formação Profissional; e d)Formação Complementar (Ata do conselho científico e Pedagógico, 17 de dezembro de 1996), conforme quadro 01. A área de Fundamentos da Educação concentra disciplinas que abordam a formação científica e profissional do professor-aluno. Composta de seis disciplinas, conforme apresenta o quadro 01, cada uma tem sua finalidade, respondendo ao objetivo dessa área. Sua carga horária total eqüivale a 540 horas, distribuídas entre as disciplinas de Introdução à Educação (Sociologia da educação, História da Educação e Filosofia da Educação); Psicologia da Educação; Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus e Metodologia do Trabalho Científico. Esse grupo de disciplinas compõe o Departamento de Ciências da Educação. QUADRO 01 GRADE CURRICULAR DO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES –IFP DISCIPLINAS POR ÁREA DE FORMAÇÃO • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Fundamentos da Educação Introdução à Educação; Sociologia da Educação; História da Educação; Filosofia da Educação; Psicologia da Educação; Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus; Metodologia do Trabalho Científico. TOTAL I Formação Polivalente O Ensino da Linguagem; O Ensino da Matemática; O Ensino das Ciências Físicas e Biológicas; O ensino da História; O ensino da Geografia; O Ensino da Educação Artística; O ensino da Educação Física; TOTAL II Formação Profissional Mediação Didática; Memorial Profissional; Ação docente: Investigação científica em sala de aula; Estágio Supervisionado. TOTAL III Formação Complementar Seminário de pesquisa; Atelier de recursos pedagógicos; Atelier de língua portuguesa; Oficinas pedagógicas; Seminário de fundamentos da educação. TOTAL IV CARGA HORÁRIA 1° ANO 2° ANO 45 45 45 45 45 45 45 45 90 90 90 90 45 45 90 45 270 45 270 90 540 45 45 45 45 90 90 45 45 45 45 45 45 45 45 45 45 90 90 90 90 90 315 315 630 90 - 90 180 180 180 450 210 750 450 210 930 900 420 1680 45 10 15 20 45 15 20 90 10 30 40 - 10 10 90 90 180 TOTAL CARGA HORÁRIA TOTAL DO CURSO 1425 1605 CARGA HORÁRIA DE ATIVIDADES DE ESTUDO E PESQUISA CARGA HORÁRIA TOTAL DE ESTÁGIO CARGA HORÁRIA TOTAL DO CURSO 3030 2610 420 3030 Introdução à Educação representa a junção de três disciplinas: Sociologia da Educação; História da Educação e Filosofia da Educação. Conforme as ementas apresentadas no Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 14) Sociologia da Educação faz uma discussão sobre os condicionamentos sociais na educação e o processo educacional brasileiro frente às influências sócio-econômicas e políticas. História da Educação pretende estudar, em sua ementa, o contexto histórico, suas repercussões no processo educativo e os determinantes históricos da realidade educacional brasileira. Filosofia da Educação analisa os problemas educacionais a partir das tendências significativas da Educação brasileira. No Plano Anual, as disciplinas de Introdução à Educação, (CAVALCANTI e outros, 1997, p. 02), são tratadas em conjunto com finalidade de refletir “as demandas educacionais de diversos extratos sociais, que buscam o saber escolar, enquanto bem social, às vezes reconhecidos através de discursos políticos e empresariais, confirmando uma (...) necessidade de elevação de qualidade do ensino básico, o que requer uma política efetiva de valorização , no âmbito da formação”. A proposta desse conjunto de disciplinas tem continuado a apresentar sua metodologia, destacando o trabalho de forma articulada e interdisciplinar com as disciplinas e conteúdos variados, utilizandose para isso, de um núcleo teórico intitulado A educação necessária à criança cidadã, que tende a nortear todo o trabalho. A disciplina Psicologia da Educação, na ementa do Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 14) subdivide-se em duas áreas do conhecimento: a Psicologia da Aprendizagem, que se propõe a estudar os fundamentos psicológicos presentes na prática pedagógica e a Psicologia do Desenvolvimento que analisa a relação ensino/aprendizagem, o papel social e pedagógico da escola no desenvolvimento do educando e os aspectos psicológicos, psicomotores, cognitivos e sócio-afetivo. Quanto ao Plano de curso (AZEVEDO e SOUZA, 2000, p. 4) específico, a disciplina tem trabalhado em parceria com Introdução à Educação, trocando entre si, os saberes importantemente afins à formação profissional. Estrutura e Funcionamento da educação básica, de acordo com o ementário do Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 15), busca entender e analisar a estrutura e funcionamento do ensino de 1o e 2o graus através dos instrumentos normativos que disciplinam a realidade escolar. No Plano de Curso, (MELO e outros, 2000, p. 2), tinha como objetivo estudar “a estrutura e o funcionamento da Educação Básica, vinculando o seu conteúdo ao contexto da política educacional brasileira e do Rio Grande do Norte”. Além de trabalhar em parceria com as outras disciplinas dessa área, o Plano de Curso atende cada cultura. Metodologia do trabalho científico é uma disciplina que se propõe articular-se com todas as áreas através dos momentos de construção de trabalhos científicos, especialmente o Memorial de formação. E também orienta a prática da pesquisa, presente em todo o curso. Por ser técnica tem como finalidade “propiciar condições técnicas para a elaboração de trabalhos científicos” além de “informar sobre a normalização técnica de um trabalho científico, segundo a ABNT” (DANTAS e outros, 2000a, p. 2). Conforme a ementa proposta no Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 15) pretende instrumentalizar para leitura, compreensão e elaboração de um trabalho científico. A Formação Polivalente é outra área de importância significativa, com 630 horas, destinada às seguintes disciplinas: O ensino da linguagem; O ensino da matemática; O ensino das ciências físicas e biológicas; O ensino da educação artística; O ensino da educação física; O ensino da história; e O ensino da geografia. As cinco primeiras disciplinas, juntas, compõem o Departamento de Ciências, e as duas últimas formam o Departamento de Ciências Sociais. Pela nomenclatura, Formação Polivalente, trata-se de uma área que se destina ao que-fazer docente, isto é, destinada quase exclusivamente ao ensino. Cada disciplina trabalha conforme um horário organizado previamente. O entrelaçamento dessas disciplinas acontece na prática docente do professor-aluno, em dois momentos: em sua sala-laboratório (campo de estágio) e durante as mediações didáticas. Desse modo, o Ensino da Linguagem, conforme o seu Projeto do curso, (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 15), estuda conteúdos e metodologias do ensino da linguagem no 1o grau, bem como a prática diária do ler, escrever e dizer, os meios de aprendizagem e a dinâmica da leitura e da escrita. No Plano de curso (FREITAS e outros, 2000, p. 4), desenvolve suas atividades seguindo o objetivo proposto “a partir da análise e reflexão dos atos de ler, dizer e escrever, espera-se que o professor-aluno, ao término do curso, tenha desenvolvido a redescoberta de novas significações para o ensino de língua-linguagem, tornando possível mudanças no seu fazer pedagógico”. O ensino da Matemática tem como proposta “perceber a matemática como atividade humana e elemento de cultura, concebendo-a como parte do conhecimento acumulado e como instrumento de leitura e transformação da realidade” (MELO e outros, 2000, p. 7). Enquanto no Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 15), aborda conteúdos e metodologias de ensino da matemática de 1o grau, valorizando-a como instrumento do desenvolvimento da habilidade e do raciocínio lógico, bem como a prática diária do contar e a produção de material como complemento da construção dos conhecimentos matemáticos. A proposta de trabalho do Ensino das Ciências Físicas e Biológicas, conforme o Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 15), aborda “o estudo da Ciência e a formação do espírito científico. A construção do conhecimento a partir da realidade nas suas determinantes político-sociais, econômicas e culturais. Preservação do meio ambiente”. O Ensino da História se desenvolve em parceria com o Ensino da Geografia. De acordo com o ementário apresentado no Projeto do curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 16), O Ensino da História deve abordar conteúdo e metodologia da História no ensino de 1o grau, bem como a história como processo em elaboração, análise e produção de materiais para o ensino de História. Ainda na ementa do Projeto do Curso, o ensino da Geografia estuda a produção do espaço, pelo homem em coletividade; o relacionamento do homem com a natureza e os outros homens; as relações sociais de produção; e o ensino da geografia e sua evolução. Para o ano 2000, conforme Plano de curso, decidiram utilizar a Pedagogia de Projetos, uma proposta que “possibilita trazer o cotidiano do aluno para dentro da escola e tornar a aprendizagem mais ativa, interessante, significativa, real e atrativa para aluno. O Ensino da Arte também trabalha em parceria com o Ensino da Educação Física, embora que cada um tenha o seu plano anual específico. No Projeto do Curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 16), o Ensino da Arte propõe as várias possibilidades de expressão através da Música e das Artes Plásticas e Cênicas, e visa incutir, no aluno, a construção da própria aprendizagem a partir das múltiplas dimensões da sua realidade interior. O Ensino da Educação Física, ainda do Projeto do Curso, promove vivências dos conteúdos através de atividades lúdicas, abrangendo as diversas áreas do currículo e enfatiza os conteúdos específicos referentes ao crescimento e desenvolvimento, esquema corporal, habilidade e percepção. A Formação Profissional, momento que envolve toda a prática docente do professor-aluno, oportunizando acompanhamento docente e reflexão junto ao Tutor e o seu grupo de base, compreende a maior carga-horária do curso: 1680 horas, porque é um momento de formação quase personalizada do professor-aluno, devido a sistemática curricular utilizada pelos professoresformadores. Essa área está destinada à Mediação didática; Memorial profissional; Ação docente (investigação científica em sala de aula e Estágio Supervionado). A Mediação Didática, momento de encontro entre o tutor e os tutelandos, previamente determinado, destina-se à reflexão e aprofundamento teórico da prática docente dos professores-alunos desse grupo. O professorformador (tutor) desenvolve atividades que se destinam à formação profissional, levando os seus tutelandos a refletirem sobre o seu fazer pedagógico, atendendo aos princípios que norteiam os cursos de formação, de acordo com o que apresenta o Boletim ANFOP (1998). Aqui também o tutor acompanha a prática pedagógica de seus alunos junto à escola-laboratório. Assim sendo, a mediação didática acontece durante todo o curso. A partir de estudos realizados pelos professores-formadores, tomando como referência os memoriais, ficou evidenciado que os professores-alunos consideram a mediação didática como uma atividade prazerosa e importante para o crescimento profissional. Complementam, esses documentos, um momento propício para discussões, socialização, intercâmbio de idéias, reflexão e experiências, justificado pela exposição dos professores-alunos aos acontecimentos do seu cotidiano escolar, como destaca um deles: “a mediação didática é a atividade de maior relevância, pois foi através dela, intercambiando as idéias com os demais colegas, que tive a oportunidade de enriquecer minha prática docente” (DANTAS et al, 1998a, p. 9). O memorial profissional é o trabalho final do curso que se destina a descrever a trajetória estudantil e profissional do autor (professor-aluno) de forma reflexiva, através de um relato crítico do seu percurso, mostrando fatos e acontecimentos que marcaram a sua evolução como educador. Deve evidenciar também quando e como aconteceram esses fatos, inclusive todo impacto que provocaram no processo de sua formação (DANTAS et al, 2000b). A ação docente, como sugere o Projeto do Curso (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993, p. 16), trata da “atuação e discussão da ação docente objetivando o revisionamento e aperfeiçoamento da prática pedagógica. É o momento da ação pedagógica do professor-aluno, tanto na sua escola-laboratório (campo de estágio), quanto na escola onde alterna, cobrindo o colega (professor-aluno) que se encontra em formação durante uma semana, cinco vezes ao ano, participando de seminários de alguma disciplina da área de Fundamentos da Educação. A Formação Complementar, outra área do currículo voltada para prática docente, (oficinas pedagógicas, Atelier de recursos pedagógicos) e para a investigação científica. Destina-se a solucionar problemas evidenciados nas salas de aula dos professores-alunos através de estudos investigativos acompanhados pelos tutores. Um momento importante que permite avaliar e registrar dados cientificamente comprovados por eles, provocando um sentimento de segurança quanto à prática docente dos professores-alunos, equivalendo a 180 horas/aula voltadas para: Seminário de Pesquisa; Atelier de recursos pedagógicos; Atelier de língua portuguesa; Oficinas pedagógicas e Seminário de Fundamentos da Educação. Desse modo, o currículo possibilita desenvolver uma prática criativa, consciente e produtiva, além de uma postura investigativa e abertura cultural por parte dos professores nela envolvidos, conforme o Projeto do curso de Pedagogia para o ensino infantil e fundamental (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 1993). A experiência de formação do IFESP expressa a realidade das políticas educacionais ocorridas no Brasil, desde a origem das Escolas Normais até a transformação em Institutos de Educação Superior, destinados a formação do professor. Portanto, essa experiência se refaz constantemente para garantir um melhor nível do trabalho profissional docente. Consideramos, enfim, que este estudo contribuiu para valorizar a formação desenvolvida nessa instituição, situando-a num patamar teórico-metodológico e técnico, conforme os atuais paradigmas de renovação didático-pedagógico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Regina Fernandes de, SOUZA, Waldelúcia P. de. Plano de curso: Psicologia da Educação. Natal: IFP, 2000. BARROS, Eva Cristini Arruda C. Atheneu norte-riograndense: práticas culturais e a formação de uma identidade (1892-1924). São Paulo: PUC-SP, 2000 (Tese de doutorado). BOLETIM DA ANFOP [on line]. Encontro nacional analisa políticas educacionais atuais. Campinas: UNICAMP, 1998a. Disponibilizado na internet: http://www.lite.fae.unicamp.br CAVALCANTI, Eduardo Antônio G, SILVA, Francisca A. L., FABRÍCIO, Márcio de Assis e outros. Plano de curso: Introdução à Educação. Natal: IFP, 1997. DANTAS, Otília Maria A. N. A., OLIVEIRA, Rosalba L. de, GOMES, Claudete F. M. (et al). A representação que o professor-aluno faz do curso de formação de professores para o ensino de 1a a 4a série do 1o grau. 50a Reunião Anual – SBPC. Natal: UFRN/SBPC, jul/1998a. _______. A qualidade do ensino fundamental: o papel do currículo do curso de formação de professores (IFP – Natal – 94/98). Lisboa: AIPELF/AFIRSE/Universidade de Lisboa, 1998b. _______. 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