1 – RIVADÁVIA PINTO – O GRANDE HISTORIADOR DE GUARATIBA
Rivadávia, filho do Maestro Deozílio Pinto e Maria Pereira Pinto, nasceu em 15
de maio de 1911. Completou o curso primário como aluno do Prof. Antônio Reis. Embora seu
pai fosse um autodidata em música, as inclinações do nosso historiador percorreriam caminhos
bem diferentes como pudemos constatar. Aos quinze anos já pescava como um profissional; em
1932, com vinte e um, se apresentou no II Regimento de Cavalaria Montada em Santa Cruz, onde
permaneceu até 1933. Em 1935, por influência do Dr. Caldeira de Alvarenga, aceitou emprego
na Polícia Municipal. Nesse época foi residir na Tijuca e aproveitou para dar seqüência aos
estudos. Voltando a residir na Pedra, casou-se com Orminda da Silva Pinto com quem teve três
filhos. Com o falecimento de sua primeira esposa em 1964, casou-se pela segunda vez com
Margarida Maria Reis Pinto com quem teve um filho. Foi Presidente da Irmandade de Nossa
Senhora do Desterro e de São Pedro. Nos esportes, foi secretário do Pedra Esporte Clube.
Rivadávia conta que, certa vez uma pessoa perguntou-lhe onde ficava o
Arquivo Paroquial, pois estava fazendo uma pesquisa sobre Guaratiba. Depois o Jornal O Globo
publicou uma matéria sobre a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, dizendo que era a mais antiga
do Rio de Janeiro – e ele discordava. Foi a partir daí que começou. Viajava diariamente para o
centro da cidade e voltava para Guaratiba à noite com a despesa do seu próprio bolso, só para
conhecer a história de Guaratiba.
A partir de 1970, incentivado pelo Prof. Dr. Trajano de Quinhões, chefe do
Patrimônio Nacional no Rio de Janeiro, passou a pesquisar, com total empenho, as origens da
região. Conquistou, através de muita persistência e estudo, um valioso acervo, do qual tive o
prazer de conhecer e pesquisar, com o consentimento de seu filho – Aloísio Pinto. A memória
privilegiada e o grande conhecimento adquirido tornaram-no o maior conhecedor da Freguesia de
Guaratiba, sendo homenageado na Assembléia Legislativa, Petrobrás, diversos núcleos
administrativos, entidades religiosas, Câmara Municipal e outros.
Rivadávia faleceu em 1997, deixando grande saudade. Infelizmente, não tive a
oportunidade de conhecê-lo, mas pelo que li e ouvi falar sobre ele, além de um grande
historiador, era antes de mais nada um homem simples, um pescador, de bom coração.
Fonte: Jornal A Pedrada nº 20, Julho de 2001 – Raízes de Guaratiba – por Beth Vasques.
Abaixo transcrevi uma entrevista, muito interessante, com Rivadávia Pinto,
publicada no Jornal ZONA OESTE – Campo Grande, em 24/03/83 – Edição 371 – pág. 06, em
comemoração aos 404 anos de Guaratiba.
Repórter – Sr. Rivadávia, ou melhor, Sr. Riva, já que nos deu a liberdade, o senhor nos causou
uma ótima impressão.
Riva – Mas, por quê? Afinal sou um simples guaratiba. Sou filho de gente simples. Eu sou um
pescador também.
Repórter – Achávamos que o trabalho de um historiador era próprio de um homem sisudo, muito
sério. Temíamos um pouco por isso.
Riva – A História nos ensina a viver. E a viver com alegria! Vocês não podem imaginar o
quanto de pitoresco existe nos fatos, às vezes deixo-me levar pelas “fofocas” históricas. É...Elas
existem. Chego a conclusão de que a História do homem é sempre a mesma. Se as mulheres
adoram falar, aos homens cabe tirar proveito disso. Se Cristo não tivesse conhecimento desse
lado psicológico, talvez não teria dito primeiro a elas que tinha ressuscitado.
Elas logo
espalharam a notícia. Não é verdade? Vocês vivem o presente pensando no futuro. Eu vivo o
passado, presente e futuro. Vocês ficam então me devendo o passado. Está ok?
Repórter – Por falar em passado, Sr. Riva, Guaratiba está fazendo 404 anos (na época, 1983).
Isso tem alguma importância para o senhor?
Riva – Naquele tempo eu ainda não era nascido, mas tenho certeza de que foi no dia 05 de março
de 1579. Eu me orgulho de ser guaratibano. Guaratiba é minha pátria-mãe. Afinal de contas é
uma das filhas mais velhas desse imenso Brasil. Há cinco anos estou empenhado nesta busca de
conhecer minhas origens. Nos artigos publicados neste jornal, ZONA OESTE, ficamos sabendo
quem foi seu fundador. Ele era amigo do Padre Anchieta e do Padre Nóbrega. Todas as
personagens de Guaratiba começaram a ser meus parentes próximos também. Guaratiba tem
dimensões históricas importantíssimas. A história de Guaratiba daria para ficarmos muitas e
muitas noites para termos idéia de sua importância no panorama da História do Brasil.
Eu já caminhei bastante. Busquei desde a Fundação do Rio, sem falar no Descobrimento.
Fui ao encontro de Mem de Sá, Estácio de Sá, Anchieta, Nóbrega, Veloso Espinha, Francisco
Velho, as famílias de Rangel Coutinho e Barrozo, de Guaratiba. Fui bater em Santa Cruz, Campo
Grande e na Praia de Uruçumirim (Flamengo), etc. Teria muita coisa para dizer, mas o tempo de
vocês é curto.
Repórter – O senhor teve algum incentivo? Onde o senhor conseguiu todo esse conhecimento?
Riva – Minha falecida mãe dizia que “de grão em grão a galinha enche o papo”. Pois é, isso é
velho, como todos vocês sabem, mas foi o meu caso. Fui pisando de mansinho.
O Arquivo do Antigo Distrito Federal foi o meu primeiro acampamento. Na Divisão do
Patrimônio Histórico Estadual conheci uma pessoa da qual guardo a mais profunda gratidão. O
Professor Trajano Quinhões é meu amigo e companheiro de todas as jornadas históricas.
Conjugamos sempre o mesmo interesse por Guaratiba. Muito me incentivou. Aliás, é um
“expert” nesse assunto. Arquivo Nacional, Bibliotecas, entrevistas, etc; me orgulho de possuir
todo o material necessário sobre esse assunto.
Repórter – Concluímos, então, que Santa Cruz e Campo Grande têm a mesma idade que
Guaratiba?
Riva – Oh, não...! Falo com toda a segurança que não há. Há uma conclusão lógica desta minha
negação; toda descoberta deu-se primeiro nas áreas litorâneas. Os senhores podem concluir o
resto, muito embora, também, que não existe em nenhum lugar por mim pesquisado, das datas da
fundação desses “povoados”. Há dúvidas, inclusive, se foi Ouvidor Cristóvão Monteiro ou a sua
viúva Marqueza Ferreira, que foram posteriores a Manoel Veloso Espinha.
Apesar dos historiadores divergirem, nós encontramos, em outros mais categorizados,
aquelas mesmas conclusões. Vocês sabem, naquela época não existiam os helicópteros. O
negócio era a cavalo ou a pé mesmo. Os sertões foram desbravados após o reconhecimento dos
litorais.
Rivadávia Pinto, à esquerda, de camisa branca e
seus amigos. Foto de 1986, por ocasião dos 407
anos de Guaratiba. Acervo Rivadávia Pinto.
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1 – rivadávia pinto – o grande historiador de guaratiba