ARQUITETURA E LOCAIS DE AÇÃO
TEATRAL
• No século XVI assiste-se na Europa a um renovado interesse pela produção
teatral (ação dos humanistas italianos).
• A partir do modelo greco-romano (Vitrúvio) são edificados em Itália os
primeiros teatros provisórios. Erguidos em pátios ao ar livre ou nos grandes
salões retangulares dos palácios, a maioria destas edificações segue as
seguintes propostas , sistematizadas no tratado de Serlio, Architettura (1545):
O teatro Olímpico de Vicenza corresponde ao primeiro
teatro permanente da Itália Renascentista.Foi traçado por
Andrea Palladio e Vicenzo Scamozzi. De planta ideêntica
aos teatros provisórios de Serlio, difere na inclusão de uma
scaenae frons com três aberturas, erguida atrás do
proscénio que se encontrava delimitado nas extremidades
por duas paredes com uma saída cada. Toda a sala é
sumptuosamente decorada com colunas, estátuas e nichos,
incluindo a própria scaene frons , mas teve pouca influência
nos teatros posteriores
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O público dispunha-se em bancadas de 15 degraus em forma de semicírculo
que estavam isoladas no meio do pátio ou junto à parede;
Os nobres ocupavam uma fila de poltronas que rematava o limite das
bancadas, separadas do proscénio por um corredor que servia de acesso
aos espetadores;
O proscénio, local de representação, elevado a 1,70 m do solo, tinha um
formato alongado e pouco profundo; atrás, um estrado com uma inclinação
destinada a facilitar a visibilidade do espetáculo, servia para a colocação
dos cenários
• Em Parma, em 1618, é
construído o Teatro Farnese,
desenhado por Giovanni
Battista Aleotti
• O Teatro Farnese tinha
capacidade para 3 mil
espetadores.
• Conhecido como um dos
primeiros teatros a introduzir a
boca de cena suscetível de ser
fechada por um pano de boca,
que visava ocultar as
diferentes maquinarias, facto
importante, criava, pela
primeira vez, um elemento
arquitectónico que separava
física e psicologicamente os
espetadores dos atores em
palco.
• Já incluía teia, fundo e vários
bastidores com maquinaria.
• Em 1637, Sabbatini elabora um tratado- Pratica di fabbricar scene
e macchine ne’teatri – onde define as dimensões do palco, descreve
as máquinas de cena e faz coincidir o local de representação com
o espaço cénico, todo ele em declive.
Destina ao príncipe um lugar específico no teatro, rodeado pelos
cortesãos, numa poltrona situada sobre um estrado, orientada
segundo o eixo central da cena.
A partir da posição do príncipe era definido o ponto de fuga do
cenário. As damas e as outras individualidades acomodavam-se em
cadeiras e bancos na plateia e o restante público ocupava as
bancadas.
• O espaço teatral em Inglaterra tem raízes na tradição medieval.
Assim o teatro isabelino, depois de proibido nas cidades, deslocase para as periferias e instala-se nos pátios dos albergues
(facilitava o controlo do acesso do público). AS cena aí montada
era constituída por um simples estrado retangular apoiado sobre
cavaletes e encostado a um dos lados do pátio, onde se
encontrava uma estrutura de madeira coberta por cortinas e
destinada à representação das cenas de interior. A maioria do
público ficava no pátio, em pé, à frente do local de representação
e os nobres as galerias (varandas) do edifício.
• Em 1580 foi edificado o primeiro teatro público, The Theatre, ao
qual se seguiram muitos outros como o Swan (1596)e o Globe
(1647).
Globe
Swan
Rose
• Estes teatros tanto podiam apresentar uma planta poligonal como
circular, que envolvia um espaço central a céu aberto.
• As paredes eram ocupadas por camarotes sobrepostos, destinados aos
espetadores privilegiados, enquanto a maior parte do público se
dispunha em pé, na parte central.
• O palco, de forma quadrangular, situava-se num dos lados da arena
e era composto por duas partes, uma mais
avançada, a descoberto, e outra mais
recuada, abrigada por uma cobertura
suportada por duas colunas. Ao fundo,
encontrava-se uma galeria servida por duas
escadas laterais onde se acomodavam os
espetadores mais importantes ou os músicos
ou, onde, em situações esporádicas, se
poderia desenrolar a ação. Por baixo desta
estrutura, era visivel uma porta com cortinas
ou persianas, que dava acesso aos
bastidores
• Na sequência de uma viagem que Inigo Jones fez a Itália em 1613,
onde visita o Teatro Olímpico de Vicenza, surgem em Inglaterra as
primeiras influências da Itália renascentista nas salas de espetáculos
interiores, destinadas a representações para a corte. É exemplo
desta influência a scenae frons do teatro Cockpit
• O ideal renascentista foi mais rapidamente assimilado em
França.
• No início do século XVI as representações tinham lugar em
plataformas assentes sobre cavaletes, e eram enquadradas,
numa das extremidades, por mansiones , embora mais simples
e em menor quantidade que as medievais. Estas estruturas
eram erguidas junto a uma das paredes do recinto onde se
praticava o «jogo da péla»
• O recinto consistia numa construção de planta retangular, com
uma cobertura rasgada por frestas para a iluminação do
espaço, onde o público se dispunha tanto no centro, em pé,
como em camarotes colocados num dos lados da sala
perpendicular ao palco.
• Os teatros públicos como o Marais e Hôtel de Bourgogne
(1544), foram edificados à imagem destas salas.
O Hôtel de Bougogne tinha uma
sala com 32,5m por 18,5 m com
uma cena de 12 m de
profundidade à altura de
1,90m.As galerias onde o público
se acomodava tinham um só piso
com doze camarotes.
Na parede frontal ao palco,
erguia-se uma bancada.
Em 1647, as alterações
conferiram-lhe dois pisos para os
camarotes que rodeiam os três
lados da sala, agora
arredondada na zona da
bancada
A cena é
aumentada para
14 m e completada
com a inclusão de
um pano de boca.
• O Palais Cardinal (mais tarde Palais Royal), inaugurado em 1641, foi
o primeiro teatro francês a seguir o modelo italiano.
• Construído numa sala retangular, o palco estava enquadrado por
uma boca de cena permanente e o público dispunha-se em galerias
ao longo das paredes. O rei e a sua comitiva ocupavam a orchestra,
o que dificultava a visibilidade aos restantes espetadores.
Representação no
Palais Cardinal em
1641(na assistência:
Ana de Áustria, Luís
XIII e o cardeal
Ricchelieu)
• Na Península Ibérica, à semelhança de Inglaterra, a representação dos
espetáculos itinerantes estabeleceu-se em pátios internos (corrales madrilenos
em Espanha e pateos de comédias em Portugal), que atingiam a capacidade
máxima de 2000 espetadores.
• Um estrado sobre bancos ocupava uma das extremidades do recinto e servia
de local à representação.
• O público masculino dispunha-se à frente da cena, em pé ou sentado em filas
de cadeiras desmontáveis. Atrás destes, ao fundo do pátio , encontrava-se o
público feminino, em locais designados por cazuelas ou jaulas.
• Mais tarde introduziram-se camarotes (fersuras) que se destinavam às
individualidades mais importantes.
• Este espaço era inicialmente coberto por telões, que foram posteriormente
substituídos por um telhado de madeira. Com o decorrer do tempo estas
construções ganharam um caráter permanente.
Teatro de La Cruz
Corral de Almagro
Corral del Principe
Pateo da Rua das Arcas (1593)
•Em Portugal , para além dos dois pátios de comédias que o
espanhol Fernão Diaz La Torre se propôs construir em
contrato com o Hospital de Todos-os- Santos- que deram pelo
nome de Pateo das Arcas e Pateo das Fangas da Farinha e
que datam de 1593 e 1619 respetivamente -, o primeiro
teatro de comédias de que há notícia é o Pátio da Bitesga
(1591), cujo lugar central no panorama teatral português se
manteve até ao incêndio que o destruiu (1697 ou 1698)
•A necessidade de criar a ilusão de realidade na cenografia
surge em meados do século XV com os humanistas em Itália.
•Procura-se a implantação de cena em profundidade,
motivada pela descoberta da perspetiva.
• Sebastiano Serlio no seu tratado Architettura abordou a
problemática da cenografia e da arquitetura baseada nas
ideias de Vitrúvio.
•Serlio desenha três géneros de cenários: para a tragédia
com pinturas de colunas, frontões e edifícios majestosos; para
a comédia com casas privadas, lojas e balcões; e para a
sátira com árvores, cavernas e residências rústicas.
•A cenografia tinha um dupla função:
-Situava a ação;
-Diferenciava a ação do local ocupado pelo público.
Cenário para tragédia
Cenário cómico segundo Serlio
Cenário para sátira
• Serlio estabelece a disposição dos teatros, que não
deixarão de ser provisórios, uma vez que irão ocupar
geralmente as grandes salas dos palácios.
•A cena era composta por casas, inicialmente construídas
em madeira, tela e estafe, e cuidadosamente pintadas
como se fossem reais. O efeito de realidade era era
reforçado por esculturas e molduras trabalhadas em
alto-relevo e por cornijas, estátuas e remates em
madeira trabalhada.
•Posteriormente , estes décors tendem a simplificar-se,
substituindo-se os efeitos reais por telas pintadas em
trompe-l’oeil
•A cena era organizada tendo em cada uma das extremidades do
proscénio, e de frente para o público, a fachada de uma casa
alinhada com a parede da sala. As casas mais recuadas eram
representadas por duas fachadas, uma no sentido da rua principal
e a outra face ao público, delimitadas por uma rua que se
encontrava face ao público e se afastava em direção ao fundo da
cena. O fundo, pintado, tanto representava um local especifico
como uma rua transversal.
•A perspetiva era traçada a partir do fundo da cena. Para tornar
o cenário mais mais realista, as casas iam diminuindo em alura e
largura à medida que se afastavam do público (10 vezes mais
pequenas do que o real). Assim os atores tinham que representar
no proscénio de modo a que não fosse criada uma desproporção.
Também por esta razão, só as primeiras duas casas eram
praticáveis.
•Em 1637, Nicola Sabbatini publicou um livro sobre cenários
e maquinarias de cena mais completo, tornando-se uma obra
de referência para todos os cenógrafos.
•As alterações que introduz são relativas à orientação e
organização do espaço cénico. Nas mansions medievais o
espétaculo era dado a ver segundo o olhar de Deus, aqui
todo o espaço vai ser criteriosamente definido em função do
olhar do príncipe.
•Com as novas leis da perpetiva, a fazerem com que apenas
uma pessoa tenha a visão correta do cenário, o teatro
renascentista constituiu-se como um espaço hierarquizado, em
contraponto com a cena medieval onde não existiam
espetadores privilegiados
Implantação de uma cena à italiana segundo
Sabbatini(c.de 1638)
•Toda a implantação da cena era desenhada a partir do
local em que o príncipe assistia ao espetáculo. A cena era
constituída por três casas de cada um dos lados e
completada por uma tela na parede de fundo.
•Para a criação dos céus suspendia-se no madeiramento da
sala uma série de arcos de abóbada que diminuíam
consoante a perspetiva, e colocava-se sobre estes uma tela
pintada de azul que cobria a cena formando uma
abóbada celeste (segundo Sabbatini a abóbada deveria
ter aberturas para permitir a descida das máquinas de
cena).
•Segundo este tratado as mutações de cena em frante ao
público deveriam ser feitas cobrindo os engradados
cenografados com uma tela pintada com décor que se
pretendia.
•Introduzem-se também (influência do teatro romano) prismas
triangulares com cenas pintadas em cada uma das faces e em
que a mudança de cena era feita através da rotação dos
mesmos. Outro método de mudança de cena era obtido
através de uma cortina sobre a qual estava pintada a cena
pretendida.
•A perspetiva poderia ainda estar traçada sobre dois
engradados colocados sobre calhas, que poderiam abrir como
portas, as quais, colocadas no centro da cena, recolhiam para
os bastidores de forma a deixar entrever outra perspetiva,
colocada na parede do fundo.
•Sabbatini regista ainda a utilização de alguns efeitos
especiais: a simulação de um incêndio era feita através da
construção de um edifício em madeira e tela, embebido em
aguardente, onde eram colocadas velas que iriam incendiar as
casas no momento pretendido.
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O teatro na corte do príncipe. Para lá do palácio