ROTINA DE INVESTIGAÇÃO DE INCIDENTES RELACIONADOS AO LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS RESPONSÁVEL: Coordenação de Gerenciamento de Risco – GHC Comissão de Gerenciamento de Risco HNSC Comissão de Gerenciamento de Risco HCC Comissão de Gerenciamento de Risco HF Comissão de Gerenciamento de Risco HCR Laboratório de Análises Clínicas HNSC Laboratório de Análises Clínicas HF Porto Alegre 2015 1. INTRODUÇÃO Baseado no princípio de que os pacientes não devem sofrer danos que resultem do cuidado médico, a questão da segurança do paciente tem assumido destaque expressivo nas ações de melhoria de qualidade em vários países. Um marco importante para a segurança do paciente foi a publicação, pelo Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM) do relatório “To err is human”. Nele, estimou-se entre 44.000 a 98.000 as mortes anuais em conseqüência dos eventos adversos nas instituições da saúde, sendo que o custo estimado relacionado aos eventos adversos que poderiam ter sido prevenidos podiam chegar a 29 bilhões de dólares ao ano (Kohn et al, 2000). Ao longo dos anos vários estudos foram publicados com relação à ocorrência de eventos adversos na assistência, assim como sobre a melhoria da qualidade nos laboratórios clínicos e erros nestes serviços. Os laboratórios clínicos são parte importante do processo de assistência à saúde, exercendo papel fundamental no suporte às decisões clínicas, sendo que 60 a 70% das decisões na admissão, alta hospitalar e escolha da terapia estão baseadas nos testes laboratoriais (Plebani, 2007) A realização de exames laboratoriais, assim como de todo serviço de saúde, ocorre num ambiente complexo, com diversos procedimentos, equipamentos, tecnologias e conhecimento humanos e que devem estar sempre interligados, com o objetivo de garantir resultados que orientem as decisões diagnósticas e terapêuticas (Plebani, 2009). 1.1 Conceitos Laboratório clínico: Serviço destinado à análise de amostras de paciente, com a finalidade de oferecer apoio ao diagnóstico e terapêutico, compreendendo as fases pré-analítica, analítica e pós-analítica; Fase pré-analítica: Fase que se inicia com a solicitação da análise, passando pela obtenção da amostra e finda ao se iniciar a análise propriamente dita; Fase analítica: Conjunto de operações, com descrição especifica, utilizada na realização das análises de acordo com determinado método. Fase pós-analítica: Fase que se inicia após a obtenção de resultados válidos das análises e finda com a emissão do laudo, para a interpretação pelo solicitante; Garantia da qualidade: Conjunto de atividades planejadas, sistematizadas e implementadas com o objetivo de cumprir os requisitos da qualidade especificados. Erro laboratorial: falha na realização de ação, de acordo com o planejado ou a intenção, ou uso de um plano errado para atingir um objetivo, podendo ocorrer em qualquer etapa do processo laboratorial, desde a requisição do exame até o reporte do resultado, incluindo a sua interpretação. 1.2 Laboratório de Análises Clínicas e os erros laboratoriais Os serviços de laboratório de análises clínicas podem ser considerados pioneiros no reconhecimento da importância do gerenciamento da qualidade e redução dos erros nos processos, realizada através de programas de qualidade internos e externos, até a busca pela acreditação do serviço (Plebani 2007; Plebani 2006; Wagar and Yvan, 2007). A realização de exames laboratoriais exige a integração de um conjunto de procedimentos e etapas, equipamentos e tecnologias e conhecimento humano, a fim de garantir o diagnóstico e tratamento corretos. Devido esta complexidade o serviço de laboratório de análises clínicas está propenso a erros (Plebani 2007, 2009). Erro laboratorial pode ser definido como “falha na realização de ação, de acordo com o planejado ou a intenção, ou uso de um plano errado para atingir um objetivo, podendo ocorrer em qualquer etapa do processo laboratorial, desde a requisição do exame até o reporte do resultado, incluindo a sua interpretação” (ISO 22367). É difícil estimar a incidência dos erros diagnósticos e erros com danos aos pacientes por conta da subestimação, heterogeneidade, subnotificação e pela dificuldade de associar erros diagnósticos aos danos dos pacientes, porém mesmo uma baixa incidência de erros laboratoriais pode ter sérias implicações para a saúde pública e segurança do paciente (Plebani 2009). A realização de exames laboratoriais contempla três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Evidências demonstram que fatores como automação, tecnologia de informação, programas de controle de qualidade e padronização das técnicas diminuíram a ocorrência de erros na fase analítica, sendo as fases pré e pós-analíticas mais vulneráveis ao erro (Plebani 2007; Plebani 2006; Bonini 2002; Wagar and Yvan 2007; Lippi et al 2006). Além disso, no Brasil, a partir da publicação da RDC/ANVISA nº. 302, de 2005 que regulamenta o funcionamento dos serviços que realizam atividades laboratoriais, os laboratórios devem desenvolver programas de garantia da qualidade dos exames. Fase pré-analítica 46-68% erros Fase analítica 7-13% erros Fase pós-analítica 19-47% erros Falha na formulação da questão clínica e seleção de exame incorreta; Falha na solicitação do exame; Perda da requisição do exame; Erro de identificação do paciente; Erro de preparo do paciente; Erro de identificação do tubo; Erro na coleta da amostra; Erro no transporte; Erro no preparo da amostra. Falha no equipamento; Problemas com reagentes; Problemas com controles; Erros de técnica de análise; Validação do resultado Perda do resultado; Problemas no tempo de resposta; Erro na produção do laudo; Falha no recebimento, interpretação e utilização da informação pelo médico. Fig. 1 - Distribuição dos erros conforme fase do teste (Jawabar 2004; Plebani et al 2006) 1.3 Finalidade do Protocolo Padronizar o acesso, investigação e análise das notificações espontâneas de problemas relacionados aos laboratórios de análises clínicas no Grupo Hospitalar Conceição (GHC). 1.4 Executante Comissão de Gerenciamento de Risco e Laboratórios de Análises Clínicas cada unidade hospitalar do GHC. 1.5 Abrangência Todas as unidades hospitalares do GHC. 2. OBJETIVOS DA ANÁLISE DO INCIDENTE NO LAC Minimizar o risco ao paciente decorrente das atividades inerente ao processo de realização de exames laboratoriais em todas as fases do mesmo, através da compreensão dos incidentes notificados. 3. ROTINA DE VERIFICAÇÃO DE INCIDENTES A verificação e classificação do incidente possibilitam determinar o número e tipos de incidentes relacionados aos processos laboratoriais que ocorrem na instituição e determinar a magnitude do dano, caso o mesmo tenha ocorrido. A verificação das notificações recebidas via rede sentinela, no sistema GHC, dever ser feita diariamente e dever seguir os seguintes passos: 1. Acessar o sistema GHC; 2. Entrar no sistema médico e/ou ir diretamente ao prontuário do paciente, acessando o programa através do usuário e senha; 3. Acessar o ícone rede sentinela/relação dos eventos registrados/laboratório de análises clínicas; 4. Selecionar o hospital e o intervalo de data desejada; 5. Após leitura do resumo da notificação, exportar os dados para o excel; 6. Realizar a confirmação ou reclassificar os tipos dos problemas notificados; 7. Classificar o incidente conforme rotina de classificação de incidentes adotada pelo GHC; 8. Gerenciamento de risco encaminha os incidentes notificados ao laboratório; 9. Gerenciamento de Risco e LAC realizam a investigação, conforme definição deste protocolo. 3.1 Investigação do incidente 3.1.1 Classificação do incidente A classificação do incidente ocorrerá conforme protocolo de análise de incidentes do GHC. Incidente “Quase-erro” Incidente sem dano Evento Adverso Dano Nenhum Nenhum Leve Moderado Grave Catastrófico (óbito) Fig. 2 – Classificação dos incidentes 3.1.2 Investigação do incidente A investigação do incidente ocorrerá conforme a classificação realizada (fig.3): Classificação leve e moderada: o evento deverá ser investigado somente se houver reincidência ou for um caso julgado excepcional pelas equipes do gerenciamento de risco e laboratório; Classificações grave e catastrófica: o evento deverá ser investigado de imediato pelo gerenciamento de risco e laboratório de análises clínicas. As demais etapas de investigação de incidentes, desde a investigação dos fatos, ferramentas a serem adotadas, coleta de informações, identificação e análise de fatores de causais e definição do plano de ação estão descritas no protocolo de análise de incidentes do Grupo Hospitalar Conceição. Fig. 3 – Fluxo de Investigação de incidentes LAC/GR Referências Bibliográficas BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n°302, de 13 de Outubro de 2005. ISO/TS 22367:2008. Medical laboratories: reducing error through risk management and continual improvement: complementary element, 2008. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS. To erro is human: building a safer health care system. Institute of Medicine, 2002. Plebani, M. Errors in laboratory medicine and patient safety: the road ahead. Clin Chem Lab Med 2007;45(6):700–707. Jawabar, K. Medical errors: impact on clinical laboratories and other critical areas. Clinical Biochemistry 2004;37(12):1052-1062. 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