6C2. A GAZETA QUARTA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2015 CINECLUBE DIVULGAÇÃO Clássico brasileiro no Cine Metrópolis “O Profeta da Fome”, do diretor Maurice Capovilla, será exibido amanhã, às 20 horas LUÍSA BUZIN [email protected] A crítica social do Cinema Novo e a estética da Boca do Lixo se encontram nesse clássico da cinegrafia brasileira. Do diretor Maurice Capovilla, “O Profeta da Fome” será exibido amanhã, às 20 horas no Cine Metrópolis, na Ufes. A exibição faz parte da Mostra do Filme Livre, que seleciona 100 cineclubes e pontos de exibição do país para sessões na cidade escolhida. “O Profeta da Fome” foi escolhido pela curadoria do Cine Metrópolis ao invés de duas sessões de curtas premiados. A escolha se deu em homenagem a Capovilla e devido à importância do filme na história do cinema nacional. “O filme está ligado ao perfil do Cine Metrópolis porque é um tanto raro e marcante por diversos motivos”, explica o pro- gramador do Cineclube Metrópolis, Vitor Graize. A película conta a história de um faquir que trabalha em um circo paupérrimo do interior. Quando o circo pega fogo ele inicia, ao lado de sua mulher, uma longa caminhada acompanhado pelo domador do circo, um homem violento e mau. Ao chegar em uma cidade em festa, ele apresenta um número sensacional de sua própria crucificação. A apresentação atrai muita gente, mas o protagonista acaba preso. É na prisão que descobre a chave do sucesso: o jejum. É aí que o filme se aproxima do Cinema Novo, ao usar a fome como metáfora para a miséria e plataforma para crítica social. Mas o próprio diretor já declarou que tende a concordar com uma leitura crítica de que o filme reflete e questiona o próprio movimento estético, que fez da fome uma forma de espetáculo. A sinopse do filme, por si só, já deixa clara toda a crítica social que ele embute. “O filme vale tanto pela importância do diretor como pelo momento histórico, de 1970, e pela maneira como ele marcou a história do cinema brasileiro”, comenta Graize. ESTRELA O filme ainda é estreladoporJoséMojicaMarins, criador do famoso Zé do Caixão, fazendo um papel diferente, de um faquir. “A maior parte das referências que a gente tem do Mojica é como diretor, mas sempre associado ao Zé do Caixão. Mas ele tem muitos outros personagens interessantes para se conhecer”, acrescenta o programador. Um detalhe: nesse trabalho, Mojica tem a voz dublada por Paulo Cesar Pereio. Recurso muito comum aos filmes da época, quando a captação direta era muito custosa. “A dublagem (na pós-produção) era muito comum na época, uma vez que a captação direta era muito mais complicada. O Cena da crucificação, interpretada por José Mojica Marins, o Zé do Caixão próprioMojicajáfoidublado em outros filmes em que atuou”, revela Graize. Nofinaldasessão,amostraaindateráumbate-papo comandado pelo professor Fabio Camarneiro. Eleministraonovocurso de História do Cinema Brasileiro, promovido pelo Cineclube Metrópolis e ajuda a posicionar o filme dentro da história do cinema nesse período tão emblemático. MOSTRA DO FILME LIVRE - “O PROFETA DA FOME” Quando: Amanhã, às 20 horas. Onde: Cine Metrópolis, Av. Fernando Ferrari, 514, campus universitário de Goiabeiras, em Vitória. Entrada gratuita. Informações: (27) 3335-2376. MICHEL HOUELLEBECQ Autor compra briga com jornal francês Francês contemporâneo mais lido do mundo, Houellebecq é contra série sobre sua vida A publicação nesta semana, por parte do jornal francês “Le Monde”, de uma série de artigos sobre o escritor Michel Houellebecq rendeu ao jornal a oposição aberta do autor, que ameaçou recorrer à Justiça. O prestigioso vespertino dedica desde a última segunda, 17, até o próximo sábado, 22, uma série com o título “Seis Vidas de Michel Houellebecq”. Na série, o autor de “O Mapa e o Território” e “Submissão” é descrito como personagem contraditório e tirano. “Cercou-se de uma cortedeimperador chinês. (...) Se apresenta como uma vítima, como um ser que sofre e que a literatura o tem levado mais além de seu destino. Na verdade, se transformou em um tirano”, disse sobre ele um amigo do escritor, não identificado. A série, assinada pela jornalista Ariane Chemin, descreve no seu primeiro capítulo alguém que se viu superado pelo próprio personagem, que ele mesmo engendrou. “É ele quem cria seu personagem. Ninguém tem direito a fazê-lo DIVULGAÇÃO Michel Houellebecq quis dificultar série de matérias em seu lugar”, assegura o editor Léo Scheer. O “Le Monde” reconhece que Houellebecq, poeta, ensaísta e romancista, premiado na França com o Goncourt e conhecido também por obras como “As Partículas Experimentais”, é o autor contemporâneo francês mais lido e estudado no mundo. Nessa exploração do universo de um escritor ao mesmo tempo “à margem do mundo e no núcleo de sua época”, não minimiza seu valor como literato, mas tampouco sua controvertida personalidade. O diário publicou na segunda, também, um arti- go paralelo em que deixa claro que Houellebecq boicotou sua elaboração e estimulou os conhecidos a fazer o mesmo. “Nego falarcomvocêsepeçoqueos meus conhecidos adotem a mesma atitude”, respondeu o autor a um e-mail da publicação, no qual incluiu “toda Paris”, segundo o “Le Monde”, entre eles o filósofo Bernard Henri Lévy e o escritor Frédéric Beigbeder. O jornal encontrou resistência na hora de recolher depoimentos sobre Houellebecq, desde em editoras como a Flammarion até sua ex-esposa, Marie-Pierre Gauthier.