Espiritualidade Subversiva. MARCOS: O TEXTO FUNDAMENTAL DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ1 O evangelho de Marcos é o texto fundamental para a espiritualidade cristã. O cânon da Escritura como um todo é o nosso texto mais amplo, a revelação que determina a realidade com a qual lidamos como seres humanos criados, salvos e abençoados pelo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. 1. 2. 3. 1 A forma do texto: Ninguém jamais tinha escrito um evangelho cristão antes de Marcos escrever o seu. Ele criou um novo gênero, que rapidamente passou a ser não apenas fundacional, mas formativa para a vida da igreja e do cristão. A história do evangelho “revela”, ou seja, mostra algo que jamais poderíamos ter criado por conta própria, seja pela observação, pela experiência ou pela especulação; e ao mesmo tempo ela “prende”. O teor do texto: Não precisamos avançar muito na leitura de Marcos para perceber que o texto é sobre Jesus Cristo, e antes de concluirmos isso fica mais que evidente. Marcos é sobre o Deus revelado em Jesus Cristo. Jesus é a revelação de Deus, e assim sempre deparamos em Jesus com aquilo que se nos depara em Deus: não captamos, não enxergamos, não compreendemos a maior parte do que está em jogo ali. A verdadeira espiritualidade, a espiritualidade cristã, desvia a atenção de nós e a concentra em outro, em Jesus. A tônica do texto: Ao lermos esse texto, logo descobrimos que toda a história se afunila, chegando à narração dos acontecimentos de uma única semana da vida de Jesus, a semana de sua paixão, morte e ressurreição. E, desses três elementos, é a morte que recebe o tratamento mais detalhado. Mas há muito mais em jogo aqui do que o simples fato da morte, embora isso esteja presente de forma muito enfática — trata-se de uma morte cuidadosamente definida. Estudo baseado no livro Espiritualidade Subversiva, Eugene Peterson. Cap.1 Espiritualidade Subversiva. a. b. É definida como voluntária. Jesus não tinha de ir para Jerusalém; foi por vontade própria. Deu seu assentimento à morte. É definida como sacrificial. Aceitou a morte para que outros pudessem receber a vida: “... sua vida em resgate por muitos” (Mc 10:45). Ele definiu sua vida categoricamente como sacrificial, ou seja, como meio de vida para outras pessoas. A história do evangelho como um todo encerra-se com um testemunho sobre a ressurreição. A morte de Jesus não é procrastinada (adiada). 4. ESPIRITUALIDADE DO TEXTO. LEITURA MARCOS 8:27—9:9 Marcos 8:27—9:9 Está situada no centro da história do evangelho, de modo que uma metade dele — as múltiplas tentativas galileias de trazer a vida à mente e à imaginação — fica simetricamente de um lado, e do outro, a outra metade: a viagem sem distrações rumo a Jerusalém e a morte. As histórias contêm em suas duas extremidades afirmações sobre a verdadeira identidade de Jesus como Deus entre nós: primeiramente, Pedro, declarando: “Tu és o Cristo”; em segundo, a voz saída do céu, que declarou: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!”. Testemunho humano em uma extremidade, confirmação divina em outra. O MOVIMENTO ASCÉTICO. A NEGAÇÃO. “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e sigame” (8:34). Os verbos que saltam da frase e nos atingem são “negue-se a si mesmo” e “tome a sua cruz”. Renúncia e morte. Contornos Negativos “negue-se a si mesmo” “tome a sua cruz” Verbo “Seguir” Infinitivo “acompanhar-me” Imperativo “siga-me” Espiritualidade Subversiva. “Se alguém quiser acompanhar-me” abre a frase; “siga-me” a encerra. Jesus está dirigindo-se para algum lugar; convida-nos para o acompanharmos, o grande verbo “seguir” esparge glória nos verbos negativos que indicam renúncia e morte. Seguir a Jesus significa Não seguir nossos impulsos, apetites, caprichos e sonhos, afetados pela autonomia e desconexão. (Negação) Não seguir as práticas de procrastinação e negação da morte de uma cultura que, acaba com uma vida tão contraída e apoucada, que mal se pode chamar de vida. (Negação) A negação É nosso acesso à liberdade. Somente os humanos podem dizer “não”. Os animais não podem dizer “não”. Os animais fazem o que o instinto lhes dita. “Não” é uma palavra de liberdade. Não preciso fazer aquilo que me ordenam, sejam minhas glândulas, seja minha cultura O “não” judicioso, bem colocado, liberta-nos de muitos becos sem saída. A arte de dizer “não” liberta-nos para seguirmos Jesus. A prática ascética dissipa a barafunda do eu que se arroga status de deidade, e abre um espaço amplo para o Pai, o Filho e o Espírito Santo; ela nos envolve e prepara para um tipo de morte do qual a cultura não tem nenhum conhecimento, abrindo espaço para a dança da ressurreição. O MOVIMENTO ESTÉTICO. “SIM” DE DEUS EM JESUS Pedro, Tiago e João veem Jesus transfigurado diante deles no monte, imerso em nuvem e brilho, na companhia de Moisés e Elias, e ouvem a bênção de Deus: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!” (Mc 9:7). O estético lida com a vida no monte. Espiritualidade Subversiva. “beleza” A palavra B. não ocorre na história. Permanecer na companhia de Jesus significa contemplar sua glória. O estético lida com a vida no monte. Beleza é o que os discípulos experimentaram. Estética e desconexão. Nossos sentidos foram embotados pelo pecado. Nossos sentidos precisam de cura e reabilitação para que tenham condições de receber as visitações e as aparições do Espírito, do Santo Espírito de Deus. “PEDRO” A resposta inicial de Pedro tanto na história da estrada ascética quanto na história do monte estético estava errada. Na estrada Tentou evitar a cruz Rejeitou o caminho ascético oferecendo a Jesus um plano melhor, um caminho de salvação em que ninguém precisa ser incomodado. No monte Tentou possuir a glória Rejeitou o caminho estético oferecendose para construir monumento, uma forma de adoração na qual ele podia tomar o comando das mãos de Jesus. CONCLUSÃO A teologia espiritual é a disciplina e a arte de nos treinar para uma participação plena e madura na história de Jesus, mas nos impedir ao mesmo tempo de assumirmos o comando da história. . As duas histórias no centro, as histórias da estrada e do monte, lançam-nos para adiante, em fé e em obediência, para a vida que só é completa de forma plena no “não” definitivo e no “sim” glorioso de Jesus crucificado e ressurreto.