Carta dos movimentos sociais do sul do Maranhão
CARTA ABERTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO SUL DO MARANHÃO
Nós, representantes dos Movimentos Sociais do Maranhão, abaixo assinados,
reunidos no dia 16 de maio de 2007, em fórum aberto, no Centro de Defesa da Vida e
dos Direitos Humanos de Açailândia, realizamos uma assembléia após participarmos da
Audiência Publica para implantação do Distrito Florestal Sustentável do Carajás,
decidimos deixar constância da nossa posição perante a proposta apresentada:
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Repudiamos a forma como foi realizada a referida audiência, onde os
movimentos sociais não foram previamente informados e, na maioria dos casos,
não foram chamados ou a chamada foi realizada em cima da hora.
Repudiamos a falta de representatividade da Audiência Pública.
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Repudiamos o objetivo da proposta onde se percebe uma clara concessão de
um território, patrimônio público do povo brasileiro, em beneficio de grandes
empresas privadas baseadas no agronegócio e monocultura cujo modelo de
desenvolvimento é depredador e favorece apenas o lucro.
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Repudiamos uma proposta na qual reconhecendo que 60% da madeira utilizada
para fabricação de carvão vegetal tem procedência ilegal, portanto, reconhecendo a
ilegalidade atual das siderúrgicas, não dedica uma só linha para demonstrar como
será paga a dívida de 18.455,56 hectares de reposição florestal já exploradas.
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Repudiamos uma proposta na qual trabalhador@s rurais, indígenas,
extrativistas, quebradeiras de coco, tem que pagar o passivo ambiental e social
deixado por empresas madeireiras e siderúrgicas.
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Repudiamos uma proposta na qual se priorizam ações voltadas para
reflorestamento com espécies de crescimento rápido (eucalipto...), inclusive
forçando que nos assentamentos sejam plantadas estas mesmas espécies.
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Repudiamos uma política florestal e desenvolvimentista que está dividindo o
movimento das quebradeiras de coco com ofertas mirabolantes, aproveitando-se o
estado de necessidade do povo.
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Repudiamos a proposta de um distrito florestal que no seu espírito defende um
desenvolvimento
que
favorece
as
grandes
empresas
extrativistas
e
monocultivadoras.
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Repudiamos uma proposta onde se exaltam ações de duvidoso interesse público
e ignora os esforços das associações, dos movimentos sociais e de assentamentos,
na criação de formas de produção onde o meio ambiente e as culturas regionais
são respeitados.
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Entendemos que para ter uma política ambiental decente em prol da natureza e
do ser humano, não precisamos de delimitações de territórios e sim de
implementação de ações que valorizem e potencializem iniciativas que já são
desenvolvidas por agricultor@s familiares, indígenas,ONG’s e associações.
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Entendemos que, para ter credibilidade qualquer proposta neste sentido,
primeiro deve ser paga, pelos que exploram criminosamente a floresta, a divida
que com ela tem.
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Exigimos que seja aberto um processo de Consulta Popular onde todos os
movimentos de luta pela terra e pela dignidade humana, sindicatos, associações
comunitárias e de assentamentos, ong´s, igrejas, etc., sejam consultados para
elaborar um plano de desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
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Exigimos, também, que sejam suspensos, os créditos para exploração de
espécies de crescimento rápido financiados pelo BNDES
Diante do exposto dizemos Não ao Distrito Florestal de Carajás e nos reservamos o
direito de tomar as atitudes que consideramos necessárias para defender nosso
patrimônio, sempre explorado por aqueles que não amam a terra e nem a vida
humana, mas utilizam-na como fonte de conseguir dinheiro, e concentrar riqueza, sem
respeito pelo presente nem o futuro do Povo Brasileiro.
Não acreditamos nem queremos projetos nem palavras que envolvam destruição e
morte como aconteceu antigamente com os grandes projetos aprovados de forma
sorrateira como a CELMAR e o próprio Projeto Grande Carajás e como o fazem agora
com o Distrito Florestal Sustentável do Carajás.
Desenvolvimento sustentável e progresso sim, porém, colocando a vida e o respeito a
diferença, a pluralidade e à terra, patrimônio dos nossos filhos em primeiro lugar.
Conclamamos a todas as entidades que defendem e efetivamente lutam e atuam na
construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e de um mundo de
justiça social a assinar esta carta que será enviada a todos os órgãos governamentais
responsáveis e será, também, amplamente difundida.
Assinado em Açailândia-MA, aos 16 de maio do 2007
Pelas organizações presentes:
MST, Associação das Quebradeiras de coco, SINTRASEMA- Sindicato dos Trabalhadores
no Serviço Público Municipal de Açailândia, STTR-Açailândia, STTR-Imperatriz, MIQCBMovimento Interestadual das Quebradeiras de Coco, COAPIMA, CDVDH de Açailândia,
CENTRU ANARA- Associação Nacional de Apoio a Reforma Agrária, IBAMA Associação
de Galileia, Sindicato dos Metalúrgicos.
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