O MUSEU DE ARTE E HISTÓRIA ROSA FARIA COMO ESPAÇO EDUCATIVO – (1968-1977) GT1 - ESPAÇOS EDUCATIVOS, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DOCENTE (SABERES E PRÁTICAS) Patrícia Francisca de Matos Santos* Anderson Teixeira de Souza** RESUMO Tomamos como objeto de estudo a contribuição da Professora Rosa Moreira Faria (1917-1997) destacando a forma como esta através da pintura retratou a Historia do Brasil e de Sergipe, subsidiada pela pesquisa em fontes escritas e iconográficas. Em conseqüência construiu um acervo com mais de 600 peças, a partir das quais montou uma Galeria em 1968 e posteriormente um “Museu, intitulado “Museu Arte e História Rosa Faria” em 1977”. Configura-se num estudo histórico de trajetória docente a cerca da trajetória pessoal, profissional e artística de Rosa Faria. A escolha recaiu sobre essa personagem quando estagiária do Memorial de Sergipe, momento em que percebido a contribuição da educadora para a cultura e história local. A metodologia se debruçou no levantamento de fontes bibliográficas, documentais e orais. Com este estudo, pretendo difundir a obra desta educadora que extrapolando a função educativa exerceu uma ação artístico-cultural ao retratar nas suas peças a vida, a cultura e a história do povo sergipano. Palavras-chave: História da Educação; Trajetória Docente; Rosa Faria ABSTRACT We take as object of study the contribution of Prof. Rosa Moreira Faria (1917-1997) highlights how this painting portrayed through the history of Brazil and Sergipe, supported by research in written sources and iconography. As a result built a collection of more than 600 pieces, from which a gallery set up in 1968 and later a "Museum, entitled" Art and History Museum Rosa Faria "in 1977. " Set in a historical study about the teaching career path personal, professional and artistic Rose Faria. The choice fell on this character as an intern at Memorial Sergipe, at which time the contribution of perceived teacher of local history and culture. The methodology is addressed in the survey of bibliographical, documentary and oral. With this study, I intend to spread the work of this educator that extrapolating the educational function of an action exerted by portraying the artistic and cultural pieces in their life, culture and history of the people Sergipe. Keywords: History of Education; Trajectory Professor; Faria Rosa ________________________ *Pós-Graduada em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade São Luiz de França – (FSLF); Profª Preceptora de Estágio – UNIT; Licenciada em Pedagogia pela Universidade Tiradentes; Acadêmica de História pela Universidade Federal de Sergipe; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, vinculado ao Núcleo de Pós-Graduação em Educação - (GEPHE/NPGED-UFS) e Sócia do SBHE - Sociedade Brasileira de História da Educação - [email protected] **Pós-Graduado em Didática e Metodologia do Ensino Superior e Gestão de Pedagogia Empresarial pela Faculdade São Luís de França – FSLF; Professor desta mesma Instituição de Ensino Superior; Graduado em Turismo pela Universidade Tiradentes - UNIT, Acadêmico em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe – UFS/DGE e Pesquisador do Instituto Vega – [email protected] 1 1 INTRODUÇÃO Resgatar a história daqueles que construíram suas carreiras e deram importante contribuição para a formação cultural e intelectual das novas gerações, revela-se bastante apropriado, para que possamos refletir nossas práticas, buscando alternativas para tornar mais instigante o processo ensino/ aprendizagem. Nesse sentido é que tomamos como objeto de estudo a contribuição da Professora Rosa Moreira Faria (1917-1997) cuja atuação profissional sempre esteve ligada às artes e desde a juventude defendeu seus pontos de vista e em alguns casos suscitou polêmica, sobretudo pelas posições a respeito da História de Sergipe. Em função disso, recebeu ao longo da vida diversas homenagens e homenageou diversos órgãos e personalidades sergipanas. Este estudo, portanto, constitui um estudo histórico de caráter biográfico a cerca da trajetória pessoal, profissional e artística da Professora Rosa Moreira Faria. Na visão de LEVILLAIN (2003, p. 176): Não tem por vocação esgotar o absoluto do ‘eu’ de um personagem, como já o pretendeu e ainda hoje o pretende mais do que devia. E se a simbologia de seus fatos e gestos pode servir de representação da história coletiva através de um homem, tal como o retrato, ele não esgota a diversidade humana [...]. A escolha recaiu sobre essa personagem após contato com a sua obra, quando estagiária do Memorial de Sergipe e por ter constatado o pouco conhecimento e reconhecimento que há da sua vida e obra. A citada educadora viveu em um período que o mundo e em particular o país viveu muitas transformações, provocadas, sobretudo pela I e II Guerras Mundiais. A partir do entendimento dessa realidade, foi possível compreender melhor sua vida e a contribuição que deu a história do Estado de Sergipe. Para realizar o estudo inicialmente procedi ao levantamento bibliográfico das obras que tratam da história da educação, da história de Sergipe, das que fundamentam a pesquisa, no caso particular, da história das mulheres e da categoria gênero, bem como, das que fazem referencia ao objeto de estudo. Recorri ao Memorial de Sergipe onde se encontra o acervo, documentos, jornais e fotos de Rosa Moreira Faria, aos Arquivos Públicos, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), Instituto Tobias Barreto, Biblioteca Central (BICEN/UFS), Biblioteca Jacinto Uchôa / 2 UNIT, Biblioteca Clodomir Silva, Biblioteca Ivone Mendonça, Biblioteca Pública Estadual Epiphânio Dórea, com o intuito de buscar subsídios para situar à personagem no contexto histórico, econômico e social em que nasceu, cresceu e desenvolveu sua atividade docente e artística. Além da fonte escrita, recorri à fonte oral, entendida como um instrumento de pesquisa que lida com o que o indivíduo deseja revelar, ocultar e com a imagem que quer projetar de si e de outros. Pois segundo FREITAS (2003), a história de vida, “busca atingir a coletividade de que o informante faz parte e do qual é um mero representante, através do qual se revelam os traços desta”. Com este estudo, pretendo difundir entre estudantes e população em geral a obra desta educadora que extrapolando a função educativa e exerceu uma ação artístico-cultural eficiente à medida que suas coleções eram lastreadas em documentos e fotos, resultante de pesquisas realizadas em Sergipe, Salvador e Rio de Janeiro e constituem um acervo de mais de seiscentos pratos retratando praças antigas e fatos históricos. 2 TRAÇOS DE UMA VIDA Na primeira década do Século XX, o mundo e o Brasil vivenciavam profundas transformações, conseqüência, sobretudo da I Guerra Mundial (1914-1918). Após o conflito, a Inglaterra, cedeu espaço para os Estados Unidos no cenário comercial e financeiro internacional. No aspecto econômico, verificou-se uma mudança no modelo econômico que passou de uma economia agrário-exportadora para uma fase industrial. Emergiu desse novo contexto uma burguesia industrial urbana, estratos emergentes de uma pequena burguesia e o operariado. Na década de 20 a divulgação de dados estatísticos que revelavam a existência de 75% de analfabetos entre a população brasileira, fez ressurgir o entusiasmo pela educação, com a criação das “ligas contra o analfabetismo”. Fundadas por intelectuais, industriais e médicos, que cheios de fervor nacionalista, pregavam o civismo, o escotismo, o patriotismo, e a erradicação do analfabetismo, como instrumento político, de aumento da quantidade de eleitores, e, por conseguinte, de formação social através do voto consciente (GHIRALDELLI JR., 1994). 3 Nesse contexto, surgiram vários movimentos políticos e culturais, a exemplo da Fundação do Partido Comunista Brasileiro (1922); das Revoltas Tenentistas, que representaram o descontentamento dos segmentos médio urbano com a oligarquia dominante, emergindo desses revoltosos a Coluna Prestes (1924); e por parte da intelectualidade brasileira, imbuída do propósito de construir uma identidade nacional e de resolver os graves problemas que o país se defrontava, movimentos como a Semana de Arte Moderna (1922) e a criação da Associação Brasileira de Educação - ABE (1924). Sergipe, em final do Século XIX, vivenciou um período de modernização do setor açucareiro com a criação de engenhos e usinas os quais permitiram transformar a manufatura do açúcar em processo industrial, diferenciando dos engenhos tradicionais pela substituição do maquinário usado na produção do açúcar por maquinas modernas. O primeiro engenho implantado foi o Central, em 1888, no município de Riachuelo. Tais transformações do setor açucareiro levaram os senhores de engenho que não possuíam maiores recursos, à condição de meros fornecedores de cana para as usinas vizinhas, outros se voltaram para a pecuária ou para a produção de cereais (NUNES, 1984). Ainda nesse período, em função da “Guerra de Secessão” dos EUA (1861 – 1865), o algodão ganhou importância econômica com o aumento das exportações. Com o fim da Guerra, o algodão voltou-se para o mercado local, servindo de estímulo para o surgimento da indústria têxtil. Em 1884, entrou em funcionamento à primeira fabrica de tecido do Estado, a Sergipe Industrial, anteriormente denominada Cruz e Companhia, sendo instalada no Bairro Industrial em Aracaju. Em 1896 foi criada a Companhia Industrial de Estância. Em 1915 a indústria têxtil marcava presença nos municípios de Neópolis, Própria, Maroim, Riachuelo, São Cristóvão, Aracaju e Estância. Verificaram-se nesse período várias iniciativas de modernização do Estado, sobretudo no aspecto cultural, a exemplo da expansão da imprensa e das casas tipográficas que contribuíram para a difusão da cultura em Sergipe, ao possibilitar a publicação de livros e o acesso à leitura. Também foram criadas associações culturais e científicas como: O Clube Literário Progressista (1905) em Frei Paulo; o Grêmio Literário Simãodiense (1905) em Simão Dias; o Clube Literário Silvio Romero (1918) na cidade de Boquim; o Gabinete de Leitura de Riachuelo (1927) e a Casa do Livro de Capela (1928). Em Aracaju foram criados O Centro Operário Sergipano (1910), a 4 Sociedade Médica de Sergipe (1910), o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1912), a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo (1916), o Centro Pedagógico Sergipano (1918) e o Instituto Parreiras Horta (1924). Foi nesse cenário que nasceu a 28 de abril de 1917, Rosa Moreira Faria, na cidade de Riachão do Dantas, Sergipe, filha de João Guilherme Farias e de D. Arminda Moreira Faria. Contudo, o registro civil foi oficiado na cidade da Capela, local para onde a família transferiu-se quando ela ainda era pequena. Segundo o irmão João Guilherme Farias (entrevista concedida em 31/05/2005), Rosa foi registrada como capelense, porque naquela época não era fácil registrar uma pessoa como nos dias atuais, de modo que, o pai solicitou e o juiz autorizou que fosse feito o registro em Capela. Rosa teve seis irmãos, sendo quatro do primeiro casamento de João Guilherme de Faria e três do segundo. Conforme descreveu Cabral Machado, Rosinha, eu a chamava assim, teve quatro irmãos do primeiro casamento de seu pai. O mais velho era Luiz que nós apelidamos de “Luiz Dentão”. Djalma era o mais moço e estudou no Colégio até ingressar na Faculdade de Direito, tornando-se advogado. Luiz ficou na Capela e lá constituiu família. Carmelita não estudou. Depois de algum tempo, seu João Guilherme casou pela segunda vez, tendo deste segundo consórcio João Guilherme, Maria Auxiliadora e Carlos, este último reside em São Paulo (entrevista concedida em 24/05/05). A cidade em que a artista foi criada, Capela é um município localizado a 65 km de Aracaju, que foi considerado no passado um ponto de desenvolvimento de cultura do Estado. Teve seu povoamento iniciado em 1735 com a doação da área pelo Capitão Luís de Andrade Pacheco e sua esposa Perpétua de Matos Franco, cujo filho era padre e ficou sensibilizado com o desgaste dos moradores que recorriam a matriz em Pé do Banco (atual município de Siriri), situado nove léguas para participarem de missas e festas. A povoação foi elevada à categoria de freguesias em 1813, desmembrando-se do território Pé do Banco. Em 1835, transformou-se em Vila e em 28 de agosto de 1888, passou a condição de Cidade com o nome de Capela. Em 1914, primeiros anos de República, Capela teve instalada sua primeira Usina mecanizada de açúcar cristal (Usina Proveito), surgindo mais tarde a Santa Clara e Vassouras. Em 1915 o município passou a contar com um ramal da estrada de ferro, o que possibilitou a interligação com outras cidades e capitais, a exemplo de Aracaju e Salvador. Tais inovações contribuíram para acelerar o progresso econômico do município desencadeando novas demandas por serviços e provocando mudanças na forma de pensar e nas aspirações intelectuais da 5 população, de modo que se tornou um centro cultural comparável a Laranjeiras e Estância. Exemplo disso foi à criação do jornal “O Capelense – Hebdomadário (1897), a fundação do Grupo Escolar Coelho e Campos (1918), primeiro a ser instalado no interior do Estado; da Sociedade Cultural “Casa do Livro” (1928) e do Colégio da Imaculada Conceição fundado em 1929, sob a responsabilidade das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, situando o movimento intelectual que se fazia presente em Capela, no início do séc. XX. Ao falarmos de Rosa Faria, naturalmente, associamos a arte da pintura. Mas como surgiu esse gosto, vocação e interesse? Segundo Manoel Cabral Machado (entrevista concedida em 24/05/2005) “a inclinação para a atividade artística começou na Capela [...] inicialmente fazia uma porção de quadros com cromos [...] de moldagem. Trabalhava também com flores, acho que sempre-viva [...]”. Na cidade natal fez os estudos primário e secundário. Segundo Cáscia Maria Freire de Barros (entrevista concedida em 12/06/2005), Rosa iniciou os estudos no Grupo Escolar Coelho e Campos, transferindo-se depois para o Colégio das Freiras. “O pai fazia alguns trabalhos para as freiras, o que possibilitou que ela pudesse estudar no Colégio de meninas ricas.” Conforme explicitado por CRUZ (2002), durante as duas primeiras décadas do século XX, na cidade de Capela, o ensino estava restrito a algumas escolas particulares e algumas cadeiras de aulas públicas, freqüentadas pelos filhos da elite e das camadas médias de Capela. Somente em 1918, por iniciativa do sergipano José Luiz Coelho e Campos, então Ministro do Supremo Tribunal Federal, que doou sua residência com o objetivo de fazer funcionar no prédio uma casa de instrução, foi implantado o Grupo Escolar Coelho e Campos. Capela foi à primeira cidade do interior do Estado de Sergipe a ter um Grupo Escolar. Nesse período, foram também criadas: o Grupo Escolar Modelo, anexo a Escola Normal, o Central, o Barão de Maroim e o General Valadão. Até o final da década de 1920, estavam funcionando no Estado, quatorze grupos escolares cinco na capital e nove nas principais cidades do interior. Teve como primeiro diretor o farmacêutico Bruno Manoel de Carvalho, que permaneceu por dezesseis anos na direção. Rosa se formou num período em que o estado modernizava-se em termo intelectual, sendo o Diretor da Instrução Publica Manoel Franco Freire e o governador Eronildes Ferreira de Carvalho que governou de 1935 a 1941. 6 Rosa recebeu o diploma de normalista em 1941 e o prêmio de uma cadeira, por ter sido classificada em primeiro lugar em todo o curso. Passou a residir na Capital em 1946 e fez concurso para o Correio, onde exerceu a função de telegrafista, sem, contudo esquecer-se de cultivar a sua paixão pelas artes. No dia 20 de fevereiro de 1936 ocorreu o primeiro exame de admissão das futuras normalistas. As provas foram realizadas de acordo com a regulamentação estabelecida por portaria da Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de Sergipe. No dia 1º de março foram iniciadas as aulas da primeira turma de normalistas do Colégio Imaculada Conceição, com 23 alunas (Cf. Livro de Atas do Colégio Imaculada Conceição. p. 55.8). Após 1945 os partidos que faziam parte do cenário político sergipano acompanham a tendência nacional. José Rollemberg Leite foi eleito governo (1947 a 1950), nomeando Acrisio Cruz para a direção geral do departamento de Educação, sendo estabelecido o convênio com o INEP, construiu a Escola Normal Murilo Braga (Itabaiana), mais de 200 escolas rurais e 15 Grupos Escolares, considerada modelo, para outros estados. Como ressalta SOUZA (2003, p. 146) [...] o “INEP havia contribuído para construção de vários grupos escolares naqueles últimos anos. Havia um pequeno número de escolas reunidas [...]”. Durante o seu governo Rollemberg Leite aumentou consideravelmente a rede de escolas primárias, promovendo oportunidades com a criação de Escolas Superiores, qualificação dos professores primários e secundários oferecendo cursos de aperfeiçoamento e de bolsas de estudos para ambos. Rosa Faria iniciou sua trajetória no magistério público estadual em 1942, como professora no Povoado Boa Vista, município de Capela, por indicação do então Secretário de Educação, Dr. José Rollemberg Leite, prestando seus serviços no período compreendido entre 1º de setembro de 1935 a 1941. Foi removida para o povoado Itapicuru, município de Nossa Senhora das Dores e, posteriormente, para o Grupo Coelho e Campos. Os Grupos Escolares, instituições que aparecem a partir das primeiras décadas do regime republicano com inovações educacionais (séc. XIX), caracterizado como “Escola Modelo”, por ser progressista na instrução publica (modernidade pedagógica, método intuitivo, ensino seriado e classe homogenia) originados através de debates de intelectuais, educadores e políticos, como o deputado Gabriel Prestes. Em Sergipe, os Grupos Escolares foram criados na administração do General Oliveira Valadão, surgindo em Capela em 1918 o Coelho e Campos, de suma importância por oferecer as 7 quatro series primarias, atender os requisitos da política educacional, condensar as idéias da Pedagogia Moderna, adotar o método intuitivo como técnicas fundamental do ensino (modernos princípios pedagógicos) e metodologia que priorizava os valores presentes do discurso pedagógico da Escola Nova. O prestigio da escola podia ser aferido pelo fato de que, logo após a conclusão do curso primário, as moças eram de imediato convidadas ou indicadas para ensinar nas escolas publicas existentes no município, principalmente nos povoados (CRUZ, 2002). Rosa fez o curso de Aperfeiçoamento para Professores Primários promovido pelo Departamento de Educação na Capital do Estado. SOUZA (2003, p. 168) afirma a importância desses cursos ao relatar que [...] são indispensáveis por serem “instrumentos de aprimoramento profissional e intelectual, enriquecedores constantes de experiências e oportunidades de contato com novas idéias e métodos [...]”. Em função disso, foi mais uma vez foi removida em 1946 para o Grupo Barão de Maruim em Aracaju. Em setembro do mesmo ano foi requisitada para o Colégio Estadual de Sergipe (Atheneu), onde ministrou as disciplinas Trabalhos Manuais (na 2ª série ginasial, turmas D e E – com três aulas semanais) e Economia Doméstica (na 4ª série, turmas C e D no total de quatro aulas semanais). Segundo Maria Lígia Madureira Pina (entrevista concedida em 18/06/2005), ela era contratada e quando fez concurso para postalista deixou de ensinar na rede estadual. Contudo, não abandonou o Magistério, de tal modo que recorreu ao Dr. José Rolemberg Leite, então diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e começou a ministrar aulas nessa instituição. O SENAI situava-se, a época, na Rua de Própria, 201, e Rosa Faria aos 29 anos, de 26/09/1946 a 05/12/1963, recebia um salário de Cr. $ 800,00 mensais, com Carteira Profissional de nº 20. 247 – Série 54ª, com Instituto de Industriários de nº 4453875 (SENAI: Registro de Empregados, nº 25 de 05 de dezembro de 1963). Sobre sua atuação profissional, os entrevistados ressaltaram a paixão pelo magistério, rigidez com que conduzia sua atuação pedagógica e o respeito que despertava nos alunos. Ela foi minha professora de artes e de trabalhos manuais. Na disciplina “Trabalhos Manuais” ela dava ênfase à arte. Era uma professora autêntica, dura, segura. Ela chegava à sala, nos recebíamos de pé. Quem tentasse fazer gracinha, se dava mal. Ela tinha pulso, dava duro no aluno e o aluno se enquadrava. E quando terminava o curso todos os alunos a adoravam. Isso aconteceu com ela e 8 com diversos outros professores (Jouberto Uchôa de Mendonça, entrevista concedida em 27/05/2005). Ao longo de sua trajetória profissional procurou aperfeiçoar-se, sendo inclusive contemplada, na década de 50, com bolsa para fazer curso de Artes Aplicadas no Rio de Janeiro pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial que teve duração de 18 meses. Rosa fez vários cursos, mais nunca ingressou em curso superior, porque não existia no Estado. As primeiras Faculdades foram sendo formando já na minha época, por essa razão, eu acredito que ela também não teve oportunidade de fazer Curso Superior, mas fez muitos cursos fora do estado de Sergipe. No Rio, ela foi premiada pela inteligência e pela distinção que ela demonstrava em tudo que fazia (Ivone Mendonça de Souza, entrevista concedida em 10/06/2005). Ainda no Rio fez curso de Extensão Universitária, na Universidade do Brasil, sobre a Psicologia Adolescente e Curso de Psicologia Educacional de Adolescente, promovido pela Associação Brasileira de Educação. Fez também Curso de Desenho em 1952 (Registro n.º D – 16299), com autorização de lecionar desenho em todo Território Nacional. Em 1956, fez o Curso de Didática pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, o Curso de Orientação Didática e Relações Humanas, pela Escola de Serviço Social de Sergipe e em 1959, de Psicologia pelo Centro Acadêmico “Silvio Romero”, da Faculdade de Direito de Sergipe, e ministrado pelo Profº João Batista Perez Garcia Moreno. Rosa Faria foi uma pessoa que exerceu múltiplas atividades. Ao enumerá-las ela informa que foi taquigrafa telegrafista, pesquisadora, poetisa, artista, jornalista e em primeiro lugar, professora. Desse somatório de atividades, gostaria de destacar a Rosa que associando seus conhecimentos de professora às artes da pintura, ajudou a construir uma memória de Sergipe, enquanto divulgava o nosso Estado (Beatriz Góis Dantas, entrevista concedida em 16/06/2005). Ainda como professora do SENAI em 1946, foi indicada para dar curso de artes plásticas em Petrolina, quando era bispo daquela cidade, D. Avelar Brandão Vilela. Como artista plástica e historiadora foi vencedora do concurso de pintura criado pela Prefeitura de Aracaju, alusivo ao Primeiro Centenário de Aracaju, sendo classificada em primeiro lugar. Segundo Pina (1994), Rosa foi vencedora do 1º Centenário de Aracaju, instituído pelo Prefeito Dr. Jorge Maynard e realizado no governo de Dr. Roosewelt Menezes, 1955, merecendo aplausos em público de pessoas expressivas da nossa sociedade, como Epifhânio Dorea e o artista Rodolfo Tavares. Em 1954, escreveu um trabalho sobre a crise do Adolescente, em 1947 fez a biografia do Primeiro Bispo de Sergipe, Dom José Tomás Gomes da Silva e em 1975, escreveu o Hino do 4º 9 Centenário do Início da Civilização em Sergipe e realizou várias exposições de pintura na capital sergipana, em Recife e Rio através de amigos como Dom Helder Câmara e Helena Lauly. Outro importante aspecto da trajetória de Rosa Moreira Faria foi à publicação do livro “Sergipe Passo a Passo pela sua História”, que consiste em cento e vinte e duas placas de cerâmica contando a História do nosso Estado, o qual se baseou em documentos. O livro “Sergipe passo a passo pela sua história” da autoria de Rosa Faria é uma tentativa de perenizar no suporte papel o que ela desenvolvia sobre objetos (tela, cerâmica porcelanizada sob a forma de pratos e azulejos), que apresentava ao público do seu Museu (Beatriz Góis Dantas – entrevista concedida em 16/06/2005). Ela tem obras não apenas em azulejo, mas em telas. Na casa de Ivone Mendonça de Souza, encontra-se a tela “Primavera”. A tela “Tempestade e Oração”, adquirida por Gisélia Torres, foi presenteado a Cáscia Mª F. Barros depois da sua morte. Outras obras foram doadas a parentes e amigos, a exemplo de “Romance Eterno”, “Espelho da Natureza”, “Nostalgia Sertaneja”. Na Associação Sergipana de Imprensa, encontram-se várias telas a óleo, assim como, na cidade de Capela onde se encontram vários painéis, entre eles, os do Colégio Imaculada Conceição e da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Criou também as comarcas “Gumercindo Bessa” para o tribunal de contas e de “Tobias Barreto” para a Procuradoria da Justiça. A sua mais importante obra possui uma cópia as quais se encontram na casa de Maria Lígia M Pina, e é denominada “Incêndio no Canavial”. Esta obra serviu de inspiração para que Ligia Pina, poetisa e membro da Academia Sergipana de Letras, registrasse sua impressão em um poema. A partir da tela “Incêndio no Canavial”, eu criei a história, baseada na escravidão. Ganhei até uma medalha do Rotary Clube, por causa desse poema . (entrevista concedida em 18/06/2005. Nessa perspectiva “condições objetivas” são entendidas como resultado da ação humana no mundo material. Isso conduz a operar com uma noção de objetividade histórica pensada como as condições particulares especificas em que os homens empreendem as suas atividades sob qualquer configuração: política, literária, social, cultural, econômica, religiosa (VIEIRA, 1995, p.10). Em 1968, Rosa fundou uma Galeria de Arte e História, transformada em 1977 em Museu de Arte e História Rosa Faria, único em Aracaju, construído sem ajuda de nenhum Órgão Público. Uma contrariedade por ocasião da realização de uma exposição sua na Galeria Álvaro Santos, quando foi informada que deveria retirar os quadros, porque outros artistas também 10 queriam expor seus trabalhos, levou-a a criar a Galeria de Arte Rosa Faria e posteriormente o Museu. Segundo Maria Ligia M. Pina, Ela se sentiu muito magoada. Mas como não era mulher de se render aos desgostos, coisas ruins que aconteciam, ela procurou dar a volta por cima, então foi que ela resolveu criar a própria Galeria. Depois ela foi multiplicando suas peças e transformou em Museu, tirou o titulo de galeria e botou o nome de “Museu de Arte e História Rosa Faria (entrevista concedida em 18/06/2005). O Museu de Arte e História apresentava-se para mim, muito mais como um espaço de divulgação de Sergipe, do que propriamente de pesquisa. Esse aspecto da potencialidade de pesquisa, a meu ver, ganha visibilidade a partir do momento em que o acervo de Rosa é incorporado pela UNIT e começou a ser catalogado o que revelou as fontes por ela utilizadas para fazer suas produções de prédios antigos, personagens etc. [...] (Beatriz Góes Dantas - entrevista concedida em 16/06/2005). Rosa Faria, pede o registro do seu trabalho “In Memorian” publicado pela primeira vez em 1º de dezembro de 1948, e a segunda edição em 04 der agosto de 1973, na qual consta à vida do primeiro Bispo, Dom José Gomes da Silva, em forma de calendário. O Museu de Arte e História “Rosa Faria” expunha obras de arte nas quais eram utilizados materiais como: ouro, platina, cerâmica vitrificada, vitral, etc. O Museu funcionava das 8h às 12h, das 14h às 18h e das 19h às 21h e era visitado por estudantes, professores, turistas, intelectuais, jornalistas, militares, clero e ministros, onde deixavam suas impressões como testemunho do inestimável valor do Patrimônio Cultural. Embora de temperamento reservado, ao longo da vida cultivou alguns amigos, como revela os depoimentos que se seguem: Eu conheci Rosa Faria, quando ingressei nos Correios e Telégrafos. Eu, funcionário da parte postal e ela da parte burocrática. Então no dia-a-dia, nos encontros que aconteciam por ocasião da chegada na repartição, nós tínhamos tempo para um dialogo, mesmo porque ela era uma pessoa culta, voltada às artes, e eu era um estudioso, um esforçado, uma pessoa que naturalmente desejava, como todo jovem na minha idade, vencer. Morava ali no parque Teófilo Dantas, juntamente com seus irmãos, era uma pessoa comunicativa, porém reservada, só falava e só se manifestava nas horas próprias, quando se tornava indispensável a sua participação. Estudiosa, pesquisadora, apaixonada e posso lhe dizer que, para mim, o seu maior heroísmo é que tudo fez não pensando nela, nem ajudada por quem quer que seja somente ajudada por Deus (José Sebastião dos Santos, entrevista concedida em 13/06/2005). Por tudo quanto realizou foi homenageada em vida com os títulos de: Amiga da Marinha em Salvador, no ano de 1991; Amiga de Exército; Medalha do Mérito Serigy nos graus de Oficial 11 e Comendador, concedidas respectivamente pelos prefeitos Jackson Barreto (1988) e Wellington Paixão (1991); Título de Cidadã Aracajuana concedido em 1986 pela Câmara Municipal, através do Projeto de Vereador Raul Andrade. Em 1991, recebeu o Troféu Destaque Imprensa, no 59° Aniversário da ASI. Foi reverenciada pelo programa TV Memória, pelo Jornal da Cidade e Gazeta de Sergipe (1989) e na página Memória de Sergipe do Jornalista Osmário Santos. Nos 25 anos de existência do Colégio Imaculada Conceição (1989), foi homenageada como Patrona do Colégio. Finalmente no ano de 1999 a Vereadora Nazaré Carvalho, elaborou um Projeto de Lei, aprovado pelo Prefeito João Augusto Gama da Silva, no qual denominava uma Rua do Loteamento Parque dos Coqueiros, com o nome “Professora Rosa Faria”. Rosa Faria todos os anos comemorava a Mudança da Capital (17 de março) e fazia uma grande solenidade em frente ao Museu Histórico para lembrar esta data. Ela conseguia fechar o trânsito e a programação contava com a presença das bandas de música do Exército e da Polícia Militar, de autoridades e estudantes das diversas escolas, fardados e perfilhados. Eram cantados hinos, hasteada a bandeira e em seguida ela proferia um discurso relatando a história da Mudança da Capital e culminava com a visitação ao Museu. Era um momento de educação cívica, em que ela, muito compenetrada, assumia seu papel de velha mestra. Tinha também uma função de incentivar nas jovens gerações o sentido de civismo, de culto as datas históricas que reativa, na memória do cidadão os feitos do passado (Beatriz Góis Dantas – entrevista concedida em 16/06/2005). Em 1º de maio de 1997, Sergipe foi surpreendido com a notícia do falecimento de Rosa Faria. Sua morte provocou uma grande comoção na cidade, o Corpo de Bombeiros conduziu o caixão envolto em uma bandeira de Sergipe em carro aberto. O Exército a Marinha e autoridades civis se fez representar. A partir da sua morte começaram as negociações para ver qual o destino as ser dado ao acervo. As amigas Lígia Pina, Cáscia Maria Freire de Barros, Cléia Brandão, tomaram a frente das negociações. Cássia Maria F. Barros, como tinha acesso à mídia, manteve por quinze dias seguidos a mídia falando do nome de Rosa Faria e do acervo e mostrando a necessidade do poder público adquiri-lo. Segundo Ivone Mendonça, havia um grupo de São Paulo, interessado em adquirir o acervo, mas Carmelita gostaria que ele ficasse em Sergipe, de modo que os amigos ficaram aguardando que os órgãos públicos se pronunciassem. Contudo, foi o professor Jouberto Uchôa 12 de Mendonça, proprietário da Universidade Tiradentes e admirador da obra de Rosa Faria, o primeiro sergipano a fazer a proposta. Nós as amigas dissemos a Carmelita, que quem deveria realmente ficar com toda a obra de Rosa Faria, era o Professor Uchôa, um homem voltado para as causas educacionais do Estado, ex-aluno dela, então, ninguém melhor do que ele para adquirir a obra. Momento histórico, da maior relevância assumido pelo Professor Uchôa. Todas nós, amigas de Rosa Faria, ficamos felizes por saber que a obra não seria transplantada para outro estado e muito mais, guardado, porque no Museu, no Memorial da Universidade Tiradentes (Ivone Mendonça de Souza, entrevista concedida em 10/06/05). Na missa de sétimo dia Professor Uchôa se fez presente e manifestou o desejo de incorporar o acervo de Rosa Faria ao Museu que ele pretendia organizar. Foram iniciadas as negociações, pois os amigos não queriam que houvesse uma venda, mais um acordo, porque com a venda você pode dispor depois do acerco como quiser. Neste caso foi feito um contrato onde foi estabelecido que enquanto D. Carmelita Faria vivesse ela receberia uma pensão em caráter vitalício que corresponderia ao salário de um professor pós-graduado da Universidade Tiradentes; todo dia 17 de Março a instituição que se comprometeria em realizar festividade em homenagem à mudança da Capital e acima de tudo manteria o acervo. Em contra partida, todo o acervo foi transferido para Universidade Tiradentes (UNIT) e após a morte de D. Carmelita, o acervo será incorporado definitivamente ao patrimônio da Universidade. Contrato que foi assinado em 14 de julho de 1997. No dizer do Reitor da Universidade Tiradentes Jouberto Uchôa de Mendonça, Rosa Faria fez com as mãos uma obra inédita que só uma máquina poderia realizar. Você saindo daqui para qualquer país, vê coisas monumentais, mas um trabalho igual ao de Rosa Faria não existe em país nenhum, ninguém produziu isso. Não existe em lugar nenhum no mundo, uma obra daquela qualidade feita à mão, por uma pessoa simples, você não encontra em lugar nenhum (entrevista concedida em 27/05/2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos a necessidade de fazer um estudo da vida social, cultural e profissional de Rosa Faria, com a finalidade de compreender quais motivos fomentaram a tal educadora construir através de pesquisas, um acervo artístico, retratando fatos históricos em azulejos, porcelanas, lajotas, ladrilhos e em telas parte da História do Brasil e de Sergipe. 13 Essas noções de totalidade, de cultura, nos levam a situar a história como um campo de possibilidades [...] a historia é a experiência humana [...] não tem um sentido único, homogêneo, linear, nem um único significado [...] fazer história como conhecimento e como vivência é recuperar a ação dos diferentes grupos que nele atuam, procurando entender por que o processo tomou um dado rumo e não outro; significa resgatar as injunções que permitiram a concretização de uma possibilidade e não de outras (VIEIRA, 1995, p. 11) Segundo ANAMARIA BUENO (2003. p. 6) trata-se de “desvendar as intricadas relações entre a mulher, a sociedade e o fato, mostrando como o ser social que ela é articula-se com o fato social que ela mesma fabrica e do qual faz parte integrante”. Foi possível constatar que Rosa Moreira Faria, contribuiu para divulgar a memória do Estado de Sergipe, seja educando os jovens com suas aulas de civismo e de história, seja retratando fatos históricos em artes, tendo como suporte o seu acervo, contribuindo assim para o desenvolvimento intelectual do povo sergipano. REFERÊNCIAS CRUZ, Maria Madalena da Silva. A Trajetória do Grupo Escolar Coelho e Campos (19181945). 2002. Trabalho apresentado à disciplina prática de pesquisa (Graduação em História), Universidade Federal de Sergipe, Própria, 2002; Cf. Livro de Atas do Colégio Imaculada Conceição. p. 55.8; FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de. Educação, trabalho e ação política: sergipanas no inicio do século XX. 2003. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de CampinasFaculdade de Educação, Campinas, 2003; GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994; LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas: da biografia. In: RÉMOND, René. Por uma história política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 141-184; NUNES, Maria Thetis. História da educação em Sergipe. Aracaju: UFS, 1984; 14 PINA, Maria Ligia Madureira (coord.). Jornal da Academia Literária da Vida. Aracaju; ano 1, nº 0-junho e julho de 1997; SOUZA, Josefa Eliana. Nunes Mendonça: um escolanovista sergipano. São Cristóvão: UFS, 2003; SENAI: Registro de Empregados, nº 25 de 05 de dezembro de 1963; VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha; KHOURY, Yara Maria Aun. A pesquisa em história. 3ªed. São Paulo: Ática, 1995. (Série Princípios); ENTREVISTAS Beatriz Góis Dantas, historiadora - entrevista concedida em 16/06/2005; Cascia Maria Freire de Barros, amiga e advogada - entrevista concedida em 12/06/2005; João Guilherme da Rocha Farias, irmão – entrevista concedida em 31/05/2005; Manoel Cabral Machado, amigo - entrevista concedida em 24/05/2005; Ivone Mendonça de Souza, amiga - entrevista concedida em 10/06/05; José Sebastião dos Santos, amigo - entrevista concedida em 13/06/2005; Maria Ligia Madureira Pina, amiga - entrevista concedida em 18/06/2005; Jouberto Uchôa de Mendonça, ex-aluno - entrevista concedida em 25/05/2005. 15