museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes AT museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes câmara municipal de abrantes Fernando António Baptista Pereira Presidente Luiz Oosterbeek Nelson Augusto Marques de Carvalho textos Davide Delfino Gustavo Portocarrero fundação estrada Luís Manuel Araújo Presidente Luís Jorge Gonçalves João Lourenço Sigalho Estrada Rui Oliveira Lopes promotor arquitectura Câmara Municipal de Abrantes João Luís Carrilho da Graça Colaboração museologia e história da arte Susana Rato Fernando António Baptista Pereira Nuno Barros Colaboração (História da Arte) Clara Bidorini Luís Manuel Araújo Rui Oliveira Lopes comunicação P-06 atelier, ambientes e comunicação arqueologia Luiz Oosterbeek (coordenação) catálogo Davide Delfino Paulo Passos Gustavo Portocarrero Divisão de Comunicação / CMA colaboração fotografia Luís Jorge Gonçalves Fernando Sá Baio Manuel Calado Paulo Passos Instituto Politécnico de Tomar Divisão de Comunicação / CMA restauros montagem museográfica de peças Justina Borralho José Manuel Frazão construção Construções António Martins Sampaio, Lda produção de lettering Demetro a Metro, Lda impressão Tipografia Central do Entroncamento, Lda museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes O Convento de São Domingos, peça central do património edificado da cidade de Abrantes, procurava uma vocação e um destino. A colecção de arqueologia do Senhor João Estrada (a que se juntaram as colecções da pintora Maria Lucília Moita e do escultor Charters de Almeida, entretanto doadas ao Município) procuravam um local para serem oferecidas à cidade, às pessoas, à comunidade. Saúdo este bom encontro, que me permite agora o privilégio de apresentar, em exposição de antevisão, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes. Este vai ser o grande museu central da região, rica em património edificado, mas sem um grande museu de referência. Este Museu vai, com o Museu de Arte Pré-Histórica de Mação e o Centro de Interpretação de Arqueologia de V.N. Barquinha, definir um eixo patrimonial que constituirá uma marca territorial de referência e se juntará, nos incluirá e valorizará, o arco patrimonial norte de Lisboa (Sintra, Mafra, Óbidos, Alcobaça, Batalha, Tomar, Almourol). Este Museu constituiu, na política da cidade de Abrantes, um factor central de identidade, diferenciação e atractividade capaz de aprofundar a competitividade da cidade e do seu território. E é bom, e devemos orgulhar-nos disso, que uma marca da nossa identidade e diferenciação, um factor central da nossa atractividade e competitividade, se construa em torno deste riquíssimo património cultural e da introdução e reforço de funções tão nobres como o património e a cultura, a investigação e o conhecimento, a educação e a pedagogia, o turismo cultural e a integração em redes de colaboração internacional. museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes E é com este projecto, com o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes, com estas novas e qualificadas funções, que o nosso Centro Histórico, e com ele todos nós, se re-encontra com a História e se projecta no futuro. Foi com esta certeza e esta responsabilidade que quisemos pôr-nos a caminho com uma grande equipa de projecto, com a qualidade, o prestígio e o reconhecimento público do Arquitecto Carrilho da Graça, do Museólogo Professor Fernando António Batista Pereira e do Arqueólogo Professor Luíz Oosterbeek. Caminho feito – e a fazer - com grandes parceiros. O Senhor João Estrada e a Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos. A pintora Maria Lucília Moita. Mestre Charters de Almeida. A Cidade de Abrantes tem convosco uma grande dívida e está-vos reconhecida. Dívida que, todavia, só mesmo a abertura do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte virá saldar. Desde já, obrigado. Nelson de C arvalho P re si de n t e da C â m a r a Mu n ic i pa l de A b r a n t e s raízes, orientação e resultados de uma actividade coleccionista Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos João Lourenço Estrada Final e felizmente, a colecção de arte e arqueologia da Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos encontrou um destino, um, de entre os muitos possíveis, sempre almejado pelo promotor da sua recolha e reunião, o Senhor João Lourenço Estrada. As colecções agora apresentadas através desta mostra preliminar foram reunidas com o empenho e a paixão do coleccionador que não tem por móbil a posse mas a partilha. E é por isso que aqui estão. Cada objecto, artefacto ou obra-pima foi para ele uma lição viva de história e de cultura humana que quis partilhar com todos. Foi, já desde há muito, na partilha e comentário que foi suscitando com aqueles que o acompanhavam, que o espírito refinado da selecção e da opção se foi construindo e reconstruindo. O mínimo que podemos dizer do espírito com que o Senhor João Estrada reuniu esta colecção é que foi a sua humildade e o seu ensejo de saber que edificou os critérios que presidiram à sua orientação. Ao tomar em mãos a iniciativa de gerar o contexto em que estas colecções são oferecidas à partilha e fruição da comunidade, a Câmara Municipal enobrece-se, bem como os restantes parceiros que intervêm na iniciativa. Ganha Abrantes, ganha a Nação, ganha a cultura. Nunca foi outro o intento almejado pelo Senhor João Estrada e pela Fundação Ernesto Lourenço Estrada & Filhos à qual foi doada. Um dia saber-se-á o que está por detrás da recolha de uma colecção como a que agora se apresenta. Os dilemas, o sacrifício, o prescindir muitas vezes do efémero que muitos almejam, para dedicar o coração e os terrenos bens a um intuito, a um programa, a um fim. E nunca houve vaidade. Pelo contrário, estava sempre por cumprir o objectivo, que era sempre mais longínquo. Que aqueles a quem agora se entregam estas colecções as saibam transformar numa plataforma dinâmica para ir mais além, na sua preservação, na sua valorização, nos estudos e explorações de sentido que pode suscitar. Porque é já neste patamar que ela se transformará, derradeiramente, num bem e numa aquisição cultural. Temos a certeza de que a Câmara Municipal de Abrantes e as entidades que colaboram neste projecto serão os herdeiros do espírito e dedicação que presidiu à diligência do Senhor João Estrada ao recolher estas colecções. Ele cumpriu o seu árduo papel. Cumpramos nós o nosso. José Henriques um novo pólo de investigação e de didáctica do conhecimento A organização de um novo Museu, localizado em Abrantes mas inscrito numa lógica de rede regional e de projecção nacional, corresponde a uma necessidade há muito pressentida. O Alto Ribatejo, espaço de confluência entre a Estremadura, o Ribatejo, o Alentejo e as Beiras, ocupa o essencial do que em tempos foi designado por polígono Tomar–Abrantes–Torres Novas, e integra não apenas importantes conjuntos arqueológicos e históricoartísticos, mas também relevantes infra-estruturas de investigação e de valorização patrimonial, com destaque para o Instituto Politécnico de Tomar. Não existe, no entanto, um grande Museu central nesta região. Certamente que existem espaços patrimoniais de grande relevância (como o Convento de Cristo, em Tomar), mas apesar da sua enorme importância eles não são Museus globais e não dispõem de recursos laboratoriais e humanos vocacionados para a investigação (coluna vertebral de qualquer Museu). Existem também importantes núcleos museológicos (com destaque, na arqueologia, para o Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, MAP, e para o Centro de Interpretação de Arqueologia em Vila Nova da Barquinha, CIAAR), mas apesar de estes possuírem forte atractividade e uma componente de investigação de projecção internacional, são tematicamente muito especializados. A consciência da necessidade de criar um Museu com uma vocação ampla e adequado à nova dinâmica sóciocultural e económica (que polarizou a região em torno da A23), gerou um primeiro projecto há poucos anos, no quadro do 3º Quadro Comunitário de Apoio, que no entanto não se chegou a concretizar. O crescimento geométrico do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, com o apoio da autarquia, do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e da Comissão Europeia, demonstrou no entanto que a necessidade permanece. museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes A feliz parceria que se estabeleceu entre a Fundação Estrada e a Câmara Municipal de Abrantes vem, desde logo, colmatar essa necessidade. Mas ela representa mais do que isso. Apoiado numa paixão pelo passado do território hoje Português anterior à Nacionalidade, o Sr. João Estrada consagrou grande parte dos seus recursos financeiros à organização de uma colecção de objectos que seleccionou pela sua múltipla valia arqueológica, histórica e artística, com especial relevância para a primeira e última destas dimensões. E reuniu essa colecção com o intuito não de mero usufruto pessoal, mas de disponibilização social. É isso que significa a abertura anunciada do novo Museu em Abrantes: uma parceria entre os sectores público e privado, pela qual um acervo reunido com meios privados é colocado ao dispor de toda a sociedade e com uma co-tutela pública. A reunião de uma tão ampla colecção como a que o Sr. João Estrada reuniu (cerca de cinco milhares de objectos) colocou desafios específicos ao Museu. Não se tratando de peças provenientes de escavações arqueológicas, e sim de aquisições pontuais (especialmente em leilões no País e no Estrangeiro), a definição de conjuntos coerentes do ponto de vista arqueo-histórico não é tarefa fácil. A estratégia definida desde o início, por acordo com os parceiros mencionados, foi a de realizar um inventário crítico sistemático, constituindo uma equipa multidisplinar de base e envolvendo diversos especialistas (para as temáticas específicas que aquela equipa foi identificando). Todo o trabalho de organização do Museu foi, por isso, orientado desde logo para a estruturação de um pólo de investigação, que se pretende rigoroso e aberto ao escrutínio académico. Este pólo de investigação tem uma orientação conceptual e três prioridades estratégicas. No plano conceptual, trata-se de um pólo que promove o estudo dos artefactos na sua dupla dimensão arqueológica e artística. De facto, foram estes os critérios que presidiram à formação da colecção, e o valor desta decorre deles. Nestes termos, a equipa que tem vindo a trabalhar sobre a colecção apoia-se, também, nos recursos, por um lado, do “Grupo de Quaternário e Pré-História do Centro de Geociências”, sedeado no Museu de Arte Pré-Histórica de Mação (para a vertente arqueológica) e, por outro, no Instituto Francisco de Holanda, secção de Ciências da Arte e do Património do Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA), sedeado na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (para a vertente artística e museológica). Desta opção conceptual, decorrem quatro grandes prioridades. Em primeiro lugar, a focalização na tentativa de contextualizar os materiais, recorrendo não apenas a estudos de estilo (essenciais), mas também a caracterizações dos processos e técnicas de produção e dos constituintes, visando sempre que possível uma datação rigorosa dos objectos (envolvendo diversos laboratórios, no País e fora dele, por forma a cruzar resultados e potenciar a acreditação dos resultados analíticos). Esta prioridade, que foca os aspectos da proveniência dos objectos, tem permitido reunir algumas competências e protocolos de análise, que deverão permitir a criação, no futuro Museu, de um núcleo de avaliação crítica de objectos arqueológicos recolhidos fora de contexto conhecido. Em segundo lugar, o Museu definiu a preocupação de desenvolver componentes analíticas menos disponíveis no País. Neste campo, manterá estreitas relações com os laboratórios que na região e no País possibilitam a realização de estudos arqueométricos (com especial articulação com os laboratórios do IPT), e investirá especialmente na organização de laboratórios no sector dos metais, já que estes constituem uma componente especialmente relevante do acervo do Museu. Em terceiro lugar, foi assumida como essencial a criação futura de um pólo de investigação permanente no Museu, gerido em parceria pelos dois Centros de Investigação antes mencionados. Este pólo, especialmente vocacionado para a arqueologia proto-histórica e histórica e para a história da arte, museologia e peritagem artística, deverá acolher, também, pesquisadores e estudantes de Mestrado e de Doutoramento, no âmbito dos referidos Centros. Em quarto lugar, e em estreita conexão com a prioridade anterior, foi decidido criar um núcleo bibliográfico de referência para as temáticas dominantes do Museu que permita precisamente apoiar os investigadores que se desloquem a Abrantes com um interesse nelas centrado. Este núcleo, já em estruturação, será um pólo da rede bibliográfica que já integra o MAP e o CIAAR, que tem com o objectivo atingir, globalmente, os 10.000 títulos até 2013. A exposição que agora se apresenta ilustra, como se diz no texto do Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira, coordenador de todo o projecto, as principais temáticas das colecções do futuro Museu, que assume como componente central as colecções reunidas pelo Sr. João Estrada, mas integrará também outras, provenientes de trabalhos desenvolvidos pela Câmara Municipal de Abrantes, pelo Instituto Politécnico de Tomar e por outras entidades, além das doações de João Charters de Almeida e de Maria Lucília Moita. A selecção das obras para exposição evidencia o interesse cultural da colecção, embora não inclua diversas peças de grande relevância cujo estudo ainda decorre e que serão reveladas apenas na inauguração do Museu. É, no entanto, uma selecção já estruturada segundo o eixo programático central do Museu: promover o conhecimento e o debate alargado sobre o passado humano no Ocidente Peninsular e no Mediterrâneo, incluindo nesse debate a didáctica dos métodos e critérios de investigação. Pretendese, com efeito, que os visitantes tomem consciência da complexidade da investigação arqueo-artística, envolvendo-se no rigor dos estudos de contextualização e atribuição cultural dos objectos individualmente considerados. Nestes termos, a selecção inclui peças com claros paralelos em contextos arqueológicos escavados e bem conhecidos, mas integra também outras peças que levantam interrogações, e mesmo algumas sem paralelos. Como acontece em muitos museus que possuem colecções arqueológicas não provenientes de escavações, o MIAA tem no seu acervo muitas peças de difícil atribuição ou de, por vezes, contraditória filiação. O Museu assume como opção estratégica a exposição progressiva dessas peças, apoiada em estudos críticos, promovendo assim uma didáctica do conhecimento global, e não apenas a disseminação de interpretações histórico-culturais. Pretende-se assim escapar das soluções fáceis que seriam ou a não exposição de tais objectos (com a consequente demissão do dever de investigação) ou a sua exposição acrítica (que em nada contribuiria para fomentar o juízo crítico dos visitantes). Com a opção que agora se assume, o Museu espera concitar o interesse de investigadores externos, cuja colaboração é desejada e será acarinhada num espaço de pesquisa contínua, colectiva, transparente e academicamente rigorosa. Luiz O osterbeek P rof e s s or C o orde na d or d o In st i t u to Pol i t é c n ic o de Tom a r museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes o edifício caracterização sumária do edifício do convento de s. domingos Um antigo convento dominicano foi fundado ainda no século XV (1472), nos arredores de Abrantes, por iniciativa de D. Lopo de Almeida, 1º Conde de Abrantes, mas a insalubridade do local motivou o seu abandono, anos depois, e a transferência da comunidade para uma nova construção, junto ao centro urbano. Esse novo Convento de S. Domingos, que se tornaria um dos complexos edificados religiosos mais importantes de Abrantes, foi mandado construir por iniciativa da coroa, pelos anos de 150917, e sofreu obras de remodelação em 1542-47, dirigidas por Pêro Fernandes, que lhe conferiram o interessante carácter classicizante que conserva até aos dias de hoje. O convento contou com o alto patrocínio do Infante D. Fernando, filho de D. Manuel, que se faria sepultar, com sua mulher, D. Guiomar Coutinho, na capelamor da igreja. A estrutura do convento encontra-se adaptada com felicidade ao terreno de implantação, um planalto sobranceiro ao vale do Tejo. Planimetricamente, todas as dependências se encontram organizadas em redor do vasto claustro rectangular de dois andares, com arcarias assentes em elegantes colunas toscanas típicas do Renascimento português. O bloco que originalmente constituía a igreja (de nave única) encontra-se adossado à fachada poente, com frontaria saliente, e foi redesenhado pelo Arquitecto Duarte Castel-Branco para servir de entrada à Biblioteca Municipal. As fachadas poente e nascente prolongam-se para sul fazendo crer que se previa um segundo claustro ou, pelo menos, um pátio, sob o qual se situa a cisterna. De acordo com o levantamento de 1866, feito pelos militares, a fachada poente (em que se abre a portaria conventual) era mesmo a mais longa de todas, criando um vasto corpo com algumas das características dos restantes, mas avançando para sul, já completamente fora do perímetro construído, num possível projecto de alongamento enorme do segundo claustro ou pátio. Esse corpo seria muito aumentado pelos militares no sentido poente, exteriormente ao perímetro original, oferecendo actualmente um aspecto arquitectónico sem qualquer interesse, o que propicia a sua demolição com vista à implantação dos corpos de ampliação do edifício para instalação do museu. A utilização do edifício do convento pelo exército começou muito antes da extinção das Ordens Religiosas, decretada em 1834, e do próprio abandono por parte da comunidade religiosa, ocorrido no ano anterior, pois, desde os finais do século XVIII, se aquartelaram tropas em parte do convento e, a partir de 1810, se instalou mesmo um hospital militar. O mais antigo levantamento do edificado data de 1866, antes das grandes alterações promovidas pelo exército para adaptar o imóvel a hospital e a quartel. As obras modificaram profundamente a igreja, ainda hoje identificável na planimetria e volumetria do conjunto, e acrescentaram construções em vários pontos do edifício, nomeadamente no segmento sul da ala poente, como atrás se disse. Contudo, grande parte da estrutura planimétrica e da volumetria originais do convento se conservou quase intacta. Na área da portaria conventual, servida por um portal de desenho setecentista, nota-se uma reorganização espacial dessa época, envolvendo revestimentos decorativos em azulejo. Subsistem no mesmo local lápides referentes a acontecimentos marcantes da história das unidades militares sedeadas no convento ou na cidade. Estes e outros elementos que se referem à história do edifício ou da cidade serão conservados. O rico recheio escultórico e pictórico do extinto convento foi distribuído, em 1847, pelas igrejas paroquiais de S. João Baptista e de S. Vicente da cidade, onde ainda hoje se reconhece, muito mal integrado nos altares laterais ou nas capelas-mores, e, na maioria dos casos, em sofrível estado de conservação. Pensamos que deverá ser considerada, com a abertura do museu, a hipótese do seu restauro e eventual incorporação no seu acervo. No início da década de 70 do século XX, o imóvel, entretanto parcialmente devoluto e ameaçado de demolição, sustida por intervenção do então ministro Arantes e Oliveira, foi classificado como Imóvel de Interesse Público, por decreto de Dezembro de 1974. Quatro anos antes, fora minimamente arranjado para albergar a Exposição Mestres do Sardoal e Abrantes, importante mostra de Pintura Portuguesa dos finais do século XV e primeira metade do XVI, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Só nas décadas de 80 e 90 do século passado, novas e profundas obras foram realizadas no edifício. Com projecto do Arquitecto Duarte Castel-Branco, o conjunto do que outrora fora a igreja, parte do claustro e algumas dependências contíguas foram adaptados para neles ser instalada a Biblioteca Municipal António Botto, inaugurada em 1993. Originalmente, o arquitecto pensara recuperar a totalidade do imóvel com vista à sua reutilização para fins culturais. Foi com esse objectivo em mente que procedeu à recuperação da totalidade da arcaria e das colunas do claustro, algumas delas entaipadas desde os tempos da utilização do imóvel pelo exército. Os restantes espaços do convento foram entretanto ocupados pelo Instituto Politécnico de Tomar, que aí tem vindo a ministrar diversos cursos, designadamente de Comunicação Social, tendo igualmente mandado construir, em áreas limítrofes, uma cantina. O vasto espaço que, na origem, estaria destinado a um pátio ou segundo claustro nunca construído, encontra-se actualmente utilizado, na sua maior parte, como parque de estacionamento, com uma das entradas pelo portal que liga os dois corpos da fachada poente. Trata-se de um espaço amplo, com excepcional vista sobre o vale do Tejo, que permitirá o natural prolongamento do edificado, tal como se prevê no Projecto do Ateliê do arquitecto Carrilho da Graça. Em termos artísticos, o convento apresenta alçados de alguma modéstia, à excepção do claustro, mas em quase todos eles há uma certa regularidade de implantação dos vãos que permite reconhecer a autenticidade da esmagadora maioria dos mesmos, que será respeitada. Há evidentes acrescentos relativamente recentes (séculos XIX e XX), de muito fraca qualidade, que deverão ser demolidos, para deixar o edifício respirar na sua dimensão mais próxima da construção histórica original. Também irão ser restituídos os circuitos originais de ligação entre os pisos e renovados ou aumentados esses acessos de acordo com as exigências museológicas, numa expressão claramente diferenciada. Os tectos e as coberturas apresentam diversos tipos de materiais quase sempre perigosamente combustíveis e, em muitos casos, em precário estado de conservação, pelo que terá ser encarada, no seu conjunto, a sua preservação ou substituição face às exigências e necessidades museológicas. De igual modo, serão reavaliados os pavimentos e tomadas medidas quanto à sua conservação, substituição total ou parcial e eventual alteração de cotas, tendo em atenção a circulação museológica. É aconselhável completar o fecho em vidro do claustro, nos dois pisos, para potenciar os circuitos museológicos, embora mantendo um sistema de circulação controlada entre a Biblioteca e o futuro museu. Fernand o antónio bap tista pereira 10 11 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes arquitectura museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Introdução Situação Actual O Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, a instalar no edifício do convento de S. Domingos em Abrantes, é promovido pela Câmara Municipal de Abrantes e pela Fundação Estrada. Tem como vocação fundamental apresentar as colecções de Arqueologia, de História e de Arte, desde a Pré –História até à Época Contemporânea, reunidas pelas duas instituições. A proposta engloba o restauro e conservação do edifício existente e a sua ampliação, de forma a possibilitar a adaptação a Museu. Trata-se do desenvolvimento de um projecto de recuperação/ reestruturação/ ampliação com componente museológica, oferecendo condições físicas e técnicas apropriadas tornando assim possível o acesso a bens culturais, actualmente inacessíveis ao público por falta de espaços condignos, respondendo ao papel social, cultural e educativo a que um museu aspira . Implantado num planalto dominante sobre o vale do Tejo, localizado na Praça da Republica, O Convento de S. Domingos, edificado no séc XVI, tem uma localização e um carácter arquitectónico que à partida o individualiza e lhe confere um lugar de destaque relativamente ao centro histórico de Abrantes. O edifício alberga a Biblioteca Municipal António Botto que ocupa o conjunto do que outrora fora a igreja . Os restantes espaços do convento estão ocupados pelo Instituto Politécnico de Tomar, que irá em breve ser transferido para um novo edifício. Ao longo dos anos o convento foi alvo de obras de consolidação, nomeadamente a nível estrutural. Praticamente em todas as alas os pavimentos originais foram substituidos por lajes de betão. Apenas a ala Poente mantém ainda a sua configuração original. O edifício apresenta sinais evidentes de degradação. Para além da cobertura, que será necessário substituir, os rebocos e pavimentos estão muito deteriorados. museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes data início projecto 2008/ ... Projecto Programa João Luís Carrilho da Graça, arquitecto O projecto contempla quatro grandes áreas: Colaboradores Susana Rato, Yutaka Shiki, Vanessa Pimenta, Nuno Pinho (arquitectos) espaços museológicos núcleos temáticos permanentes, galeria de exposições temporárias. espaços interdisciplinares centro de investigação, centro de restauro de arqueologia e arte espaços de apoio ao funcionamento interno do museu serviços administrativos e de direcção, reservas, armazém. espaços comuns, de apoio e acesso ao público recepção, cafetaria/ restaurante, auditório (150 lug), loja/ livraria, serviço educativo, instalações sanitárias. Intervenção torre Proposta de um edifício novo, que integrará de forma racional e eficaz todos os sistemas (climatização, iluminação, segurança contra incêndios e intrusão, entre outros) fundamentais a um espaço expositivo, para apresentação da “colecção Estrada” - Arqueologia e Arte da Pré-história e da Antiguidade. Um volume de planta quadrada, com 23x33m e sete pisos - seis de exposição e um, o último, destinado a cafetaria - revestido com uma tela textil. O volume é intersectado por um vazio coleante que atravessa todos os pisos, perfurando-os. Cria-se um espaço uno de exposição inundado pela luz natural. A vista para o exterior é pontuada por uma janela em cada piso direccionada para pontos essenciais da paisagem - o castelo, o rio , a cidade. Paulo Barreto e Vanda Neto (maquetistas) Vasco Melo ( fotografia) Fundações e Estrutura ADF, Engenheiros Consultores, Lda. / António Adão da Fonseca e Pedro Morujão Instalações Mecânicas Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Fisica dos Edifícios Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Acústica Natural Works, Projectos de engenharia e optimização energética / Guilherme Carrilho da Graça Instalações Hidráulicas, Gás ADF, Engenheiros Consultores, Lda. / Ferrnanda Valente Instalações Eléctricas, Telecomunicações e Segurança A proposta teve como preocupação prioritária a explicitação dos valores patrimoniais do conjunto, da mesma forma que procurou responder, com uma solução adequada e flexível, às exigências programáticas solicitadas pelo Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de que Abrantes carece. A instalação de um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte no Convento de S. Domingos pressupõe distintas operações: convento Restauro e reabilitação do edifício existente incluindo a introdução de sistemas de infraestruturas adequados a espaços museológicos e de apoio. A nível programático propõe-se que o piso 0 do convento, seja ocupado maioritariamente por espaços de apoio ao museu. O piso 1 será destinado a núcleos expositivos. 12 13 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes baluarte Proposta de desaterro de área envolvida pela antiga muralha para introdução do piso principal de entrada no museu (espaços comuns, de apoio e acesso ao público) e da galeria de exposições temporárias; GPIC, Projectos de Instalações e Consultadoria, Lda. / Fernando Aires e Alexandre Martins Arquitectura Paisagista Global Lda. / João Gomes da Silva design gráfico P06 Atelier, Ambientes e comunicação Lda. Fotografia espaços exteriores e estacionamento Requalificação da envolvente exterior, com o objectivo de servir o museu numa vertente de lazer, associada à fruição dos espaços públicos; reestruturação dos acessos viários e pedonais e do estacionamento existente à superfície. FG+SG Fotografia De Arquitectura / Fernando Guerra e Sérgio Guerra João Silveira Ramos Museologia e História de Arte Fernando António Baptista Pereira Arqueologia Luiz Oosterbeek Área Bruta 10 698 m2 Promotor João Luís C arrilho da Graça Câmara Municipal de Abrantes a rqu i t e c to e Fundação Estrada planta do piso -2 [cota 149,26] planta do piso -1 [cota 155,02] FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra) planta do piso 0 [cota 161,50] 1. recepção / bilheteira / loja 2. foyer/átrio 3. exposição permanente núcleo Estrada 4. exposições temporárias 5. exposição permanente: núcleo Maria Lucília Moita núcleo João Charters de Almeida núcleo história do convento 6. auditório 7. recepção serviço/central de segurança 8. centro de investigação 9. administração 10. serviço educativo 11. gabinetes técnicos 12. centro de restauro de arqueologia e arte 13. reservas 14. cargas e descargas 15. instalações de pessoal 16. pátio 17. claustro 14 15 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes planta do piso 1 [cota 167,10] a. entrada museu b. acesso núcleo estrada c. acesso convento d. acesso exposições temporárias e. entrada de serviço f. entrada centro de investigação / convento g. entrada administração Vasco Melo João Silveira Ramos Vasco Melo FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra) 16 corte transversal 17 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes as colecções o museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes do conceito à exposição de antevisão O Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes (MIAA) tem por missão apresentar as colecções de Arqueologia, de História e de Arte, desde os tempos Pré-Históricos até à Época Contemporânea, tanto de origem local, regional e nacional como de origem internacional, recolhidas por iniciativa do Senhor João Estrada e da Câmara Municipal de Abrantes, que permitam uma visão amplamente contextualizada da sucessão, no tempo e no espaço, de culturas e de formas artísticas que se reportem às origens e evolução do que é hoje a realidade portuguesa, quer como ponto de encontro entre o mundo ibérico, o mediterrânico e o norte europeu, quer numa dimensão de expansão pluricontinental. Dada a natureza e a abrangência temática, geográfica e cronológica das colecções recolhidas, será dado o devido relevo à questão da remota individualidade das culturas que se sucederam no território do ocidente peninsular. A designação adoptada de Museu Ibérico de Arqueologia e Arte justifica-se plenamente, devido, em especial, à representatividade das colecções e à possibilidade de com elas se contextualizar o mundo ibérico no universo mais vasto do Mediterrâneo. Destaca-se, no acervo, a colecção relativa à Pré e Proto-história, assim como à Antiguidade Clássica, recolhida principalmente no antigo território da Lusitânia e regiões limítrofes, que, não temos dúvidas, suscitará, logo que seja cientificamente divulgada, pedidos para exposição e intercâmbio com outros museus nacionais e estrangeiros. Esta esperada projecção internacional justifica, desde logo, a concepção dupla de Museu e de Centro de Investigação que será implementada. 18 19 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes O MIAA não conta apenas com colecções de Arqueologia, mas também de Arte, que se estendem desde os tempos Pré-Históricos até à Época Contemporânea, tanto de origem local, regional e nacional como de origem internacional, recolhidas por iniciativa do Senhor João Estrada e também por parte da Câmara Municipal de Abrantes, sobretudo as que integravam o antigo museu D. Lopo de Almeida, instalado na igreja de Nossa Senhora do Castelo, Panteão dos Almeidas, espaço que passará a funcionar como um anexo do novo museu. O MIAA vai ser instalado num edifício que é propriedade da edilidade, o antigo convento de S. Domingos de Abrantes, cuja caracterização histórica e artística fazemos noutro capítulo deste catálogo. Esse edifício deverá, para esse fim, sofrer obras de recuperação e de adaptação, envolvendo também uma significativa ampliação, que estão confiadas ao Ateliê JLCG, chefiado pelo Arquitecto João Luís Carrilho da Graça, recentemente galardoado com o prestigioso Prémio Pessoa. O Projecto do MIAA, que se afirma como intervenção arquitectónica autoral de excelência no centro histórico de Abrantes, é objecto de extensa e documentada apresentação nesta exposição e no catálogo que a acompanha. O signatário, que é, por escolha da Câmara Municipal de Abrantes, o autor do conceito e programa museológicos do MIAA, contou com a colaboração científica, para os períodos da Pré-História e da Antiguidade, do Prof. Doutor Luís Oosterbeek, do Instituto Politécnico de Tomar, que, desde a primeira hora, se encontra integrado na equipa multidisciplinar que irá desenhar e realizar o Museu e que assina o texto seguinte deste catálogo, sobre a importância da investigação na instituição que agora se apresenta. Essa equipa conta com vários colaboradores de relevo no meio académico português, alguns dos quais assinam os textos científicos deste catálogo. O MIAA irá contar com as seguintes colecções cedidas pelo Sr. João Estrada, que ascendem, de momento, a cerca de cinco mil entradas de catálogo: 1. Artefactos arqueológicos pré e protohistóricos em pedra, cerâmica, bronze e outros materiais, representativos da vida económica e social de várias culturas e povos que ocuparam diversas áreas do território nacional; 2. Escultura, artefactos militares e peças de adorno com a mesma cronologia e proveniência; 3. Exemplares de Arte da Antiguidade Oriental e Clássica, com destaque para peças egípcias, gregas, etruscas e romanas; 4. Conjuntos de ourivesaria e objectos de adorno, recolhidos no que foi o antigo território da Lusitânia, que se estendem do Calcolítico à Época Romana Tardia e à Alta Idade Média; 5. Exemplares de Arte Islâmica e das Artes Asiáticas, com especial destaque para as culturas da China antiga; 6. Numismática; 7. Fragmentos de Arquitectura Romana, Medieval e Moderna; 8. Arte Sacra dos séculos XIII a XVIII; 9. Pintura dos séculos XVII a XX; 10. Relógios de várias épocas. Por seu turno, a Câmara Municipal de Abrantes inclui no MIAA não apenas as colecções de Arte Antiga que integravam o Museu D. Lopo de Almeida (em que se destacam várias esculturas em pedra e em madeira do Renascimento ao Barroco e uma pintura quinhentista da oficina do pintor luso-flamengo Francisco Henriques), mas também os acervos de Arqueologia e História Local que têm vindo a ser recolhidos, mediante escavações arqueológicas, no território do concelho, assim como as colecções de Arte Contemporânea legadas pela Pintora Maria Lucília Moita e pelo Escultor João Charters de Almeida. Estas colecções poderão e deverão ser enriquecidas com outros depósitos, doações ou aquisições, de particulares ou de entidades locais, de acordo com a política de incorporações que vier a ser definida. A título de mero exemplo, pode dizer-se que o MIAA tem todas as condições para vir a ser o locar de conservação e restauro e de depósito, mantendo a propriedade original, com vista a uma condigna exposição, do rico património de Pintura Antiga das igrejas da cidade e da sua Misericórdia. Em termos de vocação, o MIAA será um museu interdisciplinar de ArqueologiaHistória e de Arte, de abrangência territorial regional-internacional e de tutela mista público-privada, que assentará em protocolos estabelecidos entre a Fundação Estrada e a Câmara Municipal de Abrantes. Relaciona-se, pela sua vocação, com os museus locais, regionais e nacionais de arqueologia, história e arte. Procurará traçar, graças à originalidade da composição dos seus acervos, um percurso programático, quer expositivo, quer de actividades, profundamente singular no panorama nacional e peninsular. Por outro lado, o MIAA não se limitará a ser um importante pólo expositivo de uma colecção que será, a vários títulos, de referência não apenas nacional mas internacional, vai também integrar, como já foi dito e extensamente se desenvolve no texto seguinte, um Centro de Investigação que irá aprofundar o estudo das suas colecções, promover novas exposições e estabelecer parcerias para projectos de investigação com Universidades, Autarquias e outros museus nacionais e estrangeiros. Em suma, o MIAA tem todas as condições para vir a tornar-se um decisivo pólo de desenvolvimento cultural, científico e social numa região interior do País, invertendo a tendência de concentração dos equipamentos e das oportunidades na faixa litoral do território e nos grandes centros que aí se encontram. Beneficiará também dos bons acessos de que já dispõe a Cidade de Abrantes e da ligação próxima com centros monumentais, turísticos e religiosos de referência que atraem grandes fluxos de visitantes como são Tomar, Fátima, Batalha, Alcobaça ou mesmo Santarém, criando novas centralidades e novas dinâmicas de desenvolvimento sustentado. A exposição Antevisão do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes pretende, como o título indica, apresentar o Projecto de Arquitectura que o Ateliê de João Luís Carrilho da Graça concebeu para o MIAA, incluindo a recuperação do convento de S. Domingos, assim como uma visão panorâmica das principais Colecções que vão integrar o museu. O espaço escolhido foi a igreja de Santa Maria do Castelo, notável edifício dos séculos XV e XVI, relativamente bem conservado, que integra um valioso património artístico aplicado, constituído por escultura monumental (portas, arcos, púlpito), excepcionais exemplares de tumulária dos séculos XV e XVI, vestígios de frescos e revestimentos azulejares de raras tipologias arcaicas («corda seca») e, ainda, um exemplar quase único de moldura gótico-manuelina de um retábulo quinhentista, ainda in situ, subsistindo uma das pinturas que o integrou, uma Adoração dos Magos que julgamos poder filiar na oficina do pintor luso-flamengo Francisco Henriques (act. 1509-1518). A igreja alberga, desde 1931, o Museu D. Lopo de Almeida, cujas colecções passarão a integrar o MIAA, funcionando o espaço eclesial, no futuro, como anexo monumental do novo museu, como já se disse. É, portanto, nesta casa-mãe da museologia abrantina, que se apresenta o novo museu, numa exposição que valoriza, em primeiro lugar, o espaço e os seus valores monumentais e, de seguida, conduz o visitante pela descoberta do Projecto, num eixo central que parte da nave e se prolonga pela capela-mor, e pelas colecções de escultura, que se distribuem pelos quatro cantos da nave, seguindo o movimento dos ponteiros do relógio, da época romana à época barroca. Em salas anexas que completam o circuito apresenta-se uma significativa selecção de artefactos arqueológicos e artísticos: na da esquerda, numa vitrina de grandes dimensões, peças egípcias, romanas, chinesas e indoportuguesas, além de uma peça islâmica; na da direita, numa vitrina de oito metros de comprimento, um contínuo de testemunhos que se estendem do Neolítico à Idade Média. Finalmente, no Coro-Alto, uma selecção de obras do Escultor João Charters de Almeida (três maquetes de projectos recentes) e da Pintora Maria Lucília Moita (uma síntese de momentos fundamentais do seu percurso). O catálogo segue a sequência cronológica em que se arrumam as colecções. A abertura desta exposição de antevisão do MIAA, permitindo um claro vislumbre sobre a importância deste novo museu, deverá constituir o ensejo para a devida homenagem ao Senhor João Estrada, coleccionador apaixonado e visionário e notável benemérito da cidade e da região, ao disponibilizar para usufruto público esta magnífica colecção que reuniu ao longo de décadas. Desde já anunciamos que, no próximo Outono, no quadro desta exposição, será organizada uma sessão de homenagem, em que será publicado um livro reunindo estudos sobre peças relevantes das colecções que legou ao MIAA. M aio-Junho 2009 Fernand o antónio bap tista pereira P rof e s s or As s o c ia d o da Fac u l da de de Be l as - A rt e s da Un i v e r si da de de L i sb oa 20 21 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes neolítico e calcolítico Os modos de vida tal como os conhecemos actualmente são fruto duma evolução social e tecnológica que se iniciaram com a grande mudança climática que ocorreu no final do período glaciar e o inicio do actual período climático. No decurso do VI e do V milénio a.C. as comunidades humanas tornam-se mais estáveis e levam a cabo uma série de descobertas e inovações técnicas: a agricultura e a pastorícia dum lado, que permitem também criar uma estrita relação com o território, e a invenção da cerâmica por outro, que constitui o primeiro momento em que os humanos conseguem transformar quimicamente o material oferecido pela natureza. A paisagem é modificada sensivelmente pela primeira vez, abrindo-se clareiras nas florestas para se criarem campos de cultivo através do uso de instrumentos de pedra polida (CE03457). A maior produção de alimentos favorece um aumento da população juntamente com a concentração dos excedentes alimentares nas mãos de elites, possibilitando assim, sobretudo na área Atlântica Europeia, grandes trabalhos colectivos como os monumentos megalíticos, vulgo “antas”, que assumem o papel duplo de sítios de sepulturas dos grupos dominantes e de marcadores do território das comunidades. Na Península Ibérica, nos adereços funerários do megalitismo alentejano e estremenho do IV milénio a.C., são muitos frequentes objectos votivos denominados “placas de xisto”(ce02036), que com varias evoluções de forma e decoração, chegam até meados do III milénio a.C.: a interpretação do seu significado ainda não é seguro, sendo vistas quer como uma figuração do defunto, quer como uma divindade protectora. Nos adereços funerários nas antas do final do Neolítico encontra-se algumas vezes, representações duma afirmação de poder, como os báculos de xisto (CE02035), que lembram simbolicamente o báculo de comando dos chefes. A representação da figura humana nos objectos votivos que acompanham os mortos durante o Neolítico é bastante esquemática (CE01209), abandonando progressivamente o naturalismo típico das épocas anteriores. Esta mudança do estilo figurativo observa-se também nas figurações humanas em xisto, quer em grandes placas (CE02115), quer nas mais habituais placas de menor dimensão. Mais tarde, entre o Neolítico final e o inicio do Calcolítico (III milénio a.C.), aprecem placas de xisto com uma representação ligeiramente mais humana, mas ainda abstracta (CE02034) e, já em pleno Calcolítico, no sul de Espanha aparecem figuras, raras, entre o abstacionismo e o naturalismo (CE01877). O Calcolítico, que toma o seu nome da palavra grega calcós que significa “cobre”, caracterizou-se por uma maior complexificação das sociedades humanas e pela descoberta da metalurgia do cobre e do ouro: o cobre, em particular, prestava-se bem para o fabrico de armas, instrumentos e adornos pessoais, dado poder ser trabalhado facilmente e ser reciclável. Os instrumentos mais característicos são os machados (CE03891), que, por vezes, ultrapassam as suas características meramente instrumentais, assumindo-se quer como objectos simbólicos de poder, quer como lingotes para as trocas de cobre (CE01824). Em Portugal, durante o Calcolítico, os monumentos megalíticos como as antas neolíticas são reutilizados como lugar de sepultura, aparecendo também estruturas de sepulcros colectivos, não megalíticas, e que tomam o nome de tholoi, edificadas frequentemente no mesmo lugar das antas neolíticas. Finalmente, a chamada Cultura do Vaso Campaniforme, que caracterizou o final do Calcolítico em várias partes da Europa, da Península Ibérica ao Sul da Inglaterra e ao Mediterrâneo; adereços funerários com o típico vaso em forma de campana, juntamente com braçais de arqueiro, botões em osso e pontas de seta de cobre do tipo “Palmela” (CE00222, CE01868 e CE01869), caracterizam as sepulturas duma sociedade guerreira, com um novo conjunto de armas e com o poder concentrado nos grupos familiares. Na armaria aparecem também, no período entre o final do Calcolitico e a Idade do Bronze Antiga os primeiros punhais em cobre (CE01871) que irão substituir os velhos punhais de sílex neolíticos. Davide D elfino 22 23 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bi b l io g r a f ia Joáo Luís Cardoso, Pré-história de Portugal, Lisboa: Verbo, 2002 Vítor Gonçalves, Reguengos de Monsaraz; territórios megalíticos, Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, 1999 Vera Leisner, “Die megalithgraber der Iberischen Halbinsel”, band1/3, Erster Teil: Der Süden, Römisch-Germanische Forshungnum, 17, Berlin. Luiz Oosterbeek (ed), Territórios da Pré-História em Portugal, série ARKEOS, vols. 6-9, Tomar: Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, 2006 Ídolo. Figura humana estilizada Sudoeste da Peninsula Ibérica, 1.ª metade do IV Milénio a.C. Osso Dimensões: altura (5,3 cm) comprimento (1,7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE01209 Idol. Stylized human stylized Southwest of Iberian Peninsula, first half of 4th Millennium BC Bone Dimensions: height (5,3 cm.) length (1,7 cm.) width (0,2 cm.) Inv. CE01209 Machado Europa Ocidental, meados do IV Milénio a.C. Pedra, serpentina Dimensões: altura (10,2cm) comprimento (5,4 cm) largura (4,2cm) Inv. CE03547 Axe Western Europe, middle of 4th Millennium BC Stone, serpentine Dimensions: height (10,2 cm) length (5,4 cm) width (4,2 cm) Inv. CE03547 Ídolo funerário Sul do Portugal, IV Milénio a.C. Pedra, xisto. Dimensões: altura (10,2 cm) comprimento (7,4 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE02036 Funerary idol Southern Portugal, 4th Millennium BC Stone, schist Dimensions: height ( 10,2 cm) length (7,4 cm) width (0,9 cm) Inv. CE02036 24 25 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Placa Sul de Portugal?, IV-III Milénios a.C. Pedra, xisto Dimensões: altura (36,5 cm) comprimento (11,5 cm) largura (0,5 cm) Inv. CE02115 Plaque Southern Portugal?, 4th - 3rd Millenniums BC Stone, schist Dimensions: height ( 36,5 cm) length (11,5 cm) width (0,5 cm) Inv. CE02115 26 27 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Báculo Sul do Portugal, III Milénio a. C. Pedra, xisto Dimensões: altura (23,2 cm) comprimento (11 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE02035 Baton Southern Portugal, 3rd Millennium BC Stone, schist Dimensions: height (23,2 cm) length (11 cm) width (0,9 cm) Inv. CE02035 Ponta de flecha, tipo Palmela Sul de Portugal, início do III Milénio a.C. Cobre Dimensões: altura (1,6 cm) comprimento (7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE00222 Arrowhead, Palmela type Southern Portugal, early 3rd Millennium BC Copper Dimensions: height (1,6 cm) length (7 cm) width (0,2 cm) Inv. CE02035 28 29 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Ponta de flecha, tipo Palmela Ponta de flecha, tipo Palmela Sul de Portugal, final do III Milénio a.C. Cobre Dimensões: altura (1,9 cm) comprimento (6,2 cm) largura (0,2 cm) Sul de Portugal, final do III Milénio a.C. Cobre Dimensões: altura (2,1 cm) comprimento (6,7 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE01868 Inv.CE01869 Arrowhead, Palmela type Arrowhead, Palmela type Southern Portugal, late 3rd Millennium BC Copper Dimensions: height (1,9 cm) length (6,2 cm) width (0,2 cm) Southern Portugal, late 3rd Millennium BC Copper Dimensions: height (2,1 cm) length (6,7 cm) width (0,2 cm) Inv. CE01868 Inv. CE01869 Machado Peninsula Ibérica, III Milénio a.C. Cobre Dimensões: altura (7,5 cm) comprimento (21 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE01824 Axe Iberian Peninsula, 3rd Millennium BC Copper Dimensions: height (7,5 cm) length (21 cm) width (0,9 cm) Inv. CE01824 Punhal Europa Ocidental, 2200 - 1800 a.C. Cobre (arsenical?) Dimensões: altura (11,9 cm) comprimento (3,4 cm) largura (0,4 cm) Inv.CE01871 Dagger Western Europe, 2200 - 1800 BC Copper (arsenical?) Dimensions: height (11,9 cm) length (3,4 cm) width (0,4 cm) Inv. CE01871 Ídolo funerário Sul do Portugal, III Milénio a.C. Pedra, xisto Dimensões: altura (15,6 cm) comprimento (7,3 cm) largura (1,1 cm) Inv. CE02034 Funerary idol Southern Portugal, 3rd Millennium BC Stone, schist Dimensions: height (15,6 cm) length (7,3 cm) width (1,1 cm) Inv. CE02034 30 31 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Ídolo Sudeste da Peninsula Ibérica, final do III Milénio/início do II Milénio a.C. Osso Dimensões: altura (5,6 cm) comprimento (2,5 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE01877 Idol Southeast of the Iberian Peninsula, late 3rd Millennium/early 2nd Millennium BC Bone Dimensions: height (5,6 cm) length (2,5 cm) width (0,6 cm) Inv. CE01877 Machado Europa Ocidental, início do II Milénio a.C. Bronze Dimensões: altura (4,6 cm) comprimento (12,6 cm) largura (1,2 cm) Inv. CE03891 Axe Western Europe, early 2nd Millennium BC Bronze Dimensions: height (4,6 cm) length (12,6 cm) width (1,2 cm) Inv. CE03891 32 33 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes idade do bronze O período que compreende o IIº milénio e os primeiros séculos do Iº milénio a.C. designa-se por Idade do Bronze devido ao uso maciço que se fazia desta liga de cobre e estanho. O bronze, depois de séculos de experimentação, desenvolveuse a tal ponto que veio a substituir gradualmente outras matérias até então utilizadas no artesanato, como o sílex, pedras duras, o osso e o corno. O segredo do seu sucesso estava nas suas propriedades físicas e na possibilidade de poder ser reciclado. A procura dos metais necessários para a criação desta liga metálica levou ao nascimento fortes dinâmicas de interacção entre as populações: juntamente com os metalurgistas e os comerciantes de bronze, viajavam objectos, mas também conhecimentos técnicos e idéias. Os objectos de bronze vão assumir, portanto, um valor comercial mas também de prestígio e simbólico: os chefes que mais conseguiam acumular uma grande quantidade deste metal na forma dos artefactos, ficavam em boa posição de obter mais poder militar e político. Observa-se neste contexto uma grande difusão em toda a Europa de depósitos de objectos de bronze com diferentes funções: deposições rituais por parte da elite guerreira de oferendas aos deuses, sobretudo de espadas, normalmente em rios (gewasserfunde), e ainda depósitosreserva dos grupos de metalurgistas com objectos gastos ou de fresca moldagem, normalmente em lugares ocultos e de acesso dificultoso. Do primeiro grupo de depósitos, interpretáveis como oferendas aos deuses dos rios, fazia provavelmente parte a espada do tipo “pistilliforme” (CE01808), assim nomeada devido ao alargamento da lâmina na sua zona central, havendo vários exemplos de depósitos semelhantes no Bronze Final Francês. Estas armas foram introduzidas a partir do séc. XI a. C. na Europa Atlântica sobretudo por influência da Cultura dos Campos de Urnas e usadas no combate de infantaria; diferenciam-se em cada região por causa de uma diferente composição no metal: na Península Ibérica há ligações binárias de cobre e estanho com algum chumbo e sem impurezas, ao contrário das espadas inglesas e do sudoeste francês. Ainda ligada à armaria do Bronze Final e, provavelmente, a deposições rituais, é a espada próxima ao tipo “Tapsos” (CE 2481), cujo modelo é de origem Egeia, e que se difundiu entre o séc. XII a.C. e meados do séc. XI a.C. através do Mediterrâneo para ocidente, como mostram alguns exemplares encontrados na Sicília, testemunhando assim as redes de relações e a circulação de objectos de bronze a larga distância nas áreas mediterrânicas e atlânticas no final da Idade do Bronze. O segundo grupo de depósitos, relativo às reservas de metal dos fundidores, é testemunhado por vários objectos gastos ou não acabados que faziam sempre parte destes “tesouros”de metal a reciclar nos sítios de fundição ou a vender nos povoados, como o machado de tipo “Trebul” (CE01870) característico da França setentrional no Bronze Médio, sécs. XVI-XIV a.C. No final da Idade do Bronze, a produção metalúrgica veio a aumentar de qualidade e quantidade, criando na Europa do Bronze Final uma rede de escambos de modelos entre as várias áreas de produção. Regiões tecno-culturais e tráficos de artefactos de bronze são bem testemunhadas nos restantes objectos expostos: um conjunto formado por uma navalha (CE02102) e pelo machado com anéis (CE02071) evidencia uma produção típica da área atlântica dos sécs. X-IX a.C., a qual veio a ser exportada para o Mediterrâneo até à Sicília; a ponta de lança do tipo “Venat” (CE02497) representa um modelo de armaria da área atlântica do séc. IX a.C. mas que permaneceu, contudo, na sua área de origem; o machado com olhal em forma de canhão (CE02498) foi produzido na área alpina ocidental ao redor do séc. IX a.C., baseando-se em modelos característicos da área atlântica e da Europa Central. O metal torna-se também dominante nos adereços funerários, em detrimento de outros materiais, constituindo assim um elemento de prestígio social: os túmulos das primeiras culturas do bronze da Europa Central são caracterizadas por numerosos elementos deste metal, como a pulseira CE04653, que permanece nos adereços funerários por vários séculos. Bi b l io g r a f ia A. Bocquet; M. C. Lebascle, Metallurgia e relazioni culturali nell’età del Bronzo Finale delle Alpi del Nord francesi, Antropologia Alpina, Torino, 1983 J. Briard, L’Age du Bronze en Europe Barbare, Paris: Edition des Hespérides, 1976 J. Briard; g. Verron, Typologie des objects de l’age du bronze en France, Fascicule III: Haches (1), Paris, 1976 J. Briard; J. P. Mohen, Typologie des objects de l’ Age du Bronze en France, Fascicule II: poignards, hallebardes, pointes de lance, pointes de fléche, armement difénsif, Paris, 1983 K. Demajopoulo; C. Eluère; J. Jensen; a. Jockenhovel; J. P. Mohen Gods and Heroes of the European Bronze Age, Londres: T&H, 1999 R. C. de marinis, Il Museo Civico Acheologico “Giovanni Rambotti” una introduzione alla preistoria del lago di Garda, Castiglione delle Stiviere: Ed. Litograph 2000 M. D. Fernandez Posse; I. Montero, “Una visión de la metalurigia atlántica en el interior de la Peninsula Ibérica”, in Oliveira Jorge (ed), Trabalhos de Arqueologia, 10, pp. 192-202, 1998 V. Furmaneck; L. Veliacik; J. Vladar, Slovensko v dobe Bronzevej, Bratislava: Slovenska Akademia Vied, 1991 J. Gaucher; J. P. Mohen, Typologie des objects de l’ age du Bronze en France, fascicule IV: les haches, Paris, 1972 Davide D elfino J. Neumaier, “Nueva interpretacion de la “espada puñal” de la cova de la Font major en l’ Espluga de Francolí (Tarragona)”, in Quaderns de prehistoria i arqueologia de Casteló, 20, Casteló de la Plana, pp. 83-93, 1999 34 35 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Pulseira em forma de espiral Europa Ocidental, 1800 - 1600 a.C. Bronze ou Cobre Dimensões: altura (7,7 cm) comprimento (4 cm) largura (0,4 cm) Inv. CE04653 Armlet with a spiral shape Western Europe, 1800 - 1600 BC Bronze or copper Dimensions: height (7,7 cm) length (4 cm) width (0,4 cm) Inv. CE04653 36 37 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Machado Norte de França, Séculos XVI - XIV a.C. Bronze Dimensões: altura (5,1 cm) comprimento (9,8 cm) largura (1,2 cm) Inv. CE01870 Axe Northern France, Sixteenth - Fourteenth Centuries. BC Dimensions: height (5,1cm) length (9,8 cm) width (1,2 cm) Inv. CE01870 38 39 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Espada Mediterrâneo Oriental, Século XII a.C. Bronze Dimensões: altura (4 cm) comprimento (44,4 cm) largura (0,5 cm) Inv. CE02481 Sword Eastern Mediterranean, Twelfth Century BC Bronze Dimensions: height (4 cm) length (44,4 cm) width (0,5 cm) Inv. CE02481 Espada pistilliforme Europa Atlântica, Século XI a.C. Bronze Dimensões: altura (62 cm) comprimento (3,5 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE01808 Leaf-shaped Sword Atlantic Europe, Eleventh Century. BC. Bronze Dimensions: height (62 cm) length (3,5 cm) width (0,6 cm) Inv. CE01808 40 41 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Machado Europa Ocidental, Séculos XI - IX a.C. Bronze Dimensões: altura (3,7 cm) comprimento (12,4 cm) largura (1,1 cm) Inv. CE02498 Axe Western Europe, Eleventh - Ninth Centuries. BC Bronze Dimensions: height (3,7 cm) length (12,4 cm) width (1,1 cm) Inv. CE02498 Machado de dois aneis Europa Atlântica, Séculos X - IX a.C. Bronze Dimensões: altura (5,1 cm) comprimento (19 cm) largura (1,7 cm) Inv. CE02071 Axe with two rings Atlantic Europe, Tenth - Ninth Centuries BC Bronze Dimensions: height (5,1 cm) length (19 cm) width (1,7 cm) Inv. CE02071 42 43 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Ponta de lança, tipo Baiões Peninsula Ibérica Atlântica, Século IX a.C. Bronze Dimensões: altura (19,5 cm) comprimento (1,3 cm) largura (2,8 cm) Inv. CE02497 Spearhead, Baiões type Atlantic Iberian Peninsula, IX Century BC Bronze Dimensions: height (19,5 cm) length (1,3 cm) width (2,8 cm) Inv. CE02497 Navalha Europa Atlântica, Séculos IX - VIII a.C. Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (16 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE02102 Razor Atlantic Europe, Ninth - Eight Centuries BC. Bronze Dimensions: height (7 cm) length (16 cm) width (0,6 cm) Inv. CE02102 44 45 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes idade do ferro e influências orientais A partir do século VIII a.C. assiste-se no mundo mediterrânico e, por redundância, na Europa continental, a uma mudança radical nas técnicas artesanais. Várias civilizações estão por trás deste fenómeno: os Fenícios, cujas longas rotas marítimas ao longo do Mediterrâneo levaram à difusão de novos produtos até a Península Ibérica; os Etruscos, que importaram e reelaboraram os influxos orientais e gregos na Itália; a sociedade dos centros “principescos” de Hallstatt e, depois, os Celtas da cultura de La Téne também absorveram e reelaboraram na Europa Central a arte e costumes mediterrânicos; por último, os Gregos do período Pré-Clássico, que colonizaram sobretudo o sul da Itália e o Mediterrâneo Ocidental, substituindo-se aos fenícios e criando uma rede cultural. As novas técnicas artesanais revolucionam o modo de produzir várias categorias de objectos: a introdução da metalurgia do ferro, em substituição da do bronze, permitiu fazer armas e utensílios em maiores quantidades; a difusão do torno permitiu criar formas cerâmicas mais estandardizadas e refinadas; a invenção do vidro tornou possível a produção de pequenos contentores com novas propriedades estéticas e técnicas. Testemunho dos influxos que partiram da área Síria-Palestiniana e das novas formas possibilitadas pelo torno são os vasos em cerâmica pintada policroma produzidos pelos Fenícios no Chipre no séc. IX a.C. (CE00854, CE00868) e que estão entre os primeiros produtos artesanais difundidos pelos Fenícios nesta ilha. No contexto da Itália Etrusca, entre o final do período Orientalizante (sécs. VIII-VI a.C.) e o período Arcaico (sécs. VI-V a.C.) caracterizado por influências gregas, a partir do séc. VII até ao V a.C., desenvolve-se a técnica do bucchero que consiste na produção de formas cerâmicas que imitam os reflexos do bronze, como se pode observar no Lekythos CE00925; uma rica tradição estética e técnica Orientalizante observe-se na ourivesaria ainda mais tardia (CE02652 e CE02653) . Nos territórios mais próximas das colónias gregas do sul da Itália, pode observar-se a influência grega em diversas áreas, nomeadamente, num desenvolvimento local da cerâmica Daunia com um estilo grego Pré-Clássico (CE00370), numa introdução de elementos mitológico e religiosos como o culto de Ares e de Hércules que, reproduzidos em estatuetas votivas de bronze (CE03074 e CE03069), viriam a fazer parte de novos cultos locais e, finalmente, num sincretismo entre a armaria defensiva de tradição local com inovações gregas (CE01786). Na Península Ibérica os Fenícios fundaram colónias no Levante espanhol, em Huelva e no sul de Portugal, inaugurando uma rede de escambos comerciais baseados na prata, no ferro e em vários produtos “exóticos”, cujos principais intermediários foram os chefes da sociedade Tartéssica, no sul da Penínsul Ibérica, até meados do séc. VI a.C., altura em que a actividade fenícia termina e se formam vários grupos da cultura Ibérica, os quais resultaram de uma aculturação grega do substrato orientalizante indígena. É também nesta altura que ocorre uma ocupação das antigas colónias fenícias pela cidade de Cartago. Entre os materiais das áreas fenício-púnicas são de destacar magníficos exemplares de vidraria para perfumes (CE01529) ou para pendentes de colares (CE03721) que habitualmente se encontram em necrópoles, bem como ovos de avestruz (CE01186) que simbolizam a morte e a ressurreição; pode observar-se ainda, na produção púnica, reelaborações de modelos técnicos e estéticos provenientes do Médio Oriente, nomeadamente, nas terracotas arquitectónicas (CE02875), e nas lucernas (CE02716). Também na ourivesaria se podem observar na área Ibérica influxos orientalizantes juntamente com uma tradição local (CE04282, CE04276, CE04277, CE04384 e CE04385). Finalmente, na Segunda Idade do Ferro, formou-se uma área cultural Celtibérica na Meseta, onde são visíveis influxos da Europa continental na armaria, os quais vieram a misturar-se com tradições locais: como exemplos, veja-se a panóplia formada por uma espada de antenas de tradição halstática, mas com elementos decorativos do Oeste peninsular (CE01729), e por um punhal típico dos guerreiros Vetões (CE01743), as quais constituíam o armamento típico das personagens de elite no final do séc. IV- séc. III a.C. Na área cultural Ibérica desenvolve-se um diferente tipo de arma, a falcata (CE01754), encontrada frequentemente em contextos sepulcrais, que veio a constituir o elemento mais característico dos guerreiros Ibéricos e que parece ter origem na machairia grega. Bi b l io g r a f ia Martin Almagro Gorbea, “Bronze Final y Edad del Hierro”, in F. Jordá Serdá,, M. Pellicer Catalán, P. Acosta Martinez e M. Almagro Gorbea, Historia de España, vol. 1, Madrid: Ed. Gredo, pp. 341-532, 1986 Paola Cassola Guida, I Bronzetti Friulani a Figura Umana Tra Protostoria Ed Eta Della Romanizzazione, L’Erma di Bretschneider, 1989 V. Kruta; O. H. Frey; B. Raftay; M. Szabó (eds) I Celti, Milão: Bompiani Editore, 1991 F.H. Marshall (1969), Catalogue of jewellery greek, etruscan, and roman, The trustees of the British Museum, Oxford Sabatino Moscati, I Fenici, Milão: Bompiani Editore, 1988 Gérard Nicolini, Techiniques des ors antiques, Paris: Editions Picard, 1990 Massimo Pallotino, Storia della prima Italia, Milão: Rusconi Libri, 1984 Giovanni Pugliese Carratelli, Rasenna. Storia e civiltá degli Etruschi, Milão: Garzanti Libri, 1986 Giovanni Pugliese Carratelli (ed.), I Greci in occidente, Milão: Bompiani Editore, 1996 F. Quesada Sanz, Arma y Simbolo: la falcata iberica, Alicante: Instituto de Cultura Juan Gil-Albert, 1992 P. Rufete Tomico, “El Final de Tartessos y el periodo Turdetano en Huelva”, Huelva Davide D elfino Arqueologica, 17, Diputación Provincial de Huelva, 2002 Luis Alberto Ruiz Cabrero, “Appendice: el huevo de avestruz: simbolos, epigrafia,y contextos culturales”, In Gigliola Savio, Le uova di struzzo dipinte nella cultura púnica, Madrid: Real Academia de la Historia, pp. 111-128, 2004 46 47 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Jarro Chipre, Séculos IX - VIII a.C. Cerâmica Dimensões: altura (29, 8 cm) comprimento (19 cm) Inv. CE00854 Jar Cyprus, 9th - 8ht Centuries BC Ceramics Dimensions: height (29,8 cm) length (19 cm) Inv. CE00854 Askos. Vaso de forma oval para conservação de liquidos Chipre, Séculos IX - VIII a.C. Cerâmica Dimensões: altura (30,5 cm) comprimento (25,2 cm) largura (17,5 cm) Inv. CE00868 Askos. Oval ware for conservation of liquids Cyprus, 9th - 8ht Centuries BC Ceramics Dimensions: height (30,5 cm) length (25,2 cm) width (17,5 cm) Inv. CE00868 48 49 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Lekythos, tipo Bucchero Etrúria, Itália, Séculos VII - V a.C. Cerâmica Dimensões: altura (19,2 cm) comprimento (14 cm) Inv. CE00925 Lekythos, Bucchero type Etruria, Italy, 7th - 5th Centuries BC Ceramics Dimensions: height (19,2 cm) length (14 cm) Inv. CE00925 Peitoral Itália Meridional, Século V a.C. Bronze Dimensões: altura (27 cm) comprimento (25 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE01786 Breastplate Southern Italy, 5th Century BC Bronze Dimensions: height (27 cm) length (25 cm) width (0,2 cm) Inv. CE01786 50 51 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Guerreiro Itália Meridional, Século V a.C. Bronze Dimensões: altura (11,9 cm) comprimento (2,3 cm) largura (2,3 cm) Inv. CE03074 Warrior Southern Italy, 5th Century BC Bronze Dimensions: height (11,9 cm) length (2,3 cm) width (2,3 cm) Inv. CE03074 Hércules Itália Meridional, Século IV a.C. Bronze Dimensões: altura (8,3 cm) comprimento (5,8 cm) largura (1,2 cm) Inv. CE03069 Hercules Southern Italy, 4th Century BC Bronze Dimensions: height (8,3 cm) length (5,8 cm) width (1,2 cm) Inv. CE03069 52 53 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Falcata Península Ibérica, Século IV a.C. Ferro Dimensões: altura (53 cm) comprimento (5,4 cm) Inv. CE01754 Falcata Iberian Peninsula, 4th Century BC Iron Dimensions: height (53 cm) length (5,4 cm) Inv. CE01754 Adaga, tipo Arcobriga Centro-Oeste da Península Ibérica, Séculos IV - III a.C. Ferro Dimensões: altura (56,5 cm) comprimento (6,5 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE01729 Dagger, Arcobriga type Centre-West Iberian Peninsula, Fourth and Third Centuries BC Iron Dimensions: height (56,5 cm) length (6,5 cm) width (0,6 cm) Inv. CE01729 54 55 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bainha e cabo de punhal, tipo Montebenorio Norte da Península Ibérica, Séculos IV - III a.C. Ferro Dimensões: altura (35,5 cm) comprimento (6,5 cm) largura (1,8 cm) Inv. CE01743 Sheath and handle of dagger, Montebenorio type North of Iberian Peninsula, 4th - 3rd Centuries BC Iron Dimensions: height (35,5 cm) length (6,5 cm) width (1,8 cm) Inv. CE01743 56 57 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Vaso Daunia, Itália, Século III a.C. Cerâmica Dimensões: altura (24 cm) comprimento (25, 5 cm) Inv. CE00370 Vase Daunia, Italy, Third Century BC Ceramics Dimensions: height (24 cm) length (25,5 cm) Inv. CE00370 Lucerna Próximo Oriente, Séculos XIX-IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (3,9 cm) comprimento (15 cm) largura (13,6 cm) Inv. CE02716 Oil-lamp Near East, 19th - 4th Centuries BC Ceramics Dimensions: height (3,9 cm) length (15 cm) width (13,6 cm) Inv. CE02716 58 59 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fíbula Etrúria, Itália, Século VII a.C. Ouro Dimensões: altura (5,9 cm) comprimento (6,2 cm) largura (2 cm) Inv. CE01289 Fibula Etruria, Italy, 7th Century BC Gold Dimensions: height (5,9 cm) length (6,2 cm) width (2 cm) Inv. CE01289 Busto feminino Mediterrâneo Central, Século VI a.C. Terracota Dimensões: altura (11,5 cm) comprimento (7,3 cm) largura (4,5 cm) Inv. CE02875 Female bust Central Mediterranean, 6th Century BC Terracota Dimensions: height (11,5 cm) length (7,3 cm) width (4,5 cm) Inv. CE02875 60 61 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Unguentário Mediterrâneo Central-Ccidental, Séculos VI - V a.C. Pasta vítrea Dimensões: altura (8,3 cm) comprimento (4,1 cm) Inv. CE01529 Unguentary Central and Western Mediterranean, 6th - 5th Centuries BC Glass Dimensions: height (8,3 cm) length (4,1 cm) Inv. CE01529 Brincos Etrúria, Itália, Séculos VI - IV a.C. Ouro Dimensões: altura (6,2 cm) comprimento (4,3 cm) largura (0,5 cm) Inv. CE02652 e CE02653 Earrings Etruria, Italy, 6th - 4th Centuries BC Gold Dimensions: height (6,2 cm) length (4,3 cm) width (0,5 cm) Inv. CE02652 and CE02653 Ovo de avestruz Norte de África, Século V - III a.C. Calcário Dimensões: altura (14 cm) comprimento (12 cm) Inv. CE01186 Ostrich egg North Africa, 5th - 3rd Centuries BC Limestone Dimensions: height (14 cm) length (12 cm) Inv. CE01186 62 63 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Pendente Mediterrâneo Ocidental, Século IV a.C. Pasta vítrea Dimensões: altura (2,3 cm) comprimento (1,9 cm) largura (1,8 cm) Inv. CE03721 Pendant Western Mediterranean, 4th Century BC Glass Dimensions: height (2,3 cm) length (1,9 cm) width (1,8 cm) Inv. CE03721 Brincos Península Ibérica, Século IV a.C. Ouro Dimensões: altura (2,6 cm) comprimento (1,4 cm) largura (0,7 cm) Inv. CE04276 e CE04277 Earrings Iberian Peninsula, 4th Century BC Gold Dimensions: height (2,6 cm) length (1,4 cm) width (0,7 cm) Inv. CE04276 and CE4277 Brinco Brinco Península Ibérica, Século IV a.C. Ouro Dimensões: altura (4 cm) comprimento (3 cm) largura (0,3 cm) Península Ibérica, Século IV a.C. Ouro Dimensões: altura (3,1 cm) comprimento (2,5 cm) largura (0,2 cm) Inv. CE04282 Inv. CE04284 Earring Earring Iberian Peninsula , 4th Century BC Gold Dimensions: height (4 cm) length (3 cm) width (0,3 cm) Iberian Peninsula , 4th Century BC Gold Dimensions: height (3,1 cm) length (2,5 cm) width (0,2 cm) Inv. CE04282 Inv. CE04284 Brinco Península Ibérica, Século IV a.C. Ouro Dimensões: altura (4,5 cm) comprimento (2,9 cm) largura (0,4 cm) Inv. CE04285 Earring Iberian Peninsula , 4th Century BC Gold Dimensions: height (4,5 cm) length (2,9 cm) width (0,4 cm) Inv. CE04285 64 65 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes antigo egipto O interessante acervo egípcio do futuro Museu Ibérico de Arte e Arqueologia em Abrantes, com cerca de 50 peças, e que se encontra ainda em fase de estudo, vem juntar-se a outros acervos congéneres existentes em Portugal, contribuindo para que o número de objectos evocativos do país do Nilo aumente um pouco mais. Na verdade, existem actualmente no nosso país mais de mil peças egípcias, desde grandes sarcófagos antropomórficos a pequenos amuletos, estando quase todos eles já estudados e publicados, esperando-se que em breve possa ser publicada a totalidade do acervo egiptológico abrantino. A maior colecção egípcia entre nós é a do Museu Nacional de Arqueologia (com cerca de seiscentas peças, das quais estão expostas umas trezentas), seguindose as do Museu da Farmácia e do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências do Porto (ambas com mais de cem peças) e a do Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa (com quase cem peças). Mas a melhor em qualidade é, sem dúvida, a colecção egípcia do Museu Calouste Gulbenkian, que expõe quarenta peças, algumas das quais de ampla fama internacional. Existem depois pequenas colecções em outros museus públicos e privados a que se juntam os acervos particulares de vários coleccionadores. 66 67 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Se bem que não atinjam a quantidade e a qualidade dos objectos das grandes colecções egípcias de museus da Europa e dos Estados Unidos, os acervos portugueses testemunham o gosto pelo coleccionismo de antiguidades, onde os objectos egípcios marcam tradicional e quase obrigatória presença, a começar pelos típicos escaravelhos, amuletos, estatuetas funerárias e bronzes figurativos. E são alguns destes objectos que integram a pequena colecção abrantina, nomeadamente os que foram seleccionados para a exposição. Estão neste caso um escaravelho, coleóptero sagrado que foi objecto de intensa veneração ao longo de toda a história da civilização egípcia, como símbolo de forte pendor profiláctico ligado ao renascimento, e os bronzes figurativos que, sobretudo na Época Baixa, fase correspondente às últimas dinastias egípcias autóctones (da XXVI à XXX dinastia), foram produzidos em grande quantidade para evocar divindades como Osíris, Hórus e Ísis, além de animais sagrados, como os muito queridos felinos da deusa Bastet. Bi b l io g r a f ia Cyril Aldred, Egyptian Art in the Days of the Pharaohs, 3100-320 BC, Londres: Thames and Hudson, 1980 Luís Manuel de Araújo, Antiguidades Egípcias, I, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa: Instituto Português de Museus, 1993 Luís Manuel de Araújo, Arte Egípcia. Colecção Calouste Gulbenkian, Lisboa: Fun-dação Calouste Gulbenkian, FCT, 2006 José das Candeias Sales, As Divindades Egípcias. Uma chave para a compreensão do Egipto antigo, Col. Nova História, Lisboa: Editorial Estampa, 1999 Wilfried Seipel, Ägypten. Götter, Gräber und die Kunst 4000 Jahre Jenseitsglaube, Linz: OÖ Landesmuseum Linz, 1989 O bservação preliminar escaravelho Império Novo (sécul os XV-XII a . C . ) CE00148 – Escaravelho com os clípeos razoavelmente assinalados, tendo na carapaça o protórax e os élitros marcados por incisões. De lado observam-se as patas em ligeiro relevo. A base ovalada apresenta-se com uma inscrição. cimitarra osíris É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a ( sé c u l o s V I I - I a . C . ) CE01135 – Estatueta de bronze representando Osíris, deus da eternidade e do Além, em pose mumiforme, com a sua típica iconografia: ceptros hekat (do Sul) e nekhakha (do Norte) cruzados nas mãos que saem do envoltório fúnebre, a barba divina no queixo, a coroa atef emplumada com a serpente sagrada na fronte. Império Novo (sécul os XV-XII a . C . ) CE00176 – Cimitarra de bronze, de inspiração cananaica, conhecida pela designação de khopech, usada no Egipto durante a fase expansionista do Império Novo (séculos XVI-XI a. C.), sendo igualmente um símbolo de poder. gato É p o ca Baixa ou dinastia p tolem a ic a (sécul os VII-I a. C.) CE01101 – Estatueta de bronze de um gato, animal sagrado da deusa Bastet, ligada ao amor e à protecção, na sua tradicional pose sentada, com a cauda na base passando pelo lado direito. fragmento de sarcófago É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a ( sé c u l o s V I I - I a . C . ) CE03850 – Fragmento de um sarcófago em cartonagem pintada com uma imagem da deusa Ísis alada, com asas abertas partindo dos braços estendidos, cujas mãos seguram penas da deusa Maet (verdade, justiça e equilíbrio). A figura ajoelhada exibe sobre a peruca a típica cornamenta liriforme com o disco solar. O texto hieroglífico menciona o nome da deusa Ísis. hórus criança É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a ( sé c u l o s V I I - I a . C . ) Escaravelho Império Novo, Séculos XV - XII a.C. Osso Dimensões: altura (1,5 cm) comprimento (2 cm) largura (1,5 cm) Inv. CE00148 Scarab New Empire, 15th - 12th Centuries BC Bone Dimensions: height (1,5 cm) length (2 cm) width (1,5 cm) Inv. CE00148 CE02740 – Estatueta de bronze de Hórus Criança (Harpócrates), desnudado e com a sua conhecida iconografia: a mão direita junto da boca, à qual chega o dedo indicador, uma madeixa de cabelo entrançado caindo sobre o ombro direito e a serpente sagrada saindo da fronte. Na base tem um espigão para fixação. Luís Araújo Cimitarra Império Novo, Séculos XV - XII a.C, Bronze Dimensões: altura (68 cm) comprimento (6,5 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE00176 Scimitar New Empire, 15th - 12th Centuries BC Bronze Dimensions: height (68 cm) length (6,5 cm) width (0,6 cm) Inv. CE00176 68 69 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Gato Época Baixa ou dinastia ptolomaica, Séculos VII - I a.C. Bronze Dimensões: altura (26,5 cm) comprimento (15,7 cm) largura (10 cm) Inv. CE01101 Cat Late Period or Ptolomaic dinasty, 7th - 1st Centuries BC Bronze Dimensions: height (26,5 cm) length (15,7 cm) width (10 cm) Inv. CE01101 Osíris Época Baixa ou dinastia ptolomaica, Séculos VII - I a.C. Bronze Dimensões: altura (22,1 cm) comprimento (4 cm) largura (5,7 cm) Inv. CE01135 Osiris Late Period or Ptolomaic dinasty, 7th - 1st Centuries BC Bronze Dimensions: height (22,1 cm) length (4 cm) width (5,7 cm) Inv. CE01135 70 71 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Hórus criança Época Baixa ou dinastia ptolomaica, Séculos VII - I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,6 cm) comprimento (2 cm) largura (2,3 cm) Inv. CE02740 Infant Horus Late Period or Ptolomaic dinasty, 7th - 1st Centuries BC Bronze Dimensions: height (22,1 cm) length (4 cm) width (5,7 cm) Inv. CE02740 Fragmento de sarcófago Época Baixa ou dinastia ptolomaica, Séculos VII - I a.C. Cartonagem Dimensões: altura (22,7 cm) comprimento (35,5 cm) largura (0,3 cm) Inv. CE03850 Fragment of sarcophagus Late Period or Ptolomaic dinasty, 7th - 1st Centuries BC Bronze Dimensions: height (22,7 cm) length (35,5 cm) width (0,3 cm) Inv. CE03850 72 73 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes grécia antiga O mundo grego da Antiguidade encontra-se representada nesta exposição por diferentes núcleos de materiais: cerâmica, armaria, escultura e ourivesaria. A cerâmica da Grécia alcançou na Antiguidade uma enorme notoriedade e popularidade, sendo que as que mais se destacaram foram as Áticas de figuras vermelhas, produzidas em Atenas, nos séculos V e IV a.C. A partir do século IV a.C. começaram a fabricar-se nas colónias da chamada Magna Grécia (na actual Itália Meridional e na Sicília) cópias de cerâmicas provenientes da de Atenas, as quais alcançaram um elevado nível de perfeição acabando por concorrer com aquelas provenientes de Atenas. Nesta exposição, uma dessas cerâmicas é visível, nomeadamente, um Krater (vaso para misturar vinho e água, utilizado nos simpósios) onde se encontra representada uma cena mitológica (CE00091). Destaque-se ainda um Skyphos (copo para beber vinho) de figuras vermelhas (CE00927) ou o Lekanis (balsamário ou unguentário) com tampa de figuras vermelhas, representando cabeças femininas, produzido na Apulia (CE00890/891), todas elas datáveis do século IV a.C. A partir do século IV a. C., começaram a surgir na Magna Grécia novos estilos de produção local sendo de destacar a cerâmica do tipo “Gnathia”, o qual era caracterizado por uma decoração polícroma em fundo escuro, com elementos vegetais ou ornamentais onde, por vezes, se misturam cabeças de mulher, máscaras de teatro, aves e lebres. Nesta exposição podem ver-se dois exemplares representativos desse estilo, nomeadamente, um Skyphos (CE00093) e um Oenochoe (jarra de vinho) (CE01547). A armaria grega desenvolveu-se com técnicas artesanais e conceitos de protecção do guerreiro bastante elaborados, ao ponto de obterem um grande sucesso também nas colónias da Magna Grécia e nos povos não gregos próximos deles. Aquela que veio a ser considerada a mais elaborada peça da armaria defensiva grega foi o capacete coríntio, forjado duma lâmina única, e que veio a ser a base para o desenvolvimento dos capacetes Calcídicos e Áticos; uma variante da Magna Grécia designada de “Ápúlio-Coríntio” está presente na peça CE02954, apresentando a típica decoração incisa com dois javalis. A armaria defensiva conheceu também uma notável evolução nas couraças, tendo-se desenvolvido dois conceitos: um, baseado na cobertura integral do tronco do guerreiro; o outro, na reprodução anatómica dos músculos. Os povos itálicos e das colónias gregas da Magna Grécia escolheram este último conceito, representado pela couraça CE03204, mais estético, ao qual não foram estranhas tradições locais de protecção com couraças mais pequenas que protegiam unicamente as partes centrais do tronco (Shefton, Foster 1978). Relativamente à escultura, encontram-se exemplares de diferentes tipos. Assim, pode ver-se duas terracota de um jovem efebo sentado (CE00725) e de uma mulher de pé (CE00728), datáveis dos séculos IV-I a.C., de estilo Tanagra, o qual era caracterizado por figurinhas bastante realistas, sobretudo de mulheres (homens e jovens eram menos comuns) elegantemente vestidas e com a roupa colada ao corpo, usando por vezes chapéus e grinaldas. Algumas destas imagens parecem ter representado personagens de Teatro (nomeadamente da Comédia), enquanto que outras eram utilizadas como imagens de culto ou objectos votivos. Por último, um Hekateion (datável do século II a.C.), ou seja, uma escultura triplíce da deusa Hekate (CE03508), a qual estava sobretudo associada ao papel de guardiã, sendo vulgar encontrar representações suas nas entradas de templos, casas e cruzamentos de estradas. Finalmente, a ourivesaria, a qual se encontra representada por delicados adereços de ouro, datáveis dos séculos IV e III a.C., nomeadamente, rosetas (CE01431-33) que eram cozidos ao vestuário dos falecidos, no que constituía uma forma de os honrar, e ainda uma minúscula grinalda com folhas de carvalho e bolotas (CE01430) e que terá sido colocada na cabeça de uma estatueta. Gustavo Porto carrero e Davide D elfino 74 75 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bi b l io g r a f ia Simone Besques-mollard, Tanagra, Paris: Braun, 1950 John Boardman, The History of Greek Vases, Londres, T&H, 2001 M. Feugere (1994), Casques Antiques, Colletion des Espherides, Paris: Edition Errance, 1994 John Richard Green, Gnathia pottery in the Akademisches Kunstmuseum Bonn, Mainz: P. von Zabern, 1976 Fernando Quesada Sanz, Armas de Grecia y Roma, Madrid: La Esfera de los Libros, 2008 Dyfri Williams; Jack Ogden, Greek Gold. Jewellry of the Classical World, Londres, British Museum Press, 1994 Capacete Apulio-Coríntio Apúlia, Itália Meridional, Século V a.C. Bronze Dimensões: altura (26,5 cm) comprimento (23 cm) largura (31,2 cm) Inv. CE02954 Apulian-Corinthian Helmet Apulia, Southern Italy, 5h Century BC Bronze Dimensions: height (26,5 cm) length (23 cm) width (31,2 cm) Inv. CE02954 Couraça anatómica Itália Meridional, Século V a.C. Bronze Dimensões: altura (31,2 cm) comprimento (28,5 cm) largura (0,4 cm) Inv. CE03024 Anatomic cuirass Southern Italy, 5th Century BC Bronze Dimensions: height (31,2 cm) length (28,5 cm) width (0,4 cm) Inv. CE03024 76 77 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Krater Vaso para misturar vinho e água Apúlia, Itália Meridional, Século IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (44 cm) comprimento (44,3 cm) Inv. CE00091 Krater Vessel to mix wine and water Apulia, Southern Italy, 4th Century BC Ceramics Dimensions: height (44 cm) length (44,3 cm) Inv. CE00091 Skyphos Copo para beber vinho Apúlia, Itália Meridional, Século IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (21,2 cm) comprimento (34,2 cm) Inv. CE00927 Skyphos Cup to drink wine Apulia, Southern Italy, 4th Century BC Ceramics Dimensions: height (21,2 cm) length (34,2 cm) Inv. CE00927 78 79 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Lekanis Balsamário ou unguentário Oenochoe, estilo Gnathia Jarro de vinho Apúlia, Itália Meridional, Século. IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (8 cm) comprimento (21,7 cm) Itália Meridional, Século IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (13 cm) comprimento (11,1 cm) largura (8,8 cm) Inv. CE00890 e CE00891 Lekanis Unguentary Apulia, Southern Italy, 4th Century BC Ceramics Dimensions: height (8 cm) length (21,7 cm) Inv. CE00890 and CE00891 Inv. CE01547 Oenochoe, Gnathia style Wine jar Southern Italy, 4th Century BC Ceramics Dimensions: height (13 cm) length (11,1 cm) width (8,8 cm) Inv. CE01547 Skyphos, estilo Gnathia Copo para beber vinho Itália Meridional, Século IV a.C. Cerâmica Dimensões: altura (32,5 cm) comprimento (42,5 cm) Inv. CE00093 Skyphos, Gnathia style Cup to drink wine Southern Italy, 4th Century BC Ceramics Dimensions: height (32,5 cm) length (42,5 cm) Inv. CE00093 80 81 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Efebo, estilo Tanagra Mulher, estilo Tanagra Tanagra, Beócia, Grécia, Séculos IV - I a.C. Terracota Dimensões: altura (14,5 cm) comprimento (7,5 cm) largura (5,9 cm) Tanagra, Beócia, Grécia, Séculos IV - I a.C. Terracota Dimensões: altura (21 cm) comprimento (6,4 cm) largura (4,2 cm) Inv. CE00725 Inv. CE00728 Ephebus, Tanagra style Woman, Tanagra style Tanagra, Beotia, Greece, Fourth - First Centuries BC Terracota Dimensions: height (14,5 cm) length (7,5 cm) width (5,9 cm) Tanagra, Beotia, Greece, Fourth - First Centuries BC Terracota Dimensions: height (21 cm) length (6,4 cm) width (4,2 cm) Inv. CE00725 Inv. CE00728 Roseta Grécia?, Séculos IV-III a.C. Ouro Dimensões: altura (3,6 cm) comprimento (3,5 cm) largura (1 cm) Inv. CE01432 Rosette Greece?, Fourth - Third Centuries BC Gold Dimensions: height (3,6 cm) length (3,5 cm) width (1 cm) Inv. CE01432 82 83 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Roseta Roseta Grécia?, Séculos IV-III a.C. Ouro Dimensões: altura (3,6 cm) comprimento (3,5 cm) largura (1 cm) Grécia?, Séculos IV-III a.C. Ouro Dimensões: altura (3,8 cm) comprimento (4 cm) largura (1,3 cm) Inv. CE01431 Inv. CE01433 Rosette Rosette Greece?, Fourth - Third Centuries BC Gold Dimensions: height (3,6 cm) length (3,5 cm) width (1 cm) Greece?, Fourth - Third Centuries BC Gold Dimensions: height (3,8 cm) length (4 cm) width (1,3 cm) Inv. CE01431 Inv. CE01433 Hekateion Grécia?, Século II a.C. Mármore Dimensões: altura (34,5 cm) comprimento (11,5 cm) Inv. CE03508 Hekateion Greece?, Second Century BC Marble Dimensions: height (34,5 cm) largura (11,5 cm) Inv. CE03508 Coroa com folhas de carvalho e bolotas Grécia?, Século II a.C. Ouro Dimensões: altura (5,5 cm) comprimento (5,4 cm) largura (1 cm) Inv. CE01430 Crown with oak leaves and acorns Greece?, Second Century BC Gold Dimensions: height (5,5 cm) length (5,4 cm) width (1 cm) Inv. CE01430 84 85 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes o mundo romano Os objectos da época romana da Colecção Estrada, em exibição, remetem-nos para diferentes aspectos do quotidiano das elites romanas, como sejam as crenças religiosas, o imaginário face à morte e a ornamentação e ostentação pessoal. Nas esculturas temos, em primeiro lugar, um plano religioso, com as estatuetas em mármore de uma Fortuna sentada com a sua cornucópia (CE00754) e em bronze de um Marte (CE00746). No seu conjunto eram esculturas domésticas que pediam à deusa das colheitas e ao deus da guerra protecção ao nível da vida privada para aspectos concretos da mesma, como ter boas colheitas ou sobreviver à guerra, se fosse soldado. À Fortuna pedia-se também sorte para aspectos mais gerais da vida. Um segundo grupo de esculturas está ligado ao imaginário da morte. Um exemplar pode corresponder a um retrato privado (CE00734) e as outras duas a fragmentos de sarcófagos (CE00735 e CE00739). Finalmente, um terceiro grupo de esculturas, desta vez no domínio público, constituído por dois exemplares de figuras femininas com manto, faltando no entanto as respectivas cabeças (CMA001 e CMA002). Foram encontradas no concelho de Abrantes e devem ter representado deusas que estariam no fórum de uma cidade romana nas imediações. No domínio da ostentação em vida temos o passador de arreios de cavalos (CE01749), ligado ao luxo diário de quem conduzia um carro nas ruas movimentadas de uma cidade. Os brincos em ouro (CE01423, CE01424, CE01436, CE01437, CE01446 e CE01447) remetem-nos também para essa ostentação pessoal, das mulheres das elites romanas, e que a quiseram continuar na outra vida, dado que são objectos descobertos em contexto funerário. Ainda dentro dos objectos de ostentação temos os vidros romanos, talvez uma das artes mais elaboradas e sofisticadas durante a época imperial romanas. O seu uso quotidiano estava particularmente direccionado para guardar produtos de embelezamento e sedução do corpo, como perfumes e óleos (CE00658, CE02362 e CE02850), bem como um khol (CE02851), sendo este um pó negro para maquilhar os olhos. Em conclusão, este conjunto de objectos apresentados dão-nos uma pequena ideia da sofisticação social atingida por esses nossos antepassados, que viveram em toda a bacia do Mediterrâneo e em grande parte da Europa Ocidental nos cinco primeiros séculos da nossa era. Luís Jorge G onçalves 86 87 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bi b l io g r a f ia AA.VV., Los bronces romanos en España, Madrid : Ministerio de Cultura, Centro Nacional de Exposiciones, 1990 Diana E. E. Kleiner, Roman Sculpture, New Haven: Yale University Press, 1992 F. H. Marshall, Catalogue of the Jewellery, Greek, Etruscan and Roman, Oxford: The Trustees of the British Museum, 1969 Marie-Dominique Nenna; Véronique Arveiller-Dulong, Les Verres Antiques du Musee du Louvre, II, Paris: Musée du Louvre, 2005 Estátua de divindade feminina Império Romano Século I Mármore Dimensões: altura (211 cm) comprimento (80,3 cm) largura (43,8 cm) Inv. CMA002 Statue of female divinity Roman Empire 1st Century Marble Dimensions: height (211 cm) length (80,3 cm) width (43,8 cm) Inv. CMA002 Retrato feminino Império Romano Séculos I - II Mármore Dimensões: altura (25 cm) comprimento (15,7 cm) largura (10,5 cm) Inv. CE00734 Female portrait Roman Empire 1st - 2nd Centuries Marble Dimensions: height (25 cm) length (15,7 cm) width (10,5 cm) Inv. CE00734 88 89 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estatueta da deusa Fortuna Império Romano Séculos I - II Mármore Dimensões: altura (38,2 cm) comprimento (19 cm) largura (12,3 cm) Inv. CE00754 Statuette of Fortune goddess Roman Empire 1st - 2nd Centuries Marble Dimensions: height (38,2 cm) length (19 cm) width (12,3 cm) Inv. CE00754 Estátua de divindade feminina Império Romano Século II Mármore Dimensões altura (98,4 cm) comprimento (38,6 cm) largura (27,5 cm) Inv. CMA001 Statue of female divinity Roman Empire 2nd Century Marble Dimensions: height (98,4 cm) length (38,6 cm) width (27,5 cm) Inv. CMA001 90 91 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Brincos Império Romano Século II Ouro e pedra dura Dimensões: altura (2,8 cm) comprimento (2,7 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE01436 e CE01437 Earrings Roman Empire 2nd Century Gold and stone Dimensions: height (2,8 cm) length (2,7 cm) width (0,6 cm) Inv. CE01436 and CE01437 Brincos Império Romano Século II Ouro e pedra dura Dimensões: altura (4 cm) comprimento (0,9 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE01446 e CE01447 Earrings Roman Empire 2nd Century Gold and stone Dimensions: height (4 cm) length (0,9 cm) width (0,9 cm) Inv. CE01446 and CE01447 92 93 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fragmento de sarcófago Império Romano, Século III Mármore Dimensões: altura (29,9 cm) comprimento (27 cm) largura (12,7 cm) Inv. CE00735 Fragment of sarcophagus Roman Empire, 3rd Century Marble Dimensions: height (29,9 cm) length (27 cm) width (12,7 cm) Inv. CE00735 Fragmento de sarcófago Império Romano, Século III Mármore Dimensões: altura (32 cm) comprimento (18 cm) largura (8,7 cm) Inv. CE00739 Fragment of sarcophagus Roman Empire, 3rd Century Marble Dimensions: height (32 cm) length (18 cm) width (8,7 cm) Inv. CE00739 94 95 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Khol para maquilhagem Império Romano Século IV Vidro Dimensões: altura (17,1 cm) comprimento (5,1 cm) largura (3,5 cm) Inv. CE02851 Khol for make-up Roman Empire 4th Century Glass Dimensions: height (17,1 cm) length (5,1 cm) width (3,5 cm) Inv. CE02851 Estatueta do deus Marte Império Romano Bronze Dimensões: altura (11,4 cm) comprimento (6,5 cm) largura (1,5 cm) Inv. CE00746 Statuette of Mars god Roman Empire Bronze Dimensions: height (11,4 cm) length (6,5 cm) width (1,5 cm) Inv. CE00746 96 97 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Passador de arreios de veículo Império Romano Bronze Dimensões: altura (15,5 cm) comprimento (13,6 cm) largura (4,8 cm) Inv. CE01749 Rein Ring Roman Empire Bronze Dimensions: height (15,5 cm) length (13,6 cm) width (4,8 cm) Inv. CE01749 Brincos Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,7 cm) comprimento (1,9 cm) largura (0,1 cm) Inv. CE01423 e CE01424 Earrings Roman Empire Gold Dimensions: height (3,7 cm) length (1,9 cm) width (0,1 cm) Inv. CE01423 and CE01424 98 99 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Unguentário Império Romano Vidro Dimensões: altura (8 cm) comprimento (8,8 cm) Inv. CE00658 Unguentary Roman Empire Glass Dimensions: height (8 cm) length (8,8 cm) Inv. CE00658 Unguentário Unguentário Império Romano Vidro Dimensões: altura (4,6 cm) comprimento (3,1 cm) Império Romano Vidro Dimensões: altura (7,6 cm) comprimento (7,6 cm) Inv. CE02362 Unguentary Roman Empire Glass Dimensions: height (4,6 cm) length (3,1 cm) Inv. CE02850 Unguentary Roman Empire Glass Dimensions: height (7,6 cm) length (7,6 cm) Inv. CE02362 Inv. CE02850 100 101 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes arte chinesa A colecção de arte chinesa que se apresenta nesta exposição permite-nos percorrer de uma forma transversal os diversos períodos da história da China e os diversos materiais como o jade, o bronze, a terracota, que se tornaram, de alguma forma, marcas da produção artística chinesa. Por outro lado é ainda possível perceber a relação estreita entre a produção artística e os rituais sagrados e ainda o modo como, ao longo da história imperial da China, a arte reflecte o poder político e militar do Imperador. Durante muitos anos pensou-se que a cultura chinesa teve a sua origem na zona envolvente ao Rio Huang He (Rio Amarelo). No entanto, recentemente foram descobertos alguns sítios arqueológicos que permitem pensar que a cultura e civilização chinesa teve origem numa trama de culturas que emergiram em diferentes espaços e em diferentes períodos. Ao contrário das culturas europeias onde a Idade do Bronze sucede o Neolítico, na China existe uma Idade do Jade, na transição entre o Neolítico e a Idade do Bronze. Nas províncias ao redor da Mongólia Interior e perto da zona de Liaoning e Hebei, a cultura Hongshan (3500 a.C. 2500 a.C.) desenvolveu técnicas de entalhe do jade nefrite, uma tipologia de jade que se caracteriza pela sua tonalidade verde escura. Pensa-se que esta cultura do final do Neolítico já dominaria o cobre e o ferro, que utilizariam como ferramentas para trabalhar o jade. Em Niuheliang, um dos centros de culto da cultura Hongshan, encontraram-se peças de jade de imagens votivas antropomórficas (figuras sentadas com cabeça de animal) (CE03458 e CE03463), ornamentos de carácter mais abstracto chamados “nuvens” e ainda pendentes zoomórficos zhulong que representam figuras em forma de serpente ou dragão com o corpo em forma de anel (CE03465). É presumível que o taotie, uma figura mítica ainda hoje não identificada, normalmente representada nos bronzes das Dinastias Shang e Zhou, tenha tido origem na produção de jade das culturas Hongshan e Liangzhu, no final do Neolítico. É de facto interessante notar que muitas das tradições, fortemente ligadas aos cultos, permanecem bastante presentes ao longo do tempo e dos diferentes espaços geográficos da China. Talvez a verdadeira razão esteja na importância que a cultura chinesa colocou nos espíritos ancestrais, entidade máxima da cosmogonia chinesa a quem eram destinadas as questões em oráculo. É desta necessidade de comunicação com as divindades que, durante a Dinastia Shang (1600 a.C. - 1027 a.C.), nascem os primeiros ideogramas da escrita chinesa. Nos rituais Shang dedicados, tanto aos espíritos ancestrais como a Shang Di, um Deus personificado que exercia controlo sobre outras divindades naturais, geralmente eram feitas oferendas de comida e bebida. Um poema que data da Dinastia Zhou do Ocidente, do poeta Shi Jing diz: “Fragantes era as tuas piedosas ofertas; Os espíritos deliciaram-se com a sua comida e bebida; Eles deram-te cem bençãos. De acordo com as suas esperanças e regras; tudo foi ordenado e rápido; tudo era simples e seguro. Para sempre eles irão conceber-te bom sucesso”. A produção de bronze, durante a Dinastia Shang, desenvolveu-se estreitamente relacionada com os rituais sagrados como recipientes das oferendas aos antepassados. Uma das principais características dos bronzes rituais da Dinastia Shang é a presença do taotie, um ser mítico, de rosto proeminente e partes de corpo de outros animais, como se poderá ver na lateral do guang em forma de dragão (CE00774). Os recipientes para comida continham muitas vezes, para além do taotie, os nomes dos espíritos ancestrais a quem os rituais eram dedicados. Naturalmente, a sua decoração artística, de uma riqueza notável transporta estes bronzes para além uma dimensão meramente funcional. Apesar de servirem para os rituais de sacrifício, os bronzes eram também considerados símbolos de soberania e prestígio da força económica, política e militar das dinastias Shang e Zhou. A decoração que caracteriza os bronzes chineses determinou a evolução tecnológica na produção dos mesmos. Essa decoração consistia em variadas formas geométricas e zoomórficas como dragões, aves, cobras, tigres, elefantes e o taotie, que surge normalmente numa combinação de motivos não figurativos, nomeadamente os padrões em espiral, chamados leiwen. Sobretudo durante a Dinastia Zhou as técnicas de decoração ganharam uma nova ênfase com embutidos de metais dourados e prateados (ouro e prata), de que e exemplo a figura em forma de tigre (CE00766). Foram os eruditos da Dinastia Song (960 - 1279) que iniciaram os estudos de classificação e datação dos bronzes chineses de acordo com a sua tipologia, estabelecendo o que se tornou a designação standard para as formas de recipientes e motivos ornamentais, usados ainda hoje. O primeiro catálogo da grande colecção de arte do último imperador da Dinastia Song do Norte, Hui Zong (1082 - 1135), contava com cerca de 900 peças em bronze, para além das cerca de 6.000 pinturas documentadas. A Dinastia Shang é actualmente dividida de acordo com três sítios arqueológicos: Erlitou, Zhengzhou e Anyang, existindo características estilísticas que determinam os bronzes de cada sítio. Os bronzes do período Anyang como o Huo (recipiente de ritual para vinho em forma de elefante) (CE00757) são decorados com elementos geométricos leiwen (padrões em espiral) sobre os quais se erguem outros elementos mais robustos, que muitas vezes são formas estilizadas de figuras zoomórficas. Para além de as peças ganharem alguma tridimensionalidade ao nível da decoração, nascem, de alguma forma, as primeiras formas de escultura chinesa através de uma procura de significado. Este facto coincide naturalmente com uma mudança de atitude, do ponto de vista de utilização dos bronzes rituais, que começam gradualmente a fazer parte de um cerimonial relacionado com o poder económico, político e militar do Imperador, sobretudo a partir da hegemonia da Dinastia Zhou (1027 a.C. - 771 a.C.) face ao declínio da Dinastia Shang. Tornando-se cada vez mais eminente o culto do imperador, os bronzes de ritual tornavam-se cada vez mais frequentes nos túmulos imperiais, onde outras tipologias, como sinos, espelhos e lanternas e pequenas esculturas, se juntavam aos tradicionais recipientes para comida e vinho. Gradualmente, durante a Dinastia Zhou, o período da Primavera e Outono e o Período dos Estados Combatentes, os túmulos da corte imperial foram ganhando uma dimensão cada vez mais complexa e, ao mesmo tempo, mais hierarquizada, culminando no vasto exército em terracota do último imperador da Dinastia Qin (221 a.C. - 206 a.C.). Durante a Dinastia Qin e sobretudo na Dinastia Han (206 a.C. - 220 a.C.) surge uma nova ideia de imortalidade, onde os espíritos ancestrais poderiam continuar a usar os seus bens mais preciosos, colocados na câmara principal do túmulo. As lanternas tornaram-se objectos muito apreciados, quer pela sua dimensão decorativa, quer pela sua função objectiva de iluminação do caminho para a próxima vida. A sua decoração, seja em forma de boi (CE01501), de ave, ou de um criado de corte a segurar o candeeiro, tinha uma directa relação com o efeito de luz pretendido, em termos de intensidade e direcção. Devido à enorme riqueza e sumptuosidade dos túmulos da corte imperial, junto a uma vasta diversidade de objectos eram colocados os guardiães tumulares, caracterizados por seres mitológicos, híbridos e por figuras de rosto aterrador, de forma a proteger o túmulo dos espíritos do mal. Estas figuras são geralmente comuns nas culturas antigas e particularmente na China, durante a Dinastia Tang (618 - 907), onde normalmente as bestas com corpo de leão e rosto semi-humano surgiam aos pares junto aos Lokapala, guerreiros representados de bigode com uma espada ou lança sobre um animal ou um anão (CE00783). Os Lokapala, guardiães dos quatro pontos cardinais, são uma herança da tradição Budista que exerce influência por toda a Ásia Central e Extremo Oriente a partir da Rota da Seda, tornando-se numa das principais religiões da China, a par do Taoismo e Confucionismo. Durante a Dinastia Liao (907 - 1125) o Budismo tornou-se a religião oficial da China. O imperador Shengzong ordenou a construção de inúmeros templos budistas que, em alguns casos, conservavam relicários de Buda. Estes relicários normalmente com forma de templo eram decorados a ouro com a narrativa da vida de Buda em baixo-relevo (CE00779). No interior, conservavam as relíquias que poderiam ser fragmentos de osso, textos ou ainda objectos pessoais do próprio Buda ou, eventualmente, da figura de Buda em adoração no templo. Nos templos budistas da China a imagem de Buda Dormitando surge, por vezes, com a cabeça apoiada numa tradicional almofada chinesa em bronze (CE03813), decorada com iconografia budista como a flor de lotus. A arte chinesa, desde a sua antiguidade mais remota até à contemporaneidade, revela um constante equilíbrio entre o domínio das técnicas e dos materiais e o culto do seu legado histórico-cultural, resultando numa arte erudita com relação estreita à poesia e à filosofia. 105 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Dawn Ho Delbranco; Art from ritual. Ancient Chinese bronze vessels from the Arthur M. Sackler Collections. Cambridge: Harvard University Press, 1983 Max Loehr; Ritual Vessels of Bronze Age China. New York: Asia Society, 1968 Stanley Charles Nott; Chinese Jade throughout the ages. A review of its characteristics, decoration, folklore, and symbolism. Tokyo: Charles E. Tuttle Company, 1962 Jessica Rawson (ed.), The British Museum Book of Chinese Art. London: The British Museum Press, 2ª edição, 2007 Michael Sullivan; The arts of China. Berkeley: University of California Press, 4ª edição, 2000 Minghua Zhang; Chinese Jade: Power and Delicacy in a Majestic Art. San Francisco: Long River Press, 2000 Rui O liveira L opes 104 Bi b l io g r a f ia Figura sentada Zoomórfica China, Cultura Hongshan (3500 a.C. - 2500 a.C.) Jade Nefrite Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (2,7 cm) largura (2,2 cm) Inv. CE03458 Zoomorphic seated figure China, Hongshan Culture (3500 BC - 2500 BC) Nephrite Jade Dimensions: height (6,5 cm) length (2,7 cm) width (2,2 cm) Inv. CE03458 Figura sentada Zoomórfica China, Cultura Hongshan (3500 a.C. - 2500 a.C.) Jade Nefrite Dimensões: altura (15,7 cm) comprimento (5,6 cm) largura (3,7 cm) Inv. CE03463 Zoomorphic seated figure China, Hongshan Culture (3500 BC - 2500 BC) Nephrite Jade Dimensions: height (15,7 cm) length (5,6 cm) width (3,7 cm) Inv. CE03463 Figura Zoomórfica em forma de anel China, Cultura Hongshan (3500 a.C. - 2500 a.C.) Jade Nefrite Dimensões: altura (10,4 cm) comprimento (3,3 cm) largura (7,9 cm) Inv. CE03465 Pig-Dragon China, Hongshan Culture (3500 BC - 2500 BC) Nephrite Jade Dimensions: height (10,4 cm) length (3,3 cm) width (7,9 cm) Inv. CE03465 106 107 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Huo. Recipiente de ritual para vinho em forma de elefante China, Dinastia Shang, Período Anyang tardio (1200 a.C. - 1100 a.C.) Bronze Dimensões: altura (38,5 cm) comprimento (42,8 cm) largura (15 cm) Inv. CE00757 Huo. Ritual wine vessel in the form of an elephant China, Shang Dynasty, Late Anyang period (1200 a.C. - 1100 a.C.) Bronze Dimensions: height (38,5 cm) length (42,8 cm) width (15 cm) Inv. CE00757 Ding. Recipiente de ritual para comida Guang. Recipiente de ritual para vinho em forma de dragão China, Dinastia Shang, Período Anyang inicial (1300 a.C. - 1200 a.C.) Bronze Dimensões: altura (23,8 cm) comprimento (19 cm) China, Dinastia Shang, Período Anyang inicial (1300 a.C. - 1200 a.C.) Bronze Dimensões: altura (26 cm) comprimento (3,1 cm) largura (9,5 cm) Inv. CE00780 Ding. Ritual food vessel China, Shang Dynasty, Early Anyang period (1300 BC - 1200 BC) Bronze Dimensions: height (23,8 cm) length (19 cm) Inv. CE00780 Inv. CE00774 Guang. Ritual wine vessel in the form of a dragon China, Shang Dynasty, Early Anyang period (1300 BC - 1200 BC) Bronze Dimensions: height (26 cm) length (3,1 cm) width (9,5 cm) Inv. CE00774 108 109 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Hufu Estatueta de tigre em bronze damasquinado China, Dinastia Zhou Oriental, Período dos Reinos Combatentes (475 a.C. - 221 a.C.) Bronze Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (23 cm) largura (6 cm) Inv. CE00766 Hufu. Bronze tiger inlaid with gold China, East Zhou Dynasty, Warring States period (475 BC - 221 BC) Bronze inlaid with gold Dimensions: height (6,5 cm) length (23 cm) width (6 cm) Inv. CE00766 110 111 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Hu. Jarro de vinho funerário China, Dinastia Han do Ocidente (206 a.C. - 9) Bronze Dimensões: altura (36,5 cm) comprimento (22,5 cm) Inv. CE00772 Hu. Funerary wine jar China, Western Han Dynasty (206 BC - 9) Bronze Dimensions: height (36,5 cm) length (22,5 cm) Inv. CE00772 Lanterna funerária em forma de touro China, Dinastia Han do Ocidente (206 a.C. - 9 CE) Bronze Dimensões: altura (29,3 cm) comprimento (35 cm) largura (11,5 cm) Inv. CE01501 Funerary lamp in the form of a bull China, Western Han Dynasty (206 BC - 9) Bronze Dimensions: height (29,3 cm) length (35 cm) width (11,5 cm) Inv. CE01501 112 113 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Lokapala. Guardião tumular China, Dinastia Tang (618 - 906) Terracota Dimensões: altura (49 cm) comprimento (15 cm) Inv. CE00783 Lokapala. Tomb guardian China, Tang Dynasty (618 - 906) Terracotta Dimensions: height (49 cm) length (15 cm) Inv. CE00783 Relicário budista China, Dinastia Liao (907 - 1125) Ouro e bronze Dimensões: altura (13,5 cm) comprimento (7,2 cm) Inv. CE00779 Buddhist Reliquary China, Liao Dynasty (907 - 1125) Gold and Bronze Dimensions: height (13,5 cm) length (7,2 cm) Inv. CE00779 Almofada China, Dinastia Liao (907 - 1125)? Bronze dourado Dimensões: altura (4,6 cm) comprimento (13 cm) largura (8 cm) Inv. CE03813 Pillow China, Liao Dynasty (907 - 1125)? Gilt bronze Dimensions: height (4,6 cm) length (13 cm) width (8 cm) Inv. CE03813 114 115 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes paleo-cristão, islão e idade média cristã A Colecção Estrada possui um amplo e variado conjunto de peças datáveis da Idade Média e que se podem dividir em 3 grandes grupos cronológicoculturais: Paleo-Cristão (sécs. IV-VIII), Islâmico (sécs. VII-XV) e Medieval Cristão (sécs. IX-XV). O grupo Paleo-Cristão é composto por uma lucerna tardo-romana e por uma categoria de peças bastante comuns nos cemitérios visigóticos dessa época: fivelas de cinturão. Relativamente à primeira, trata-se de uma produção norte-africana, apresentando uma iconografia cristã, sendo visível uma cruz (CE02770). O contraste é notório com a iconografia das lucernas romanas de épocas anteriores, as quais eram influenciadas por um imaginário e vivência pagãos. Quanto às fivelas visigóticas, são 6 as peças aqui expostas e em cuja variedade tipológica se podem vislumbrar todo um conjuunto de aspectos ideológicos e religiosos. Assim, as peças mais antigas são duas fivelas datáveis dos sécs. V e VI (CE03219 e CE03657), onde se destacam pequenas contas de pasta vítrea colorida, as quais formam motivos cruciformes. Este tipo de fivelas já era utilizado pelos Visigodos antes de se entrarem no Império Romano e de se instalarem na Península Ibérica, constituindo assim uma forma de identidade cultural distinta daquela dos Hispano-Romanos. Os Visigodos eram também Cristãos Arianos, o que explica a existência de um motivo em cruz nessas fivelas, o qual teria, provavelmente, um significado apotropaico. Em finais do século VI, os Visigodos convertem-se ao Catolicismo, a qual era a religião dos Hispano-Romanos, de modo a diluir as diferenças que havia entre os dois grupos. 116 117 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Ora, esta mudança também é visível nas fivelas, as quais começam a adoptar motivos itálicos (como a peça CE03191) e bizantinos (as peças CE03195, CE03200 e CE03654), os quais estavam mais próximos dos Hispano-Romanos. Também nestas peças são visíveis elementos apotropaicos, destacando-se, em particular, a peça CE03654, na qual são visíveis dois grifos afrontados. O grifo era um animal fantástico com corpo de leão e cabeça e asas de águia. Simbolizava as naturezas terrena e divina de Cristo, sendo considerado como o guardião das almas dos mortos. Passando agora ao grupo Islâmico, pode ver-se um variado conjunto de peças domésticas de luxo, datáveis dos sécs. XII a XIV e provenientes do Médio Oriente. Assim, são visíveis um queimador de perfumes em forma de leão (CE00427), um suporte de lampas (CE03845), uma lâmpada com quatro bicos (CE03810) que era colocada no topo desse mesmo suporte e uma taça vidrado sendo visível no seu interior uma corça (CE00464). Todas estas peças, excepto a última, são em bronze e, provavelmente, de fabrico iraniano, onde as restrições islâmicas à representação de animais não eram tão severas. Já a última peça (CE00468) é uma taça vidrada de fabrico sírio com representação geométrica de motivos vegetais, algo bastante comum na iconografia islâmica. Finalmente, as peças da Idade Média Cristã, representadas por um variado conjunto de arte sacra, com estilos e proveniências diversas. Assinale-se, assim, algumas peças de estillo românico, datáveis dos séculos IX-XII, nomeadamente, um cálice de prata usado na Eucaristia (CE00706); um crucifixo em bronze, com Cristo vestindo um subligaculum na cintura, e com uma coroa na cabeça (símbolo do seu poder) com contas de esmalte (CE00704); e, ainda, uma placa com decoração em esmalte, de provável proveniência das oficinas de Limoges, em França, e que representa um santo (CE00712). Pode igualmente ver-se uma cruz bizantina em bronze, com a sua habitual cruz grega, de braços iguais, e que é datável dos séculos XI-XII (CE00710). Finalmente, estão também presentes algumas peças de estilo gótico, nomeadamente duas estátuas da Virgem com o Menino Jesus e um altar portátil onde a Virgem aparece uma vez mais, todas elas datáveis do século XIV e de provável fabrico francês. O culto da Virgem, ganhou uma enorme dimensão na Europa Católica a partir dos sécs. XI e XII. Sendo simultaneamente mãe e mulher de Deus, tornou-se na principal intercessora da humanidade junto de Deus e na “Rainha das rainhas”. A sua importância era tal que a Igreja Católica identificava-se fortemente com ela, procurando no seu culto a eliminação de dissidências e a união de todos os cristãos. Aqui, ela encontra-se representado em materiais nobres: num altar feito de marfim (CE03749); de pé, numa estatueta, também de marfim (CE02416); e entronizada, num bronze que, inicialmente, era dourado (CE04070). Gustavo Porto carrero Bi b l io g r a f ia Jean Bussière, Lampes Antiques d’Algérie – Tome 2, Lampes tardives et lampes chétiennes, Monographies Instrumentum, 35, Montagnac: Éditions Monique Mergoil, 2007 Susan L. Caroselli, The Painting Enamels of Limoges, Los Angeles: Los Angeles County Museum of Art, 1993 Max Harmann von Freeden, Gothic Sculpture, Londres: Oldbourne Press, 1962 Gisela Ripoll López, Toréutica de la Bética (siglos VI y VII d.C.), Barcelona: Reial Academia de Bones Lletres, 1998 John Lowden, Early christian & byzantine art, Londres : Phaidon, 1997 Rachel Ward, Islamic Metalwork, London: The Trustees of the British Museum, 1993 Oliver Watson, Ceramics from Islamic Lands. The Al-Sabah Collection, Londres: T&H, 2004 Lucerna Romana Norte de África, Sécs. IV - V Cerâmica Dimensões: altura (4,5 cm) comprimento (10,6 cm) largura (6,5 cm) Inv. CE02770 Roman oil-lamp North Africa, 4th - 5th Centuries Ceramics Dimensions: height (4,5 cm) length (10,6 cm) width (6,5 cm) Inv. CE02770 118 119 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fivela Visigótica Península Ibérica, Sécs. V - VI Bronze e vidro Dimensões: altura (5,7 cm) comprimento (11,7 cm) largura (0,8 cm) Inv. CE03657 Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th Centuries Bronze and glass Dimensions: height (5,7 cm) length (11,7 cm) width (0,8 cm) Inv. CE03657 Fivela Visigótica Península Ibérica, Séc. VII Bronze Dimensões: altura (3,4 cm) comprimento (8,9 cm) largura (0,3 cm) Inv. CE03195 Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 7th Century Bronze Dimensions: height (3,4 cm) length (8,9 cm) width (0,3 cm) Inv. CE03195 Fivela Visigótica Península Ibérica, Séc. VI Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (6,9 cm) largura (1 cm) Inv. CE00568 Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 6th Century Bronze and glass Dimensions: height (12,5 cm) length (6,9 cm) width (1 cm) Inv. CE00568 120 121 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fivela Visigótica Fivela Visigótica Península Ibérica, Séc. VII Bronze Dimensões: altura (4,7 cm) comprimento (11 cm) largura (0,4 cm) Península Ibérica, Séc. VII Bronze Dimensões: altura (5,4 cm) comprimento (14,1 cm) largura (0,7 cm) Inv. CE03191 Inv. CE03654 Visigothic Buckle Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 7th Century Bronze Dimensions: height (4,7 cm) length (11 cm) width (0,4 cm) Iberian Peninsula, 7th Century Bronze Dimensions: height (5,4 cm) length (14,1 cm) width (0,7 cm) Inv. CE03191 Inv. CE03654 122 123 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fivela Visigótica Península Ibérica, Séc. VII Bronze Dimensões: altura (4,3 cm) comprimento (11,5 cm) largura (0,3 cm) Inv. CE03200 Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 7th Century Bronze Dimensions: height (4,3 cm) length (11,5 cm) width (0,3 cm) Inv. CE03200 124 125 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Taça Raqa, Síria, Século XII Cerâmica vidrada Dimensões: altura (13,5 cm) comprimento (29 cm) Inv. CE00468 Bowl Raqa, Síria, 12th century Glazed ceramic Dimensions: height (13,5 cm) length (29 cm) Inv. CE00468 Taça Kashan, Irão, Séculos XIII - XIV Cerâmica vidrada Dimensões: altura (14 cm) comprimento (27,6 cm) Inv. CE00464 Bowl Kashan, Iran, 13th - 14th Centuries Glazed ceramic Dimensions: height (14 cm) length (27,6 cm) Inv. CE00464 126 127 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Lucerna Médio Oriente, Séculos XII - XIII Bronze Dimensões: altura (24,3) comprimento (29,5) largura (24,4) Inv. CE03810 Oil lamp Middle East, 12th - 13th Centuries Bronze Dimensions: height (24,3 cm) length (29,5 cm) width (24,4 cm) Inv. CE03810 Suporte de lucernas Médio Oriente, Séculos XII - XIII Bronze Dimensões: altura (54,9) comprimento (19,7) Inv. CE03845 Lamp-stand Middle East, 12th - 13th Centuries Bronze Dimensions: height (54,9 cm) length (19,7 cm) Inv. CE03845 Queimador Irão?, Séculos XII - XIII Bronze Dimensões: altura (21,6 cm) comprimento (29,2) largura (6,9 cm) Inv. CE00427 Incense Burner Iran?, 12th-13th Centuries Bronze Dimensions: height (21,6 cm) length (29,2 cm) width (6,9 cm) Inv. CE00427 128 129 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Cálice Europa Ocidental, Séculos IX-XII Prata Dimensões: altura (16,6 cm) comprimento (10,2 cm) Inv. CE00706 Chalice Western Europe, 9th - 12th Centuries Silver Dimensions: height (16,6 cm) length (10,2 cm) Inv. CE00706 Cruz bizantina Mediterrâneo Oriental, Séculos XI - XII Bronze Dimensões: altura (30 cm) comprimento (27,5 cm) largura (0,3 cm) Inv. CE00710 Byzantine cross Eastern Mediterranean, 11th - 12th Centuries Bronze Dimensions: height (30 cm) length (27,5 cm) width (0,3 cm) Inv. CE00710 130 131 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Crucifixo Europa Ocidental, Séculos XI – XIII Bronze e esmalte Dimensões: altura (12,8 cm) comprimento (10,8 cm) largura (1,3 cm) Inv. CE00704 Crucifix Western Europe Bronze and enamel, 11th - 13th Centuries Dimensions: height (12,8 cm) length (10,8 cm) width (1,3 cm) Inv. CE00704 Placa Limoges, França, Séculos XII-XIII Cobre e esmalte Dimensões: altura (19,9 cm) comprimento (9,1 cm) largura (1,5 cm) Inv. CE00712 Plaque Limoges, France, 12th - 13th Centuries Copper and enamel Dimensions: height (19,9 cm) length (9,1 cm) width (1,5 cm) Inv. CE00712 Virgem Maria com o Menino Jesus França, Século XIV Marfim Dimensões: altura (14,2 cm) comprimento (3,9 cm) largura (2,9 cm) Inv. CE02416 The Virgin Mary and Child France, 14th Century Ivory Dimensions: height (14,2 cm) length (3,9 cm) width (2,9 cm) Inv. CE02416 Virgem Maria entronizada com o Menino Jesus França, Século XIV Bronze Dimensões: altura (52,5 cm) comprimento (16 cm) largura (15 cm) Inv. CE04070 Enthroned Virgin Mary and Child France, 14th Century Bronze Dimensions: height (52,5 cm) length (16 cm) width (15 cm) Inv. CE04070 132 133 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Altar portátil França, Século XIV Marfim Dimensões: altura (13,9 cm) comprimento (12,7 cm) largura (1,2 cm) Inv. CE03749 Portable altar France, 14th Century Ivory Dimensions: height (13,9 cm) length (12,7 cm) width (1,2 cm) Inv. CE03749 134 135 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes arte do final da idade média, do renascimento e do barroco Cabeça de Cristo Portugal, Século XV Calcário Dimensões: altura (21 cm) comprimento (18 cm) largura (24 cm) Inv. CMA017 Head of Christ Portugal, 15th Century Limestone Dimensions: height (21 cm) length (18 cm) width (24 cm) Inv. CMA017 A igreja de Nossa Senhora do Castelo é um notável edifício dos séculos XV e XVI, de nave única, com coro-alto e capela-mor, relativamente bem conservado, que integra um valioso património artístico aplicado, constituído por escultura monumental (portas, arcos, púlpito), excepcionais exemplares de tumulária dos séculos XV e XVI, vestígios de frescos e revestimentos azulejares, na capela-mor, de raras tipologias arcaicas («corda seca»). Com a colecção que aí foi recolhida desde os anos vinte do século XX, o Museu D. Lopo de Almeida, instalado na igreja, apresenta, entre outras peças de interesse, uma evolução da Escultura Portuguesa, do século XV ao século XVIII, com base em peças oriundas das igrejas da cidade, assim como uma pintura quinhentista sobre madeira. Estas colecções serão integradas no MIAA, pelo que, nesta exposição, decidimos apresentar uma selecção representativa desse espólio. No altar-mor pode ver-se um exemplar quase único de moldura gótico-manuelina, em madeira, de um retábulo quinhentista, ainda in situ, subsistindo, exposta ao lado, uma das pinturas que o integrou, uma belíssima Adoração dos Magos que julgamos poder filiar na oficina de Francisco Henriques, pintor luso-flamengo com actividade documentada entre 1509 e 1518. No nicho central da armação retabular encontra-se o orago da igreja, Santa Maria do Castelo, certamente uma imagem anterior reutilizada. Aproximase da obra atribuída ao escultor de Coimbra Diogo Pires-o-Velho, documentado de 1473 a 1514. Esta estátua parece ser, iconografica e plasticamente, uma versão em menor escala da principal obra documentada do mestre, a Virgem com o Menino de Leça da Palmeira, encomendada por D. Afonso V em 1478 e concluída em 1481. Entre as imagens em pedra seleccionadas que se expõem na nave, uma das mais interessantes imagens é a Cabeça de Cristo, porventura um fragmento de uma imagem de um Ecce Homo ou de um Senhor da Cana Verde, em que a intensidade da expressão dolorosa é traduzida com acentuada impassibilidade. No Museu Grão Vasco, em Viseu, existe um Cristo Ressuscitado, talvez anterior, que apresenta algumas afinidades com esta escultura. O tratamento plástico dos cabelos aproxima-a da obra atribuída ao escultor de Coimbra João Afonso, formado à sombra do Mosteiro da Batalha e activo nas décadas centrais de Quatrocentos (cerca de 1436 a cerca de 1470). A Virgem do Leite, proveniente da igreja de S. Vicente, apresenta excelente qualidade plástica, aproximando-se da obra atribuída ao escultor de Coimbra João Afonso, formado nos canteiros do Mosteiro da Batalha e autor de tumulária, retábulos e imaginária avulsa, nomeadamente várias Virgens com o Menino, activo nas décadas centrais de Quatrocentos (cerca de 1436 a cerca de 1470). 136 137 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Já o São Brás, proveniente da igreja de São João Baptista, integra-se na vasta produção das oficinas de Coimbra que copiavam, num registo «menor», os receituários figurativos dos principais mestres da centúria, João Afonso ou Diogo Pires-o-Velho. De acordo com a sua legenda, S. Brás, protector contra as doenças de garganta, enverga traje episcopal e abençoa uma criança que se havia engasgado. Por seu turno, a Santa Mártir, proveniente da igreja de S. Vicente, apresenta o atributo que a identificaria mutilado, presumindo-se que possa ter sido Santa Luzia, protectora contra as doenças dos olhos, ou Santa Bárbara, patrona dos artilheiros. Integra-se na produção das oficinas secundárias de Coimbra que seguem a «maneira» do escultor João Afonso. O notável S. Bartolomeu terá pertencido, com outras esculturas subsistentes, a um mesmo conjunto, eventualmente um Apostolado de um portal ou de um retábulo, e documenta, no seu rigor plástico, a plena assimilação do Renascimento pelas oficinas de Coimbra, resultante da actividade de escultores franceses na cidade, nomeadamente Nicolau Chanterene, de 1518 a 1528, ou João de Ruão, de 1528 até 1580. Finalmente, expõem-se também várias peças em madeira, com destaque para duas imagens maneiristas (uma Santa Catarina e uma Nossa Senhora com o Menino, ambas de finais de Quinhentos), e para um S. José com o Menino, já do período barroco, que deverá ter formado um grupo da Sagrada Família. Junto a estas imagens expõe-se um São Miguel Arcanjo, do século XVII, da colecção Estrada. Fernand o antónio bap tista pereira Bi b l io g r a f ia Pereira, José Fernandes Pereira (coord.) Dicionário de Escultura Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2005. Baptista Pereira, Fernando António «O gosto artístico dos Almeidas» in 500 anos da Fundação do “Estado Português da Índia” 1505-2005, Abrantes, CMA, 2009. Santa Mártir Coimbra, Portugal, Século XV Pedra de Ançã Dimensões: altura (80 cm) comprimento (29 cm) largura (21 cm) Inv. CMA003 Saint Martyr Coimbra, Portugal, 15th Century Limestone Dimensions: height (80 cm) length (29 cm) width (21 cm) Inv. CMA003 S. Brás Coimbra, Portugal, Século XV Pedra de Ançã Dimensões: altura (68 cm) comprimento (24 cm) largura (18 cm) Inv. CMA004 Saint Blaise Coimbra, Portugal, 15th Century Limestone Dimensions: height (68 cm) length (24 cm) width (18 cm) Inv. CMA004 138 139 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Nossa Senhora do Leite Coimbra, Portugal, Século XV Pedra de Ançã Dimensões: altura (102 cm) comprimento (35 cm) largura (40 cm) Inv. CMA021 The Virgin Mary and Child Coimbra, Portugal, 15th Century Limestone Dimensions: height (102 cm) length (35 cm) width (40 cm) Inv. CMA021 S. Bartolomeu Coimbra, Portugal, Século XVI Pedra de Ançã Dimensões: altura (76 cm) comprimento (13 cm) largura (20 cm) Inv. CMA022 Saint Bartholomew Coimbra, Portugal, 16th Century Limestone Dimensions: height (76 cm) length (13 cm) width (20 cm) Inv. CMA022 140 141 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Adoração dos Reis Magos. Painel do Antigo Retábulo da Igreja de Santa Maria do Castelo Oficina Luso-Flamenga de Francisco Henriques (act. 1509-1518), ca. 1512 Dimensões: altura (2,68) cm comprimento (1,32 cm) largura (7 cm) Inv. CMA048 Adoration of the Magi. Picture from the Old Retable of the Church of Santa Maria do Castelo Luso-Flemish Office of Francisco Henriques (act. 1509-1518), ca. 1512 Dimensions: height (2,68 cm) length (1,32 cm) width (7 cm) Inv. CMA048 S. João Baptista Portugal, Século XVII Madeira Dimensões: altura (93,2 cm) comprimento (42,5 cm) largura (33,7 cm) Inv. CMA008 Saint John the Baptist Portugal, 17th Century Wood Dimensions: height (93,2 cm) length (42,5 cm) width (33,7 cm) Inv. CMA008 142 143 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes S. Miguel Arcanjo Portugal, Século XVII Madeira Dimensões: altura (101 cm) comprimento (65 cm) largura (27 cm) Inv. CE04104 Saint Michael Archangel Portugal, Seventeenth Century Wood Dimensions: height (101 cm) length (65 cm) width (27 cm) Inv. CE04104 S. José e o Menino Jesus Portugal, Séculos XVII - XVIII Madeira Dimensões: S. José altura (110,7 cm) comprimento (45,4 cm) largura (30,5 cm) Menino Jesus altura (62,1 cm) comprimento (27,5 cm) largura (16,1 cm) Inv. CMA010 e CMA011 Saint Joseph and Child Portugal, Seventeenth - Eighteenth Centuries Wood Dimensions: S. Joseph height (110,7 cm) length (45,4 cm) width (30,5 cm) Child height (62,1 cm) length (27,5 cm) width (16,1 cm) Inv. CMA010 and CMA011 144 145 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes imaginária indo-portuguesa em marfim A colecção de imaginária indo-portuguesa em marfim reunida por João Ernesto Estrada, constituída por várias peças datáveis dos séc. XVII e XVIII, é representativa de uma confluência artística ditada pelas missões europeias na Índia, sob administração do Padroado Português do Oriente. A imaginária indo-portuguesa em marfim é caracterizada, em grande medida, por esculturas de vulto perfeito, isoladas e avulsas, de pequena estatura executadas em presas de elefante ou rinoceronte provenientes da costa oriental africana ou de Ceilão. São ainda relativamente comuns as placas com baixo-relevo em marfim, seguindo de alguma maneira os modelos medievais de retábulo portátil. Mais raras são as estruturas compósitas como os calvários e as árvores de Jessé, remanescentes das Árvores sagradas da Índia. Normalmente estas peças eram cobertas por policromia, embora já poucos exemplares apresentem restos de pintura, nomeadamente ao nível da indumentária. A escultura em marfim é remanescente de uma confluência de materiais, técnicas e temas que resultaram das campanhas missionárias na Índia. Os missionários europeus recorriam a artistas locais para a execução de imagens cristãs através de modelos em escultura de madeira ou em gravura importados da Europa. Daqui resultou uma profusa produção de imagens em marfim que procurava responder tanto a uma política proselitista de conversão das populações locais, como ao gosto pelo exotismo que tinha lugar nas kunstkammer das cortes europeias. 146 147 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bernardo Ferrão de Tavares e Távora, o maior estudioso da imaginária do Oriente português, classificou a arte do marfim luso-oriental em diferentes tipologias de acordo com a iconografia Mariana, Cristológica (infância de Jesus e Paixão de Cristo) e Hagiográfica, dando ainda destaque ao tema do Bom Pastor, particularmente popular na Índia Portuguesa. Bernardo Távora foi ainda além de um critério simplista que incorporava todas as esculturas em marfim de iconografia cristã numa produção indo-portuguesa, identificando também as oficinas regionais cíngalo-portuguesa, sino-portuguesa e nipo-portuguesa. Os temas iconográficos da estatuária ebúrnea têm uma relação directa com a actividade missionária e um consequente encontro de culturas e sistemas religiosos onde, apesar de tudo, os missionários encontraram similitudes que foram usadas para facilitar e incentivar à conversão das populações locais ao cristianismo. Desta forma trata-se de uma arte miscigenada focada não só no uso de materiais e técnicas de entalhamento do marfim mas sobretudo nas similitudes formais e conceptuais. O Bom Pastor (CE02419), proveniente da Índia, muito possivelmente de Goa, é talvez uma das peças mais interessantes da imaginária em marfim da colecção do Museu Ibérico de Arte e Arqueologia. Foi sem duvida um dos temas com maior projecção no decorrer do séc. XVII que ganhou uma dimensão estética e formal muito destinta dos modelos europeus, já hereditários de um legado artístico e cultural clássico. O Menino Jesus dormente com a cabeça apoiada na mão direita surge normalmente representado no topo do monte rochoso em socalco, com uma ovelha ao ombro e outra no colo e com as pernas cruzadas. Vestido como pastor é representado com os seus atributos habituais como o bornal e a cabaça. A peanha, dividida em três socalcos, é decorada por uma fonte por onde uma carranca jorra água para um tanque e duas aves a beber, um rebanho de ovelhas guardadas pelo Bom Pastor e, por último, Maria Madalena penitente, deitada à maneira indiana. É de facto curioso o motivo pelo qual na imaginária indo-portuguesa o Bom Pastor passa a ser representado como Menino e não como adulto, tal como acontece na escultura e pintura retabular europeia. Certamente terá que ver com outro tema iconográfico particularmente popular durante as missões europeias na Índia, como é o caso do Menino Salvador do Mundo (Salvator Mundi). Ambos os temas estão relacionados com a ideia do bom pastor que resgata a ovelha perdida para a salvação. Por outro lado é também o “espelho” onde os padres missionários se revêm enquanto pastores e predicadores do evangelho da Igreja Católica. A posição do Menino Jesus dormente está naturalmente relacionada com posição de meditação búdica como um bodhisatva ou Maitreya, o messias búdico. Por outro lado, a posição de Maria Madalena, deitada sobre o flanco com a cabeça apoiada na mão tem sido normalmente relacionada com a posição de Buda reclinado. No entanto é importante considerar também a existência de marfins, datados dos séc. XII e XIII, que representam Vishnu dormitando no oceano cósmico, precisamente na mesma posição em que Maria Madalena é representada nos marfins do Bom Pastor. O tema cristão mais popular na Índia Portuguesa de seiscentos é representativo do ambiente missionário em que surge, permeável quer às estruturas formais, quer conceptuais da religião hindu. A representação do tema do Menino Jesus (CE03755, CE03757 e CE03773) é igualmente um dos temas mais apreciados da imaginária indoportuguesa dos séc. XVI a XVIII, com uma ideia muito ligada à salvação universal. É importante entender a representação deste tema no contexto dos modelos escultóricos importados da Europa. Os modelos escultóricos europeus dominantes durante os séc. XVI a XVIII eram provenientes da Flandres, nomeadamente de Bruxelas, Antuérpia e Malines. Estas esculturas do Menino Jesus, normalmente em madeira, eram populares de tal forma e com características tão próprias que passaram a ser denominadas Menino Jesus de Malines. Estas seriam figuras avulsas que poderiam ser colocadas em conjuntos como presépios ou simplesmente isoladas. Normalmente são representadas com o cabelo cortado à maneira medieval, com expressões e anatomia vincadamente flamengas - rosto redondo, cochas largas, nádegas pequenas e a perna direita ligeiramente avançada e flectida. O Menino Jesus Salvador do Mundo e o Menino Jesus de Vara crucífera são exemplos destes modelos de Menino Jesus de Malines que se tornaram populares na Índia dos séc. XVII e XVIII. Particularmente interessante é também a imagem de S. Francisco Xavier (CE02417) que, para além da qualidade do entalhe, sobretudo ao nível do drapeamento, é representativo da importância do Apóstolo do Oriente na conversão das populações locais. Colocando uma mão sobre o peito, S. Francisco Xavier, patrono da cidade de Goa, é representado descalço e no momento da sua pregação, dando claramente ênfase à sua condição de missionário jesuíta e a sua acção como orador junto das comunidades. As imagens de Nossa Senhora da Conceição (CE02418, CE02420 e CE03759) surgem também com alguma frequência na imaginária em marfim muito provavelmente porque o Rei D. João IV, em 1646, adoptou a Imaculada Conceição como padroeira de Portugal. É interessante notar que as imagens em marfim da Imaculada Conceição raramente são representadas sem o menino. Antes da chegada dos missionários europeus à Índia era bastante popular o culto em torno dos episódios da infância de Krishna e da sua mãe adoptiva, Yashoda, consorte de Nanda. Confrontados com a imaginária hindu e o culto aos princípios da maternidade e da figura de Krishna como criança divina e avatar (encarnação) de Vishnu (Deus), os missionários europeus encontraram um paralelismo e similitudes formais e conceptuais que poderiam facilitar a tradução simbólica da iconografia cristã. É de referir ainda que, ao contrário do que acontece em outras partes da Ásia, nomeadamente na China, as imagens da Imaculada Conceição não têm traços fisionómicos de expressão indiana, sobretudo as peças de cronologia mais recente que obedecem com maior rigor aos modelos europeus. 148 149 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Os processos de miscigenação artística na Ásia está directamente relacionada com os diferentes modelos da presença europeia na Índia, na China e no Japão. Enquanto que na China os europeus usufruem de uma presença tolerada e circunscrita a um espaço definido pelo Imperador, na Índia existiu uma colonização efectiva com um Estado estabelecido em Goa a funcionar à imagem da Metrópole do Império português, enquanto que no Japão existiu um período de tolerância até à expulsão definitiva dos cristãos em 1626. Bi b l io g r a f ia AA.VV., A Expansão portuguesa e a arte do marfim. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1991 AA.VV., A Arte do Marfim. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1998 AA.VV., Da Flandres e do Oriente: Escultura importada da colecção Miguel Pinto. Lisboa: IPM / Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, 2002 Rui O liveira L opes Cristina Osswald, O Bom Pastor na imaginária indo-portuguesa em marfim. Porto: Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1996 Cristina Osswald, “Marfins: formas e técnicas, com especial incidência na imaginária indo-portuguesa”. IN: Oceanos - Lisboa - Nº 19-20 (Set. Dez. 2004), pp. 60 - 70 Bernardo Ferrão de Tavares e Távora, Imaginária Luso-Oriental. Lisboa: IN/CM, 1983 Bom Pastor Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (21,5 cm) comprimento (5,7 cm) largura (4,6 cm) Inv. CE02419 Child Jesus as the Good Shepherd Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (21,5 cm) length (5,7 cm) width (4,6 cm) Inv. CE02419 Menino Jesus Salvador do Mundo (Salvatoris Mundi) Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (36,7 cm) comprimento (12,4 cm) largura (12,4 cm) Inv. CE03755 Child Jesus, Savior of the World (Salvatoris Mundi) Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (36,7 cm) length (12,4 cm) width (12,4 cm) Inv. CE03755 150 151 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Menino Jesus da vara crucífera Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (26,8 cm) comprimento (8,3 cm) largura (6,8 cm) Inv. CE03757 Child Jesus Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (26,8 cm) length (8,3 cm) width (6,8 cm) Inv. CE03757 Menino Jesus da vara crucífera Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (24,5 cm) comprimento (8,7 cm) largura (5,9 cm) Inv. CE03773 Child Jesus Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (24,5 cm) length (8,7 cm) width (5,9 cm) Inv. CE03773 S. Francisco Xavier Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (14,9 cm) comprimento (13,8 cm) largura (2,8 cm) Inv. CE02417 Saint Francis Xavier Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (14,9 cm) length (13,8 cm) width (2,8 cm) Inv. CE02417 152 153 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Santo António com o Menino Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (21 cm) comprimento (6,5 cm) largura (5,2 cm) Inv. CE03753 Saint Anthony and Child Jesus Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (21 cm) length (6,5 cm) width (5,2 cm) Inv. CE03753 S. José com o Menino Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (16,7 cm) comprimento (9,7 cm) largura (4,8 cm) Inv. CE03763 Saint Joseph and Child Jesus Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (16,7 cm) length (9,7 cm) width (4,8 cm) Inv. CE03763 154 155 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Nossa Senhora da Conceição Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (19,6 cm) comprimento (6,7 cm) largura (4,6 cm) Inv. CE02418 Our Lady of Conception Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (19,6 cm) length (6,7 cm) width (4,6 cm) Inv. CE02418 Nossa Senhora da Conceição Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (16 cm) comprimento (4,6 cm) largura (3,7 cm) Inv. CE03759 Our Lady of Conception Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (16 cm) length (4,6 cm) width (3,7 cm) Inv. CE03759 Nossa Senhora da Conceição Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (19,8 cm) comprimento (5,1 cm) largura (4 cm) Inv. CE02420 Our Lady of Conception Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: altura (19,8 cm) comprimento (5,1 cm) largura (4 cm) Inv. CE02420 Nossa Senhora do Rosário Goa, Índia, Século XVII Marfim Dimensões: altura (12,1 cm) comprimento (4,9 cm) largura (3,8 cm) Inv. CE03766 Our Lady of the Rosary Goa, India, 17th Century Ivory Dimensions: height (12,1 cm) length (4,9 cm) width (3,8 cm) Inv. CE03766 156 157 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes artistas contemporâneos maria lucília moita Percurso (Dos anos 40-50 aos 80 e seguintes) 1ª Fase Pintura dos anos 40-50 (Naturalismo) 2ª Fase Reacção Finais dos anos 50, princípio de 60 Depois da exposição de 1958 com a pintura que tinha feito até então, na linha naturalista que me formara novos horizontes se me abriram. Fui sentindo necessidade de me afirmar, de me estruturar, talvez uma reacção à pintura “aprendida”. Ao fim de uns três anos não me sentia bem nessa dureza. Escrevi poesia. Enraízo-me na terra limpa Chão e origem Na verdade do restolho e da pedra E da água nascida As águas ribeiras misturam-se à terra Lama pura. Corre salta rebenta nas valas Com a inquietação das coisas vivas Os carvalhos rasgados não são coisas mortas Ficaram no caminho do vento Do primeiro Livro publicado tempo circulado (1967), Pag. 49 3ª fase Espátula, Espátula e pincel duro Consegui desinibir-me com uma espátula e massa de vidraceiro com anilinas – “o Portão Azul” – (1962) Continuei a usar a espátula, com tintas de óleo. Nos retratos, raros, o pincel cortado duro. Também nos troncos, nas coisas. Assim até ao fim dos anos 60 e 1970 -1971. 4º fase Antes do Orgânico Ano de 1972 e ainda em 1973 Ao deixar de todo a espátula as pinceladas foram-se alterando. Primeiro largas, horizontais ou verticais. Foi a fase “Antes do Orgânico”. Também a forma de escrever poesia se foi modificando. Em 1971 encorajada pela escritora Ana Hatherly publiquei “apertado mundo de dentro”. O poeta e crítico Padre João Maia chamou-lhe poesia concretista. Sou na oração de pedra Silencio pedra viva Calo minha voz Digo pedra 4ª fase B Orgânico Anos 74,75,76 Um tempo depois as pinceladas foram ficando arredondadas. Surgiu uma pintura celular que o pintor e escritor Lima de Freitas definiu de Orgânico. 158 159 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes 4ª Fase C O Sair do Orgânico Final dos anos 70 A partir de 78, 79 as minhas raízes naturalistas foram-se manifestando. 5ª Fase Anos 80 e seguintes Só nos anos 80 encontrei a minha “escrita”. Sempre inquieta, insatisfeita, aquilo que eu fui, aquilo que eu sou com tudo o que aprendi e quero aprender. Nos anos 80 o retrato foi-me interessando cada vez mais. Os rostos, a expressão do olhar… Também sugestões do rosto de Cristo. A Santa Face – a partir de uma imagem que tenho no ateliê. Carvão O carvão é a minha ferramenta. No fim do percurso dos anos 40 aos anos 80 comecei a desenhar com mais força. Ao pintar a óleo, primeiro construo com o carvão. Em 1996 por sugestão e com um texto do Professor José Augusto França fiz uma exposição só de desenhos a carvão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Terras de deserto 1989 64x76 Olhos de Ânsia 1987 60x46 160 161 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Desenho a carvão 1995 65x50 162 163 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes joão charters de almeida 1935 Nasce em Lisboa 1960 Termina com distinção o Curso Especial de Escultura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto 1962 Termina com distinção o Curso Superior de Escultura na Escola Superior de BelasArtes do Porto. Apresenta a Tese. É classificado com 20 valores. percurso académico 1962 É convidado para Professor Assistente na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. 1971 Concorre, mediante concurso público, ao lugar de Professor da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, sendo nomeado Professor Efectivo. 1972 Abandona a seu pedido o cargo de Professor Efectivo da Escola Superior de Belas-Artes do Porto para se dedicar, em exclusivo, ao trabalho de atelier. bolsas Património Histórico e Artístico do Brasil. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Alto Patrocínio de l’Association Française d’Action Artistique Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Portuguese Cultural Foundation, R.I, U.S.A. Fullbright Hays Foundation, U.S.A. condecorações 1984 Recebe a citação oficial e diploma de Cidadão Honorário do Senado de Rhode Island, U.S.A., recebendo do Mayor a Chave da Cidade. Recebe o equivalente à Chave da Cidade de Newport. 1985 Recebe a citação oficial e diploma de Cidadão Honorário do Senado da cidade de El Paso, Texas, U.S.A. recebendo do Mayor a Chave da Cidade. 1988 É nomeado Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, Portugal. É nomeado Chevalier de l’Ordre des Arts et Lettres, pelo Ministro da Cultura de França. 1992 É nomeado Officier de l’Ordre de Leopold du Royaume de Belgique, Bélgica. 1998 É agraciado com a Grande Cruz de Honra e Devoção da Soberana Ordem Militar de Malta, Itália. 2007 Recebe a medalha de Mérito Cívico e Cultural, atribuída pela Câmara Municipal de Abrantes. prémios 1961-1970 Ganha 11 primeiros prémios em concursos públicos, nacionais e internacionais, de medalha e medalhaobjecto. Por opção, não entra em mais concursos. exposições colectivas 1972 Desenha os figurinos e décors para “Nights Sounds”, Ballet Gulbenkian, coreografia de John Butler, música de Fukushima, sendo premiado por este trabalho na Bienal de S. Paulo, no Brasil. 1973 Desenha os figurinos e décors para “Tekt”, Ballet Gulbenkian, coreografia de Milko Sparenbleck, música de Xenakis e luminotécnia de Colin Mackintyre. 1979 Desenha os figurinos e décors para “Dimitriana”, Ballet Gulbenkian, coreografia de Carlos Trincheiras, música de Constança Capdeville, Shostakovitch. exposições individuais Desenha o logo dos “Encontros da Música Comtemporânea” da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal. 2004-2005 A convite expôs em: Università di Bologna, Facoltà di Architettura Aldo Rossi - Cesena (2004) Università IUAV di Venezia, Facoltà di Architettura - Venezia (2004) Politecnico di Milano Campus Bovisa, Facoltà di Architettura Civile - Milano (2005) Politecnico di Torino, I Facoltá di Architettura - Torino (2005) Universidade Lusíada - Lisboa (2005) 165 ballet e ópera 1961-1992 Participa em mais de trinta exposições oficiais e particulares em Portugal e no estrangeiro. 1963-1998 Realiza mais de trinta exposições individuais em Portugal e no estrangeiro, não tendo por opção feito mais nenhuma exposição até 2004. 164 2007 Museu Nacional de Arqueologia, Jerónimos - Lisboa Colóquio sobre Obra de Charters de Almeida no Centro Cultural de Belém Lisboa museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes 1984/85 Desenha os décors para “Tosca”, Teatro Nacional de S. Carlos, encenação di Sarah Ventur. 1987/88 e 1994/95. Desenha os décors para “Tosca”, Teatro Nacional de S. Carlos, encenação di Paolo Trevisi. colecções Está representado em museus, fundações e colecções particulares em Portugal e noutros países da Europa, U.S.A., Brasil, Canadá e Japão. Tem trabalhos de grande escala em espaços públicos em Portugal, Bélgica, U.S.A. e China. Em 2007 Executou um trabalho para a Reffer a colocar no espaço público exterior da estação ferroviária de Palmela Desenvolveu um trabalho para a Câmara Municipal de Abrantes a colocar no espaço público, na zona envolvente do “Mar de Abrantes” Executou um trabalho, múltiplo, comemorativo dos 75 anos da OPCA Desenhou o “Prémio Talento”, múltiplo, para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Escreveu sobre Gianni Braghieri, Professor Arquitecto, fundador da Faculdade de Arquitectura “Aldo Rossi” da Universidade de Bolonha Escreveu sobre Marco Peticca, Professor Arquitecto da Faculdade de Arquitectura “La Sapienza” em Roma. Celebrou com a Câmara Municipal de Abrantes um protocolo para a instalação de um núcleo museológico da sua obra posterior a 1983, no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte Moderna a instalar no Convento de São Domingos em Abrantes. Celebrou um protocolo com o Banco de Portugal para a instalação, nessa instituição, de um núcleo museológico sobre obra gravada de sua autoria com cunhos, provas de ensaio, provas definitivas de medalhas e medalhas/objecto. Desenvolveu estudos para a instalação, sob consulta, de um espaço museológico de imagem virtual. cidade imaginária ribeira das naus 1993 Descrição A Ribeira das Naus desde o séc. XVI sempre foi um espaço de grande importância no tecido urbano da cidade de Lisboa. A sua proximidade com o rio Tejo e o tipo de actividade a que este espaço esteve ligado e que lhe deu o nome está também carregado de memórias, de projecções míticas que invocam a nossa história e traduzem em grande parte a nossa cultura. Acresce a estes aspectos o facto da sua proximidade com o Terreiro do Paço, uma belissíma praça, que por si só define todo um sentido de pensamento na sua mais vasta compreensão, impôr o cuidado a ter em ordem à escala, densidade, cor, implantação e forma, factores da maior importância a considerar a qualquer tipo de intervenção que se pretendesse fazer neste local. A diferença de cotas existentes entre o nível das águas do rio Tejo e as zonas de circulação pedonais e de viaturas, eram também um aviso a ter em conta em ordem às leituras feitas do rio pela nova relação que iria surgir entre a intervenção a fazer e os edifícios mais próximos, bem assim como à diversidade dos tempos de leitura entre aqueles que se deslocassem em viaturas ou a pé. Ficha Técnica data 1993 Local Ribeira das Naus - Porto de Lisboa, Lisboa, Portugal Cliente Metropolitano de Lisboa Descrição Colecção do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes Colaboradores Capinha Lopes e Associados - Desenhos técnicos Gabinete de Engenharia do Metropolitano de Lisboa Material Betão pré-fabricado pintado e aço pintado Dimensões Altura apróx. 10m. Croquis [CA] Fotografia [JCN][JCM][MTL][a – CA] Maqueta [JB] 166 167 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes cidade imaginária montreal, canadá 1996 Descrição Neste trabalho continuei a desenvolver conceitos e relações de Tempo, Espaço, Forma e Função, não esquecendo a vizinhança do Rio S. Lourenço e a Cidade de Montreal como cornice e contraste ao Parque. O que desejo é que o Homem habite a minha Cidade Imaginária. Ficha Técnica data 1996 Local Montreal, Canadá Cliente Cidade Montreal e Metropolitano de Lisboa Descrição Colecção do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes Colaboradores Capinha Lopes e Associados - Desenhos técnicos Material Blocos de granito Dimensões Altura 20m. Croquis [CA] Desenhos Técnicos [CLA] Fotografia [CA][a – CA] Maqueta [JB] 168 169 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes porta verso il futuro cesena 2005 Ficha Técnica data 2005 Local Cesena, Itália Cliente Comuna di Cesena Descrição Colecção do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes Colaboradores João Camilo - Simulações Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos Material Betão pintado Dimensões Altura apróx. 40m. Simulações [JC] Maqueta [JB] cidade imaginária mar de abrantes 2006 Descrição A cidade Imaginária que proponho tem como objectivo ligar simbolicamente as duas margens do Tejo, no “mar” de Abrantes. Esta ligação é sugerida pelas diversas portas e passagens que compõem o trabalho. Procurei também propor uma interacção directa com as pessoas que visitem o espaço em causa, o que lhes permitirá descobrirem múltiplas perspectivas do existente e do novo existente. Ficha Técnica data 2006 Local “Mar” de Abrantes, Abrantes, Portugal Cliente Câmara Municipal de Abrantes Descrição Colecção do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes Colaboradores João Camilo - Simulações Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos Gabinete de Engenharia ENGLIS - Projecto de estabilidade Material Betão pintado Dimensões Altura 20m. Simulações [JC] Maqueta [JB] DESCRIÇÃO - Colecção do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes COLABORADORES - João Camilo - Simulações Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos Gabinete de Engenharia ENGLIS – Projecto de estabilidade 170 171 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes