museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
AT
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
câmara municipal
de abrantes
Fernando António Baptista Pereira
Presidente
Luiz Oosterbeek
Nelson Augusto Marques de Carvalho
textos
Davide Delfino
Gustavo Portocarrero
fundação estrada
Luís Manuel Araújo
Presidente
Luís Jorge Gonçalves
João Lourenço Sigalho Estrada
Rui Oliveira Lopes
promotor
arquitectura
Câmara Municipal de Abrantes
João Luís Carrilho da Graça
Colaboração
museologia e história da arte
Susana Rato
Fernando António Baptista Pereira
Nuno Barros
Colaboração (História da Arte)
Clara Bidorini
Luís Manuel Araújo
Rui Oliveira Lopes
comunicação
P-06 atelier, ambientes e comunicação
arqueologia
Luiz Oosterbeek (coordenação)
catálogo
Davide Delfino
Paulo Passos
Gustavo Portocarrero
Divisão de Comunicação / CMA
colaboração
fotografia
Luís Jorge Gonçalves
Fernando Sá Baio
Manuel Calado
Paulo Passos
Instituto Politécnico de Tomar
Divisão de Comunicação / CMA
restauros
montagem museográfica de peças
Justina Borralho
José Manuel Frazão
construção
Construções António Martins Sampaio, Lda
produção de lettering
Demetro a Metro, Lda
impressão
Tipografia Central do Entroncamento, Lda
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
museu ibérico de arqueologia
e arte de abrantes
O Convento de São Domingos, peça
central do património edificado da cidade
de Abrantes, procurava uma vocação
e um destino.
A colecção de arqueologia do Senhor
João Estrada (a que se juntaram as
colecções da pintora Maria Lucília Moita
e do escultor Charters de Almeida,
entretanto doadas ao Município)
procuravam um local para serem
oferecidas à cidade, às pessoas,
à comunidade.
Saúdo este bom encontro, que me
permite agora o privilégio de apresentar,
em exposição de antevisão, o Museu
Ibérico de Arqueologia e Arte de
Abrantes.
Este vai ser o grande museu central
da região, rica em património edificado,
mas sem um grande museu de referência.
Este Museu vai, com o Museu de Arte
Pré-Histórica de Mação e o Centro
de Interpretação de Arqueologia
de V.N. Barquinha, definir um eixo
patrimonial que constituirá uma marca
territorial de referência e se juntará, nos
incluirá e valorizará, o arco patrimonial
norte de Lisboa (Sintra, Mafra, Óbidos,
Alcobaça, Batalha, Tomar, Almourol).
Este Museu constituiu, na política da
cidade de Abrantes, um factor central de
identidade, diferenciação e atractividade
capaz de aprofundar a competitividade
da cidade e do seu território.
E é bom, e devemos orgulhar-nos disso,
que uma marca da nossa identidade
e diferenciação, um factor central da
nossa atractividade e competitividade,
se construa em torno deste riquíssimo
património cultural e da introdução e
reforço de funções tão nobres como o
património e a cultura, a investigação e o
conhecimento, a educação e a pedagogia,
o turismo cultural e a integração em
redes de colaboração internacional.
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
E é com este projecto, com o Museu
Ibérico de Arqueologia e Arte de
Abrantes, com estas novas e qualificadas
funções, que o nosso Centro Histórico,
e com ele todos nós, se re-encontra
com a História e se projecta no futuro.
Foi com esta certeza e esta
responsabilidade que quisemos pôr-nos
a caminho com uma grande equipa de
projecto, com a qualidade, o prestígio e
o reconhecimento público do Arquitecto
Carrilho da Graça, do Museólogo
Professor Fernando António Batista
Pereira e do Arqueólogo Professor Luíz
Oosterbeek.
Caminho feito – e a fazer - com grandes
parceiros. O Senhor João Estrada e a
Fundação Ernesto Lourenço Estrada,
Filhos. A pintora Maria Lucília Moita.
Mestre Charters de Almeida. A Cidade
de Abrantes tem convosco uma grande
dívida e está-vos reconhecida. Dívida
que, todavia, só mesmo a abertura do
Museu Ibérico de Arqueologia e Arte
virá saldar.
Desde já, obrigado.
Nelson de C arvalho
P re si de n t e da C â m a r a Mu n ic i pa l
de A b r a n t e s
raízes, orientação e resultados
de uma actividade coleccionista
Fundação Ernesto
Lourenço Estrada, Filhos
João Lourenço Estrada
Final e felizmente, a colecção de arte
e arqueologia da Fundação Ernesto
Lourenço Estrada, Filhos encontrou um
destino, um, de entre os muitos possíveis,
sempre almejado pelo promotor da
sua recolha e reunião, o Senhor João
Lourenço Estrada.
As colecções agora apresentadas
através desta mostra preliminar foram
reunidas com o empenho e a paixão do
coleccionador que não tem por móbil
a posse mas a partilha. E é por isso que
aqui estão. Cada objecto, artefacto ou
obra-pima foi para ele uma lição viva de
história e de cultura humana que quis
partilhar com todos.
Foi, já desde há muito, na partilha e
comentário que foi suscitando com
aqueles que o acompanhavam, que o
espírito refinado da selecção e da opção
se foi construindo e reconstruindo.
O mínimo que podemos dizer do espírito
com que o Senhor João Estrada reuniu
esta colecção é que foi a sua humildade
e o seu ensejo de saber que edificou os
critérios que presidiram à sua orientação.
Ao tomar em mãos a iniciativa de
gerar o contexto em que estas colecções
são oferecidas à partilha e fruição da
comunidade, a Câmara Municipal
enobrece-se, bem como os restantes
parceiros que intervêm na iniciativa.
Ganha Abrantes, ganha a Nação, ganha
a cultura.
Nunca foi outro o intento almejado pelo
Senhor João Estrada e pela Fundação
Ernesto Lourenço Estrada & Filhos à qual
foi doada.
Um dia saber-se-á o que está por detrás
da recolha de uma colecção como a que
agora se apresenta. Os dilemas,
o sacrifício, o prescindir muitas vezes
do efémero que muitos almejam, para
dedicar o coração e os terrenos bens a um
intuito, a um programa, a um fim.
E nunca houve vaidade. Pelo contrário,
estava sempre por cumprir o objectivo,
que era sempre mais longínquo.
Que aqueles a quem agora se entregam
estas colecções as saibam transformar
numa plataforma dinâmica para ir
mais além, na sua preservação, na sua
valorização, nos estudos e explorações
de sentido que pode suscitar. Porque é já
neste patamar que ela se transformará,
derradeiramente, num bem e numa
aquisição cultural.
Temos a certeza de que a Câmara
Municipal de Abrantes e as entidades
que colaboram neste projecto serão os
herdeiros do espírito e dedicação que
presidiu à diligência do Senhor João
Estrada ao recolher estas colecções.
Ele cumpriu o seu árduo papel.
Cumpramos nós o nosso.
José Henriques
um novo pólo de investigação
e de didáctica do conhecimento
A organização de um novo Museu,
localizado em Abrantes mas inscrito
numa lógica de rede regional e de
projecção nacional, corresponde a uma
necessidade há muito pressentida.
O Alto Ribatejo, espaço de confluência
entre a Estremadura, o Ribatejo, o
Alentejo e as Beiras, ocupa o essencial
do que em tempos foi designado por
polígono Tomar–Abrantes–Torres
Novas, e integra não apenas importantes
conjuntos arqueológicos e históricoartísticos, mas também relevantes
infra-estruturas de investigação e de
valorização patrimonial, com destaque
para o Instituto Politécnico de Tomar.
Não existe, no entanto, um grande
Museu central nesta região. Certamente
que existem espaços patrimoniais
de grande relevância (como o Convento
de Cristo, em Tomar), mas apesar da sua
enorme importância eles não são Museus
globais e não dispõem de recursos
laboratoriais e humanos vocacionados
para a investigação (coluna vertebral
de qualquer Museu). Existem também
importantes núcleos museológicos (com
destaque, na arqueologia, para o Museu
de Arte Pré-Histórica de Mação, MAP,
e para o Centro de Interpretação de
Arqueologia em Vila Nova da Barquinha,
CIAAR), mas apesar de estes possuírem
forte atractividade e uma componente de
investigação de projecção internacional,
são tematicamente muito especializados.
A consciência da necessidade de criar
um Museu com uma vocação ampla
e adequado à nova dinâmica sóciocultural e económica (que polarizou
a região em torno da A23), gerou um
primeiro projecto há poucos anos, no
quadro do 3º Quadro Comunitário de
Apoio, que no entanto não se chegou a
concretizar. O crescimento geométrico
do Museu de Arte Pré-Histórica de
Mação, com o apoio da autarquia, do
Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e
da Comissão Europeia, demonstrou no
entanto que a necessidade permanece.
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
A feliz parceria que se estabeleceu
entre a Fundação Estrada e a Câmara
Municipal de Abrantes vem, desde logo,
colmatar essa necessidade. Mas ela
representa mais do que isso.
Apoiado numa paixão pelo passado
do território hoje Português anterior
à Nacionalidade, o Sr. João Estrada
consagrou grande parte dos seus recursos
financeiros à organização de uma
colecção de objectos que seleccionou pela
sua múltipla valia arqueológica, histórica
e artística, com especial relevância para
a primeira e última destas dimensões.
E reuniu essa colecção com o intuito
não de mero usufruto pessoal, mas
de disponibilização social. É isso que
significa a abertura anunciada do novo
Museu em Abrantes: uma parceria entre
os sectores público e privado, pela qual
um acervo reunido com meios privados
é colocado ao dispor de toda a sociedade
e com uma co-tutela pública.
A reunião de uma tão ampla colecção
como a que o Sr. João Estrada reuniu
(cerca de cinco milhares de objectos)
colocou desafios específicos ao Museu.
Não se tratando de peças provenientes
de escavações arqueológicas, e sim de
aquisições pontuais (especialmente
em leilões no País e no Estrangeiro),
a definição de conjuntos coerentes do
ponto de vista arqueo-histórico não
é tarefa fácil. A estratégia definida
desde o início, por acordo com os
parceiros mencionados, foi a de realizar
um inventário crítico sistemático,
constituindo uma equipa multidisplinar de base e envolvendo diversos
especialistas (para as temáticas específicas
que aquela equipa foi identificando).
Todo o trabalho de organização do
Museu foi, por isso, orientado desde
logo para a estruturação de um pólo
de investigação, que se pretende rigoroso
e aberto ao escrutínio académico.
Este pólo de investigação tem uma
orientação conceptual e três prioridades
estratégicas. No plano conceptual,
trata-se de um pólo que promove o
estudo dos artefactos na sua dupla
dimensão arqueológica e artística.
De facto, foram estes os critérios que
presidiram à formação da colecção,
e o valor desta decorre deles. Nestes
termos, a equipa que tem vindo a
trabalhar sobre a colecção apoia-se,
também, nos recursos, por um lado,
do “Grupo de Quaternário e Pré-História
do Centro de Geociências”, sedeado no
Museu de Arte Pré-Histórica de Mação
(para a vertente arqueológica) e, por
outro, no Instituto Francisco de Holanda,
secção de Ciências da Arte
e do Património do Centro de
Investigação e Estudos em Belas-Artes
(CIEBA), sedeado na Faculdade de Belas
Artes de Lisboa (para a vertente artística
e museológica).
Desta opção conceptual, decorrem
quatro grandes prioridades.
Em primeiro lugar, a focalização na
tentativa de contextualizar os materiais,
recorrendo não apenas a estudos de
estilo (essenciais), mas também a
caracterizações dos processos e técnicas
de produção e dos constituintes, visando
sempre que possível uma datação
rigorosa dos objectos (envolvendo
diversos laboratórios, no País e fora dele,
por forma a cruzar resultados e potenciar
a acreditação dos resultados analíticos).
Esta prioridade, que foca os aspectos
da proveniência dos objectos, tem
permitido reunir algumas competências
e protocolos de análise, que deverão
permitir a criação, no futuro Museu,
de um núcleo de avaliação crítica de
objectos arqueológicos recolhidos fora
de contexto conhecido.
Em segundo lugar, o Museu definiu
a preocupação de desenvolver
componentes analíticas menos
disponíveis no País. Neste campo,
manterá estreitas relações com os
laboratórios que na região e no País
possibilitam a realização de estudos
arqueométricos (com especial articulação
com os laboratórios do IPT), e investirá
especialmente na organização de
laboratórios no sector dos metais,
já que estes constituem uma componente
especialmente relevante do acervo do
Museu.
Em terceiro lugar, foi assumida como
essencial a criação futura de um pólo
de investigação permanente no Museu,
gerido em parceria pelos dois Centros
de Investigação antes mencionados.
Este pólo, especialmente vocacionado
para a arqueologia proto-histórica
e histórica e para a história da arte,
museologia e peritagem artística,
deverá acolher, também, pesquisadores
e estudantes de Mestrado e de
Doutoramento, no âmbito dos referidos
Centros.
Em quarto lugar, e em estreita
conexão com a prioridade anterior, foi
decidido criar um núcleo bibliográfico
de referência para as temáticas
dominantes do Museu que permita
precisamente apoiar os investigadores
que se desloquem a Abrantes com um
interesse nelas centrado. Este núcleo, já
em estruturação, será um pólo da rede
bibliográfica que já integra o MAP e o
CIAAR, que tem com o objectivo atingir,
globalmente, os 10.000 títulos até 2013.
A exposição que agora se apresenta
ilustra, como se diz no texto do Professor
Doutor Fernando António Baptista
Pereira, coordenador de todo o projecto,
as principais temáticas das colecções
do futuro Museu, que assume como
componente central as colecções reunidas
pelo Sr. João Estrada, mas integrará
também outras, provenientes de trabalhos
desenvolvidos pela Câmara Municipal de
Abrantes, pelo Instituto Politécnico de
Tomar e por outras entidades, além das
doações de João Charters de Almeida e
de Maria Lucília Moita.
A selecção das obras para exposição
evidencia o interesse cultural da colecção,
embora não inclua diversas peças de
grande relevância cujo estudo ainda
decorre e que serão reveladas apenas na
inauguração do Museu.
É, no entanto, uma selecção já
estruturada segundo o eixo programático
central do Museu: promover o
conhecimento e o debate alargado sobre
o passado humano no Ocidente
Peninsular e no Mediterrâneo, incluindo
nesse debate a didáctica dos métodos
e critérios de investigação. Pretendese, com efeito, que os visitantes
tomem consciência da complexidade
da investigação arqueo-artística,
envolvendo-se no rigor dos estudos
de contextualização e atribuição
cultural dos objectos individualmente
considerados. Nestes termos, a selecção
inclui peças com claros paralelos em
contextos arqueológicos escavados e bem
conhecidos, mas integra também outras
peças que levantam interrogações,
e mesmo algumas sem paralelos.
Como acontece em muitos museus
que possuem colecções arqueológicas
não provenientes de escavações, o
MIAA tem no seu acervo muitas peças
de difícil atribuição ou de, por vezes,
contraditória filiação. O Museu assume
como opção estratégica a exposição
progressiva dessas peças, apoiada em
estudos críticos, promovendo assim uma
didáctica do conhecimento global, e não
apenas a disseminação de interpretações
histórico-culturais. Pretende-se assim
escapar das soluções fáceis que seriam
ou a não exposição de tais objectos (com
a consequente demissão do dever de
investigação) ou a sua exposição acrítica
(que em nada contribuiria para fomentar
o juízo crítico dos visitantes).
Com a opção que agora se assume,
o Museu espera concitar o interesse de
investigadores externos, cuja colaboração
é desejada e será acarinhada num
espaço de pesquisa contínua, colectiva,
transparente e academicamente rigorosa.
Luiz O osterbeek
P rof e s s or C o orde na d or
d o In st i t u to Pol i t é c n ic o de Tom a r
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
o edifício
caracterização sumária do edifício
do convento de s. domingos
Um antigo convento dominicano foi
fundado ainda no século XV (1472), nos
arredores de Abrantes, por iniciativa
de D. Lopo de Almeida, 1º Conde de
Abrantes, mas a insalubridade do local
motivou o seu abandono, anos depois, e
a transferência da comunidade para uma
nova construção, junto ao centro urbano.
Esse novo Convento de S. Domingos,
que se tornaria um dos complexos
edificados religiosos mais importantes
de Abrantes, foi mandado construir por
iniciativa da coroa, pelos anos de 150917, e sofreu obras de remodelação em
1542-47, dirigidas por Pêro Fernandes,
que lhe conferiram o interessante carácter
classicizante que conserva até aos dias de
hoje.
O convento contou com o alto patrocínio
do Infante D. Fernando, filho de
D. Manuel, que se faria sepultar, com sua
mulher, D. Guiomar Coutinho, na capelamor da igreja.
A estrutura do convento encontra-se
adaptada com felicidade ao terreno de
implantação, um planalto sobranceiro ao
vale do Tejo. Planimetricamente, todas as
dependências se encontram organizadas
em redor do vasto claustro rectangular
de dois andares, com arcarias assentes
em elegantes colunas toscanas típicas
do Renascimento português. O bloco que
originalmente constituía a igreja (de nave
única) encontra-se adossado à fachada
poente, com frontaria saliente,
e foi redesenhado pelo Arquitecto
Duarte Castel-Branco para servir
de entrada à Biblioteca Municipal.
As fachadas poente e nascente
prolongam-se para sul fazendo crer que
se previa um segundo claustro ou, pelo
menos, um pátio, sob o qual se situa a
cisterna.
De acordo com o levantamento de 1866,
feito pelos militares, a fachada poente
(em que se abre a portaria conventual)
era mesmo a mais longa de todas,
criando um vasto corpo com algumas
das características dos restantes, mas
avançando para sul, já completamente fora
do perímetro construído, num possível
projecto de alongamento enorme do
segundo claustro ou pátio. Esse corpo
seria muito aumentado pelos militares
no sentido poente, exteriormente
ao perímetro original, oferecendo
actualmente um aspecto arquitectónico
sem qualquer interesse, o que propicia a
sua demolição com vista à implantação
dos corpos de ampliação do edifício para
instalação do museu.
A utilização do edifício do convento pelo
exército começou muito antes da extinção
das Ordens Religiosas, decretada em
1834, e do próprio abandono por parte da
comunidade religiosa, ocorrido no ano
anterior, pois, desde os finais do século
XVIII, se aquartelaram tropas em parte do
convento e, a partir de 1810, se instalou
mesmo um hospital militar.
O mais antigo levantamento do edificado
data de 1866, antes das grandes alterações
promovidas pelo exército para adaptar
o imóvel a hospital e a quartel. As obras
modificaram profundamente a igreja,
ainda hoje identificável na planimetria e
volumetria do conjunto, e acrescentaram
construções em vários pontos do edifício,
nomeadamente no segmento sul da ala
poente, como atrás se disse. Contudo,
grande parte da estrutura planimétrica e
da volumetria originais do convento se
conservou quase intacta.
Na área da portaria conventual, servida
por um portal de desenho setecentista,
nota-se uma reorganização espacial
dessa época, envolvendo revestimentos
decorativos em azulejo. Subsistem
no mesmo local lápides referentes a
acontecimentos marcantes da história das
unidades militares sedeadas no convento
ou na cidade.
Estes e outros elementos que se referem
à história do edifício ou da cidade serão
conservados.
O rico recheio escultórico e pictórico do
extinto convento foi distribuído, em 1847,
pelas igrejas paroquiais de S. João Baptista
e de S. Vicente da cidade, onde ainda hoje
se reconhece, muito mal integrado nos
altares laterais ou nas capelas-mores, e,
na maioria dos casos, em sofrível estado
de conservação. Pensamos que deverá ser
considerada, com a abertura do museu,
a hipótese do seu restauro e eventual
incorporação no seu acervo.
No início da década de 70 do século
XX, o imóvel, entretanto parcialmente
devoluto e ameaçado de demolição,
sustida por intervenção do então ministro
Arantes e Oliveira, foi classificado como
Imóvel de Interesse Público, por decreto
de Dezembro de 1974. Quatro anos
antes, fora minimamente arranjado para
albergar a Exposição Mestres do Sardoal
e Abrantes, importante mostra de Pintura
Portuguesa dos finais do século XV e
primeira metade do XVI, promovida pela
Fundação Calouste Gulbenkian.
Só nas décadas de 80 e 90 do século
passado, novas e profundas obras foram
realizadas no edifício. Com projecto
do Arquitecto Duarte Castel-Branco, o
conjunto do que outrora fora a igreja,
parte do claustro e algumas dependências
contíguas foram adaptados para neles
ser instalada a Biblioteca Municipal
António Botto, inaugurada em 1993.
Originalmente, o arquitecto pensara
recuperar a totalidade do imóvel com
vista à sua reutilização para fins culturais.
Foi com esse objectivo em mente que
procedeu à recuperação da totalidade da
arcaria e das colunas do claustro, algumas
delas entaipadas desde os tempos da
utilização do imóvel pelo exército.
Os restantes espaços do convento foram
entretanto ocupados pelo Instituto
Politécnico de Tomar, que aí tem vindo a
ministrar diversos cursos, designadamente
de Comunicação Social, tendo igualmente
mandado construir, em áreas limítrofes,
uma cantina.
O vasto espaço que, na origem, estaria
destinado a um pátio ou segundo
claustro nunca construído, encontra-se
actualmente utilizado, na sua maior parte,
como parque de estacionamento, com
uma das entradas pelo portal que liga os
dois corpos da fachada poente. Trata-se
de um espaço amplo, com excepcional
vista sobre o vale do Tejo, que permitirá
o natural prolongamento do edificado, tal
como se prevê no Projecto do Ateliê do
arquitecto Carrilho da Graça.
Em termos artísticos, o convento
apresenta alçados de alguma modéstia,
à excepção do claustro, mas em quase
todos eles há uma certa regularidade
de implantação dos vãos que permite
reconhecer a autenticidade da esmagadora
maioria dos mesmos, que será respeitada.
Há evidentes acrescentos relativamente
recentes (séculos XIX e XX), de muito
fraca qualidade, que deverão ser
demolidos, para deixar o edifício respirar
na sua dimensão mais próxima da
construção histórica original.
Também irão ser restituídos os circuitos
originais de ligação entre os pisos e
renovados ou aumentados esses acessos de
acordo com as exigências museológicas,
numa expressão claramente diferenciada.
Os tectos e as coberturas apresentam
diversos tipos de materiais quase sempre
perigosamente combustíveis e, em
muitos casos, em precário estado de
conservação, pelo que terá ser encarada,
no seu conjunto, a sua preservação
ou substituição face às exigências e
necessidades museológicas. De igual
modo, serão reavaliados os pavimentos
e tomadas medidas quanto à sua
conservação, substituição total ou parcial
e eventual alteração de cotas, tendo em
atenção a circulação museológica.
É aconselhável completar o fecho em
vidro do claustro, nos dois pisos, para
potenciar os circuitos museológicos,
embora mantendo um sistema de
circulação controlada entre a Biblioteca e o
futuro museu.
Fernand o antónio bap tista pereira
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11
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
arquitectura
museu ibérico de arqueologia
e arte de abrantes
Introdução
Situação Actual
O Museu Ibérico de Arqueologia e Arte,
a instalar no edifício do convento
de S. Domingos em Abrantes,
é promovido pela Câmara Municipal
de Abrantes e pela Fundação Estrada.
Tem como vocação fundamental
apresentar as colecções de Arqueologia,
de História e de Arte, desde
a Pré –História até à Época
Contemporânea, reunidas pelas duas
instituições.
A proposta engloba o restauro e
conservação do edifício existente
e a sua ampliação, de forma a possibilitar
a adaptação a Museu. Trata-se do
desenvolvimento de um projecto
de recuperação/ reestruturação/
ampliação com componente museológica,
oferecendo condições físicas e técnicas
apropriadas tornando assim possível
o acesso a bens culturais, actualmente
inacessíveis ao público por falta de
espaços condignos, respondendo ao papel
social, cultural e educativo a que um
museu aspira .
Implantado num planalto dominante
sobre o vale do Tejo, localizado
na Praça da Republica, O Convento
de S. Domingos, edificado no séc XVI,
tem uma localização e um carácter
arquitectónico que à partida o
individualiza e lhe confere um
lugar de destaque relativamente
ao centro histórico de Abrantes.
O edifício alberga a Biblioteca Municipal
António Botto que ocupa o conjunto
do que outrora fora a igreja . Os restantes
espaços do convento estão ocupados
pelo Instituto Politécnico de Tomar,
que irá em breve ser transferido para
um novo edifício.
Ao longo dos anos o convento foi alvo
de obras de consolidação, nomeadamente
a nível estrutural. Praticamente em
todas as alas os pavimentos originais
foram substituidos por lajes de betão.
Apenas a ala Poente mantém ainda
a sua configuração original. O edifício
apresenta sinais evidentes de degradação.
Para além da cobertura, que será
necessário substituir, os rebocos e
pavimentos estão muito deteriorados.
museu ibérico de arqueologia
e arte de abrantes
data início projecto
2008/ ...
Projecto
Programa
João Luís Carrilho da Graça, arquitecto
O projecto contempla quatro grandes
áreas:
Colaboradores
Susana Rato, Yutaka Shiki, Vanessa Pimenta,
Nuno Pinho (arquitectos)
espaços museológicos
núcleos temáticos permanentes, galeria
de exposições temporárias.
espaços interdisciplinares
centro de investigação, centro
de restauro de arqueologia e arte
espaços de apoio ao
funcionamento interno do museu
serviços administrativos e de direcção,
reservas, armazém.
espaços comuns, de apoio
e acesso ao público
recepção, cafetaria/ restaurante, auditório
(150 lug), loja/ livraria, serviço educativo,
instalações sanitárias.
Intervenção
torre
Proposta de um edifício novo, que
integrará de forma racional e eficaz todos
os sistemas (climatização, iluminação,
segurança contra incêndios e intrusão,
entre outros) fundamentais a um
espaço expositivo, para apresentação da
“colecção Estrada” - Arqueologia e Arte
da Pré-história e da Antiguidade.
Um volume de planta quadrada, com
23x33m e sete pisos - seis de exposição
e um, o último, destinado a cafetaria
- revestido com uma tela textil.
O volume é intersectado por um vazio
coleante que atravessa todos os pisos,
perfurando-os. Cria-se um espaço uno
de exposição inundado pela luz natural.
A vista para o exterior é pontuada por
uma janela em cada piso direccionada
para pontos essenciais da paisagem
- o castelo, o rio , a cidade.
Paulo Barreto e Vanda Neto (maquetistas)
Vasco Melo ( fotografia)
Fundações e Estrutura
ADF, Engenheiros Consultores, Lda.
/ António Adão da Fonseca e Pedro Morujão
Instalações Mecânicas
Natural Works, Projectos
de engenharia e optimização energética
/ Guilherme Carrilho da Graça
Fisica dos Edifícios
Natural Works, Projectos
de engenharia e optimização energética
/ Guilherme Carrilho da Graça
Acústica
Natural Works, Projectos
de engenharia e optimização energética
/ Guilherme Carrilho da Graça
Instalações Hidráulicas, Gás
ADF, Engenheiros Consultores, Lda.
/ Ferrnanda Valente
Instalações Eléctricas,
Telecomunicações e Segurança
A proposta teve como preocupação
prioritária a explicitação dos valores
patrimoniais do conjunto, da mesma
forma que procurou responder, com uma
solução adequada e flexível, às exigências
programáticas solicitadas pelo Museu
Ibérico de Arqueologia e Arte de que
Abrantes carece. A instalação de um
Museu Ibérico de Arqueologia e Arte
no Convento de S. Domingos pressupõe
distintas operações:
convento
Restauro e reabilitação do edifício
existente incluindo a introdução de
sistemas de infraestruturas adequados a
espaços museológicos e de apoio. A nível
programático propõe-se que o piso 0 do
convento, seja ocupado maioritariamente
por espaços de apoio ao museu. O piso 1
será destinado a núcleos expositivos.
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
baluarte
Proposta de desaterro de área envolvida
pela antiga muralha para introdução
do piso principal de entrada no museu
(espaços comuns, de apoio e acesso
ao público) e da galeria de exposições
temporárias;
GPIC, Projectos de Instalações
e Consultadoria, Lda.
/ Fernando Aires e Alexandre Martins
Arquitectura Paisagista
Global Lda. / João Gomes da Silva
design gráfico
P06 Atelier, Ambientes e comunicação Lda.
Fotografia
espaços exteriores
e estacionamento
Requalificação da envolvente exterior,
com o objectivo de servir o museu numa
vertente de lazer, associada à fruição
dos espaços públicos; reestruturação
dos acessos viários e pedonais e do
estacionamento existente à superfície.
FG+SG Fotografia De Arquitectura
/ Fernando Guerra e Sérgio Guerra
João Silveira Ramos
Museologia e História de Arte
Fernando António Baptista Pereira
Arqueologia
Luiz Oosterbeek
Área Bruta
10 698 m2
Promotor
João Luís C arrilho da Graça
Câmara Municipal de Abrantes
a rqu i t e c to
e Fundação Estrada
planta do piso -2 [cota 149,26]
planta do piso -1 [cota 155,02]
FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra)
planta do piso 0 [cota 161,50]
1. recepção / bilheteira / loja
2. foyer/átrio
3. exposição permanente núcleo Estrada
4. exposições temporárias
5. exposição permanente:
núcleo Maria Lucília Moita
núcleo João Charters de Almeida
núcleo história do convento
6. auditório
7. recepção serviço/central de segurança
8. centro de investigação
9. administração
10. serviço educativo
11. gabinetes técnicos
12. centro de restauro de arqueologia e arte
13. reservas
14. cargas e descargas
15. instalações de pessoal
16. pátio
17. claustro
14
15
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
planta do piso 1 [cota 167,10]
a. entrada museu
b. acesso núcleo estrada
c. acesso convento
d. acesso exposições temporárias
e. entrada de serviço
f. entrada centro de investigação / convento
g. entrada administração
Vasco Melo
João Silveira Ramos
Vasco Melo
FG+SG fotografia de arquitectura (Fernando Guerra e Sérgio Guerra)
16
corte transversal
17
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
as colecções
o museu ibérico de arqueologia
e arte de abrantes
do conceito à exposição de antevisão
O Museu Ibérico de Arqueologia e
Arte de Abrantes (MIAA) tem por
missão apresentar as colecções de
Arqueologia, de História e de Arte, desde
os tempos Pré-Históricos até à Época
Contemporânea, tanto de origem local,
regional e nacional como de origem
internacional, recolhidas por iniciativa
do Senhor João Estrada e da Câmara
Municipal de Abrantes, que permitam
uma visão amplamente contextualizada
da sucessão, no tempo e no espaço,
de culturas e de formas artísticas que
se reportem às origens e evolução do
que é hoje a realidade portuguesa,
quer como ponto de encontro entre
o mundo ibérico, o mediterrânico e o
norte europeu, quer numa dimensão
de expansão pluricontinental. Dada
a natureza e a abrangência temática,
geográfica e cronológica das colecções
recolhidas, será dado o devido relevo à
questão da remota individualidade das
culturas que se sucederam no território
do ocidente peninsular.
A designação adoptada de Museu
Ibérico de Arqueologia e Arte
justifica-se plenamente, devido, em
especial, à representatividade das
colecções e à possibilidade de com elas
se contextualizar o mundo ibérico no
universo mais vasto do Mediterrâneo.
Destaca-se, no acervo, a colecção
relativa à Pré e Proto-história, assim
como à Antiguidade Clássica, recolhida
principalmente no antigo território da
Lusitânia e regiões limítrofes, que, não
temos dúvidas, suscitará, logo que seja
cientificamente divulgada, pedidos para
exposição e intercâmbio com outros
museus nacionais e estrangeiros.
Esta esperada projecção internacional
justifica, desde logo, a concepção dupla
de Museu e de Centro de Investigação
que será implementada.
18
19
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
O MIAA não conta apenas com
colecções de Arqueologia, mas também
de Arte, que se estendem desde os
tempos Pré-Históricos até à Época
Contemporânea, tanto de origem local,
regional e nacional como de origem
internacional, recolhidas por iniciativa
do Senhor João Estrada e também
por parte da Câmara Municipal de
Abrantes, sobretudo as que integravam
o antigo museu D. Lopo de Almeida,
instalado na igreja de Nossa Senhora
do Castelo, Panteão dos Almeidas,
espaço que passará a funcionar como
um anexo do novo museu. O MIAA
vai ser instalado num edifício que é
propriedade da edilidade, o antigo
convento de S. Domingos de Abrantes,
cuja caracterização histórica e artística
fazemos noutro capítulo deste catálogo.
Esse edifício deverá, para esse fim, sofrer
obras de recuperação e de adaptação,
envolvendo também uma significativa
ampliação, que estão confiadas ao Ateliê
JLCG, chefiado pelo Arquitecto João
Luís Carrilho da Graça, recentemente
galardoado com o prestigioso Prémio
Pessoa. O Projecto do MIAA, que se
afirma como intervenção arquitectónica
autoral de excelência no centro
histórico de Abrantes, é objecto de
extensa e documentada apresentação
nesta exposição e no catálogo que a
acompanha.
O signatário, que é, por escolha da
Câmara Municipal de Abrantes, o autor
do conceito e programa museológicos
do MIAA, contou com a colaboração
científica, para os períodos da
Pré-História e da Antiguidade, do Prof.
Doutor Luís Oosterbeek, do Instituto
Politécnico de Tomar, que, desde a
primeira hora, se encontra integrado
na equipa multidisciplinar que irá
desenhar e realizar o Museu e que
assina o texto seguinte deste catálogo,
sobre a importância da investigação na
instituição que agora se apresenta.
Essa equipa conta com vários
colaboradores de relevo no meio
académico português, alguns dos quais
assinam os textos científicos deste
catálogo.
O MIAA irá contar com as seguintes
colecções cedidas pelo Sr. João Estrada,
que ascendem, de momento, a cerca de
cinco mil entradas de catálogo:
1. Artefactos arqueológicos pré e protohistóricos em pedra, cerâmica, bronze e
outros materiais, representativos da vida
económica e social de várias culturas e
povos que ocuparam diversas áreas do
território nacional;
2. Escultura, artefactos militares e peças
de adorno com a mesma cronologia
e proveniência;
3. Exemplares de Arte da Antiguidade
Oriental e Clássica, com destaque para
peças egípcias, gregas, etruscas
e romanas;
4. Conjuntos de ourivesaria e objectos
de adorno, recolhidos no que foi o antigo
território da Lusitânia, que se estendem
do Calcolítico à Época Romana Tardia
e à Alta Idade Média;
5. Exemplares de Arte Islâmica e das
Artes Asiáticas, com especial destaque
para as culturas da China antiga;
6. Numismática;
7. Fragmentos de Arquitectura Romana,
Medieval e Moderna;
8. Arte Sacra dos séculos XIII a XVIII;
9. Pintura dos séculos XVII a XX;
10. Relógios de várias épocas.
Por seu turno, a Câmara Municipal de
Abrantes inclui no MIAA não apenas as
colecções de Arte Antiga que integravam
o Museu D. Lopo de Almeida (em que
se destacam várias esculturas em pedra e
em madeira do Renascimento ao Barroco
e uma pintura quinhentista da oficina
do pintor luso-flamengo Francisco
Henriques), mas também os acervos
de Arqueologia e História Local que
têm vindo a ser recolhidos, mediante
escavações arqueológicas, no território
do concelho, assim como as colecções de
Arte Contemporânea legadas pela Pintora
Maria Lucília Moita e pelo Escultor João
Charters de Almeida.
Estas colecções poderão e deverão ser
enriquecidas com outros depósitos,
doações ou aquisições, de particulares
ou de entidades locais, de acordo com
a política de incorporações que vier a
ser definida. A título de mero exemplo,
pode dizer-se que o MIAA tem todas
as condições para vir a ser o locar de
conservação e restauro e de depósito,
mantendo a propriedade original, com
vista a uma condigna exposição, do rico
património de Pintura Antiga das igrejas
da cidade e da sua Misericórdia.
Em termos de vocação, o MIAA será um
museu interdisciplinar de ArqueologiaHistória e de Arte, de abrangência
territorial regional-internacional e
de tutela mista público-privada, que
assentará em protocolos estabelecidos
entre a Fundação Estrada e a Câmara
Municipal de Abrantes. Relaciona-se,
pela sua vocação, com os museus locais,
regionais e nacionais de arqueologia,
história e arte. Procurará traçar, graças
à originalidade da composição dos seus
acervos, um percurso programático,
quer expositivo, quer de actividades,
profundamente singular no panorama
nacional e peninsular.
Por outro lado, o MIAA não se limitará
a ser um importante pólo expositivo de
uma colecção que será, a vários títulos,
de referência não apenas nacional mas
internacional, vai também integrar,
como já foi dito e extensamente se
desenvolve no texto seguinte, um Centro
de Investigação que irá aprofundar o
estudo das suas colecções, promover
novas exposições e estabelecer parcerias
para projectos de investigação com
Universidades, Autarquias e outros
museus nacionais e estrangeiros.
Em suma, o MIAA tem todas as
condições para vir a tornar-se um
decisivo pólo de desenvolvimento
cultural, científico e social numa região
interior do País, invertendo a tendência
de concentração dos equipamentos e
das oportunidades na faixa litoral do
território e nos grandes centros que
aí se encontram. Beneficiará também
dos bons acessos de que já dispõe a
Cidade de Abrantes e da ligação próxima
com centros monumentais, turísticos
e religiosos de referência que atraem
grandes fluxos de visitantes como são
Tomar, Fátima, Batalha, Alcobaça
ou mesmo Santarém, criando novas
centralidades e novas dinâmicas
de desenvolvimento sustentado.
A exposição Antevisão do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
pretende, como o título indica, apresentar
o Projecto de Arquitectura que o Ateliê
de João Luís Carrilho da Graça concebeu
para o MIAA, incluindo a recuperação
do convento de S. Domingos, assim como
uma visão panorâmica das principais
Colecções que vão integrar o museu.
O espaço escolhido foi a igreja de Santa
Maria do Castelo, notável edifício dos
séculos XV e XVI, relativamente bem
conservado, que integra um valioso
património artístico aplicado, constituído
por escultura monumental (portas, arcos,
púlpito), excepcionais exemplares de
tumulária dos séculos XV e XVI, vestígios
de frescos e revestimentos azulejares
de raras tipologias arcaicas («corda
seca») e, ainda, um exemplar quase
único de moldura gótico-manuelina
de um retábulo quinhentista, ainda in
situ, subsistindo uma das pinturas que o
integrou, uma Adoração dos Magos que
julgamos poder filiar na oficina do pintor
luso-flamengo Francisco Henriques (act.
1509-1518). A igreja alberga, desde 1931,
o Museu D. Lopo de Almeida, cujas
colecções passarão a integrar o MIAA,
funcionando o espaço eclesial,
no futuro, como anexo monumental
do novo museu, como já se disse.
É, portanto, nesta casa-mãe da
museologia abrantina, que se apresenta
o novo museu, numa exposição que
valoriza, em primeiro lugar, o espaço e os
seus valores monumentais e, de seguida,
conduz o visitante pela descoberta do
Projecto, num eixo central que parte
da nave e se prolonga pela capela-mor,
e pelas colecções de escultura, que se
distribuem pelos quatro cantos da nave,
seguindo o movimento dos ponteiros
do relógio, da época romana à época
barroca. Em salas anexas que completam
o circuito apresenta-se uma significativa
selecção de artefactos arqueológicos
e artísticos: na da esquerda, numa
vitrina de grandes dimensões, peças
egípcias, romanas, chinesas e indoportuguesas, além de uma peça islâmica;
na da direita, numa vitrina de oito
metros de comprimento, um contínuo
de testemunhos que se estendem do
Neolítico à Idade Média. Finalmente,
no Coro-Alto, uma selecção de obras do
Escultor João Charters de Almeida (três
maquetes de projectos recentes) e da
Pintora Maria Lucília Moita (uma síntese
de momentos fundamentais do seu
percurso). O catálogo segue a sequência
cronológica em que se arrumam as
colecções.
A abertura desta exposição de antevisão
do MIAA, permitindo um claro
vislumbre sobre a importância deste
novo museu, deverá constituir o ensejo
para a devida homenagem ao Senhor
João Estrada, coleccionador apaixonado
e visionário e notável benemérito da
cidade e da região, ao disponibilizar para
usufruto público esta magnífica colecção
que reuniu ao longo de décadas. Desde já
anunciamos que, no próximo Outono,
no quadro desta exposição, será
organizada uma sessão de homenagem,
em que será publicado um livro reunindo
estudos sobre peças relevantes das
colecções que legou ao MIAA.
M aio-Junho 2009
Fernand o antónio bap tista pereira
P rof e s s or As s o c ia d o da Fac u l da de
de Be l as - A rt e s da Un i v e r si da de de L i sb oa
20
21
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
neolítico e calcolítico
Os modos de vida tal como os
conhecemos actualmente são fruto duma
evolução social e tecnológica que se
iniciaram com a grande mudança
climática que ocorreu no final do período
glaciar e o inicio do actual período
climático. No decurso do VI e do V
milénio a.C. as comunidades humanas
tornam-se mais estáveis e levam a cabo
uma série de descobertas e inovações
técnicas: a agricultura e a pastorícia dum
lado, que permitem também criar uma
estrita relação com o território,
e a invenção da cerâmica por outro,
que constitui o primeiro momento em
que os humanos conseguem transformar
quimicamente o material oferecido
pela natureza.
A paisagem é modificada sensivelmente
pela primeira vez, abrindo-se clareiras
nas florestas para se criarem campos de
cultivo através do uso de instrumentos
de pedra polida (CE03457). A maior
produção de alimentos favorece um
aumento da população juntamente com
a concentração dos excedentes
alimentares nas mãos de elites,
possibilitando assim, sobretudo na área
Atlântica Europeia, grandes trabalhos
colectivos como os monumentos
megalíticos, vulgo “antas”, que assumem
o papel duplo de sítios de sepulturas
dos grupos dominantes e de marcadores
do território das comunidades.
Na Península Ibérica, nos adereços
funerários do megalitismo alentejano
e estremenho do IV milénio a.C., são
muitos frequentes objectos votivos
denominados “placas de xisto”(ce02036),
que com varias evoluções de forma e
decoração, chegam até meados do III
milénio a.C.: a interpretação do seu
significado ainda não é seguro, sendo
vistas quer como uma figuração do
defunto, quer como uma divindade
protectora. Nos adereços funerários nas
antas do final do Neolítico encontra-se
algumas vezes, representações duma
afirmação de poder, como os báculos
de xisto (CE02035), que lembram
simbolicamente o báculo de comando
dos chefes. A representação da figura
humana nos objectos votivos que
acompanham os mortos durante
o Neolítico é bastante esquemática
(CE01209), abandonando
progressivamente o naturalismo típico
das épocas anteriores. Esta mudança do
estilo figurativo observa-se também nas
figurações humanas em xisto, quer em
grandes placas (CE02115), quer nas mais
habituais placas de menor dimensão.
Mais tarde, entre o Neolítico final
e o inicio do Calcolítico (III milénio a.C.),
aprecem placas de xisto com uma
representação ligeiramente mais humana,
mas ainda abstracta (CE02034) e, já em
pleno Calcolítico, no sul de Espanha
aparecem figuras, raras, entre o
abstacionismo e o naturalismo (CE01877).
O Calcolítico, que toma o seu nome da
palavra grega calcós que significa “cobre”,
caracterizou-se por uma maior
complexificação das sociedades humanas
e pela descoberta da metalurgia do cobre
e do ouro: o cobre, em particular,
prestava-se bem para o fabrico de armas,
instrumentos e adornos pessoais, dado
poder ser trabalhado facilmente e ser
reciclável. Os instrumentos mais
característicos são os machados
(CE03891), que, por vezes, ultrapassam
as suas características meramente
instrumentais, assumindo-se quer como
objectos simbólicos de poder, quer como
lingotes para as trocas de cobre
(CE01824). Em Portugal, durante o
Calcolítico, os monumentos megalíticos
como as antas neolíticas são reutilizados
como lugar de sepultura, aparecendo
também estruturas de sepulcros
colectivos, não megalíticas, e que tomam
o nome de tholoi, edificadas
frequentemente no mesmo lugar das
antas neolíticas.
Finalmente, a chamada Cultura do Vaso
Campaniforme, que caracterizou o final
do Calcolítico em várias partes da
Europa, da Península Ibérica ao Sul da
Inglaterra e ao Mediterrâneo; adereços
funerários com o típico vaso em forma
de campana, juntamente com braçais de
arqueiro, botões em osso e pontas de seta
de cobre do tipo “Palmela” (CE00222,
CE01868 e CE01869), caracterizam as
sepulturas duma sociedade guerreira,
com um novo conjunto de armas e com o
poder concentrado nos grupos familiares.
Na armaria aparecem também,
no período entre o final do Calcolitico
e a Idade do Bronze Antiga os primeiros
punhais em cobre (CE01871) que irão
substituir os velhos punhais de sílex
neolíticos.
Davide D elfino
22
23
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Bi b l io g r a f ia
Joáo Luís Cardoso,
Pré-história de Portugal, Lisboa: Verbo, 2002
Vítor Gonçalves,
Reguengos de Monsaraz; territórios megalíticos,
Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz,
1999
Vera Leisner,
“Die megalithgraber der Iberischen Halbinsel”,
band1/3, Erster Teil: Der Süden,
Römisch-Germanische Forshungnum,
17, Berlin.
Luiz Oosterbeek (ed),
Territórios da Pré-História em Portugal,
série ARKEOS, vols. 6-9, Tomar: Centro
Europeu de Investigação da Pré-História
do Alto Ribatejo, 2006
Ídolo. Figura humana estilizada
Sudoeste da Peninsula Ibérica,
1.ª metade do IV Milénio a.C.
Osso
Dimensões:
altura (5,3 cm)
comprimento (1,7 cm)
largura (0,2 cm)
Inv. CE01209
Idol. Stylized human stylized
Southwest of Iberian Peninsula,
first half of 4th Millennium BC
Bone
Dimensions:
height (5,3 cm.)
length (1,7 cm.)
width (0,2 cm.)
Inv. CE01209
Machado
Europa Ocidental,
meados do IV Milénio a.C.
Pedra, serpentina
Dimensões:
altura (10,2cm)
comprimento (5,4 cm)
largura (4,2cm)
Inv. CE03547
Axe
Western Europe,
middle of 4th Millennium BC
Stone, serpentine
Dimensions:
height (10,2 cm)
length (5,4 cm)
width (4,2 cm)
Inv. CE03547
Ídolo funerário
Sul do Portugal,
IV Milénio a.C.
Pedra, xisto.
Dimensões:
altura (10,2 cm)
comprimento (7,4 cm)
largura (0,9 cm)
Inv. CE02036
Funerary idol
Southern Portugal,
4th Millennium BC
Stone, schist
Dimensions:
height ( 10,2 cm)
length (7,4 cm)
width (0,9 cm)
Inv. CE02036
24
25
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Placa
Sul de Portugal?,
IV-III Milénios a.C.
Pedra, xisto
Dimensões:
altura (36,5 cm)
comprimento (11,5 cm)
largura (0,5 cm)
Inv. CE02115
Plaque
Southern Portugal?,
4th - 3rd Millenniums BC
Stone, schist
Dimensions:
height ( 36,5 cm)
length (11,5 cm)
width (0,5 cm)
Inv. CE02115
26
27
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Báculo
Sul do Portugal,
III Milénio a. C.
Pedra, xisto
Dimensões:
altura (23,2 cm)
comprimento (11 cm)
largura (0,9 cm)
Inv. CE02035
Baton
Southern Portugal,
3rd Millennium BC
Stone, schist
Dimensions:
height (23,2 cm)
length (11 cm)
width (0,9 cm)
Inv. CE02035
Ponta de flecha, tipo Palmela
Sul de Portugal,
início do III Milénio a.C.
Cobre
Dimensões:
altura (1,6 cm)
comprimento (7 cm)
largura (0,2 cm)
Inv. CE00222
Arrowhead, Palmela type
Southern Portugal,
early 3rd Millennium BC
Copper
Dimensions:
height (1,6 cm)
length (7 cm)
width (0,2 cm)
Inv. CE02035
28
29
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Ponta de flecha, tipo Palmela
Ponta de flecha, tipo Palmela
Sul de Portugal,
final do III Milénio a.C.
Cobre
Dimensões:
altura (1,9 cm)
comprimento (6,2 cm)
largura (0,2 cm)
Sul de Portugal,
final do III Milénio a.C.
Cobre
Dimensões:
altura (2,1 cm)
comprimento (6,7 cm)
largura (0,2 cm)
Inv. CE01868
Inv.CE01869
Arrowhead, Palmela type
Arrowhead, Palmela type
Southern Portugal,
late 3rd Millennium BC
Copper
Dimensions:
height (1,9 cm)
length (6,2 cm)
width (0,2 cm)
Southern Portugal,
late 3rd Millennium BC
Copper
Dimensions:
height (2,1 cm)
length (6,7 cm)
width (0,2 cm)
Inv. CE01868
Inv. CE01869
Machado
Peninsula Ibérica, III Milénio a.C.
Cobre
Dimensões:
altura (7,5 cm)
comprimento (21 cm)
largura (0,9 cm)
Inv. CE01824
Axe
Iberian Peninsula,
3rd Millennium BC
Copper
Dimensions:
height (7,5 cm)
length (21 cm)
width (0,9 cm)
Inv. CE01824
Punhal
Europa Ocidental,
2200 - 1800 a.C.
Cobre (arsenical?)
Dimensões:
altura (11,9 cm)
comprimento (3,4 cm)
largura (0,4 cm)
Inv.CE01871
Dagger
Western Europe,
2200 - 1800 BC
Copper (arsenical?)
Dimensions:
height (11,9 cm)
length (3,4 cm)
width (0,4 cm)
Inv. CE01871
Ídolo funerário
Sul do Portugal, III Milénio a.C.
Pedra, xisto
Dimensões:
altura (15,6 cm)
comprimento (7,3 cm)
largura (1,1 cm)
Inv. CE02034
Funerary idol
Southern Portugal,
3rd Millennium BC
Stone, schist
Dimensions:
height (15,6 cm)
length (7,3 cm)
width (1,1 cm)
Inv. CE02034
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Ídolo
Sudeste da Peninsula Ibérica,
final do III Milénio/início do II Milénio a.C.
Osso
Dimensões:
altura (5,6 cm)
comprimento (2,5 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE01877
Idol
Southeast of the Iberian Peninsula,
late 3rd Millennium/early 2nd Millennium BC
Bone
Dimensions:
height (5,6 cm)
length (2,5 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE01877
Machado
Europa Ocidental,
início do II Milénio a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (4,6 cm)
comprimento (12,6 cm)
largura (1,2 cm)
Inv. CE03891
Axe
Western Europe,
early 2nd Millennium BC
Bronze
Dimensions:
height (4,6 cm)
length (12,6 cm)
width (1,2 cm)
Inv. CE03891
32
33
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
idade do bronze
O período que compreende o IIº milénio
e os primeiros séculos do Iº milénio a.C.
designa-se por Idade do Bronze devido
ao uso maciço que se fazia desta liga de
cobre e estanho. O bronze, depois de
séculos de experimentação, desenvolveuse a tal ponto que veio a substituir
gradualmente outras matérias até então
utilizadas no artesanato, como o sílex,
pedras duras, o osso e o corno.
O segredo do seu sucesso estava nas suas
propriedades físicas e na possibilidade
de poder ser reciclado. A procura dos
metais necessários para a criação desta
liga metálica levou ao nascimento fortes
dinâmicas de interacção entre
as populações: juntamente com os
metalurgistas e os comerciantes de
bronze, viajavam objectos, mas também
conhecimentos técnicos e idéias.
Os objectos de bronze vão assumir,
portanto, um valor comercial mas
também de prestígio e simbólico: os
chefes que mais conseguiam acumular
uma grande quantidade deste metal
na forma dos artefactos, ficavam em boa
posição de obter mais poder militar
e político.
Observa-se neste contexto uma grande
difusão em toda a Europa de depósitos
de objectos de bronze com diferentes
funções: deposições rituais por parte da
elite guerreira de oferendas aos deuses,
sobretudo de espadas, normalmente em
rios (gewasserfunde), e ainda depósitosreserva dos grupos de metalurgistas com
objectos gastos ou de fresca moldagem,
normalmente em lugares ocultos
e de acesso dificultoso.
Do primeiro grupo de depósitos,
interpretáveis como oferendas aos deuses
dos rios, fazia provavelmente parte a
espada do tipo “pistilliforme” (CE01808),
assim nomeada devido ao alargamento
da lâmina na sua zona central, havendo
vários exemplos de depósitos semelhantes
no Bronze Final Francês. Estas armas
foram introduzidas a partir do séc. XI a. C.
na Europa Atlântica sobretudo por
influência da Cultura dos Campos de
Urnas e usadas no combate de infantaria;
diferenciam-se em cada região por causa
de uma diferente composição no metal:
na Península Ibérica há ligações binárias
de cobre e estanho com algum chumbo
e sem impurezas, ao contrário das
espadas inglesas e do sudoeste francês.
Ainda ligada à armaria do Bronze Final
e, provavelmente, a deposições rituais,
é a espada próxima ao tipo “Tapsos”
(CE 2481), cujo modelo é de origem Egeia,
e que se difundiu entre o séc. XII a.C.
e meados do séc. XI a.C. através do
Mediterrâneo para ocidente, como
mostram alguns exemplares encontrados
na Sicília, testemunhando assim as redes
de relações e a circulação de objectos de
bronze a larga distância nas áreas
mediterrânicas e atlânticas no final
da Idade do Bronze.
O segundo grupo de depósitos, relativo
às reservas de metal dos fundidores,
é testemunhado por vários objectos
gastos ou não acabados que faziam
sempre parte destes “tesouros”de metal
a reciclar nos sítios de fundição ou a
vender nos povoados, como o machado
de tipo “Trebul” (CE01870) característico
da França setentrional no Bronze Médio,
sécs. XVI-XIV a.C.
No final da Idade do Bronze, a produção
metalúrgica veio a aumentar de qualidade
e quantidade, criando na Europa
do Bronze Final uma rede de escambos
de modelos entre as várias áreas
de produção.
Regiões tecno-culturais e tráficos
de artefactos de bronze são bem
testemunhadas nos restantes objectos
expostos: um conjunto formado por uma
navalha (CE02102) e pelo machado com
anéis (CE02071) evidencia uma produção
típica da área atlântica dos sécs. X-IX a.C.,
a qual veio a ser exportada para
o Mediterrâneo até à Sicília; a ponta
de lança do tipo “Venat” (CE02497)
representa um modelo de armaria
da área atlântica do séc. IX a.C. mas
que permaneceu, contudo, na sua área
de origem; o machado com olhal em
forma de canhão (CE02498) foi
produzido na área alpina ocidental ao
redor do séc. IX a.C., baseando-se em
modelos característicos da área atlântica
e da Europa Central. O metal torna-se
também dominante nos adereços
funerários, em detrimento de outros
materiais, constituindo assim um
elemento de prestígio social: os túmulos
das primeiras culturas do bronze da
Europa Central são caracterizadas por
numerosos elementos deste metal, como
a pulseira CE04653, que permanece nos
adereços funerários por vários séculos.
Bi b l io g r a f ia
A. Bocquet; M. C. Lebascle,
Metallurgia e relazioni culturali nell’età del
Bronzo Finale delle Alpi del Nord francesi,
Antropologia Alpina, Torino, 1983
J. Briard,
L’Age du Bronze en Europe Barbare, Paris:
Edition des Hespérides, 1976
J. Briard; g. Verron,
Typologie des objects de l’age du bronze
en France, Fascicule III: Haches (1), Paris, 1976
J. Briard; J. P. Mohen,
Typologie des objects de l’ Age du Bronze en
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prehistoria i arqueologia de Casteló, 20, Casteló
de la Plana, pp. 83-93, 1999
34
35
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Pulseira em forma de espiral
Europa Ocidental,
1800 - 1600 a.C.
Bronze ou Cobre
Dimensões:
altura (7,7 cm)
comprimento (4 cm)
largura (0,4 cm)
Inv. CE04653
Armlet with a spiral shape
Western Europe,
1800 - 1600 BC
Bronze or copper
Dimensions:
height (7,7 cm)
length (4 cm)
width (0,4 cm)
Inv. CE04653
36
37
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Machado
Norte de França,
Séculos XVI - XIV a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (5,1 cm)
comprimento (9,8 cm)
largura (1,2 cm)
Inv. CE01870
Axe
Northern France,
Sixteenth - Fourteenth Centuries. BC
Dimensions:
height (5,1cm)
length (9,8 cm)
width (1,2 cm)
Inv. CE01870
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39
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Espada
Mediterrâneo Oriental,
Século XII a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (4 cm)
comprimento (44,4 cm)
largura (0,5 cm)
Inv. CE02481
Sword
Eastern Mediterranean,
Twelfth Century BC
Bronze
Dimensions:
height (4 cm)
length (44,4 cm)
width (0,5 cm)
Inv. CE02481
Espada pistilliforme
Europa Atlântica,
Século XI a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (62 cm)
comprimento (3,5 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE01808
Leaf-shaped Sword
Atlantic Europe,
Eleventh Century. BC.
Bronze
Dimensions:
height (62 cm)
length (3,5 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE01808
40
41
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Machado
Europa Ocidental,
Séculos XI - IX a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (3,7 cm)
comprimento (12,4 cm)
largura (1,1 cm)
Inv. CE02498
Axe
Western Europe,
Eleventh - Ninth Centuries. BC
Bronze
Dimensions:
height (3,7 cm)
length (12,4 cm)
width (1,1 cm)
Inv. CE02498
Machado de dois aneis
Europa Atlântica,
Séculos X - IX a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (5,1 cm)
comprimento (19 cm)
largura (1,7 cm)
Inv. CE02071
Axe with two rings
Atlantic Europe,
Tenth - Ninth Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (5,1 cm)
length (19 cm)
width (1,7 cm)
Inv. CE02071
42
43
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Ponta de lança, tipo Baiões
Peninsula Ibérica Atlântica,
Século IX a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (19,5 cm)
comprimento (1,3 cm)
largura (2,8 cm)
Inv. CE02497
Spearhead, Baiões type
Atlantic Iberian Peninsula,
IX Century BC
Bronze
Dimensions:
height (19,5 cm)
length (1,3 cm)
width (2,8 cm)
Inv. CE02497
Navalha
Europa Atlântica,
Séculos IX - VIII a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (7 cm)
comprimento (16 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE02102
Razor
Atlantic Europe,
Ninth - Eight Centuries BC.
Bronze
Dimensions:
height (7 cm)
length (16 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE02102
44
45
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
idade do ferro
e influências orientais
A partir do século VIII a.C. assiste-se
no mundo mediterrânico e, por
redundância, na Europa continental,
a uma mudança radical nas técnicas
artesanais. Várias civilizações estão
por trás deste fenómeno: os Fenícios,
cujas longas rotas marítimas ao longo
do Mediterrâneo levaram à difusão
de novos produtos até a Península
Ibérica; os Etruscos, que importaram
e reelaboraram os influxos orientais
e gregos na Itália; a sociedade dos centros
“principescos” de Hallstatt e, depois,
os Celtas da cultura de La Téne também
absorveram e reelaboraram na Europa
Central a arte e costumes mediterrânicos;
por último, os Gregos do período
Pré-Clássico, que colonizaram sobretudo
o sul da Itália e o Mediterrâneo
Ocidental, substituindo-se aos fenícios
e criando uma rede cultural. As novas
técnicas artesanais revolucionam o modo
de produzir várias categorias de objectos:
a introdução da metalurgia do ferro, em
substituição da do bronze, permitiu fazer
armas e utensílios em maiores
quantidades; a difusão do torno permitiu
criar formas cerâmicas mais
estandardizadas e refinadas; a invenção
do vidro tornou possível a produção
de pequenos contentores com novas
propriedades estéticas e técnicas.
Testemunho dos influxos que partiram
da área Síria-Palestiniana e das novas
formas possibilitadas pelo torno são
os vasos em cerâmica pintada policroma
produzidos pelos Fenícios no Chipre
no séc. IX a.C. (CE00854, CE00868)
e que estão entre os primeiros produtos
artesanais difundidos pelos Fenícios
nesta ilha. No contexto da Itália Etrusca,
entre o final do período Orientalizante
(sécs. VIII-VI a.C.) e o período Arcaico
(sécs. VI-V a.C.) caracterizado por
influências gregas, a partir do séc. VII
até ao V a.C., desenvolve-se a técnica
do bucchero que consiste na produção
de formas cerâmicas que imitam os
reflexos do bronze, como se pode
observar no Lekythos CE00925; uma rica
tradição estética e técnica Orientalizante
observe-se na ourivesaria ainda mais
tardia (CE02652 e CE02653) .
Nos territórios mais próximas das
colónias gregas do sul da Itália, pode
observar-se a influência grega em
diversas áreas, nomeadamente, num
desenvolvimento local da cerâmica
Daunia com um estilo grego Pré-Clássico
(CE00370), numa introdução de
elementos mitológico e religiosos
como o culto de Ares e de Hércules que,
reproduzidos em estatuetas votivas
de bronze (CE03074 e CE03069),
viriam a fazer parte de novos cultos locais
e, finalmente, num sincretismo entre
a armaria defensiva de tradição local com
inovações gregas (CE01786). Na Península
Ibérica os Fenícios fundaram colónias
no Levante espanhol, em Huelva e no sul
de Portugal, inaugurando uma rede de
escambos comerciais baseados na prata,
no ferro e em vários produtos “exóticos”,
cujos principais intermediários foram os
chefes da sociedade Tartéssica, no sul
da Penínsul Ibérica, até meados do séc.
VI a.C., altura em que a actividade fenícia
termina e se formam vários grupos da
cultura Ibérica, os quais resultaram
de uma aculturação grega do substrato
orientalizante indígena.
É também nesta altura que ocorre uma
ocupação das antigas colónias fenícias
pela cidade de Cartago. Entre os materiais
das áreas fenício-púnicas são de destacar
magníficos exemplares de vidraria para
perfumes (CE01529) ou para pendentes
de colares (CE03721) que habitualmente
se encontram em necrópoles, bem
como ovos de avestruz (CE01186) que
simbolizam a morte e a ressurreição;
pode observar-se ainda, na produção
púnica, reelaborações de modelos
técnicos e estéticos provenientes do
Médio Oriente, nomeadamente, nas
terracotas arquitectónicas (CE02875),
e nas lucernas (CE02716). Também na
ourivesaria se podem observar na área
Ibérica influxos orientalizantes
juntamente com uma tradição local
(CE04282, CE04276, CE04277, CE04384
e CE04385).
Finalmente, na Segunda Idade do Ferro,
formou-se uma área cultural Celtibérica
na Meseta, onde são visíveis influxos da
Europa continental na armaria, os quais
vieram a misturar-se com tradições
locais: como exemplos, veja-se a panóplia
formada por uma espada de antenas de
tradição halstática, mas com elementos
decorativos do Oeste peninsular
(CE01729), e por um punhal típico
dos guerreiros Vetões (CE01743),
as quais constituíam o armamento
típico das personagens de elite no final
do séc. IV- séc. III a.C. Na área cultural
Ibérica desenvolve-se um diferente tipo
de arma, a falcata (CE01754), encontrada
frequentemente em contextos sepulcrais,
que veio a constituir o elemento mais
característico dos guerreiros Ibéricos
e que parece ter origem na machairia
grega.
Bi b l io g r a f ia
Martin Almagro Gorbea,
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Serdá,, M. Pellicer Catalán, P. Acosta Martinez
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Madrid: Real Academia de la Historia, pp.
111-128, 2004
46
47
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Jarro
Chipre,
Séculos IX - VIII a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (29, 8 cm)
comprimento (19 cm)
Inv. CE00854
Jar
Cyprus,
9th - 8ht Centuries BC
Ceramics
Dimensions:
height (29,8 cm)
length (19 cm)
Inv. CE00854
Askos. Vaso de forma oval
para conservação de liquidos
Chipre,
Séculos IX - VIII a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (30,5 cm)
comprimento (25,2 cm)
largura (17,5 cm)
Inv. CE00868
Askos. Oval ware
for conservation of liquids
Cyprus,
9th - 8ht Centuries BC
Ceramics
Dimensions:
height (30,5 cm)
length (25,2 cm)
width (17,5 cm)
Inv. CE00868
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Lekythos, tipo Bucchero
Etrúria, Itália,
Séculos VII - V a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (19,2 cm)
comprimento (14 cm)
Inv. CE00925
Lekythos, Bucchero type
Etruria, Italy,
7th - 5th Centuries BC
Ceramics
Dimensions:
height (19,2 cm)
length (14 cm)
Inv. CE00925
Peitoral
Itália Meridional,
Século V a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (27 cm)
comprimento (25 cm)
largura (0,2 cm)
Inv. CE01786
Breastplate
Southern Italy,
5th Century BC
Bronze
Dimensions:
height (27 cm)
length (25 cm)
width (0,2 cm)
Inv. CE01786
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Guerreiro
Itália Meridional,
Século V a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (11,9 cm)
comprimento (2,3 cm)
largura (2,3 cm)
Inv. CE03074
Warrior
Southern Italy,
5th Century BC
Bronze
Dimensions:
height (11,9 cm)
length (2,3 cm)
width (2,3 cm)
Inv. CE03074
Hércules
Itália Meridional,
Século IV a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (8,3 cm)
comprimento (5,8 cm)
largura (1,2 cm)
Inv. CE03069
Hercules
Southern Italy,
4th Century BC
Bronze
Dimensions:
height (8,3 cm)
length (5,8 cm)
width (1,2 cm)
Inv. CE03069
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Falcata
Península Ibérica,
Século IV a.C.
Ferro
Dimensões:
altura (53 cm)
comprimento (5,4 cm)
Inv. CE01754
Falcata
Iberian Peninsula,
4th Century BC
Iron
Dimensions:
height (53 cm)
length (5,4 cm)
Inv. CE01754
Adaga, tipo Arcobriga
Centro-Oeste da Península Ibérica,
Séculos IV - III a.C.
Ferro
Dimensões:
altura (56,5 cm)
comprimento (6,5 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE01729
Dagger, Arcobriga type
Centre-West Iberian Peninsula,
Fourth and Third Centuries BC
Iron
Dimensions:
height (56,5 cm)
length (6,5 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE01729
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Bainha e cabo de punhal,
tipo Montebenorio
Norte da Península Ibérica,
Séculos IV - III a.C.
Ferro
Dimensões:
altura (35,5 cm)
comprimento (6,5 cm)
largura (1,8 cm)
Inv. CE01743
Sheath and handle of dagger,
Montebenorio type
North of Iberian Peninsula,
4th - 3rd Centuries BC
Iron
Dimensions:
height (35,5 cm)
length (6,5 cm)
width (1,8 cm)
Inv. CE01743
56
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Vaso
Daunia, Itália,
Século III a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (24 cm)
comprimento (25, 5 cm)
Inv. CE00370
Vase
Daunia, Italy,
Third Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (24 cm)
length (25,5 cm)
Inv. CE00370
Lucerna
Próximo Oriente,
Séculos XIX-IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (3,9 cm)
comprimento (15 cm)
largura (13,6 cm)
Inv. CE02716
Oil-lamp
Near East,
19th - 4th Centuries BC
Ceramics
Dimensions:
height (3,9 cm)
length (15 cm)
width (13,6 cm)
Inv. CE02716
58
59
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fíbula
Etrúria, Itália,
Século VII a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (5,9 cm)
comprimento (6,2 cm)
largura (2 cm)
Inv. CE01289
Fibula
Etruria, Italy,
7th Century BC
Gold
Dimensions:
height (5,9 cm)
length (6,2 cm)
width (2 cm)
Inv. CE01289
Busto feminino
Mediterrâneo Central,
Século VI a.C.
Terracota
Dimensões:
altura (11,5 cm)
comprimento (7,3 cm)
largura (4,5 cm)
Inv. CE02875
Female bust
Central Mediterranean,
6th Century BC
Terracota
Dimensions:
height (11,5 cm)
length (7,3 cm)
width (4,5 cm)
Inv. CE02875
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Unguentário
Mediterrâneo Central-Ccidental,
Séculos VI - V a.C.
Pasta vítrea
Dimensões:
altura (8,3 cm)
comprimento (4,1 cm)
Inv. CE01529
Unguentary
Central and Western Mediterranean,
6th - 5th Centuries BC
Glass
Dimensions:
height (8,3 cm)
length (4,1 cm)
Inv. CE01529
Brincos
Etrúria, Itália,
Séculos VI - IV a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (6,2 cm)
comprimento (4,3 cm)
largura (0,5 cm)
Inv. CE02652 e CE02653
Earrings
Etruria, Italy,
6th - 4th Centuries BC
Gold
Dimensions:
height (6,2 cm)
length (4,3 cm)
width (0,5 cm)
Inv. CE02652 and CE02653
Ovo de avestruz
Norte de África,
Século V - III a.C.
Calcário
Dimensões:
altura (14 cm)
comprimento (12 cm)
Inv. CE01186
Ostrich egg
North Africa,
5th - 3rd Centuries BC
Limestone
Dimensions:
height (14 cm)
length (12 cm)
Inv. CE01186
62
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Pendente
Mediterrâneo Ocidental,
Século IV a.C.
Pasta vítrea
Dimensões:
altura (2,3 cm)
comprimento (1,9 cm)
largura (1,8 cm)
Inv. CE03721
Pendant
Western Mediterranean,
4th Century BC
Glass
Dimensions:
height (2,3 cm)
length (1,9 cm)
width (1,8 cm)
Inv. CE03721
Brincos
Península Ibérica,
Século IV a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (2,6 cm)
comprimento (1,4 cm)
largura (0,7 cm)
Inv. CE04276 e CE04277
Earrings
Iberian Peninsula,
4th Century BC
Gold
Dimensions:
height (2,6 cm)
length (1,4 cm)
width (0,7 cm)
Inv. CE04276 and CE4277
Brinco
Brinco
Península Ibérica,
Século IV a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (4 cm)
comprimento (3 cm)
largura (0,3 cm)
Península Ibérica,
Século IV a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (3,1 cm)
comprimento (2,5 cm)
largura (0,2 cm)
Inv. CE04282
Inv. CE04284
Earring
Earring
Iberian Peninsula ,
4th Century BC
Gold
Dimensions:
height (4 cm)
length (3 cm)
width (0,3 cm)
Iberian Peninsula ,
4th Century BC
Gold
Dimensions:
height (3,1 cm)
length (2,5 cm)
width (0,2 cm)
Inv. CE04282
Inv. CE04284
Brinco
Península Ibérica,
Século IV a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (4,5 cm)
comprimento (2,9 cm)
largura (0,4 cm)
Inv. CE04285
Earring
Iberian Peninsula ,
4th Century BC
Gold
Dimensions:
height (4,5 cm)
length (2,9 cm)
width (0,4 cm)
Inv. CE04285
64
65
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
antigo egipto
O interessante acervo egípcio do futuro
Museu Ibérico de Arte e Arqueologia em
Abrantes, com cerca de 50 peças, e que se
encontra ainda em fase de estudo, vem
juntar-se a outros acervos congéneres
existentes em Portugal, contribuindo para
que o número de objectos evocativos do
país do Nilo aumente um pouco mais.
Na verdade, existem actualmente no
nosso país mais de mil peças egípcias,
desde grandes sarcófagos
antropomórficos a pequenos amuletos,
estando quase todos eles já estudados e
publicados, esperando-se que em breve
possa ser publicada a totalidade do
acervo egiptológico abrantino.
A maior colecção egípcia entre nós
é a do Museu Nacional de Arqueologia
(com cerca de seiscentas peças, das quais
estão expostas umas trezentas), seguindose as do Museu da Farmácia e do Museu
de História Natural da Faculdade
de Ciências do Porto (ambas com mais
de cem peças) e a do Museu da Sociedade
de Geografia de Lisboa (com quase cem
peças). Mas a melhor em qualidade é,
sem dúvida, a colecção egípcia do Museu
Calouste Gulbenkian, que expõe quarenta
peças, algumas das quais de ampla fama
internacional. Existem depois pequenas
colecções em outros museus públicos
e privados a que se juntam os acervos
particulares de vários coleccionadores.
66
67
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Se bem que não atinjam a quantidade
e a qualidade dos objectos das grandes
colecções egípcias de museus da Europa
e dos Estados Unidos, os acervos
portugueses testemunham o gosto pelo
coleccionismo de antiguidades, onde os
objectos egípcios marcam tradicional
e quase obrigatória presença, a começar
pelos típicos escaravelhos, amuletos,
estatuetas funerárias e bronzes
figurativos. E são alguns destes objectos
que integram a pequena colecção
abrantina, nomeadamente os que foram
seleccionados para a exposição.
Estão neste caso um escaravelho,
coleóptero sagrado que foi objecto de
intensa veneração ao longo de toda
a história da civilização egípcia, como
símbolo de forte pendor profiláctico
ligado ao renascimento, e os bronzes
figurativos que, sobretudo na Época
Baixa, fase correspondente às últimas
dinastias egípcias autóctones (da XXVI
à XXX dinastia), foram produzidos
em grande quantidade para evocar
divindades como Osíris, Hórus e Ísis,
além de animais sagrados, como os muito
queridos felinos da deusa Bastet.
Bi b l io g r a f ia
Cyril Aldred,
Egyptian Art in the Days of the Pharaohs,
3100-320 BC, Londres: Thames and Hudson,
1980
Luís Manuel de Araújo,
Antiguidades Egípcias, I, Museu Nacional de
Arqueologia, Lisboa: Instituto Português de
Museus, 1993
Luís Manuel de Araújo, Arte Egípcia. Colecção
Calouste Gulbenkian, Lisboa: Fun-dação
Calouste Gulbenkian, FCT, 2006
José das Candeias Sales, As Divindades
Egípcias. Uma chave para a compreensão do
Egipto antigo, Col. Nova História, Lisboa:
Editorial Estampa, 1999
Wilfried Seipel, Ägypten. Götter, Gräber und
die Kunst 4000 Jahre Jenseitsglaube, Linz: OÖ
Landesmuseum Linz, 1989
O bservação preliminar
escaravelho
Império Novo (sécul os XV-XII a . C . )
CE00148 – Escaravelho com os clípeos
razoavelmente assinalados, tendo na
carapaça o protórax e os élitros marcados
por incisões. De lado observam-se as
patas em ligeiro relevo. A base ovalada
apresenta-se com uma inscrição.
cimitarra
osíris
É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a
( sé c u l o s V I I - I a . C . )
CE01135 – Estatueta de bronze
representando Osíris, deus da eternidade
e do Além, em pose mumiforme, com a
sua típica iconografia: ceptros hekat (do
Sul) e nekhakha (do Norte) cruzados nas
mãos que saem do envoltório fúnebre, a
barba divina no queixo, a coroa atef
emplumada com a serpente sagrada na
fronte.
Império Novo (sécul os XV-XII a . C . )
CE00176 – Cimitarra de bronze, de
inspiração cananaica, conhecida pela
designação de khopech, usada no Egipto
durante a fase expansionista do Império
Novo (séculos XVI-XI a. C.), sendo
igualmente um símbolo de poder.
gato
É p o ca Baixa ou dinastia p tolem a ic a
(sécul os VII-I a. C.)
CE01101 – Estatueta de bronze de um
gato, animal sagrado da deusa Bastet,
ligada ao amor e à protecção, na sua
tradicional pose sentada, com a cauda na
base passando pelo lado direito.
fragmento de sarcófago
É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a
( sé c u l o s V I I - I a . C . )
CE03850 – Fragmento de um sarcófago
em cartonagem pintada com uma
imagem da deusa Ísis alada, com asas
abertas partindo dos braços estendidos,
cujas mãos seguram penas da deusa Maet
(verdade, justiça e equilíbrio). A figura
ajoelhada exibe sobre a peruca a típica
cornamenta liriforme com o disco solar.
O texto hieroglífico menciona o nome da
deusa Ísis.
hórus criança
É p o c a Ba i xa ou di nast ia p tol e m a ic a
( sé c u l o s V I I - I a . C . )
Escaravelho
Império Novo,
Séculos XV - XII a.C.
Osso
Dimensões:
altura (1,5 cm)
comprimento (2 cm)
largura (1,5 cm)
Inv. CE00148
Scarab
New Empire,
15th - 12th Centuries BC
Bone
Dimensions:
height (1,5 cm)
length (2 cm)
width (1,5 cm)
Inv. CE00148
CE02740 – Estatueta de bronze de Hórus
Criança (Harpócrates), desnudado e com
a sua conhecida iconografia: a mão
direita junto da boca, à qual chega o dedo
indicador, uma madeixa de cabelo
entrançado caindo sobre o ombro direito
e a serpente sagrada saindo da fronte. Na
base tem um espigão para fixação.
Luís Araújo
Cimitarra
Império Novo,
Séculos XV - XII a.C,
Bronze
Dimensões:
altura (68 cm)
comprimento (6,5 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE00176
Scimitar
New Empire,
15th - 12th Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (68 cm)
length (6,5 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE00176
68
69
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Gato
Época Baixa ou dinastia ptolomaica,
Séculos VII - I a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (26,5 cm)
comprimento (15,7 cm)
largura (10 cm)
Inv. CE01101
Cat
Late Period or Ptolomaic dinasty,
7th - 1st Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (26,5 cm)
length (15,7 cm)
width (10 cm)
Inv. CE01101
Osíris
Época Baixa ou dinastia ptolomaica,
Séculos VII - I a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (22,1 cm)
comprimento (4 cm)
largura (5,7 cm)
Inv. CE01135
Osiris
Late Period or Ptolomaic dinasty,
7th - 1st Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (22,1 cm)
length (4 cm)
width (5,7 cm)
Inv. CE01135
70
71
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Hórus criança
Época Baixa ou dinastia ptolomaica,
Séculos VII - I a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (6,6 cm)
comprimento (2 cm)
largura (2,3 cm)
Inv. CE02740
Infant Horus
Late Period or Ptolomaic dinasty,
7th - 1st Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (22,1 cm)
length (4 cm)
width (5,7 cm)
Inv. CE02740
Fragmento de sarcófago
Época Baixa ou dinastia ptolomaica,
Séculos VII - I a.C.
Cartonagem
Dimensões:
altura (22,7 cm)
comprimento (35,5 cm)
largura (0,3 cm)
Inv. CE03850
Fragment of sarcophagus
Late Period or Ptolomaic dinasty,
7th - 1st Centuries BC
Bronze
Dimensions:
height (22,7 cm)
length (35,5 cm)
width (0,3 cm)
Inv. CE03850
72
73
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
grécia antiga
O mundo grego da Antiguidade
encontra-se representada nesta exposição
por diferentes núcleos de materiais:
cerâmica, armaria, escultura
e ourivesaria.
A cerâmica da Grécia alcançou na
Antiguidade uma enorme notoriedade
e popularidade, sendo que as que mais
se destacaram foram as Áticas de figuras
vermelhas, produzidas em Atenas,
nos séculos V e IV a.C. A partir
do século IV a.C. começaram
a fabricar-se nas colónias da chamada
Magna Grécia (na actual Itália
Meridional e na Sicília) cópias de
cerâmicas provenientes da de Atenas,
as quais alcançaram um elevado nível
de perfeição acabando por concorrer
com aquelas provenientes de Atenas.
Nesta exposição, uma dessas cerâmicas
é visível, nomeadamente, um Krater (vaso
para misturar vinho e água, utilizado nos
simpósios) onde se encontra representada
uma cena mitológica (CE00091).
Destaque-se ainda um Skyphos
(copo para beber vinho) de figuras
vermelhas (CE00927) ou o Lekanis
(balsamário ou unguentário) com tampa
de figuras vermelhas, representando
cabeças femininas, produzido na Apulia
(CE00890/891), todas elas datáveis
do século IV a.C.
A partir do século IV a. C., começaram
a surgir na Magna Grécia novos estilos
de produção local sendo de destacar
a cerâmica do tipo “Gnathia”, o qual
era caracterizado por uma decoração
polícroma em fundo escuro, com
elementos vegetais ou ornamentais onde,
por vezes, se misturam cabeças de
mulher, máscaras de teatro, aves e lebres.
Nesta exposição podem ver-se dois
exemplares representativos desse estilo,
nomeadamente, um Skyphos (CE00093)
e um Oenochoe (jarra de vinho)
(CE01547).
A armaria grega desenvolveu-se
com técnicas artesanais e conceitos
de protecção do guerreiro bastante
elaborados, ao ponto de obterem um
grande sucesso também nas colónias
da Magna Grécia e nos povos não gregos
próximos deles. Aquela que veio a ser
considerada a mais elaborada peça da
armaria defensiva grega foi o capacete
coríntio, forjado duma lâmina única,
e que veio a ser a base para o
desenvolvimento dos capacetes
Calcídicos e Áticos; uma variante
da Magna Grécia designada de
“Ápúlio-Coríntio” está presente na peça
CE02954, apresentando a típica decoração
incisa com dois javalis. A armaria
defensiva conheceu também uma notável
evolução nas couraças, tendo-se
desenvolvido dois conceitos: um, baseado
na cobertura integral do tronco
do guerreiro; o outro, na reprodução
anatómica dos músculos. Os povos
itálicos e das colónias gregas da Magna
Grécia escolheram este último conceito,
representado pela couraça CE03204,
mais estético, ao qual não foram
estranhas tradições locais de protecção
com couraças mais pequenas que
protegiam unicamente as partes centrais
do tronco (Shefton, Foster 1978).
Relativamente à escultura, encontram-se
exemplares de diferentes tipos.
Assim, pode ver-se duas terracota
de um jovem efebo sentado (CE00725)
e de uma mulher de pé (CE00728),
datáveis dos séculos IV-I a.C., de estilo
Tanagra, o qual era caracterizado por
figurinhas bastante realistas, sobretudo
de mulheres (homens e jovens eram
menos comuns) elegantemente vestidas
e com a roupa colada ao corpo, usando
por vezes chapéus e grinaldas. Algumas
destas imagens parecem ter representado
personagens de Teatro (nomeadamente
da Comédia), enquanto que outras
eram utilizadas como imagens de culto
ou objectos votivos.
Por último, um Hekateion (datável
do século II a.C.), ou seja, uma escultura
triplíce da deusa Hekate (CE03508), a qual
estava sobretudo associada ao papel de
guardiã, sendo vulgar encontrar
representações suas nas entradas de
templos, casas e cruzamentos de estradas.
Finalmente, a ourivesaria, a qual se
encontra representada por delicados
adereços de ouro, datáveis dos séculos
IV e III a.C., nomeadamente, rosetas
(CE01431-33) que eram cozidos ao
vestuário dos falecidos, no que constituía
uma forma de os honrar, e ainda uma
minúscula grinalda com folhas de
carvalho e bolotas (CE01430) e que terá
sido colocada na cabeça de uma estatueta.
Gustavo Porto carrero
e Davide D elfino
74
75
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Bi b l io g r a f ia
Simone Besques-mollard,
Tanagra, Paris: Braun, 1950
John Boardman,
The History of Greek Vases,
Londres, T&H, 2001
M. Feugere (1994),
Casques Antiques, Colletion des Espherides,
Paris: Edition Errance, 1994
John Richard Green,
Gnathia pottery in the Akademisches
Kunstmuseum Bonn, Mainz: P. von Zabern,
1976
Fernando Quesada Sanz,
Armas de Grecia y Roma,
Madrid: La Esfera de los Libros, 2008
Dyfri Williams; Jack Ogden,
Greek Gold. Jewellry of the Classical World,
Londres, British Museum Press, 1994
Capacete Apulio-Coríntio
Apúlia, Itália Meridional,
Século V a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (26,5 cm)
comprimento (23 cm)
largura (31,2 cm)
Inv. CE02954
Apulian-Corinthian Helmet
Apulia, Southern Italy,
5h Century BC
Bronze
Dimensions:
height (26,5 cm)
length (23 cm)
width (31,2 cm)
Inv. CE02954
Couraça anatómica
Itália Meridional,
Século V a.C.
Bronze
Dimensões:
altura (31,2 cm)
comprimento (28,5 cm)
largura (0,4 cm)
Inv. CE03024
Anatomic cuirass
Southern Italy,
5th Century BC
Bronze
Dimensions:
height (31,2 cm)
length (28,5 cm)
width (0,4 cm)
Inv. CE03024
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Krater
Vaso para misturar vinho e água
Apúlia, Itália Meridional,
Século IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (44 cm)
comprimento (44,3 cm)
Inv. CE00091
Krater
Vessel to mix wine and water
Apulia, Southern Italy,
4th Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (44 cm)
length (44,3 cm)
Inv. CE00091
Skyphos
Copo para beber vinho
Apúlia, Itália Meridional,
Século IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (21,2 cm)
comprimento (34,2 cm)
Inv. CE00927
Skyphos
Cup to drink wine
Apulia, Southern Italy,
4th Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (21,2 cm)
length (34,2 cm)
Inv. CE00927
78
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Lekanis
Balsamário ou unguentário
Oenochoe, estilo Gnathia
Jarro de vinho
Apúlia, Itália Meridional,
Século. IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (8 cm)
comprimento (21,7 cm)
Itália Meridional,
Século IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (13 cm)
comprimento (11,1 cm)
largura (8,8 cm)
Inv. CE00890 e CE00891
Lekanis
Unguentary
Apulia, Southern Italy,
4th Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (8 cm)
length (21,7 cm)
Inv. CE00890 and CE00891
Inv. CE01547
Oenochoe, Gnathia style
Wine jar
Southern Italy,
4th Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (13 cm)
length (11,1 cm)
width (8,8 cm)
Inv. CE01547
Skyphos, estilo Gnathia
Copo para beber vinho
Itália Meridional, Século IV a.C.
Cerâmica
Dimensões:
altura (32,5 cm)
comprimento (42,5 cm)
Inv. CE00093
Skyphos, Gnathia style
Cup to drink wine
Southern Italy, 4th Century BC
Ceramics
Dimensions:
height (32,5 cm)
length (42,5 cm)
Inv. CE00093
80
81
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Efebo, estilo Tanagra
Mulher, estilo Tanagra
Tanagra, Beócia, Grécia,
Séculos IV - I a.C.
Terracota
Dimensões:
altura (14,5 cm)
comprimento (7,5 cm)
largura (5,9 cm)
Tanagra, Beócia, Grécia,
Séculos IV - I a.C.
Terracota
Dimensões:
altura (21 cm)
comprimento (6,4 cm)
largura (4,2 cm)
Inv. CE00725
Inv. CE00728
Ephebus, Tanagra style
Woman, Tanagra style
Tanagra, Beotia, Greece,
Fourth - First Centuries BC
Terracota
Dimensions:
height (14,5 cm)
length (7,5 cm)
width (5,9 cm)
Tanagra, Beotia, Greece,
Fourth - First Centuries BC
Terracota
Dimensions:
height (21 cm)
length (6,4 cm)
width (4,2 cm)
Inv. CE00725
Inv. CE00728
Roseta
Grécia?,
Séculos IV-III a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (3,6 cm)
comprimento (3,5 cm)
largura (1 cm)
Inv. CE01432
Rosette
Greece?,
Fourth - Third Centuries BC
Gold
Dimensions:
height (3,6 cm)
length (3,5 cm)
width (1 cm)
Inv. CE01432
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Roseta
Roseta
Grécia?,
Séculos IV-III a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (3,6 cm)
comprimento (3,5 cm)
largura (1 cm)
Grécia?,
Séculos IV-III a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (3,8 cm)
comprimento (4 cm)
largura (1,3 cm)
Inv. CE01431
Inv. CE01433
Rosette
Rosette
Greece?,
Fourth - Third Centuries BC
Gold
Dimensions:
height (3,6 cm)
length (3,5 cm)
width (1 cm)
Greece?,
Fourth - Third Centuries BC
Gold
Dimensions:
height (3,8 cm)
length (4 cm)
width (1,3 cm)
Inv. CE01431
Inv. CE01433
Hekateion
Grécia?,
Século II a.C.
Mármore
Dimensões:
altura (34,5 cm)
comprimento (11,5 cm)
Inv. CE03508
Hekateion
Greece?,
Second Century BC
Marble
Dimensions:
height (34,5 cm)
largura (11,5 cm)
Inv. CE03508
Coroa com folhas
de carvalho e bolotas
Grécia?,
Século II a.C.
Ouro
Dimensões:
altura (5,5 cm)
comprimento (5,4 cm)
largura (1 cm)
Inv. CE01430
Crown with oak leaves and acorns
Greece?,
Second Century BC
Gold
Dimensions:
height (5,5 cm)
length (5,4 cm)
width (1 cm)
Inv. CE01430
84
85
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
o mundo romano
Os objectos da época romana
da Colecção Estrada, em exibição,
remetem-nos para diferentes aspectos
do quotidiano das elites romanas, como
sejam as crenças religiosas, o imaginário
face à morte e a ornamentação
e ostentação pessoal.
Nas esculturas temos, em primeiro lugar,
um plano religioso, com as estatuetas em
mármore de uma Fortuna sentada com
a sua cornucópia (CE00754) e em bronze
de um Marte (CE00746). No seu conjunto
eram esculturas domésticas que pediam
à deusa das colheitas e ao deus da guerra
protecção ao nível da vida privada para
aspectos concretos da mesma, como ter
boas colheitas ou sobreviver à guerra,
se fosse soldado.
À Fortuna pedia-se também sorte
para aspectos mais gerais da vida.
Um segundo grupo de esculturas está
ligado ao imaginário da morte.
Um exemplar pode corresponder
a um retrato privado (CE00734)
e as outras duas a fragmentos
de sarcófagos (CE00735 e CE00739).
Finalmente, um terceiro grupo
de esculturas, desta vez no domínio
público, constituído por dois exemplares
de figuras femininas com manto, faltando
no entanto as respectivas cabeças
(CMA001 e CMA002). Foram encontradas
no concelho de Abrantes e devem ter
representado deusas que estariam
no fórum de uma cidade romana
nas imediações.
No domínio da ostentação em vida
temos o passador de arreios de cavalos
(CE01749), ligado ao luxo diário de quem
conduzia um carro nas ruas
movimentadas de uma cidade.
Os brincos em ouro (CE01423, CE01424,
CE01436, CE01437, CE01446 e CE01447)
remetem-nos também para essa
ostentação pessoal, das mulheres
das elites romanas, e que a quiseram
continuar na outra vida, dado que são
objectos descobertos em contexto
funerário. Ainda dentro dos objectos
de ostentação temos os vidros romanos,
talvez uma das artes mais elaboradas
e sofisticadas durante a época imperial
romanas. O seu uso quotidiano estava
particularmente direccionado para
guardar produtos de embelezamento
e sedução do corpo, como perfumes
e óleos (CE00658, CE02362 e CE02850),
bem como um khol (CE02851), sendo este
um pó negro para maquilhar os olhos.
Em conclusão, este conjunto de objectos
apresentados dão-nos uma pequena ideia
da sofisticação social atingida por esses
nossos antepassados, que viveram
em toda a bacia do Mediterrâneo
e em grande parte da Europa Ocidental
nos cinco primeiros séculos da nossa era.
Luís Jorge G onçalves
86
87
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Bi b l io g r a f ia
AA.VV., Los bronces romanos en España,
Madrid : Ministerio de Cultura, Centro
Nacional de Exposiciones, 1990
Diana E. E. Kleiner, Roman Sculpture,
New Haven: Yale University Press, 1992
F. H. Marshall, Catalogue of the Jewellery,
Greek, Etruscan and Roman, Oxford:
The Trustees of the British Museum, 1969
Marie-Dominique Nenna;
Véronique Arveiller-Dulong,
Les Verres Antiques du Musee du Louvre, II,
Paris: Musée du Louvre, 2005
Estátua de divindade feminina
Império Romano
Século I
Mármore
Dimensões:
altura (211 cm)
comprimento (80,3 cm)
largura (43,8 cm)
Inv. CMA002
Statue of female divinity
Roman Empire
1st Century
Marble
Dimensions:
height (211 cm)
length (80,3 cm)
width (43,8 cm)
Inv. CMA002
Retrato feminino
Império Romano
Séculos I - II
Mármore
Dimensões:
altura (25 cm)
comprimento (15,7 cm)
largura (10,5 cm)
Inv. CE00734
Female portrait
Roman Empire
1st - 2nd Centuries
Marble
Dimensions:
height (25 cm)
length (15,7 cm)
width (10,5 cm)
Inv. CE00734
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Estatueta da deusa Fortuna
Império Romano
Séculos I - II
Mármore
Dimensões:
altura (38,2 cm)
comprimento (19 cm)
largura (12,3 cm)
Inv. CE00754
Statuette of Fortune goddess
Roman Empire
1st - 2nd Centuries
Marble
Dimensions:
height (38,2 cm)
length (19 cm)
width (12,3 cm)
Inv. CE00754
Estátua de divindade feminina
Império Romano
Século II
Mármore
Dimensões
altura (98,4 cm)
comprimento (38,6 cm)
largura (27,5 cm)
Inv. CMA001
Statue of female divinity
Roman Empire
2nd Century
Marble
Dimensions:
height (98,4 cm)
length (38,6 cm)
width (27,5 cm)
Inv. CMA001
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91
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Brincos
Império Romano
Século II
Ouro e pedra dura
Dimensões:
altura (2,8 cm)
comprimento (2,7 cm)
largura (0,6 cm)
Inv. CE01436 e CE01437
Earrings
Roman Empire
2nd Century
Gold and stone
Dimensions:
height (2,8 cm)
length (2,7 cm)
width (0,6 cm)
Inv. CE01436 and CE01437
Brincos
Império Romano
Século II
Ouro e pedra dura
Dimensões:
altura (4 cm)
comprimento (0,9 cm)
largura (0,9 cm)
Inv. CE01446 e CE01447
Earrings
Roman Empire
2nd Century
Gold and stone
Dimensions:
height (4 cm)
length (0,9 cm)
width (0,9 cm)
Inv. CE01446 and CE01447
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fragmento de sarcófago
Império Romano,
Século III
Mármore
Dimensões:
altura (29,9 cm)
comprimento (27 cm)
largura (12,7 cm)
Inv. CE00735
Fragment of sarcophagus
Roman Empire,
3rd Century
Marble
Dimensions:
height (29,9 cm)
length (27 cm)
width (12,7 cm)
Inv. CE00735
Fragmento de sarcófago
Império Romano,
Século III
Mármore
Dimensões:
altura (32 cm)
comprimento (18 cm)
largura (8,7 cm)
Inv. CE00739
Fragment of sarcophagus
Roman Empire,
3rd Century
Marble
Dimensions:
height (32 cm)
length (18 cm)
width (8,7 cm)
Inv. CE00739
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95
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Khol para maquilhagem
Império Romano
Século IV
Vidro
Dimensões:
altura (17,1 cm)
comprimento (5,1 cm)
largura (3,5 cm)
Inv. CE02851
Khol for make-up
Roman Empire
4th Century
Glass
Dimensions:
height (17,1 cm)
length (5,1 cm)
width (3,5 cm)
Inv. CE02851
Estatueta do deus Marte
Império Romano
Bronze
Dimensões:
altura (11,4 cm)
comprimento (6,5 cm)
largura (1,5 cm)
Inv. CE00746
Statuette of Mars god
Roman Empire
Bronze
Dimensions:
height (11,4 cm)
length (6,5 cm)
width (1,5 cm)
Inv. CE00746
96
97
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Passador de arreios de veículo
Império Romano
Bronze
Dimensões:
altura (15,5 cm)
comprimento (13,6 cm)
largura (4,8 cm)
Inv. CE01749
Rein Ring
Roman Empire
Bronze
Dimensions:
height (15,5 cm)
length (13,6 cm)
width (4,8 cm)
Inv. CE01749
Brincos
Império Romano
Ouro
Dimensões:
altura (3,7 cm)
comprimento (1,9 cm)
largura (0,1 cm)
Inv. CE01423 e CE01424
Earrings
Roman Empire
Gold
Dimensions:
height (3,7 cm)
length (1,9 cm)
width (0,1 cm)
Inv. CE01423 and CE01424
98
99
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Unguentário
Império Romano
Vidro
Dimensões:
altura (8 cm)
comprimento (8,8 cm)
Inv. CE00658
Unguentary
Roman Empire
Glass
Dimensions:
height (8 cm)
length (8,8 cm)
Inv. CE00658
Unguentário
Unguentário
Império Romano
Vidro
Dimensões: altura (4,6 cm)
comprimento (3,1 cm)
Império Romano
Vidro
Dimensões:
altura (7,6 cm)
comprimento (7,6 cm)
Inv. CE02362
Unguentary
Roman Empire
Glass
Dimensions:
height (4,6 cm)
length (3,1 cm)
Inv. CE02850
Unguentary
Roman Empire
Glass
Dimensions:
height (7,6 cm)
length (7,6 cm)
Inv. CE02362
Inv. CE02850
100
101
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
arte chinesa
A colecção de arte chinesa que se
apresenta nesta exposição permite-nos
percorrer de uma forma transversal os
diversos períodos da história da China
e os diversos materiais como o jade,
o bronze, a terracota, que se tornaram,
de alguma forma, marcas da produção
artística chinesa. Por outro lado é ainda
possível perceber a relação estreita entre
a produção artística e os rituais sagrados
e ainda o modo como, ao longo da
história imperial da China, a arte reflecte
o poder político e militar do Imperador.
Durante muitos anos pensou-se que a
cultura chinesa teve a sua origem na zona
envolvente ao Rio Huang He
(Rio Amarelo). No entanto, recentemente
foram descobertos alguns sítios
arqueológicos que permitem pensar que
a cultura e civilização chinesa teve origem
numa trama de culturas que emergiram
em diferentes espaços e em diferentes
períodos.
Ao contrário das culturas europeias
onde a Idade do Bronze sucede o
Neolítico, na China existe uma Idade
do Jade, na transição entre o Neolítico
e a Idade do Bronze.
Nas províncias ao redor da Mongólia
Interior e perto da zona de Liaoning e
Hebei, a cultura Hongshan (3500 a.C. 2500 a.C.) desenvolveu técnicas
de entalhe do jade nefrite, uma tipologia
de jade que se caracteriza pela sua
tonalidade verde escura. Pensa-se que
esta cultura do final do Neolítico já
dominaria o cobre e o ferro,
que utilizariam como ferramentas
para trabalhar o jade. Em Niuheliang,
um dos centros de culto da cultura
Hongshan, encontraram-se peças de jade
de imagens votivas antropomórficas
(figuras sentadas com cabeça de animal)
(CE03458 e CE03463), ornamentos
de carácter mais abstracto chamados
“nuvens” e ainda pendentes zoomórficos
zhulong que representam figuras em
forma de serpente ou dragão com o
corpo em forma de anel (CE03465).
É presumível que o taotie, uma figura
mítica ainda hoje não identificada,
normalmente representada nos bronzes
das Dinastias Shang e Zhou, tenha tido
origem na produção de jade das culturas
Hongshan e Liangzhu, no final
do Neolítico.
É de facto interessante notar que muitas
das tradições, fortemente ligadas aos
cultos, permanecem bastante presentes
ao longo do tempo e dos diferentes
espaços geográficos da China. Talvez a
verdadeira razão esteja na importância
que a cultura chinesa colocou nos
espíritos ancestrais, entidade máxima
da cosmogonia chinesa a quem eram
destinadas as questões em oráculo.
É desta necessidade de comunicação
com as divindades que, durante a
Dinastia Shang (1600 a.C. - 1027 a.C.),
nascem os primeiros ideogramas da
escrita chinesa. Nos rituais Shang
dedicados, tanto aos espíritos ancestrais
como a Shang Di, um Deus personificado
que exercia controlo sobre outras
divindades naturais, geralmente eram
feitas oferendas de comida e bebida.
Um poema que data da Dinastia Zhou
do Ocidente, do poeta Shi Jing diz:
“Fragantes era as tuas piedosas ofertas;
Os espíritos deliciaram-se com a sua
comida e bebida; Eles deram-te cem
bençãos. De acordo com as suas
esperanças e regras; tudo foi ordenado
e rápido; tudo era simples e seguro.
Para sempre eles irão conceber-te bom
sucesso”.
A produção de bronze, durante a
Dinastia Shang, desenvolveu-se
estreitamente relacionada com os rituais
sagrados como recipientes das oferendas
aos antepassados. Uma das principais
características dos bronzes rituais
da Dinastia Shang é a presença do taotie,
um ser mítico, de rosto proeminente e
partes de corpo de outros animais, como
se poderá ver na lateral do guang em
forma de dragão (CE00774).
Os recipientes para comida continham
muitas vezes, para além do taotie,
os nomes dos espíritos ancestrais a quem
os rituais eram dedicados. Naturalmente,
a sua decoração artística, de uma riqueza
notável transporta estes bronzes para
além uma dimensão meramente
funcional. Apesar de servirem para os
rituais de sacrifício, os bronzes eram
também considerados símbolos de
soberania e prestígio da força económica,
política e militar das dinastias Shang
e Zhou.
A decoração que caracteriza os bronzes
chineses determinou a evolução
tecnológica na produção dos mesmos.
Essa decoração consistia em variadas
formas geométricas e zoomórficas como
dragões, aves, cobras, tigres, elefantes
e o taotie, que surge normalmente numa
combinação de motivos não figurativos,
nomeadamente os padrões em espiral,
chamados leiwen. Sobretudo durante a
Dinastia Zhou as técnicas de decoração
ganharam uma nova ênfase com
embutidos de metais dourados e
prateados (ouro e prata), de que e
exemplo a figura em forma de tigre
(CE00766).
Foram os eruditos da Dinastia Song
(960 - 1279) que iniciaram os estudos
de classificação e datação dos bronzes
chineses de acordo com a sua tipologia,
estabelecendo o que se tornou
a designação standard para as formas
de recipientes e motivos ornamentais,
usados ainda hoje. O primeiro catálogo
da grande colecção de arte do último
imperador da Dinastia Song do Norte,
Hui Zong (1082 - 1135), contava com cerca
de 900 peças em bronze, para além das
cerca de 6.000 pinturas documentadas.
A Dinastia Shang é actualmente dividida
de acordo com três sítios arqueológicos:
Erlitou, Zhengzhou e Anyang, existindo
características estilísticas que
determinam os bronzes de cada sítio.
Os bronzes do período Anyang como
o Huo (recipiente de ritual para vinho
em forma de elefante) (CE00757)
são decorados com elementos
geométricos leiwen (padrões em espiral)
sobre os quais se erguem outros
elementos mais robustos, que muitas
vezes são formas estilizadas de figuras
zoomórficas.
Para além de as peças ganharem alguma
tridimensionalidade ao nível da
decoração, nascem, de alguma forma,
as primeiras formas de escultura chinesa
através de uma procura de significado.
Este facto coincide naturalmente com
uma mudança de atitude, do ponto de
vista de utilização dos bronzes rituais,
que começam gradualmente a fazer parte
de um cerimonial relacionado com
o poder económico, político e militar
do Imperador, sobretudo a partir
da hegemonia da Dinastia Zhou
(1027 a.C. - 771 a.C.) face ao declínio
da Dinastia Shang.
Tornando-se cada vez mais eminente
o culto do imperador, os bronzes de ritual
tornavam-se cada vez mais frequentes
nos túmulos imperiais, onde outras
tipologias, como sinos, espelhos
e lanternas e pequenas esculturas,
se juntavam aos tradicionais recipientes
para comida e vinho. Gradualmente,
durante a Dinastia Zhou, o período
da Primavera e Outono e o Período dos
Estados Combatentes, os túmulos da
corte imperial foram ganhando uma
dimensão cada vez mais complexa e,
ao mesmo tempo, mais hierarquizada,
culminando no vasto exército em
terracota do último imperador da
Dinastia Qin (221 a.C. - 206 a.C.).
Durante a Dinastia Qin e sobretudo
na Dinastia Han (206 a.C. - 220 a.C.)
surge uma nova ideia de imortalidade,
onde os espíritos ancestrais poderiam
continuar a usar os seus bens mais
preciosos, colocados na câmara principal
do túmulo. As lanternas tornaram-se
objectos muito apreciados, quer pela sua
dimensão decorativa, quer pela sua
função objectiva de iluminação
do caminho para a próxima vida.
A sua decoração, seja em forma de boi
(CE01501), de ave, ou de um criado
de corte a segurar o candeeiro, tinha
uma directa relação com o efeito de luz
pretendido, em termos de intensidade
e direcção.
Devido à enorme riqueza
e sumptuosidade dos túmulos da corte
imperial, junto a uma vasta diversidade
de objectos eram colocados os guardiães
tumulares, caracterizados por seres
mitológicos, híbridos e por figuras
de rosto aterrador, de forma a proteger
o túmulo dos espíritos do mal.
Estas figuras são geralmente comuns
nas culturas antigas e particularmente
na China, durante a Dinastia Tang
(618 - 907), onde normalmente as bestas
com corpo de leão e rosto semi-humano
surgiam aos pares junto aos Lokapala,
guerreiros representados de bigode com
uma espada ou lança sobre um animal
ou um anão (CE00783).
Os Lokapala, guardiães dos quatro
pontos cardinais, são uma herança da
tradição Budista que exerce influência
por toda a Ásia Central e Extremo
Oriente a partir da Rota da Seda,
tornando-se numa das principais
religiões da China, a par do Taoismo
e Confucionismo.
Durante a Dinastia Liao (907 - 1125)
o Budismo tornou-se a religião oficial
da China. O imperador Shengzong
ordenou a construção de inúmeros
templos budistas que, em alguns casos,
conservavam relicários de Buda.
Estes relicários normalmente com forma
de templo eram decorados a ouro
com a narrativa da vida de Buda em
baixo-relevo (CE00779). No interior,
conservavam as relíquias que poderiam
ser fragmentos de osso, textos ou ainda
objectos pessoais do próprio Buda ou,
eventualmente, da figura de Buda em
adoração no templo. Nos templos
budistas da China a imagem de Buda
Dormitando surge, por vezes, com a
cabeça apoiada numa tradicional
almofada chinesa em bronze (CE03813),
decorada com iconografia budista como
a flor de lotus.
A arte chinesa, desde a sua antiguidade
mais remota até à contemporaneidade,
revela um constante equilíbrio entre
o domínio das técnicas e dos materiais
e o culto do seu legado histórico-cultural,
resultando numa arte erudita com relação
estreita à poesia e à filosofia.
105
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Dawn Ho Delbranco;
Art from ritual. Ancient Chinese bronze
vessels from the Arthur M. Sackler Collections.
Cambridge: Harvard University Press, 1983
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Minghua Zhang;
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Rui O liveira L opes
104
Bi b l io g r a f ia
Figura sentada Zoomórfica
China, Cultura Hongshan
(3500 a.C. - 2500 a.C.)
Jade Nefrite
Dimensões: altura (6,5 cm)
comprimento (2,7 cm)
largura (2,2 cm)
Inv. CE03458
Zoomorphic seated figure
China, Hongshan Culture
(3500 BC - 2500 BC)
Nephrite Jade
Dimensions:
height (6,5 cm)
length (2,7 cm)
width (2,2 cm)
Inv. CE03458
Figura sentada Zoomórfica
China, Cultura Hongshan
(3500 a.C. - 2500 a.C.)
Jade Nefrite
Dimensões:
altura (15,7 cm)
comprimento (5,6 cm)
largura (3,7 cm)
Inv. CE03463
Zoomorphic seated figure
China, Hongshan Culture
(3500 BC - 2500 BC)
Nephrite Jade
Dimensions:
height (15,7 cm)
length (5,6 cm)
width (3,7 cm)
Inv. CE03463
Figura Zoomórfica em forma
de anel
China, Cultura Hongshan
(3500 a.C. - 2500 a.C.)
Jade Nefrite
Dimensões:
altura (10,4 cm)
comprimento (3,3 cm)
largura (7,9 cm)
Inv. CE03465
Pig-Dragon
China, Hongshan Culture
(3500 BC - 2500 BC)
Nephrite Jade
Dimensions:
height (10,4 cm)
length (3,3 cm)
width (7,9 cm)
Inv. CE03465
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Huo. Recipiente de ritual
para vinho em forma de elefante
China, Dinastia Shang,
Período Anyang tardio (1200 a.C. - 1100 a.C.)
Bronze
Dimensões:
altura (38,5 cm)
comprimento (42,8 cm)
largura (15 cm)
Inv. CE00757
Huo. Ritual wine vessel
in the form of an elephant
China, Shang Dynasty,
Late Anyang period (1200 a.C. - 1100 a.C.)
Bronze
Dimensions:
height (38,5 cm)
length (42,8 cm)
width (15 cm)
Inv. CE00757
Ding. Recipiente de ritual
para comida
Guang. Recipiente de ritual
para vinho em forma de dragão
China, Dinastia Shang,
Período Anyang inicial (1300 a.C. - 1200 a.C.)
Bronze
Dimensões:
altura (23,8 cm)
comprimento (19 cm)
China, Dinastia Shang,
Período Anyang inicial (1300 a.C. - 1200 a.C.)
Bronze
Dimensões:
altura (26 cm)
comprimento (3,1 cm)
largura (9,5 cm)
Inv. CE00780
Ding. Ritual food vessel
China, Shang Dynasty,
Early Anyang period (1300 BC - 1200 BC)
Bronze
Dimensions:
height (23,8 cm)
length (19 cm)
Inv. CE00780
Inv. CE00774
Guang. Ritual wine vessel
in the form of a dragon
China, Shang Dynasty, Early Anyang period
(1300 BC - 1200 BC)
Bronze
Dimensions:
height (26 cm)
length (3,1 cm)
width (9,5 cm)
Inv. CE00774
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Hufu
Estatueta de tigre
em bronze damasquinado
China, Dinastia Zhou Oriental,
Período dos Reinos Combatentes
(475 a.C. - 221 a.C.)
Bronze
Dimensões:
altura (6,5 cm)
comprimento (23 cm)
largura (6 cm)
Inv. CE00766
Hufu.
Bronze tiger inlaid with gold
China, East Zhou Dynasty,
Warring States period (475 BC - 221 BC)
Bronze inlaid with gold
Dimensions:
height (6,5 cm)
length (23 cm)
width (6 cm)
Inv. CE00766
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Hu. Jarro de vinho funerário
China, Dinastia Han do Ocidente
(206 a.C. - 9)
Bronze
Dimensões:
altura (36,5 cm)
comprimento (22,5 cm)
Inv. CE00772
Hu. Funerary wine jar
China, Western Han Dynasty
(206 BC - 9)
Bronze
Dimensions:
height (36,5 cm)
length (22,5 cm)
Inv. CE00772
Lanterna funerária
em forma de touro
China, Dinastia Han do Ocidente
(206 a.C. - 9 CE)
Bronze
Dimensões:
altura (29,3 cm)
comprimento (35 cm)
largura (11,5 cm)
Inv. CE01501
Funerary lamp in the form of a bull
China, Western Han Dynasty
(206 BC - 9)
Bronze
Dimensions:
height (29,3 cm)
length (35 cm)
width (11,5 cm)
Inv. CE01501
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Lokapala. Guardião tumular
China, Dinastia Tang
(618 - 906)
Terracota
Dimensões:
altura (49 cm)
comprimento (15 cm)
Inv. CE00783
Lokapala. Tomb guardian
China, Tang Dynasty
(618 - 906)
Terracotta
Dimensions:
height (49 cm)
length (15 cm)
Inv. CE00783
Relicário budista
China, Dinastia Liao
(907 - 1125)
Ouro e bronze
Dimensões:
altura (13,5 cm)
comprimento (7,2 cm)
Inv. CE00779
Buddhist Reliquary
China, Liao Dynasty
(907 - 1125)
Gold and Bronze
Dimensions:
height (13,5 cm)
length (7,2 cm)
Inv. CE00779
Almofada
China, Dinastia Liao
(907 - 1125)?
Bronze dourado
Dimensões:
altura (4,6 cm)
comprimento (13 cm)
largura (8 cm)
Inv. CE03813
Pillow
China, Liao Dynasty
(907 - 1125)?
Gilt bronze
Dimensions:
height (4,6 cm)
length (13 cm)
width (8 cm)
Inv. CE03813
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
paleo-cristão, islão
e idade média cristã
A Colecção Estrada possui um amplo
e variado conjunto de peças datáveis
da Idade Média e que se podem dividir
em 3 grandes grupos cronológicoculturais: Paleo-Cristão (sécs. IV-VIII),
Islâmico (sécs. VII-XV) e Medieval
Cristão (sécs. IX-XV).
O grupo Paleo-Cristão é composto por
uma lucerna tardo-romana e por uma
categoria de peças bastante comuns nos
cemitérios visigóticos dessa época: fivelas
de cinturão. Relativamente à primeira,
trata-se de uma produção norte-africana,
apresentando uma iconografia cristã,
sendo visível uma cruz (CE02770).
O contraste é notório com a iconografia
das lucernas romanas de épocas
anteriores, as quais eram influenciadas
por um imaginário e vivência pagãos.
Quanto às fivelas visigóticas, são 6 as
peças aqui expostas e em cuja variedade
tipológica se podem vislumbrar todo um
conjuunto de aspectos ideológicos e
religiosos. Assim, as peças mais antigas
são duas fivelas datáveis dos sécs. V e VI
(CE03219 e CE03657), onde se destacam
pequenas contas de pasta vítrea colorida,
as quais formam motivos cruciformes.
Este tipo de fivelas já era utilizado pelos
Visigodos antes de se entrarem no
Império Romano e de se instalarem na
Península Ibérica, constituindo assim
uma forma de identidade cultural distinta
daquela dos Hispano-Romanos.
Os Visigodos eram também Cristãos
Arianos, o que explica a existência de um
motivo em cruz nessas fivelas, o qual
teria, provavelmente, um significado
apotropaico. Em finais do século VI,
os Visigodos convertem-se ao
Catolicismo, a qual era a religião dos
Hispano-Romanos, de modo a diluir as
diferenças que havia entre os dois grupos.
116
117
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Ora, esta mudança também é visível nas
fivelas, as quais começam a adoptar
motivos itálicos (como a peça CE03191)
e bizantinos (as peças CE03195, CE03200
e CE03654), os quais estavam mais
próximos dos Hispano-Romanos.
Também nestas peças são visíveis
elementos apotropaicos, destacando-se,
em particular, a peça CE03654, na qual
são visíveis dois grifos afrontados.
O grifo era um animal fantástico com
corpo de leão e cabeça e asas de águia.
Simbolizava as naturezas terrena e divina
de Cristo, sendo considerado como
o guardião das almas dos mortos.
Passando agora ao grupo Islâmico,
pode ver-se um variado conjunto de
peças domésticas de luxo, datáveis dos
sécs. XII a XIV e provenientes do Médio
Oriente. Assim, são visíveis um
queimador de perfumes em forma de
leão (CE00427), um suporte de lampas
(CE03845), uma lâmpada com quatro
bicos (CE03810) que era colocada no topo
desse mesmo suporte e uma taça vidrado
sendo visível no seu interior uma corça
(CE00464). Todas estas peças, excepto a
última, são em bronze e, provavelmente,
de fabrico iraniano, onde as restrições
islâmicas à representação de animais não
eram tão severas. Já a última peça
(CE00468) é uma taça vidrada de fabrico
sírio com representação geométrica de
motivos vegetais, algo bastante comum
na iconografia islâmica.
Finalmente, as peças da Idade Média
Cristã, representadas por um variado
conjunto de arte sacra, com estilos e
proveniências diversas. Assinale-se,
assim, algumas peças de estillo românico,
datáveis dos séculos IX-XII,
nomeadamente, um cálice de prata usado
na Eucaristia (CE00706); um crucifixo em
bronze, com Cristo vestindo um
subligaculum na cintura, e com uma
coroa na cabeça (símbolo do seu poder)
com contas de esmalte (CE00704);
e, ainda, uma placa com decoração em
esmalte, de provável proveniência das
oficinas de Limoges, em França, e que
representa um santo (CE00712).
Pode igualmente ver-se uma cruz
bizantina em bronze, com a sua habitual
cruz grega, de braços iguais, e que é
datável dos séculos XI-XII (CE00710).
Finalmente, estão também presentes
algumas peças de estilo gótico,
nomeadamente duas estátuas da Virgem
com o Menino Jesus e um altar portátil
onde a Virgem aparece uma vez mais,
todas elas datáveis do século XIV e de
provável fabrico francês. O culto da
Virgem, ganhou uma enorme dimensão
na Europa Católica a partir dos sécs. XI
e XII. Sendo simultaneamente mãe e
mulher de Deus, tornou-se na principal
intercessora da humanidade junto
de Deus e na “Rainha das rainhas”.
A sua importância era tal que a Igreja
Católica identificava-se fortemente com
ela, procurando no seu culto a eliminação
de dissidências e a união de todos os
cristãos. Aqui, ela encontra-se
representado em materiais nobres:
num altar feito de marfim (CE03749);
de pé, numa estatueta, também de
marfim (CE02416); e entronizada,
num bronze que, inicialmente,
era dourado (CE04070).
Gustavo Porto carrero
Bi b l io g r a f ia
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Gisela Ripoll López, Toréutica de la Bética
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Oliver Watson, Ceramics from Islamic Lands.
The Al-Sabah Collection, Londres: T&H, 2004
Lucerna Romana
Norte de África,
Sécs. IV - V
Cerâmica
Dimensões:
altura (4,5 cm)
comprimento (10,6 cm)
largura (6,5 cm)
Inv. CE02770
Roman oil-lamp
North Africa,
4th - 5th Centuries
Ceramics
Dimensions:
height (4,5 cm)
length (10,6 cm)
width (6,5 cm)
Inv. CE02770
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fivela Visigótica
Península Ibérica,
Sécs. V - VI
Bronze e vidro
Dimensões:
altura (5,7 cm)
comprimento (11,7 cm)
largura (0,8 cm)
Inv. CE03657
Visigothic Buckle
Iberian Peninsula,
5th - 6th Centuries
Bronze and glass
Dimensions:
height (5,7 cm)
length (11,7 cm)
width (0,8 cm)
Inv. CE03657
Fivela Visigótica
Península Ibérica,
Séc. VII
Bronze
Dimensões:
altura (3,4 cm)
comprimento (8,9 cm)
largura (0,3 cm)
Inv. CE03195
Visigothic Buckle
Iberian Peninsula,
7th Century
Bronze
Dimensions:
height (3,4 cm)
length (8,9 cm)
width (0,3 cm)
Inv. CE03195
Fivela Visigótica
Península Ibérica,
Séc. VI
Bronze e pasta vítrea
Dimensões:
altura (12,5 cm)
comprimento (6,9 cm)
largura (1 cm)
Inv. CE00568
Visigothic Buckle
Iberian Peninsula,
6th Century
Bronze and glass
Dimensions:
height (12,5 cm)
length (6,9 cm)
width (1 cm)
Inv. CE00568
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fivela Visigótica
Fivela Visigótica
Península Ibérica,
Séc. VII
Bronze
Dimensões:
altura (4,7 cm)
comprimento (11 cm)
largura (0,4 cm)
Península Ibérica,
Séc. VII
Bronze
Dimensões:
altura (5,4 cm)
comprimento (14,1 cm)
largura (0,7 cm)
Inv. CE03191
Inv. CE03654
Visigothic Buckle
Visigothic Buckle
Iberian Peninsula,
7th Century
Bronze
Dimensions:
height (4,7 cm)
length (11 cm)
width (0,4 cm)
Iberian Peninsula,
7th Century
Bronze
Dimensions:
height (5,4 cm)
length (14,1 cm)
width (0,7 cm)
Inv. CE03191
Inv. CE03654
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Fivela Visigótica
Península Ibérica,
Séc. VII
Bronze
Dimensões:
altura (4,3 cm)
comprimento (11,5 cm)
largura (0,3 cm)
Inv. CE03200
Visigothic Buckle
Iberian Peninsula,
7th Century
Bronze
Dimensions:
height (4,3 cm)
length (11,5 cm)
width (0,3 cm)
Inv. CE03200
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Taça
Raqa, Síria,
Século XII
Cerâmica vidrada
Dimensões:
altura (13,5 cm)
comprimento (29 cm)
Inv. CE00468
Bowl
Raqa, Síria,
12th century
Glazed ceramic
Dimensions:
height (13,5 cm)
length (29 cm)
Inv. CE00468
Taça
Kashan, Irão,
Séculos XIII - XIV
Cerâmica vidrada
Dimensões:
altura (14 cm)
comprimento (27,6 cm)
Inv. CE00464
Bowl
Kashan, Iran,
13th - 14th Centuries
Glazed ceramic
Dimensions:
height (14 cm)
length (27,6 cm)
Inv. CE00464
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Lucerna
Médio Oriente,
Séculos XII - XIII
Bronze
Dimensões:
altura (24,3)
comprimento (29,5)
largura (24,4)
Inv. CE03810
Oil lamp
Middle East,
12th - 13th Centuries
Bronze
Dimensions:
height (24,3 cm)
length (29,5 cm)
width (24,4 cm)
Inv. CE03810
Suporte de lucernas
Médio Oriente,
Séculos XII - XIII
Bronze
Dimensões:
altura (54,9)
comprimento (19,7)
Inv. CE03845
Lamp-stand
Middle East,
12th - 13th Centuries
Bronze
Dimensions:
height (54,9 cm)
length (19,7 cm)
Inv. CE03845
Queimador
Irão?,
Séculos XII - XIII
Bronze
Dimensões:
altura (21,6 cm)
comprimento (29,2)
largura (6,9 cm)
Inv. CE00427
Incense Burner
Iran?,
12th-13th Centuries
Bronze
Dimensions:
height (21,6 cm)
length (29,2 cm)
width (6,9 cm)
Inv. CE00427
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Cálice
Europa Ocidental,
Séculos IX-XII
Prata
Dimensões:
altura (16,6 cm)
comprimento (10,2 cm)
Inv. CE00706
Chalice
Western Europe,
9th - 12th Centuries
Silver
Dimensions:
height (16,6 cm)
length (10,2 cm)
Inv. CE00706
Cruz bizantina
Mediterrâneo Oriental,
Séculos XI - XII
Bronze
Dimensões:
altura (30 cm)
comprimento (27,5 cm)
largura (0,3 cm)
Inv. CE00710
Byzantine cross
Eastern Mediterranean,
11th - 12th Centuries
Bronze
Dimensions:
height (30 cm)
length (27,5 cm)
width (0,3 cm)
Inv. CE00710
130
131
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Crucifixo
Europa Ocidental,
Séculos XI – XIII
Bronze e esmalte
Dimensões:
altura (12,8 cm)
comprimento (10,8 cm)
largura (1,3 cm)
Inv. CE00704
Crucifix
Western Europe
Bronze and enamel, 11th - 13th Centuries
Dimensions:
height (12,8 cm)
length (10,8 cm)
width (1,3 cm)
Inv. CE00704
Placa
Limoges, França,
Séculos XII-XIII
Cobre e esmalte
Dimensões:
altura (19,9 cm)
comprimento (9,1 cm)
largura (1,5 cm)
Inv. CE00712
Plaque
Limoges, France,
12th - 13th Centuries
Copper and enamel
Dimensions:
height (19,9 cm)
length (9,1 cm)
width (1,5 cm)
Inv. CE00712
Virgem Maria com o Menino Jesus
França,
Século XIV
Marfim
Dimensões:
altura (14,2 cm)
comprimento (3,9 cm)
largura (2,9 cm)
Inv. CE02416
The Virgin Mary and Child
France,
14th Century
Ivory
Dimensions:
height (14,2 cm)
length (3,9 cm)
width (2,9 cm)
Inv. CE02416
Virgem Maria entronizada
com o Menino Jesus
França,
Século XIV
Bronze
Dimensões:
altura (52,5 cm)
comprimento (16 cm)
largura (15 cm)
Inv. CE04070
Enthroned Virgin
Mary and Child
France,
14th Century
Bronze
Dimensions:
height (52,5 cm)
length (16 cm)
width (15 cm)
Inv. CE04070
132
133
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Altar portátil
França,
Século XIV
Marfim
Dimensões:
altura (13,9 cm)
comprimento (12,7 cm)
largura (1,2 cm)
Inv. CE03749
Portable altar
France,
14th Century
Ivory
Dimensions:
height (13,9 cm)
length (12,7 cm)
width (1,2 cm)
Inv. CE03749
134
135
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
arte do final da idade média,
do renascimento e do barroco
Cabeça de Cristo
Portugal,
Século XV
Calcário
Dimensões:
altura (21 cm)
comprimento (18 cm)
largura (24 cm)
Inv. CMA017
Head of Christ
Portugal,
15th Century
Limestone
Dimensions:
height (21 cm)
length (18 cm)
width (24 cm)
Inv. CMA017
A igreja de Nossa Senhora do Castelo é
um notável edifício dos séculos XV
e XVI, de nave única, com coro-alto
e capela-mor, relativamente bem
conservado, que integra um valioso
património artístico aplicado, constituído
por escultura monumental (portas, arcos,
púlpito), excepcionais exemplares
de tumulária dos séculos XV e XVI,
vestígios de frescos e revestimentos
azulejares, na capela-mor, de raras
tipologias arcaicas («corda seca»).
Com a colecção que aí foi recolhida
desde os anos vinte do século XX,
o Museu D. Lopo de Almeida, instalado
na igreja, apresenta, entre outras peças
de interesse, uma evolução da Escultura
Portuguesa, do século XV ao século
XVIII, com base em peças oriundas
das igrejas da cidade, assim como uma
pintura quinhentista sobre madeira.
Estas colecções serão integradas no
MIAA, pelo que, nesta exposição,
decidimos apresentar uma selecção
representativa desse espólio.
No altar-mor pode ver-se um
exemplar quase único de moldura
gótico-manuelina, em madeira, de um
retábulo quinhentista, ainda in situ,
subsistindo, exposta ao lado, uma das
pinturas que o integrou, uma belíssima
Adoração dos Magos que julgamos poder
filiar na oficina de Francisco Henriques,
pintor luso-flamengo com actividade
documentada entre 1509 e 1518.
No nicho central da armação retabular
encontra-se o orago da igreja, Santa
Maria do Castelo, certamente uma
imagem anterior reutilizada. Aproximase da obra atribuída ao escultor
de Coimbra Diogo Pires-o-Velho,
documentado de 1473 a 1514.
Esta estátua parece ser, iconografica
e plasticamente, uma versão em menor
escala da principal obra documentada do
mestre, a Virgem com o Menino de Leça da
Palmeira, encomendada por D. Afonso V
em 1478 e concluída em 1481.
Entre as imagens em pedra seleccionadas
que se expõem na nave, uma das mais
interessantes imagens é a Cabeça de
Cristo, porventura um fragmento de uma
imagem de um Ecce Homo ou de um
Senhor da Cana Verde, em que a
intensidade da expressão dolorosa
é traduzida com acentuada
impassibilidade. No Museu Grão Vasco,
em Viseu, existe um Cristo Ressuscitado,
talvez anterior, que apresenta algumas
afinidades com esta escultura.
O tratamento plástico dos cabelos
aproxima-a da obra atribuída ao escultor
de Coimbra João Afonso, formado
à sombra do Mosteiro da Batalha e activo
nas décadas centrais de Quatrocentos
(cerca de 1436 a cerca de 1470).
A Virgem do Leite, proveniente da igreja
de S. Vicente, apresenta excelente
qualidade plástica, aproximando-se
da obra atribuída ao escultor de Coimbra
João Afonso, formado nos canteiros do
Mosteiro da Batalha e autor de tumulária,
retábulos e imaginária avulsa,
nomeadamente várias Virgens com
o Menino, activo nas décadas centrais
de Quatrocentos (cerca de 1436 a cerca
de 1470).
136
137
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Já o São Brás, proveniente da igreja
de São João Baptista, integra-se na vasta
produção das oficinas de Coimbra que
copiavam, num registo «menor», os
receituários figurativos dos principais
mestres da centúria, João Afonso ou
Diogo Pires-o-Velho. De acordo com
a sua legenda, S. Brás, protector contra
as doenças de garganta, enverga traje
episcopal e abençoa uma criança
que se havia engasgado.
Por seu turno, a Santa Mártir,
proveniente da igreja de S. Vicente,
apresenta o atributo que a identificaria
mutilado, presumindo-se que possa ter
sido Santa Luzia, protectora contra
as doenças dos olhos, ou Santa Bárbara,
patrona dos artilheiros. Integra-se na
produção das oficinas secundárias
de Coimbra que seguem a «maneira»
do escultor João Afonso.
O notável S. Bartolomeu terá pertencido,
com outras esculturas subsistentes,
a um mesmo conjunto, eventualmente
um Apostolado de um portal ou de um
retábulo, e documenta, no seu rigor
plástico, a plena assimilação do
Renascimento pelas oficinas de Coimbra,
resultante da actividade de escultores
franceses na cidade, nomeadamente
Nicolau Chanterene, de 1518 a 1528,
ou João de Ruão, de 1528 até 1580.
Finalmente, expõem-se também várias
peças em madeira, com destaque para
duas imagens maneiristas (uma Santa
Catarina e uma Nossa Senhora com o
Menino, ambas de finais de Quinhentos),
e para um S. José com o Menino, já do
período barroco, que deverá ter formado
um grupo da Sagrada Família. Junto a
estas imagens expõe-se um São Miguel
Arcanjo, do século XVII, da colecção
Estrada.
Fernand o antónio bap tista pereira
Bi b l io g r a f ia
Pereira, José Fernandes Pereira (coord.)
Dicionário de Escultura Portuguesa, Lisboa,
Caminho, 2005.
Baptista Pereira, Fernando António
«O gosto artístico dos Almeidas»
in 500 anos da Fundação do “Estado Português
da Índia” 1505-2005, Abrantes, CMA, 2009.
Santa Mártir
Coimbra, Portugal,
Século XV
Pedra de Ançã
Dimensões:
altura (80 cm)
comprimento (29 cm)
largura (21 cm)
Inv. CMA003
Saint Martyr
Coimbra, Portugal,
15th Century
Limestone
Dimensions:
height (80 cm)
length (29 cm)
width (21 cm)
Inv. CMA003
S. Brás
Coimbra, Portugal,
Século XV
Pedra de Ançã
Dimensões:
altura (68 cm)
comprimento (24 cm)
largura (18 cm)
Inv. CMA004
Saint Blaise
Coimbra, Portugal,
15th Century
Limestone
Dimensions:
height (68 cm)
length (24 cm)
width (18 cm)
Inv. CMA004
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Nossa Senhora do Leite
Coimbra, Portugal,
Século XV
Pedra de Ançã
Dimensões:
altura (102 cm)
comprimento (35 cm)
largura (40 cm)
Inv. CMA021
The Virgin Mary and Child
Coimbra, Portugal,
15th Century
Limestone
Dimensions:
height (102 cm)
length (35 cm)
width (40 cm)
Inv. CMA021
S. Bartolomeu
Coimbra, Portugal,
Século XVI
Pedra de Ançã
Dimensões:
altura (76 cm)
comprimento (13 cm)
largura (20 cm)
Inv. CMA022
Saint Bartholomew
Coimbra, Portugal,
16th Century
Limestone
Dimensions:
height (76 cm)
length (13 cm)
width (20 cm)
Inv. CMA022
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Adoração dos Reis Magos.
Painel do Antigo Retábulo
da Igreja de Santa Maria do Castelo
Oficina Luso-Flamenga
de Francisco Henriques (act. 1509-1518),
ca. 1512
Dimensões:
altura (2,68) cm
comprimento (1,32 cm)
largura (7 cm)
Inv. CMA048
Adoration of the Magi.
Picture from the Old Retable of the
Church of Santa Maria do Castelo
Luso-Flemish Office
of Francisco Henriques (act. 1509-1518),
ca. 1512
Dimensions:
height (2,68 cm)
length (1,32 cm)
width (7 cm)
Inv. CMA048
S. João Baptista
Portugal,
Século XVII
Madeira
Dimensões:
altura (93,2 cm)
comprimento (42,5 cm)
largura (33,7 cm)
Inv. CMA008
Saint John the Baptist
Portugal,
17th Century
Wood
Dimensions:
height (93,2 cm)
length (42,5 cm)
width (33,7 cm)
Inv. CMA008
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
S. Miguel Arcanjo
Portugal,
Século XVII
Madeira
Dimensões:
altura (101 cm)
comprimento (65 cm)
largura (27 cm)
Inv. CE04104
Saint Michael Archangel
Portugal,
Seventeenth Century
Wood
Dimensions:
height (101 cm)
length (65 cm)
width (27 cm)
Inv. CE04104
S. José e o Menino Jesus
Portugal,
Séculos XVII - XVIII
Madeira
Dimensões:
S. José
altura (110,7 cm)
comprimento (45,4 cm)
largura (30,5 cm)
Menino Jesus
altura (62,1 cm)
comprimento (27,5 cm)
largura (16,1 cm)
Inv. CMA010 e CMA011
Saint Joseph and Child
Portugal,
Seventeenth - Eighteenth Centuries
Wood
Dimensions:
S. Joseph
height (110,7 cm)
length (45,4 cm)
width (30,5 cm)
Child
height (62,1 cm)
length (27,5 cm)
width (16,1 cm)
Inv. CMA010 and CMA011
144
145
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
imaginária indo-portuguesa
em marfim
A colecção de imaginária
indo-portuguesa em marfim reunida
por João Ernesto Estrada, constituída
por várias peças datáveis dos séc. XVII
e XVIII, é representativa de uma
confluência artística ditada pelas missões
europeias na Índia, sob administração
do Padroado Português do Oriente.
A imaginária indo-portuguesa em
marfim é caracterizada, em grande
medida, por esculturas de vulto perfeito,
isoladas e avulsas, de pequena estatura
executadas em presas de elefante ou
rinoceronte provenientes da costa
oriental africana ou de Ceilão.
São ainda relativamente comuns as placas
com baixo-relevo em marfim, seguindo
de alguma maneira os modelos medievais
de retábulo portátil. Mais raras são as
estruturas compósitas como os calvários
e as árvores de Jessé, remanescentes das
Árvores sagradas da Índia. Normalmente
estas peças eram cobertas por policromia,
embora já poucos exemplares apresentem
restos de pintura, nomeadamente ao nível
da indumentária.
A escultura em marfim é remanescente
de uma confluência de materiais, técnicas
e temas que resultaram das campanhas
missionárias na Índia. Os missionários
europeus recorriam a artistas locais para
a execução de imagens cristãs através
de modelos em escultura de madeira
ou em gravura importados da Europa.
Daqui resultou uma profusa produção
de imagens em marfim que procurava
responder tanto a uma política
proselitista de conversão das populações
locais, como ao gosto pelo exotismo que
tinha lugar nas kunstkammer das cortes
europeias.
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147
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Bernardo Ferrão de Tavares e Távora,
o maior estudioso da imaginária
do Oriente português, classificou a arte
do marfim luso-oriental em diferentes
tipologias de acordo com a iconografia
Mariana, Cristológica (infância de Jesus
e Paixão de Cristo) e Hagiográfica, dando
ainda destaque ao tema do Bom Pastor,
particularmente popular na Índia
Portuguesa. Bernardo Távora foi ainda
além de um critério simplista que
incorporava todas as esculturas
em marfim de iconografia cristã
numa produção indo-portuguesa,
identificando também as oficinas
regionais cíngalo-portuguesa,
sino-portuguesa e nipo-portuguesa.
Os temas iconográficos da estatuária
ebúrnea têm uma relação directa com
a actividade missionária e um
consequente encontro de culturas
e sistemas religiosos onde, apesar
de tudo, os missionários encontraram
similitudes que foram usadas para
facilitar e incentivar à conversão das
populações locais ao cristianismo.
Desta forma trata-se de uma arte
miscigenada focada não só no uso
de materiais e técnicas de entalhamento
do marfim mas sobretudo nas similitudes
formais e conceptuais.
O Bom Pastor (CE02419), proveniente
da Índia, muito possivelmente de Goa,
é talvez uma das peças mais interessantes
da imaginária em marfim da colecção do
Museu Ibérico de Arte e Arqueologia.
Foi sem duvida um dos temas com maior
projecção no decorrer do séc. XVII que
ganhou uma dimensão estética e formal
muito destinta dos modelos europeus,
já hereditários de um legado artístico
e cultural clássico. O Menino Jesus
dormente com a cabeça apoiada na mão
direita surge normalmente representado
no topo do monte rochoso em socalco,
com uma ovelha ao ombro e outra no
colo e com as pernas cruzadas. Vestido
como pastor é representado com os seus
atributos habituais como o bornal e a
cabaça. A peanha, dividida em três
socalcos, é decorada por uma fonte por
onde uma carranca jorra água para um
tanque e duas aves a beber, um rebanho
de ovelhas guardadas pelo Bom Pastor
e, por último, Maria Madalena penitente,
deitada à maneira indiana.
É de facto curioso o motivo pelo qual
na imaginária indo-portuguesa o Bom
Pastor passa a ser representado como
Menino e não como adulto, tal como
acontece na escultura e pintura retabular
europeia. Certamente terá que ver com
outro tema iconográfico particularmente
popular durante as missões europeias na
Índia, como é o caso do Menino Salvador
do Mundo (Salvator Mundi). Ambos
os temas estão relacionados com a ideia
do bom pastor que resgata a ovelha
perdida para a salvação. Por outro lado
é também o “espelho” onde os padres
missionários se revêm enquanto pastores
e predicadores do evangelho da Igreja
Católica.
A posição do Menino Jesus dormente
está naturalmente relacionada com
posição de meditação búdica como
um bodhisatva ou Maitreya, o messias
búdico. Por outro lado, a posição de
Maria Madalena, deitada sobre o flanco
com a cabeça apoiada na mão tem sido
normalmente relacionada com a posição
de Buda reclinado. No entanto
é importante considerar também
a existência de marfins, datados
dos séc. XII e XIII, que representam
Vishnu dormitando no oceano cósmico,
precisamente na mesma posição em
que Maria Madalena é representada nos
marfins do Bom Pastor. O tema cristão
mais popular na Índia Portuguesa de
seiscentos é representativo do ambiente
missionário em que surge, permeável
quer às estruturas formais, quer
conceptuais da religião hindu.
A representação do tema do Menino
Jesus (CE03755, CE03757 e CE03773)
é igualmente um dos temas mais
apreciados da imaginária indoportuguesa dos séc. XVI a XVIII,
com uma ideia muito ligada à salvação
universal. É importante entender
a representação deste tema no contexto
dos modelos escultóricos importados
da Europa. Os modelos escultóricos
europeus dominantes durante os séc. XVI
a XVIII eram provenientes da Flandres,
nomeadamente de Bruxelas, Antuérpia
e Malines. Estas esculturas do Menino
Jesus, normalmente em madeira,
eram populares de tal forma e com
características tão próprias que passaram
a ser denominadas Menino Jesus de
Malines. Estas seriam figuras avulsas
que poderiam ser colocadas em
conjuntos como presépios ou
simplesmente isoladas. Normalmente
são representadas com o cabelo cortado
à maneira medieval, com expressões e
anatomia vincadamente flamengas - rosto
redondo, cochas largas, nádegas pequenas
e a perna direita ligeiramente avançada
e flectida. O Menino Jesus Salvador
do Mundo e o Menino Jesus de Vara
crucífera são exemplos destes modelos de
Menino Jesus de Malines que se tornaram
populares na Índia dos séc. XVII e XVIII.
Particularmente interessante é também a
imagem de S. Francisco Xavier (CE02417)
que, para além da qualidade do entalhe,
sobretudo ao nível do drapeamento,
é representativo da importância
do Apóstolo do Oriente na conversão
das populações locais. Colocando uma
mão sobre o peito, S. Francisco Xavier,
patrono da cidade de Goa, é representado
descalço e no momento da sua pregação,
dando claramente ênfase à sua condição
de missionário jesuíta e a sua acção
como orador junto das comunidades.
As imagens de Nossa Senhora da
Conceição (CE02418, CE02420 e CE03759)
surgem também com alguma frequência
na imaginária em marfim muito
provavelmente porque o Rei D. João IV,
em 1646, adoptou a Imaculada Conceição
como padroeira de Portugal.
É interessante notar que as imagens
em marfim da Imaculada Conceição
raramente são representadas sem
o menino. Antes da chegada dos
missionários europeus à Índia era
bastante popular o culto em torno
dos episódios da infância de Krishna
e da sua mãe adoptiva, Yashoda,
consorte de Nanda. Confrontados com a
imaginária hindu e o culto aos princípios
da maternidade e da figura de Krishna
como criança divina e avatar
(encarnação) de Vishnu (Deus), os
missionários europeus encontraram
um paralelismo e similitudes formais
e conceptuais que poderiam facilitar a
tradução simbólica da iconografia cristã.
É de referir ainda que, ao contrário do
que acontece em outras partes da Ásia,
nomeadamente na China, as imagens
da Imaculada Conceição não têm traços
fisionómicos de expressão indiana,
sobretudo as peças de cronologia mais
recente que obedecem com maior rigor
aos modelos europeus.
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Os processos de miscigenação artística
na Ásia está directamente relacionada
com os diferentes modelos da presença
europeia na Índia, na China e no Japão.
Enquanto que na China os europeus
usufruem de uma presença tolerada
e circunscrita a um espaço definido
pelo Imperador, na Índia existiu uma
colonização efectiva com um Estado
estabelecido em Goa a funcionar à
imagem da Metrópole do Império
português, enquanto que no Japão existiu
um período de tolerância até à expulsão
definitiva dos cristãos em 1626.
Bi b l io g r a f ia
AA.VV., A Expansão portuguesa e a arte
do marfim. Lisboa: Comissão Nacional
para a Comemoração dos Descobrimentos
Portugueses, 1991
AA.VV., A Arte do Marfim.
Lisboa: Comissão Nacional para a
Comemoração dos Descobrimentos
Portugueses, 1998
AA.VV., Da Flandres e do Oriente: Escultura
importada da colecção Miguel Pinto.
Lisboa: IPM / Casa-Museu Dr. Anastácio
Gonçalves, 2002
Rui O liveira L opes
Cristina Osswald,
O Bom Pastor na imaginária indo-portuguesa
em marfim. Porto: Dissertação de Mestrado
apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 1996
Cristina Osswald,
“Marfins: formas e técnicas, com especial
incidência na imaginária indo-portuguesa”.
IN: Oceanos - Lisboa - Nº 19-20
(Set. Dez. 2004), pp. 60 - 70
Bernardo Ferrão de Tavares e Távora,
Imaginária Luso-Oriental.
Lisboa: IN/CM, 1983
Bom Pastor
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (21,5 cm)
comprimento (5,7 cm)
largura (4,6 cm)
Inv. CE02419
Child Jesus
as the Good Shepherd
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (21,5 cm)
length (5,7 cm)
width (4,6 cm)
Inv. CE02419
Menino Jesus Salvador do Mundo
(Salvatoris Mundi)
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (36,7 cm)
comprimento (12,4 cm)
largura (12,4 cm)
Inv. CE03755
Child Jesus, Savior of the World
(Salvatoris Mundi)
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (36,7 cm)
length (12,4 cm)
width (12,4 cm)
Inv. CE03755
150
151
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Menino Jesus da vara crucífera
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (26,8 cm)
comprimento (8,3 cm)
largura (6,8 cm)
Inv. CE03757
Child Jesus
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (26,8 cm)
length (8,3 cm)
width (6,8 cm)
Inv. CE03757
Menino Jesus da vara crucífera
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (24,5 cm)
comprimento (8,7 cm)
largura (5,9 cm)
Inv. CE03773
Child Jesus
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (24,5 cm)
length (8,7 cm)
width (5,9 cm)
Inv. CE03773
S. Francisco Xavier
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (14,9 cm)
comprimento (13,8 cm)
largura (2,8 cm)
Inv. CE02417
Saint Francis Xavier
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (14,9 cm)
length (13,8 cm)
width (2,8 cm)
Inv. CE02417
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Santo António com o Menino
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (21 cm)
comprimento (6,5 cm)
largura (5,2 cm)
Inv. CE03753
Saint Anthony and Child Jesus
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (21 cm)
length (6,5 cm)
width (5,2 cm)
Inv. CE03753
S. José com o Menino
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (16,7 cm)
comprimento (9,7 cm)
largura (4,8 cm)
Inv. CE03763
Saint Joseph and Child Jesus
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (16,7 cm)
length (9,7 cm)
width (4,8 cm)
Inv. CE03763
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Nossa Senhora da Conceição
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (19,6 cm)
comprimento (6,7 cm)
largura (4,6 cm)
Inv. CE02418
Our Lady of Conception
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (19,6 cm)
length (6,7 cm)
width (4,6 cm)
Inv. CE02418
Nossa Senhora da Conceição
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (16 cm)
comprimento (4,6 cm)
largura (3,7 cm)
Inv. CE03759
Our Lady of Conception
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (16 cm)
length (4,6 cm)
width (3,7 cm)
Inv. CE03759
Nossa Senhora da Conceição
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (19,8 cm)
comprimento (5,1 cm)
largura (4 cm)
Inv. CE02420
Our Lady of Conception
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
altura (19,8 cm)
comprimento (5,1 cm)
largura (4 cm)
Inv. CE02420
Nossa Senhora do Rosário
Goa, Índia,
Século XVII
Marfim
Dimensões:
altura (12,1 cm)
comprimento (4,9 cm)
largura (3,8 cm)
Inv. CE03766
Our Lady of the Rosary
Goa, India,
17th Century
Ivory
Dimensions:
height (12,1 cm)
length (4,9 cm)
width (3,8 cm)
Inv. CE03766
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
artistas contemporâneos
maria lucília moita
Percurso
(Dos anos 40-50 aos 80 e seguintes)
1ª Fase
Pintura dos anos 40-50
(Naturalismo)
2ª Fase
Reacção
Finais dos anos 50, princípio de 60
Depois da exposição de 1958 com a
pintura que tinha feito até então, na linha
naturalista que me formara novos
horizontes se me abriram. Fui sentindo
necessidade de me afirmar, de me
estruturar, talvez uma reacção à pintura
“aprendida”.
Ao fim de uns três anos não me sentia
bem nessa dureza. Escrevi poesia.
Enraízo-me na terra limpa
Chão e origem
Na verdade do restolho e da pedra
E da água nascida
As águas ribeiras misturam-se à terra
Lama pura.
Corre salta rebenta nas valas
Com a inquietação das coisas vivas
Os carvalhos rasgados não são coisas mortas
Ficaram no caminho do vento
Do primeiro Livro publicado
tempo circulado (1967), Pag. 49
3ª fase
Espátula, Espátula e pincel duro
Consegui desinibir-me com uma espátula
e massa de vidraceiro com anilinas
– “o Portão Azul” – (1962)
Continuei a usar a espátula, com tintas
de óleo. Nos retratos, raros, o pincel
cortado duro.
Também nos troncos, nas coisas. Assim
até ao fim dos anos 60 e 1970 -1971.
4º fase
Antes do Orgânico
Ano de 1972 e ainda em 1973
Ao deixar de todo a espátula as
pinceladas foram-se alterando.
Primeiro largas, horizontais ou verticais.
Foi a fase “Antes do Orgânico”.
Também a forma de escrever poesia se foi
modificando. Em 1971 encorajada pela
escritora Ana Hatherly publiquei
“apertado mundo de dentro”. O poeta e
crítico Padre João Maia chamou-lhe
poesia concretista.
Sou na oração de pedra
Silencio pedra viva
Calo minha voz
Digo
pedra
4ª fase B
Orgânico
Anos 74,75,76
Um tempo depois as pinceladas foram
ficando arredondadas. Surgiu uma
pintura celular que o pintor e escritor
Lima de Freitas definiu de Orgânico.
158
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
4ª Fase C
O Sair do Orgânico
Final dos anos 70
A partir de 78, 79 as minhas raízes
naturalistas foram-se manifestando.
5ª Fase
Anos 80 e seguintes
Só nos anos 80 encontrei a minha
“escrita”. Sempre inquieta, insatisfeita,
aquilo que eu fui, aquilo que eu sou com
tudo o que aprendi e quero aprender.
Nos anos 80 o retrato foi-me interessando
cada vez mais. Os rostos, a expressão do
olhar…
Também sugestões do rosto de Cristo.
A Santa Face – a partir de uma imagem
que tenho no ateliê.
Carvão
O carvão é a minha ferramenta. No fim
do percurso dos anos 40 aos anos 80
comecei a desenhar com mais força.
Ao pintar a óleo, primeiro construo com
o carvão.
Em 1996 por sugestão e com um texto
do Professor José Augusto França fiz uma
exposição só de desenhos a carvão no
Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Terras de deserto
1989
64x76
Olhos de Ânsia
1987
60x46
160
161
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
Desenho a carvão
1995
65x50
162
163
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
joão charters
de almeida
1935
Nasce em Lisboa
1960
Termina com distinção o Curso Especial
de Escultura na Escola Superior
de Belas-Artes do Porto
1962
Termina com distinção o Curso Superior
de Escultura na Escola Superior de BelasArtes do Porto.
Apresenta a Tese.
É classificado com 20 valores.
percurso académico
1962
É convidado para Professor Assistente na
Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
1971
Concorre, mediante concurso público, ao
lugar de Professor da Escola Superior de
Belas-Artes do Porto, sendo nomeado
Professor Efectivo.
1972
Abandona a seu pedido o cargo de
Professor Efectivo da Escola Superior de
Belas-Artes do Porto para se dedicar, em
exclusivo, ao trabalho de atelier.
bolsas
Património Histórico e Artístico
do Brasil.
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Alto Patrocínio de l’Association Française
d’Action Artistique
Ministério dos Negócios Estrangeiros
de Portugal.
Portuguese Cultural Foundation,
R.I, U.S.A.
Fullbright Hays Foundation, U.S.A.
condecorações
1984
Recebe a citação oficial e diploma de
Cidadão Honorário do Senado de Rhode
Island, U.S.A., recebendo do Mayor a
Chave da Cidade.
Recebe o equivalente à Chave da Cidade
de Newport.
1985
Recebe a citação oficial e diploma de
Cidadão Honorário do Senado da cidade
de El Paso, Texas, U.S.A. recebendo do
Mayor a Chave da Cidade.
1988
É nomeado Comendador da Ordem do
Infante D. Henrique, Portugal.
É nomeado Chevalier de l’Ordre des Arts
et Lettres, pelo Ministro da Cultura de
França.
1992
É nomeado Officier de l’Ordre de
Leopold du Royaume de Belgique,
Bélgica.
1998
É agraciado com a Grande Cruz de
Honra e Devoção da Soberana Ordem
Militar de Malta, Itália.
2007
Recebe a medalha de Mérito Cívico e
Cultural, atribuída pela Câmara
Municipal de Abrantes.
prémios
1961-1970
Ganha 11 primeiros prémios em
concursos públicos, nacionais e
internacionais, de medalha e medalhaobjecto.
Por opção, não entra em mais concursos.
exposições colectivas
1972
Desenha os figurinos e décors para
“Nights Sounds”, Ballet Gulbenkian,
coreografia de John Butler, música de
Fukushima, sendo premiado por este
trabalho na Bienal de S. Paulo, no Brasil.
1973
Desenha os figurinos e décors para
“Tekt”, Ballet Gulbenkian, coreografia de
Milko Sparenbleck, música de Xenakis e
luminotécnia de Colin Mackintyre.
1979
Desenha os figurinos e décors para
“Dimitriana”, Ballet Gulbenkian,
coreografia de Carlos Trincheiras, música
de Constança Capdeville, Shostakovitch.
exposições individuais
Desenha o logo dos “Encontros da
Música Comtemporânea” da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
2004-2005
A convite expôs em:
Università di Bologna, Facoltà di
Architettura Aldo Rossi - Cesena (2004)
Università IUAV di Venezia, Facoltà di
Architettura - Venezia (2004)
Politecnico di Milano Campus Bovisa,
Facoltà di Architettura Civile - Milano
(2005)
Politecnico di Torino, I Facoltá di
Architettura - Torino (2005)
Universidade Lusíada - Lisboa (2005)
165
ballet e ópera
1961-1992
Participa em mais de trinta exposições
oficiais e particulares em Portugal e no
estrangeiro.
1963-1998
Realiza mais de trinta exposições
individuais em Portugal e no estrangeiro,
não tendo por opção feito mais nenhuma
exposição até 2004.
164
2007
Museu Nacional de Arqueologia,
Jerónimos - Lisboa
Colóquio sobre Obra de Charters de
Almeida no Centro Cultural de Belém Lisboa
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
1984/85
Desenha os décors para “Tosca”, Teatro
Nacional de S. Carlos,
encenação di Sarah Ventur.
1987/88 e 1994/95.
Desenha os décors para “Tosca”, Teatro
Nacional de S. Carlos,
encenação di Paolo Trevisi.
colecções
Está representado em museus, fundações
e colecções particulares em Portugal e
noutros países da Europa, U.S.A., Brasil,
Canadá e Japão.
Tem trabalhos de grande escala em
espaços públicos em Portugal, Bélgica,
U.S.A. e China.
Em 2007
Executou um trabalho para a Reffer
a colocar no espaço público exterior
da estação ferroviária de Palmela
Desenvolveu um trabalho para
a Câmara Municipal de Abrantes
a colocar no espaço público, na zona
envolvente do “Mar de Abrantes”
Executou um trabalho, múltiplo,
comemorativo dos 75 anos da OPCA
Desenhou o “Prémio Talento”, múltiplo,
para o Ministério dos Negócios
Estrangeiros.
Escreveu sobre Gianni Braghieri,
Professor Arquitecto, fundador da
Faculdade de Arquitectura “Aldo Rossi”
da Universidade de Bolonha
Escreveu sobre Marco Peticca, Professor
Arquitecto da Faculdade de Arquitectura
“La Sapienza” em Roma.
Celebrou com a Câmara Municipal
de Abrantes um protocolo para a
instalação de um núcleo museológico
da sua obra posterior a 1983, no Museu
Ibérico de Arqueologia e Arte Moderna
a instalar no Convento de São Domingos
em Abrantes.
Celebrou um protocolo com
o Banco de Portugal para a instalação,
nessa instituição, de um núcleo
museológico sobre obra gravada
de sua autoria com cunhos, provas
de ensaio, provas definitivas
de medalhas e medalhas/objecto.
Desenvolveu estudos para a instalação,
sob consulta, de um espaço museológico
de imagem virtual.
cidade imaginária
ribeira das naus
1993
Descrição
A Ribeira das Naus desde o séc. XVI
sempre foi um espaço de grande importância
no tecido urbano da cidade de Lisboa.
A sua proximidade com o rio Tejo e o tipo
de actividade a que este espaço esteve ligado
e que lhe deu o nome está também carregado
de memórias, de projecções míticas que
invocam a nossa história e traduzem em
grande parte a nossa cultura. Acresce a estes
aspectos o facto da sua proximidade com
o Terreiro do Paço, uma belissíma praça,
que por si só define todo um sentido de
pensamento na sua mais vasta compreensão,
impôr o cuidado a ter em ordem à escala,
densidade, cor, implantação e forma, factores
da maior importância a considerar a qualquer
tipo de intervenção que se pretendesse fazer
neste local. A diferença de cotas existentes
entre o nível das águas do rio Tejo e as zonas
de circulação pedonais e de viaturas, eram
também um aviso a ter em conta em ordem às
leituras feitas do rio pela nova relação que iria
surgir entre a intervenção a fazer e os edifícios
mais próximos, bem assim como à diversidade
dos tempos de leitura entre aqueles que se
deslocassem em viaturas ou a pé.
Ficha Técnica
data
1993
Local
Ribeira das Naus - Porto de Lisboa,
Lisboa, Portugal
Cliente
Metropolitano de Lisboa
Descrição
Colecção do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
Colaboradores
Capinha Lopes
e Associados - Desenhos técnicos
Gabinete de Engenharia
do Metropolitano de Lisboa
Material
Betão pré-fabricado
pintado e aço pintado
Dimensões
Altura apróx. 10m.
Croquis [CA]
Fotografia [JCN][JCM][MTL][a – CA]
Maqueta [JB]
166
167
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
cidade imaginária
montreal, canadá
1996
Descrição
Neste trabalho continuei a desenvolver
conceitos e relações de Tempo, Espaço, Forma
e Função, não esquecendo a vizinhança do
Rio S. Lourenço e a Cidade de Montreal como
cornice e contraste ao Parque.
O que desejo é que o Homem habite a minha
Cidade Imaginária.
Ficha Técnica
data
1996
Local
Montreal, Canadá
Cliente
Cidade Montreal
e Metropolitano de Lisboa
Descrição
Colecção do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
Colaboradores
Capinha Lopes
e Associados - Desenhos técnicos
Material
Blocos de granito
Dimensões
Altura 20m.
Croquis [CA]
Desenhos Técnicos [CLA]
Fotografia [CA][a – CA]
Maqueta [JB]
168
169
museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
porta verso il futuro
cesena
2005
Ficha Técnica
data
2005
Local
Cesena, Itália
Cliente
Comuna di Cesena
Descrição
Colecção do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
Colaboradores
João Camilo - Simulações
Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos
Material
Betão pintado
Dimensões
Altura apróx. 40m.
Simulações [JC]
Maqueta [JB]
cidade imaginária
mar de abrantes
2006
Descrição
A cidade Imaginária que proponho tem
como objectivo ligar simbolicamente as duas
margens do Tejo, no “mar” de Abrantes. Esta
ligação é sugerida pelas diversas portas e
passagens que compõem o trabalho. Procurei
também propor uma interacção directa com
as pessoas que visitem o espaço em causa,
o que lhes permitirá descobrirem múltiplas
perspectivas do existente e do novo existente.
Ficha Técnica
data
2006
Local
“Mar” de Abrantes, Abrantes, Portugal
Cliente
Câmara Municipal de Abrantes
Descrição
Colecção do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
Colaboradores
João Camilo - Simulações
Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos
Gabinete de Engenharia
ENGLIS - Projecto de estabilidade
Material
Betão pintado
Dimensões
Altura 20m.
Simulações [JC]
Maqueta [JB]
DESCRIÇÃO - Colecção do Museu Ibérico
de Arqueologia e Arte de Abrantes
COLABORADORES - João Camilo
- Simulações
Mão Livre, Lda - Desenhos técnicos
Gabinete de Engenharia ENGLIS
– Projecto de estabilidade
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museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes
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Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes