Implementação e Validação de Métodos Analíticos Alexandra Sofia Reynolds Mendes Laboratório Regional de Controlo da Qualidade da Água Estação da Alegria 9050-FUNCHAL E-mail: [email protected] Resumo Este artigo tem como principal objectivo descrever as principais etapas associadas à implementação e validação de um método analítico. Apresenta-se um exemplo: implementação e validação de um método em Absorção Atómica com Câmara de Grafite para determinação da concentração de alumínio em aguas de consumo humano 1. Introdução A validação de um método analítico é um aspecto crucial da garantia da qualidade analítica pelo tem recebido uma atenção considerável por parte da comunidade cientifica, comités industriais e entidades reguladoras. Isso ocorre pela necessidade de uniformizar os critérios utilizados com o fim de demonstrar que um método de ensaio, nas condições em que é praticado tem as características necessárias para assegurar a obtenção de resultados com a qualidade exigida. Um método de ensaio é um processo que envolve manipulações susceptíveis de acumularem erros (sistemáticos e/ou aleatórios), o que, em algumas situações, pode alterar de forma significativa o valor do resultado final. Implementação e Validação de Métodos Analíticos A implementação de um método analítico pode por vezes ser entediante, mas as consequências de não se fazer correctamente podem ser desastrosas pois se traduzem em perda de tempo, de dinheiro e outros recursos. 2. Mas então o que é a validação de um método? Segundo a Norma NP EN ISO/IEC 17025, Validação é a confirmação, através de exame e apresentação de evidência objectiva, de que os requisitos específicos relativos a uma dada utilização são cumpridos. A validação de um método analítico permite demonstrar que o método é “adequado ao uso” pretendido. Sempre que um laboratório execute ensaios terá que instruir um processo de validação do método durante a sua implementação, ou sempre que ocorra uma alteração relevante do mesmo, o qual incluirá todos os registos obtidos. A validação de um método deve ser adaptada caso a caso, sendo progressivamente mais exigente para as seguintes situações: • Extensões e/ou modificações de métodos normalizados; • Métodos normalizados utilizados fora do âmbito de utilização prevista; • Métodos Não Normalizados; • Métodos criados e desenvolvidos pelo próprio laboratório. A validação inclui: • A especificação dos requisitos; • A determinação das características do método; Metrologia e Qualidade • Uma verificação de que os requisitos podem ser satisfeitos utilizando o método em causa; • Uma declaração de validade. Os parâmetros de validação de um método analítico incluem: • A gama de linearidade; • Limiares analíticos (limite de detecção e limite de quantificação); • A repetibilidade/reprodutibilidade; • A exactidão; • A selectividade do método; • A robustez a influências externas; • A incerteza dos resultados. A LINEARIDADE PODE SER AVALIADA POR: Variáveis Dependentes Variáveis D ep en d en tes Representação gráfica e cálculo do coeficiente de correlação Variáveis Independentes r= Variáveis Independentes ∑ {(x − x )( y − y )} [∑ (x − x ) ][∑ ( y − y ) ] i i 2 i 2 i −1 ≤ r ≤ 1 Implementação e Validação de Métodos Analíticos Análise de residuais (ex.: razão entre os valores de y experimentais e os Variáveis Dependentes valores de y estimados) 1,2 1 0,8 Variáveis Independentes Aplicação da norma ISO 8466 “Calibração e Avaliação de Métodos Analíticos e Estimativa das Características do Desempenho”: • Teste da Homogeneidade das Variâncias (comparação estatística da variância do padrão mais concentrado S2M com a do padrão menos concentrado S2m da curva, visto que estas normalmente apresentam uma maior variância). O valor teste é calculado pelas equações: VT = sM2 sm2 para s 〉s 2 M 2 m e VT = sm2 sM2 para s m2 〉 s M2 E é comparado com o valor tabelado na distribuição de Fisher. A decisão estatística é a seguinte: − Se VT ≤ F a diferença entre as variâncias não é significativa. Metrologia e Qualidade − Se VT > F a diferença entre as variâncias é significativa e a gama de trabalho deve ser reduzida até que esta se deva apenas a erros aleatórios. • Teste da Linearidade (comparação estatística do valor teste com o valor tabelado da distribuição de Fisher, para 1 g.l.) O valor teste é calculado pelas equações: DS 2 = ( N − 2 )s y2 / x (1º ) − (N − 3)s y2 / x ( 2 º ) VT = DS 2 s y2 / x ( 2 º ) onde : s y / x (1º ) Desvio padrão residual da curva de calibração linear. s y / x(2 º) Desvio padrão residual da curva de calibração não linear. A decisão estatística é a seguinte: − Se VT ≤ F, a função de calibração linear conduz a um melhor ajuste dos pontos. − Se VT > F, a função de calibração linear não conduz a um melhor ajuste dos pontos. A gama de concentrações deve Implementação e Validação de Métodos Analíticos ser reduzida ou então aplica-se uma função de calibração não linear. 3. Limiares Analíticos Os conceitos de limite de detecção (Ld) e de quantificação (Lq) devem ser entendidos conforme recomendado pela IUPAC, isto é: • o limite de detecção corresponde ao início da gama em que é possível distinguir com uma dada confiança estatística (normalmente 95 %), o sinal do branco do sinal da amostra, e como tal indicar se o analito em questão está ausente ou presente; a gama entre o Ld e o Lq deve ser entendida como uma zona de detecção qualitativa, e não quantitativa, pelo que não se devem reportar valores numéricos nesta gama; • o limite de quantificação corresponde ao início da gama em que o coeficiente de variação (incerteza relativa) do sinal se reduziu a valores razoáveis (normalmente 10 %) para se poder efectuar uma detecção quantitativa; deste modo, na prática deve usar-se o Lq como início da zona em que se reportam valores numéricos. Assim, na gama baixa, o 1º padrão de calibração deve ser igual ou ligeiramente superior ao limite de quantificação. Podem ser usados dois métodos para o cálculo dos referidos limites: • a partir de uma série de ensaios com um branco representativo (ou um padrão de baixa concentração, caso o branco não tenha flutuação significativa), e calculando a respectiva média e desviopadrão; recomenda-se a que sejam utilizados brancos Metrologia e Qualidade independentes para obter esta estimativa (dias diferentes, condições de rotina): LD = x0 + 3,3s0 • LQ = x0 + 10s0 a partir da estatística de mínimos quadrados da recta de calibração, admitindo-se que o desvio-padrão da estimativa (Sy/x ver ISO 8466-1) representa o desvio-padrão do branco representa o desvio padrão do branco: LD = 3,3s0 declive LQ = 10 s0 declive O LQ estimado deverá ser confirmado experimentalmente com um padrão de concentração semelhante. 4. Repetibilidade/Reprodutibilidade • repetibilidade é a aproximação entre os resultados de medições sucessivas da mesma mensuranda, efectuadas nas mesmas condições de medição no mais curto espaço de tempo, isto é: • o mesmo laboratório; o mesmo analista; o mesmo equipamento; o mesmo tipo de reagentes. reprodutibilidade é a aproximação entre resultados das medições da mesma mensuranda efectuada com alteração de pelo menos uma das condições de medição, ou seja: Implementação e Validação de Métodos Analíticos o mesmo laboratório ou diferentes laboratórios; o diferentes analistas; o diferentes equipamentos; o e/ou diferentes épocas. A repetibilidade e a reprodutibilidade podem exprimir-se quantitativamente em termos das características da dispersão dos resultados. ∑ (x − x ) 2 s= i (n − 1) CVxo = s xo × 100(%) x 5. Exactidão A exactidão é definida como a aproximação entre o resultado da medição e o valor verdadeiro da mensuranda. A exactidão de um método analítico pode ser determinada: • através da participação em ensaios interlaboratoriais, • pelo estudo de materiais de referência certificados, • através de ensaios fortificados, • por comparação com métodos de referência. A exactidão é um parâmetro qualitativo que pode ser avaliado por testes de significância estatística. t = (x − µ ) n / s Metrologia e Qualidade 6. Selectividade A selectividade do método é a capacidade deste para identificar e distinguir um determinado analito numa mistura complexa, sem interferência de outros componentes. A selectividade do método deve ser estudada usando várias amostras, desde soluções padrão a misturas de matrizes complexas ou elementos considerados potenciais interferentes. A selectividade do método é demonstrada como o desvio dos resultados obtidos pela análise do analito em causa em amostras fortificadas com todos os potenciais interferentes e os resultados obtidos com amostras não fortificadas, isto é, contendo somente o analito. Quando se desconhecem os interferentes, a selectividade do método pode ser investigada por comparação dos resultados obtidos com outros métodos. 7. Robustez A robustez do método define-se pela capacidade que um método tem para resistir a pequenas variações durante a sua execução. Deve ser investigada na etapa de desenvolvimento do método. Os testes de robustez avaliam essencialmente a alteração a parâmetros identificados à partida como críticos. Deste modo, um teste de robustez bem conduzido, evidenciará as etapas do método em que o rigor é critico e aquelas em que há alguma tolerância. Para se determinar a robustez de um método pode-se utilizar o teste de YOUDEN ou, testar o método em situações de precisão intermédia, isto é, fazendo variar as condições operatórias dentro do próprio laboratório. Implementação e Validação de Métodos Analíticos 8. Conclusões A validação de um método é um processo constante e dinâmico. Um processo de validação bem definido e documentado fornece evidência objectiva de que o sistema e o método são adequados ao uso pretendido. 9. Bibliografia consultada − Validação de Métodos Analiticos: Paula Teixeira. João Seabra Barros. INETI – DEECA. Maio 2003. − Vocabulário Internacional de Metrologia. Termos Fundamentais e Gerais. 2ª Edição. Instituto Português da Qualidade (1996). − Guia para a Acreditação de Laboratórios em Ensaios Químicos. Instituto Português da Qualidade (2000). − NP EN ISO/IEC 17025 “Requisitos Gerais de Competência para Laboratórios de Ensaio e Calibração”. Instituto Português da Qualidade (2000). − “Quantifying Uncertainty i Analytical Measurement”. Eurachem/Citac Guide 2º Ed. (2000). − ISO 5725-1:1994. “Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 1. General principles and definitions” − ISO 5725-2:1994. “Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 2. Basic methods for the determination of repeatability and reproductibility of a standard measurement method.” Metrologia e Qualidade − ISO 5725-3:1994. “Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 3. Intermidiate measures of the precision of a standard measurement method.” − ISO 5725-4:1994. “Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Part 4. Basic methods for the determination of the trueness of a standard measurement method.” − ISO 5725-6:1994. “Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results – Use in practice of accuracy values.” − Guia Relacre 13