XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS INSERVÍVEIS: UMA PESQUISA-AÇÃO NO MUNICÍPIO DE TRÊS CORAÇÕES (MG)” Edivaldo Santos Amorim (UNIFEI) [email protected] Renato da Silva Lima (UNIFEI) [email protected] Liliane Dolores Fagundes (UNIFEI) [email protected] Este trabalho mostra um estudo realizado em um município localizado no sul do estado de Minas Gerais que possui o processo de logística reversa de pneus inservíveis implementado. Através do envolvimento dos consumidores finais e empresários do segmento, foram identificadas oportunidades de melhoria na gestão dos pneus inservíveis. Uma das propostas consistiu na elaboração de uma legislação sobre destinação de pneus. O projeto de lei foi elaborado após analisadas legislações de municípios onde o processo existe. Outra proposta de melhoria que merece destaque foi a implantação de um sistema de coleta seletiva de pneus ativa e regular. Baseado nesta proposta foi realizado um projeto piloto durante 4 meses, sendo que a quantidade média de pneus arrecadada mensalmente foi 5,49 toneladas. Já a quantidade média de pneus enviados mensalmente para o ponto de coleta pelos pontos geradores é de 2 toneladas. Palavras-chave: Gestão de Resíduos Sólidos, Logística Reversa, Pneus Inservíveis. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução A gestão dos resíduos sólidos possibilita que as empresas possam reduzir seus custos ao utilizar materiais reciclados, ao mesmo tempo em que evita que os recursos naturais sejam explorados, sendo alguns destes não renováveis. A logística reversa desempenha papel de fundamental importância para que este fluxo aconteça de forma assertiva. No caso específico dos pneus, já existem tecnologias disponíveis para reutilizar os resíduos em diversos outros processos produtivos, mas ainda insuficientes para resolver definitivamente o problema do descarte inadequado no meio ambiente. A legislação vigente no Brasil determina a gestão compartilhada para garantir que os bens que tiveram sua vida útil encerrada não sejam abandonados de qualquer forma, provocando diversos danos à saúde pública. Neste sentido, este trabalho realizou um estudo no município de Três Corações (MG), onde foram identificadas oportunidades de melhoria na gestão dos pneus inservíveis, através do envolvimento dos consumidores finais e empresários do segmento. As sugestões foram devidamente apresentadas à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), setor da prefeitura responsável pela destinação final ambientalmente adequada dos pneus inservíveis gerados em seu território. 2. Gestão de resíduos sólidos e logística reversa A Gestão de Resíduos Sólidos é um conjunto de ações, que integram comportamentos, procedimentos e propósitos, que objetivam a eliminação dos impactos ambientais negativos associados à produção e à destinação do lixo. A gestão eficiente dos resíduos sólidos ganha importância estratégica ao se observar que o crescimento no volume gerado cresce a cada ano pela população brasileira, tanto em termos absolutos, quanto per capta (ABRAMOVAY, SPERANZA e PETITGAND, 2013). Waldman (2012) informa que entre os anos de 1991 e 2000 o descarte de resíduos aumentou 49% no Brasil com um índice de crescimento da população de 15,6%. Desta forma, o autor contextualiza a importância da Gestão de Resíduos Sólidos no combate aos resultados negativos, como a poluição e o não aproveitamento das oportunidades de geração de riqueza e renda advindos da reutilização e reciclagem destes resíduos. 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Um das ferramentas para auxiliar na Gestão de Resíduos Sólidos é a Logística Reversa (LR). De acordo com Leite (2009), a LR é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através de canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas. Embora tenha ocupado mais espaço nas discussões nos últimos anos, o conceito de fluxos reversos não é um assunto completamente novo, aparecendo na literatura principalmente a partir dos anos 1980. No Brasil, a LR visava, em um primeiro momento, mitigar os impactos negativos provocados pela entrega de produtos fora dos padrões de qualidade aceitáveis, e para manter a integridade da imagem corporativa junto ao consumidor (XAVIER e CORRÊA, 2013). Posteriormente, o tema passaria ser regulado por leis específicas em diversos países, inclusive no Brasil. O marco regulatório da LR no Brasil é a Lei Federal 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Dentre os principais pontos tratados, a instituição da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos significou um grande avanço ao abranger os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana. Todos são responsáveis para que o bem, após encerrar sua vida útil, receba a destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010). A obrigatoriedade legal tem levado os empresários a desenvolverem instrumentos eficazes para cumprir os dispositivos. Em alguns tipos de resíduos o Brasil ocupa posição importante no cenário mundial da reciclagem. Em 2012 foram recicladas 97,9% das latas de alumínio colocadas no mercado, e o Brasil detém a liderança mundial de reciclagem deste item desde 2001 (ABAL, 2014). Desde 2002 quando se iniciaram as atividades de reciclagem de embalagens de agrotóxicos, já foram destinadas adequadamente 94% das embalagens primárias, aquelas que mantêm contato direto com o produto (INPEV, 2013). No caso específico dos pneus inservíveis, em 2012 foi destinado adequadamente um total de 95,75%, um avanço em comparação ao índice de 2011, que foi de 84,73%. Mas ao mesmo tempo, o índice de 2012 é negativo quando comparado com o registrado em 2010, que foi de 99,07% (IBAMA, 2013). Os fabricantes e importadores de pneus já se enquadram em legislações específicas desde o final dos anos 1990, o que tem contribuído para que os índices apresentados acima sejam cada vez mais expressivos. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 3. Logística reversa de pneus inservíveis Este tópico apresenta um breve relato destas leis que precederam a PNRS. 3.1. Legislação específica sobre destinação de pneus Em 1999, o CONAMA editou a Resolução nº 258 para regulamentar a destinação ambientalmente adequada dos pneus inservíveis, que são aqueles que, depois de encerrada a vida útil, não mais se presta ao processo de reforma que lhe permita condição de rodagem adicional (LAGARINHOS, 2011). Com esta Resolução, a partir do ano de 2002, os pneus inservíveis deveriam ser obrigatoriamente recolhidos e destinados de forma ambientalmente adequada pelos fabricantes e importadores de pneus. Em 2009 passou a vigorar a Resolução nº 416, determinando que a proporção de destinação passaria a ser de um pneu inservível para cada pneu comercializado, e responsabilizando os fabricantes e importadores a implantar pontos de coleta de pneus inservíveis em todos os municípios com população superior a 100 mil habitantes (BRASIL, 2009). A tabela 1 apresenta as metas de destinação impostas aos fabricantes e importadores de pneus. 3.2. A composição dos pneus e os riscos do descarte inadequado Um pneu é composto por borracha natural, borracha sintética, derivados de petróleo como o negro de fumo, cabos de aço, cordoneis de aço ou nylon, e produtos químicos como o enxofre. A parcela de utilização de cada componente na fabricação dos pneus varia de acordo com o uso que será dado ao produto final, devido à diferença de performance exigida dos pneus de automóveis de passeio e de carga (ANIP, 2013). Os pneus são, portanto, um produto que envolve uma construção complexa e compostos perigosos, cujo tempo necessário para sua decomposição é indeterminado (MAGALHÃES, 2001). Se descartados inadequadamente, podem se tornar criadouros para roedores, animais peçonhentos, e vetores de diversas doenças, dentre elas, a dengue. Se incinerados em locais que não possuem sistema de filtragem, os pneus liberam fumaça negra, gases tóxicos, e óleos que contaminam o solo e os lençóis freáticos (AGUIAR e FURTADO, 2010). 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Tabela 1 – Metas de destinação com base nas Resoluções do CONAMA Fonte: Lagarinhos (2011) 3.3. Dados da produção e reforma de pneus e as formas de destinação final ambientalmente adequada O início da produção brasileira de pneu aconteceu nos anos 1930 com a instalação da Companhia Brasileira de Artefatos de Borracha, no Estado do Rio de Janeiro. Produzindo mais de 29 mil pneus em seu primeiro ano de atividade (SINPEC, 2011). Desde então a produção não parou de crescer, de modo que em 2014, apenas as empresas que integram a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) produziram mais de 68,7 milhões de unidades de pneus novos, o que representa uma ligeira redução da ordem de 0,16% em relação ao volume produzido no ano anterior. Já do ponto de vista das vendas totais, em 2014 estas mesmas empresas comercializaram 74,9 milhões de unidades de pneus novos, alcançando um crescimento de 0,81% em relação ao resultado de 2013. Os principais 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. canais de vendas em 2014 foram o mercado de reposição, as montadoras e as exportações, conforme o gráfico 1 (ANIP, 2015). Figura 1 – Principais canais de vendas de pneus pelas empresas associadas da ANIP Fonte: ANIP (2015) Viana (2009) alerta que o mercado de reposição é fortemente disputado entre fabricantes e reformadores de pneus, pois, além de representar a maior margem de lucro do segmento, é neste nicho específico que o cliente tem a liberdade de escolher a opção que melhor o atenda. Já no segmento, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial, atrás dos EUA. Composto por 1.257 empresas, em 2012 colocou mais de 16 milhões de unidades no mercado. Apenas o setor de transportes absorve quase dois terços deste total, estimulado pelo preço final do produto que equivale a 73% menor para o consumidor (ABR, 2013). Estes dados evidenciam a relevância de se estabelecer as condições necessárias para que os pneus recebam a destinação final ambientalmente adequada depois de encerrada a sua vida útil, conforme preconizado na PNRS e Resolução nº 416/2009. 3.4. Formas de destinação final ambientalmente adequada A vida útil de um pneu novo varia em função de diversos fatores, como por exemplo, tipo de terreno, tipo de clima, forma de conduzir, manutenções no veículo e pneus, rodízios, calibragens semanais, entre outros. No entanto, um pneu de veículo de passeio pode rodar até 45.000 quilômetros em média (GOODYEAR, 2013; MICHELIN, 2014). Encerrada a sua vida útil, se não for possível a reforma o pneu deve receber destinação adequada. Atualmente existem diversas formas de destinação de pneus inservíveis. As tecnologias mais utilizadas para a destinação de pneus no Brasil são: reutilização, reciclagem e valorização 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. energética (LAGARINHOS, 2011). A valorização energética, através do coprocessamento é a tecnologia mais utilizada no Brasil para destinar os pneus inservíveis, conforme tabela 2. O processo consiste na geração de energia pela incineração do pneu inteiro ou triturado, em fornos controlados que tem licença ambiental para operação (IBAMA, 2013). Tabela 2 – Tecnologias utilizadas para destinação de pneus inservíveis no Brasil Fonte: IBAMA (2013) 4. Metodologia e objeto de estudo Para realização deste trabalho a metodologia escolhida foi a pesquisa-ação, por proporcionar a resolução de um problema coletivo através da interação entre pesquisadores e participantes representativos da situação a ser tratada (THIOLLENT, 2005). A proposta foi intervir no processo desde o ponto gerador até o envio para destinação, pela parceria entre prefeitura municipal e a RECICLANIP, entidade ligada à ANIP para promover a logística reversa, conforme exigido pela legislação. O objeto de pesquisa foi o município de Três Corações, localizado no sul de Minas Gerais, escolhido por adotar iniciativas de gestão de resíduos, como coleta seletiva, aterro sanitário em operação desde 2002, ecoponto para armazenagem de pneus até a sua destinação, e convênio com a RECICLANIP para destinação destes resíduos (TRÊS CORAÇÕES, 2014). Os pneus não fazem parte da coleta seletiva, e os próprios geradores devem levar os seus 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. resíduos até o ecoponto. Posteriormente, estes pneus são recolhidos e destinados pela RECICLANIP e a partir deste recolhimento, é encerrada a responsabilidade do município. 4.1. A pesquisa realizada O primeiro ciclo da pesquisa-ação iniciou em julho de 2014. Entre 14/07/2014 e 04/08/2014 foram realizadas entrevistas semiestruturadas, de forma individual e presencial, com 20 empresários do segmento de pneumáticos, estabelecidos em Três Corações. O critério inicial para escolha das empresas participantes foi o cadastro existente na Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) das borracharias, revendedores de pneus e sucateiros. Foram entrevistadas vinte empresas, sendo dez revendedores, nove empresas de manutenção (borracharias) e um sucateiro. As principais dificuldades foram a distância entre os pontos geradores e desconfiança inicial dos empresários. A tabela 3 apresenta um breve relato dos pontos levantados pelas entrevistas. Concluídas as entrevistas, foi gerado um relatório com a compilação das respostas em tabelas e gráficos, a discussão dos resultados, e sugestões de melhoria. O relatório impresso foi entregue ao Secretário Municipal de Meio Ambiente em reunião. No relatório foram apresentadas oito propostas de melhoria de acordo com as necessidades diagnosticadas na entrevista, e destas a SEMMA aceitou as seguintes: Criar uma legislação para regulamentar a destinação de pneus inservíveis no município; Utilizar o apoio da Secretaria de Comunicação e Relações Institucionais (SECOMTC) para criar mecanismos de comunicação regular, para conscientizar empresários e população sobre a necessidade de destinar os pneus inservíveis, pois a entrevista identificou que os geradores não reconhecem o apoio da prefeitura na destinação dos pneus; Implantar no município um sistema de coleta ativa e regular nos pontos geradores, que poderia ser através de recursos da prefeitura, através de parceria com empresa privada, ou ainda, através de parceria com uma organização militar sediada no município. Esta reunião marcou o término do primeiro ciclo da pesquisa-ação, na primeira quinzena de setembro de 2014. 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na segunda quinzena de setembro de 2014 iniciou o segundo ciclo da pesquisa-ação, com as iniciativas para implementação das propostas aceitas na reunião com a SEMMA. A seguir, cada proposta será discutida separadamente. Quadro 1 – Principais respostas apuradas nas entrevistas com os empresários do setor de pneumáticos em Três Corações 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 4.1.1. Proposta de melhoria: criar legislação sobre destinação de pneus Para elaborar um projeto de lei que estivesse alinhado à realidade, foram buscadas referências em municípios de maior porte em outros estados, e municípios que figuram entre os vinte maiores de Minas Gerais. O quadro 2 apresenta as principais legislações encontradas. O projeto de lei foi apresentado à SEMMA e de acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente, antes de ser transformado em decreto serão inseridos alguns anexos e alterados os dispositivos que tratam de sanções pecuniárias. Conforme informado pelo Secretário, estas alterações já foram realizadas, e aguarda aprovação do Executivo para entrar em vigor. Quadro 2 – Principais legislações municipais sobre destinação de pneus inservíveis que subsidiaram o Projeto de Lei apresentado à SEMMA 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Adaptado das Legislações Municipais sobre pneus inservíveis 4.1.2. Proposta de melhoria: usar apoio da SECOMTC para criar e manter mecanismos de comunicação regular As entrevistas demonstraram que a maioria dos empresários não reconhece o apoio da prefeitura na gestão de pneus inservíveis como um programa de destinação dos resíduos, porque 70% deles alegaram não conhecer nenhum programa neste sentido, embora, em questão anterior, 42% destes respondentes classificaram o apoio da prefeitura como ótimo e bom. Ao reconhecer a importância do trabalho, a tendência é que aumente a participação dos empresários e população na destinação dos resíduos. Para isso, foi elaborado um release com dados sobre a destinação de pneus pelo município e apresentado à SEMMA. De acordo com relato do Secretário Municipal de Meio Ambiente, devido a problemas internos a SECOMTC não divulgou a matéria. Foi realizada então uma nova reunião entre SEMMA e pesquisadores, onde ficou alinhado que a Secretaria acionaria a SECOMTC para verificar o ocorrido e para que futuras divulgações de cunho ambiental fossem publicadas no site da prefeitura e enviadas para os outros órgãos de imprensa local. Foi proposta também a criação de um informativo mensal a ser enviado aos empresários do ramo de pneumáticos, como forma de aumentar gradativamente o nível de comprometimento. A proposta não foi completamente aceita porque não havia verba disponível para produção do 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. material. Contudo, ficou alinhado que a SEMMA acionaria a SECOMTC para que as notícias ambientais tivessem um espaço garantido em todas as edições do informativo TC Notícias, que tem periodicidade trimestral e é distribuído em todas as residências do município. A intenção é que isso já acontecesse a partir da primeira edição de 2015, no entanto, a SEMMA informou posteriormente que o formato do informativo seria alterado a partir de então, e não seria possível utilizar este canal neste momento. Nova reunião foi realizada entre SEMMA e pesquisadores, e novamente ficou definido que a SECOMTC seria acionada para apoiar na divulgação das iniciativas ambientais. Os pesquisadores desenvolveram novo release em abril de 2015 e encaminharam à SEMMA, para validação e articulação junto à SECOMTC para divulgação. Até o fechamento deste trabalho a matéria ainda não havia sido publicada. 4.1.3. Proposta de melhoria: Implantar um sistema de coleta ativa e regular de pneus Considerando que, conforme Luz e Durante (2013), a coleta é uma atividade fundamental para o sucesso da logística reversa, e também que 62% dos empresários entrevistados apontaram que a criação de uma coleta como o ponto a ser melhorado no trabalho da prefeitura com a destinação de pneus, os pesquisadores apresentaram esta proposta à SEMMA, que a acatou, não deixando, porém, definido como isso seria feito. No relatório final das entrevistas foram propostas três alternativas: com recursos da prefeitura, convênio com empresa privada, ou convênio com organização militar estabelecida no município. Enquanto a SEMMA define o formato de coleta, os pesquisadores, com autorização da SEMMA, promoveram coletas contratando um serviço autônomo com recursos próprios, nos meses de agosto e dezembro de 2014, janeiro e fevereiro de 2015. O custo para contratação do serviço autônomo de coleta foi de R$ 400,00 em cada mês, e foram coletados 21,97 toneladas de pneus. Considerando que conforme a Instrução Normativa 08/2002 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), posteriormente revogadas pela Instrução Normativa 01/2010, um pneu inservível de automóvel de passeio pesa cinco quilos (LAGARINHOS, 2011), torna possível fazer uma analogia que, este total corresponde a 4.395 pneus deste tipo, embora na prática tenham sido recolhidos também pneus de carga. Todas as coletas foram devidamente pesadas na balança localizada na entrada do Aterro Sanitário Municipal, onde o ecoponto está instalado. A prefeitura já realiza envio de pneus à 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. RECICLANIP desde 2010. Até julho de 2014 já havia registrado 109,71 toneladas de pneus destinados ao longo de 55 meses de convênio, o que representa uma média mensal de 2,0 toneladas. Por outro lado, as coletas promovidas pelos pesquisadores ao longo de quatro meses, representam uma média mensal de 5,49 toneladas, o que reforça a efetividade da coleta ativa e regular, para a destinação adequada dos pneus. Para apurar o peso, primeiramente o caminhão foi pesado carregado e após descarregar foi pesado novamente. A diferença das duas pesagens corresponde ao peso total dos pneus coletados em cada mês. 5. Conclusões Os resultados desta pesquisa-ação revelam que os empresários do segmento de pneus do município de Três Corações ainda são carentes de informações e orientações adequadas sobre a logística reversa, assim como as formas possíveis de destinação destes resíduos. A carência de informações, aliada à inexistência de legislação específica que regulamente a logística reversa no município permite que pessoas físicas e jurídicas não participem de forma mais ativa do processo de retorno dos pneus inservíveis para o ciclo produtivo. Os resultados preliminares da pesquisa-ação mostraram que ainda existem consumidores que resistem em devolver os pneus velhos quando trocados por outros novos; por outro lado, ainda existem empresários que não participam efetivamente deste processo ao manterem pneus inservíveis acumulados em seus estabelecimentos, apesar de existir no município um ecoponto, para onde estes resíduos podem ser levados. Por fim, os resultados demonstram como a falta de um sistema de coleta ativa e regular nos pontos geradores contribui para o acúmulo de pneus inservíveis nas empresas, uma vez que proporcionalmente, a pesquisa-ação conseguiu recolher uma quantidade maior de pneus inservíveis do que o sistema atualmente utilizado no município, que é baseado na entrega voluntária por parte do empresário, que se responsabiliza pelas despesas decorrentes do transporte dos resíduos entre o ponto gerador e o ecoponto, de onde os pneus inservíveis partirão para receber uma destinação final ambientalmente adequada, conforme determinado pela legislação em vigor no Brasil. A adesão do consumidor final e do empresário tende a aumentar na medida em que houver um maior volume de informações específicas, ao mesmo tempo em que o município possuir uma legislação específica para regulamentar a atividade e finalmente, que exista um canal ativo que possibilite aos empresários entregar os pneus inservíveis, sem gerar custos operacionais adicionais para estes. 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de expressar a sua gratidão às agências brasileiras CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado de Minas), que têm apoiado os esforços para o desenvolvimento deste trabalho. REFERÊNCIAS ABAL (2014). Associação Brasileira do Alumínio. Reciclagem. 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