i LÉO SÉRGIO NASCIMENTO SILVA AVALIAÇÃO DE CONCRETOS ESTRUTURAIS PRODUZIDOS SEGUNDO AS PRESCRIÇÕES DA NBR 6118, QUANDO SUBMETIDOS A ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador(a): Prof. Dr. Antônio Eduardo Bezerra Cabral FORTALEZA 2010 ii iii LÉO SÉRGIO NASCIMENTO SILVA AVALIAÇÃO DE CONCRETOS ESTRUTURAIS PRODUZIDOS SEGUNDO AS PRESCRIÇÕES DA NBR 6118, QUANDO SUBMETIDOS A ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil Aprovada em 03/12/2010 BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Prof. D.Sc. Antônio Eduardo Bezerra Cabral (Orientador) Universidade Federal do Ceará – UFC _________________________________________________________ Prof. M.Sc. Aldo de Almeida Oliveira Universidade Federal do Ceará – UFC _________________________________________________________ Prof. D.Sc. Teresa Denyse Pereira de Araújo Universidade Federal do Ceará – UFC iv Dedico este trabalho à minha família, José Ademir, Lucilene, Laio e Vitória. v AGRADECIMENTOS A Deus, por estar sempre presente na minha vida e por me dar força para continuar minha jornada em busca da realização de meus almejos. Aos meus pais, José Ademir e Lucilene, pelas lições de humildade e coragem ensinadas, pelo exemplo de vida dado, por sempre me apoiarem em minhas decisões, pelo bem estar que me proporcionam e por todo o amor concedido. Ao professor Antônio Eduardo Bezerra Cabral, pela orientação e dedicação na realização deste trabalho e, em especial, pelas sugestões e alternativas encontradas para o aprimoramento e finalização do mesmo. Aos professores Aldo de Almeida Oliveira e Teresa Denyse por aceitarem compor a banca examinadora desta monografia. A todos os professores do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará que contribuíram para minha formação como engenheiro civil. Ao Técnico em Edificações e graduando em Engenharia Civil, Geovanne Viana, pela ajuda no procedimento experimental desta pesquisa. À bolsista Monyke Medeiros, cuja ajuda na execução do procedimento experimental foi fundamental para a realização deste trabalho. Aos meus irmãos, Laio Maykon e Ana Vitória, pelo respeito, admiração e verdadeira amizade. A todos os meus amigos da graduação, em especial, Luis Fernando Néris, Edvaldo, Luis Antônio, Pedro Ygor, Yuri Aragão, Graciano e Jhonatas, por estarem presentes nos momentos de angústia e descontração durante os anos da graduação. À Suelen, pela paciência, compreensão, companheirismo e amor. E a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram na elaboração desta monografia. vi SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..........................................................................................................VIII LISTA DE TABELAS............................................................................................................X 1. 2. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 1.1 Formulação do Tema e Justificativa ........................................................................ 1 1.2 Objetivos ..................................................................................................................... 3 1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 3 1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 4 2.1 2.1.1 Relação água/cimento ........................................................................................... 6 2.1.2 Cobrimento ........................................................................................................... 7 2.1.3 Tipo de cimento .................................................................................................... 7 2.1.4 Consumo de cimento ............................................................................................ 9 2.2 Corrosão de Armaduras ............................................................................................ 9 2.2.1 Passivação da Armadura no Concreto ................................................................ 10 2.2.2 Formas e Mecanismo da Corrosão da Armadura ............................................... 12 2.2.3 Carbonatação ...................................................................................................... 15 2.3 3. Vida Útil e Durabilidade do Concreto ..................................................................... 4 Corrosão pelos Íons Cloreto .................................................................................... 18 2.3.1 Cloretos no Concreto .......................................................................................... 18 2.3.2 Formação e Transporte do Aerosol Marinho ...................................................... 20 2.3.3 Ação dos Cloretos (Cl-) ...................................................................................... 21 2.3.4 Valor limite de cloretos para despassivar ........................................................... 23 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ........................................................................ 27 3.1 Caracterização dos Materiais ................................................................................. 27 3.1.1 Cimento .............................................................................................................. 27 3.1.2 Agregados miúdo e graúdo ................................................................................. 28 3.1.3 Água de amassamento ........................................................................................ 30 3.1.4 Adesivo Epóxi .................................................................................................... 31 3.2 Corpos-de-prova ...................................................................................................... 31 3.3 Ensaio de Penetração de Cloretos .......................................................................... 34 3.4 Procedimento da Amostragem................................................................................ 36 vii 3.5 4. 5. Determinação da Concentração de Cloretos ......................................................... 38 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................... 43 4.1 Concreto Classe C25 ................................................................................................ 43 4.2 Concreto Classe C30 ................................................................................................ 44 4.3 Concreto Classe C40 ................................................................................................ 46 4.4 Comparação entre os concretos .............................................................................. 48 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 52 5.1 Considerações finais ................................................................................................ 52 5.2 Sugestões para trabalhos futuros ........................................................................... 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................54 viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1: Modelo de vida útil (TUUTTI, 1980) ...................................................................... 5 Figura 2.2: Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água a 25°C ................. 10 Figura 2.3: Tipos de corrosão que acometem o aço imerso em concreto (SOUZA & RIPPER, 1998) ......................................................................................................................................... 12 Figura 2.4: Pilha eletroquímica de corrosão no concreto armado (ANDRADE, 1992) ........... 14 Figura 2.5: Processo de carbonatação (BAKKER, 1988, citado por CASCUDO, 1997) ........ 16 Figura 2.6: Grau de carbonatação em função da umidade relativa do ambiente (ROSENBERG, 1989, citado por CASCUDO, 1997).............................................................. 17 Figura 2.7: Esquema de corrosão por pite induzida por cloretos (CASCUDO, 1991, citado por FORTES, 1995) ........................................................................................................................ 22 Figura 2.8: Esquema de variação do conteúdo crítico de cloretos em função da qualidade do concreto e da umidade relativa do ambiente (CEB, 1992 citado por Cabral, 2000) ................ 26 Figura 3.1: Curva granulométrica do agregado miúdo ............................................................. 29 Figura 3.2: Curva granulométrica do agregado graúdo ............................................................ 30 Figura 3.3: Forma dos corpos-de-prova ................................................................................... 31 Figura 3.4: a) Corpos-de-prova para ensaio de penetração de cloretos; b) Perspectiva com dimensões do corpo-de-prova................................................................................................... 33 Figura 3.5: Adesivo estrutural à base de resina epóxi bi-componente ..................................... 33 Figura 3.6: Semi-ciclo de umedecimento dos corpos-de-prova em solução salina com 3,5% de NaCl. ......................................................................................................................................... 34 Figura 3.7: Secagem dos corpos-de-prova em estufa a 50 °C .................................................. 35 Figura 3.8: Esquema das etapas do ensaio acelerado de penetração de cloretos. (Fonte: Elaborado pelo autor) ............................................................................................................... 36 Figura 3.9: Equipamento utilizado para extração das amostras em forma de pó: a) Furadeira de coluna com broca de 18mm; b) Extração de amostra em forma de pó. ............................... 37 Figura 3.10: Amostras coletadas após um dos ciclos de umedecimento e secagem ................ 38 Figura 3.11: Pesagem de amostra extraída de um corpo-de-prova........................................... 41 Figura 3.12: Agitação após adição de água quente .................................................................. 41 Figura 3.13: Filtração da amostra para extração de cloretos solúveis ...................................... 41 Figura 3.14: Acidificação com ácido nítrico ............................................................................ 42 Figura 3.15: Preparação da solução para determinação do SLOPE ......................................... 42 ix Figura 3.16: Leitura dos potenciais desenvolvidos (Ei) após cada adição de 1 cm3 da solução padrão 100 ppm de Cl- ............................................................................................................. 42 Figura 4.1: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C25 .................................. 43 Figura 4.2: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C30 .................................. 45 Figura 4.3: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C40 .................................. 47 Figura 4.4: Porcentagem de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 1,0 cm dos corpos-de-prova............................................................................................................ 49 Figura 4.5: Relação entre a concentração de cloretos e o número do ciclo de umedecimento e secagem para o concreto C25, na profundidade de 3,0 cm ...................................................... 50 x LISTA DE TABELAS Tabela 2.1: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal. Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2003) ............................................................................................... 7 Tabela 2.2 – Valores críticos de cloretos sugeridos por diversos autores (ALONSO et al., 1997; GLASS & BUENFELD, 1997; citados por CABRAL, 2000). ...................................... 24 Tabela 2.3: Conteúdo de cloretos limite proposto por diversas normas (% em relação à massa de cimento) (FELIU & ANDRADE, 1988, citados por CASCUDO, 1997) ............................ 25 Tabela 3.1: Composição do cimento CP II Z-32 RS ................................................................ 27 Tabela 3.2: Características físicas e mecânicas ........................................................................ 27 Tabela 3.3: Características químicas ........................................................................................ 28 Tabela 3.4: Análise granulométrica do agregado miúdo .......................................................... 28 Tabela 3.5: Propriedades físicas do agregado miúdo ............................................................... 29 Tabela 3.6: Distribuição granulométrica do agregado graúdo ................................................. 29 Tabela 3.7: Propriedades físicas do agregado graúdo .............................................................. 30 Tabela 3.8: Parâmetros de dosagem dos concretos utilizados no ensaio.................................. 32 Tabela 3.9: Resultados do ensaio de compressão axial ............................................................ 32 Tabela 3.10: Relação entre classe de agressividade do ambiente, qualidade do concreto e cobrimento nominal, para concreto armado. Fonte: NBR 6118 (2003) ................................... 38 Tabela 4.1: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C25 .................................................. 43 Tabela 4.2: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C30 .................................................. 45 Tabela 4.3: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C40 .................................................. 47 Tabela 4.4: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 1,0 cm dos corpos-de-prova............................................................................................................ 48 Tabela 4.5: concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 3,0 cm dos corpos-de-prova............................................................................................................ 49 xi RESUMO A corrosão induzida por cloretos trata-se de um dos principais mecanismos de deterioração que afeta as estruturas de concreto armado. O bom desempenho do concreto armado frente à atuação dos diversos agentes agressivos existentes depende de sua porosidade e permeabilidade. Mehta (2008), citado por Souza e Ripper (1998), afirma que os maiores esforços para a obtenção de um concreto durável devem ser dirigidos para a produção de um concreto com baixos índices de porosidade e permeabilidade. A última versão da NBR 6118 adota vários critérios de durabilidade a serem seguidos na execução de estruturas de concreto armado. Este trabalho busca avaliar o desempenho de concretos estruturais, com diferentes relações a/c, produzidos segundo as recomendações da NBR 6118 (2003), frente à penetração acelerada de cloretos. Esta penetração é proporcionada pelo contato dos corpos-de-prova com solução salina. Após o período de penetração de cloretos são retiradas amostras dos corposde-prova para a determinação da frente de cloretos. Verifica-se que os concretos produzidos com menor relação a/c e com maior consumo de cimento apresentam maior resistência ao ingresso do agente agressivo. A realização do experimento de penetração acelerada de cloretos possibilita a análise do comportamento da penetração destes agentes agressivos no concreto de cobrimento da armadura. Os resultados apontam que há redução da penetração de cloretos da ordem de 27% no concreto de 30 MPa em relação ao de 25 MPa, 34% no concreto de 40 MPa em relação ao de 25 MPa e de 15% no concreto de 40 MPa em relação ao de 30 MPa. Mesmo caracterizando-se como um ensaio que não retrata de maneira fiel as condições ambientais do meio no qual a estrutura de concreto está inserida, o ensaio de penetração acelerada de cloretos fornece resultados que possibilitam avaliar qualitativamente o concreto produzido e que podem, futuramente, ser comparados a resultados obtidos com a realização de ensaios naturais de penetração de cloretos. Palavras-chaves: cloretos, durabilidade do concreto, corrosão de armaduras. 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Formulação do Tema e Justificativa O concreto armado é um dos mais importantes materiais estruturais usados na construção civil. No entanto, como em toda estrutura que faz uso de componentes metálicos, é atingindo pela corrosão, a qual, segundo Gentil (1982), pode ser entendida como a deterioração de um material, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente, aliada ou não a esforços mecânicos. As estruturas de concreto armado, quando acometidas pelo fenômeno da corrosão das armaduras, têm sua vida útil diminuída, já que este se trata de um mecanismo de deterioração que afeta de maneira relevante a durabilidade, ocasionando conseqüências negativas para a estabilidade, funcionalidade e estética das construções. Os efeitos danosos causados pela corrosão das armaduras do concreto iniciam-se com a expansão das barras de aço, acarretando, dessa maneira, fissuração e destacamento do cobrimento, com conseqüente perda de aderência e redução da seção da armadura (PONTES, 2006). O concreto proporciona proteção e passivação à armadura nele contida, onde o cobrimento atua como uma barreira física ao ingresso de agentes externos. Também confere uma proteção química pelo pH elevado da solução aquosa presente na sua massa porosa (FORTES, 1995). Esse tipo de proteção se dá enquanto o concreto preservar sua boa qualidade, não fissurar e não tiver suas características físico-químicas ou mecânicas alteradas devido à ação de agentes agressivos externos (CABRAL, 2000). Para que haja o início da corrosão, portanto, é determinante a despassivação da armadura, o que ocorre frente à pelo menos uma das condições básicas seguintes: presença de quantidade suficiente de cloretos ou diminuição da alcalinidade do concreto, a qual é causada principalmente pelas reações de carbonatação do concreto (ISAIA, 2005). A ocorrência desses fenômenos é freqüente em ambientes com concentração elevada de poluentes industriais ou alta incidência de névoa salina, no cobrimento da armadura (FORTES, 1995). Segundo Mehta e Monteiro (2008), uma vez destruída a passividade das armaduras, é a resistividade elétrica e a disponibilidade de oxigênio que controlam a taxa de corrosão. Devido ao elevado número de estruturas afetadas, a corrosão das armaduras, em vista dos infortúnios que causa, tem sido um grande problema enfrentado pela construção 2 civil. Muitos são os casos de relatos de reparo ou perda parcial de utilização de uma estrutura, aumentando, muito e prematuramente, o custo de manutenção de uma obra (PONTES, 2006). Mehta e Monteiro (2008) descrevem que, entre 1962 e 1964, foram investigadas 716 estruturas de concreto com 20 a 50 anos de idade, ao longo da costa da Noruega, constatando-se que 20% das vigas dos tabuleiros apresentavam, prematuramente, problemas de corrosão de armadura. Segundo pesquisa realizada por Dal Molin (1988), citado por Cabral (2000), em levantamento de manifestações patológicas no período compreendido entre 1977 e 1986, em 275 edificações correntes, dentre as quais se enquadraram casas, edifícios, prédios escolares e pavilhões industriais, desconsiderando-se obras de grande porte como pontes e barragens, verificou-se que a corrosão de armaduras foi responsável por 11,89% das fissuras presentes nas edificações estudadas. Entretanto a corrosão de armaduras correspondeu a 40% das manifestações patológicas, quando analisada segundo a gravidade e implicações na segurança estrutural. “As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que, sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme preconizado em projeto conservem sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua vida útil” (ABNT, 2003). Isto significa que um concreto deverá ser compacto, com fissuração controlada, sendo a espessura física e a composição da camada de cobrimento das armaduras dimensionadas em função do estado de tensão da peça e da agressividade do meio (SOUZA & RIPPER, 1998). De igual modo, são muito importantes os aspectos da produção do concreto, a saber: mistura, transporte, lançamento, adensamento e cura, os quais completam os requisitos para uma estrutura durável quanto à corrosão. Diante da importância de reduzir custos futuros, é imprescindível promover a produção de um concreto armado de qualidade, objetivando-se aumentar a vida útil da estrutura e, conseqüentemente, evitar gastos vultosos com sua recuperação (FORTES, 1995). Para tal, existe a necessidade de caracterização do nível de agressividade da região onde as construções serão implantadas. O Brasil possui uma extensa costa marítima, com grandes cidades portuárias, podendo-se presumir que a corrosão de armadura esteja ligada ao ataque de íons cloreto. O estudo da durabilidade do concreto armado deve contribuir para a escolha do melhor material a ser empregado, assim como uma execução mais apropriada, em função 3 do tipo e grau de agressividade, para presumir, com mais domínio o tempo de vida útil da estrutura (PONTES, 2006). Diante do exposto e visando contribuir para o avanço do conhecimento sobre durabilidade de estruturas de concreto armado o presente estudo propõe-se a realizar uma avaliação do perfil de penetração de cloretos em função da profundidade, em corpos-de-prova de concreto, submetidos a ensaio de penetração desses agentes agressivos através de ciclos de umedecimento com solução salina e secagem em estufa. 1.2 1.2.1 Objetivos Objetivo geral Como objetivo geral o estudo se propõe a estudar a durabilidade de concretos estruturais frente à ação de íons cloreto. 1.2.2 Objetivos específicos Como objetivos específicos a pesquisa apresenta: • Avaliar o teor de cloretos nas profundidades de 1,0; 2,0; 2,5 e 3,0 cm para o concreto de classe C25; • Avaliar o teor de cloretos nas profundidades de 1,0; 2,0; 3,0; 3,5 e 4,0 cm para o concreto de classe C30; • Avaliar o teor de cloretos nas profundidades de 1,0; 2,0; 3,0; 4,0; 4,5 e 5,0 cm para o concreto de classe C40. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Vida Útil e Durabilidade do Concreto De acordo com Souza e Ripper (1998), “conhecidas, ou estimadas, as características de deterioração do material concreto e dos sistemas estruturais, entende-se como durabilidade o parâmetro que relaciona a aplicação destas características a uma determinada construção, individualizando-a pela avaliação da resposta que dará aos efeitos da agressividade ambiental, e definindo, então, a vida útil da mesma”. A NBR 6118 (ABNT, 2003) define durabilidade como a capacidade da estrutura de resistir às influencias previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto. Pode-se definir vida útil de uma estrutura de concreto como sendo o período de tempo no qual a mesma é capaz de desempenhar as funções para as quais foi projetada, isto é, conserve sua segurança e sua estabilidade, além de apresentar aptidão em serviço e aparência aceitável, sem exigir medidas extras de manutenção e reparo (HELENE, 1993). De acordo com Neville (1997), é essencial que as estruturas de concreto desempenhem as funções que lhe foram atribuídas, que mantenham a resistência e a utilidade que delas se espera, durante um período de vida previsto ou, pelo menos, razoável. Dessa forma, o concreto deve suportar o processo de deterioração ao qual venha ser submetido. Nessas condições, o concreto é considerado durável. Para que se obtenha uma boa qualidade do concreto deve-se assegurar uma adequada execução dos procedimentos de mistura, transporte, lançamento, adensamento, desmoldagem e cura. Embora se admita que um concreto de resistência mais alta seja potencialmente mais durável do que um concreto de resistência mais baixa, desde que ambos sejam produzidos com os mesmos materiais e sob certas circunstâncias, a resistência à compressão não é, por si só, uma medida suficiente de durabilidade. A durabilidade de uma estrutura de concreto está fortemente relacionada à qualidade de suas camadas superficiais. Nessas camadas, a moldagem, o adensamento, a desmoldagem e a cura têm efeito muito importante nas propriedades de difusividade, permeabilidade e absorção capilar de água e gases. No entanto, ressalta-se que é sempre conveniente fazer referência à resistência à 5 compressão do concreto por esta constituir a propriedade mais consagrada nos projetos estruturais e ser de fácil controle (HELENE, 1993). Segundo Helene (1993), a durabilidade das estruturas de concreto requer cooperação e esforços coordenados de pelo menos seis responsáveis: • O proprietário, definindo suas expectativas imediatas e de longo prazo de uso da estrutura; • O arquiteto, definindo detalhes e especificando materiais; • O projetista de estruturas, definindo geometrias, detalhes e especificando materiais e manutenção preventiva; • O responsável pela tecnologia do concreto, definindo características dos materiais, traços, metodologia de execução; • O construtor, definindo metodologias complementares da construção e respeitando o projeto e as especificações definidas; • O proprietário / usuário, obedecendo às condições de uso, de operação e de manutenção preventiva especificadas. Um modelo simplificado foi proposto por Tuutti (1980) no qual a vida útil de uma estrutura de concreto armado, sob o ponto de vista da corrosão de armaduras, é dividida em duas fases bem distintas: o período de iniciação da corrosão e o período de propagação, como pode ser observado na Figura 2.1. Figura 2.1: Modelo de vida útil (TUUTTI, 1980) 6 Neste modelo, o período de iniciação é definido como o tempo em que os agentes agressivos levam para atravessar o cobrimento, atingir a armadura e provocar a sua despassivação. O período de propagação é definido como o tempo em que a deterioração evolui até chegar a uma condição inaceitável. Durante a fase de iniciação, os danos apresentados pela estrutura são geralmente imperceptíveis. Na segunda fase, ocorre a formação de óxidos devido à corrosão das armaduras e a conseqüente redução da seção das armaduras e, em função do grau de corrosão, pode ocorrer o aparecimento de fissuras, o que acelera ainda mais o processo de deterioração. Helene (1993), baseando-se no modelo proposto por Tuutti (1980), propôs a conceituação e definição objetiva de vida útil de acordo com três situações: vida útil de projeto, que corresponde ao tempo que vai até a despassivação da armadura; vida útil de serviço ou de utilização, que corresponde ao tempo que vai até o momento em que aparecem as manchas na superfície, ou ocorre fissuração ou lascamento do concreto; e ainda a vida útil total, que corresponde ao período de tempo que vai até a ruptura e colapso parcial ou total da estrutura. 2.1.1 Relação água/cimento Em se tratando de durabilidade das estruturas de concreto, e para além das questões ligadas à resistência mecânica propriamente dita, a palavra chave relacionada ao material concreto é água. Logo, é a quantidade de água no concreto e a sua relação com a quantidade de aglomerante o elemento básico que rege características como densidade, compacidade, porosidade, permeabilidade, capilaridade e fissuração, além de sua resistência mecânica, que em resumo, são os indicadores de qualidade do material, passo primeiro para a classificação de uma estrutura como durável ou não (SOUZA e RIPPER, 1998). Segundo Cascudo (1997), a relação água/cimento é um dos parâmetros mais importantes em todo o contexto da corrosão, pelo fato de que ela determina a qualidade do concreto, o qual oferece maior proteção contra a corrosão de armaduras à medida que ele for de mais alta qualidade. Uma baixa relação água/cimento retarda a difusão de cloretos, dióxido de carbono e oxigênio, além de dificultar a entrada de umidade e agentes agressivos para o interior do concreto. A redução da relação a/c caracteriza-se como uma medida que visa aumentar a 7 proteção e a durabilidade da estrutura, visto que essa decisão acarreta uma redução no volume de poros e na permeabilidade, fatores intimamente ligados ao processo de corrosão. 2.1.2 Cobrimento O concreto de cobrimento sobre a armadura oferece proteção física. Além de agir como uma barreira contra a atuação de agentes agressivos, oxigênio e umidade, o cobrimento garante o meio alcalino, proporcionando proteção química à armadura. O cobrimento caracteriza-se como um elemento de grande importância, uma vez que especificações de projeto inadequadas, frente à agressividade ambiental, assim como desuniformidades de sua espessura ao longo de peças estruturais, podem facilitar o início ou acelerar processos de corrosão já existentes (CASCUDO, 1997). Andrade (1992) afirma que o concreto deve ser bem compactado, assegurando um bom cobrimento e uma homogênea distribuição dos agregados. Uma cura contínua e demorada são fatores relevantes, com grande importância para uma satisfatória capacidade final do concreto resultante. Cura deficiente resulta em um concreto mais poroso e mais vulnerável aos agentes agressivos. A NBR 6118 (ABNT, 2003) estipula a espessura do cobrimento da armadura em função do ambiente e da qualidade do concreto (relação a/c). A Tabela 2.1 apresenta os valores propostos pela referida norma para cobrimento de estruturas de concreto armado. Tabela 2.1: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal. Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2003) Classe de agressividade ambiental Tipo de estrutura Elemento I II III IV Cobrimento nominal (mm) Concreto armado 2.1.3 Laje 20 25 35 45 Viga / Pilar 25 30 40 50 Tipo de cimento Segundo Souza e Ripper (1998), a análise da durabilidade como função da resistência mecânica, da estabilidade dimensional e da resistência química do concreto, implica perfeito conhecimento destas suas características, as quais são diretamente dependentes das características de seu principal componente, o cimento. A estabilidade 8 dimensional do concreto, ou seja, os fenômenos de expansão, retração e fissuração, e a resistência química do concreto, isto é, sua capacidade de resistir aos diversos agentes químicos, como água do mar, salinidade do ar e poluição atmosférica, estão intimamente ligados às características físicas e químicas do cimento, tais como finura, expansibilidade, composição potencial, presença de cal livre, de óxido de magnésio, dentre outros, e não à sua resistência mecânica. Muitos cimentos foram desenvolvidos para proporcionar boa durabilidade ao concreto sob várias condições. No entanto, não foi possível encontrar na composição do cimento uma resposta completa ao problema da durabilidade do concreto: as principais propriedades do concreto endurecido também são influenciadas por outros fatores além da composição do cimento (NEVILLE, 1997). Souza e Ripper (1998) afirmam que a escolha do tipo de cimento mais adequado a uma determinada obra ou serviço a executar requer o bom conhecimento das características dos diversos tipos disponíveis no mercado, uma vez que, o cimento a ser utilizado deve ser resistente ao agente agressor ao qual a estrutura de concreto estará exposta, de forma a diminuir os riscos de que a mesma venha a se deteriorar precocemente. Por exemplo, em se tratando de ambientes onde o principal agente agressor sejam os sulfatos, casos em que o componente do cimento mais vulnerável a ataque é o aluminato tricálcico (C3A), deve-se empregar cimentos que apresentem baixo teor deste componente, como o cimento Portland de alto forno com teor de escória a 60%. Quando o problema incorre na agressividade ao concreto por ação de sílica reativa, provindas de agregados deletérios, deve-se empregar um cimento pozolânico com teor de pozolana entre 15% e 50%. Em geral, concretos com adições de escória de alto-forno ou com adições de materiais pozolânicos tais como cinza volante ou sílica ativa, apresentam estruturas de pasta mais compactas e, portanto, os desempenhos desses concretos quanto à penetração de líquidos, gases e íons são consideravelmente melhores se comparados aos concretos de cimento Portland comum. Isto significa importantes benefícios quanto à ação deletéria dos cloretos (CASCUDO, 1997). Por outro lado, conforme Souza e Ripper (1998), é necessário considerar aspectos da contra-indicação de alguns tipos de cimentos, diante da atuação de determinados agentes agressores, como, por exemplo, no caso do cimento Portland de alta resistência inicial (CP V 9 – ARI) em obras de grande volume de concreto, onde são grandes as possibilidades de ocorrência de retrações significativas ou de hipersensibilidade à ação de gradientes térmicos, ou ainda, no caso dos cimentos de alto forno, quando a concretagem ocorrer sob baixas temperaturas, ou em ambientes muito secos, ou mesmo quando for importante, sob o ponto de vista estético, manter-se uma mesma tonalidade do concreto. 2.1.4 Consumo de cimento Os produtos de hidratação do cimento oferecem proteção química às armaduras do concreto por causa da produção de uma grande quantidade de hidróxido de cálcio, de sódio e de potássio, os quais, ao se dissolverem na fase aquosa do concreto, proporcionam um meio altamente alcalino. A NBR 12655 (ABNT, 2006) estabelece que para a dosagem empírica do concreto da classe C10, o consumo mínimo de cimento deve ser de 300 kg por metro cúbico. 2.2 Corrosão de Armaduras A corrosão de armaduras do concreto é a causa mais comum de falhas nas estruturas de concreto armado. Espera-se que a armadura adequadamente protegida por uma camada suficientemente espessa de concreto de baixa permeabilidade não sofra o processo de corrosão. No contexto da engenharia civil, a corrosão da armadura se aplica na deterioração do aço imerso no concreto, provocando, com o tempo, perda de aderência entre os dois materiais e redução da seção transversal das barras de aço, podendo levar a estrutura ao colapso (CABRAL, 2000). Essa deterioração é caracterizada pela destruição da película passivante existente ao redor de toda a superfície exterior das barras. Esta película é resultado do impedimento da dissolução do ferro pela elevada alcalinidade da solução aquosa que existe no concreto. Para se entender o fenômeno, deve-se ter em mente que a solução aquosa resulta da parcela do excesso da água de amassamento do concreto que não é absorvida pela superfície dos furos e normalmente vai preencher os veios capilares do concreto. Os principais agentes responsáveis pela perda da camada passivante são: o dióxido de carbono (CO2) e os íons cloreto (SOUZA e RIPPER, 1998). 10 2.2.1 Passivação da Armadura no Concreto O concreto representa um meio altamente alcalino, com pH em geral variando de 12,5 a 13,5. Mesmo considerando o emprego de cimento contendo adições minerais, o pH é pouco afetado por estes materiais. Sellevolde e Nielsen (1987), citados por Helene (1993) destacam que, com adições em teores de até 30% para cinza volante e sílica ativa e de até 70% para a escória de alto-forno, sendo esses teores referentes à massa total do aglomerante (cimento e adições), o pH constatado nunca resultou inferior a 11,7. De acordo com Cascudo (1997), esta alcalinidade provém da fase líquida constituinte dos poros do concreto, a qual, nas primeiras idades, basicamente é uma solução saturada de hidróxido de cálcio – Ca(OH)2, sendo esta oriunda das reações de hidratação do cimento. Em idades avançadas o concreto continua propiciando um meio alcalino, sendo que sua fase líquida, neste caso, é uma solução composta principalmente por hidróxido de sódio (NaOH) e hidróxido de potássio originário dos álcalis do cimento. Pourbaix (1963), citado por Gentil (1982) avaliou as reações termodinamicamente possíveis em função do potencial de eletrodo (em relação ao eletrodo padrão de hidrogênio) e do pH em diversos sistemas metal-solução, dentre eles, o sistema ferro-água que pode ser utilizado para o caso das armaduras no concreto, demonstrado na Figura 2.2. Figura 2.2: Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água a 25°C Segundo Gentil (1982), citado por Santos (2006), por meio desse diagrama é possível prever as condições sob as quais pode-se ter corrosão, imunidade ou passivação. A 11 região de imunidade corresponde à zona onde a corrosão é termodinamicamente desfavorável, isto é, o metal é estável e, dessa forma, será imune à corrosão. Na região de passivação, são estáveis os óxidos ou hidróxidos do metal. Na região de corrosão têm-se as combinações de pH e potencial que indicam que os íons de metal ou íons complexos são as fases estáveis. As linhas tracejadas (a e b) delimitam a zona onde a água é termodinamicamente estável. Abaixo da linha (a) ocorre redução do hidrogênio, enquanto que acima da linha (b) tem-se a evolução de oxigênio. Para a ordem de grandeza do pH no concreto (normalmente entre os limites de 12,5 e 13,5) e para uma faixa usual de potencial de corrosão, da ordem de +100mV a -400mV em relação ao eletrodo padrão de hidrogênio, as reações de eletrodo verificadas no ferro são de passivação (CASCUDO, 1997). Dessa forma, a armadura presente no interior do concreto, em meio alcalino, está protegida do fenômeno da corrosão, devido à presença de uma capa ou película protetora de caráter passivo, que envolve essa armadura: é a chamada proteção química. O filme passivo é muito aderente ao aço e bastante delgado, normalmente invisível, cuja espessura varia de 10-3 a 10-1 µm. É composto, segundo Leek & Poole (1990), citados por Cascudo (1997), por óxido de ferro, o qual é formado rapidamente a partir das reações de oxidação do ferro e de redução do oxigênio, inicialmente presente na fase líquida dos poros do concreto apresentando uma variação de composição que vai do Fe3O4 (magnetita) ao γ-Fe2O3 (maghemita). No estado de passivação a corrosão não é exatamente nula, mas é severamente limitada pela resistência ôhmica do filme. Rosenberg et al. (1989), citados por Cascudo (1997), alegam que a taxa de corrosão passiva do aço no concreto é equivalente à dissolução ou oxidação de cerca de 0,1 µm/ano da superfície do aço, o que é considerada desprezível em termos de vida útil para as estruturas de concreto. Dessa forma, afirma-se sem receios que enquanto a armadura estiver passivada, não há corrosão, já que a película impede o acesso de umidade, oxigênio e agentes agressivos à superfície do aço, bem como dificulta a dissolução do ferro. 12 2.2.2 Formas e Mecanismo da Corrosão da Armadura Souza e Ripper (1998) relacionam as formas de ocorrência do fenômeno da corrosão, por destruição da camada óxida protetora das barras de aço no concreto, como sendo as seguintes: • Corrosão por tensão fraturante: caso dos aços submetidos a grandes esforços mecânicos, como os esforços de protensão, e que, em presença de meio agressivo, podem sofrer fratura frágil, ocasionando perda da condição necessária para a sua utilização; • Corrosão pela presença de hidrogênio atômico: corrosão originada pela ação do hidrogênio atômico na sua difusão pelos vergalhões da armadura, propiciando a sua fragilização e consequentemente sua fratura; • Corrosão localizada: os desgastes são localizados, sob a forma de pequenas cavidades. Este tipo de corrosão é caracterizado pela ação de íons agressivos, em especial os cloretos, sempre que haja umidade e presença de oxigênio; • Corrosão generalizada: ocorre devido à redução do pH do concreto para valores inferiores a 9, pela ação do CO2 existente no ar atmosférico, o qual é transportado através dos poros e fissuras do concreto agindo sobre o cimento hidratado. É a chamada carbonatação. Os tipos de corrosão mencionados acima estão representados na Figura 2.3. Figura 2.3: Tipos de corrosão que acometem o aço imerso em concreto (SOUZA & RIPPER, 1998) 13 O processo de corrosão das armaduras trata-se de uma manifestação específica da corrosão eletroquímica em meio aquoso. Daí o mecanismo da corrosão do aço, no concreto, só se desenvolver em presença de água ou ambiente com umidade relativa elevada (U.R. > 60%), condições necessárias para a formação do eletrólito. Este processo somente ocorre mediante a existência de três condições básicas: a existência de um eletrólito, a existência de uma diferença de potencial de eletrodo e a presença de oxigênio (FORTES, 1995). Por ser um mecanismo de natureza eletroquímica, necessariamente se formarão pilhas eletroquímicas no interior do concreto, as quais se caracterizam pela existência de uma área de aço anódica, onde ocorre a reação de oxidação (área em que efetivamente se tem a perda de massa ou seção), e pela presença de uma área catódica, onde se dá a reação de redução de oxigênio. Ambas as reações eletroquímicas (reações red-oxi) ocorrem simultaneamente e há uma relação de dependência entre elas, isto é, uma não ocorre sem a existência da outra (ISAIA, 2005). Segundo Fortes (1995), o mecanismo eletroquímico da corrosão da armadura, desde que esta esteja despassivada, na sua situação mais comum, pode ser resumido como se segue: Primeiramente, a película passivadora da armadura é destruída por ação combinada da umidade, do oxigênio e de outros agentes agressivos, principalmente cloretos, que penetram no concreto. A concentração destes elementos é variável ao longo da armadura, dando origem a uma pilha de corrosão, devido à diferença de potencial (ddp) entre trechos diferentes (ânodo e cátodo). Na pilha surge uma corrente elétrica que percorre a armadura, no sentido ânodocátodo, fechando-se o circuito no sentido contrário de forma iônica pelo eletrólito, ou seja, pelo movimento de íons presentes na fase líquida existente nos poros do concreto. No ânodo há a transformação de Fe em Fe2+ que é transportado através do eletrólito em direção ao cátodo. Enquanto isso, os elétrons livres, e-, com carga elétrica negativa, passam pelo aço para o cátodo, onde se combinam com a água e o oxigênio para formar íons de hidroxila, OH-. Estes íons migram pelo eletrólito em direção ao ânodo e combinam-se com os íons Fe2+, que estavam sendo atraídos pelo cátodo, formando Fe(OH)2 que é o hidróxido ferroso, o qual apresenta cor marrom e é fracamente solúvel. Por meio de outra oxidação o hidróxido ferroso é transformado em hidróxido férrico, Fe(OH)3. A Figura 14 2.4 ilustra uma pilha eletroquímica no concreto, destacando o mecanismo de corrosão. As Equações 2.1 a 2.4 representam, de modo simplificado, as reações que regem o mecanismo eletroquímico de corrosão. Figura 2.4: Pilha eletroquímica de corrosão no concreto armado (ANDRADE, 1992) Reações anódicas: Fe → Fe2+ + 2e2+ - (2.1) Fe + 2 (OH ) → Fe(OH)2 (2.2) 4 Fe(OH)2 + 2 H2O + O2 → 4 Fe(OH)3 (2.3) Reações catódicas: 4 e- + O2 + 2 H2O → 4 (OH-) (2.4) Nota-se que o oxigênio é consumido e a água é regenerada, mas é necessária para que o processo tenha continuidade. Dessa maneira, não há corrosão em concretos secos (ausência de eletrólito) e tampouco em concreto totalmente saturado, devido não haver suficiente acesso de oxigênio. A umidade relativa ótima para a corrosão é entre 70 e 80 por cento A heterogeneidade na superfície do ferro/aço ou no concreto, na vizinhança das armaduras, pode justificar a diferença de potencial entre regiões distintas, muito próximas ou distantes, formando as chamadas micro ou macropilhas, respectivamente (NEVILLE, 1997). 15 2.2.3 Carbonatação Nas superfícies expostas das estruturas de concreto, a alta alcalinidade, obtida principalmente graças à presença do Ca(OH)2 liberado das reações de hidratação do cimento, pode ser reduzida com o tempo. Este processo de redução do pH da solução existente nos poros do concreto ocorre pela ação do CO2 do ar, além de outros gases ácidos tais como o dióxido de enxofre (SO2) e o gás sulfídrico (H2S) e é chamado de carbonatação (CASCUDO, 1997). Segundo Feliu e Andrade (1988), esse processo ocorre sob velocidade lenta, atenuando-se com o tempo, fato este que pode, de acordo com Helene (1986), ser atribuído aos próprios produtos da reação de carbonatação (CaCO3), os quais colmatam os poros superficiais, dificultando o acesso de mais CO2 presente no ar ao interior do concreto. O processo de carbonatação em concretos com cimento Portland ocorre devido à reação do dióxido de carbono dissolvido em um filme de água no interior dos poros, com os hidróxidos presentes no concreto. Esta reação ocorre principalmente com o hidróxido de cálcio, resultando no carbonato de cálcio, de acordo com reação apresentada na Equação 2.5 (CABRAL, 2000). CO2 + Ca(OH)2 → CaCO3 + H2O (2.5) Segundo Helene (1993), o pH de precipitação do CaCO3, em temperatura ambiente, é de 8,3 a 9,0, alterando, dessa forma, as condições de estabilidade da película de passivação do aço. Uma característica do processo de carbonatação é a existência de uma “frente” de avanço do processo, que separa duas zonas com pH muito diferentes: uma com pH menor que 9 (carbonatada) e outra com pH maior que 12 (não carbonatada), ou seja, passivada. Ela é comumente conhecida por frente de carbonatação e deve sempre ser mensurada com relação à espessura do concreto de cobrimento da armadura. É importante que essa frente não atinja a armadura, sob pena de despassivá-la (CASCUDO, 1997). A Figura 2.5 ilustra um esquema do avanço do processo de carbonatação. 16 Figura 2.5: Processo de carbonatação (BAKKER, 1988, citado por CASCUDO, 1997) Segundo Tuutti (1980) e Parker (1997), citados por Cabral (2000), os fatores que influenciam a taxa de carbonatação são a concentração de CO2 no ambiente, a umidade relativa do ambiente, que está relacionada com a possível absorção de CO2 pelo concreto devido à saturação dos poros, e a resistência do concreto à penetração do CO2 que é função da qualidade do concreto e do nível de deterioração do mesmo. A concentração normal de CO2 na atmosfera é de 0,032%, sendo que nos grandes centros urbanos, esta pode chegar a valores de 0,1% e excepcionalmente até 1%. Um exemplo de concreto exposto a concentrações muito altas de CO2 é o de revestimento de túneis para veículos (NEVILLE, 1997). A penetração de CO2 depende do volume e da estrutura dos poros, e ainda, do grau de saturação dos mesmos, pois quando estes estão saturados, a carbonatação é reduzida devido à diminuição da difusão do CO2, que é quatro ordens de grandeza mais lenta na água que no ar. Por outro lado, se os poros estiverem secos, não haverá água para dissolver o CO2, não havendo, portanto, reação com o cimento hidratado. Tem-se, portanto, que a velocidade máxima de carbonatação ocorre para umidades relativas entre 50 e 70%, como pode ser visto na Figura 2.6. 17 Figura 2.6: Grau de carbonatação em função da umidade relativa do ambiente (ROSENBERG, 1989, citado por CASCUDO, 1997) A evolução do processo de carbonatação no tempo depende de certos parâmetros de dosagem do concreto, assim como da espessura do cobrimento, da composição química e mineralógica do cimento e as relações água/cimento e agregado/cimento do concreto, os quais determinam a qualidade do mesmo. Depende também de certos fatores ambientais onde o concreto se encontra, tais como concentração de CO2, umidade relativa, e para o concreto aparente, dos ciclos de sol e chuva (PAPADAKIS, 1992 citado por CABRAL, 2000). Embora não válida para todos os casos, o avanço da frente de carbonatação em geral pode ser modelada por uma lei parabólica, de acordo com a Equação 2.6 (ROSENBERG, 1989 citado por CASCUDO, 1997). = ∙ √ (2.6) Onde: e = espessura ou profundidade carbonatada, geralmente em mm; k = coeficiente de carbonatação, geralmente em mm/ano0,5; t = tempo de exposição, geralmente em anos Feliu e Andrade (1988) afirmam que diante da propagação da carbonatação, destruída a capa de passivação, o aço é corroído de forma generalizada, tal como se estivesse exposto à atmosfera sem qualquer proteção, porém com o agravante de que a umidade 18 permanece no interior do concreto e, portanto, em contato com a armadura muito mais tempo do que se esta estivesse exposta ao ar, já que o concreto absorve umidade muito rapidamente, mas seca bem mais lentamente. Conforme Parker (1997), citado por Cabral (2000), a carbonatação pode ser evitada se o dióxido de carbono for impedido de entrar no concreto ou se sua taxa de entrada for limitada, o que pode ser conseguido por meio da produção de um concreto de boa qualidade, bem compactado, que atue como uma boa barreira contra o CO2. O efeito de barreira pode ser aumentado mais ainda com o uso de pinturas de baixa permeabilidade ao gás. Outros meios de limitar a carbonatação seriam a saturação ou a secagem do concreto. 2.3 2.3.1 Corrosão pelos Íons Cloreto Cloretos no Concreto A penetração de cloretos é influenciada por variáveis presentes no concreto, que são a relação a/c, idade, temperatura de cura, interação do tipo de cimento com a temperatura. Para um mesmo material cimentício, quanto maior a relação a/c maior é a penetração de cloretos. Neville (1997) afirma que os cloretos podem estar presentes no concreto por terem sido incorporados na mistura por agregados contaminados, por água do mar ou água salobra. Segundo o autor, não deve ser permitido o uso de nenhum desses materiais no concreto armado, e as normas geralmente estabelecem limites rigorosos para o teor total de cloretos no concreto, qualquer que seja a origem. Outra forma de os cloretos ingressarem no concreto é por penetração, quando o mesmo já se encontra endurecido. Nesse caso os cloretos são provenientes de fontes externas, como sais descongelantes, água do mar e por meio da lavagem de pisos e fachadas com ácido muriático. Os cloretos podem também ser depositados sobre a superfície do concreto na forma de gotículas de água do mar, retiradas do mar por turbulência e levadas pelo vento, ou poeira transportada pelo ar que depois se molha pelo orvalho. De acordo com Neville (1997), os cloretos que se deslocam pelo ar podem percorrer grandes distâncias, já se tendo observado casos de percursos de até 2 km, mas também é possível o transporte a distâncias ainda maiores, dependendo do vento e da topografia. 19 Segundo Cabral (2000), os cloretos, na forma de cristal sólido, não oferecem elevado risco à durabilidade das estruturas devido à dificuldade de penetração, pois a dimensão dos poros de concreto é bem menor que a dos cristais. No entanto, quando estes cristais são dissolvidos pela água das chuvas podem ser carreados para o interior do concreto. Qualquer que seja a origem, os cloretos penetram no concreto pela movimentação da água que os contêm, bem como por difusão dos íons na água e por absorção. Helene (1993) afirma que, em estruturas existentes, os cloretos dissolvidos presentes no ambiente podem penetrar no concreto através dos mecanismos clássicos de penetração de água e transporte de íons, os quais são relacionados como segue: • Absorção capilar: é dependente da porosidade, isto é, dos poros capilares interconectados entre si. A penetração é função do diâmetro dos poros e apresenta forças de sucção capilar tão mais intensas quanto menores forem os diâmetros dos capilares; • Difusão iônica: ocorre devido a gradientes de concentração iônica, seja entre o meio externo e o interior do concreto, seja dentro do próprio concreto. As diferenças nas concentrações de cloretos provocam o movimento desses íons em busca do equilíbrio; • Permeabilidade: é um dos principais parâmetros de qualidade do concreto e representa a facilidade com que um fluido pode escoar através de um sólido poroso sob uma diferença de pressão. • Migração iônica: a ação de campos elétricos promove a migração de íons cloreto. Cascudo (1997) afirma que na grande maioria dos casos, os mecanismos de transporte dos cloretos no concreto são a absorção capilar e a difusão iônica. De acordo com Andrade (1993), citado por Cabral (2000), quando o concreto está completamente saturado d’água, os cloretos penetram puramente por difusão, devido às diferenças de concentração. Quando o concreto está parcialmente saturado, os cloretos podem penetrar por absorção e por força de capilaridade. As adições minerais justificam a menor penetração de cloretos no concreto devido à modificação da estrutura dos poros. A penetração de cloretos é reduzida quando 20 adições minerais são introduzidas no concreto, reduzindo, dessa forma, o teor de cloretos retidos (HELENE, 1993). A principal forma de fixação dos íons cloreto é pela reação com o aluminato tricálcico (C3A), formando cloroaluminato de cálcio, 3CaO.Al2O3.CaCl2.10H2O, também conhecido como sal de Friedel. Portanto, se pode afirmar que mais íons cloreto ficam retidos quanto mais alto for o teor de C3A do cimento, bem como, também quanto mais alto o teor de cimento da mistura. Por esse motivo se acredita que cimentos com alto teor de C3A levam à boa resistência à corrosão (NEVILLE, 1997). Segundo Glass e Buenfeld (1997), citados por Cabral (2000), os cloretos também podem se apresentar adsorvidos na superfície dos poros do concreto e sob a forma de íons livres. Quando o concreto não consegue mais fixar os cloretos, uma maior quantidade de cloretos totais implica em maior quantidade de cloretos livres, os quais são os que efetivamente causam preocupação. 2.3.2 Formação e Transporte do Aerosol Marinho Os cloretos presentes nas regiões de atmosfera marinha provém da água do mar, podendo estar na forma de íon ou combinado na forma de cloreto de sódio. A forma como esse agente é transportado tem origem na formação do aerosol marinho (MEIRA e PADARATZ, 2002). Conforme Fitzgerald (1991), a formação do aerosol marinho tem origem na agitação da superfície do mar causada pelo vento. Este efeito gera bolhas de ar que, em seguida, explodem produzindo gotículas em forma de jorro, película ou espuma. O mecanismo é mais efetivo na borda, na zona de quebra das ondas, onde partículas maiores e em maior número são geradas. Embora o efeito de quebra das ondas seja responsável pela geração de um maior volume de aerosol, este também se origina a partir da pressão que o vento exerce sobre a superfície do mar. Assim, as áreas de mar aberto também colaboram para a produção do aerosol, ainda que de forma menos expressiva. De acordo com Morcillo (1998), uma vez formado o aerosol marinho, o mesmo caminha na direção do continente e tem a sua relação com a salinidade atmosférica fortemente influenciada por variáveis como direção e velocidade dos ventos predominantes, distância da costa, topografia da zona, altitude, entre outros fatores. Todas essas variáveis definem uma 21 taxa de deposição, que faz com que os cloretos cheguem em maior ou menor quantidade a uma determinada distância do mar. A deposição das partículas salinas à medida em que há um distanciamento da costa ocorre de modo acentuado nas primeiras centenas de metros a partir da interface com o mar. Este comportamento deve-se a um processo de deposição que ocorre, principalmente, pelo efeito gravitacional e pelo choque das partículas com o solo e os obstáculos sobre o mesmo (FELIU et al., 1999). Dessa forma, este comportamento é característico de cada região, com flutuações ao longo do tempo. 2.3.3 Ação dos Cloretos (Cl-) As armaduras no concreto permanecem em condições normais, em um meio alcalino que permite que elas trabalhem na região de passividade do diagrama de Pourbaix, Figura 2.2. Entretanto, essa passividade pode ser alterada pela presença de íons cloreto em quantidade suficiente para romper pontualmente a película passiva sobre a armadura, caracterizando, dessa forma, a corrosão por pite. Conforme Fortes (1995), estes pontos formam o anodo da pilha de corrosão e, devido à sua progressão em profundidade, podem provocar a ruptura da barra de aço. O restante da superfície metálica torna-se o catodo e como se sabe, a relação área anódica/área catódica, sendo muito pequena poderá dar motivo a uma intensa corrosão. Existem três teorias para explicar os efeitos dos íons cloreto sobre a corrosão do aço imerso no concreto (ACI Committe 222, 1991): a) Teoria do filme óxido: nesta teoria, os íons cloreto conseguem penetrar através dos poros e defeitos do filme óxido passivante muito mais facilmente que outros agentes agressivos, tais como SO42-, em função do seu pequeno raio atômico, e conseguem dispersar coloidalmente este filme, facilitando a penetração de outros íons. b) Teoria da adsorção: os íons cloreto são adsorvidos na superfície do metal em competição com o oxigênio dissolvido e com os íons hidroxila. Os íons cloreto promovem a hidratação do metal, facilitando, assim, a sua dissolução em íons. c) Teoria do Complexo Transitório: para a produção de compostos de corrosão, denominados complexos transitórios, os íons cloreto (Cl-) competem com os íons hidroxila (OH-) pelos íons de ferro. É então formado o complexo solúvel de cloreto de ferro que, ao 22 difundir-se, partindo das áreas anódicas em direção ao cátodo provoca a destruição da camada protetora de Fe(OH)2 promovendo a manutenção da corrosão. A certa distância do anodo, o complexo de cloreto de ferro é rompido e, pela precipitação do hidróxido de ferro, o Cl- fica livre para transportar mais íons ferrosos da área anódica. Como não há estanqueidade do processo corrosivo, mais íons ferrosos migram no concreto, partindo do ponto de corrosão e reagindo, também, com o oxigênio, formando óxidos que provocam aumento de volume da armadura de aço, cerca de quatro vezes maior do que o inicial, acarretando, dessa forma, fissuras no concreto, devido às tensões internas de tração. A Figura 2.7 ilustra o processo descrito. Figura 2.7: Esquema de corrosão por pite induzida por cloretos (CASCUDO, 1991, citado por FORTES, 1995) Os íons cloreto ativam a superfície do aço formando o ânodo, sendo o cátodo a superfície passivada. As Equações 2.7 e 2.8 resumem simplificadamente o fenômeno. Fe2+ + 2Cl- → FeCl2 (2.7) FeCl2 + 2H2O → Fe(OH)2 + 2HCl (2.8) Pelas reações percebe-se que o Cl- é regenerado de modo que a ferrugem não contém cloreto, embora se forme cloreto ferroso no estágio intermediário (NEVILLE, 1997). Portanto, a corrosão das armaduras induzida por cloretos é ainda mais preocupante do que a corrosão devido à carbonatação, já que os cloretos não são consumidos, ficando livres para novas reações (THANGAVEL & RENGASWAMY, 1998). 23 O aumento da concentração de cloretos acarreta o aumento da destruição do metal. Se a armadura já está acometida pelo processo de corrosão, os íons aceleram o processo, aumentando a taxa de corrosão. De acordo com Helene (1993), proceder-se à limpeza das cavidades dos pites é importante, pois caso não seja efetuada, o novo material envolvente, mesmo com pH elevado, não será suficiente para repassivar a armadura. 2.3.4 Valor limite de cloretos para despassivar Conforme Cascudo (1997), um ponto bastante polêmico em relação aos cloretos seria sua concentração crítica máxima, abaixo da qual não houvesse despassivação da armadura. Alonso et al. (1997), citados por Cabral (2000), afirmam que a quantidade de cloretos para despassivar o aço imerso no concreto não é um valor único, uma vez que depende de inúmeras variáveis tais como a dosagem, o tipo de adensamento e cura do concreto, a presença de adições no concreto, características ambientais (temperatura e umidade), o pH da solução dos poros, a proporção de cloretos solúveis, a quantidade de aluminato tricálcico (C3A) no cimento, a fonte dos cloretos e também das condições superficiais e metalúrgicas do aço atacado. No concreto, a quantidade de cloretos para despassivar o aço pode ser diferente da quantidade exigida nas argamassas devido à sua capacidade de fixar os cloretos, à alcalinidade da solução de seus poros e à sua propriedade de barreira. Segundo Neville (1997), não existe um limite universalmente aceito da concentração de íons cloreto junto à superfície do aço para que se inicie a corrosão. Em qualquer caso, não é o teor total de cloretos que é importante para a corrosão. Como já citado neste capítulo, uma parte dos cloretos está quimicamente retida, sendo incorporada aos produtos da hidratação do cimento; outra parte está fisicamente retida por adsorção à superfície dos poros de gel; somente os cloretos livres estão disponíveis para a reação agressiva com o aço. No entanto, a distribuição dos íons cloreto entre as três formas não é fixa, pois existe uma situação de equilíbrio tal que sempre alguns íons cloreto livres estão presentes na água dos poros. Portanto, somente podem ficar vinculados os íons cloreto que excedem a quantidade necessária para esse equilíbrio (NEVILLE, 1997). 24 A relação Cl-/OH- é o parâmetro mais aceito para se predizer o início do processo de corrosão das armaduras, embora alguns autores afirmem que não se podem fazer afirmativas generalizadas acerca da influência dessa relação na evolução da corrosão. Como há certa dificuldade em medir proporções de OH- no concreto, também são utilizados outros parâmetros para expressar o risco da corrosão, como a quantidade de cloretos totais ou livres em relação à massa de cimento ou concreto, ou ainda em relação à água de amassamento, devido à grande vantagem e facilidade destes métodos, sendo que algumas normas já expressam seus valores limites em função destes parâmetros (GLASS & BUENFELD, 1997 citados por CABRAL, 2000). Segundo Glass e Buenfeld (1997), citados por Cabral (2000), das representações correntes, a que melhor apresenta o nível limite de cloretos para que não haja corrosão é o conteúdo total de cloretos expresso em relação à massa de cimento, pois esta representação pode ser vista como o conteúdo potencial total do íon agressivo expresso relativamente ao conteúdo potencial total inibidor. Para ambos os autores, a melhor maneira de se representar o risco de corrosão seria expressar o conteúdo total de cloretos em relação à alcalinidade total do concreto. Trabalhos produzidos pelos autores citados abordaram o teor crítico de cloretos determinados por diversos autores. Esses valores estão compilados na Tabela 2.2. Tabela 2.2 – Valores críticos de cloretos sugeridos por diversos autores (ALONSO et al., 1997; GLASS & BUENFELD, 1997; citados por CABRAL, 2000). Valores ou intervalos Cloretos totais (% Cloretos livres massa cim.) (% massa cim.) 0,17-1,4 0,2-1,5 0,5-0,7 0,25-0,5 0,3-0,7 0,32-1,9 Referência Condições de exposição Amostra Stratful et al. Vassie M. Thomas Elsener e Böhni Henriksen Treadway et al. ao ar livre ao ar livre ao ar livre laboratório ao ar livre ao ar livre estrutura estrutura concreto argamassa estrutura concreto Page et al. laboratório ao ar livre pasta concreto laboratório concreto laboratório argamassa 0,4-1,6 laboratório concreto 0,5-2 ao ar livre laboratório laboratório laboratório concreto concreto concreto concreto 0,5 0,5-1,4 0,6 1,6-2,5 Kayyali Hansson e Sorensen Schiessl e Raupach Thomas et al. Tuutti Locke e Siman Labert et al. Cl-/OH- 0,22 3,0 0,4 0,45-1,15 3-20 25 As normas de diversos países possuem os mais variados valores para o conteúdo de cloretos limite, expressados das mais variadas formas. Conforme Andrade (1992), um valor médio aceito, geralmente, para o teor de cloreto é de 0,40% em relação à massa de cimento ou 0,05% a 0,1% em relação à massa de concreto. A norma brasileira NBR 7211 (2009), por exemplo, limita o teor máximo de cloretos, em relação à massa de cimento, em 0,06% para concreto protendido, 0,15% para concreto armado exposto a cloreto na condição de serviço da estrutura e 0,40% para concreto armado em condições de exposição não severas (seco ou protegido da umidade nas condições de serviço da estrutura). A maioria das normas estrangeiras fixa os teores de Cl- em relação à massa de cimento, conforme a Tabela 2.3. Tabela 2.3: Conteúdo de cloretos limite proposto por diversas normas (% em relação à massa de cimento) (FELIU & ANDRADE, 1988, citados por CASCUDO, 1997) Normas Teor de Cl- para concreto armado (%) EH - 88 (espanhola) pr EN - 206 (espanhola) BS - 8110/85 (inglesa) ACI - 318/83 (norte americana) 0,40 0,40 0,20 - 0,40 * 0,15 - 0,30 - 1,00 ** *O limite varia em função do tipo de cimento; **O limite varia em função da agressividade ambiental. Os teores limites mostrados na Tabela 2.3 apresentam-se de uma forma controversa, uma vez que, como já citado, eles dependem de inúmeras variáveis tais como tipo de cimento e relação água/cimento, entre outras. Uma idéia um tanto quanto equivocada poderia surgir, qual seja a de que pelo aumento da quantidade de água ou pelo aumento do consumo de cimento, seria possível aumentar o teor de cloretos na massa de concreto sem danos à armadura, o que é bastante incoerente. A Figura 2.8 expressa de maneira mais satisfatória o teor crítico de cloretos em função da qualidade do concreto e da umidade ambiental. 26 Figura 2.8: Esquema de variação do conteúdo crítico de cloretos em função da qualidade do concreto e da umidade relativa do ambiente (CEB, 1992 citado por Cabral, 2000) 27 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Este capítulo apresenta o procedimento utilizado na execução do principal ensaio realizado, o ensaio de penetração de cloretos. O objetivo do ensaio é submeter o concreto ao ingresso “forçado” de íons cloreto, através de ciclos de umedecimento com solução salina e secagem em estufa, para se proceder, após cada ciclo, à análise dos teores desses íons ao longo da profundidade do cobrimento. É abordado também o procedimento da NBR 14832 (ABNT, 2002), o qual foi utilizado para a determinação desses teores nas amostras na forma de pó, extraídas dos corpos-de-prova em profundidades preestabelecidas. 3.1 Caracterização dos Materiais 3.1.1 Cimento Utilizou-se o cimento Portland composto, com adição de pozolana, resistente a sulfatos (CP II Z-32 RS), o qual é comumente utilizado na produção dos concretos empregados nas obras de Fortaleza. As Tabelas 3.1, 3.2 e 3.3 apresentam, respectivamente, a composição, características físicas e mecânicas e características químicas do cimento utilizado. Todas as informações apresentadas foram obtidas a partir do website da fabricante. Tabela 3.1: Composição do cimento CP II Z-32 RS Tipo Sigla Classe Norma Clínquer +Gesso (%) Calcário (%) Pozolana (%) II CP II Z CP II Z RS 32 NBR 11578 76 – 94 0 – 10 6 – 14 Tabela 3.2: Características físicas e mecânicas Finura Resíduo na Área peneira específica 75mm (m2/Kg) (%) ≤ 12,0 ≥ 260 Tempo de Pega Expansibilidade Resistência à Compressão (MPa) Início (h) Término (h) A frio (mm) A quente (mm) 1 dia 3 dias 7 dias 28 dias ≥1 ≤ 10 ≤5 ≤5 - ≥ 10 ≥ 20 ≥ 32 28 Tabela 3.3: Características químicas Resíduo insolúvel (%) Perda ao fogo (%) MgO (%) SO3 (%) CO2 (%) S (%) ≤ 16,0 ≤ 6,5 ≤ 6,5 ≤ 4,0 ≤ 5,0 - 3.1.2 Agregados miúdo e graúdo A areia utilizada constituiu-se de areia lavada e peneirada proveniente da dragagem do leito de rios. A composição granulométrica do agregado miúdo foi determinada seguindo-se a NM 248 (ABNT, 2001). O material apresentou distribuição granulométrica com frações que atenderam aos limites da Tabela 1 da NBR 7211 (2009). Os resultados dos ensaios realizados com uma amostra da areia utilizada encontram-se nas Tabelas 3.4 e 3.5. A curva granulométrica do agregado miúdo é mostrada na Figura 3.1. Todos os ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tabela 3.4: Análise granulométrica do agregado miúdo Peneira (mm) % Retida % Acumulada 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 Fundo 0 4 12 26 38 18 2 0 4 16 42 80 98 100 Limites NBR 7211/2009 - Zona 3 Inferior Superior 0 11 0 25 10 45 41 65 70 92 90 100 - 29 %acumulada limites inferior e superior % Retida Acumulada 0 20 40 60 80 100 0,15 0,3 0,6 1,2 2,4 4,8 Abertura da peneira (mm) Figura 3.1: Curva granulométrica do agregado miúdo Tabela 3.5: Propriedades físicas do agregado miúdo Ensaio realizado Teor de material pulverulento Resultados Norma consultada 1,51% NBR NM 46/2001 Massa específica 2,61 g/cm³ NBR 9776/1987 Massa unitária 1,46 g/cm³ NBR 7810/1983 Dimensão máxima característica 2,40 mm NM 248/2001 Os resultados dos ensaios realizados para a caracterização do agregado graúdo utilizado encontram-se nas Tabelas 3.6 e 3.7. A curva granulométrica da brita encontra-se na Figura 3.2. Tabela 3.6: Distribuição granulométrica do agregado graúdo Limites NBR 7211/2009 - Brita 1 Peneira (mm) % Retida % Acumulada Inferior Superior 19,1 12,5 9,5 6,3 4,8 Fundo 0 6 24 48 12 9 0 6 30 78 90 100 0 70 80 92 95 - 10 95 100 100 100 - 30 % Retida Acumulada 0 20 40 60 80 100 4,8 6,3 9,5 12,5 19,1 Abertura da peneira (mm) Figura 3.2: Curva granulométrica do agregado graúdo Tabela 3.7: Propriedades físicas do agregado graúdo Ensaio realizado Modulo de finura Resultados Norma consultada 6,21 NM 248/2001 Dimensão máxima característica 19,1 mm NM 248/2001 Massa específica 2,51 g/cm³ NBR 9776/1987 Massa unitária 1,43 g/cm³ NBR 7810/1983 Como é possível observar na Figura 3.2 o agregado graúdo utilizado não atendeu à especificação da NBR 7211 (2009), pois sua curva granulométrica encontra-se fora dos limites granulométricos da graduação 1 propostos pela mesma, no entanto, tal fato não resultou na reprovação do mesmo para a produção do concreto, visto que aquela brita era a comercialmente utilizada no mercado e no Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFC. 3.1.3 Água de amassamento A água de amassamento utilizada na produção do concreto foi água proveniente da rede pública de suprimento e não se procedeu a realização de ensaios para a caracterização de amostra da mesma. 31 3.1.4 Adesivo Epóxi Utilizou-se de um adesivo estrutural à base de resina epóxi bi-componente para a impermeabilização das faces superior e inferior dos corpos-de-prova, com o objetivo de fazer com que os cloretos penetrassem apenas pelas laterais dos mesmos. Este mesmo adesivo epóxi foi utilizado para vedar os orifícios deixados nos corpos-de-prova após a perfuração destes para extração das amostras. 3.2 Corpos-de-prova Para se proceder à realização do ensaio, foram moldados corpos-de-prova de formato cúbico, com arestas iguais a 15cm. A escolha por tal formato foi justificada pelo fato de o Laboratório de Materiais da Universidade Federal do Ceará dispor de formas com essas dimensões, as quais foram consideradas adequadas à finalidade do experimento, caracterizando-se, portanto, como uma escolha sensata e conveniente. A Figura 3.3 mostra a forma utilizada na confecção dos corpos-de-prova. Como se pode ver, a mesma é composta por quatro chapas de aço parafusadas entre si, as quais formam a superfície lateral da forma, e uma chapa de fundo, parafusada a duas chapas laterais através de um perfil metálico. Para a desmoldagem dos corpos-de-prova bastava retirar uma de suas faces laterais, o que era conseguido com a retirada de quatro parafusos. Figura 3.3: Forma dos corpos-de-prova Foram produzidos concretos de três classes distintas (Classificação por grupos de resistência – ABNT NBR 8953): C25, C30 e C40, os quais apresentam resistência característica à compressão (fck) de 25 MPa, 30 MPa e 40 MPa, respectivamente. A proporção 32 de cada material para a produção dos três tipos de concreto foi determinada através da utilização de planilhas eletrônicas, que utilizam a metodologia da ABCP e são empregadas pelos laboratoristas do Laboratório de Materiais de Construção Civil, da Universidade Federal do Ceará (UFC). A Tabela 3.8 resume alguns dos parâmetros da dosagem dos concretos produzidos. Tabela 3.8: Parâmetros de dosagem dos concretos utilizados no ensaio Resistência característica à compressão (MPa) Relação a/c Traço em massa Consumo de cimento (kg/m3) 25 0,52 1 : 1,71 : 2,50 401,07 30 0,51 1 : 1,69 : 2,24 421,57 40 0,42 1 : 1,25 : 1,80 515,60 Para cada classe de concreto foi confeccionado um corpo-de-prova cúbico e seis corpos-de-prova cilíndricos, aqueles para o ensaio acelerado de corrosão induzida por íons cloreto e estes para a determinação da resistência à compressão simples aos 7 e 28 dias (3 corpos-de-prova para cada idade). Os resultados obtidos no ensaio de compressão axial encontram-se na Tabela 3.9. Para a determinação da resistência característica à compressão (fck), utilizou-se a seguinte fórmula: fck = fcm – 1,65s onde s é o desvio-padrão. Tabela 3.9: Resultados do ensaio de compressão axial Classe do Concreto C25 C30 C40 Resistência à Resistência Resistêcia Média à Compressão Característica à Simples aos 28 dias Compressão (fcm) Compressão (fck) (fc) 34,2 29,5 31,17 26,83 29,8 32,9 32,7 32,30 30,86 31,3 39,9 43,2 41,33 38,54 40,9 (3.1) 33 A mistura do concreto se deu em betoneira de eixo inclinado até que se atingisse a perfeita homogeneização do mesmo. O concreto foi então despejado nas formas e em seguida foi adensado com o auxílio de um vibrador mecânico. Os corpos-de-prova não passaram por nenhum processo de cura após serem retirados das formas, ficando expostos ao ar, em ambiente de laboratório. Com a adoção dessa medida objetivou-se simular a realidade da concretagem dos elementos estruturais nas construções de Fortaleza, onde a prática de cura do concreto é, na maioria das vezes, realizada de forma deficiente e inadequada. Os corpos-de-prova tiveram suas faces superior e inferior seladas com material impermeável (adesivo à base de resina epóxi), de forma que a penetração de cloretos ocorresse somente pelas laterais. As Figuras 3.4 e 3.5 mostram, respectivamente, os corposde-prova confeccionados e o adesivo estrutural à base de resina epóxi. (a) (b) Figura 3.4: a) Corpos-de-prova para ensaio de penetração de cloretos; b) Perspectiva com dimensões do corpode-prova Figura 3.5: Adesivo estrutural à base de resina epóxi bi-componente 34 3.3 Ensaio de Penetração de Cloretos A penetração de cloretos nos corpos-de-prova foi proporcionada pela execução de cinco ciclos de imersão parcial em solução salina e secagem em estufa. Segundo Santos (2006), este método é semelhante ao empregado por Bauer (1995) e Costa Filho (2005), os quais obtiveram resultados satisfatórios em suas respectivas pesquisas. Antes de serem submetidos aos ciclos de umedecimento e secagem, os corpos-deprova foram saturados em água até a constância de massa e em seguida foram deixados durante 5 dias em estufa a 50 °C para secagem. Este processo caracterizou o que se convencionou chamar de ciclo zero do ensaio. A realização desta etapa objetivou homogeneizar a quantidade de água contida nos poros do concreto dos corpos-de-prova. Os corpos-de-prova foram submetidos à semi-ciclos de imersão parcial (até meia altura) em solução de 3,5% de cloreto de sódio (NaCl), com duração de 2 dias e semi-ciclos de secagem em estufa a 50 °C, com duração de 5 dias. As figuras 3.6 e 3.7 mostram, respectivamente, os corpos-de-prova imersos até meia altura na solução de NaCl e durante a secagem em estufa. Após a finalização de cada ciclo era efetuada a retirada de amostras dos corpos-de-prova para a determinação do teor de cloretos. Figura 3.6: Semi-ciclo de umedecimento dos corpos-de-prova em solução salina com 3,5% de NaCl. 35 Figura 3.7: Secagem dos corpos-de-prova em estufa a 50 °C Durante a molhagem, devido à absorção capilar, a saturação é rapidamente atingida, já que a água absorvida pelo concreto através deste mecanismo de transporte de água possui uma velocidade consideravelmente maior que a evaporação da mesma (CEB, 1992, citado por CABRAL, 2000). Portanto, quando se utiliza ciclos de umedecimento e secagem, o tempo de secagem deve ser maior que o de umedecimento, objetivando-se uma efetiva aceleração do ataque. De acordo com Monteiro (1996), citado por Cabral (2000), a condição de imersão parcial em solução de 3,5% de NaCl propicia uma maior penetração destes agentes agressivos (tanto por absorção capilar como por difusão). Nesta condição o ingresso de cloretos ocorre inicialmente por absorção capilar, já que os corpos-de-prova apresentam-se inicialmente secos, e por difusão, após saturação dos poros, e é acelerado devido à evaporação da água através da parte exposta do concreto. De acordo com McCarter et al. (1992), citado por Santos (2006), em um material poroso, há uma relação entre a força de sucção capilar e o grau de saturação. Dessa forma, quando existe uma região exposta e seca, as forças de sucção serão maiores e irão resultar em um mais rápido movimento da água no interior do concreto. Em resumo, o ensaio acelerado de penetração de cloretos foi realizado de acordo com a seguinte seqüência: a) Saturação em água até a constância de massa; 36 b) Secagem em estufa a 50 °C durante 5 dias; c) Imersão parcial dos corpos de prova em solução com 3,5% de NaCl por 2 dias; d) Secagem em estufa a 50 °C durante 5 dias. A Figura 3.8 ilustra de maneira esquemática as etapas que constituíram o ensaio realizado. Figura 3.8: Esquema das etapas do ensaio acelerado de penetração de cloretos. (Fonte: Elaborado pelo autor) 3.4 Procedimento da Amostragem Como mencionado no item anterior, após cada ciclo do ensaio era efetuada a extração de amostras dos corpos de prova para a determinação do teor de cloretos presentes nas mesmas. A extração das amostras na forma de pó foi realizada com o emprego de furadeira de coluna e broca com diâmetro de 18mm (Figura 3.8). A extração destas amostras mediante furadeira é desejável, pois evita problemas com o corte do concreto através de dispositivos de corte diamantados, que geralmente empregam água para refrigeração, a qual pode solubilizar os sais presentes e lixiviar soluções do concreto, alterando, dessa forma, as concentrações de cloretos. Além disso, a extração por furadeira permite facilmente uma análise dos teores em 37 profundidades preestabelecidas, possibilitando traçarem-se perfis de concentração dos cloretos ao longo da profundidade do cobrimento (ISAIA, 2005). (b) (a) Figura 3.9: Equipamento utilizado para extração das amostras em forma de pó: a) Furadeira de coluna com broca de 18mm; b) Extração de amostra em forma de pó. Os furos foram feitos na altura do nível da solução de NaCl do semi-ciclo de umedecimento, isto é, a meia altura do corpo-de-prova, atingindo-se as profundidades desejadas, as quais foram de 1,0; 2,0; 2,5 e 3,0 cm, para o corpo-de-prova de 25 MPa; 1,0; 2,0; 3,0; 3,5 e 4,0 cm, para o de 30 MPa e 1,0; 2,0; 3,0; 4,0; 4,5 e 5,0 cm, para o de 40 MPa. O estabelecimento destas profundidades seguiu o prescrito nas Tabelas 7.1 e 7.2 da NBR 6118 (ABNT, 2003). A primeira relaciona a classe de agressividade ambiental com a qualidade do concreto e a segunda faz uma correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal da armadura do concreto. Estas informações encontram-se resumidas na Tabela 3.10. 38 Tabela 3.10: Relação entre classe de agressividade do ambiente, qualidade do concreto e cobrimento nominal, para concreto armado. Fonte: NBR 6118 (2003) Parâmetros Classe de agressividade ambiental I II III IV Relação a/c ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45 Classe de concreto ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40 Cobrimento (mm) 25 30 40 50 Após o término da extração das amostras nas profundidades preestabelecidas os furos eram preenchidos com o mesmo adesivo estrutural à base de resina epóxi utilizado para a impermeabilização das faces superior e inferior dos corpos-de-prova. Extraídas as amostras as mesmas eram armazenadas em sacos plásticos, como se pode ver na Figura 3.10, para posteriormente proceder-se à determinação do teor de cloretos livres, através do método do íon seletivo. Figura 3.10: Amostras coletadas após um dos ciclos de umedecimento e secagem 3.5 Determinação da Concentração de Cloretos A determinação da concentração de cloretos presente nas amostras extraídas dos corpos-de-prova foi regida pela ABNT-NBR 14832 (2002), a qual descreve três procedimentos para a determinação de cloreto pelo método do íon seletivo em cimento Portland e clínquer: 39 • Procedimento A: método de decomposição por fusão Na2CO3/ZnO, utilizado quando se deseja determinar cloreto total; • Procedimento B: método de decomposição por fusão Na2O2, um método opcional para a determinação de cloreto total; • Procedimento C: método de extração de cloretos em água destilada ou deionizada, utilizado quando se deseja determinar o teor de cloreto solúvel em água, ou seja, o teor de cloretos livres. Embora Andrade (1992) ressalte que é conveniente determinar os cloretos totais, já que parte dos cloretos combinados pode vir a ficar disponível para reações deletérias devido a fenômenos como carbonatação do concreto ou elevação da temperatura, não é escopo deste trabalho a determinação de cloretos totais. Dessa forma, realizou-se a determinação de cloretos livres, pois são os que efetivamente causam corrosão nas armaduras. Os passos para a determinação do teor de cloreto solúvel em água, conforme o procedimento C da ABNT-NBR 14832 (2002) estão descritos a seguir: • Procedimento C – NBR 14832: extração com água a) Pesar (5,000 ± 0,001) g de amostra e transferir para um béquer de 400cm3; b) Adicionar aproximadamente 100cm3 de água quente e agitar por cerca de 10min, manualmente ou através de agitador magnético ou mecânico; c) Filtrar em papel de filtração média para um balão volumétrico de 250 cm3 (V). Lavar com água quente; d) Adicionar lentamente ao balão cerca de 3 cm3 de HNO3, esfriar à temperatura ambiente, completar o volume com água e homogeneizar. • Leitura da amostra e) Com o auxílio de uma pipeta, transferir para um béquer de 150 cm3, 50 cm3 da solução reservada no procedimento C e adicionar 50 cm3 da solução de KNO3 (Vo); f) Imergir os eletrodos na solução e anotar o potencial desenvolvido (Ei) após a estabilização da leitura. Com o auxílio de uma bureta ou multibureta, adicionar sucessivamente de 1 cm3 em 1 cm3 (Vi) da solução padrão 100 ppm em Cl- e anotar o valor do potencial (Ei) e a somatória do volume (Vo + Vi) obtido após cada adição (mínimo de oito adições); 40 g) Calcular para cada adição o potencial P, através da equação: = 10⁄ ( + ) (3.2) onde: P é o potencial calculado, em milivolts; Ei representa os potenciais obtidos após cada adição; Vo é o volume inicial da amostra (amostra + KNO3), em cm3; Vi é o volume da solução-padrão adicionado, em cm3; S é o SLOPE, em milivolts. h) Plotar em papel milimetrado ou em uma planilha eletrônica os valores calculados P em relação ao volume de solução padrão adicionada. Prolongar a reta até que esta intercepte o eixo horizontal e anotar o valor (L, em módulo). Calcular o teor de cloreto conforme a equação a seguir e expressar o resultado aproximado ao milésimo: #= 0,01 ∙ $ ∙ %∙& (3.3) onde: C é a concentração de cloretos, em porcentagem; L é a leitura onde a reta intercepta o eixo horizontal, em módulo; V é o volume do balão utilizado no ensaio, em dm3; A é a alíquota da amostra utilizada na leitura, em dm3; m é a massa da amostra, em g. Salienta-se que o valor da concentração de cloretos, obtido através deste procedimento, é dado em função da massa da amostra, portanto, massa de concreto. Como citado no item 2.3.4, dos diversos valores existentes na literatura para o teor crítico da concentração de cloretos, tem-se como um valor de consenso na maioria das normas o valor de 0,4 % em relação à massa de cimento. Portanto foi realizada uma manipulação algébrica, considerando a massa específica do concreto como sendo igual a 2300 kg/m3, o consumo de cimento do respectivo traço, a massa da amostra de concreto e o teor de cloretos existente na mesma para a obtenção do teor de cloretos em relação à massa de cimento. Nas Figuras 3.11 a 3.16, estão representados os passos para a determinação do teor de cloretos. 41 Figura 3.11: Pesagem de amostra extraída de um corpo-de-prova Figura 3.12: Agitação após adição de água quente Figura 3.13: Filtração da amostra para extração de cloretos solúveis 42 Figura 3.14: Acidificação com ácido nítrico Figura 3.15: Preparação da solução para determinação do SLOPE Figura 3.16: Leitura dos potenciais desenvolvidos (Ei) após cada adição de 1 cm3 da solução de Cl- padrão 100 ppm 43 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados obtidos mostram-se mostra se coerentes com o esperado. Os perfis da deposição de cloretos apresentam a influência típica das características do concreto relacionadas ao transporte desses agentes no mesmo, como a relação a/c e o consumo de cimento. 4.1 Concreto Classe C25 A Tabela 4.1 apresenta a porcentagem de cloretos solúveis em água, em relação à massa de cimento das amostras, amostras determinada conforme o procedimento descrito no Anexo A, A para o concreto de classe C25. A Figura 4.1 apresenta presenta o gráfico dos perfis da concentração de cloretos encontrada ao longo do concreto de cobrimento. Tabela 4.1: Concentração oncentração de cloretos, cloretos em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C25 Profundidade (cm) Concentração de cloretos (% em relação à massa de cimento) 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5ºciclo 0,315 0,058 0,079 0,073 1,199 0,274 0,126 0,072 1,373 0,504 0,164 0,109 1,566 0,470 0,257 0,187 1,719 0,736 0,272 0,175 0,0 a 1,0 1,0 a 2,0 2,0 a 2,5 2,5 a 3,0 25 MPa (a/c = 0,52) 2,0 1º ciclo 1,8 2º ciclo % Cl / massa de cimento 1,6 3º ciclo 1,4 4º ciclo 1,2 5º ciclo 1,0 Ccr = 0,40% 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 Profundidade (cm) Figura 4.1:: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C25 3,0 44 Para o concreto de classe C25, moldado com relação a/c igual a 0,52, os resultados obtidos comportam-se de maneira evidente, isto é, observa-se que o teor de cloretos retidos aumenta com a sucessão da execução dos ciclos e diminui com o aumento da profundidade. A presença de resultados que contradizem a afirmação acima, como, por exemplo, a concentração de cloretos obtida na profundidade de 2,0 cm, a qual, quando da realização do 4º ciclo de umedecimento e secagem, mostra-se inferior àquela determinada para a mesma profundidade quando da realização do 3º ciclo, é um tipo de comportamento que é inerente à própria execução do experimento. Este mesmo comportamento foi encontrado no experimento de Kulakowski (1994), ao avaliar a eficiência de argamassa de traço 1:3 com adição de 10% de sílica ativa, no de Cabral (2000), ao realizar ensaios em quatro argamassas de reparo, e no trabalho de Guimarães et al. (2003), os quais analisaram a influência da distância em relação ao mar sobre a intensidade de ataque de íons cloreto, em duas estruturas localizadas em zona de névoa marinha. A variação da quantidade de cloretos de um ciclo para outro se apresenta mais significativa na profundidade de 1,0 cm. Após a realização do 5º ciclo, a concentração de cloretos verificada para essa profundidade é cerca de 5,5 vezes maior que a concentração obtida quando da realização do 1º ciclo. Na profundidade de 3,0 cm, que é o cobrimento nominal proposto pela NBR 6118 para este concreto, o aumento da quantidade de cloretos, entre o 1º e o 5º ciclo, é de 2,4 vezes. Para esta profundidade, o maior teor de cloretos livres em relação à massa de cimento verificado é de 0,187%, no 4º ciclo, o qual caracteriza-se como um valor inferior ao conteúdo limite para o concreto armado. Dessa forma afirma-se que a condição de despassivação da armadura não foi atingida após a realização de cinco ciclos do ensaio de penetração acelerada de cloretos. 4.2 Concreto Classe C30 A Tabela 4.2 e a Figura 4.2 apresentam, respectivamente, os valores da concentração de cloretos solúveis, em relação à massa de cimento das amostras, e o perfil de penetração dos mesmos para o concreto de classe C30. 45 Tabela 4.2: Concentração oncentração de cloretos, em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C30 Profundidade (cm) 0,0 a 1,0 1,0 a 2,0 2,0 a 3,0 3,0 a 3,5 3,5 a 4,0 Concentração de cloretos (% em relação à massa de cimento) cimento 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5ºciclo 0,723 0,084 0,061 0,066 0,058 0,711 0,166 0,052 0,042 0,033 0,915 0,175 0,031 0,049 0,034 1,229 0,572 0,103 0,040 0,035 1,491 0,382 0,054 0,022 0,028 30 MPa (a/c = 0,51) 2,0 1º ciclo 1,8 2º ciclo % Cl / massa de cimento 1,6 3º ciclo 1,4 4º ciclo 1,2 5º ciclo 1,0 Ccr = 0,40% 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Profundidade (cm) Figura 4.2:: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C30 Para o concreto de classe C30 a penetração penetração de cloretos clor apresenta um comportamento semelhante ao apresentado pelo concreto de classe C25, C25 devendo-se salientar a existência de algumas gumas particularidades. Os resultados mais representativos da frente de ataque por cloretos são observados nas profundidades superficiais de 1,0 cm e 2,0 cm. Ao se analisar os teores de cloretos obtidos nessas profundidades, após os cinco ciclos realizados, realizados observa-se claramente a manifestação do comportamento esperado, que é o aumento do teor de cloretos com o aumento dos ciclos e a diminuição do mesmo à medida que se aumenta a profundidade. Para o primeiro eiro centímetro do cobrimento, cobrimento o aumento do teor de cloretos cloreto livres, do 1º ao 5º ciclo, é igual a 2 vezes. Para a profundidade de 2,0 cm, os valores da concentração 46 de cloretos obtidos são os seguintes: 0,08% no 1º ciclo, um pico de 0,57%, no 4º ciclo e, no 5º e último ciclo realizado 0,38%. Outro acontecimento observado é que, após a realização dos cinco ciclos, os teores de cloretos livres, em relação à massa de cimento, nas profundidades de 3,0 cm, 3,5 cm e 4,0 cm, ficam consideravelmente abaixo do valor crítico e a evolução da realização dos ciclos não acarreta incrementos perceptíveis nos mesmos. Na verdade, os resultados obtidos para essas profundidades indicam que não há frente de ataque por cloretos. Os valores da contaminação por cloretos são tão pequenos que podem ser considerados desprezíveis, ou seja, praticamente não há cloretos naquelas profundidades. As contradições observadas, como o fato de se obter para uma mesma profundidade menores concentrações de cloretos com o passar dos ciclos, podem ser atribuídas aos erros inerentes ao processo, como os erros do operador durante o ensaio químico para a determinação do teor de cloretos da amostra. Embora o concreto de classe C30 tenha sido dosado com praticamente a mesma relação a/c do concreto de classe C25, e produzido sob as mesmas condições de mistura, adensamento e cura, quando se compara os teores de cloretos obtidos nas profundidades de 1,0 cm, 2,0 cm e 3,0 cm do concreto C30 com os teores obtidos nas mesmas profundidades no concreto C25, nota-se que a maioria dos teores observados naquele é inferior aos teores observados neste. Tal fato pode ser atribuído ao consumo de cimento, que é maior no concreto C30 (ver Tabela 3.8). Como citado no Item 2.3.1, o aluminato tricálcico (C3A) e o ferroaluminato tetracálcico (C4AF), presentes na composição química dos cimentos, combinam-se com os cloretos livres, formando cloroaluminatos e, dessa forma, diminuindo o fluxo de penetração de cloretos na solução aquosa dos poros do concreto. Logo, mais íons cloreto ficam retidos quanto mais alto for o teor de C3A e C4AF do cimento, bem como quanto mais alto o teor de cimento da mistura. Além disso, por apresentar maior resistência, o concreto de 30 MPa possivelmente apresenta menor porosidade e permeabilidade. 4.3 Concreto Classe C40 A Tabela 4.3 e a Figura 4.3 apresentam, respectivamente, os valores da concentração de cloretos solúveis, em relação à massa de cimento das amostras, e o perfil de penetração dos mesmos para o concreto de classe C40. 47 Tabela 4.3: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, ao longo da profundidade do cobrimento, por ciclo, para o concreto C40 Profundidade (cm) 0,0 a 1,0 1,0 a 2,0 2,0 a 3,0 3,0 a 4,0 4,0 a 4,5 4,5 a 5,0 Concentração de cloretos (% em relação à massa de cimento) 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5ºciclo 0,558 0,066 0,023 0,042 0,085 0,070 0,612 0,115 0,039 0,030 0,029 0,033 0,943 0,220 0,057 0,020 0,047 0,043 1,168 0,339 0,053 0,057 0,060 0,068 1,219 0,469 0,112 0,054 0,081 0,048 40 MPa (a/c = 0,42) 2,0 1º ciclo 1,8 2º ciclo % Cl / massa de cimento 1,6 3º ciclo 1,4 4º ciclo 1,2 5º ciclo 1,0 Ccr = 0,40% 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Profundidade (cm) Figura 4.3: Perfil de penetração de cloretos livres para o concreto C40 Para o concreto de classe C40, moldado com relação a/c igual a 0,42, os resultados mais representativos são verificados nas profundidades de 1,0 cm e 2,0 cm, onde o comportamento observado da penetração de cloretos trata-se do esperado. O aumento da concentração de cloretos entre 1º e 5º ciclos é de aproximadamente 2 vezes no primeiro centímetro e de 7 vezes no segundo centímetro. A baixa porosidade desse concreto praticamente não permite o ingresso de cloretos para as profundidades maiores que 2,0 cm após a execução dos ciclos de molhagem e secagem. Observa-se que os valores da concentração de cloretos nas profundidades de 3,0 cm, 48 4,0 cm e 5,0 cm ficam na segunda casa decimal, ou seja, são pequenos o suficiente para dar subsídio à afirmação de que os cloretos não atingiram de forma alguma essas profundidades. 4.4 Comparação entre os concretos A análise dos teores de cloretos livres retidos ao longo do concreto de cobrimento dos corpos-de-prova, após a realização dos cinco ciclos de umedecimento com solução 3,5% de NaCl e secagem em estufa a 50 °C, apresenta resultados satisfatórios. Verifica-se que para profundidades superficiais, de 0,0 cm a 1,0 cm, a concentração de cloretos livres determinada apresenta-se superior ao valor admitido pela NBR 7211 logo nos primeiros ciclos, para todas as relações a/c. No entanto, quando se analisa a concentração de cloretos presente nas profundidades de interesse, isto é, onde se localizam as armaduras (ver Tabela 3.9), nota-se valores consideravelmente abaixo do teor crítico de cloretos livres em relação à massa de cimento. Quando as três classes de concreto são comparadas com relação à porosidade da pasta de cimento percebe-se claramente o efeito benéfico da diminuição da relação a/c no retardamento da difusão dos agentes agressivos. Esse comportamento pode ser verificado na Tabela 4.4, que apresenta as concentrações de cloretos obtidas na profundidade de 1,0 cm dos corpos-de-prova, e na Figura 4.4, que expões esses valores em forma de gráfico. Tabela 4.4: Concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 1,0 cm dos corpos-deprova Concreto C25 C30 C40 Concentração de cloretos (% em relação à massa de cimento) 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5º ciclo 0,315 0,723 0,558 1,199 0,711 0,612 1,373 0,915 0,943 1,566 1,229 1,168 1,719 1,491 1,219 49 Quantidade de cloretos na profundidade de 1,0 cm 2,0 Concreto C25 1,8 Concreto C30 % Cl / massa de cimento 1,6 Concreto C40 1,4 Ccr = 0,40% 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 1 2 3 4 5 Ciclos Figura 4.4: Porcentagem de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 1,0 cm dos corpos-deprova Ao se analisar esses resultados (Tabela 4.4 e Figura 4.4), observa-se que quando a relação a/c é diminuída, a concentração de cloretos também diminui, exceto pela comparação entre os concretos no 1º ciclo. Os resultados do 4º ciclo mostram que a quantidade de cloretos presente no concreto C40 é 5,0% inferior à quantidade no concreto C30 e 25,4% inferior à concentração de cloretos encontrada no concreto C25. Ao se analisar o 5º ciclo a redução da concentração de cloretos é de 18,3% na comparação do concreto C40 com o C30 e de 29,1% entre C40 e C25. Já a Tabela 4.5 expõe os valores das concentrações de cloretos livres determinados para a profundidade de 3,0 cm dos corpos-de-prova. Tabela 4.5: concentração de cloretos, em relação à massa de cimento, na profundidade de 3,0 cm dos corpos-deprova Concreto C25 C30 C40 Concentração de cloretos (% em relação à massa de cimento) 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 5º ciclo 0,073 0,061 0,023 0,072 0,052 0,039 0,109 0,031 0,057 0,187 0,103 0,053 0,175 0,054 0,112 Conforme os dados da Tabela 4.5, para o concreto C25, a concentração de cloretos livres em relação à massa de cimento encontrada no 4º ciclo, na profundidade de 3,0 50 cm, ou seja, onde se encontra a armadura, é de 0,187%, quase a metade do valor limite de 0,4%, acima do qual a concentração de cloretos atinge a condição necessária para a despassivação da barra de aço. Para a profundidade considerada, observa-se que o aumento da concentração de cloretos comporta-se como o esperado, exceto no 5º ciclo, onde a quantidade de cloretos foi menor que no 4º. Como já comentado neste capítulo, a quantidade de ciclos de umedecimento e secagem realizados é insuficiente para se obter uma conclusão satisfatória acerca do comportamento da penetração dos cloretos nas profundidades maiores que 2,0 cm, nos corpos-de-prova dos concretos C30 e C40. Os valores das concentrações de cloretos encontrados na profundidade de 3,0 cm, como pode ser visto na Tabela 4.5, assim como para as profundidades de 4,0 cm e 5,0 cm são tão pequenos que se considera que não há cloretos nesta profundidade. Para o concreto C25, os resultados obtidos com a realização dos ciclos possibilitam a utilização da regressão linear para se estimar em qual ciclo do ensaio de penetração acelerada de cloretos o valor crítico de 0,40%, na profundidade de 3,0 cm seria alcançado. A função que representa o comportamento da reta é do tipo f(x) = ax + b, onde f(x) é a concentração de cloretos presente na amostra, em relação à massa de cimento, e x representa o número do ciclo de umedecimento de secagem. Na Figura 4.5 é mostrada, por meio de diagrama de dispersão com linha de tendência linear, a relação entre a concentração de cloretos determinada nas amostras e o número do ciclo de umedecimento e secagem. 25 MPa (c = 30mm) % Cl / massa de cimento 0,5 0,4 0,3 y = 0,0319x + 0,0275 R² = 0,8436 0,2 0,1 0,0 0 1 2 3 4 5 6 Ciclos Figura 4.5: Relação entre a concentração de cloretos e o número do ciclo de umedecimento e secagem para o concreto C25, na profundidade de 3,0 cm 51 Ao se utilizar o modelo de regressão linear para correlacionar a porcentagem de cloretos nas amostras retiradas da profundidade de 3,0 cm do corpo-de-prova do concreto de 25 MPa, após a realização dos cinco ciclos, obtém-se um coeficiente de determinação R2 de 0,8436. Este valor significa que 84,36% da variabilidade em f(x) é explicada pela equação f(x) = 0,0319x + 0,0275. Dessa forma, pela resolução da equação, estima-se que o teor crítico de 0,4% seria atingido quando da realização do 12º ciclo. Para efetuar uma análise semelhante para os concretos de 30 MPa e 40 MPa, deve-se proceder à realização de mais ciclos de umedecimento e secagem até que se atinjam valores significativos da concentração de cloretos nas profundidades das armaduras. 52 5. CONCLUSÕES 5.1 Considerações finais Diante dos resultados obtidos no ensaio de penetração acelerada de cloretos, com a realização de cinco ciclos de umedecimento e secagem, conclui-se que a quantidade de ciclos de umedecimento e secagem executada não é suficiente para contemplar o fim do período de iniciação da corrosão, isto é, os cloretos não chegam a atravessar o cobrimento e atingir a quantidade suficiente para despassivar a armadura, em nenhum dos concretos avaliados. Conforme os resultados verificados para a profundidade de 1,0 cm, pode-se concluir que: − houve redução de, em média, 27% da penetração de cloretos no concreto de resistência característica à compressão (fck) igual a 30 MPa, em relação ao concreto de 25 MPa; − houve redução de, em média, 34% da penetração de cloretos no concreto de 40 MPa, em relação ao concreto de 25 MPa; − houve redução de, em média, 15% da penetração de cloretos no concreto de 40 MPa, em relação ao concreto de 30 MPa; Conforme os resultados verificados para a profundidade de 2,0 cm, pode-se concluir que: − houve redução de, em média, 50% da penetração de cloretos no concreto de 30 MPa, em relação ao concreto de 25 MPa; − houve redução de, em média, 45% da penetração de cloretos no concreto de 40 MPa, em relação ao concreto de 25 MPa; − houve redução de, em média, 31% da penetração de cloretos no concreto de 40 MPa, em relação ao concreto de 30 MPa; Por meio da realização do ensaio de penetração de cloretos é possível verificar efetivamente a influência da relação a/c na qualidade do concreto, isto é, na sua permeabilidade ao ingresso de agentes agressivos. 53 Pode-se afirmar que o método de penetração de cloretos empregado é satisfatório para avaliar qualitativamente o desempenho das classes de concreto caracterizadas pela NBR 8953 (ABNT, 2009), através de comparações, além de proporcionar uma vantagem, que é a de oferecer respostas rápidas. Entretanto o ensaio de penetração de cloretos realizado constitui um método de penetração acelerada e, portanto, não retrata de maneira fiel as condições de exposição a ambientes agressivos às quais as estruturas de concreto armado estão submetidas. As análises realizadas servem para avaliar o material apenas de forma qualitativa. Para se modelar como se dá o comportamento da penetração de cloretos em função do tempo nessas estruturas, de forma a se analisar a real capacidade de proteção que o concreto de cobrimento oferece à armadura, deve-se proceder à realização de ensaios não acelerados, isto é, ensaios de difusão pura ou absorção. Cabe salientar que com os resultados dos ensaios acelerados e dos ensaios naturais (não acelerados) é possível a determinação de um coeficiente (k) que pode simplificar a previsão do comportamento de determinada classe de concreto frente à ação dos cloretos, em determinado local. 5.2 Sugestões para trabalhos futuros A seguir são apresentadas algumas sugestões para que haja a continuidade do estudo sobre o assunto aqui abordado: • Submeter os concretos analisados a mais ciclos do ensaio de penetração acelerada de cloretos, até que se atinja o valor limite desses agentes agressivos nas profundidades de localização das armaduras; • Submeter esses concretos a ensaios de penetração de cloretos não acelerados, ou seja, que empregue um método de difusão pura, em regiões com potencial para lançamento de empreendimentos imobiliários; • Comparar os resultados obtidos nos ensaios acelerados e não acelerados. 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Committee 222. 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