Unidade II Unidade II 2 MRP E A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Objetivos da unidade A necessidade de integração das atividades administrativas nas organizações exige a implementação de recursos capazes de auxiliar no controle dos estoques, 5 da produção, das atividades de suprimento e logística. Assim sendo, a compreensão de uma ferramenta como o MRP torna-se fundamental para vislumbrar os meios modernos que auxiliam a gestão de suprimentos. Por outro lado, nenhuma organização está, hoje, isolada, pois todas 10 pertencem a cadeias de suprimentos, que precisam de gestão. As definições básicas sobre cadeias de suprimentos serão apresentadas nesta unidade. 2.1 MRP e MRPII Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América passaram por um longo período de crescimento, uma 15 vez que tomaram a responsabilidade pela reconstrução de muitos países no pós-guerra, assumindo uma inegável posição de liderança mundial. As indústrias americanas cresceram e tinham presença nos cinco continentes, o que exigia um esforço muito grande de administração de estoques, troca de 20 informações, logística, entre outros, tudo isso em uma época em que os meios de comunicação eram o telex, a carta e o telefone a cabo (que consumia horas para completar uma ligação). 44 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Porém, no fim da década de 1950, os volumes de itens tratados já eram de tal monta que, manualmente, tornava-se impossível fazer um controle razoavelmente correto das necessidades das operações produtivas. Surge então o Material Requirements 5 Planning (MRP) – Planejamento das Necessidades de Materiais –, que permitiu que as empresas começassem a calcular o quanto de determinado tipo de material seria necessário para atender à demanda, e, o mais importante, quando seria necessário. Baseado nos pedidos de clientes e em uma previsão de 10 vendas, o MRP (hoje em dia mais conhecido como MRP1) faz uma avaliação de todos os itens necessários para atender a tais pedidos e previsões, garantindo sua disponibilidade a tempo. É, portanto, um sistema que calcula volume e tempo para grandes quantidades de itens diferentes, o que é 15 extremamente complexo. Manualmente, executar tais cálculos era extremamente desgastante e custoso (muitas pessoas envolvidas no processo, com grande probabilidade de erros). Com o início da utilização industrial dos computadores, a partir dos anos 1960, estava estabelecida a condição de fazer 20 esses cálculos detalhadamente e de forma, para a época, fácil. Desde então, com a popularização do uso dos computadores, que finalmente saíram das grandes salas e chegaram às mesas dos escritórios, muitas oportunidades foram desenvolvidas nos mais diversos ramos do saber, entre eles o da administração e, 25 particularmente, o conjunto de necessidades requeridas para o planejamento das necessidades de materiais, e mais ainda, sua conexão com outras atividades que são relacionadas a esse planejamento. Essa nova versão, mais completa e complexa, é conhecida 30 até os dias de hoje como MRP2 (mais exatamente, sua versão em número romano: MRPII), que deixa de ser um planejamento das necessidade, e passa a ser o Manufacturing Resource Planning – Planejamento dos Recursos de Manufatura. 45 Unidade II Com o MRPII, as organizações passaram a ter a capacidade de visualizar o que a demanda futura, prevista, causa à empresa em termos financeiros, de produção, de engenharia e de necessidade de materiais. Se entendemos que uma simples atividade de planejar n máquinas para executar m tipos diferentes de produtos pode resultar em um número gigantesco, representado por (n!)m possibilidades diferentes de programação, imagine agora o que acontece se a organização produz e comercializa muitos 10 produtos finais, com todas suas possíveis configurações individuais, para muitos clientes, constantes ou não, que geram demanda constante e ocasional ao mesmo tempo. 5 Difícil imaginar uma situação assim? Pense em uma montadora de automóveis que ofereça cinco tipos diferentes de 15 veículos, cada um deles com dois tipos de motorização, dois tipos de câmbio, possibilidade de tração nas quatro rodas para alguns modelos, dez diferentes cores, quinze tipos de acabamentos de bancos, com ou sem direção hidráulica, com ou sem ar condicionado, acabamento “pé-de-boi” ou “de luxe”, etc. O MRPII é a ferramenta capaz de mostrar aos administradores quais serão as necessidades para atender tais situações, gerando a base para o planejamento e para as decisões estratégicas e operacionais. Todavia, fica claro que o MRP é a base do sistema, e que a partir dele pode-se gerir o sistema de materiais integrado 25 com o restante da organização. 20 Começamos assim a buscar entender o que se faz necessário para que a primeira etapa do processo, a gestão dos materiais, possa ser executada de forma adequada. 30 46 Os cálculos de volume e tempo feitos pelos sistemas de MRP necessitam que as informações correspondentes a certas variáveis sejam “carregadas” (inseridas, digitadas) nos arquivos eletrônicos específicos e mantidas atualizadas, de forma que, ao GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA executar a rotina do MRP, tudo seja atualizado. A figura a seguir apresenta os grandes grupos de informações necessárias para carregamento do MRP. Carteira de pedidos MRP I Previsão de vendas Programa-mestre de produção Lista de materiais Planejamento das necessidades de materiais Registro de estoque Plano de materiais Ordens de compra Ordens de produção Figura 17: Esquema do planejamento de necessidades de materiais. Extraída de Slack (2007). Partindo da figura 17, temos como dados de entrada para o 5 processamento do MRP quatro grandes grupos de informações: 10 15 1. A carteira de pedidos, que informa quais pedidos de clientes a organização tem em seus registros e que devem ser atendidos no prazo de tempo contratado. A flexibilidade em aceitar alterações nos pedidos (contratos) de venda depende muito da capacidade da organização de reagir rapidamente a essas alterações. 2. A previsão de vendas, exercício realizado pelo pessoal de marketing/vendas, que informa ao restante da organização o que se espera no futuro próximo em termos de novos pedidos/projetos. Com a carteira de pedidos e a previsão de vendas, a organização consegue fazer um planejamento de necessidades futuras, consideradas no que se denomina Programa-mestre de Produção (Master Production Schedule – MPS). Com esse 47 Unidade II programa, torna-se possível definir necessidades de máquinas e equipamentos, alocação de mão de obra, necessidades de treinamentos, etc., além da previsão de volumes a serem fornecidos para atender aos pedidos em carteira e à previsão 5 de vendas. O Programa-mestre de Produção (MPS) mantém a informação de cada produto final, em termos de demanda e estoque disponível, e faz a projeção futura desse estoque para descobrir as necessidades em termos de componentes e produtos finais 10 a produzir na escala de tempo. A figura 18 mostra os dados requeridos para a elaboração do MPS: Previsão de vendas Carteira de pedidos Restrições de capacidade Programa-mestre de produção Demanda da empresa coligada Demanda de pesquisa e desenvolvimento Necessidade de feiras, promoções e exibições Níveis de estoque Demanda de peças de reposição Necessidade de estoque da segurança Figura 18: Dados de entrada para o Programa-mestre de Produção Extraída de Slack (2007). Como exemplo simples de um MPS, podemos imaginar uma padaria que precisa fazer bolos de fubá todos os dias, para atender à demanda de um asilo que compra esses bolos diariamente. 15 Observar que o principal dado de partida para a programação é o estoque em mãos (bolos de fubá prontos, considerando que a “vida” antes do descarte de cada bolo é de três dias): 48 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Programa-mestre de produção de bolos de fubá Semana 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Demanda 10 10 10 10 15 15 15 20 20 Disponível 20 10 0 0 0 0 0 0 0 MPS 0 0 10 10 15 15 15 20 20 Em mãos 30 Tabela 6: Exemplo de programa-mestre de produção Extraída de Slack (2007). 3. As listas de materiais são documentos técnicos que indicam as necessidades dos itens que compõem cada um dos produtos que foram (pedidos em carteira) / serão (previsão de vendas) vendidos. Receita de bolo de fubá: 4 ovos, 2 xícaras de chá de açúcar, 2 xícaras de chá de trigo, 1 xícara de chá de fubá, 3 colheres de sopa de margarina, 1 xícara de chá de leite, 4 colheres de chá de fermento. 5 10 Tipicamente, uma simples receita de bolo contém uma lista de material que será necessário parta fazer a quantidade de um bolo. 4. Os registros de estoques, que informam a disponibilidade de materiais (itens que compõem os produtos finais, ou produtos finais disponíveis) em estoque e que podem atender o que foi (pedidos em carteira)/será (previsão de vendas) vendido. É possível, assim, imaginar que a quantidade de variáveis e informações que devem ser tratadas ao mesmo tempo, a fim de 15 definir novas necessidades de materiais e prazos de atendimento ao que foi (pedidos em carteira) / será (previsão de vendas) 49 Unidade II vendido, é muito grande. O MRP realiza os cálculos combinando todas essas informações, resultando em informações que são dependentes das informações inseridas nos quatro primeiros itens citados. 5 A partir do processamento do MRP, são geradas as ordens de compra para itens que estão faltando/irão faltar no estoque, os planos de materiais e as ordens de trabalho (ordens de produção). No caso do bolo de fubá, a lista de materiais indica quais 10 e quanto de cada produto necessitamos para fazer o bolo, sem nos preocuparmos com os recursos de transformação (instalações e pessoas) necessários. Mas a observação de uma lista não é tão eficiente como a análise de um desenho que mostra como o produto é composto, denominado 15 estrutura do material: Estrutura de produto para o bolo de fubá Recursos de transformação Fazem parte do processo de produção Recursos a serem transformados Fazem parte da lista de materiais Figura 19: Estrutura de produto para o bolo de fubá. O exemplo acima é, por si, muito simples, uma vez que torna o entendimento do que é uma estrutura de material fácil. Porém, se desejamos analisar algo que seja mais comum nas indústrias do que somente um bolo de fubá, devemos entender que um 20 produto final (que está no nível “zero” da estrutura) é feito de uma série de componentes (que se encontram no nível “um” da estrutura), que, por sua vez nascem de outros componentes ou 50 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA matérias-primas (que se encontram no nível “dois” da estrutura), e assim por diante. Analisando uma caneta Bic Cristal azul, vamos encontrar mais um exemplo simples que mostra como é entendida a 5 estrutura dos materiais: Estrutura do produto Caneta BIC Cristal azul Nível “0” Nível “1” Nível “2” Lista de material 1. Caneta Bic Cristal azul 1.1 Tampa dianteira Caneta Bic Cristal azul 1.2 Carga 1.2.1 Ponta Tampa dianteira Tampa traseira 1.2.2 Tinta azul Carga Corpo 1.2.3 Tubo plástico 1.3 Corpo 1.4 Tampa traseira Ponta Tinta azul Tubo plástico Figura 20: Estrutura e lista de material para uma caneta BIC Cristal azul. Observa-se na estrutura da Bic Cristal algumas características relevantes: 10 15 • não é exatamente o caso de uma única caneta Bic, mas se entendemos que, por exemplo, uma loja de artigos de papelaria nunca iria comprar mil canetas Bic e recebê-las a granel (soltas), mas sim vinte caixas com cinquenta canetas cada, percebemos que, para o fabricante da Bic, existem quantidades múltiplas de alguns itens. Nesse caso, teríamos: - nível “0” = caixa com cinquenta canetas Bic Cristal azuis; - nível “1” = uma caneta Bic Cristal azul; - nível “2” = tampa traseira / carga / corpo / tampa traseira; 20 - nível “3” = ponta / tinta azul / tubo plástico. 51 Unidade II O MRP precisa, assim, conhecer a quantidade necessária de cada item, em cada nível, para multiplicar pelas quantidades necessárias; 5 10 15 20 • não é o caso da Bic Cristal, mas um mesmo item pode aparecer mais de uma vez na estrutura do material. É o caso daqueles araminhos plastificados utilizados para amarrar fios de aparelhos eletroeletrônicos quando novos. Um computador novo, por exemplo, necessita de pelo menos seis desses araminhos para ser despachado. E o MRP deve levar em conta tal multiplicidade, somando as necessidades que aparecem nos diferentes níveis e apresentando uma quantidade final a encomendar; • todo estudo de estrutura se encerra nos itens produzidos pela organização. Se imaginarmos que o fabricante da Bic não produz a tinta, mas compra de outro fabricante, não é a fábrica da Bic que irá controlar as necessidades de estoque do fabricante de tinta. Ele deverá ter seu próprio MRP, enquanto o fabricante da Bic controla o estoque disponível de tinta. Conforme Slack (2007), o MRP é um processo sistemático de tomar as informações de entrada (programa-mestre de produção, listas de materiais e registros de estoque) referentes ao planejamento e calcular a quantidade e o momento das 25 necessidades que irão satisfazer a demanda. O MRP calcula as quantidades de materiais necessários, partindo do programa-mestre de produção, considerando todos os itens do nível “0”, verificando suas listas de materiais, e aí partindo para os demais níveis da estrutura de materiais. 30 Durante o cálculo, é verificada a disponibilidade em estoque dos itens, e então são emitidas as ordens de trabalho ou ordens de compra para as quantidades faltantes a atender as necessidades. A figura 21 mostra a sequência do processo de cálculo do MRP: 52 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Programa-mestre de produção Nível “0” Registro de estoque Ordens de trabalho Itens nível “0” Registro de estoque Lista de materiais Nível “1” Ordens de trabalho Itens nível “1” Registro de estoque Lista de materiais Nível “2” Ordens de trabalho e compra Itens nível “2” Figura 21: Processo de cálculo das necessidades no MRP. Extraída de Slack (2007). Desde a revolução industrial japonesa, “capitaneada”, entre outros, por Deming, ficou claro que a manutenção de estoques deve ser feita de maneira absolutamente estratégica, de forma a direcionar os recursos financeiros para outras áreas de 5 investimento, como pesquisa e desenvolvimento, por exemplo. No processo tradicional de produção utilizado até então pela maioria das organizações ocidentais, a programação era “empurrada”, dando-se entrada nas ordens de produção assim que chegassem à fábrica, gerando altos estoques em processo 10 (estoques de peças entre etapas do processo produtivo) e estoques de produtos acabados antes dos prazos contratados com os clientes finais. Por meio das técnicas japonesas, desenvolveu-se o conceito de programação “puxada”, que é aquela que ocorre a partir do 15 momento em que o cliente solicita a entrega de um produto, 53 Unidade II e então, do último processo produtivo, começa a requisição de componentes “para trás”, no processo produtivo. Como já vimos, esse planejamento elimina desperdícios e estoques em processo. 5 O MRP, além de calcular as quantidades de materiais necessários, também considera o momento em que tais materiais deverão estar disponíveis, ou seja, o quando. Para que isso aconteça, cada componente deve ter, dentro do sistema, “carregada” a informação sobre seu tempo de processamento 10 (lead time). Assim sendo, é possível fazer a programação “para trás”, levando em conta o lead time de cada componente em cada nível da estrutura de material, definindo os momentos em que ordens de fabricação devem ser inicializadas, ou pedidos de compra devem ser emitidos. 15 Para bem entender a programação para trás, vamos utilizar um exemplo (apresentado por Corrêa, 2004) da programação através do MRP para uma lapiseira: Lapiseira P207 Corpo externo 207 Presilha de bolso 10g Miolo 207 Corpo da ponteira Guia da ponteira .01g Plástico ABS Corante azul Borracha Capa de borracha Tampa 2g Tira .1 mm 4x 2 cm Fio de borracha Miolo interno 207 Grafite 0.7 mm 3x 2g Tira . 1 mm Mola Corpo do miolo 7g Plástico ABS Suporte da garra Capa da garra .05g Corante preto Figura 22: Estrutura de produto de uma lapiseira. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). 54 Garras GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA A partir da estrutura de material, pode-se responder a duas questões: o que e quanto produzir e comprar. No exemplo proposto por Corrêa, se desejarmos produzir mil lapiseiras, precisamos comprar quatro mil grafites, produzir mil corpos, e 5 assim por diante, gerando a tabela a seguir: Item produzido Item comprado Qtd. Lapiseira P207 Item comprado Qtd. 1000 Tira 0,1 mm 2 kg Corpo externo 207 1000 Corpo da ponteira 1000 Mola 1000 Miolo 207 1000 Guia da ponteira 1000 Suporte da garra 1000 Tampa 1000 Plástico ABS 10 kg Capa da garra 1000 Borracha 1000 Corante azul 10 g Garras 3000 Capa da borracha 1000 Tira 0,1 mm 2 kg Plástico ABS 7 kg Miolo interno 207 1000 Grafite 0,7 mm 4000 Corante preto Corpo do miolo 1000 Presilha de bolso Qtd. 50 g 1000 Fio de borracha 20 m Tabela 7: Explosão das necessidades brutas. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Uma vez identificada a lista de necessidades, surge a terceira questão, que é o quando. Em que momento produzir ou comprar? Nada deve ser feito antes da real necessidade, pois não se deve estocar nada que não seja estritamente necessário. Assim, as 10 atividades, como vimos antes, devem ser programadas para o momento mais tarde possível, diminuindo os estoques. A tabela abaixo mostra os tempos de obtenção para cada um dos itens da estrutura de material da lapiseira. Lead time (semanas) Item comprado Lead time (semanas) Lapiseira P207 1 Presilha de bolso 1 Tira 0,1 mm 1 Corpo externo 207 2 Corpo da ponteira 2 Mola 1 Miolo 207 1 Guia da ponteira 1 Suporte da garra 2 Tampa 1 Plástico ABS 1 Capa da garra 3 Borracha 1 Corante azul 2 Garras 1 Capa da borracha 1 Tira 0,1 mm 1 Plástico ABS 1 Miolo interno 207 3 Grafite 0,7 mm 2 Corante preto 2 2 Fio de borracha 1 Item produzido Corpo do miolo Item comprado Lead time (semanas) Tabela 8: Lead time para os componentes da lapiseira P207. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). 55 Unidade II Existe agora a condição de “desenhar” a estrutura de material para a lapiseira P207, porém, adicionando os tempos de obtenção e partindo da data de entrega contratada (o que o cliente solicitou). Conforme proposto por Corrêa, os itens são 5 representados não por “caixas”, mas por segmentos de reta, cada segmento correspondendo à escala de tempo utilizada para o gráfico e representando o tempo de obtenção do item, e a estrutura é “desenhada” na horizontal, em vez de ser na vertical. Estrutura de material “desenhada” na vertical e na horizontal Tempo total para obtenção do produto Nível B1 “0” Produto A Lead time Lead time B2 “1” A B Lead time C Lead time B1 B2 Lead time Lead time C B3 “2” Produto B Lead time B3 Tempo Nível Nível Nível Figura 23: Representação da mesma estrutura de material, desenhada na vertical e na horizontal, nesta ultima forma permitindo a informação de tempo. Extraida de Corrêa; Corrêa (2004). 10 56 Assim sendo, no modelo da lapiseira P207, a estrutura de material “desenhada” na horizontal e tendo por referência uma escala de tempo resulta na figura a seguir: GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA LT = Lead time OC = Ordem de compra OP = Ordem de produção Plástico ABS (7g) LT = 3 Corante azul (0.1g) LT = 2 Fio de borracha (2 cm) LT = 1 Capa da garra LT = 3 Plástico ABS (7 g) LT = 1 Mola LT = 1 Suporte da garra LT = 2 13 14 OC capa da garra 1000 OC corante 0,05 kg 15 OC mola 1000 OP corpo OC ABS 7 kg 1000 OC suporte 1000 16 OP miolo int. OC garra 3000 1000 OC corante 0,01 kg 17 OC fio 20 m OC tira 2 kg OC grafite 4000 OC ABS 10 kg Lapiseira LT = 1 Borracha LT = 1 Miolo interno LT = 3 Tira Capa de 1mm (2g) borracha LT = 1 LT = 1 Grafite (4) LT = 2 Corpo do miolo LT = 2 Garra (3) LT = 1 Corante preto (.05g) LT =2 12 Corpo da ponteira LT = 2 Guia pont. LT = 1 Corpo externo LT ≠ 2 Presilha LT = 1 Tira 1mm (2g) Tampa LT = 1 LT = 1 Plástico ABS (10g) LT = 1 18 OP borracha 1000 OP capa 1000 OC corpo 1000 Miolo LT = 1 19 OP miolo 20 OP lapiseira 1000 1000 OP guia 1000 OC tampa 1000 21 Pedido lapiseira 1000 OC presilha 1000 Figura 24: Representação do tempo de obtenção de todos os componentes da lapiseira em uma programação “para trás”. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Ponto para reflexão Você sabia que para efeito de programação de produção é muito comum o uso do calendário de semanas? Cada ano tem 52 semanas, e a semana 1 de cada ano é a que contém a primeira quinta-feira do ano, mesmo que o dia 1º de janeiro seja uma quinta-feira! 57 Unidade II A partir da figura 20, são identificados os momentos em que ações devem ser tomadas nos diferentes instantes de tempo. Dessa forma, as quantidades certas estarão disponíveis no momento certo para a produção da quantidade desejada 5 (resultante da melhor visão de futuro, como o caso do pedido de mil lapiseiras) de produtos acabados. Corrêa (2004) sugere como exemplo a seguinte lista de ações. Semana Ação gerencial referente a pedido de 1000 lapiseiras p/ semana Semana 10 Nenhuma Semana 11 Nenhuma Semana 12 Liberar ordem de compra de 50 g de corante preto Semana 13 Liberar ordem de compra de 1000 capas da garra Liberar ordem de compra de 7 kg de plástico ABS Semana 14 Liberar ordem de compra de 1000 capas da garra Liberar ordem de compra de 1000 suportes da garra Semana 15 Liberar ordem de compra de 1000 molas Liberar ordem de compra de 3000 garras Semana 16 Liberar ordem de produção de 1000 miolos internos Liberar ordem de produção de 10 g de corante azul Semana 17 Liberar ordem de compra de 20 m de fio de borracha Liberar ordem de compra de 2 kg de tira de 0,1 mm Liberar ordem de compra de 4000 grafites Liberar ordem de compra de 10 kg de plástico ABS Semana 18 Liberar ordem de produção de 1000 borrachas Liberar ordem de produção de 1000 capas de borracha Liberar ordem de produção de 1000 corpos externos Liberar ordem de produção de 2 kg de tira de 0,1 mm Semana 19 Liberar ordem de compra de 1000 presilhas de bolso Liberar ordem de produção de 1000 miolos Liberar ordem de produção de 1000 tampas Liberar ordem de compra de 1000 guias da ponteira Semana 20 Liberar ordem de produção de 1000 lapiseiras Semana 21 Entregar as 1000 lapiseiras P207 conforme pedido Tabela 9: Algumas ações que devem ser tomadas tendo por base a estrutura de material. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Partindo-se das listas de materiais e das estruturas de materiais, o MRP pode, muitas vezes, recomendar a aquisição de 10 quantidades que normalmente não são encontradas no mercado, 58 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA como, por exemplo, o plástico ABS, para o qual o sistema requer 7 kg, mas (por exemplo) só é encontrado em embalagens de 50 kg. Tipicamente, é um caso sem solução, obrigando a aquisição dos 50 kg, a utilização dos 7 kg e a armazenagem do excedente. 5 Analisando a estrutura de materiais horizontal, se na semana 21 a empresa tem de entregar mil lapiseiras, e o lead time de montagem é de uma semana, a montagem das mil lapiseiras deve começar obrigatoriamente na semana 20, permitindo que se gaste o prazo de montagem. Como o sistema de cálculo MRP tem como dados de entrada os pedidos de clientes e o planejamento de vendas futuras, além das listas de materiais e dos estoques disponíveis, podemos então simular uma situação para a montagem das mil lapiseiras, tendo em conta os itens de primeiro nível. Corrêa (2004) propôs 15 a seguinte hipótese como exemplo: 10 Item Necessidade (bruta) Disponibilidade para semana 20 Estoque projetado Disponível na semana 20 Necessidade (líquida) de obtenção efetiva Corpo externo 1000 200 800 Miolo 1000 400 600 Tampa 1000 0 1000 Corpo da ponteira 1000 1300 0 Guia da ponteira 1000 500 500 Presilha 1000 1500 0 de bolso Tabela 10: Estoque projetado disponível e cálculo das necessidades. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). A partir dessa primeira planilha, repete-se o processo para os demais níveis da estrutura de material, para trás no tempo: para liberar uma ordem de produção de seiscentos miolos na semana 19, é necessário que os componentes que compõem o miolo 20 estejam disponíveis em quantidade suficiente na semana 19. 59 Unidade II Considerando que também no nível 2 da estrutura de material existia um estoque disponível, o cálculo resulta em: Necessidade (bruta) Disponibilidade para semana 19 Estoque projetado Disponível na semana 19 Necessidade (líquida) de obtenção efetiva Miolo interno 600 250 350 Tira 0,1mm 1000 200 800 Grafites 2400 900 1500 Item Conjunto 600 300 300 borracha Tabela 11: Estoque projetado disponível e cálculo das necessidades para componentes nível 2. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Continuando a repetir o processo, temos a visão geral das necessidades em termos de liberação de ordens de compra e 5 produção. Estoque projetado para a semana 16 garra = 1100 suporte =150 Miolo interno LT = 3 Estoque projetado para a semana 19 miolo = 250 grafite =1500 Garra LT = 1 Estoque projetado para a semana 20 miolo = 400 12 13 Suporte da garra LT = 2 14 15 17 17 OC garra OC grafite OC suporte 0 OC miolo int. 900 200 350 Miolo LT = 1 Grafite (4) LT = 2 18 19 20 OP lapiseira OP miolo 1000 800 Figura 25: Demonstração das necessidades brutas e líquidas para alguns itens da lapiseira. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Não é tema a abordar nesta explicação, mas se torna evidente que qualquer atraso na entrega de algum componente irá provocar o atraso de entrega de todo o lote. Por essa 60 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA razão, a seleção adequada de fornecedores e canais logísticos responsáveis são fundamentais para que o MRP resulte em decisões efetivas e lucrativas. O MRP deve informar a quem está gerenciando o processo 5 quais são as necessidades que a organização deve sanar a fim de atender a uma demanda real (pedidos) e planejada (previsão). Cada software tem sua própria “cara”, isto é, o layout de apresentação varia de caso para caso. Mas, segundo Corrêa (2004), uma forma básica de apresentação dos registros do MRP 10 é dada pela figura abaixo: Hoje Miolo Interno Lote =1 (mínimo) Períodos Necessidades brutas Recebimentos programados 1 2 3 100 4 LT = 3 Recebimento ordens planejadas ES = 0 Liberação ordens planejadas 6 230 400 7 8 380 600 100 380 280 280 380 150 Estoque projetado 5 0 250 250 0 0 0 380 600 380 600 Tabela 12: Registro básico do MRP. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Temos, na tabela 12, todos os registros necessários para identificar o que fazer com o item em questão: • identificação do componente: no exemplo, o miolo interno; 15 • o lote mínimo de compra ou fabricação: no caso 1 como mínimo; • o tempo de obtenção ou produção: lead time (LT); • o estoque de segurança (ES), muitas vezes utilizado como proteção ao sistema produtivo – no caso, igual a zero; 20 25 • os períodos nos quais os eventos devem ocorrer: como já comentado, recomenda-se o uso do calendário de semanas, utilizando como período a semana; • necessidades brutas: são as necessidades de disponibilização do item em cada período futuro, que são saídas esperadas de material de estoque; 61 Unidade II • recebimentos programados: são os materiais que chegam à operação, ficando disponibilizados no estoque; 5 • estoque disponível projetado: são as quantidades do item que sobram no estoque (após o cálculo de quanto existia no estoque, mais as entradas esperadas e menos as saídas esperadas); • recebimento de ordens planejadas: quantidade de material que deverá ficar disponível no início do período correspondente para atender as necessidades brutas; 10 • liberação de ordens planejadas: mostra o período em que as ordens devem ser lançadas e em que quantidade. O lead time é mostrado através do registro da quantidade na linha de recebimento de ordens planejadas. Por exemplo, se tomarmos as colunas correspondentes aos 15 períodos 4 e 5 da tabela 13, teremos a seguinte avaliação: Período 4: Necessidades brutas = ........................................................................................230 Estoque projetado no fim do período 3 = ...............................................380 Recebimento de ordens planejadas no período 4 = ................................0 Portanto, o estoque projetado ao fim do período 4 será = ...........380 – 230 + 0 = 150 Período 5: Necessidades brutas = ......................................................................................400 Estoque projetado no fim do período 4 = ...............................................150 Recebimento de ordens planejadas no período 5 = ..........................250 Portanto, o estoque projetado ao fim do período 5 será = ...........150 – 400 + 250 = 150 Observar que a ordem planejada recebida no período 5 havia sido liberada para produção no período 2. Considerando o lead time de três períodos informados na tabela, temos então o recebimento no período 5, atendendo, assim, à necessidade bruta. 62 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Para que o MRP funcione de maneira adequada e, principalmente, compreensível, algumas informações devem ser predefinidas quando da parametrização do programa, durante sua implantação. Tais parâmetros são importantes em função da 5 estratégia a ser seguida pela organização e compreendem lotes, estoques de segurança e tempos de reposição: 10 15 20 25 30 35 • lotes mínimos: algumas operações necessitam de um volume mínimo de produtos para a abertura de ordens de produção, devido a custos operacionais, entre outras razões. Acima da quantidade prevista no lote mínimo, não existem, em princípio, restrições; • lotes máximos: outras operações apresentam restrições em termos de volume de processamento ou de estoque para aguardar processamento (silos de moinhos de trigo, por exemplo), que não permitem que quantidades superiores às de processamento ou de estocagem sejam solicitadas; • períodos fixos: definem-se períodos de tempo fixos ao longo do planejamento futuro e, em seguida, no início de cada um desses períodos, planeja-se o recebimento dos itens necessários para a produção. As ordens de produção podem ser liberadas em períodos predefinidos; • estoque de segurança: todo processo tem incertezas e, no Brasil, com greves em portos que podem durar meses, impedindo a chegada de mercadorias, ou “sinal vermelho” na liberação alfandegária, ou, ainda, uma máquina que quebra em um fornecedor principal, a possibilidade de atraso na entrega de itens essenciais é bastante provável. Essas inseguranças obrigam os gestores a manter um estoque de reserva para contingências, que se denomina estoque de segurança. Eventualmente pode-se substituir o estoque de segurança por um tempo de segurança, que considera um tempo de planejamento para obtenção dos itens maior que o real e, dessa forma, protegendo a produção quando algo errado acontece. A tabela abaixo mostra um registro de MRP considerando a existência de um estoque de segurança: 63 Unidade II Miolo interno Lote =1 (mínimo) LT = 3 ES = 200 Períodos Necessidades brutas 1 2 100 Recebimentos programados 3 4 5 6 230 400 380 600 380 280 380 380 200 200 200 200 200 Estoque projetado 50 Recebimento ordens planejadas Liberação ordens planejadas 50 400 400 380 600 Observar, por exemplo, no período 4, que, mesmo existindo um saldo de 380 itens no fim do período 3, e o recebimento de uma ordem planejada de 50 itens no período 4, o MRP considera a necessidade de manter um estoque de segurança de 200 itens, 5 que resulta no período 4 como estoque projetado; • tempo de obtenção ou lead time: é o tempo de ressuprimento, ou seja, o tempo gasto desde a liberação das ordens de compra até a disponibilidade do material para consumo da produção. Até agora apresentamos o MRP aplicado para um item único de determinada estrutura de material, porém, já vimos que, como no caso da Bic ou da lapiseira, existem muitos componentes que devem ser planejados para que o lote final de canetas ou lapiseiras seja entregue na data final planejada. Lapiseira P207 Miolo 4x Miolo interno Grafite 3x Suporte da garra Garras Figura 26: Parte de estrutura de material a ser analisada e planejada pelo MRP. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). 64 8 100 Tabela 13: Registro básico do MRP considerando estoque de segurança. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). 10 7 380 600 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA A estrutura acima torna-se muito mais complexa no momento em que tentarmos visualizar todos os registros do MRP correspondentes ao trecho: Lapiseira Liberação de ordens 300 Miolo Lote Mínimo 300 LT = 1 ES = 0 1 Necessidades brutas LT = 2 ES = 250 LT = 3 ES = 300 Estoque disponível 350 LT = 2 ES = 100 5 6 200 350 50 50 Ordens planejadas 150 150 150 300 Liberação de ordens 300 1 2 Necessidades brutas 3 4 5 1200 500 7 8 500 500 0 0 350 500 1000 9 10 1000 360 600 6 7 1400 2000 650 650 1500 2000 0 0 1000 1000 8 9 10 4000 Recebimentos programados Estoque disponível 250 250 250 Ordens planejadas 550 550 550 1500 Liberação de ordens 1500 1 2 3 Necessidades brutas 300 Recebimentos programados 300 Estoque disponível 300 300 300 300 1500 2000 4 5 300 300 Ordens planejadas Liberação de ordens Suporte garra Lote Mínimo 500 4 500 Recebimentos programados Miolo interno Lote Lote a lote 3 300 Grafite Lote Múltiplo 500 2 200 1 2 Necessidades brutas 350 500 3 4 350 500 270 270 500 500 650 650 650 4000 4000 6 7 350 500 300 300 350 500 8 9 10 1000 300 300 300 1000 1000 5 6 7 8 9 10 100 100 100 100 7 8 9 10 150 150 150 150 1000 Recebimentos programados Estoque disponível 120 120 120 Ordens planejadas Liberação de ordens Garra Necessidades brutas Lote =1 Recebimentos programados Mínimo 1500 Estoque disponível 450 LT = 1 Ordens planejadas ES = 150 Liberação de ordens 500 500 1 2 450 450 1500 270 100 830 830 3 4 1050 1500 900 900 1500 1500 5 6 3000 900 150 2250 2250 Figura 27: Cálculo de necessidades ao longo da estrutura. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). 65 Unidade II Observar que os suportes da garra e as garras ficam prontos sempre um período antes do miolo interno, e que, por sua vez, o miolo interno e o grafite ficam disponíveis sempre um período antes do término do lote de lapiseiras. 5 10 O MRP é, assim, um método que realiza todas as rotinas de cálculo de necessidades, vindo do ponto mais alto da estrutura até o ponto mais baixo, até que todos os itens necessários estejam calculados e planejados. Em resumo, conforme Slack (2007): O processo do MRP 1: • “explode” o programa-mestre da produção; • identifica que componentes e montagens são necessários; 15 • verifica quando os componentes e as montagens necessários estarão disponíveis; • para cada componente ou montagem que é necessária, mas não disponível, identifica quando o trabalho de produção precisa começar para que o item esteja disponível até a data requerida; 20 • gera as ordens de produção e pedidos de compra; • repete o processo para o próximo nível da lista de materiais. Dessa forma, o MRP 1 consegue atender ao requisito básico de planejar as necessidades de materiais e lançar ordens de 25 produção e pedidos de compra. Todavia, o uso do MRP 1 somente não contempla o uso dos recursos, pois trata dos materiais e considera os tempos de obtenção (lead time) como válidos sempre. Resulta em uma abordagem de capacidade infinita, isto é, a fábrica deveria ser suficientemente “elástica” para acomodar 30 a fabricação das necessidades planejadas fosse quando fosse. 66 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA A realidade nas fábricas não é assim, e faz-se obrigatório um ajuste à capacidade disponível, surgindo os gargalos (pontos de estrangulamento do processo, máquinas mais lentas) e os recursos-chave (processos por si só mais complexos). O 5 programa-mestre de produção deve então ser ajustado. Uma forma de fazer tal ajuste é utilizar o MRP 1 de ciclo fechado, que, ao mesmo tempo que verifica as necessidades de materiais, confere se a capacidade de fabricação correspondente está disponível e, nos casos em que não 10 se consegue o equilíbrio, realiza-se novamente o ciclo do MRP 1, gerando novos planos corrigidos e adequados ao momento. Plano de materiais Plano de capacidade Planejado fabricar uma quantidade por mês Plano de produção Realístico? Plano de produção É possível fabricar a quantidade requerida por mês? Quais recursos são necessários? Planejado fabricar uma quantidade para certa data Plano de produção Realístico? Plano de produção É possível fabricar a quantidade solicitada para a data requerida? Portanto, uma certa quantidade de montagens será necessária para certa data Plano de produção Realístico? Plano de produção É possível montar a quantidade requerida para a data solicitada? Figura 28: MRP de ciclo fechado. Extraída de Slack (2007). Porém, o sucesso do seu uso chamou a atenção para a aplicação do conceito nas demais partes das organizações. O 15 criador do MRP, Oliver Wight, definiu o novo MRP, chamado de MRP 2 (MRP II) como sendo “(...) um plano global para o planejamento e monitoramento de todos os recursos de uma empresa de manufatura: manufatura, marketing, finanças e engenharia”. 67 Unidade II O grande sucesso do sistema está na integração de informações e sua manutenção ao longo do tempo, ou seja, qualquer mudança em um produto desenvolvida pela engenharia é imediatamente repassada para as demais 5 áreas, gerando inclusive novas reservas de materiais por suprimentos, e assim por diante. Toda a empresa passa a utilizar o mesmo banco de informações, conforme suas características funcionais, diminuindo a incidência de erros. Porém, como cita Slack 10 (2007), enquanto não existir uma real inteligência artificial, não haverá forma de um computador substituir a inteligência, a intuição e a experiência local do pessoal de fábrica. Ou seja, o final dos MRPs sempre dependerá dos gestores para a tomada final de decisões. Marketing Finanças Sistema central de dados Produção Engenharia Figura 29: Conceito geral do MRP II. Extraída de Slack (2007). 2.2 Gestão na cadeia de suprimentos 15 Cadeias de suprimentos Segundo o dicionário da American Production Inventory Control Society, uma cadeia de suprimentos (supply chain) pode ser definida como: 20 68 • os processos que envolvem fornecedores – clientes e ligam empresas desde a fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado; GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA • as funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor possa fazer e providenciar produtos e serviços aos clientes. Para o Supply Chain Council (www.supply-chain.com), uma 5 cadeia de suprimento abrange todos os esforços envolvidos na produção e liberação de um produto final, desde o (primeiro) fornecedor do fornecedor até o último cliente do cliente. Quatro processos básicos definem tais esforços: • planejar (plan); 10 • abastecer (source); • fazer (make); • entregar (delivery). O bom entendimento de uma cadeia de suprimentos passa pela identificação, na cadeia, da empresa-foco, aquela que se 15 pretende estudar. A partir dessa seleção, a cadeia de suprimentos passa a ser vista pela perspectiva dessa empresa-foco. Fornecedores de segunda linha Fornecedores de primeira linha Empresafoco Sentido montante “rio acima”. Na direção dos fornecedores. Clientes de primeira linha Distribuidor Clientes de segunda linha Varejista Clientes final Sentido jusante “rio abaixo”. Na direção dos consumiddores. Figura 30: Representação de uma cadeia de suprimentos. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Fluxos dentro da cadeia de suprimentos Uma excelente analogia para bem entender uma rede de suprimentos foi feita por Martel (2008), ao comparar uma rede 20 com uma rede formada por tubos de diferentes diâmetros e 69 Unidade II capacidades, que representam os gargalos ou os recursos com sobra de capacidade: Figura 31: Comparação entre vasos comunicantes e o fluxo em uma rede de suprimentos. Extraída de Martel; Vieira (2008). O modelo demonstrado na figura 31 mostra de forma clara que em cada etapa da rede (representada pelos 5 diferentes diâmetros de tubos) existe a necessidade de um intenso planejamento e controle, assim como fica evidente que a capacidade, o volume e a vazão (demanda) tornamse fundamentais para as atividades de planejamento e controle. Como forma de representar cada etapa, a linha inferior 10 utiliza símbolos comuns para a visualização de diferentes funções/atividades dentro do processo produtivo: Estoque Transporte Início/Fim Operação Demora/Atraso 70 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA O correto gerenciamento das atividades envolvidas nos processos da rede de suprimentos gera uma vantagem competitiva importante para o desenvolvimento da organização. 5 O planejamento e o controle do fluxo de recursos que atravessam e são transformados na rede de suprimentos (mercadorias, informação, dinheiro), através das atividades de produção, permitem à empresa oferecer os produtos e os serviços que serão consumidos pelos clientes. O gerenciamento de uma cadeia de suprimentos exige o domínio de certos conceitos, como o da capacidade imposta por recursos existentes (pessoas, máquinas, edifícios, etc.), pelo estoque de materiais acumulado nos diferentes pontos da rede de suprimentos, pela velocidade de escoamento dos materiais 15 na rede e pelos gargalos ou restrições à capacidade dos elos mais fracos da rede. 10 O atendimento eficaz dos clientes, fazendo com que o fluxo de saída da rede seja igual à demanda esperada pelos consumidores, requer a coordenação das atividades de 20 transporte, movimentação, fabricação, montagem, estocagem, venda, distribuição, etc. ao longo da cadeia de suprimentos. Exige-se uma intensiva troca de informações entre os elos da rede, assim como um planejamento antecipando as necessidades dos clientes (prevendo), resultando no planejamento de vazão e 25 volume na rede. Assim sendo, a gestão do fluxo de mercadorias numa cadeia de suprimentos exige um encadeamento de distintas atividades de planejamento e controle, encadeamento conseguido exclusivamente através da informação, que se 30 torna mais uma matéria-prima. A forma como o planejamento e o controle irão ocorrer irá depender: • da forma de gerenciamento utilizada para transmitir a informação pela cadeia de suprimentos e das 71 Unidade II decisões subsequentes em termos de planejamento e controle; 5 • dos métodos definidos para a tomada de decisões e a execução das mesmas quanto a volume e vazão (demanda). Custos logísticos, qualidade de serviços prestados e tempos de ciclo dependem das estratégias escolhidas. Tipicamente, as cadeias logísticas se dividem em segmentos interconectados (elos), podendo ser identificados quatro 10 elos principais: Venda – Distribuição – Produção – Suprimento Cada atividade acima começa em função de algo que dispara o processo: um cliente chegando a uma loja, um pedido que chega a um centro de estoque, incluindo-se as 15 atividades de preparação, execução e finalização. Conforme Martel (2008), algumas atividades associadas aos ciclos da cadeia logística são mostrados na tabela 14: Cliente Varejista Distribuidor Fabricante Fornecedor Ciclos Venda Distribuição Produção Suprimento Desencadeamento Chegada de um cliente Necessidade Momento do Momento do em termos de pedido pedido matéria-prima Preparação Lançamento do pedido Lançamento Programação do pedido da produção Execução Coleta e expedição Finalização Coleta e expedição Produção e expedição Lançamento do pedido Coleta e expedição Entrega no Entrega no Entrega no Entrega no destino final destino final destino final destino final e e pagamento e pagamento e pagamento pagamento Tabela 14: Ciclos da cadeia logística. Extraída de Martel; Vieira (2008). A estratégia a ser utilizada por cada organização fundamenta-se na natureza e em práticas históricas do setor 20 de atuação, somadas às estratégias próprias da empresa. 72 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA A demanda na cadeia de suprimentos Fornecedores de segunda camada Fornecedores de primeira camada Clientes de primeira camada Empresafoco Lado do fornecedor Clientes de segunda camada Lado da demanda Gestão de compras e suprimentos Gestão da distribuição física Logística Gestão de materiais Gestão de cadeia de suprimentos Figura 32: Termos utilizados para descrever a gestão de diferentes partes da cadeia de suprimentos. Fonte: Slack (2007). A gestão da cadeia de suprimentos enxerga a cadeia completa como um sistema a ser gerenciado, podendo ser definida como a gestão da cadeia completa do suprimento 5 de matérias-primas, manufatura, montagem e distribuição ao consumidor final. Assim, por incluir todos os estágios no fluxo total de materiais e informações, precisa também incluir considerações sobre o cliente final, que é o único que tem a moeda “real” em toda a 10 cadeia de suprimentos. Todos os negócios na cadeia de suprimentos transferem, de um para outro, porções do dinheiro do cliente final, cada um retendo a margem correspondente ao valor por ele agregado. 15 A empresa-chave ou foco numa cadeia é aquela mais forte, que está na posição de influenciar e dirigir as demais, para que trabalhem juntas na causa comum de obter e reter os clientes finais. McDonald’s, Dell Computadores, 73 Unidade II Volkswagen, Wall-Mart são alguns exemplos muito bons de empresas-chave, que “dirigem” a cadeia de suprimentos em que estão inseridas. Utilizar a abordagem holística (de toda a rede) para 5 gerenciar a cadeia de suprimentos resulta em novas oportunidades de análise e aprimoramento, localizando focos de atraso ou oportunidades para reduções potenciais de custos. Observar que o conceito de coordenar estrategicamente 10 cadeias de suprimentos formadas de negócios de diferentes propriedades e gerenciados por diferentes pessoas, cada uma com seus objetivos, parece atrativo, mas um pouco desencorajador. Em longas cadeias de suprimentos envolvendo vários 15 negócios, não é fácil coordenar toda a cadeia, em particular quando parte da cadeia atende a dois conjuntos de clientes finais. Forrester (1961) demonstrou que existe certa dinâmica entre empresas, numa cadeia de suprimentos, que causa erros, 20 desvios e volatilidade, e que tais desvios são crescentes para as empresas mais à montante da cadeia de suprimentos. O denominado efeito Forrester é similar ao jogo do telefone sem fio: quanto maior o número de participantes do jogo, maior tende a ser a distorção. Quando o jogo termina e o último 25 participante fala em voz alta a mensagem, em geral, nada tem a ver com a mensagem original. O efeito Forrester não é causado por erros e distorções, mas pelo desejo racional e compreensível de cada um dos diferentes elos da cadeia de suprimentos de gerenciar 30 suas taxas de produção e níveis de estoque de maneira independente. 74 Mês GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fornecedor Est. inic. Prod. Est. fin. 1500 0 1500 1500 0 1500 1500 500 1000 1000 1800 1400 1400 0 1400 1400 0 1400 1400 0 1150 1150 2250 1700 1700 4500 3100 Montador Est.inic. Prod. Est.fin. 800 0 800 800 0 600 600 1000 800 800 1400 1100 1100 0 700 700 0 350 350 250 300 300 1700 1000 1000 3100 2100 Distribuidor Est. inic. Prod. Est. fin. 1200 0 1000 1000 200 600 600 800 700 700 1100 900 900 400 650 650 350 500 500 300 400 400 1000 700 700 2100 1400 Varejista Est. inic. Prod. Est. fin. 600 200 400 400 600 500 500 700 600 600 900 750 750 650 700 700 500 600 600 400 500 500 700 600 600 1400 1000 Marketing Demanda 400 500 600 750 700 600 500 600 1000 Estoque final deve ser igual à demanda do mês. Tabela 15: Flutuação dos níveis de produção ao longo da cadeia de suprimentos, devido a uma pequena mudança na demanda do cliente final. Extraída de Corrêa; Corrêa (2004). Pode-se observar que, quanto mais à montante (para a direita, sentido fornecedores) da rede de suprimentos estiver a empresa, mais drásticas serão as flutuações causadas por uma mudança na demanda do cliente final. A decisão sobre quanto 5 produzir em cada período foi governada pela seguinte relação: Total disponível para a venda em qualquer período = Total requerido no período. Estoque Inicial + Taxa de produção = A demanda + Estoque inicial. 10 Estoque Inicial + Taxa de produção = 2 x demanda (porque o estoque inicial deve ser igual a demanda). Taxa de Produção = 2 x demanda – Estoque inicial. 75 Unidade II O exercício não inclui nenhum período de defasagem entre a ocorrência da demanda em determinada parte da rede e sua transmissão ao fornecedor. Na prática, porém, tal defasagem existe, fazendo com que as flutuações sejam ainda maiores. 5 Além disso, a maneira como os diferentes integrantes da rede definem seus lotes de produção pode causar distorções, que fazem com que os volumes de produção variem nos fornecedores à montante, alternando momentos de não produzir nada com outros que exigem horas extras. 76