Colégio IMPULSO – Prof.: Ramon Lamar
ORIGEM DA VIDA
A função dos cientistas é buscar evidências, explicações e realizar experimentos
na tentativa de encontrar uma interpretação científica para qualquer fenômeno
observável (fato). Isso, evidentemente, inclui o surgimento do primeiro ser vivo.
Durante muitos anos duas correntes defenderam acirradamente suas
explicações sobre a origem dos seres vivos: alguns acreditavam que a vida
poderia originar-se da matéria morta (abiogênese ou geração espontânea) e
outros acreditavam que os seres vivos só podiam originar-se de outros préexistentes (biogênese).
O poeta romano Virgílio (70 a.C. - 19 a.C.) garantia que moscas e abelhas nasciam de cadáveres em putrefação. Na Idade Média, Aldovandro afirmava que o
lodo do fundo das lagoas originava patos e morcegos. O padre Anastásio
Kircher (1627-1680), professor de Ciência do Colégio Romano, explicava a
seus alunos que do pó de cobra, espalhado pelo chão, nasceriam muitas
cobras. No início do século XVII, o médico Jan Baptiste van Helmont, de
origem belga, ensinava como produzir ratos e escorpiões a partir de uma camisa
suada, trigo e queijo.
Em meados do século XVII, o naturalista italiano Francesco Redi elaborou
experiências que, na época, abalaram profundamente a teoria da geração
espontânea. O clássico experimento de Francesco Redi mostrou que vermes
que apareciam na carne em decomposição não se originavam da matéria morta,
e sim de ovos que as moscas haviam depositado sobre a carne. Este
experimento foi muito importante no estabelecimento da biogênese mas não foi
o suficiente para convencer as pessoas sobre o surgimento dos microorganismos em caldos de cultura. (As pessoas acreditavam que eles eram muito
pequenos para possuir órgãos reprodutores, portanto só podiam se originar por
geração espontânea).
EXPERIMENTO
DE REDI
Em 1745, John Needham aqueceu caldo de frango e legumes em tubos de
ensaio, fechou-os e aqueceu-os novamente. Depois observou que ficavam
repletos de micro-organismos. Poucos anos depois, Lazzaro Spallanzani
repetiu a experiência de Needham, porém, aquecendo os tubos de ensaio por
uma hora. Nesse caso, as amostras nos tubos de ensaio mantiveram-se
estéreis por vários meses. Spallanzani concluiu que o aquecimento feito por
Needham não foi sufi-ciente, permitindo a sobrevivência de micro-organismos
que se multiplicavam pos-teriormente. Needham contra-argumentou dizendo
que o aquecimento excessivo teria destruído a "força vital", necessária para o
surgimento dos seres vivos.
Os experimentos de Pasteur (feitos entre 1860 e 1864) colocaram um ponto final
na polêmica biogênese x abiogênese. Ele demonstrou, utilizando os frascos
"pescoço-de-cisne" e uma fervura prolongada do caldo nutritivo, que os microorganismos que surgem nestes caldos (e que provocam a putrefação dos
mesmos) estão presentes no ar na forma de esporos e que estes esporos simplesmente contaminam os caldos. Com o gargalo curvo e cheio de vapor
conden-sado em seu interior, os micro-organismos não conseguiam atingir o
caldo nutritivo, que permanecia estéril por anos. Entretanto, bastava quebrar o
pescoço do frasco para ocorrer a contaminação e proliferação de bactérias no
meio.
EXPERIMENTO DE PASTEUR
Mas esta conclusão deixou uma questão a ser respondida. Se seres vivos só se
originam de outros pré-existentes, como surgiu o primeiro ser vivo?
BIOLOGIA - 1
É evidente que uma explicação aventada é a da criação. De acordo com os
criacionistas, os seres vivos teriam sido criados por uma entidade especial (um
ou mais deuses). Esta explicação, apesar de fortemente entranhada em várias
culturas, carece de rigor científico, sendo um produto de crença pessoal ou fé.
Outra explicação interessante é a da panspermia cósmica (de Arrhenius). De
acordo com essa hipótese os organismos vieram do espaço na forma de
esporos ou sementes, que poderiam ser transportados em cometas ou corpos
similares. Apesar de frequentemente voltar à evidência, esta teoria apenas
transfere o problema da origem da vida para um ponto desconhecido do
universo.
A explicação mais aceita no mundo científico é a Hipótese de Oparin-Haldane.
Para estes pesquisadores a vida teria se originado a partir da evolução lenta
e gradual de sistemas químicos.
Para entender melhor esta hipótese devemos imaginar como era nosso planeta
em torno de 4 bilhões de anos atrás, um pouco antes de surgir o primeiro
organismo. A atmosfera era formada de gás hidrogênio, gás metano, amônia
e vapor d'água. Numerosas formas de energia (calor, descargas elétricas na
atmosfera, radiação ultravioleta e radioatividade natural) contribuíram para
que estes gases reagissem entre si formando moléculas mais complexas. Desta
forma, ao longo de milhões de anos, formaram-se moléculas como
carboidratos, lipídeos, aminoácidos e nucleotídeos.
Esta hipótese de formação de moléculas orgânicas na ausência de seres vivos
(síntese pré-biótica) foi demonstrada em laboratório por Stanley Miller. O
experimento de Miller constou em se colocar em um recipiente previamente
esterilizado os gases da atmosfera primitiva submetidos a calor e descargas
elétricas. Após 24 horas ele verificou que 45% do carbono presente no gás
metano havia sido convertido em aminoácidos e outros compostos orgânicos
no interior do recipiente. Outros pesquisadores obtiveram compostos como
bases nitrogenadas, e até mesmo ATP, mediante variações no tipo e nas
quantidades dos reagentes utilizados.
EXPERIMENTO DE MILLER
Estas moléculas iam se agregando e formando combinações mais complexas.
Aglomerados destas moléculas devem ter se formado nos mares rasos
primitivos. Estes aglomerados - denominados coacervados, microsferas ou
lipossomos - seriam envoltos inicialmente por uma membrana de hidratação que
gradativamente foi substituída por uma membrana lipídica bimolecular.
O ponto culminante deste processo ocorreu quando o aglomerado adquiriu uma
molécula semelhante ao ácido nucleico. Admite-se que o primeiro ácido nucleico
tenha sido mais semelhante ao RNA do que ao DNA. Adquirindo o ácido
nucleico, esse aglomerado de moléculas passou a contar com uma maior autonomia e aí deve ter se originado a primeira célula, semelhante a uma célula
bacteriana, ou seja, procariota. Estima-se que isso tenha ocorrido a 3,8 bilhões
de anos atrás. As primeiras células eucariotas surgiram a "apenas" 1,5 bilhão de
anos atrás. (Dados recentes indicam que os eucariotos podem ter se originado a
2,5 bilhões de anos atrás.)
Qual teria sido o mecanismo de obtenção de energia utilizado pelas
primeiras células? Admite-se que estas células utilizaram um processo bem
simples, como a fermentação. Elas devem ter fermentado a matéria orgânica
que existia nos oceanos (como resultado da síntese pré-biótica), denominada
sopa primitiva ou caldo primordial. A fermentação liberou grandes
quantidades de gás carbônico para a atmosfera. A presença do gás carbônico
propiciou o sucesso de organismos fotossintetizantes que devem ter surgido em
seguida. Estes seres produziam matéria orgânica e gás oxigênio. A presença do
gás oxigênio na atmosfera foi fundamental para o sucesso de organismos
capazes de realizar processos oxidativos mais elaborados como a respiração
aeróbica. Também é importante lembrar que o surgimento da fotossíntese
renovou o estoque de matéria orgânica no planeta. Caso a fotossíntese não
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houvesse surgido, a vida microbiana fermentadora teria desaparecido após o
esgotamento do caldo primordial. Desta forma, admite-se que a sequência tenha
sido:
FERMENTAÇÃO
CO2
FOTOSSÍNTESE
O2
RESPIRAÇÃO
AERÓBICA
A esta hipótese damos o nome de hipótese heterotrófica (porque o primeiro
ser teria sido um procarioto fermentador). Alguns cientistas admitem que havia
uma boa quantidade de gás carbônico na atmosfera primitiva. Estes acreditam
que o primeiro ser vivo teria sido capaz de realizar fotossíntese, é a hipótese
autotrófica.
É importante lembrar que o processo de síntese pré-biótica não funciona na
atmosfera atual. Nossa atmosfera tem oxigênio molecular que oxida qualquer
molécula orgânica que ocasionalmente se forme. A atmosfera primitiva era
redutora, não tendo este efeito.
EVOLUÇÃO ORGÂNICA
Como surgiu a diversidade de seres vivos que temos hoje? Mais uma vez
as convicções religiosas apontam para a criação divina. Deus ou deuses teriam
criado todas as formas de vida conhecidas, é a hipótese criacionista. Junto a
esta hipótese caminha uma outra ideia que é o fixismo. Os fixistas acreditam
que os seres vivos são, hoje, do mesmo jeito que eram quando foram criados
(“as espécies são fixas e imutáveis”). A ideia fixista nega frontalmente a ideia
evolucionista.
A descoberta dos fósseis trouxe novas hipóteses para explicar as evidentes
mudanças ocorridas com os seres. O catastrofismo (de Cuvier) era uma ideia
que procurava conciliar o criacionismo com os fósseis conhecidos. Segundo
Cuvier, teria ocorrido mais de uma criação. Deus teria criado os seres e, não
estando satisfeito com a criação destruiu tudo (formando os fósseis). Depois
criou de novo e destruiu tudo de novo. Assim sucessivamente até se dar por
satisfeito. Isso explicaria a existência de fósseis mais simples em camadas mais
profundas e fósseis mais complexos em camadas mais superficiais
(estratigrafia).
Não demorou muito para que surgissem as ideias evolucionistas. O
evolucionismo parte do princípio que os seres sofrem modificações ao
longo de sua história tornando-se melhor adaptados ao ambiente. As
divergências existem em relação ao mecanismo pelo qual a evolução ocorre.
Podemos distinguir três ideias, que surgiram em sequência, para explicar a
evolução. Passemos a elas.
 Lamarquismo (de Jean-Baptiste Lamarck, 1809)
Para Lamarck, o ambiente em mudança altera as necessidades de um
organismo, que responde alterando seu comportamento, usando mais alguns
órgãos do que outros. O evolucionismo de Lamarck baseia-se em dois
princípios:
- Lei do Uso e Desuso: Quanto mais um órgão é usado, mais ele se
desenvolve. Quanto menos é usado sua tendência é atrofiar.
- Herança dos Caracteres Adquiridos: As modificações criadas pela lei do
uso e desuso passam para os descendentes, que, desta forma, tornam-se
melhor adaptados ao ambiente.
A lei do uso e desuso contém alguma verdade. Entretanto, o tamanho dos
órgãos não pode exceder a determinados limites que são impostos pelo
genótipo do indivíduo (norma de reação). Já a herança dos caracteres
adquiridos é uma ideia impossível. Weissman foi um dos primeiros a demonstrar
que o que passa para a descendência é apenas o conteúdo das células
germinativas (germe). O conteúdo das células somáticas (soma) não passa
para os descendentes. Sendo assim, o esforço feito por um halterofilista em
anos de treinamento altera as células somáticas dos músculos do braço, mas
não pode passar para o descendente.
Exemplos clássicos das ideias de Lamarck são o aumento do pescoço da girafa
(originado pelo esforço em alcançar os galhos superiores das árvores) e o
desaparecimento das patas dos répteis originando as cobras (atrofia das pernas
que não eram usadas quando o réptil se movia no interior de túneis).
Apesar de errônea, a concepção de Lamarck é importante por se tratar da
primeira ideia evolucionista de grande repercussão. Um ponto interessante da
teoria de Lamarck é sua facilidade de compreensão. Muitos leigos acreditam
que a evolução ocorra exatamente dessa forma, pois faltam-lhes conhecimentos
de genética.
BIOLOGIA - 2
 Darwinismo (de Charles Darwin e Wallace, 1859)
O jovem naturalista Charles Darwin, então com 22 anos, partiu para uma
viagem a bordo do navio inglês H.M.S. Beagle que daria volta ao mundo (de
1831 a 1836). Foi durante esta viagem que Darwin começou a esboçar sua
teoria para a origem da diversidade de seres vivos. Diversas observações foram
colhidas ao longo da viagem, principalmente no arquipélago de Galápagos.
Neste arquipélago sua atenção foi atraída pela variedade de tentilhões (um tipo
de pássaro). Darwin começou a suspeitar de que estes pássaros descendiam
de um ancestral comum que teria habitado as ilhas. Talvez estes pássaros eram
produto de um mecanismo semelhante ao da seleção que era feita pelos
criadores de pombos, cavalos ou cães. A dificuldade era explicar como essa
seleção podia acontecer na natureza. A observação da variedade de tartarugas
existentes entre as diversas ilhas também chamou a atenção de Darwin.
Os tentilhões das
ilhas Galápagos
Arborícola e
Insetívoro
Arborícola e
granívoro
Vive no solo e
granívoro
A leitura atenta das ideias de Thomas Malthus (sobre o crescimento das
populações) e de Charles Lyell (sobre geologia e as alterações que ocorrem no
planeta) levou-o mais próximo de suas conclusões.
Quando estava a ponto de publicar suas teorias, cuja publicação sempre era
adiada (deste 1844 quando começou a esboçá-las) com receio das
perseguições que sofreria, Charles Darwin recebeu uma carta de Alfred Russel
Wallace. Nesta carta havia um artigo para ser lido - e se de acordo - publicado.
Qual não foi a surpresa de Darwin ao reconhecer neste artigo sua própria teoria.
Darwin e Wallace haviam tido a mesma ideia de forma independente e o
trabalho dos dois foi apresentado numa reunião da comunidade científica
inglesa em julho de 1858. Um ano depois Darwin publicava seu livro A Origem
das Espécies pelo mecanismo de seleção natural.
Os pontos principais da teoria de Darwin e Wallace são:
 Existem variações entre os seres vivos da mesma espécie.
 Algumas variações são mais adaptativas contribuindo para um melhor
desempenho dos organismos que as possuem.
 Na natureza ocorre uma constante luta pela sobrevivência, devido a
escassez de alguns recursos. As variações mais adaptativas conferem maior
vantagem aos organismos que as possuem. Desta forma estes organismos
se alimentam melhor, são mais saudáveis, vivem mais e deixam maior número de descendentes (aptidão darwiniana).
 A Seleção Natural elimina, gradativamente, os indivíduos que possuem as
variações menos adaptativas.
 As variações podem passar para os descendentes.
Darwin não conseguiu encontrar explicação razoável sobre como as
características passavam para os descendentes. Esta explicação só veio muito
depois, com a descoberta dos trabalhos de Mendel, após a morte de Darwin.
Pela teoria darwinista o crescimento do pescoço das girafas é produto de
seleção daqueles organismos que já possuiam pescoço ligeiramente maior do
que a média. Milhares de anos de ação contínua da seleção natural teriam
levado ao aumento do tamanho do pescoço.
É importante perceber que a seleção natural só atua sobre variações que
já existem. A origem destas variações também era desconhecida para Darwin e
seus contemporâneos.
 Neo-Darwinismo (Teoria Sintética da Evolução)
A Teoria Sintética, como o próprio nome diz, representa uma síntese de diversos
conhecimentos que foram se acumulando após a morte de Darwin. Muitas
descobertas tornaram mais compreensíveis os caminhos pelos quais as
espécies evoluem. Uma das maiores contribuições veio da genética que
esclareceu como as características eram transmitidas para os descendentes. A
genética, posteriormente, explicou como surgiam as variações: através das
mutações e recombinações cromossômicas (as mutações criam a matériaprima para a seleção natural).
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A genética de populações forneceu importantes contribuições para entender
como as frequências gênicas variam nas populações em evolução. Lembre-se
que: a evolução se caracteriza pela variação nas frequências gênicas.
Grande parte das ideias de Darwin são mantidas, inclusive a seleção natural e
a concepção de que a unidade evolutiva é a população (são as populações
que evoluem e não os indivíduos).
Estudos de sistemática, botânica, zoologia e ecologia vieram a complementar
ainda mais esta nova teoria. Diversos estudiosos colaboraram para o
estabelecimento da teoria sintética. Dentre eles convém citar:
 Ernest Mayr (sistemata) - Populations, species and evolution
 Stebbins (zoólogo) - Process of organic evolution
 Ayala (geneticista) - Molecular evolution
 Dobzhansky (geneticista) - Genetics of the evolutionary process
Um exemplo clássico da variação das frequências gênicas ocorreu na Inglaterra
quando a fumaça das fábricas matou os líquens que cobriam os troncos das
árvores próximas a áreas industriais, no início da Revolução Industrial. Nos
bosques eram encontradas mariposas Biston betularia de cor clara (muito
comuns pois se confundiam com os líquens, escapando da predação pelos
pássaros) e outras, da mesma espécie, de coloração escura ou melânicas (raras
pois facilmente eram encontradas pelos pássaros predadores que as
devoravam).
BIOLOGIA - 3
DERIVA GENÉTICA E EVOLUÇÃO
Evolução, do ponto de vista genético, é a variação das frequências gênicas.
Essa variação, em geral, ocorre no sentido de se eliminar o alelo menos
adaptativo pela força da Seleção Natural. No entanto, a variação das
frequências gênicas pode se dar de forma aleatória, oscilante. Assim a
frequência de um alelo pode aumentar e depois diminuir. Essa flutuação que
ocorre ao acaso é chamada deriva genética.
Tal flutuação pode ocasionar a fixação de uma característica (eliminação de um
alelo e manutenção do outro) independente da pressão da seleção. Assim a
frequência de determinado alelo, numa população, poderá oscilar
aleatoriamente durante as sucessivas gerações, não respondendo às pressões
seletivas do ambiente; e num estágio posterior esse alelo poderá ser fixado
naquela população, em detrimento de outros, alterando a estrutura genética da
mesma. Esse processo leva a perda de variação genética dentro das
populações e na divergência genética entre elas, tudo de maneira aleatória,
sendo mais importante em populações pequenas.
ESPECIAÇÃO
A formação de novas espécies é precedida de isolamento geográfico. Uma
população é dividida em duas subpopulações que passam a viver em alopatria
separadas por uma barreira geográfica que pode ser uma montanha, um rio ou
um braço de mar.
População Original
Isolamento
Geográfico
A
B
Sub-espécie A
A fuligem das fábricas matou os líquens e, desta forma, com os troncos
escurecidos, a frequência de mariposas claras diminuiu drasticamente e a de
mariposas melânicas aumentou muito nas áreas industriais. Esta variação das
populações de mariposas claras e escuras é facilmente constatada através de
coleções de insetos feitas nas regiões citadas, antes e depois da morte dos
líquens e conservadas em museus. Trata-se de um exemplo simples de
variação das frequências gênicas (a = claras, A = melânicas) que nos mostra
que a seleção natural atua sobre fenótipos já presentes nas populações.
UM POUCO MAIS SOBRE SELEÇÃO NATURAL
Reconhecemos três tipos de seleção natural: direcional, estabilizadora e
disruptiva. Cada uma age selecionando determinados organismos. Sabemos
que as características dos seres vivos, quando analisadas a nível populacional,
seguem uma distribuição normal.
O gráfico ao lado mostra
este tipo de distribuição Número de indivíduos
considerando o comprimento das asas de uma
determinada espécie de
pássaros.
Os tipos citados abaixo
foram exemplicados para
uma
população
de
pequenas
médias
grandes
pássaros
como
a
Comprimento das asas
representada no gráfico.
 Seleção Direcional: é aquela que favorece um dos extremos da população,
isto é, ou favorece aqueles pássaros que têm asas pequenas ou os que têm
asas grandes.
 Seleção Estabilizadora: é aquela que favorece os indivíduos que têm asas
de tamanho médio, eliminando os que têm asas muito pequenas ou muito
grandes.
 Seleção Disruptiva: é aquela que favorece ambos os tipos extremos,
eliminando os que têm asas de tamanho médio.
Sub-espécie B
Isolamento
Reprodutivo
Espécie A
Espécie B
As espécies não se fundem
quando em simpatria
Quanto mais tempo as subpopulações permanecem isoladas mais vão se
acentuando as diferenças entre elas. Alguns fatores podem acelerar essa
diferenciação como: (1) diferenças entre os ambientes ocupados, (2)
alimentação disponível diferente, (3) predadores diferentes em cada ambiente,
(4) mutações diferentes ocorrendo nas sub-populações e (5) existência de
variações no pool gênico das sub-populações iniciais.
Em determinado instante teremos as populações bastante diferenciadas mas
elas ainda podem cruzar entre si originando descendentes férteis. Estas
populações são sub-espécies ou raças geográficas.
Se o isolamento geográfico permanece por muito mais tempo, chegará um
momento em que as populações ficarão tão diferentes que não mais poderão
trocar informação genética, isto é, não originam descendência fértil. Estabelecese o isolamento reprodutivo formando duas novas espécies.
MECANISMOS DE ISOLAMENTO REPRODUTIVO
Pré-zigóticos
- Isolamento sazonal
- Isolamento etológico (comportamental)
- Incompatibilidade anatômica
- Incompatibilidate dos gametas
Pós-zigóticos
- Inviabilidade do zigoto
- Inviabilidade do embrião
- Híbrido estéril ou de pouco fértil
(fertilidade reduzida)
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OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES
 Órgãos homólogos: são aqueles que possuem mesma origem
embrionária, exercendo funções iguais ou não. Órgãos homólogos derivam
de um mesmo órgão presente num ancestral comum. Exemplo: braço do
homem, asa do morcego e nadadeira da baleia. Importância: indicam
parentesco evolutivo.
BIOLOGIA - 4
 Embriologia comparada: O estudo da embriologia fornece valiosa
informação sobre os órgãos homólogos e análogos, indicando se se trata de
parentesco evolutivo ou simples evolução convergente.
- Lei de von Baer: Os estágios jovens do desenvolvimento embrionário
de um animal são semelhantes aos estágios jovens do
desenvolvimento embrionário de seus ancestrais.
- Lei de Haeckel (Lei Biogenética): A ontogênese repete a filogênese,
isto é, o desenvolvimento embrionário recapitula as etapas que
repetem estágios adultos de seus antepassados.
HOMEM
HOMEM


Órgãos análogos: são aqueles
que possuem origem embrionária diferente mas exercem a
mesma função. Exemplo: asa de
inseto e asa de morcego.
Irradiação adaptativa: acontece quando organismos de um mesmo grupo
adaptam-se a ambientes completamente diferentes. Exemplos: Répteis
(aquáticos, terrestres e voadores), Mamíferos (urso-polar, morcego, baleia,
cavalo, homem).
 Convergência evolutiva:
acontece quando organismos
de grupos diferentes encontram
a mesma solução para o
mesmo problema, isto é,
adaptam-se de forma
semelhante ao mesmo
ambiente.
PORCO
PORCO
GALINHA
GALINHA
 Paleontologia (estudo dos fósseis): Fósseis são evidências da
existência de vida no passado. São representados por esqueletos, conchas,
pegadas, impressões, etc. Podem ser datados por métodos que utilizam
isótopos radioativos ou pela comparação com as camadas estratigráficas
conhecidas. Seu estudo é muito importante para tentar elucidar como eram as
formas vivas que nos antecederam.
T ubarão
Ictiossauro
Fóssil de um trilobita.
Golfinho
Exemplos: Forma hidrodinâmica de ictiossauros, tubarões e golfinhos,
posição das narinas de hipopótamos, jacarés e rãs.
 Constância evolutiva (“fóssil vivo”): ocorre quando uma espécie mantém
sua morfologia quase intacta durante milhões de anos. Exemplos: tubarão,
barata, Limulus e gambá.
PRINCIPAIS EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO
 Anatomia comparada: A existência de estruturas anatômicas semelhantes
muitas vezes indica a ocorrência de parentesco evolutivo (ancestralidade
comum). Algumas destas estruturas são identificadas como órgãos vestigiais
(apêndice vermiforme, por exemplo).
 Bioquímica comparada: Quanto mais aparentados são os organismos,
maiores são as semelhanças bioquímicas entre eles. Uma possibilidade de
verificar este parentesco é o estudo da hibridização do DNA. Esta técnica
consiste em fragmentar moléculas de DNA de duas espécies diferentes (que
se deseja investigar o parentesco evolutivo), colocar os fragmentos juntos e
verificar-se o pareamento dos fragmentos das duas espécies. Quanto maior o
grau de pareamento, maior a semelhança entre as sequências de
nucleotídeos e, consequentemente, maior o parentesco entre os organismos.
O estudo da estrutura primária de proteínas de grande distribuição como o
citocromo-c também tem mostrado enormes semelhanças entre os
organismos, ajudando a traçar o caminho evolutivo que eles seguiram.
homem
macaco
cavalo
canguru
galinha
cascavel
atum
insetos
fungo
QUANTIDADE DE AMINOÁCIDOS DIFERENTES
NO CITOCROMO-C DE ESPÉCIES COMPARADAS
0
1
0
12
11
0
10
11
7
0
13
12
11
12
0
14
15
22
21
19
0
21
21
19
18
17
26
0
31
30
29
28
28
31
32
0
48
47
46
49
47
47
48
47
0
homem macaco cavalo canguru galinha cascavel atum insetos fungo
Archaeopterix
Reconstrução da primeira ave baseada no fóssil
EVOLUÇÃO DO HOMEM
O estudo da evolução do homem é baseado principalmente nos fósseis
encontrados e nas reconstruções feitas a partir destes fósseis. Por isso, é uma
história que está em contínua mudança. Analisaremos aqui as linhas gerais da
evolução humana.
Admite-se que o primata ancestral comum entre hominídeos e pongídeos
(chimpanzé, gorila e orangotango) tenha surgido em torno de 10 milhões de
anos atrás. Convém lembrar que os primatas já trazem duas importantes
adaptações: o polegar oponível aos demais dedos e a visão estereoscópica
(visão em profundidade). Este ancestral teria evoluído nas savanas africanas
dando origem a estes dois grupos.
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O ancestral direto dos hominídeos deu origem
aos Australopithecus (que é o hominídeo mais
antigo). Os australopitecíneos viveram de 5 a 2
milhões de anos atrás. Eram pequenos (cerca
de 100 a 120 cm). Tinham postura ereta,
dentes semelhantes aos humanos, mandíbula
prognata, cristas supraorbitais protuberantes,
cérebro em torno de 500 cm3. Existiram várias
espécies como: A. robustus, A. africanus, A.
Australopithecus afarensis
boisei, A. afarensis e A. ramidus.
Os australopitecíneos deram origem, há 2
milhões de anos atrás, ao gênero Homo. O
Homo habilis teria sido o primeiro a fabricar
toscos instrumentos de pedra lascada. Com o
cérebro mais desenvolvido (cerca de 750 cm3)
e estatura um pouco maior, este hominídeo
provavelmente já tinha alguma vida social.
Ossos de animais de grande porte foram
encontrados junto a fósseis desta espécie, o
que é um indicativo de que caçava em
bandos.
Homo habilis
O Homo erectus deve ter surgido há 1,5 milhão de anos atrás. O H. erectus
diferenciou-se bastante do ancestral H. habilis. Com maior estatura (160 cm) e
cérebro ainda mais desenvolvido (1000 cm3), construiu ferramentas melhores,
dominou o fogo, passou a morar em cavernas e teve sua alimentação muito
melhorada. Espalhou-se pela África, Europa e Ásia, tendo chegado até a
China. Muito provavelmente já possuia algum tipo de linguagem articulada.
Homo erectus
Há cerca de 300.000 anos, surgiam os primeiros membros da espécie Homo
sapiens. São conhecidas duas sub-espécies: Homo sapiens neanderthalensis
(Homem de Neandhertal) e Homo sapiens sapiens (Homem de Cro-Magnon),
que é a nossa sub-espécie. Os dados sobre estas sub-espécies são imprecisos,
admitindo-se atualmente que possam ser espécies diferentes (Homo sapiens e
Homo neanderthalensis). Admite-se que conviveram por alguns milhares de
anos, mas tal dado é controverso. Nossa sub-espécie teria surgido a uns 50.000
anos. O desaparecimento do Homem de Neandhertal pode ter acontecido por
conflitos com nossa sub-espécie ou a incapacidade de resistir às glaciações.
Atribui-se aos neandertais o início do sentimento de religiosidade (foram
encontradas sepulturas com adornos e instrumentos que ele usaria numa vida
posterior) e a consciência da morte.
O homem atual tem uma face mais plana do que os ancestrais, testa e queixo
bem formados e uma capacidade craniana em torno de 1500 cm3.
BIOLOGIA - 5
humana. Contudo, nos registros da época pleistocênica, os crânios, ossos e
dentes fósseis de homem são extremamente raros em comparação com os
seus utensílios de pedra, que são muito mais resistentes à decomposição, e por
isso, muito mais numerosos. Do estudo destes utensílios, os arqueólogos
estabeleceram uma sequência de eventos culturais que podem, de um modo
geral, ser relacionados à evolução física do homem. Para se discutir com
pormenores este processo de evolução cultural, seria necessário escrever outro
livro igual a este, mas julgamos que um esboço geral, sobre este assunto, será
propositado ao finalizarmos a nossa história da vida no tempo geológico.
Os antropólogos reconhecem três estádios principais na evolução cultural do
homem: o Paleolítico, ou "Idade da Pedra Lascada", caracterizado por
instrumentos de pedra quebrada; o Neolítico ou "Idade da Pedra Polida",
caracterizado por instrumentos de pedra desgastadas e polidas, e finalmente,
pela "Idade de Metais", quando os instrumentos foram feitos a princípio de
cobre e bronze, e mais tarde de ferro. A maior parte da história do homem
pleistocênico se enquadra na idade da pedra lascada, porque as culturas
Neolíticas começaram somente há cerca de 10.000 anos, seguidas
aproximadamente há 5.000 anos por culturas que passaram a utilizar-se dos
metais. Portanto, toda a história cultural do Australopithecus e Homo erectus,
bem como, a maior parte da existência do Homo sapiens é representada pelos
instrumentos de idade paleolítica (pedra lascada). Notamos, no entanto, que os
instrumentos paleolíticos mostram um aprimoramento progressivo na técnica de
fabricação através do pleistoceno. Os mais primitivos eram machados rústicos e
os mais adiantados eram facas e pontas de flecha feitas pelo Homo sapiens dos
finais do paleolítico. Este usava, também, ossos para fabricar instrumentos de
ponta, como agulhas, e já tinha, um senso artístico bem desenvolvido, fato
evidenciado pelos objetos esculpidos em osso e pelas tão conhecidas pinturas
rupestres das cavernas da França e Espanha no fim da Idade Paleolítica. A
partir de 10.000 a 15.000 anos atrás os instrumentos de pedra lascada
paleolíticos foram substituídos por outros mais adiantados, feitos por desgate e
polimento das pedras. Os indivíduos pertencentes à idade neolítica que
fabricaram tais instrumentos desenvolveram progressos culturais ainda mais
acentuados, aprendendo a fabricar potes para guardar alimentos e água, sendo
mais importante ainda, o cultivo de plantas e a domesticação de animais. Com
este passo, pela primeira vez na sua longa história pleistocênica, o homem
passou a não depender da caça e da procura de vegetais nativos, tornando-se
capaz de produzir o seu próprio alimento. A prática da agricultura pelo homem
neolítico foi um dos acontecimentos mais importantes de toda a história do
homem, pois isso não só permitiu o aparecimento de comunidades fixas
(algumas das quais tornaram-se mais tarde as primeiras cidades), como
também, permitiu uma divisão do trabalho. Alguns dos homens providenciavam
a comida enquanto outros se tornavam artífices, comerciantes, sacerdotes ou
aprendizes. Depois do desenvolvimento da agricultura nesta "Revolução
Neolítica", as culturas humanas evoluíram rapidamente. Há cerca de 5.000
anos, os metais eram usados pela primeira vez para fabricar instrumentos e
aproximadamente ao mesmo tempo verificou-se o desenvolvimento da escrita
no Egito e Mesopotâmia, conduzindo ao início da documentação escrita da
história humana.
O registro pleistocênico do homem fóssil e dos seus utensílios deixam ainda
sem resposta muitas questões fundamentais a respeito da evolução cultural.
Assim é, que temos apenas vagas referências sobre muitos eventos de
importância crucial, como por exemplo, a origem da linguagem, o
desenvolvimento das vestes e a estrutura social das comunidades humanas
primitivas. Muito embora estes importantes tópicos sejam ignorados, não resta a
menor dúvida de que o desenvolvimento do homem a partir dos seus ancestrais
primatas do cenozóico enquadra-se hoje entre os mais bem compreendidos
eventos da história da vida."
in História Geológica da Vida de A. Lee McAlester
erectus
H. sapiens neanderthalensis
Homo
erectus
H. sapiens sapiens
Há 10.000 anos o homem deixou de ser um simples caçador e coletor de
alimentos e firmou-se como agricultor e pastor. Esta mudança de vida, deixando
de ser um nômade para se estabelecer em tribos de localização fixa, teve
enorme influência na evolução cultural. O uso da linguagem e a tradição oral
transmitiram as informações entre as tribos.
H. sapiens
neandhertalensis
Homo
habilis
Australopithecus
ramidus
Homo
sapiens
H. sapiens
sapiens
A. africanus
A. robustus
Australopithecus afarensis
A Evolução da Cultura Humana
"Com a origem do Homo sapiens alcançamos o limite entre as ciências naturais
biológicas e geológicas e as ciências sociais, mais ligadas à arqueologia,
antropologia e história antiga. Até aqui deu-se ênfase somente às evidências
diretas fornecidas pelos fósseis, a fim de se traçar a genealogia da espécie
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0
Milhões de anos
adaptado do site: www.wsu.edu:8001/vwsu/gened/learnmodules/top_longfor/timeline/timeline.htm
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ORIGEM DA VIDA