AU TO RA L INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PE LA LE I DE DI R EI TO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ID O A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO NO ENSINO DO CU M EN TO PR OT EG APRENDIZAGEM por Elaine Miranda da Silva Rio de Janeiro, 2010 2 INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO NO ENSINO APRENDIZAGEM Apresentação da monografia Universidade Candido Mendes à como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profª Ms. Andressa Maria Freire da Rocha Arana Rio de Janeiro 2010 3 DEDICATÓRIA Tenho a agradecer a DEUS pela força e oportunidade; Aos meus filhos, pela compreensão e apoio nos momentos de desânimo; E a minha irmã que me incentivou para continuar buscando o meu crescimento. 4 RESUMO O estudo tem como abordagem a formação da auto-estima do aluno, um tema que vem sendo visto por alguns profissionais da educação, como o caminho para obter bons resultados escolares e consequentemente, na vida adulta deste alunos. Dessa forma mostrar a oportunidades que o educador poderá ter, ao estudar e analisar a educação, a fim de poder em sua realidade educacional ser colaborador de suas realizaçoes através de suas ações. A priori são apontadas as estratégias mais utilizadas pela escola, na figura do professor, como atitudes viáveis para resolução de problemas de sala de aula. Em outro momento, tendo como base, teóricos que tratam desse assunto, são apresentadas sugestões consideradas ideias para que, a relação professor e aluno, atarvés do relacionamento afetivo pautado em respeito, autonomia e compreensão entre ambos. Esta pesquisa tem como objetivos, refletir sobre a afetividade como fator importante no relacionamento professor e aluno, desenvolvendo análises sobre a interligaçao entre a aprendizagem e a afetividade na formação da auto-estima; analisar que ações pedagógicas favorecem a afetividade no trabalho do professor e identificar as dificuldades na relação professor e aluno, que envolvem a questão da afetividade com a aprendizagem além de discutir a postura do professor diante das dificuldades no relacionamento com alunos. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 06 PROCEDIMENTO METODOGÓLICO 08 1. FUNDAMENTOS DA TEORIA DO VÍNCULO 1.1. Pichon Rivièra e sua teoria 09 1.2. Outras teorias do vínculo afetivo 10 2. O VÍNCULO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM 2.1. Importância do Vínculo 11 2.2. Vínculo Família 15 2.3. Vínculo Escolar 18 3. OS VÍNCULOS E AS CONSEQUÊNCIAS 3.1. A importância do vínculo positivo no aprendente 22 3.2. resultado do vínculo negativo 23 4. A RELEVÂNCIA POR PAULO FREIRE NO PROCESSO AOS ASPECTOS DE DOCÊNCIA E DISCÊNCIA 4.1. O papel do professor no processo ensino-aprendizagem 26 4.2. O desenvolvimento do aprendente diante a conscientização do docente no processo 28 CONCLUSÃO 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32 6 INTRODUÇÃO Esse trabalho buscou entrelaçar a construção de vínculos de qualidade no desenvolvimento e no ato de aprender. Compreender a importância da afetividade no processo ensino-aprendizagem relatando a possibilidade de envolver os sentimentos para um aprender mais significante e interessante junto a real função da escola e da família neste processo, relacionando o desenvolvimento cognitivo e afetivo. A Teoria do Vinculo de Pichon-Rivière aborda em sua totalidade integrada dialeticamente pelas dimensões: mente, corpo e o mundo exterior. Mostra-se como uma teoria relevante ao contexto educacional, permitindo se questionar como a interconhecimento e aluno-instituição; podendo levar ao fracasso escolar, denunciando por dificuldades de aprendizagens diversas. Sabe-se o quanto é fundamental uma família estruturada na vida do aprendente, o vínculo durante a vida infantil, que deveria sempre ser de caráter positivo, porque traz gratificações, produtividade, crescimento, aprendizagem e o indivíduo se sente valorizado, algumas vezes torna-se um vínculo negativo trazendo frustrações, dificuldades e desinteresses, na aprendizagem e no comportamento, fazendo o sujeito se sentir mal amado. A causa dessa dificuldade deixa de ser somente do aluno e do educador, passando a ser vista como um processo maior com inúmeras variáveis que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor. Para Paulo freire entre a docência e a discência deve haver diálogo a todo instante, pois ávida é uma transformação e a sala de aula, faz parte da vida, então isto também deve ser uma troca. Ensinar não deve ser entendido como depósito bancário, o qual o professor chega em sala e deposita o conteúdo. A construção do conhecimento é um processo interativo é a relação educando-educador. O encontro do professor com o aluno poderá representar uma situação de troca bastante proveitosa para ambos, pois o conhecimento será construído em conjunto. 7 A fim de se refletir sobre as questões acima, aprofundaram-se os capítulos: os vínculos no processo de aprendizagem, a importância do vínculo positivo no aprendente e conseqüências do negativo. 8 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho foi desenvolvido com um enfoque qualitativo e de cunho bibliográfico em que, por meio desta metodologia, compreendi os acontecimentos históricos educacionais e as relações sociais que indicaram a trajetória da relação professor e aluno tendo como ponto fundamental a questão afetiva na formação do aluno e sua vinculação com o processo educacional. Através da pesquisa, observei que a afetividade e a educação é um desafio para a aprendizagem significativa e consiste num processo de educação para a vida, numa parceria entre professor, aluno, família e comunidade, grupos sociais tão importantes no sucesso da aprendizagem do aluno. Confirmando desta forma, que o funcionamento psíquico humano não é composto somente da dimensão cognitiva, mas, também pela dimensão fundamental de sua existência que é afetiva. Nesta perspectiva verifiquei que afetividade, moral e educação estão intrinsecamente ligadas na aprendizagem. A afetividade influencia de maneira significativa à forma pela quais os seres humanos resolvem os conflitos de natureza moral. A organização do pensamento influencia o sentimento, e o sentir também configura a forma de pensar. Neste sentido, a afetividade perpassa o funcionamento psíquico, assumindo papel organizativo nas ações e reações. Estas transformações devem ocorrer em um ambiente de prazer e alegria onde a criança deve ser respeitada no seu processo de desenvolvimento e onde o professor conheça as particularidades deste processo. Devem acontecer dentro de um ambiente afetivo, onde a relação professor aluno é base para o pleno desenvolvimento. Este trabalho busca através de um estudo bibliográfico a importância da afetividade professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem. 9 1. 1.1. FUNDAMENTOS DA TEORIA DO VÍNCULO Pichon Rivièra e sua teoria A Teoria do Vínculo foi desenvolvida por Enrique Pichon-Rivière, que baseado na Psicologia Social, apóia-se na importância do social na natureza humana. O homem é concebido como um sujeito social, visto que o fundamento de todo conhecimento está na prática social. Considera-se como uma totalidade significativa integrada por três dimensões: mente, corpo e o mundo exterior, que se complementam dialeticamente. Por ser a situação triangular o modelo básico relacional universal, existe os três objetos, que formam uma só dimensão, a humana. Quanto à visão de homem, Pichon-Rivière escreve: “É necessário que não se comenta o erro de estabelecer separações formais entre o corpo, a mente e o mundo exterior. Quando ao mundo exterior, ele está representando internamente como um microcosmo, enquanto que fora o está como macrocosmo. Se pararmos existencialmente uma pessoa, poderemos dizer que nesse momento há mente, corpo e mundo exterior, mas quando essa pessoa se move, ela se transformará em uma totalidade significativa”. (p. 116) Através desta visão de totalidade integrada, pode-se dizer que ele antecipou a idéia da globalização difundido atualmente. A dialética pichoriana se refere à relação entre o homem e seu meio, é um processo contínuo e dinâmico, destinada não apenas a transmitir conhecimento, mas a desenvolver e modificar atitudes, orientada a uma práxis. A Teoria do Vínculo torna-se importante para o estudo da aprendizagem uma vez que através do estudo com doentes mentais pôde-se verificar que sua falta de adaptação levava-o a não aprender a realidade, sendo então incapazes de transformá-la. Ao conceituar a aprendizagem Pichon-Rivière considera a diferença entre as palavras aprender e apreender. Para ele, o importante é a apreensão, pois esta permite a transformação do objeto do conhecimento, do meio e do sujeito, trazendo um significado ao aprendido. Logo, os processos de aprendizagem fundamentam-se 10 em uma metodologia apropriada para o trabalho sobre os obstáculos que surgem na relação do sujeito com o objetivo de conhecimento, conduzindo-o a conquista de um vínculo progressivo, que ocorre pela transformação da realidade levando-o a aprendizagem. 1.2. Outras teorias do vínculo afetivo Para Visca o processo de aprendizagem é continuo, evoluindo com a prática, o dia-a-dia, de acordo com estruturação cognitiva, a influência do meio e a afetividade disposta nesse processo. A criança vive um processo de co-ação, co-experiência e co-existência, ao desempenhar diversos papéis sociais em seus primeiros vínculos. Esse processo tem dinâmicas vinculares múltiplas e contraditórias que repercutem na aprendizagem emocional e dos papéis da criança. Para Cunha (2010), o ponto de partida de qualquer trabalho pedagógico deve ser a emoção. A emoção do aprendente apropria-se do que será apreendido e, desta forma, o afeto atua no início do processo de aprendizagem para canalizar a atenção e no final para ajudar a memória no resgate da informação. Em sala de aula, é possível provar que as dificuldades de aprendizagem possam ser amenizadas por meio do afeto e o que dará qualidade ou modificá-la do aprendizado, será esse afeto. São as emoções que ajudam a interpretar os processos químicos, biológicos e sociais e se vivenciam com a experiência que aptos e aprender quando amarem, desejarem e quando se sentirem felizes. Segundo Olívia Porto (2007), o afeto é um regulador da ação, influindo na escolha de objetivos específicos e na valorização de determinados elementos ou situações vivenciadas pelo indivíduo. Assim, as emoções básicas como o amor, ódio, tristeza, alegria ou medo, direcionam o comportamento do sujeito para buscar ou evitar contato com certas pessoas ou experiências. De acordo com o desenvolvimento cognitivo e afetivo, a constituição do sujeito se faz pela resolução de conflitos de aquisições, sendo a aprendizagem o produto da interação das 11 necessidades que vão se modificando e, assim, surgindo novos conflitos, que influenciam de como serão experimentadas as novas etapas. 2. OS VÍNCULOS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM 2.1. A Importância do Vínculo Segundo Pichon Rivièra: “O vínculo é sempre um vínculo social, mesmo sendo com uma só pessoa; através da relação com esta pessoa repete-se uma história de vínculos determinados em um tempo e em espaços determinados. Por essa razão, o vínculo se relaciona posteriormente com a noção de papel, status e de comunicação. (Pichon Rivièra, 1991, p.49) Caracteriza o grupo como um conjunto restrito de pessoas, que ligadas por constante de tempo e espaço e articulados pela recíproca representação interna, propõe de forma clara ou não, tarefa que constitui sua finalidade. Dentro deste processo, o indivíduo é visto como resultante de uma relação dialética estabelecida entre ele, os objetos internos e externos e a interação, ou seja, o vínculo, através de uma estrutura dinâmica. O autor citado mostra o quanto o vínculo é fundamental. Constituído durante o desenvolvimento infantil, deveria ser sempre de caráter positivo, porque traz gratificações, produtividade, desenvolvimento e aprendizagem fazendo com que o aprendente se sinta amado e valorizado. Quando não ocorre desta maneira, toma outro caminho: o negativo, com grandes frustrações, dificuldades e desinteresses, sentindo-se mal amado. Ainda o mesmo autor diz que a afetividade, tanto positiva quanto a negativa, pode permear as relações e produzir um efeito sobre o sujeito. Partindo da idéia de que a organização grupal envolve as atividades realizadas e também as produções afetivo-emocionais, que dirigem formal e informalmente o clima das relações entre os membros e a atividade, não é possível desconsiderar a importância do afeto nos relacionamentos grupais, seja no sentido de ampliar a união como para ameaçar a sua existência. 12 “- O que é aprender? - Aprender é [...] como quando papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria muito andar de bicicleta. Então [...] papai me deu uma bici [...]. menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando [...]. - Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse ´assim se anda de bici´[...] não, ele ficou correndo ao meu lado sempre segurando a bici [...], muitos dias e, de repente, sem que meu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. Então eu disse: Ah! Aprendi! [...] - Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar. (FERNÁNDEZ, 2001, p. 35) A autora ao relatar este texto mostrou como é significativo a relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo, confirmando que o pensar e o sentir estão intimamente ligados quando a vinculação está presente, tornando diferente o vínculo do sujeito com o aprender, propiciando a oportunidade de ser visto competentemente e olhar com possibilidades e respeito. Fernández (1991) esclareceu como o problema de aprendizagem constituinte de um sintoma afeta a dinâmica de articulações entre os níveis de inteligência, interferindo no desejo de aprender, resultando no aprisionamento dessa capacidade. Por sua vez, essa deficiência no aprendizado reativo não chega a aprisionar a inteligência, pois não interfere no desejo do aprendizado; pelo contrário, ele surge do choque entre o aprendente e a instituição edcuativa. Pain ([1985] apud FERNÁNDEZ, 1991, p.82) confirma dizendo: “A função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter um efeito alienante ou libertador. As qualidade vinculares estabelecidas no primeiro ano de vida da criança, refletem nas interações futuras com outras pessoas ou nas novas descobertas. Chamat (1997) mostra que as dificuldades de aprendizagem estão interligadas ao afeto, o qual apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos como: amor, raiva, depressão e aspectos expressivos como: sorriso, grito, lágrimas. A afetividade se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência; é responsável pela ativação da atividade intelectual, pois é nas 13 primeiras relações mãe-filho que este sentimento se manifesta e vai se cristalizando durante o desenvolvimento do bebê. O vínculo afetivo é o princípio norteador da auto-estima e determina seu envolvimento com situações novas ou impede o crescimento para o conhecimento, causando frustrações no saber e no aprendizado. “Para aprender é preciso poder transformar e deixar se transformar [...]”. Fernández (1991, p. 221). É importante, para a autora citada, que o bebê mantenha um relacionamento forte e saudável com a figura materna, em situações de cuidados maternos, olhares mãe-filho e estímulos das pessoas que o cercam; ele aprende gradativamente a se comunicar durante o seu desenvolvimento e terá uma boa formação das defesas do ego, despertando, o desejo pelo aprender. Caso não haja uma boa qualidade da relação mãe-filho, isso traz ao sujeito uma angústia, uma busca constante de amor, culpa e depressão, impedindo-o de estabelecer vínculo saudável ou afetivo entre o ser que ensina e o ser que aprende, seja na família ou na escola, comprometendo a sua personalidade. A causa do bloqueio é uma deficiência no desenvolvimento do pensamento, pois coloca o sujeito em situações novas e desconhecidas, causando um desequilíbrio e insegurança. Família e escola constroem no indivíduo o universo de sua autoestima, confiança, emoções, sentimentos e atributos que personificam suas estruturas pessoais e seus vínculos afetivos. E escola e a família não podem estar dissociadas uma da outra, pois estão ligada pelos veios afetivos do aprendente. Para Pichon-Rivière (1991), no momento que o indivíduo tem resistência à mudança, voltaria regressivamente ao comportamento próprio da fase libidinal anterior onde está predominantemente fixada, repetindo atitudes mal aprendidas que dificultam sua passagem a uma etapa posterior. A repetição seria provocada por dificuldades na aprendizagem e na comunicação, não permitindo a elaboração de uma estratégia adequada em seu devido momento. Na visão piagetiana, todo conhecimento tem uma história vinculada ao esquematismo de ação e, desta forma, ao organismo. Este pensamento converge com as palavras de Fernández, o qual o conhecimento só é adquirido e desenvolvido, após a internalização do saber. 14 Portanto, vai de encontro com a definição pichoniana sobre a aprendizagem, onde se demonstra que apreender é mais do que aprender, visto que é capaz de transformar a realidade e modificar o sujeito. A noção da modalidade de aprendizagem como uma maneira pessoal, construída desde o nascimento, de se aproximar do conhecimento, remete à idéia de uma matriz vincular ou um esquema de operar que o sujeito utiliza nas diferentes situações de aprendizagem. A teoria piegatiana postula que o esquema assimila o objeto, sendo que a necessidade, o impulso, o interesse, ou seja, os fatores de ordem afetiva é que levam o esquema à assimilação. Conclui-se então que a aprendizagem está estreitamente ligada à afetividade, uma vez que só se aprende quando são estabelecidos vínculos entre o sujeito e o objeto, conforme a teoria defendida por Pichon-Rivière. Segundo Fernández, a modalidade de aprendizagem faz-se através de observação de alguns fatores: “A imagem de si mesmo como aprendente, como agem fantasticamente as figuras ensinantes pai e mãe; o vínculo com o objeto do conhecimento; a história das aprendizagens, principalmente algumas cenas paradigmáticas que fazem a novela pessoal do aprendente que cada um constrói; a maneira de jogar; e a modalidade de aprendizagem familiar”. (1991, p. 108) O processo de aprendizagem ocorre normalmente quando se produz o equilíbrio entre os movimentos assimilativos e os acomodativos. Estes movimentos, que fazem parte do processo de adaptação, permitem ao organismo sua interação com o meio. Na assimilação, integra-se o objeto à estrutura do organismo se adéqua às características do objeto, ou seja, modifica seus esquemas de estruturação prévia para assimilar o novo. Após esta integração, o vínculo afetivo, o aprendizado, a motivação e a disciplina como meio para conseguir o auto-controle da criança e seu bem-estar são conquistas significativas. 15 Porto (2007, p. 46) diz: “O afeto influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade”. 2.2. Vínculo Familiar Maturano (1999) coloca ser necessário ter cautela ao avaliar a influência que o ambiente familiar tem no aprendizado escolar. Precisa-se ter cuidado para não adotar posições extremas, seja isentando a família de qualquer influência, seja atribuindo a ela toda a carga de responsabilidade pelo desempenho escolar do aluno. Wang, Haertel e Walberg (1999) apud Marturano, (1999) identificaram variáveis escolares, da criança e do meio social mais amplo que têm impacto sobre a aprendizagem. Sabe-se que as metacognitivas do aprendente são as mais importantes, mesmo sabendo-se que a escola e o ambiente familiar têm um papel importantíssimo no desenvolvimento destas habilidades, que favorecem o sucesso escolar. Logo, a análise dos autores mostra a importância do contexto da família, através de influências sobre características do aprendente. Marturano (1999) afirma que tais condições presentes no espaço familiar têm influenciado no ato de aprender. O envolvimento das figuras parentais, uma postura mais centrada, uma atenção aos assuntos escolares do aprendiz traz um desenvolvimento e encorajamento de seus esforços de autonomia e um melhor aprendizado. O compartilhamento de atividades lúdicas e as conversações mantidas entre pais e filhos, sendo facilitadores do processo lingüístico e cognitivo, contribuem indiretamente para o aprendizado. As crianças obtêm melhor desempenho quando os adultos em casa são mais unidos, cooperativos e cordiais. Parece que ambientes familiares onde há expectativas, regras claras e consistentemente aplicadas facilitam a discriminação, por parte do indivíduo que aprende, dos processos de controle dentro da instituição. Sabe-se que as expectativas e atribuições dos responsáveis a respeito do sucesso e da capacidade do educando na instituição forem desfavoráveis, podem diminuir a sua motivação para aprender, o que terá um efeito negativo sobre o seu 16 rendimento. Os resultados sugerem que a associação entre o envolvimento dos responsáveis e o desempenho escolar do discente sejam consideráveis, pelo menos em parte, devido ao fato de que essa proporção é estável, essa experiência com pais encorajadores ou seu oposto, tem impacto cumulativo ao longo do tempo. “A escola e a família como fatores externos podem ser consideradas fontes de recursos ou de limites para a criança no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento”. (MARTURANO, 1997, p. 105) A autora reafirma, há influencias recíprocas entre características do aprendente, do espaço familiar e da família na determinação de desenvolvimento. Foi pesquisado e confirmado que há riscos em famílias pobres, a maioria sem pai no lar, de problemas de comportamento na Educação Infantil e dificuldades de adaptação no 2º e 3º ano, controladas os efeitos de expectativas do professor. Essa associação ocorreu tanto para os problemas externalizados quanto as internalizados, porém os aprendizes com tendências ao isolamento eram mais prejudicados na aprendizagem e mudanças que aquelas com tendências à atuação. Rodrigues e Barbosa (2003) ressaltam que o grupo familiar é importante no dia-a-dia do indivíduo. É fundamental que os membros sejam estruturados; se nesta relação existirem muito conflitos, isso influenciará no desenvolvimento do sujeito em vários aspectos do seu ciclo vital, desde a dificuldade de aprender até a psicose, mas não foi o seu conflito individual que ocasionou esse problema e sim, entre os membros. De acordo com as referências das autoras, os fatores que pode acarretar dificuldades e desequilíbrio no grupo nuclear são as mudanças que ocorrem na vida a todo momento e exigem que a família se adapte, mesmo sofrendo pressão política do trabalho e cultural, se cada integrante por todos os lados, interna, dos seus próprios membros cobrando crescimento, e pressão externa, social, passa por transformações e permite também aos outros o mesmo, isso tornaa aprendizagem mais real e menos complicada. Rodrigues e Barbosa (2003, p. 48) esclarecem: “para que haja uma acomodação e adaptação com essas mudanças e transformações são necessárias novas regras”. Nesse período de adaptação pode haver problemas de transição, por 17 parte de alguns membros, mais isso vai gerar novos conhecimentos e interesse de aprender. As autoras complementam que cada etapa nova traz conflitos, transformações, adaptações e gera maior ou menor ansiedade, por isso deve-se compreender essas etapas para tentar aceitá-las e se deixar transformar, para que haja aceitação do sistema, favorecendo a aprendizagem, a criatividade e o crescimento de todos. “Pode-se colocar em dúvida, portanto, se este ou aquele método produz efetivamente mudanças comportamentais relativamente permanentes, mas jamais se poderá questionar a educabilidade do afeto humano. É nesse contexto que se descobre que a pedagogia da afetividade ainda está por se construir de forma coerente e pertinente, mas não a sua possibilidade e sua indiscutível necessidade. (ANTUNES, 2006, p. 10) O processo de aprender acontece em duas fases importantes no ciclo vital: família com filhos pequenos e outras com adolescentes. O casal com filho pequeno precisa ter cuidado para que a criança conheça o limite entre o conjugal e o parental, sem deixar de atender suas necessidades físicas e emocionais, contribuindo com o desenvolvimento saudável dos vínculos afetivos e de aprendizagem. É o momento de diferenciar sem perder o apoio mútuo (RODRIGUES; BARBOSA, 2003) Conforme as autoras, dependendo da relação da mãe com seu bebê e da maneira que o seio é oferecido, a amamentação, o toque e o tom de voz podem ser considerados excelente momentos para formação de um forte vínculo afetivo. Essa experiência oferece a ele a coragem para aceitar os desafios da rotina do cotidiano com confiança e determinação, proporcionando a base para o desenvolvimento emocional, intelectual e social no decorrer da vida. Para Visca (1987), esta relação com o agente maternante é influenciada pelo meio, constituído pelo pai, irmãos, avós, como também pelas experiências vivenciais que o aprendiz contactúa. Rodrigues e Barbosa (2003) acreditam que o aprendente sem afeto cresça desprotegido e sem recursos para defender-se, chora com facilidade, tentando expressar seus protestos, mágoas ou medos. Haverá intensos agravos psíquicos, desencadeados pela ausência desse sentimento. É a partir do grupo nuclear que 18 este ser vai dar continuidade ás suas relações com o saber; é neste ambiente que o aprendiz será incentivado ou desmotivado a aprender. Na fase escolar irá observar e repetir o modelo de aprendizagem de sua família, que determinará a maneira de cada um se relacionar com o conhecimento. Para as citadas autoras, na família com adolescentes inevitavelmente surgirão muitos conflitos que devem ser resolvidos por acordo de transição e devese aumentar a flexibilidade das barreiras familiares, a fim de ampliar ou incluir a independência dos filhos para que possam agir tanto fora, quanto dentro do sistema, negociando e reforçando limites, permitindo que se crie espaços de autoria, a família promoverá e alimentará o desejo pela descoberta e a construção do saber. Eles não podem ser considerados somente como inteligência humana porque possuem emoções, desejos, sonhos, medos e angústias. A partir do momento em que há desejo, pelo aprender, o sujeito está se inter-relacionando e a vontade de aprender gera prazer pelo conhecer, criar e produzir. 2.3. Vínculo Escolar Fernández (1991) adverte que no caso de problemas reativos, ou seja, aqueles que se produzem unicamente na escola, a intervenção psicopedagógica deve ser direcionada à instituição ou ao professor no âmbito metodológicos, ideológico, de linguagem e de vínculo. Como uma prevenção de fracasso escolar, haverá necessidade de realização de um trabalho para que o docente consiga concetrar-se com a própria autoria e que o aluno possa aprender com prazer. Weiss (2004, p. 18) afirma: “É preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender. [...] A má qualidade do ensino provoca um desestímulo na busca do conhecimento”. “O problema da aprendizagem que constitui um „sintoma‟ ou uma „inibição‟ toma forma em um indivíduo, afetando a dinâmica de articulação entre os níveis de inteligência, o desejo, o organismo e o corpo, redundando em um aprisionamento da inteligência [...]”, diz Fernández (1991, p. 82). Para entender a significação do 19 problema é necessário conhecer o funcionamento dentro da família e buscar a história do sujeito. Pain (1985) explica que toda a aprendizagem se processa numa interação entre as condições internas do aluno, enquanto aprendiz, as condições externas do meio físico e social em que ele está e os objetos do conhecimento, representados, na instituição, por: leitura; escrita; Matemática; Educação Física;informações da Biologia, História, Geografia e de todas as disciplinas; e por conteúdos, valores e atitudes presentes na instituição. O meio social externo, no caso da escola, envolverá tudo o que diz respeito ao ensino formalizado, através das condições escolares de: metodologia de ensino; livros; material didático; laboratórios; colegas; professores; administração; formas de avaliação; normas escolares; relações do professor/aluno; regimento escolar; valores e ética de cada instituição. Sintetizando, aprendizagem no ambiente. Logo, diz a autora, o processo de aprendizagem é integrado. Algo externo se torna interno e volta para o externo no mecanismo de assimilação e acomodação piagetiano, envolvendo sempre o organismo, o corpo e as estruturas intelectual cognitiva e afetivo-social. No processo de subjetivação e objetivação estão presentes relações, imagens, conceitos, afetos, valores e tudo o que envolve o objeto do conhecimento, qualquer que seja a sua natureza, seja ele escolar ou do mundo físico e social à volta do aprendiz. Segundo Fernández (1991, p. 47) “Para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos” e continua “Não aprendemos de qualquer um, prendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”. (Fernández, 1991, p. 52) É fundamental que o professor perceba-se como facilitador do processo de aprendizagem, pois, quando a relação que estabelece com seu aluno é pautada no vínculo e no afeto, propicia a ele a oportunidade de; mostrar, guardar, criar, entregar, o conhecimento e permite que o outro possa investigar, incorporar e apropriar-se do conhecimento. Desta forma há uma relação que ultrapassa o nível acadêmico e permite que ocorra um olhar diferenciado em direção ao desconhecido. Quando este olhar permeado de afetos, em que os diferentes vínculos circulam acontece, há espaço para que o aluno seja ativo e autor do próprio 20 conhecimento. Ai sim, há um despertar, uma vontade de apropriar-se do conhecimento. Há então um real aprendizado e o encontro afetivo de quem ensina com quem aprende. Este envolvimento dá a oportunidade para que haja um movimento na direção do desabrochar de cada um. Para Cunha (2010), a escola cumpre o papel de resgatar alguns valores da formação de seus alunos, mas ressalva que lares desestruturados não costumam ser bons ambientes para seus filhos. Esses quando chegam as escolas demonstram carência afetiva, alguns problemas emocionais, podem não ter noção do trabalho em grupo e nem os termos dos direitos e deveres. Apresentam dificuldades de concentração, sentem-se rejeitados e com problemas emocionais. Pain (1985) descreve que numa visão construtivista e internacionista, o aluno, o aprendiz ou o sujeito da aprendizagem tem a sua relação com o objeto do conhecimento escolar mediada pelo docente. Nesse conjunto de relações: professorobjeto do conhecimento, professor-aluno, aluno-objeto do conhecimento, alunoprofessor constroem-se vínculos positivos, que impulsionam a aprendizagem; ou negativos, que proporcionam um afastamento da situação de aprendizagem. As mudanças no desempenho e no ajustamento escolar do indivíduo, ressalta Marturano (1999), podem correr no período entre a pré-escola e a escola elementar, e essas mutações derivam de características do comportamento da criança conforme o nível de estresse ambiental, clima emocional e estrutura no lar, materiais lúdicos favoráveis ao desenvolvimento. Antunes (2006, p. 32) argumenta: “é exatamente no contexto da diversidade de raízes biológicas ou não que a afetividade na família necessita ser sentida e, sobretudo, construída”. Na perspectiva de Marturano (1999), é necessário o envolvimento dos pais no processo de ajuda, buscando medidas no sentido de identificar, ativar e potencializar recursos presente ou esquecidos no ambiente familiar, que facilitem a aprendizagem escolar e o desenvolvimento global do aprendente. Presquisam-se recursos na comunidade com atividades esportivas, recreativas ou culturais. A contribuição dos responsáveis a este processo se concretiza através da provisão de oportunidades e encorajamento no dia-a-dia do indivíduo para que lhe permita adquiri conceitos e autonomia. 21 A autora mostra que o sucesso ou fracasso do aluno, na escola, depende em parte de sua auto-estima, da confiança que tem em si mesmo, mas originam-se da estima e da confiança que os outros depositam nele, principalmente o professor. A necessidade de realização expressa a tendência a transformar em realidade o que se é potencialmente, a concretizar os planos e sonhos, a alcançar os objetivos. A busca da realização é uma das motivações básicas do ser humano; pode atuar fortemente em sala de aula, em beneficio da aprendizagem. O aluno está sempre pronto a desenvolver o aprendizado, depende do vínculo entre o educador e o educando, ambos em consonância de objetivos, metas e compromisso, podem reverter um cenário do ensino-aprendizagem, onde o aluno é um sujeito passivo. Pensar em experiências de aprendizagem como um dos caminhos essenciais a formação do aluno, é reconhecer que estamos em contínuo processo de mudança, que a noção de didática deve ser significativa, que o ensino deve ultrapassar o limite, achando que o aluno é sempre capaz de ir além do saber, que o professor recupere sua auto-estima e se reconheça como um profissional importante na escola e para a escola, que a formação do professor vá além de sua natureza técnica e ultrapasse as fronteiras ligando-se aos saberes globais. Que o processo de formação, hoje, deve ser um permanente, investigativo, pesquisador, confrontando os saberes formais do conhecimento com os saberes informais das experiências dos professores no seu cotidiano. Para FERNÁNDEZ (1991), o professor tem que ter a capacidade de se reconhecer como uma pessoa com possibilidade de renovação e capacidade de relacionar-se com o outro (competência interpessoal), ser capaz de refletir sobre o seu saber, fazer, na perspectiva de propiciar aulas alegres, sérias, exigentes, utilizando diferentes métodos e técnicas, jogos e dinâmicas, saberes e linguagens, e códigos, ter condições de fazer a leitura contextualizada e propiciar ao aluno a interdisciplinariedade do conhecimento, partilhar de uma visão ampla das questões sociais e suas relações com as situações cotidianas; leituras, debates, dúvidas (pois a dúvida ensina, tanto ao aluno quanto ao professor). 22 3. OS VÍNCULOS E AS CONSEQUÊNCIAS 3.1. A Importância do Vínculo positivo no aprendente Antunes (2006) aponta que o indivíduo não é ser visto isoladamente, mas inserido num grupo, numa família e na sociedade. O aprendente não pode ser visto de uma só dimensão, ele e resultado de situações estabelecidas entre o sujeito e os objetos internos e externos, o qual se expressa através de certas condutas, conduta esta, que está sempre ligada a um objeto, uma relação interpessoal ou intergrupal para que a formação vincular possa ser positiva, estruturada e alcance a aprendizagem com satisfação. O vínculo pode ser re-significado, refeito e reestruturado. Ele pode ser encontrado de maneiras positivas e negativas, assim como de dependência e o simbiótico que em nível de escolaridade não apresenta uma afetividade com quem ensina, conseqüentemente dificultando o aprender. Weiss (2004) sinaliza que afetividade se faz necessidade entre os participantes da educação escolar. Esta relação requer competência, vontade de estudar, diálogo, amor e troca, o que cria um clima de igualdade e respeito, permite uma interação professor-aluno, extrapola os limites da construção do conhecimento e edifica uma relação afetiva com o grupo. A autora complementa que, a qualidade desta interação poderá ser percebida nas aulas, já que serão mais freqüentadas. É na afetividade com o grupo que a criança desenvolve diferentes relações pessoais, sociais e ambientais, desenvolvendo assim, o respeito, a escuta, a solidariedade e a parceria. Pichon-Riviére (1991) concluiu que a aprendizagem está estreitamente ligada à afetividade, uma vez que só se aprende quando são estabelecidos vínculos entre o sujeito e o objeto. Esse vínculo com o meio e com o educador, é muito importante para que haja desenvolvimento e aprendizagem. Para Cunha (2010) quando as emoções do aprendente são positivas e a escola não acolhe e não preenche essas expectativas, ele perde totalmente o 23 interesse, tudo torna-se um tédio e uma perda de tempo, entregando-se a uma prostração e insatisfação. Para uma criança ter um desenvolvimento saudável, depende da proporção que recebe o afeto de seus cuidadores, se maior ou menor, se é maior, mais chance de a criança tem de tornar-se um adulto moral e socialmente independente. Caso contrário, a criança ficará exposta aos riscos provenientes da pouca vinculação e poderá desenvolver comportamentos anti-sociais quando adolescentes e na fase adulta. Para Freire (1996) o professor deve irradiar estusiasmo por seus alunos, pelo ensino, pela vida; o ponto de partida de qualquer trabalho pedagógico deve ser a emoção, seguros, respeitados e instigados a aprender, a participar do mundo que vive. Ele deve ser durante sua intervenção em sala de aula e por meio de sua interação com a classe, ajudar ao aluno transformar sua curiosidade em esforço cognitivo e a passar em conhecimento confuso, sincrético, fragmentado, a um saber organizado e preciso. 3.2. Resultado do vínculo negativo As dificuldades de aprendizagem estão interligadas à afetividade, a qual apresenta os sentimentos e os aspectos expressivos. O afeto é responsável pela motivação da atividade intelectual, ele determina o desenvolvimento em situações novas ou impede o despertar pelo conhecimento. A ansiedade bem dosada é positiva em qualquer situação. É necessário dar muita atenção a esse aspecto, pois se por um lado a ansiedade pode ser „um agente motor de relação interpessoal‟, num sentido construtivo, por outro, a partir de certa intensidade pode perturbar a relação, desorganizado em excesso a conduta da terapeuta, do paciente ou dos pais. (WEISS, 2004, P.50) O vínculo é fundamental, quando constituído durante o desenvolvimento infantil, deveria ser sempre de caráter positivo, porque traz gratificações, produtividade, desenvolvimento e aprendizagem fazendo com que o aprendente se sinta amado e valorizado. Quando não ocorre desta maneira, toma outro caminho: o negativo, com grande frustrações, dificuldades e desinteresses, sentindo-se mal amado. 24 O vínculo de amizade entre os membros de um grupo seja familiar ou outros, pode facilitar algumas relações e decisões coletivas. Em geral isso ocorre como, por exemplo, dando maior atenção ao que esta pessoa diz, ou defendendo suas propostas entre outras. Por outro lado, essa relação de poder, pode ser exercida pelo sentimento negativo que um membro gera sobre outro(s). Uma relação baseada no medo pode causar a submissão de um e o domínio do outro. Exemplo disso é quando o professor, ou mesmo os pais, que se consideram os depositários do saber, desqualificam as dúvidas de seus alunos ou filho, criando um clima de mal-estar, desmotivando-os a se manifestarem. Crianças abrigadas por longos períodos têm a auto-estima e o auto-conceito afetados, geralmente têm uma visão negativa de si mesmo, que conforme podendo se tornar um prenúncio de fracasso na vida destas crianças, visto que se sentem abandonadas, não amadas e muitas se julgam incapazes. Desta forma pode-se dizer que a criança privada do afeto, do contato e sem suas necessidades emocionais atendidas, coloca seu desenvolvimento em risco. Para a criança, a ausência de confiança e apoio em um adulto cuidador é devastadora, visto que é estreita a relação entre vínculo e desenvolvimento emocional. Antunes (2006) afirma que a família terá que perceber claramente seu papel e responsabilidade em socializar seus filhos, definindo os valores que priorizam e deixando bem claras as metas que buscam. Quando esses valores e essas metas não são assumidos como um programa, surgem o desencanto e a violência. O que efetivamente representa a diferença é a capacidade familiar em estabelecer vínculos sólidos, verdadeiramente afetivos. Havendo confrontação com a realidade, ele terá uma imagem distorcida dos membros da família ou da instituição e terá dificuldade de relacionamento, causando-lhe frustrações. O autor relata que a tarefa corretora consiste em detectar e ajustar esta imagem vista do sujeito para o grupo familiar, e caso o ajuste não seja perfeito, o indivíduo se tornará o doente, sendo assim, em determinados casos familiares, excluído, causando fracassos escolares e ansiedades. Quando o aprendente 25 diferencia o mundo externo do mundo interno, sem haver confrontação ele adquire sua identidade e autonomia, possibilitando a sua aprendizagem. Referindo-se aos processos representativos, Pain amplia os conceitos piagetianos considerando diferentes modalidades, que em casos extremos são descritos como: hipoassimilação / hiperacomodação e hiperassimilação /hipoacomodação. O primeiro deles ocorre freqüentemente no sistema educativo e muitos alunos estão incluídos nele, são os chamados repetentes exitosos. Para Pain, a hipoassimilação caracteriza-se por um contato pobre com o objeto que resulta em “esquemas de objetos empobrecidos, déficit lúdico e na disfunção do papel antecipatório da imaginação criadora”. A hiperassimilação pelo contato pouco produtivo com a subjetividade, falta de iniciativa e obediência às normas com submissão. Segundo a autora a hipoacomodação, se distingue por um contato pobre com o objeto e a dificuldade e internalizar imagens devido a falta de estimulação (não há respeito pela necessidade de repetir muita vezes a mesma experiência) ou abandono sofrido pelo sujeito; e, a hiperacomodação, pelo predomínio da subjetivação, desrealização do pensamento e dificuldade para resignar-se, e também pela superestimulação da imitação. Ao analisar uma modalidade da aprendizagem é importante que se focalize a articulação e a elaboração entre sujeito e objeto. Observam-se as diferenças entre a normal e sintomática, levando em consideração o ensinante, o aprendente e suas atitudes quanto à aquisição e a conservação do conhecimento. Quanto à aquisição do conhecimento: na modalidade de aprendizagem normal o aprendente, ante ao oculto, tem a liberdade para olhar ou não, o que lhe possibilita transmitir-se com o conhecimento, a investigação e à curiosidade. Por sua vez, o aluno tem a liberdade para mostrar ou guardar e, assim, criar. Em relação a possessão, em um vínculo sadio de aprendizagem, o aluno pode incorporar, pedir e ter a possibilidade de apropriar-se do conhecimento. O professor pode entregá-lo, ou até mesmo guardá-lo, possibilitando-se a recriá-lo. Ainda quanto à aquisição do conhecimento, na sintomática, o aprendente, diante do oculto, necessita espiar, e tão somente espiar, o segredo, e sente culpa 26 por conhecer (submissão), estabelecendo um vínculo patogênico. Por outro lado, o ensinante oculta o segredo e também sente culpa por conhecer. Para Weiss (2004), na aprendizagem, observa-se que toda busca de conhecimento caracteriza-se pela existência de um segredo, pois a ausência do objeto estimula a um desafio, o desejo de conhecer. A relação entre sintoma e aprendizagem faz-se necessário para a compreensão das dificuldades que podem interferir no processo. Segundo a autora citada acima, o sintoma é a volta do reprimido, ele escolhe um código para se manifestar e esta escolha não é ao acaso. Pode ser o lugar escolhido seja a aprendizagem, nesse caso a pessoa não aprende e a inteligência é aprisionada. 4. RELEVÂNCIA POR PAULO FREIRE AOS ASPECTOS DE DOCÊNCIA E DISCÊNCIA 4.1. O papel do professor no ensino-aprendizagem Para Freire, não há docência sem discência, o professor depende do aluno e o aluno do professor, entre eles há e deve haver sempre uma troca saudável de conhecimentos de vida e conteúdos. Freire diz que para haver educação é preciso que o educador seja capaz de amar o sujeito que busca o conhecimento, o aprender, sem amor não pode educar. Amor imposto é opressão, educação imposta é manipulação. O que faz o amor é a responsabilidade responsável, não se pode educar quando se tem medo, mas se há amor, não pode temer a educação. Deve-se ter em mente que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Cada classe constitui um grupo social. Dentro desse grupo, que ocupa o espaço de uma sala de aula, a interação social se processa por meio da relação professor-aluno e da relação aluno-aluno. É no contexto da sala de aula, no convívio 27 diário com o professor e com os colegas que o educando vai paulatinamente exercitando hábitos, desenvolvendo atitudes, assimilando valores. O educando, na sua relação com o educando, estimula e ativa o interesse do aluno e orienta o seu esforço individual para aprender. Ele tem basicamente, duas funções na sua relação com o aprendente, ou seja, uma função incentivadora e energizante, pois ele deve aproveitar a curiosidade natural do educando para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas cognitivos. O professor tem que partir de um trabalho ativo, revigorante e significativo, com relevância inovadora. O importante numa escola é não se permitir construir isoladamente e nem fragmentalmente, o contexto educacional, mas sim, em uma ação reflexiva e participativa, onde os professores, possam desenvolver um trabalho integrado, buscando novas perspectivas através de ações transformadoras. A relação professor-aluno deve ser de amizade e de respeito mútuo, dessa maneira haverá uma aprendizagem prazerosa e participativa, por parte do educando. O professor seduz seu aluno quando ele transmite o conteúdo com amor, com vida; o envolvimento com o educando é crucial, seduzir é atrair, despertar o interesse a participação ativa. Tem o papel de orientador, mediador, pois, se a vida é desenvolvida, a educação deve favorecer esse desenvolvimento, deixando o aluno à vontade para crescer e se desenvolver. Concordo com o autor quando ele afirma que o processo de ensino não pode ser imposto, mas sim democrático. Pode-se pensar que a matéria e o conteúdo do ensino, tão racional e cognitivamente assimilados, podem ser esquecidos, por outro lado o “clima” das aulas, os fatores alegres, ou tristes que nelas se sucederam, o assunto das conversas informais, as idéias expressas pelos professores e pelos colegas, a forma de agir e de se manifestar do educador, enfim, os momentos vividos juntos e os valores que foram veiculados nesse convívio, de forma implícita ou explicita, inconsciente ou inconscientes, tudo isto tende a ser lembrado pelo aluno durante o decorrer de sua vida e pode marcar profundamente sua personalidade e nortear seu desenvolvimento posterior; são esses momentos de interação, instantes compartilhados e vividos em conjunto, que o domínio afetivo se une ao cognitivo e o educando passa a agir de forma integral. 28 4.2. O desenvolvimento do aprendente diante a conscientização do docente no processo A construção do conhecimento é um processo interativo social onde a troca de informações e de vivência são indispensáveis com essa interação, eles transmitem e assimilam conhecimentos, trocam idéias, expressam opiniões, compartilham experiências, manifestam suas formas de ver e conhecer o aluno e passam os valores que norteiam suas vidas. É convivendo com o próximo que o ser humano é educando e se educa. Pelo intermédio professor-aluno e aluno-aluno o conhecimento vai sendo coletivamente construído, conforme sua conscientização, e o educando tem em suas mãos a chance de formar um bom cidadão, estimulando e ativando o interesse do aprendente e orientando o seu esforço individual para aprender. O professor tem que ter sempre em mente, que antes de ser um professor, ele é um educador, pois sua personalidade é norteadora por valores e princípios de vida e consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente, ele veicula esses valores em sala, manifestando-os a seus alunos. Segundo o autor (1996, p. 73) “O professor autoritário, o licencioso, o competente, o sério, o incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o mal-amado, sempre em raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Todo cuidado com as palavras, com o vocabulário é pouco, pois professor é formador de opinião; o mais importante é ter em mente que nós só existimos, porque há sempre alguém sedento em aprender a aprender e o mestre deve sempre pensar que sua profissão é uma dádiva de Deus ao mesmo tempo em que está ensinando, está aprendendo. Nós somos seres inacabados, estamos a todo o momento conhecendo mundos novos, pessoas novas, trocamos informações e assim crescemos cognitivamente e emocionalmente. Ser professor é desenvolver em seus alunos a autoconfiança, compreendendo-os e confiando em suas possibilidades. Deve ser um formador de mentalidades críticas, pois na atualidade nos é solicitado uma gama de 29 informações, para que assim possa participar ativamente da sociedade desigual e competitiva. O educador do século XXI deve ser dinâmico, versátil atualizado, crítico, ético, amigo e ter consigo, que ensinar é transmitir conhecimentos utilizando a vivência de seus educandos, unidas a sua experiência e didática. Segundo Freire (1996, p. 96), “O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim, um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. A relação professor-aluno deve ser sadia, eles não podem usar somente a razão, mas sim, a razão ligada aos sentimentos e a emoção. 30 CONCLUSÃO As competências do professor estão diretamente ligadas aos novos paradigmas propostos para a escola, que atualmente é vista como uma instituição que tem metas a atingir e objetivos a alcançar. E o professor, como um ator social, engaja-se no novo modelo proposto, no qual é exigida a atuação de professor profissional. As interações entre professor e alunos devem aprofundar-se no campo da ação pedagógica. Na maioria dos casos, a intenção do professor é intervir no caso dos alunos necessitados de modo a favorecer os desfavorecidos realizando uma ação compensatória. Os professores precisam administrar a progressão das aprendizagens e envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. Então, para desenvolver a competência de considerar o erro como uma ferramenta para ensinar, professor assume neste contexto um papel de destaque na sociedade, o papel de articulador, construindo e conduzido o fazer pedagógico de forma a atender os anseios da sociedade em relação à Educação. O professor deve estar preparado para criar uma nova cultura na sala de aula para fazer da escola a ponte para um novo tempo, um tempo de esperança. Onde está presente uma visão mais humanística. É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade, mantenha um vínculo positivo e que encontre respostas às suas curiosidades por meio de descoberta concretas, desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta. Os pais precisam interagir nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma instituição de qualidade ou de bons programas, mas, principalmente, de como o aprendiz é tratado em casa e dos estímulos que recebe para esse aprendizado. É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está em casa. As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O educador deve saber interpretar e estar interado com essas mudanças para que 31 possa agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas ao educando e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento. A troca de vivências é crucial para o desenvolvimento afetivo e cognitivo de ambos, pois, temos certeza que, educador e educando aprendem juntos. Os seres humanos diferem um dos outros em vários aspectos como a inteligência, as habilidades, os esquemas de conhecimentos que empregam, as estratégias para o aprendizado, os interesses, as expectativas, as motivações e todos os esses aspectos incidem sobre o processo ensino-aprendizagem de forma distinta e particular para cada indivíduo. Portanto, o Educador, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar o mundo em sua volta, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o Educador não só contribuirá com o crescimento do indivíduo, como também contribuirá na evolução de um mundo que melhora nas condições vitais da maioria da humanidade. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Celso. A afetividade na escola: educando com firmeza. Londrina: Maxiprint, 2006. BOSSA, Nadia A. 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